terça-feira, 6 de maio de 2008

Prós e Contras: A Escalada do Preço da Comida

Notas sobre o Capitalismo da Fome
Hoje (5 de Maio de 2008) "Prós e Contras" foi dedicado ao "Fim da Comida Barata", o título inicial substituído posteriormente por este: "A Escalada do Preço da Comida". Os temas em debate giraram em torno do "fim da comida barata", como se a comida fosse assim tão "barata":
"A escalada do preço dos cereais provoca uma crise alimentar". As Nações Unidas e o Banco Mundial não conseguem resolver o problema, porque, segundo dizem, a questão não é económica mas fundamentalmente política. "O que fazer para matar esta fome?" O Ministro da Agricultura propôs a criação de "gabinetes de gestão de crises", ao mesmo tempo que reforçou a ideia de modificar as linhas gerais da política agrícola europeia e nacional. Além disso, destacou que esta crise estava a ter um efeito benéfico, precisamente por mostrar a urgência de mudar de políticas agrícolas e a necessidade de Portugal alargar a sua produção agrícola, tornando-a mais produtiva e mais competitiva, por uma razão de segurança. "Qual é o impacto dos biocombustíveis e das alterações climáticas?" A iniciativa de produzir biocombustíveis na Europa parece estar a ser abandonada, porque não levou em conta a emergência de novos mercados para a fornecimento de produtos agrícolas. "Será antes influência da especulação financeira e da subida das taxas de juro?" Embora muitos factores tenham contribuído para o aparecimento desta crise, em particular a procura crescente e a oferta escassa devido à falta de excedentes, os factores climáticos e a produção de biocombustíveis são responsáveis pelos maus resultados da produção agrícola nas cinco principais potências exportadoras: USA, Canadá, União Europeia, Ucrânia e Austrália. Isto não significa que não hajam excedentes, mas estes atingiram preços de tal modo inacessíveis que os países mais pobres não podem pagar. Devido à força do euro, supõe-se que esta crise tenha efeitos menos graves na Europa e, por isso, não se prevê um surto de fome entre os consumidores europeus, apesar dos preços estarem a subir.
O maior debate da televisão portuguesa procurou todas as respostas com o Ministro da Agricultura, os produtores e alguns especialistas. O Ministro da Agricultura não deu uma resposta ecológica global à escalada do preço dos cereais e à crise alimentar, avançando com um projecto geral de relançamento da agricultura portuguesa, mas lembrou acertadamente que a "agricultura portuguesa não pode viver dependente dos subsídios, mas deve produzir para o mercado", sob vigilância competente dos organismos adequados do Estado. Contudo, os produtores agrícolas portugueses dos mais diversos escalões da "cadeia alimentar", desde os produtores de cereais até aos produtores de carnes e de lacticínios, não quiseram escutar este discurso da produtividade e da competitividade, alegando em última análise que a agricultura, tal como o exército e a polícia, "não é lucrativa mas dá segurança". Agarrando-se ao discurso oficial das Nações Unidas e com a ajuda involuntária do general, responsabilizaram a Comissão Europeia e o Ministério da Agricultura pelo estado miserável ou pela fraqueza da agricultura nacional.
Dado o número exagerado destes participantes reivindicativos, o problema fundamental de saber como «matar a fome» e «matar esta crise» que ameaça a segurança internacional, como lembrou o general, foi eclipsado e converteu-se num "muro das lamentações": as políticas de subsídios. Mais uma vez Fátima Campos parece não compreender que um excesso de convidados não ajuda a compreender os assuntos tratados nos seus programas, sobretudo quando eles estão mais interessados em defender os seus interesses corporativos do que em participar na construção sólida do futuro de Portugal e das políticas reformistas justas.
Ultimamente ouvimos falar constantemente de crises do capitalismo: a crise financeira e a crise alimentar. O neoliberalismo imposto ao mundo pelos USA começa a revelar o seu rosto: a economia de mercado entregue a si mesma e à sua preciosa lei da oferta e da procura conduz à miséria, ao caos e à guerra. O capitalismo da abundância parece estar a converter-se em capitalismo da fome, usando como bandeira ecológica os biocombustíveis, quando na verdade o que está no cerne do problema é a especulação financeira à escala global e a ganância pelo lucro e pelo enriquecimento fácil.
Capitalismo da fome: eis a face do capitalismo financeiro global. A procura de novas alternativas energéticas, em particular os biocombustíveis, com a ajuda das alterações climáticas, ameaça converter os campos de cultivo em empresas energéticas cuja lógica irracional do lucro condena a humanidade à fome e à guerra. O capitalismo está cada vez mais irracional: apropria-se da natureza (propriedade privada) para se apropriar da força de trabalho humana. Porém, este seu mais recente desenvolvimento parece entrar em conflito com a sua velha estratégia de legitimação: a elevação do nível de vida inserida no megasistema de circulação fechada do capital, isto é, o consumismo irracional que abastece os estômagos à custa de atrofiar o cérebro e a mente (indigência cognitiva). A fome colectiva presente no mundo não-ocidental pode ser reinserida nas nações ocidentais, levando os homens-estômagos ao protesto e à violência de rua.
Ora, se a fome constitui o impulso fundamental para a conservação da vida, como defendia Ernst Bloch, então, nestas condições de ausência de alimentos, as pessoas famintas podem converter esta insatisfação em "docta fames", fome informada e instruída, inclusive esclarecida, levando-as a revoltar-se contra o capitalismo que as condena à privação material, e aquelas que ainda sabem sonhar acordadas podem convertê-la em "docta spes", a esperança esclarecida, a qual ilumina a praxis de transformação do mundo. O capitalismo é obsceno.
J Francisco Saraiva de Sousa

120 comentários:

  1. Este post será desenvolvido depois do programa! Capitalismo da fome: eis a face do capitalismo financeiro global! :(

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  2. Esta será a base textual do comentário que irei fazer ao debate de hoje: uma provocação humana. Os portugueses são muito previsíveis e nós que pensamos sabemos de antemão o que vão dizer. Afinal, nada de novo em Portugal: o oásis da mentira política.

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  3. Ola, Francisco! Passei por aqui rapidamente, pois hoje o meu dia esta meio corrido.
    Estou usando um teclado problematico, inimigo dos acentos e dos sinais de pontuacao.
    Acho muito interessantes os ultimos temas que vc pretendeu abordar. So poderei ler amanha as usa ultimas criacoes.
    A expressao animal metabolicamente reduzido e excelente.
    Um abraco!
    Odeio este teclado

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  4. Obsceno, do latim "ob-scena" - que não se pode pôr em cena.
    É uma palavra bem escolhida para caracterizar o que se passa neste país, é por demais injustificável e insustentável.
    A sua "tematização" do "pensamento metabolicamente reduzido" fez-me lembrar uma letra gírissima e exemplar da alma lusa, de um novo grupo musical que reinventa o género fado - "Deolinda"! Vi-os na Fnac e fartei-me de rir... tem o link lá em abaixo para ouvir.

    Movimento perpétuo associativo

    Agora sim, damos a volta a isto
    Agora sim, há pernas para andar
    Agora sim, eu sinto o optimismo
    Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

    Agora não, que é hora do almoço
    Agora não, que é hora do jantar
    Agora não, que eu acho que não posso
    Amanhã vou trabalhar...

    Agora sim, temos a força toda
    Agora sim, há fé neste querer
    Agora sim, só vejo gente boa
    Vamos em frente, havemos de vencer!

    Agora não, que me dói a barriga
    Agora não, dizem que vai chover
    Agora não, que joga o Benfica
    E eu tenho mais que fazer...

    Agora sim, cantamos com vontade
    Agora sim, eu sinto a união
    Agora sim, já ouço a Liberdade
    Vamos em frente, é esta a direcção!

    Agora não, que falta um impresso
    Agora não, que o meu pai não quer
    Agora não, que há engarrafamento
    Vão sem mim...
    ..que eu vou lá ter...

    Vão sem mim que eu vou lá ter!
    Vão sem mim que eu vou lá ter!
    Vão sem mim que eu vou lá ter!
    Vão sem mim que eu vou lá ter!



    http://www.myspace.com/deolindalisboa

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  5. André

    A Papillon veio com saudades do "mosteiro virtual". Tem espalhado poesia pelas suas capelas. Não há nada como estar distante durante uns dias para ficar com imensas saudades virtuais da "irmandade virtual".

    Boa noite (Já não suporto o ruído de Prós e Contras: lamentações)

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  6. Tema assaz interessante. Ao gosto do nosso Manuel. A propósito, onde pára ele?
    Veziiiiiinhe!!!! Ó mê veziiiiiiiiinhe!!! Olhe lá do que dandam falande por aqui!!!!

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  7. Poesia?

    Deixei a letra da música pq é gira. E se ouvir a música ainda é mais gira.

    Eu n quero fazer parte de nenhuma irmandade: eu sou esteta-terrorista-porno-niilista.

    :p

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  8. Ok Esteta-terrorista-porno-nihilista!

    Já ouvi a música. Só tem uma palavra obscena. Adivinhe?

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  9. Hmmmm... relendo a letra e pensando em si... deve ser "Benfica". Acertei?

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  10. Claro, Papillon

    Estava a tentar articular as ideias destes últimos posts em função de um mesmo fio condutor, mas prometi à Denise fazer um texto sobre estética da recepção.

    Se a Papillon quiser, faça um post para publicar aqui... :)

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  11. Ah que querido. Hj está muito simpático e calminho... dormiu bem, foi?

    Está bem, quando escrever o meu manifesto do "movimento perpétuo associativo esteta-terrorista-porno-niilista" eu digo. ;)

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  12. Admiro a sua persistência no acompanhamento dos partos de ratos que são esse tipo de programas.

    Sobre a matéria em apreço, confesso que quando evidências antigas se tornam actualidades, perco todo o interesse. Sei gerir crises. Fiz vida disso. Mas não me motivam. São como rios circulares.Gerir a crise sob a pressão da conjuntura, é adiar o que de estruturante pudesse ser feito para sonhar mais alto. O que é natural, pois só se sonha o que se conhece – este presente.

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  13. Manuel

    O programa foi uma sinfonia contínua de lamentações e de reivindicação de subsídios. É isto a livre iniciativa?
    Acho que também devemos pedir subsídios ao Estado para blogar! :)

    O Ministro disse que é necessário ser "estruturante" e diz que o foi em relação aos vinhos. Eram isso que devia ter sido discutido se as pessoas fossem racionais... Muita gente a falar ao mesmo tempo não informa; pelo contrário, dá sono e tédio... A Fátima ainda não compreendeu isso!

    Papillon

    Dormi bem! Aliás, tenho dormido bem, mas não descanso muito.
    Escreva o manifesto... :)

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  14. Papillon

    Não gostou da dialéctica "docta fames e docta spes"? Uns têm fome de alimentos; outros têm fome de conhecimentos e de justiça; mas todos diviam cuidar da natureza e transformar o mundo dominado pela célebre geração de Maio de 68.

    Capitalismo da fome sempre existiu mas agora ameaça reentrar novamente no mundo ocidental, porque a geração grisalha de 68 se tornou burocrática, estupidificante e tendencialmente corrupta. São a face do Poder, aquele poder que deve ser derrubado.

    Curiosamente a estética da recepção surgiu no seio desta sociedade massificada e consumista: o leitor das estéticas clássicas era uma espécie de filólogo. Como a educação está em regressão, o leitor é hoje qualquer um desde que funcione em manada neste horizonte metabolicamente reduzido: muita opinião mas escassez cognitiva. Aqui reside o núcleo da crítica que lhe faço: a estética da indigência de espírito e da privação activa de conhecimento.

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  15. A teoria da recepção assenta na fenomenologia social da vida diária (Schutz): o leitor possui o seu próprio acervo de conhecimentos prévios (Heidegger) que preenchem as lacunas do texto literário. Tornou-se teoria da comunicação: autor (produção), obra e leitor (recepção). Neste contexto de indigência cognitiva, o diálogo entre a obra e o público tornou-se uma palhaçada, porque o público finge que lê.
    Mas, neste aspecto, a actual educação já não desempenha o seu papel, porque deixou de cuidar do desenvolvimento psicológico e cognitivo das crianças: regressão cognitiva.

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  16. A «docta fames» é a "fome" que reconhece a causa dela mesma, porquanto possa desfazer-se dela, e a «docta spes» é a "fome" convertida em esperança que dirige o mundo? Portanto, esfomeados e saciados esclarecidos e convictos? Comecei de repente a vislumbrar um cenário vermelho...
    Ouviu as declarações do Bob Geldof em Lx? Denunciou a Angola como um país liderado por criminosos e o embaixador de Angola saiu da conferência. Mas é realmente uma vergonha e assim deve ser delatado. Devemos tornar-nos delatores dos traidores. Dante, que tb era político, pô-los no último círculo do Inferno e percebe-se porquê - o traidor mina o contrato social, impossibilita a racionalidade e sociabilidade do homem, logo impossibilita ser aquilo que ele é: zoon politikon.

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  17. Papillon

    Angola é terrível em termos de abuso de poder e, o mais estranho, é que esses abusadores têm influência sobre Portugal, talvez devido ao petróleo.

    Ainda não partilhei a antropologia de Bloch, mas a sua dialéctica vai da fome à esperança esclarecida: a pátria da identidade é a utopia concreta que a move e enche de alegria.

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  18. Conhece a filosofia da música de Bloch? Um sonho diurno que lança a música para a frente activando as categorias da possibilidade dialéctica: frente, novum e ultimum. Optimismo militante e corrente quente! :)

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  19. Bloch admira Dante e fá-lo avançar para diante, para a frente... Os corruptos deviam arder no inferno de Dante e deixar o mundo ser sem corrupção.

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  20. Mas o fogo é nosso: a centelha da alma. O fogo do Inferno é de outra natureza, como as chamas a devorar edifícios. O Bob Geldof teve "tomates"! Coisa que falta aos nossos lideres! Sempre submissos em relação à corrupção dos governos africanos, asiáticos, fora-ocidentais.

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  21. Infelizmente, conheço as filosofias da música de Bloch e de Adorno, mas não sei expô-las. Isto significa que precisava de retomar as aulas de música, mas não me apetece. Que fazer?, perguntava Lenine. Continuar a lutar com as armas que tenho. Porém, tenho 3 ensaios sobre música electrónica: KrafWerk, J.M. Jarre, etc.

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  22. Eu estudei estética musical em musicologia, mas nunca li O Espírito da Utopia. Só conheço superficialmente a sua filosofia da música através de Enrico Fubini.
    Geldof teve tomates! :)

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  23. Já estive com o Enrico Fubini nas mãos muitas vezes mas nunca o li.
    O Espírito da Utopia é a primeira obra de Bloch. A música e a morte dominam essa obra e são transportadas para O Princípio Esperança. A Europa Central é a pátria do pensamento e da Filosofia; o resto é paisagem. :(

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  24. Para Bloch, a "música é a nossa utopia": é o que ainda não é, o perdido, o pressentido, é o reencontro do si, do nós, escondido no obscuro, na latência de cada instante vivido, invocado pela ânsia e pelo sonho.
    O outro capítulo é "Karl Marx, a Morte e o Apocalipse".
    Começa assim: "Eu sou, nós somos". Desejo do "reino"!

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  25. Ele n tem nenhuma obra q trate de Bloch, ele é historiador da estética musical e na sua obra - estética musical da antiguidade ao século XX - que são duas obras em italiano, mas eu tenho a edição em castelhano que integra as duas, na parte da teorização da dodecafonia ou música serial (Schonberg) tem uma parte dedicada a Ernst Bloch.

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  26. Papillon

    Muito obrigado.
    Tenho o Fubini da Alianza, Madrid.
    E lembrei-me que tenhos as obras metafísicas de Schelling na integra!

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  27. O livro está virgem e sem meu name! Os 3 últimos capítulos parecem bons.

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  28. Adorno aprendeu música dodecafonia ou música serial com Schonberg e trata disso na Filosofia da Nova Música, na Intrudução à Sociologia da Música e Dissonâncias. Ele tem pautas musicais mas não era compositor excelente.
    Critica severamente o jazz e eu tentei aplicar a filosofia dele á música electrónica.

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  29. Precisamente é essa q tenho e a partir da qual estudei. Na altura ainda n sabia italiano. Odeio castelhano, mas eles fazem o favor de nos traduzir tudinho.
    O Francisco escreve o seu nome nos livros? Eu n gosto de marcar os livros, apesar de sublinhar a lápis e colar post-it. Sendo "meus" são de todos, do reino. Quero ser como Valéry que, numa entrevista, qd lhe perguntaram o que traria de sua casa se ela estivesse a arder, ele respondeu, como só os poetas o podem fazer: o fogo. É isso q é a vida, muito mais q palavras embotadas. Quero me criar para o desapego total e "comer chocolates", pois "só há metafísica em comer chocolates".

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  30. Papillon

    Tenho a História da Música de william Lovelock e a Música Moderna de Paul Griffiths: estas estudei.
    Noutro dia o André perguntava-me onde estavam as obras do J cortesão: talvez no sotão ou num caixote metido nalgum armário. Ainda não fui ao encontro delas! Ando cansado...
    O músico que me dava lições é/era tarado; por isso, abandonei as traduções dele e as obras dele e a ele também.

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  31. Tenho músicos na família mas não os nomeio para não ser conectado! Além disso, podem ser contra o que escrevo aqui. :)

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  32. Escrevo o nome nos livros e sublinho e escrevo e até já rasguei Heidegger de "raiva", por causa dos genitivos.

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  33. Escusado será dizer que o comprei (Heidegger) novamente e em diversas línguas.
    Percebo que não goste de ver os livros sublinhados, mas isso significa estudo cumprido e obra assimilada. Quando desejo reler com novas lentes, compro outra edição e esqueço a primeira.

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  34. Eu comecei a estudar música aos 5 anos. Música para alma e ginástica para o corpo! A educação ideal. Assim deveria ser! Pelo menos os meus pais tinham boas intenções para comigo... :)))

    Adorno tb criticou um dos meus compositores preferidos, Stravinsky, opondo-o a Schoenberg.
    E criticar o jazz é mesmo estar muito "distraído"... eufemisticamente falando. :) Aliás, ele criticou-o porque era música popular, e de facto assim foi como começou, mas n se apercebeu do seu potencial, não conseguiu perceber o seu poder e o jazz foi, sem dúvida, o género musical do século XX.

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  35. Foi nessa critica do jazz que Adorno falou de regressão auditiva, termo que tenho retomado num contexto mais amplo.
    Sim, opõe os dois na Filosofia da Nova Música. Prefere o Stravinsky em vez de Schoenberg? Moisés e Aarón! Gosto de escutar...

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  36. A malta diverte-se porque escreveram no muro: "Francisco, Vamos para Gilbraltar e Malta". E eu cá fico... feliz e sem malta! :(

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  37. Ele é que era retardado auditivo. Aliás, muitas contra-críticas lhe foram feitas à sua análise do jazz e música popular. Uns chamaram-no de ignorante, outros foram mais mansos. Eu sou bravia... :))
    Schoenberg e Stravinsky são muito diferentes, mas gosto mais do último.
    No muro?

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  38. Sim, no muro. São tolinhos tout court! Agora vou jantar sozinho! :(
    Hummm... Adorno é genial: a sua noção de negatividade ligada à crítica da sociedade nem sempre é compreendida. Aí reside a arte mágica da Dialéctica Negativa.

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  39. Interessante a forma como os seus amigos/familiares deixam recados ao Francisco. O cavernoso Francisco hoje vai jantar com insípido Adorno, mas cuidado, talvez fique com azia no final. :)

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  40. Borboleta

    Na família, cada um tem a sua tara!
    Eu cavernoso? Adorno insípido? Azia? Vou comer carne... :)

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  41. Contudo, os meus corpos cavernosos estão de boa saúde! E funcionam sempre!

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  42. Eu comi salmão. E acabei com uma meloa melosa a saber a Verão. :)

    Sim, n se preocupe. A minha família tb tem tara e não é pequena. ;)

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  43. Adorno escreveu:

    "A dossolução do sujeito, contra a qual a escola de Schoenberg se defende acirradamente, é considerada na música de Stravinski directamente como a forma mais alta em que o sujeito deve superar-se e, ao mesmo tempo, conservar-se. Assim, Stravinski termina por transfigurar esteticamente o carácter reflexo do homem de hoje. O seu neoclassicismo recria as imagens de Édipo e de perséfone, mas o mito, que de tal modo apresenta, já é a metafísica dos homens universalmente submetidos que não desejam nenhuma metafísica, que não necessitam de nenhuma metafísica e que zombam do seu próprio princípio».

    Adorno trata da regressão em "Sobre o carácter fetichista na música e a regressão da audição": isto significa ausência de conhecimento musical. Acriançados são esses ouvintes e o jazz é criticado por despolitizar, entre outras coisas.

    A Borboleta virou concentrado proteico! :-)

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  44. No Verão a meloa é boa com icecream e vinho do Porto!
    Apetece mas ainda está algum frio nocturno. Arrefeceu ligeiramente, embora não tenha frio.

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  45. O salmão deve levar muito limão ou qualquer outra coisa; caso contrário, fica muito intenso no sabor e pegajoso.

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  46. Um amigo de curso enviou-me um email a dizer que, em vez de homem-estômago, devia ter escrito homem-marmita! Nice... As marmitas ambulantes, nómadas ou sedentárias, que levam os piolhos a arejar e a passear!

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  47. É-me indiferente que subscreva o pensamento de Adorno.
    Adoro Stravinsky, em particular, a obra magistral "Sagração da Primavera". Então quando a vi tocada ao vivo e coreografada pelo Nijinsky entrei em estado de êxtase que durou mais de um mês! Brutalíssimo! :)
    Ah! E adoro Jazz! Mais uns estilos do que outros, porque o jazz acabou por se fundir com vários estilos. Ir ver concertos de jazz é quase religioso. :)

    Sim, o salmão serve-se sempre com rodela de limão. Mas eu gosto do sabor assim.

    Aí no Porto está sempre frio pq é uma cidade fria e cinzenta, aqui está bom e no Algarve melhor ainda... snif snif :(


    Mudei de foto, pq deixei um recado aos "Deolinda" e eles disseram q a foto era fixe. (esta foto é do meu perfil no myspace)

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  48. Não vejo foto, Borboleta! :(
    Sim, o movimento final d' Sagração da Primavera de Stravinsky é sublime, bem com a História do Soldado.

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  49. Apareceu agora, mas esta foto já conhecia: foi uma das primeiras. E a outra que fez dela? Deu-a aos Deolinda?

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  50. Sim, qd a tirei pu-la aqui e lá no myspace. Mas do myspace n tirei e aqui como aparece muitas vezes farto-me.
    Acha q eu ia dar fotos aos Deolinda? Só se me dessem um cd. :)

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  51. Olá, amigos!
    Francisco, também acho o capitalisno obsceno. Não se põem em cena os efeitos funestos que ele acarreta (ob-scena, como bem lembrou a Papillon). Porém eles também se encontram dramaticamente evidenciados dentro da cena urbana.

    Em São Paulo, minha cidade, calcula-se que 900 automóveis são licenciados a cada dia. Cerca de 800 automóveis novos saem às ruas desta megalópole em que vivo (apesar de aqui às vezes me sentir mais morto do que vivo).
    Este é apenas um dos inúmeros problemas que formam o caos paulistano. Imaginem vocês como está a qualidade do ar de São Paulo!
    Os donos de lojas de carros estão lucrando muito. Um dia destes um deles disse que não se importava com os efeitos causados pelo excesso de veículos. O importante para ele era vender muito e lucrar infinitamente. Nesses comentários torpes se revela o total descaso destes animais metabolicamente reduzidos com a cidade, com a natureza, enfim, a desconsideração da res publica. Os capitalistas estão acabando com tudo o que vive.
    O consumismo está desenfreado e, o mais preocupante, é que as pessoas não estão se importando com o ecossistema. Entre os efeitos deletérios do capitalismo destacam-se a ausência de sensibilidade para o Belo,a indigência cognitiva e o comportamento predatório. Incapacidade para contemplar o belo: Os juízos estéticos são controlados pelos imperativos estomacais :(

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  52. Aqui na cidade "fria e cinzenta" há um bar com música jazz. Já lá fui mas deixei de ir, porque acho tudo muito "apertado". Gosto de espaço e de paisagem ampla, aquela que se perde no horizonte distante da proximidade.
    Eles não lhe dão um cd? Ui que mauzinhos são os Deolinda!
    Prefiro música alternativa...

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  53. André

    Noutro dia vi um filme ou documentário onde se retratava esta estupidez que vai colocar a vida humana em "estufas", dado o estado do clima e do sistema ecológico global.
    Imagino: São Paulo tem não sei quantas vezes mais população que Portugal inteiro. Mas o ar no Porto é muito poluído. Basta sair daqui e sentimos logo esse efeito na respiração, na roupa, na pele, e na ausência de pó negro.
    Mas o capitalismo tem a sua lógica do lucro imoral e irracional: as coisas deviam ser mais contidas.

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  54. Sim, tb n são banda com a qual gastaria dinheiro. Aliás conheci-os por acaso. Encontrei um amigo no chiado a dizer-me q ia à Fnac vê-los e assim fui. :)

    Aí no Porto conheço o de Matosinhos o B-flat q, por acaso, é bastante amplo, mas já o apanhei cheio. Mas isso é normal em qq bar de jazz. É como ir à missa. N há lugar fica-se em pé. :)

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  55. Exacto é esse bar em Matosinhos! Não sabia que conhecia tão bem a city do OPorto. :-)))

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  56. O F. deveria preocupar-se com o alcatrão dos pulmões. :p

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  57. (o comentário do alcatrão era relacionado com a sua indignação diante da poluição)

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  58. Não tenho alcatrão nos pulmões, pelo menos ainda não tenho. Até tenho fumado muito, mas vou reduzir: é o stress.
    O André está on-line...

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  59. Tem de comer ómega 3 (salmão, sardinhas) para reduzir o stress. Aprendi isto com o Dr. Oz, o amigo da Oprah Winfrey.
    Olá André, são muito giras as músicas dos Deolinda. Ouça o "Fon fon fon" também! :))

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  60. Uma vez ouvi uma música de um "cantor" português, o Quim Barreiros. Se não me engano era este o nome deste senhor lascivo.

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  61. Aqui temos atores pornôs metidos a cantores. Vide o funk carioca. Até Calígula ficaria ruborizado...

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  62. André

    O Quim Barreiros é música pimba e a malta universitária convida-o na queima das fitas, pelo menos em Coimbra. Mas não tenho ouvido falar dele: deve estar já fora de prazo.

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  63. Só se for o Alexandre Frota que esteve cá durante algum tempo num programa da TV. (Brinco, porque não ligo a porno stars.)

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  64. Sim, as letras do Quim Barreiros tb são engraçadas, mas pq são ordinárias...

    Eu como salmão 1 vez por semana e sardinha na sua época. Sardinha no pão é bom! Come-se muito no Sto. António.

    Eu já vi fotos pornográficas (gays) do Frota. Tem uma pila considerável.

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  65. Os Madredeus acabaram, André.
    Agora, a Teresa Salgueiros está a solo.

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  66. Alexandre Frota é arroz de festa (estragado). Nunca vi um sujeito mais palhaço do que ele. É um palhaço (sem graça) que lucra muito bem com as próprias palhaçadas...

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  67. Madredeus: boa música mas penso que o grupo se desfez. Deve ter sido o melhor grupo português dos últimos tempos!
    Tivemos um cantor, António Variações, que tinha uma voz peculiar, mas já morreu (não sei quando).

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  68. Papillon

    Frota: "Pila considerável"? Os filmes porno que fez? Não vi!

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  69. Sim, o Frota é muito sabidão... muito mesmo! Mas mau carácter. Não presta, como vocês dizem. :)

    Gosto muito de António Variações - ouça André, vai adorar!

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  70. André

    A pila é o cacete, etc. Usamos o termo por ser mais "inofensivo e neutro". Verga, dick, etc.

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  71. N vi filmes! Vi fotos num site. Só estava com homens e eram pornográficas porque estavam de pau feito.

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  72. Papillon

    A. Variações tinha uma voz original, pelo menos no nosso país...

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  73. Mais outro termo: pau feito, meia haste, haste e meia, meia fda, etc. :)))

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  74. Estava a pensar que deviamos usar várias categorias para denunciar a irracionalidade da nossa sociedade, do capitalismo: obscenidade é uma. É moral. Feia seria outra: estética. Sugestões?!
    A partir dessas categorias fazemos terapia linguística e vários posts.

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  75. http://www.imeem.com/bagalhuxa/music/ZXM-zYM1/antonio_variacoes_o_corpo_e_que_paga/

    André copie o link e ouça "O corpo é q paga" de António Variações. Só gravou 2 discos, morreu de SIDA, um ano depois de eu nascer, 84.

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  76. Não sabia que tinha morrido em 1984: Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga. Muita festa da espuma!

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  77. Gosto do exercício!

    O capitalismo é:
    insustentável (categoria ambiente)
    desnaturado (categoria natureza)
    parodoxal (categoria lógica)

    Francisco,

    N seja moralista. Na altura o António nem saberia o que era a SIDA e levaria uma vida promíscua inconsequente como gay típico.

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  78. Tenho 281 termos para designar o pénis, excluindo os que designam outras partes dos órgãos sexuais masculinos.

    Que dizem da minha proposta?

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  79. E como explicitamos o paradoxal? O capitalismo é paradoxal porque deseja muitos consumidores mas lhes nega emprego... etc?
    Insustentável e desnaturado...

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  80. Insustentável porque esgota recursos e põe em risco os eco-sistemas.

    Desnaturado porque é desumano (aqui o social/moral e natural confudem-se)

    Parodoxal porque oferece uma aparente solução de satisfação.

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  81. Então já temos,

    1)Insustentável (c ambiental) porque esgota recursos e põe em risco os eco-sistemas.

    2) Desnaturado (c natural) porque é desumano (aqui o social/moral e natural confudem-se)

    3) Parodoxal (c lógica) porque oferece uma aparente solução de satisfação.

    4) Obsceno (c moral)

    5) Feio (c estética)

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  82. Isto é um jogo?

    Ai! O Francisco sabe mesmo divertir-se...

    Vá agora é o André! Estou ansiosa!

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  83. A partir destas categorias podemos delimitar os campos das crises do capitalismo: crise ecológica, crise cultural, crise económica, crise política (corrupção), crise da saúde, etc...

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  84. A brincar podemos descobrir uma nova perspectva de análise. por vezes, temos tudo diante dos olhos mas não vemos por falta de treino ou de jogo cognitivo/conceptual. Mas é a vez do André!

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  85. A Papillon usou o paradoxo no sentido lógico, do tipo: Todos os cretenses mentem; quem o diz é cretense, (logo) está a mentir.

    Outra categoria seria Dissonância! O capitalismo é dissonante!

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  86. Paradoxal porque nos impinge a ideia que nós somos infinitos, que a vida é fácil, que tudo é possível, ora é exactamente o contrário. Portanto, o capitalismo funde-se num paradoxo, é ilógico.

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  87. Dei-me conta de que crise espiritual é um termo um pouco vago. Não sei a que categoria está relacionado o campo da crise espiritual. Talvez seja um campo sem categoria.
    Estou a pensar.

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  88. Pensei no capitalismo como uma noite escura da "alma" da humanidade capitalista. Porém, diferentemente da noite escura de São João o da Cruz, a noite escura da alma capitalista não se vincula a um itinerário espiritual e iniciático. É feita apenas de trevas.

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  89. O capitalismo é sujo, mentiroso (falta de sinceridade), imoral, materialista, idolatra ... Mas precisamos de categorias mais fortes, muitas das quais podem ser agrupadas...

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  90. Bem, a madame butterfly vai embora.

    Boa noite, senhores.

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  91. Então, temos infernal, escuro... cujo sentido podemos explicitar por oposição a celestial (poético), claro...

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  92. Foi um registo poético a la Heidegger: céu/terra, mortais/imortais. :)

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  93. Percebi que fui prolixo na exposição da minha idéia da noite escura da alma capitalista. Meu cérebro já começa a anoitecer :)

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  94. A diferença para New York é de 5 horas. Então, a diferença em relação a São Paulo, 4 horas.

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  95. Esta é a secção de que mais gosto no seu blogue, Francisco: o espaço dos comentários onde vos leio e aprendo a conhecer.
    Papillon, fiquei encantada com a sua foto. Se me permite, tem um rosto muito belo.
    Francisco, se um dia vier a Portimão eu levo-o às melhores sardinhas do mundo ;-)
    André,
    Se estiver a construir um glossário eu também poderei contribur com algumas palavras que aprendi com os meus filhos que aprenderam na escola.

    E quanto à música, eu também estudei. A novidade é que vai ser estreado o 1º concerto para acordeão e orquestra.É do compositor portimonense Cristóvão Silva. Querem vir?

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  96. Denise

    Até iamos se não fosse o trabalho! Obrigado pelo convite. Já vi que vou ter de aprender a gostar de sardinhas. Também faz parte da ementa do São João do Porto! :)

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  97. Obrigada Denise, para ir ao Algarve comer bom peixe estou sempre de alma pronta, mas há os deveres! :)
    Há o Festival Lagoa Jazz, ao qual já fui uma vez. E no Jazz Club de Vilamoura já vi um amigo actuar, mas música clássica nunca assisti no Algarve.

    Francisco,

    A Denise tem razão, fazemos um belo duo de entretenimento: "o mocho sabichão e a borboleta traquinas". Podíamos fazer um showcase ao vivo: "Aprender, brincando", fazendo jus às ideias pedagógicas vigentes.

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  98. Papillon

    Era uma boa forma de "ganhar a vida": um duo "Aprenda brincando". :)

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  99. Sim, seríamos artistas saltimbancos, nómadas, livres e felizes, como os do "Sétimo Selo" do Bergman. Há melhor?

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