quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vinicius de Moraes: A Morte

O poema A Morte de Vinicius de Moraes pode ser visto como a chave que nos permite aceder ao lugar donde fala toda a sua poesia: descobrir esse lugar é entrar pela porta principal na lusofonia. O que é a lusofonia?: eis a questão que os utentes da língua portuguesa evitam colocar e procurar dar-lhe cooperativamente uma resposta. Os utentes da língua portuguesa matam a morte por medo da vida: matar a morte por medo da vida define o comportamento destes homens fratricidas que falam a língua portuguesa. O poema de Vinicius de Moraes não fala da morte esperada que vem de longe para os "meus olhos" - a minha morte - e para os "teus olhos" - a tua morte - ou mesmo para os olhos do outro - a morte do outro, mas sim da morte da própria morte: o acto desesperado dos homens que temem a vida, a vida da lusofonia. Eis o poema:
«A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.» (Vinicius de Moraes)
J Francisco Saraiva de Sousa

19 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Este post é dedicado especialmente aos meus amigos brasileiros virtuais: o abraço fraterno do Porto para o Brasil. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, devem ter reparado que faço uma leitura peculiar de Vinicius de Moraes, que na minha perspectiva filosófica é a única verdadeira.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hummmm... medito vinicius de moraes: há uma ou outra figura que ainda não decifrei completamente.

Denise disse...

Olá Francisco!
Um BRAVO! por este apontamento!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Denise

O fb aliena muito e deixa-nos sem tempo: o blog é mais sério e profundo. :)

Denise disse...

Sim, o FB aglutina e não nos leva muito longe. Contudo, a minha acção na blogo exclui a família e maioria dos amigos pessoais. A minha página no FB é portanto, e como bem observaste, uma extensão gémea do RG. Mas com censura e, por isso, mais apresentável.
Viva a blogosfera!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, viva a blogosfera! O fb dá para publicitar o blog. :)

André LF disse...

Francisco, obrigado por dedicar este belo post aos amigos brasileiros.
Como já lhe disse, gosto imenso das suas análises poéticas.
Concordo com o que foi dito sobre o FB. Ele é uma fonte de dispersão de tempo e de sinapses.
Gosto mais das discussões que ocorrem no blog.

André LF disse...

Estou a preparar uma análise do poema "Dissolução", de Carlos Drummond de Andrade. Trata-se de um exercício de diletantismo :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

E depois partilhe a sua análise. :)

André LF disse...

Vou partilhá-la!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Então aguardamos.

O fb tem duas vias: ou é usado de modo mais privado - em circuito fechado - ou então é usado de modo aberto e público. Como sou democrata, optei pela abertura total: sou tribal e não tenho paciência para conversas privadas via chat. Além disso, ele ajuda a publicitar o blog e, neste momento, tenho mais amigos virtuais e reais.

E ando preguiçoso! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ao escrever este apontamento sobre Vinicius de Moraes, contive-me, porque iria ficar muito longo, dado a natureza das questões que coloco ao poeta - ou melhor, à sua poesia.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há em Vinicius um jogo complexo de imagens que urge pensar e elucidar em termos filosóficos. Elas estão neste pequeno poema, a partir do qual podemos acompanhar o seu movimento e as suas transformações ao longo de toda a sua poesia. Claro, negligencio as ligações românticas - sou tribal. :)

Wanderson Lima disse...

Gosto mais do primeiro Vinícus de Moraes, aquela que se debate com questões religiosas e existências. O Vinícius dos sonetos amorosos é um competente versejador, mas nunca um poeta profundo.

Saudações Brasileiras!

Wanderson Lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Denise disse...

E esse Andrade, hum, André?
:-)

André LF disse...

Estou a preparar a análise, Denise!
O problema são as atividades burocráticas que acabam roubando meu tempo :(

Discordo do colega brasileiro quando afirma que o "Vinicius dos sonetos amorosos é um competente versejador, mas nunca um poeta profundo". A meu ver, os sonetos amorosos de Vinicius, além de evidenciarem a sua maestria como versejador, são marcados por intuições e experiências amorosas profundas.

Fernando Vasconcelos disse...

Eu estou com o André no que diz respeito ao Vinicius, mesmo no amor (ou sobretudo no amor) ele é um poeta profundo. Muito mais do que parece à primeira vista em todo o caso. No resto Francisco este é um dos meus poemas preferidos embora nitidamente não o leia da forma que descreve ...