Prós e Contras debateu hoje (28 de Junho) a questão da introdução de portagens nas Scut: o PS e o PSD tentam chegar a um acordo para cobrar aos portugueses os custos dos erros governativos que cometeram nas últimas décadas. Jorge Lacão (Ministro dos Assuntos Parlamentares) afirmou que o tempo não é de divergência - a divida do país triplicou, de modo a lembrar ao PSD que o governo está empenhado na tarefa de alcançar entendimentos alargados com o maior partido da oposição. Miguel Macedo (PSD) respondeu-lhe, afirmando que o seu partido aceita uma negociação exigente sem cheque em branco. Fiel ao princípio do utilizador/pagador, o PSD foi sempre contra as Scut, responsabilizando o PS pela sua criação. É muito difícil tomar partido neste debate a dois, porque ambos são partidos da máfia nacional: a diferença entre eles é meramente semântica. O PS defende isenções ou discriminações positivas, enquanto o PSD prefere falar de comparticipações, mas ambos querem introduzir o dispositivo electrónico de matrícula (chip) e portagens nas Scut. O secretário de Estado defendeu o chip de matrícula com recurso ao exemplo dos países do Leste, o que evidencia a ambição totalitária deste governo e do PSD: escrutinar os movimentos dos cidadãos portugueses e vedar aos estrangeiros - em particular aos espanhóis - o acesso a Portugal. Além de serem partidos do sistema mafioso nacional, com vocação totalitária, o PS e o PSD revelam falta de imaginação política: a crise económica não lhes ensinou nada de novo, porque continuam a cometer os mesmos erros sistemáticos que nos levaram à situação de miséria presente.Portugal está sem rumo: o tango dançado a dois - PS e PSD (Heitor de Sousa) - afunda-nos cada vez mais nas profundezas do abismo da miséria e da pobreza. As únicas intervenções que mereceram alguma credibilidade foram as de António Filipe (PCP) e de Heitor de Sousa (BE): os governos do PSD e do PS planearam mal as obras e fartaram-se de construir estradas, vias rápidas e auto-estradas, muitas das quais foram construídas com dinheiros comunitários. Para fazer frente ao endividamento externo do país, sob coacção da Comissão Europeia, o PS e o PSD estão a converter as estradas em bens de luxo, forçando o país a viver da economia das estradas que não pode ser exportada, e tornando os pobres cada vez mais pobres para pagar a crise que geraram. Carlos Alberto Amorim retomou o protesto de Rui Rio e falou da revolta das portagens: os portugueses precisam vencer o medo e revoltarem-se contra o actual sistema partidário. A actual conjuntura política, económica e social é favorável à emergências de novos partidos políticos que saibam interpretar o verdadeiro interesse nacional: o PS e o PSD não merecem a confiança dos portugueses. Com estes dois partidos Portugal não tem futuro: os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, mais pobres. A revolta das portagens, sobretudo no norte que este governo quer penalizar, é a nossa oportunidade para renovar Portugal e livrá-lo do domínio total. A vocação totalitária do actual PS envergonha-me: os utilizadores das Scut devem recusar pagar as portagens e converter esse protesto em acto político revolucionário.J Francisco Saraiva de Sousasegunda-feira, 28 de junho de 2010
Prós e Contras: O Fim das SCUT
Prós e Contras debateu hoje (28 de Junho) a questão da introdução de portagens nas Scut: o PS e o PSD tentam chegar a um acordo para cobrar aos portugueses os custos dos erros governativos que cometeram nas últimas décadas. Jorge Lacão (Ministro dos Assuntos Parlamentares) afirmou que o tempo não é de divergência - a divida do país triplicou, de modo a lembrar ao PSD que o governo está empenhado na tarefa de alcançar entendimentos alargados com o maior partido da oposição. Miguel Macedo (PSD) respondeu-lhe, afirmando que o seu partido aceita uma negociação exigente sem cheque em branco. Fiel ao princípio do utilizador/pagador, o PSD foi sempre contra as Scut, responsabilizando o PS pela sua criação. É muito difícil tomar partido neste debate a dois, porque ambos são partidos da máfia nacional: a diferença entre eles é meramente semântica. O PS defende isenções ou discriminações positivas, enquanto o PSD prefere falar de comparticipações, mas ambos querem introduzir o dispositivo electrónico de matrícula (chip) e portagens nas Scut. O secretário de Estado defendeu o chip de matrícula com recurso ao exemplo dos países do Leste, o que evidencia a ambição totalitária deste governo e do PSD: escrutinar os movimentos dos cidadãos portugueses e vedar aos estrangeiros - em particular aos espanhóis - o acesso a Portugal. Além de serem partidos do sistema mafioso nacional, com vocação totalitária, o PS e o PSD revelam falta de imaginação política: a crise económica não lhes ensinou nada de novo, porque continuam a cometer os mesmos erros sistemáticos que nos levaram à situação de miséria presente.Portugal está sem rumo: o tango dançado a dois - PS e PSD (Heitor de Sousa) - afunda-nos cada vez mais nas profundezas do abismo da miséria e da pobreza. As únicas intervenções que mereceram alguma credibilidade foram as de António Filipe (PCP) e de Heitor de Sousa (BE): os governos do PSD e do PS planearam mal as obras e fartaram-se de construir estradas, vias rápidas e auto-estradas, muitas das quais foram construídas com dinheiros comunitários. Para fazer frente ao endividamento externo do país, sob coacção da Comissão Europeia, o PS e o PSD estão a converter as estradas em bens de luxo, forçando o país a viver da economia das estradas que não pode ser exportada, e tornando os pobres cada vez mais pobres para pagar a crise que geraram. Carlos Alberto Amorim retomou o protesto de Rui Rio e falou da revolta das portagens: os portugueses precisam vencer o medo e revoltarem-se contra o actual sistema partidário. A actual conjuntura política, económica e social é favorável à emergências de novos partidos políticos que saibam interpretar o verdadeiro interesse nacional: o PS e o PSD não merecem a confiança dos portugueses. Com estes dois partidos Portugal não tem futuro: os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, mais pobres. A revolta das portagens, sobretudo no norte que este governo quer penalizar, é a nossa oportunidade para renovar Portugal e livrá-lo do domínio total. A vocação totalitária do actual PS envergonha-me: os utilizadores das Scut devem recusar pagar as portagens e converter esse protesto em acto político revolucionário.J Francisco Saraiva de Sousaquinta-feira, 24 de junho de 2010
Vinicius de Moraes: A Morte
O poema A Morte de Vinicius de Moraes pode ser visto como a chave que nos permite aceder ao lugar donde fala toda a sua poesia: descobrir esse lugar é entrar pela porta principal na lusofonia. O que é a lusofonia?: eis a questão que os utentes da língua portuguesa evitam colocar e procurar dar-lhe cooperativamente uma resposta. Os utentes da língua portuguesa matam a morte por medo da vida: matar a morte por medo da vida define o comportamento destes homens fratricidas que falam a língua portuguesa. O poema de Vinicius de Moraes não fala da morte esperada que vem de longe para os "meus olhos" - a minha morte - e para os "teus olhos" - a tua morte - ou mesmo para os olhos do outro - a morte do outro, mas sim da morte da própria morte: o acto desesperado dos homens que temem a vida, a vida da lusofonia. Eis o poema:terça-feira, 22 de junho de 2010
Prós e Contras: Visões do Futuro
Prós e Contras debateu hoje (21 de Junho) o futuro da Europa e de Portugal. Mário Soares, António Vitorino, Ângelo Correia e Boaventura Sousa Santos protagonizaram visões diferentes neste debate moderado por Fátima Campos Ferreira, mas partilharam o mesmo desígnio: esclarecer os portugueses e travar a grande batalha do futuro de Portugal no seio de uma Europa refundada. Fátima Campos Ferreira colocou duas questões: O que vai acontecer à Europa?, O que vai acontecer a Portugal?. Estas duas questões estão intimamente ligadas entre si, porque nenhum dos participantes concebe o futuro de Portugal fora do quadro da União Europeia. Como disse António Vitorino, o ponto de equilíbrio só pode ser alcançado ao nível europeu: quer dizer que não há soluções nacionais para a crise profunda em que vivemos, uma crise desencadeada pelo triunfo do neoliberalismo e do capitalismo financeiro. Engels captou a temporalidade predominante do capitalismo a partir da sua lógica da busca de lucros imediatos: a perspectiva da lucro imediato priva o capitalismo de uma visão de futuro. O capitalismo não tem futuro: a noção de eternidade - o eterno presente - que se instalou nas sociedades europeias com o triunfo do neoliberalismo mostra a aversão natural do capitalismo pelo futuro. A economia de mercado é incapaz de pensar o futuro novo ou mesmo de respeitar o passado e o seu legado, sacrificando-os no altar de um eterno presente autodestrutivo: a grande política é aquela que supera o imediatismo fatalista da economia e ousa sonhar o futuro novo. A Europa. A questão europeia não foi completamente consensual, não tanto por causa da visão de futuro para a Europa, mas sobretudo por causa do diagnóstico da própria crise europeia. Embora todos tenham reconhecido que a Europa está a atravessar uma crise profunda (Mário Soares), houve algumas divergências ou clivagens quanto às razões que conduziram a esta crise. Mário Soares denunciou o mau comportamento da Alemanha que, ao entrar tarde e ao decidir tarde, gerou a actual crise europeia. Boaventura Santos responsabilizou a Alemanha pela crise europeia, advogando que os países do sul não devem pagar as suas dívidas públicas. Mas esta solução não foi aceite por Ângelo Correia e António Vitorino. Para Ângelo Correia, ir buscar dinheiro ao estrangeiro, em especial à Alemanha, para consumir aquilo que não se produz internamente, não é solução. A Europa encontra-se no meio da ponte (Ângelo Correia): ou avança para o futuro novo ou recua para os nacionalismos bárbaros. A solução construtiva e produtiva só pode ser refundar a Europa (Ângelo Correia, Mário Soares): a união política da Europa é fundamental para a união económica e monetária. Porém, o desacordo surgiu quando os participantes foram confrontados com a questão dos agentes da mudança: a crise das lideranças europeias bloqueia o futuro. Como podemos sonhar e realizar o futuro novo com estas elites medíocres? Mário Soares acredita que vai haver gente para refundar a Europa: as lideranças fortes aparecem nos momentos de dificuldade, como testemunha a história recente, mas Boaventura Santos não acredita que as novas elites possam surgir no vazio. A história mostra que as elites surgem a partir de movimentos sociais. Ora, a Europa que foi construída sem a participação das pessoas (Ângelo Correia) adormeceu nestas últimas décadas, pensando que o Terceiro Mundo era lá fora (Boaventura Santos), quando na verdade ele está, neste mundo global - entregue à imprevisibilidade dos mercados financeiros, aqui mesmo na Europa, na medida em que o neoliberalismo procura destruir o nosso modelo social europeu. Ser europeísta é ser contra o controle dos mercados financeiros. Mário Soares defende o desaparecimento do capitalismo financeiro. A política não pode ser refém da economia e os políticos devem libertar-se da sua dependência da economia. Mas esta não é realmente a perspectiva de Mário Soares: ao negar que a política - isto é, a imaginação política - está efectivamente refém da economia, Mário Soares esquece que o neoliberalismo é precisamente a política refém da economia. A escolha entre ser um museu ou projectar um futuro novo - com base na ciência, na tecnologia e na cultura - proposta por Ângelo Correia está mais de acordo com o espírito que move a Esquerda genuína. A Europa que foi construída até aqui sem a participação dos cidadãos europeus deve ser refundada e reinventada escutando a voz da cidadania europeia silenciada pelos eurocratas. Portugal. Mário Soares recordou que, depois da descolonização, a Europa era o único destino para Portugal. A decisão de entrar na União Europeia e na zona Euro foi, portanto, uma decisão histórica de futuro: Somos um país europeu, estamos na Europa e queremos ser Europa, como disse António Vitorino. Mas, para garantir o nosso futuro europeu, precisamos resolver a nossa própria crise estrutural, agravada pela crise mundial, porque, como frisou Ângelo Correia, a nossa crise não foi inteiramente exportada do estrangeiro (Mário Soares). Portugal precisa elaborar uma visão de futuro: o ajustamento das contas públicas não é suficiente para nos livrar da crise e nos garantir um mundo melhor. Não há crescimento económico sem acesso ao crédito, o que acarreta o aumento galopante do nosso endividamento, mas como na actual situação este acesso vai ser cada vez mais difícil, torna-se necessário definir prioridades (António Vitorino), tendo como pano de fundo um acordo estratégico sobre o sentido geral do país que envolva todos os portugueses, governantes e governados. O optimismo militante de Mário Soares leva-o a negar algumas evidências: o facto de Portugal ser um país pequeno - em termos de território e em termos demográficos - e relativamente atrasado, sobretudo no plano cultural. Aquilo que Mário Soares diz que já somos é aquilo que pretendemos ser num futuro próximo: fazer do futuro almejado o já presente realizado é fechar as portas ao futuro novo. O optimismo de Mário Soares - lamento dizê-lo - cheira-me a conservadorismo - a apologia do instituído e a conservadorismo de legado próprio: o 25 de Abril só pode ser legitimamente nomeado para iluminar a acção que visa transformar qualitativamente a sociedade portuguesa, reinventando-a constantemente. Para alcançar o aumento da produtividade e das exportações e o fortalecimento do mercado interno (António Vitorino), precisamos reinventar a sociedade portuguesa, mudando de métodos e de comportamentos (Ângelo Correia). Só a reinvenção da sociedade portuguesa - a partir de um imaginário radical instituinte - pode garantir e fortalecer a nossa ancora na Europa e, ao mesmo tempo, alargar os nossos braços até às Américas - em especial ao Brasil e aos USA, à África - Angola e Moçambique, ou mesmo à Ásia - China. Descobrir mundo é o único meio que dispomos para influenciar a Europa: a nossa grandeza reside - e sempre residiu - no descobrimento do mundo: cultivar a lusofonia é uma prioridade portuguesa (Mário Soares). J Francisco Saraiva de Sousasexta-feira, 18 de junho de 2010
Os Toltecas e Tula

As grandes cidades clássicas do México - Xochilcalco, Monte Albin, El Tajin, Teotenango e, em especial, Teotihuacán cujo declínio começou no século VIII - foram pouco a pouco abandonadas entre os séculos IX e XI: os povos de língua náhuatl entram finalmente em cena, vindo a desempenhar um papel predominante na história do México. Oriundos do Norte, os toltecas fundaram a sua cidade - Tula - em 856 d.C.: os primeiros imigrantes toltecas, ainda bárbaros e pouco numerosos, aceitaram durante mais ou menos um século a hegemonia da classe sacerdotal originária de Teotihuacán e fiel à tradição teocrática da era clássica da história do México. Os relatos histórico-míticos do rei-sacerdote Quetzalcóatl - a Serpente Emplumada - fornecem alguma consistência a esta coexistência pacífica: além de falar uma língua diferente do náhuatl, o rei-sacerdote proibia os sacrifícios humanos, celebrava o culto do deus da chuva e era profundamente bom e virtuoso em todas as circunstâncias. Porém, a chegada de sucessivas vagas migratórias provenientes do norte acabou por romper este equilíbrio frágil: o ciclo épico de Tula relata uma série de conflitos, de guerras civis e de encantamentos, graças aos quais Tezcatlipoca conseguiu banir Quetzalcóatl em 999. O rei derrotado parte para o exílio em direcção ao misterioso "país negro e vermelho" - Tlillan Tlapallan, supostamente situado além do "mar divino", por trás do horizonte oriental. Os Templos Toltecas deixaram de ser santuários de dimensões reduzidas onde só entravam os sacerdotes e passaram a integrar amplas salas com colunatas onde os guerreiros se reuniam em torno do monarca: o rei, emanação da aristocracia militar privilegiada, detém, juntamente com a sua elite guerreira, os poderes que na era clássica pertenciam à classe sacerdotal. Do Planalto Central do México, a civilização tolteca irradiou-se para o oeste, até Michoacán, para o leste, até às costas do Golfo do México, e para o sudeste, até às montanhas de Oaxaca e o Yucatán.
A fase de expansão de Tula vai de 950 a 1150 d.C. e corresponde ao chamado horizonte mazapa - a cerâmica típica deste período: Tula era nesta altura uma grande cidade que cobria aproximadamente treze quilómetros quadrados. As escavações de Charnay e de Jorge Acosta, bem como o Projecto Tula da Universidade de Missouri, permitem identificar três centros cerimoniais principais: o centro mais antigo, conhecido como Tula Chico, um segundo centro chamado Plaza Charnay e o principal grupo de monumentos, a acrópole. A acrópole é formada por uma ampla praça central, flanqueada no lado este pela estrutura conhecida como Edifício C, no lado oeste pelo campo do jogo da bola, explorado por Eduardo Matos, e no lado norte pela pirâmide principal, o Templo de Quetzalcóatl, em cuja parte superior estão os famosos atlantes (ver imagem). A entrada do templo é marcada por uma grande colunata reconstruída por Acosta, e os atlantes que rematam a pirâmide sustentavam o tecto de vigas do templo: os atlantes representam o deus da Serpente Emplumada enquanto personificação de Vénus, a Estrela da Manhã, estando vestido de guerreiro e armado com o atlalt, que não é uma pistola de raios laser, trazida para Tula por um extraterrestre, como supõe Erich von Däniken, mas um mero lança-dardos ou flechas. O culto a Vénus como uma personalidade dual - as Estrelas da Manhã e da Tarde - desempenhou um papel fundamental na religião dos antigos mexicanos: Quetzalcóatl, como Estrela da Manhã, era um guerreiro que nos códices aparece com raios róseos e brancos sobre o corpo, que supostamente representavam os prisioneiros de guerra destinados ao sacrifício. Tal como foi adoptado pelos toltecas, Quetzalcóatl realiza actos de sacrifício humano, sendo algumas vezes representado a arrancar os olhos de um prisioneiro. Em Tula, Quetzalcóatl foi guerreiro e divindade tutelar de uma sociedade guerreira, tão ligada ao sacrifício como qualquer outro deus tolteca. As guerras travadas pelos soldados toltecas serviam para obter tributo e, ao mesmo tempo, cativos para os altares dos seus deuses: o muro de crânios de Tula sugere que o sacrifício fazia parte do processo de guerra e de conquista. Nas fachadas da grande pirâmide estão esculpidos frisos nos quais há procissões de jaguares alternadas com águias que mordiscam corações sangrentos, e, atrás do templo, encontra-se o Muro da Serpente (Coatelpantli), cujos relevos mostram uma série de serpentes a devorar corpos humanos inteiros, com os crânios fora da boca. Situado a norte da praça principal, encontra-se o Corral, cuja parte central redonda é dedicada à Serpente Emplumada: o seu pequeno altar tem um friso esculpido que mostra a procissão de guerreiros toltecas, abaixo da qual aparece a inevitável fileira de crânios. A cultura artística tolteca revela uma dedicação total à guerra e o Estado tolteca era motivado pela necessidade de impor tributo, em particular na forma de bens sumptuosos como o jade, as plumas e as peles de ocelote, para sustentar o rei e o seu palácio e enriquecer a elite militar. Em 1168, a cidade de Tula sucumbe às dissensões internas e à invasão de novos imigrantes provenientes do norte, entre os quais os astecas da longínqua Aztlán, acabando por ser saqueada e abandonada.
Sobre a civilização tolteca aconselho os seguintes livros:
Davies, Nigel (1977). The Toltecs: Until the Fall of Tula. Norman, Okl.: University of Oklahoma Press.
Davies, Nigel (1980). The Toltec Heritage: From the Fall of Tula to the Rise of Tenochtitlan. Norman, Okl.: University of Oklahoma Press.
Diehl, Richard A., org. (1974). Studies of Ancient Tollan: A Report of the University of Missouri Tula Archaelogical Project. Columbia, Missouri: University of Missouri Press.
Matos, Eduardo, org. (1974). Proyecto Tula, 2 vols. México: Instituto Nacional de Antropología e Historia.
Séjourné, Laurette (1962). El Universo de Quetzalcóatl. México: Fondo de Cultura Económica.
Thompson, Eric (1982). História y Religión de los Mayas. México: Siglo XXI.
J Francisco Saraiva de Sousa
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Teotihuacán: a Cidade dos Deuses
terça-feira, 15 de junho de 2010
Orientação Sexual e Dimensões do Pénis
Bogaert & Hershberger (1999) estudaram a associação entre orientação sexual e as dimensões do pénis numa amostra constituída por 5122 homens — 935 homossexuais e 4187 heterossexuais, que tinham sido entrevistados pelo Kinsey Institute for Research in Sex, Gender and Reproduction, de 1938 a 1963. As dimensões do pénis foram obtidas usando cinco medidas do comprimento e da circunferência do pénis do protocolo original de Kinsey. Em todas estas medidas, os homens homossexuais exibiram maiores dimensões penianas que os homens heterossexuais. As médias das cinco medidas nos homens homossexuais foram as seguintes: estimated erecte penis size (6,32), measured flaccid penis size (4,10), measured erect penis size (6,46), measured circumference of flaccid penis (3,84) e measured circumference of erect penis (4,95); nos homens heterossexuais, seguindo a mesma ordem, os valores das médias foram 5,99, 3,87, 6,14, 3,70 e 4,80 polegadas. Bogaert (1997), usando uma amostra de 6544 homens não-delinquentes, oriunda do Kinsey Institute e seguindo o protocolo Kinsey, examinou a assimetria genital, tendo verificado que a maioria dos homens relatou algum grau de assimetria lateral nos seus pénis flácidos e testículos. Assimetria menor foi relatada em relação aos pénis erectos. A assimetria ocorre tipicamente na direcção esquerda e este padrão-esquerdo não parece estar dependente do uso da mão direita ou da mão esquerda, embora fosse significativamente menos pronunciado nos canhotos. Ora, parece existir uma relação entre assimetria genital e assimetria cerebral funcional e alguns estudos sugerem que a assimetria genital poderá predizer padrões de desempenho cognitivo e cancros dos órgãos genitais e sexuais. Nos mamíferos, o tamanho das gónadas difere em tamanho, sendo a gónada direita tipicamente maior que a gonáda esquerda. Mittwoch & Mahadevaiah (1980) confirmaram esta diferença em fetos humanos, tanto nas gónadas masculinas (testículos) como nas gónadas femininas (ovários). Nos homens adultos, o testículo direito é, em média, maior que o testículo esquerdo. Graças à utilização do ultra-som, determinou-se o tamanho dos ovários em mulheres vivas: Mittwoch & Mahadevaiah observaram que, nos hermafroditas humanos, existe uma maior tendência para os ovários estarem do lado esquerdo e os testículos do lado direito. Esta descoberta sugere a possibilidade de existir um certo incremento funcional do ovário esquerdo e do testículo direito nas mulheres e nos homens normais, respectivamente. Ao contrário das expectativas, os dados recolhidos por Gerendai (1987) sugerem que cada gónada exerce uma influência neuronal sobre o hipotálamo ipsilateral do cérebro, provavelmente através do nervo vago: a gónada esquerda parece exercer uma influência maior sobre o hipotálamo esquerdo e a gónada direita sobre o hipotálamo direito. O hipotálamo exerce um controlo essencialmente ipsilateral sobre o sistema nervoso autónomo, responsável pela coordenação do funcionamento das glândulas mamárias. Infelizmente ainda não possuímos estudos que demonstrem estas diferenças em função da orientação sexual. Um Estudo Português. Os estudos contemporâneos sobre a homossexualidade masculina tendem a omitir as diferenças existentes entre os homens homossexuais, privilegiando as médias em detrimento das distribuições. No entanto, existem diferenças significativas entre os homens homossexuais, uma das quais diz respeito ao seu grau de efeminamento ou de atipicidade sexual: os próprios homens gay autoclassificam-se em dois grupos, o dos efeminados e o dos não-efeminados, associando-os a determinadas preferências sexuais. Em termos de comportamentos, os grupos de homossexuais efeminados partilham algumas características em comum: desvalorizam a masculinidade em si próprios e sobrevalorizam a masculinidade nos outros que encaram como parceiros sexuais ideais. Privados de modelos de comportamento positivos, os homossexuais efeminados interiorizam facilmente a definição social do maricas imposta pela ideologia heterosexista, da qual resulta a sua identificação com o padrão cultural de feminilidade e, consequentemente, a desvalorização da sua masculinidade, que se atenua à medida que se transita do maricas para o agrupado, passando pelo agitado e pelo enfastiado, respectivamente. No fundo, podemos definir o grupo dos homossexuais efeminados como o conjunto de indivíduos do sexo masculino que desvalorizam a masculinidade em si próprios e que a sobrevalorizam nos outros com quem desejam estabelecer contactos sexuais, ou então, o que vai dar ao mesmo, que valorizam a feminilidade em si próprios e que a desvalorizam nos seus potenciais parceiros sexuais. A desvalorização e a sobrevalorização da masculinidade, tal como é vivida pelos homossexuais efeminados, reflectem não só uma dependência em relação à ideologia heterosexista, como também constrangimentos genéticos e neuro-endócrinos: a sua preferência sexual pelo papel de receptor oral e anal e a desvalorização da sua própria masculinidade são sinais indubitáveis do seu efeminamento precoce, ou seja, da sua desmasculinização precoce. Ora, os homossexuais masculinos em geral e os efeminados em particular têm perfeita consciência da associação negativa entre atipicidade sexual e atractividade sexual. Com efeito, quanto maior for o grau de efeminamento ou de atipicidade sexual exibido pelos homossexuais maior será a probabilidade de serem marginalizados pela comunidade gay e, consequentemente, de fracassarem romanticamente, o que tem consequências negativas para sua saúde mental. Do mesmo modo, mas inversamente, os grupos de homossexuais masculinizados partilham alguns traços em comum: valorizam a masculinidade em si próprios e nos outros. Embora todos tenham interiorizado de algum modo o padrão de masculinidade instituído pela sociedade heterosexista, essa interiorização fortalece-se e reforça-se à medida que se passa do emergente ao hipermasculino, passando pelo normalizado e pelo encoberto, respectivamente. Podemos definir o grupo dos homossexuais masculinizados como o conjunto dos indivíduos do sexo masculino que valorizam a masculinidade em si próprios e nos outros, ou, o que vai dar ao mesmo, que desvalorizam a feminilidade em si próprios e nos outros. A valorização da masculinidade em si próprios e nos outros, tal como é vivida pelos homossexuais masculinizados, implica a rejeição natural do estereótipo social do maricas e a afirmação da sua condição masculina, que se manifesta de modo plural na criação de novas masculinidades, algumas mais masculinas do que as exibidas pelos homens heterossexuais. Como demonstra a análise dos anúncios íntimos, a maior parte dos homens homossexuais tende a «medir» e a «avaliar» a masculinidade e a atractividade dos seus potenciais parceiros sexuais em função do tamanho do pénis ou da avaliação que fazem do seu «papo»: um homem é assim tanto mais masculino e atractivo quanto maiores forem as dimensões reais ou aparentes do seu pénis. Ora, dado que desvalorizam a sua própria masculinidade, os homossexuais efeminados tendem a encobrir, de diversos modos, os seus órgãos genitais, como se não quisessem ser dotados de órgãos genitais masculinos. Alguns chegam ao ponto de, numa relação sexual, não querer mostrar ao seu parceiro sexual os seus órgãos genitais, com excepção do ânus. Geralmente, os homossexuais efeminados «não fazem uso do seu pénis», pelo menos nas relações sexuais que estabelecem com os seus parceiros ocasionais, provavelmente porque não se orgulham do tamanho do seu pénis. Poderá o tamanho do pénis funcionar como um dos critérios que permite diferenciar as homossexualidades masculinas? A moderna ideologia gay destaca essa diferenciação interna em função do tamanho do pénis: os homens gay estão convencidos de que os mais masculinizados têm pénis maiores que os efeminados, apesar da existência de algumas excepções. Esta classificação gay foi confirmada parcialmente pelo estudo de A. Bogaert & S. Hershberger (1993): os homens homossexuais têm, em média, pénis maiores que os homens heterossexuais. Esta diferença é atribuída às variações dos níveis hormonais pré-natais, ou a outro mecanismo biológico capaz de afectar as estruturas reprodutivas e, por conseguinte, o desenvolvimento da orientação sexual. Porém, estes resultados só levam em conta a orientação sexual: as médias eclipsam as distribuições e, sobretudo, as variações internas que podem estar relacionadas com outros traços ou marcadores comportamentais. Com base unicamente nos dados recolhidos durante a minha pesquisa de terreno, posso afirmar com segurança que os homossexuais masculinizados são os únicos homossexuais que executam exibições fálicas e, na maior parte dessas exibições, o falo exibido é de grandes dimensões. Este é um traço comportamental tipicamente masculino que os homossexuais activos partilham com os homens heterossexuais, como observei no decorrer da pesquisa interactiva sobre cibersexo: exibicionismo, voyeurismo, papel activo desempenhado na corte e tendência a desempenhar o papel de introdutor oral e anal são traços típicos dos homossexuais masculinizados. Estas diferenças observadas entre os homens gay podem reflectir diferenças biológicas - genéticas e/ou neuro-hormonais, sem no entanto eclipsar a atracção sexual: todos os homens gay valorizam pénis grandes: «Gostar de pénis» é, como eles próprios o reconhecem, sinónimo de «ser homossexual». A diferença que se constata entre eles, é que uns desvalorizam essa virilidade em si próprios, sobrevalorizando-a nos seus potenciais parceiros sexuais, enquanto outros a valorizam tanto em si próprios como nos seus companheiros sexuais, mesmos que estes apresentem outros comportamentos efeminados. Com base nas classificações emic, coloca-se a questão de saber qual a associação existente entre o tamanho do pénis e a orientação sexual masculina. Esta questão foi sempre removida do meu horizonte de pesquisa sistemática dos comportamentos, dado que todos os homens homossexuais, independentemente do tipo a que pertencem, valorizam muito os pénis grandes, como se as grandes dimensões do pénis acrescentassem uma mais-valia erótica à masculinidade ou à virilidade dos seus portadores. O Professor Doutor Marini de Abreu tinha-me sugerido a medição dos pénis dos indivíduos homossexuais, na expectativa destes serem menores que os pénis dos homens heterossexuais, mas, na altura, esse estudo não foi realizado. Como vimos, os homens homossexuais efeminados, sobretudo os hiperefeminados, valorizam mais os pénis grandes dos seus potenciais parceiros sexuais que os seus próprios pénis, ao passo que os homens homossexuais masculinizados, sobretudo os hipermasculinos, valorizam sobretudo os seus próprios pénis grandes e, em menor grau, os dos seus parceiros sexuais, alegando que os homossexuais efeminados pensam de maneira diversa porque têm geralmente pénis pequenos. Apesar destas indicações reais, a questão não me parecia tão clara como os outros suponham, por várias razões: primeiro, porque existem homossexuais efeminados que possuem pénis de grandes dimensões, embora tendam a ter pénis menores do que os homossexuais hipermasculinizados; segundo, porque existem homossexuais hipermasculinizados que possuem pénis de tamanho médio ou mesmo de modestas dimensões, embora tendam a ter pénis maiores e mais potentes sexualmente do que os homossexuais efeminados; e terceiro, porque existem entre os machos heterossexuais pénis de pequenas, médias e grandes dimensões, embora tendam a ter pénis menores que os machos homossexuais. Sempre pensei que estas razões fossem suficientes para remover a questão até ao momento em que, durante a pesquisa interactiva, prolongada até 2007, fui novamente confrontado com este problema. Os homossexuais passivos, sobretudo os «menos discretos», claramente efeminados, além de assumirem desde logo a sua passividade «a 100%» e de dizer que queriam «ser possuídos» naquele preciso momento, perguntavam sempre pelo tamanho do pénis do seu «amigo virtual», mas, quando a questão lhes era devolvida, respondiam simplesmente, quando não desligavam a «janela»: «O que interessa isso...». Eles agem como se não tivessem pénis. Conversando com os seus parceiros, fiquei a saber que a maior parte deles pratica sexo oral noutros, muitas vezes sem se despirem ou mostrarem o pénis. Além disso, muitos deles, nas suas estratégias de sedução, dizem estar «fartos de ser usados como objectos sexuais», mais outro modo elegante de dizer que são exclusivamente passivos e «atraentes» (auto-imagem ilusória). Perante estas observações, bem como da evidência empírica acumulada, nomeadamente fotográfica, tornava-se cada vez mais evidente que os homens homossexuais efeminados, sobretudo os hiperefeminados, têm pénis menores e, sobretudo, erecções menos potentes que os homens homossexuais masculinizados. Com efeito, em termos de auto-apresentação, os homossexuais efeminados, em particular quando são exclusivamente passivos, ignoram o seu próprio pénis, como se o não tivessem ou o rejeitassem, mas valorizam muitíssimo o tamanho do pénis dos seus potenciais parceiros sexuais. A sua «passividade a 100%», aliada a este facto — o tabu do próprio pénis, revela claramente que eles não têm uma identidade de género masculino tipicamente estruturada: o seu cérebro feminizado está, por assim dizer, prisioneiro num corpo dotado de um pénis. Pelo contrário, os homossexuais masculinizados e hipermasculinizados valorizam as dimensões dos seus próprios pénis — o orgulho do próprio pénis. Mas, apesar de todos valorizarem o tamanho do pénis, há uma outra diferença significativa entre eles: os homossexuais efeminados têm, em média, pénis menores que os homossexuais masculinizados e este marcador somático diferencia-os claramente entre si, como se o tamanho do pénis estivesse associado ao tipo de homossexualidade masculina exibida. Pelo menos, esta diferença parece corroborar a hipótese segundo a qual determinados homossexuais masculinos exibem atributos hipermasculinos, em particular pénis grandes, hipersexualidade, voyeurismo, exibicionismo, propensão sádica e agressividade sexual, frequentemente envolvendo violência doméstica, devido aos efeitos organizacionais da hiperandrogenização pré-natal. Muitos destes homossexuais com atributos hipermasculinos dizem ter tomado consciência da sua orientação homossexual, geralmente no decorrer da adolescência, quando verificaram que o que os estimulava sexual e eroticamente, ao verem um homem nu, a urinar ou em acção num filme pornográfico heterossexual, era precisamente o tamanho do pénis e/ou o tamanho do seu próprio pénis: uma homossexualidade estruturada, portanto, a partir do pénis e das suas dimensões, não só do pénis dos outros, mas também dos seus próprios pénis. Estes homossexuais orgulham-se muito do tamanho grande dos seus próprios pénis. À falta de melhor termo, designarei esse traço narcisismo fálico. De facto, eles estão apaixonados pelo seu próprio pénis: a sua auto-imagem e a sua auto-confiança passam necessariamente pela sua potência sexual — morfológica e funcional. Muitos destes homossexuais desejam secretamente ser penetrados analmente e, se isso não acontece mais frequentemente, não é por falta de oportunidades, mas porque o seu narcisismo fálico os impele, numa relação sexual, a exibir e a impressionar os seus parceiros sexuais com o seu falo: preferem ser «mamados», porque apreciam a sensação de ver os outros hipnotizados com o seu pénis, e/ou penetrar, podendo essa penetração anal ser vista por eles como dominação sexual sobre o parceiro e, nalguns casos, como castigo. Se ser dotado de um pénis grande é (ou não) responsável, pelo menos em parte, pela orientação homossexual, não se sabe, mas ele pode, só por si, levar à experiência homossexual. Os ambientalistas alegam que o facto de, em certas culturas, o introdutor não ser considerado homossexual revela que a homossexualidade não tem nada a ver com a biologia: ela seria aprendida e/ou construída socialmente. Ora, este facto - o "macho" que faz sexo com outros homens para confirmar a sua virilidade - revela apenas que esses «pretensos machos» são propensos a ter relações homossexuais. Mas o facto de homens com um pénis hipermasculino serem homossexuais não é um facto social mas biológico. Não é por mero acaso que, no mundo heterossexual, se fale mais em «tomates» que em «vergas». Quando querem reforçar a masculinidade de alguém, os homens heterossexuais dizem: «Ele é um homem de tomates», enquanto os homens homossexuais preferem dizer: «Ele tem uma verga boa». Convictos do seu privilégio heterossexual, os homens heterossexuais raramente conversam sobre o tamanho do (seu) pénis: em relação às mulheres, o seu pénis é sempre «o melhor» até «porque até agora nunca ninguém se queixou dele»; em relação aos homens, a omissão é quase total, a menos que o pénis seja efectivamente grande, razão suficiente para a sua exibição. A obsessão pelo pénis grande que se observa actualmente na sociedade é efeito da homossexualização da vida sexual e social, assim como da moderna ideologia gay. Estudo 1. Num estudo exploratório que realizámos, utilizando a ANOVA e levando em conta apenas o comprimento do pénis erecto, verificámos que o valor absoluto da diferença entre homens bissexuais e homens homossexuais (2,5) era maior do que o valor da respectiva DMS (2,06), donde resulta que, em média, o comprimento do pénis erecto dos homens homossexuais é maior que o dos homens bissexuais. Comparando o grupo dos homens homossexuais com o dos homens heterossexuais, o valor absoluto da diferença entre estes dois grupos (2,45) era maior que o valor da respectiva DMS (2,06), donde resulta que, em média, o comprimento do pénis erecto dos homens homossexuais é maior que o dos homens heterossexuais. Finalmente, comparando entre si os grupos de homens heterossexuais e bissexuais, o valor absoluto da diferença entre os dois grupos (0,05) era menor que o valor da respectiva DMS (2,38), donde resulta não haver diferença significativa entre os homens heterossexuais e bissexuais. O comprimento do pénis erecto dos homens homossexuais (20,35) é maior, em média, que o dos homens heterossexuais (17,9) e bissexuais (17,85) e o coeficiente de determinação (0,35) revela que a diferença entre as médias dos três grupos explica 35% da variação total. Estudo 2. Outro estudo relacionado com este tinha por objectivo verificar se a preferência pelo papel sexual - activo, versátil e passivo - estava relacionada com a referência ao tamanho do pénis. Assim, constituímos uma amostra composta por 119 anúncios íntimos publicados numa revista homossexual portuguesa. Desses anúncios dois eram de casais homossexuais, mas, como fornecem informação sobre cada um dos membros do par, contam como quatro sujeitos. A análise estatística efectuada, com aplicação do qui-quadrado, mostra claramente que os homens homossexuais que se autodefinem como sexualmente activos referem mais prontamente o tamanho do seu pénis erecto do que os homens homossexuais autointitulados passivos que geralmente omitem essa informação pessoal. Estes dados foram submetidos a uma elaboração estatística mais apurada. Assim, para prever a referência ao tamanho do pénis, sem levar em conta a preferência sexual, a melhor previsão é «não» (95), cometendo 24 erros. Levando em consideração a preferência sexual, para os autointitulados activos, a previsão é 19, com 17 erros; para os autonomeados passivos, a previsão é 57, com 3 erros; e, para os autodefinidos versáteis, a previsão é 21, com 2 erros. Em conjunto, cometeríamos 22 erros, tomando a preferência sexual como base (RPE = 8,33%). Para prever a preferência sexual, sem levar em conta o tamanho do pénis, a previsão é 60, cometendo 59 erros. Levando em consideração a referência ao tamanho do pénis, para o «sim», a previsão é 19, com 5 erros; e para o «não», a previsão é 57, com 38 erros. Em conjunto, cometeríamos 43 erros, tomando o tamanho do pénis como base. Utilizámos depois o coeficiente lambda para reduzir o erro de predição. Para testar o grau de associação entre a preferência sexual (variável independente) e a referência ao tamanho do pénis (variável dependente), obtivemos o valor lambda de 8,33%. Ao testar o grau de associação entre a referência ao tamanho do pénis (variável independente) e a preferência sexual (variável dependente), obtivemos o valor lambda de 27,12%. Assim, quando a preferência sexual é considerada como a variável independente, reduzimos em 8,33% o erro da predição, aumentando a sua precisão. Usando a referência ao tamanho do pénis como variável independente, reduzimos em 27,12% o erro da previsão, aumentando a sua precisão. Assim, a referência ao tamanho do pénis prediz com maior precisão (27,12%) o papel sexual preferido do que o papel sexual preferido prediz a referência ao tamanho do pénis (8,33%). Ou, em termos mais simples, os homens homossexuais dotados de pénis de grandes dimensões são preferencialmente activos e exibem mais facilmente os seus pénis flácidos ou erectos. Ora, todas estas indicações sugerem não só uma dicotomia entre dois tipos básicos de homens homossexuais - os efeminados e os masculinizados, como também uma outra diferenciação no seio de cada um destes tipos básicos. Entre os homossexuais efeminados, os tipos maricas e agitado são claramente hiperefeminados, enquanto os tipos enfastiado e agrupado são subefeminados: o grau de efeminamento decresce à medida que se transita de um tipo para outro, seguindo a ordem maricas, agitado, enfastiado e agrupado. Entre os homossexuais masculinizados, o grau de masculinização varia entre os simplesmente masculinos e os hipermasculinos, sendo difícil identificar completamente qualquer um dos subtipos com cada um destes pólos. A existência destas homossexualidades masculinas apontam para mecanismos biológicos diferenciados, embora possam estar relacionados de algum modo ainda por descobrir. Assim, em função deste enquadramento das homossexualidades, podemos agrupar os oito tipos de homens homossexuais em função dos «padrões básicos de desenvolvimento»: o padrão sexualmente atípico e o padrão sexualmente típico, cada um dos quais dotado de dois pólos. O padrão atípico de desenvolvimento compreende dois pólos: o hiperefeminado, no qual incluímos os homossexuais-maricas e os homossexuais-agitados, e o hipoefeminado, no qual incluímos os homossexuais-enfastiados e os homossexuais-agrupados. O padrão típico de desenvolvimento compreende também dois pólos: o hipermasculinizado e o simplesmente masculinizado. O primeiro pólo, o da hipermasculinização, tende a abranger os indivíduos pertencentes aos tipos homossexuais-emergentes, homossexuais-normalizados, homossexuais-caricaturais, bem como alguns homossexuais-enfastiados e homossexuais-agrupados. O pólo da simples masculinização pode incluir alguns dos homens homossexuais dos tipos referidos anteriormente, sobretudo os homossexuais-encobertos. Deste modo, e destacando a valorização do tamanho do pénis, obtemos três categorias de homossexuais masculinos mais fáceis de detectar: a categoria dos hiperefeminados, dotados de pénis relativamente pequenos; a categoria dos simplesmente masculinizados, dotados de pénis normais; e a categoria dos hipermasculinizados, dotados de pénis de grandes dimensões. Estas categorias tendem a corresponder à classificação emic dos homens homossexuais em função do papel sexual preferido: passivo, versátil e activo. Uma tal classificação exige um reagrupamento diferente das homossexualidades masculinas: os padrões masculinos e femininos tendem a sobrepor-se numa determinada área, dentro da qual teríamos diversos tipos de homossexuais, cujo tamanho do pénis seria tendencialmente normal. Estas categorias são mais abrangentes e, associadas a outros critérios, podem ser mais operacionais. Se os homossexuais-maricas e agitados podem ser integrados com segurança na categoria dos hiperefeminados, o mesmo já não pode ser dito em relação às outras categorias. Na categoria dos simplesmente masculinizados, podemos integrar todos os outros homossexuais, com excepção daqueles que apresentam atributos hipermasculinos, os quais se integram claramente na categoria dos hipermasculinos. Isto significa que a categoria intermédia integra homossexuais que podem exibir diversos traços masculinos e femininos misturados ou cruzados. O facto mais interessante é a moderna ideologia gay ser uma criação dos homossexuais que se enquadram nas categorias dos simplesmente masculinos e dos hipermasculinos. Todos os homens homossexuais partilham apenas a orientação «same-sex», isto é, sentem-se sexual e eroticamente atraídos por outros homens e por estímulos eróticos masculinos, mas não partilham os mesmos comportamentos sexuais e outros traços relacionados com o género. Esta diferenciação interna garante a sua independência sexual: os homens homossexuais não precisam dos serviços prestados por machos supostamente heterossexuais, embora estes contribuam para a sua rotação sexual. Se os homossexuais hiperefeminados têm um cérebro feminizado e, consequentemente, comportamentos sexuais atípicos e os homossexuais hipermasculinos, um cérebro hipermasculino e, por conseguinte, comportamentos hipermasculinos, então os homossexuais da categoria intermédia poderiam conjugar, em proporções variáveis, comportamentos masculinos e femininos. Ora, se a masculinização do cérebro humano e dos comportamentos adultos depende dos níveis de testosterona pré-natal, os níveis baixos produziriam homossexuais hiperefeminados, os níveis normais, homossexuais simplesmente masculinos, e os níveis elevados, homossexuais hipermasculinos. Rohde, Stahl & Dörner (1977) descobriram que os níveis de testosterona livre são mais baixos nos homossexuais efeminados, bem como nos transexuais macho-para-fêmea, do que nos homossexuais não-efeminados. Portanto, é altamente provável que a diferenciação inter-homossexual se deva ao papel organizacional desempenhado pelas hormonas sexuais no desenvolvimento pré-natal. J Francisco Saraiva de Sousadomingo, 13 de junho de 2010
Civilização Olmeca
Na segunda metade do II milénio antes da nossa era, surgiram na Mesoamérica os primeiros centros cerimoniais, principalmente em La Venta e San Lorenzo, nos actuais Estados de Tabasco e Veracruz, adornados com pirâmides e palácios construídos em redor de praças cobertas com mosaicos: o povo misterioso que transformou a estrutura social do México vivia na região costeira do Golfo do México. Nesta terra quente e húmida abundava a borracha, razão pela qual os seus habitantes foram chamados "olmecas", que significa "povo da borracha" - "povo del bule" - em náhuatl, a língua dos astecas. Antes do seu desaparecimento em 400 a.C., os olmecas já tinham difundido a sua cultura por uma extensa área da Mesoamérica, desde o vale do Balsas até El Salvador e a Costa Rica, do litoral do golfo até às montanhas de Oaxaca e ao litoral do Pacífico. Pirâmides e altares, estelas esculpidas, baixo-relevos, jades e jadeístas cinzelados e, sobretudo, a escrita hieroglífica e a contagem do tempo: eis os traços essenciais que os olmecas legaram a todas as grandes civilizações do período clássico do México. A descoberta desta primeira civilização não foi um triunfo repentino da arqueologia: o significado dos primeiros vestígios da civilização olmeca permaneceu durante muito tempo sem ser compreendido. Em 1840, John Lloyd Stephens - um explorador norte-americano - descobriu e descreveu os maias da selva do Petén guatemalteco e da Península de Yucatán no México. Os especialistas e o público inteligente convenceram-se - durante um século - que os maias tinham sido os fundadores da civilização mexicana. Vinte anos depois de Stephens ter publicado a sua magnum opus sobre os maias, José María Melgar descobriu em 1862 a primeira cabeça colossal de pedra olmeca que pesava aproximadamente vinte toneladas: as feições negróides dessa cabeça não tinham nenhuma relação com qualquer objecto maia conhecido, mas, em vez de identificar uma nova cultura, Melgar procurou dar apoio às teorias sobre os navegadores negros que tinham supostamente visitado a América. A revelação da cultura olmeca foi adiada - ou melhor, esquecida - até que, em 1905, Eduard Seler - um estudioso alemão - sugeriu que essa cabeça era produto de uma cultura mais universal cuja área de influência não se limitava ao litoral da costa do Golfo. Os novos objectos olmecas descobertos durante esse período não geraram muitos comentários entre os especialistas. Franz Blom - antropólogo dinamarquês - e o jovem norte-americano Oliver La Farge descobriram em 1925 La Venta, o sítio arqueológico olmeca mais importante, juntamente com Tres Zapotes e San Lorenzo, donde desenterraram uma segunda cabeça e onde descobriram o grande altar de pedra - o Altar 4 -, mas a obsessão maia que lhes impregnava a mente impediu-os de identificar uma nova cultura anterior à civilização maia. Marshall H. Saville - director do Museum of the American Indian de New York - foi o único que abordou, num estudo publicado em 1929, estas novas descobertas como parte de uma nova cultura a que deu o nome de "olmeca". A cultura olmeca adquiriu uma nova dimensão universal - não confinada à quente e húmida costa do sul de Veracruz - quando George Vaillant - conservador do American Museum of Natural History de New York - descobriu em 1928 uma pequena orelheira de jade com a figura de uma besta agachada, metade homem e metade jaguar, que recordava exactamente o que Blom tinha achado em La Venta: as formas artísticas olmecas estavam imbuídas pelo culto ao jaguar. A descoberta de relevos de tipo olmeca em Chalcatzingo, no Estado de Morelos, confirmou logo a seguir a natureza panmexicana da misteriosa nova cultura que os especialistas procuravam ignorar. Matthew W. Stirling - arqueólogo - desempenhou nos estudos olmecas o mesmo papel que Stephens tinha desempenhado em relação aos maias um século antes. Em 1939, Stirling descobriu na base do montículo maior de Tres Zapotes uma estela - a estela C - com uma fileira vertical de números de barras e pontos, que aparentemente registava uma data mediante o método utilizado pelos maias. No lado oposto da pedra havia uma máscara de jaguar muito estilizada, tipicamente olmeca: Stirling descobriu que os números da pedra registavam uma data 260 anos anterior à mais antiga data esculpida em qualquer monumento de um sítio maia. Escolas de pensamento opostas discutiram o problema colocado pelas descobertas de Stirling: a causa olmeca foi defendida por dois mexicanos, Alfonso Caso e Miguel Covarrubias. Em 1942, a Sociedad Mexicana de Antropología realizou uma mesa redonda para discutir a prioridade histórica da cultura olmeca em relação à cultura maia. Embora os especialistas estivessem dispostos a aceitar que os olmecas eram, na realidade, a primeira civilização do México, Eric S. Thompson defendeu energicamente o seu povo preferido - os maias, tendo conseguido com a sua argumentação hábil e erudita fazer recuar Stirling. Porém, em 1957, o laboratório da Universidade de Michigan confirmou a maior antiguidade dos olmecas: o carbono 14 mostrou que as datas para La Venta iam de 800 a 400 a.C. A cultura olmeca acabou por triunfar e impor-se a toda a comunidade científica graças à utilização da técnica de radiocarbono. Sobre a civilização olmeca - a primeira grande civilização da Mesoamérica - aconselho os seguintes livros: Bernal, Ignacio (1968). El Mundo Olmeca. México: Ed. Porrúa.sexta-feira, 11 de junho de 2010
Civilização Asteca: Uma Cronologia
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Humanismo Quetzalcoatliano
A Serpente Emplumada - tradução literal de quetzal (pássaro) e cóatl (serpente) - é, pela sua singularidade e profusão, o símbolo das antigas culturas mesoamericanas. Em 1345, os astecas fundaram Tenochtitlán: o seu guia espiritual era a mensagem humanista de Quetzalcóatl, o grande profeta americano, ou melhor, o primeiro homem que se converteu em deus - não é um deus encarnado - para ajudar os seus semelhantes a orientar a sua existência na direcção do aperfeiçoamento espiritual e moral num mundo instável e entrópico. O pensamento náhuatl observa a ordem objectiva a partir da sua materialidade, sem se deixar aprisionar pela inércia aparente dessa ordem material: o homem pode libertar-se das ligações naturais que o aprisionam aos seus limites mortais, mediante o desenvolvimento da faculdade da reflexão. A Filosofia de Quetzalcóatl foi reconstruída e analisada de modo brilhante por Laurette Séjourné: os astecas adoptaram os ensinamentos de Quetzalcóatl como base moral da sua sociedade, mas usaram as suas leis de aperfeiçoamento interior para legitimar uma sangrenta razão de Estado: a união mística com a divindade, que o indivíduo só pode alcançar gradualmente mediante uma vida de contemplação e de penitência, passou a ser determinada pela maneira como se morre: o sacrifício humano, a transmissão da energia humana - o sangue - ao Sol. A revelação exaltante da Unidade eterna do espírito converteu-se em princípio de antropofagia cósmica: a libertação do eu diferenciado realiza-se assim por meio do assassinato ritual que fomenta as guerras.
Sobre a civilização asteca - a minha civilização pré-colombiana preferida - recomendo a leitura das seguintes obras:
Anawalt, Patricia (1981). Indian Clothing before Cortes: Mesoamerican Costumes from the Codices. Norman, Okl: University of Oklahoma Press.
Bray, Warwick (1968). Everyday Life of the Aztecs. New York: Putnam.
Brundage, Burr Cartwright (1972). A Rain of Darts. Austin, Texas: University of Texas Press.
Caso, Alfonso (1971). El Pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Económica.
Davies, Nigel (1974). The Aztecs. New York: Putnam.
Davies, Nigel (1980). The Toltec Heritage. Norman, Okl: University of Oklahoma Press.
Davies, Nigel (1982). The Ancient Kingdoms of Mexico. London: Penguin Books.
Duverger, Christian (1978). L'Esprit du Jeu chez les Aztèques. Paris: Mouton-EHESS.
Duverger, Christian (1979). La Fleur Létale: Économie du Sacrifice Aztèque. Paris: Éditions du Seuil.
Gibson, Charles (1964). The Aztecs under Spanish Rule. Stanford, California: Stanford University Press.
Hunt, Eva (1977). The Transformation of the Humming Bird. Ithaca, London: Cornell University Press.
Katz, Friedrich (1966). Situación Social y Económica de los Aztecas durante los Siglos XV y XVI. México: Universidad Nacional Autónoma de México.
León-Portilla, Miguel (1983). Toltecáyotl: Aspectos de la Cultura Náhuatl. México: Fondo de Cultura Económica.
Porter Weaver, Muriel (1972). The Aztecs, Maya and their Predecessors. New York: Seminar Press.
Ricard, R. (1933). La Conquête Spirituelle du Mexique. Paris: Institut d'Ethnologie.
Sanders, William T., Jeffrey R. Parsons & Robert S. Santley (1979). The Basin of Mexico: Ecological Processes in the Evolution of a Civilization. New York: Academic Press.
Séjouné, Laurette (1957, 1993). Pensamiento y Religión en el México Antiguo. México: Fondo de Cultura Económica.
Séjouné, Laurette (1959). Un Palacio en la Ciudad de los Dioses. México: Fondo de Cultura Económica.
Séjourné, Laurette (1962, 1993). El Universo de Quetzalcoatl. México: Fondo de Cultura Económica.
Simoni-Abbat, Mireille (1976,1988). Os Astecas. Porto: Vertente.
Soustelle, Jacques (1940). La Pensée Cosmologique des Anciens Mexicains. Paris: Hermann.
Soustelle, Jacques (1955, 1956). La Vida Cotidiana de los Aztecas en Vésperas de la Conquista. México: Fondo de Cultura Económica.
Soustelle, Jacques (1966). L'Art du Mexique Ancien. Paris: Arthaud.
Soustelle, Jacques (1967). Les Quatre Soleils. Paris: Plon.
Soustelle, Jacques (1970, 1983). Les Aztèques. Paris: PUF.
Sullivan, Thelma D. (1976). Compendio de la Gramática Náhuatl. México: Universidad Nacional Autónoma de México.
Vaillant, Georges (1951). Les Aztèques du Mexique. Paris: Payot.
J Francisco Saraiva de Sousa
terça-feira, 8 de junho de 2010
Jaime Cortesão e os Descobrimentos Portugueses
«A interpretação do passado, muito mais quando abrange um largo teatro e época de acção, supõe uma filosofia subjacente. A nosso ver, a história não obedece apenas a um determinismo geográfico e económico. Não ignoramos que a trama comum do passado é tecida pelo esforço dos homens, na luta quotidiana com a natureza e sob o acicate das necessidades primárias. Negar, porém, a parte das aspirações espirituais e da criação individual na história é reduzi-la a um arremedo inumano de ciência. /Sobre a talagarça da infra-estrutura económica, moldada por sua vez pelo meio geográfico, cujo estudo de conjunto historiador algum, digno do seu tempo, pode dispensar, as grandes correntes espirituais e as fortes personalidades que as encarnam, bordaram o íris das crenças religiosas, dos novos conceitos da ciência e da filosofia, das múltiplas expressões das artes, ou a marca das vontades poderosas, ao serviço dos interesses próprios ou gerais, tanto maiores e mais fecundos quanto mais o individual se fundiu com o colectivo. /Uma escola moderna, eivada de sentido geométrico, tem procurado resolver os problemas da história como se fossem teoremas, filtrando as suas averiguações através dum fino e complicado crivo de análises críticas, números, gráficos e estatísticas, abolindo as individualidades do seu relato e ignorando por sistema que todos os ideais participam da fé e toda a progressão humana representa um processo do espírito e uma conquista da liberdade. Por via de regra, os historiadores desse tipo afadigam-se no trabalho meritório de apuramento e discussão das fontes, mas esquecem-se de subordiná-las, como dizia Benedetto Croce, à fonte suprema, à autoridade da consciência humana, historicamente viva e activa. /Nessa escola de historiografia não enfileiramos. Acreditamos, sim, que os descobrimentos portugueses, se obedecem a factores geográficos e económicos - verdade indiscutível -, participam dum longo processo espiritual, que visa, tanto como o conhecimento científico do planeta e o seu enquadramento no Universo, a sagração religiosa da natureza e da vida, a humanização e a libertação das consciências - gesta dolorosa e épica cujas fontes e referências supremas são a História Trágico-Marítima e Os Lusíadas». (Jaime Cortesão) 

