Porto: Casa do Roseiral |
Mais algumas ideias para a elaboração da Filosofia Médica:
1. Em Portugal, com os "filósofos" que temos, é impossível fazer o elogio da Filosofia: Eles mataram a Filosofia. Porém, a Filosofia atravessa um mau momento em todos os países ocidentais: as modas parisienses desgastaram a pesquisa filosófica e quebraram a continuidade da pesquisa fundamental. É preciso repensar a filosofia nas suas conexões com a ciência e a política: o mito positivista deve ser desinstitucionalizado. A Filosofia é conhecimento: esquecer isso é reduzir a filosofia a nada ou - o que é pior - a algo inofensivo. O Império da Opinião deve ser demolido e os seus portadores eliminados.
2. Os alemães têm produzido as melhores obras de Filosofia Médica. Hoje estive a ler algumas. Porém, o campo da Filosofia Médica é extremamente complicado. Sempre privilegiei a via que vai da patologia à fisiologia, mas neste momento vacilo: as teorias médicas disponíveis não captam a complexidade da biomedicina.
3. Steussloff & Gniostko (1968) escreveram uma obra monumental "A Imagem Marxista do Homem e Medicina", onde estabelecem como meta da medicina marxista o «homem social sadio». Ora, a medicina marxista é aqui pensada como antropologia. No entanto, acho ser possível questionar Marx sobre o problema do normal e do patológico: a minha intuição é que Marx concede prioridade ao patológico, até porque a sua "utopia social" é algo que ainda não foi realizado. Há portanto um repto marxista à abordagem de Comte.
4. De certo modo, Marx herda os problemas e as temáticas da medicina hipocrática e aprofunda-os. Ora, os princípios da medicina marxista permitem-nos detectar os erros das análises de Michel Foucault: o conceito de natureza não pode ser despachado. Direccionar o nosso olhar para a medicina permite-nos actualizar Marx. A Marxfobia é uma doença mental.
5. Só há um caminho para impedir a catástrofe: Usar a genética e a biomedicina para eliminar a maldade dos indivíduos de Direita.
6. O Jovem-Marx analisou conceitos-chave da Tradição da Medicina, em especial os conceitos de natureza e da relação do homem com outro homem que se comporta como "animal político". Deste modo, o seu Humanismo cristaliza-se a partir do Naturalismo.
7. Se a meta da medicina marxista é o homem social sadio, então podemos dizer que ela aprofunda a medicina hipocrática. A natureza pode eliminar o que torna a pessoa doente e restituir-lhe a saúde. Isto significa que a medicina grega é essencialmente formação do homem, é medicina antropoplástica, cuja arte terapêutica consiste no cuidado privado do corpo e num serviço público em prol da saúde denominado "politike". Com os novos progressos da medicina, é fácil recuperar estes conceitos gregos a partir da abordagem antropológica de Marx.
8. Ao esquecer a tradição marxista, a Esquerda europeia ficou sem orientação teórica e política. A Direita está a aproveitar essa amnésia da esquerda para destruir o Estado Social e o Serviço Nacional de Saúde. Marx continua a ser a luz que orienta as práticas políticas de esquerda; sem ele, não há política de esquerda.
9. Sou mesmo teimoso e não desisto facilmente das tarefas que me proponho: Pensar a biomedicina de modo a elaborar uma nova Filosofia Médica e uma Teoria Geral da Medicina. Passei todo o dia a estudar a evolução das ideias biológicas e médicas, na tentativa de descobrir um fio condutor. Porém, já ao fim da tarde, a minha mente foi caçada por uma ideia: a do desaparecimento do normal e do patológico ou, pelo menos, a emergência de uma abordagem plural. Quando passamos do macroscópio ao microscópio, torna-se oneroso classificar as doenças: a revolução do objecto e da óptica - a biologia molecular - faz desaparecer a nosologia. No entanto, suspeito que podemos actualizar a medicina hipocrática a partir desta revolução sem precedente.
10. A Clínica surgiu no século XVII, fazendo o termo referência ao leito onde o doente repousa. Ora, o desenvolvimento das teorias médicas nos finais do século XIX e no decorrer do século XX tornou desnecessária a clínica.
11. Ao longo da história, a medicina produziu mais mortes do que "curas". A sua amplitude contrastava com a sua fraca eficácia: muitas das pestes referidas pela história de Portugal foram crises de fome; as pessoas morriam de fome e não da peste. No entanto, nos conceitos da medicina hipocrática descobrimos ideias seminais que moldaram a evolução das ideias médicas.
12. Com a descoberta dos micróbios, o homem sentiu-se estranho num universo repleto de inimigos invisíveis. A bacteriologia levou à imunologia: a imunidade humoral é uma homenagem a Hipócrates.
13. "Abram os cadáveres": Esta palavra de ordem deu origem à anatomia e, posteriormente, à anatomia patológica. Logo aqui a medicina ocidental marca a diferença: a medicina chinesa é uma medicina sem anatomia. Porém, a dissecação dos cadáveres matou muitos "médicos" com a "picada anatómica". A ideia de infecção andava no ar, não podendo ser tematizada sem instrumentos.
14. O desenvolvimento da medicina foi bloqueado por diversas forças: a Igreja Católica tentou travar o uso dos cadáveres para a descrição anatómica e os "amigos dos animais" lutaram contra a experimentação animal sem a qual não haveria fisiologia. Porém, todos estes obstáculos foram superados e hoje todos beneficiam com o progresso da medicina. A história da anestesia pode ilustrar esta luta entre forças retrógradas e forças revolucionárias.
J Francisco Saraiva de Sousa
340 comentários:
1 – 200 de 340 Mais recente› Mais recente»Estive a ler um livro de Genética de um autor inglês que refere duas vezes Portugal, dando uma péssima imagem do país. Fiquei a saber que os portugueses trouxeram para casa os primeiros escravos de África em 1444 e com eles o gene da célula falciforme. Em Coruche a malária foi comum. Um século mais tarde o Algarve era povoado por africanos, com elevada proporção de indivíduos com um progenitor branco. Pensei no alentejano da Casa dos Segredos que, segundo a sua amiga, tem os testículos negros. De facto, o seu rosto é africano. Genética!
Hoje foi dia de aprofundar a biologia molecular do cancro. A complexidade dos cancros não permite pensar tratamentos eficazes: o melhor é prevenir o cancro.
Os cancros reflectem distúrbios das regras fundamentais do comportamento das células num organismo multicelular. O corpo humano é uma sociedade de células que se reproduzem por divisão celular e estão organizadas em conjuntos colaborativos (tecidos). No organismo sadio, a regra é o auto-sacrifício: as linhagens de células somáticas dedicam a sua existência para garantir a vida das células germinativas. Porém, quando uma única célula exibe comportamento egoísta, coloca em risco o futuro de todo o empreendimento celular colectivo: mutação, competição e selecção natural são os ingredientes básicos do cancro. O cancro é uma doença na qual células individuais mutantes iniciam a sua prosperidade em detrimento das células normais vizinhas: a célula cancerosa prolifera e destrói toda a sociedade celular, levando o organismo à morte.
Os cancros são classificados em função do tecido e do tipo de célula que lhes dão origem. Assim, por exemplo, os cancros que se originam de células epiteliais são chamados carcinomas; os que se originam de tecidos conjuntivos, musculares e vasculares são chamados sarcomas; e os que se originam de células hematopoéticas incluem diversas leucemias e linfomas. Há tumores benignos e tumores malignos: os cancros são tumores malignos, cujas células se reproduzem em detrimento das células normais e invadem e colonizam territórios reservados para outras células. Quando a proliferação cancerosa está fora de controle, origina-se um tumor ou neoplasma. As metástases são tumores secundários resultantes da invasão de outros tecidos via corrente sanguínea e linfática.
A genética do cancro parece ser simples mas na realidade é complexa: Envolve dos tipos de genes, os oncogenes (que derivam de proto-oncogenes) e os genes supressores do tumor. Os primeiros são dominantes e os segundos são recessivos. Os cancros do cólon ajudaram a clarificar a genética do cancro. Há duas variantes: APC e HNPCC, a segunda das quais é um cancro não-poliposo, também hereditário.
Geralmente, o risco de cancro aumenta com a idade, sendo o cancro uma doença associada ao envelhecimento. O homem é potencialmente um tumor ambulante. Porém, curiosamente, morre antes de ter desenvolvido o cancro: o período de incubação do cancro é longo; o coração mata-o antes do cancro.
Os cancros do cólon hereditários - familiares - dividem-se em duas categorias:
1. A Polipose Adenomatosa Hereditária (APC) é uma condição autossómica dominante na qual o colo é forrado com centenas de milhares de pólipos. Os adenomas não são malignos, mas se não forem removidos a tempo um ou mais deles podem evoluir para carcinoma invasivo. A condição foi alocada em 5q21 e o gene responsável - o gene APC - foi identificado.
2. O cancro do colo não-poliposo hereditário (HNPCC) também é autossómico dominante mas não é precedido da fase poliposa.
Os adenomas desenvolvem-se em carcinomas que fazem metástases e, nesta fase, é difícil tratar o cancro.
Saíram os 2 primeiros volumes de uma obra colectiva sobre a história contemporânea de Portugal - da Revolução Liberal a 2000. Tanto quanto entendi esta iniciativa visa desmistificar a história de Portugal tal como foi praticada durante o período do Estado Novo: Um elemento a reter é a revisão da escravatura e da colonização africana. A administração colonial portuguesa em África foi imposta nos anos 30 do século XX, tendo sofrido um impacto internacional negativo nos anos 50. Depois veio a guerra colonial até à independência das colónias africanas em 1975. O Império Africano é posterior ao Império Brasileiro. Mas o que choca é o atraso de Portugal-metrópole e a sua ruralidade, e o facto da abolição oficial da escravatura não ter tido logo efeitos práticos: o Brasil continuou durante muito tempo a "importar" escravos africanos.
No fundo, houve três impérios coloniais portugueses: o Império do Oriente, o Império Atlântico do Brasil e, por fim, o Império Africano. Porém, Portugal parece não ter beneficiado com os impérios, pelo menos em termos de riqueza e de desenvolvimento, como se o impulso português fosse uma fuga para fora da Europa - na direcção do Brasil e depois de África. Em sentido rigoroso, quase não podemos falar de Imperialismo Português, pelo menos no sentido leninista do termo.
Algo funciona mal em Portugal desde a sua origem: Ruralidade a analfabetismo são traços apontados frequentemente para explicar o atraso estrutural de Portugal. Mas a responsabilidade última cabe às classes dirigentes portuguesas que tudo fizeram para manter o povo analfabeto e pobre. A crítica do poder português ao longo dos séculos - a começar desde logo pelo centralismo régio e a cópula fatal poder político-Igreja Católica - é fundamental para iluminar o devir histórico de Portugal: os dirigentes portugueses são vigaristas e gatunas.
O funeral de Nelson Mandela foi um alívio mundial! Já não precisamos fingir que admiramos um homem que não merece o nosso respeito. O segredo é este: Morto - Esquecido!
Entre a morte anunciada e o funeral realizado de N. Mandela, estava de tal modo cansado da intoxicação da comunicação social que cheguei a pesquisar os grupos nazis americanos. Entre dois terrorismos, prefiro o nazi!
A crise financeira que resultou da I Guerra Mundial levou ao nazismo e ao fascismo. A crise financeira de 2008 está a preparar o terreno para uma ditadura mundial, com a cumplicidade dos "humanos" embrutecidos pelo consumo de alimentos e pela ociosidade gorda. Afinal, quando um sistema apodrece, surge uma época de ditadura. E, sem ditadura, o Ocidente já não vai longe. Que venha o nazismo! É-me indiferente!
São os povos - as massas - que derrubam a democracia: o que quer dizer que a democracia não é uma invenção popular. Platão sabia isso: a democracia conduz à ditadura. Como evitar uma ditadura totalitária? Inventando uma ditadura pedagógica capaz de revitalizar o sistema e a população. A purificação é essencial à saúde da civilização!
Desde que Obama matou uma mosca com a mão, fiquei a saber que não tinha perfil para ser Presidente dos Estados Unidos. Coitado... é muito, muito inadequado!
A estupidez humana não tem limites: As ditas criaturas humanas aplaudem tudo e todos ao mesmo tempo. Aplaudiram a obra de Karl Popper sobre os inimigos da sociedade aberta, portanto democrática, e agora aplaudem a sociedade fechada, portanto tribal, da África do Sul. Afinal, que respeito merecem estes caniços ditos humanos? Nenhum, como é evidente: o processo civilizacional exige um recuo estratégico para libertar o futuro da presença de humanos inconvenientes.
Já imaginaram o poder de uma epidemia de Ébola e de Peste Negra induzida pelo Ocidente no mundo bárbaro? Ora, esse cenário será o do futuro próximo. Chegou a hora do Apocalipse!
Enfim, falta saber se os neonazis americanos detêm o poder das armas biológicas. Entretanto, eles recebem treino militar, segundo dizem. E falta saber quem está por detrás da actual crise financeira? Haverá uma conspiração em marcha?
Hoje estive a ler uma obra de Luiz Costa Lima: a obra é interessante mas o "português" usado rouba clareza ao texto. Uma das lutas dos portugueses devia ser contra o Acordo Ortográfico, a morte da língua de Camões. Os intelectuais brasileiros não seduzem por causa da má escrita, infelizmente.
Sim, hoje, depois de estudar metodologia filosófica, resolvi revisitar a linguística por causa da estrutura de enunciação do texto filosófico. Ora, recorri à tradução "brasileira" de uma obra de Benveniste: a obra é legível mas por vezes usa uma terminologia extraterrestre. Enfim, fui obrigado a recorrer ao original para não me sentir perdido numa língua degradada.
Sempre fui contra as ciências da educação e contra o ramo pedagógico dos cursos. As obras de metodologia filosófica que tenho estado a ler apontam na direcção de uma teoria filosófica da Filosofia. Houve um tempo em que defendi uma teoria científica da Filosofia; abandonei essa ideia desgraçada, mesmo na forma de uma meta-filosofia. Estou cada vez mais filosófico e regressei à língua grega, a pátria da filosofia. Aliás, nunca sai verdadeiramente de lá...
Eu não consigo ler o português arcaico das Crónicas de Fernão Lopes ou do Leal Conselheiro de D. Duarte sem ficar aterrorizado: a génese da língua portuguesa escapa-me. Mas adoro a língua portuguesa tal como a usamos hoje pela sua dupla-origem: grega e latina. Ora, ela pode ser aperfeiçoada e aprofundada se for usada como instrumento do pensamento filosófico autónomo. O uso brasileiro da língua rouba-lhe a sua espessura filosófica e científica e o pensamento bloqueia.
Sem domínio das categorias da língua não há pensamento filosófico. As dez categorias de Aristóteles são categorias de língua: as seis primeiras são pronominais e as restantes quatro são verbais. Uma gramática na base da metafísica entendida como axiomática! O domínio da língua é fundamental para o pensamento: a neurobiologia das funções cognitivas está a cometer erros terríveis.
A palavra "civilização" surgiu no século XVIII: franceses e ingleses disputam a sua paternidade. Ora, como seria de esperar num país de idiotas como o nosso, suspeito que a palavra "civilização" só entrou na língua portuguesa no século XIX, onde a descubro em diversas obras. Porém, posso estar enganado e ela ter surgido mais cedo, talvez no século XVIII: a ideia fundamental encontra-se explicitada em obras anteriores ao século XVIII mas tanto quanto sei a palavra não é usada.
A descolonização em África significa recuo civilizacional: as potências coloniais europeias retiraram-se de África e as independências das colónias lançaram-nas no atraso económico e cultural, na pobreza extrema e no recuo para a fase tribal. A saída dos brancos deixou os africanos entregues ao obscurantismo tribal: Eles são as primeiras vítimas da descolonização.
Lendo algumas Histórias americanas fiquei espantado com tantos erros de análise histórica e tantas falsificações. Depois quando vi as fotografias dos seus autores fiquei esclarecido: escritores não-ocidentais falsificam a história da humanidade, fazendo dos seus grupos étnicos protagonistas de uma história que não é efectivamente a sua. Daí que hoje tenha regressado ao MILAGRE GREGO para repensar a originalidade da Civilização Ocidental na sua pureza racial.
O "politicamente correcto" é falsidade e desejo de falsificar!
O círculo e a flecha: eis as figuras que a Filosofia da História Ocidental deve articular. Vejo três ciclos nítidos no Ocidente: o Ciclo do génio grego que vai do racionalismo ao cepticismo, o Ciclo do génio cristão que heleniza o cristianismo e que termina no obscurantismo, e o Ciclo do génio moderno que começa no renascimento e parece terminar agora. Ora, cada um destes ciclos retoma e renova sempre a herança grega. Neste momento de impasse e de estupidez, é necessário retomar outra vez a herança grega, lembrando que a "filosofia" impõe limites à ciência.
Por que não admiro Mandela ou Gandhi? Porque quando olho para a África do Sul ou para a Índia de hoje não vejo mais-valia ôntica e ontológica. Afinal, que novidade filosófica e política universal podemos descobrir nos seus discursos e nas suas acções políticas? Leio Lenine e Che Guevara e aprendo; Leio Mandela e Gandhi e desaprendo! Os recuos civilizacionais são sempre maus caminhos.
O que podemos aprender com um chefe tribal africano? Ora, Mandela nunca rompeu com a sua tribo. Uma África do Sul tribal não é uma realidade política que mereça respeito. "Colocar like nas páginas de Nelson Mandela" não faz uma agenda política de esquerda. As pessoas ditas de esquerda são, no fundo, animais embrutecidos: o pensamento assusta-as.
O fracasso da Educação em Portugal revela-se na "Casa dos Segredos", cujos habitantes são analfabetos funcionais mais próximos das criaturas irracionais do que dos seres racionais. No mundo contemporâneo, a Escola é o espaço de reprodução da mentira oficial. As escolas podem ser abolidas e os animais humanos entregues à sua estupidez natural.
O espírito alemão fascina-me: os alemães conseguiram fazer a Filosofia que surgiu na Grécia falar alemão, cultivando a herança grega e aperfeiçoando a sua língua. Hoje deixei de lado os eruditos ingleses para me concentrar nos eruditos alemães: a Alemanha formou-se no diálogo com a herança grega que assimilou e a herança romana, no fundo uma mesma herança na génese da civilização ocidental.
O meu desprezo pelos portugueses aumenta de dia para dia: Um povo sem metafísica não merece viver em liberdade. Defendo o uso do chicote para disciplinar os portugueses no trabalho. Como dizia Hesíodo, quem não trabalha não merece comer. Ora, os portugueses não podem consumir o que não produzem: a escravatura deve ser o seu destino derradeiro.
Marx pensou o despotismo oriental (Montesquieu) como estagnação: a sua noção de modo de produção asiático explicita a sua teoria da estagnação asiática. Porém, paradoxalmente, o Partido Comunista Chinês abriu-se ao capitalismo, rompendo assim com a estagnação mas não com o despotismo. O mundo não-ocidental é despótico. Só há um caminho para travar essa lógica global despótica: O orgulho ocidental!
Estudar o espírito grego é percorrer de novo o longo caminho do mito ao logos, reanimando o espírito racional, livre e democrático da civilização ocidental. Ora, na presente hora de ofuscamento espiritual, o mundo parece estar a fazer o caminho contrário: do logos ao mito, cuja lógica totalitária ameaça o destino do homem no mundo. Se não for revitalizado contra o invasor, o espírito ocidental fecha o seu longo ciclo afundando-se no abismo.
Os eruditos alemães conquistaram o meu espírito, levando-me a mergulhar no mundo espiritual da Grécia Clássica: Ao som das palavras de Wilhelm Nestle, retomei o estudo aprofundado da literatura grega: A comédia de Aristófanes é reaccionária, a tragédia de Eurípides é revolucionária. A polémica entre antigos e modernos antes de ser francesa foi grega. Só um grande erudito apaixonado pelo espírito grego é capaz de refazer todo o seu itinerário intelectual. Porém, estou a aprender a olhar de modo diferente para a Sofistica. Aristófanes ataca tanto a sofistica como a filosofia. Devemos integrar a sofistica na história da filosofia: a teoria da origem da religião do sofista Critias é marxista e o projecto de cidade ideal de Fáleas é comunista. De facto, a ciência e a filosofia tal como a conhecemos são prolongamentos da sabedoria grega.
O meu espírito é habitado por uma tensão dialéctica: a meu lado racional leva-me a concordar com as teorias democráticas; o meu temperamento é cabalmente aristocrático. Ora, desta tensão dialéctica resulta um diálogo produtivo com as duas tendências filosóficas e políticas. Concordo com alguns democratas gregos e simpatizo com os aristocratas, livrando-me assim do utopismo irracional da actual esquerda delirante. Acho que estou cansado da esquerda: o meu princípio de igualdade é mais geométrico do que aritmético. A escravatura já não me incomoda porque há homens que nasceram para ser escravos.
Noutro dia, vi uma reportagem sobre a Escola Portuguesa no Maputo, Moçambique: um jovem indiano deseja ser Presidente da República, e o seu amigo português pretende ser o seu "segurança". A questão que coloco é a seguinte: Um indivíduo branco tem possibilidade de vir a ser Presidente de Moçambique ou de outro país africano? NÃO TEM... e todos sabemos isso!
Sendo mais claro: Como posso defender a causa africana na minha qualidade de branco? Em África, sou sempre um "colonizador a abater". Ora, como tenho orgulho da minha biologia, não me sinto em casa em qualquer canto africano. A estupidez tem limite e esse limite evidencia-se quando está em causa a nossa integridade física ou mesmo cultural.
Os aristocratas gregos ficaram chocados quando viram a ralé invadir o espaço público e a fazer "justiça popular" contra os grandes mestres da Grécia. Os processos religiosos por impiedade, em especial o de Sócrates, revoltam o núcleo aristocrático do meu ser. Odeio a ralé que conduz as nações à desgraça.
12 milhões de almas habitam clandestina e ilegalmente os USA. Algumas terão o privilégio de adquirir a nacionalidade americana depois de fazerem um longo exame, a seguir ao qual se segue o Juramento. Ora, no Juramente, é preciso dizer que não se é "comunista". Os americanos colocam no mesmo prato nazismo e comunismo, como se os USA fossem um paraíso terrestre. Mentalidade ridícula!
A teoria da origem africana da humanidade é uma mera conjectura que foi recentemente incomodada pela descoberta de fosseis "humanos" mais antigos do que os africanos. Porém, mesmo que fosse corroborada, ela não implica que sejamos todos negros ou que o homem remoto fosse negro. Simplesmente não sabemos explicar as raças humanas!
Acho que os meus posts de hoje não foram bem entendidos. O meu estudo sistemático do espírito grego - filosofia antiga - está a levar-me a reformular a minha área que é Filosofia Moderna e Contemporânea. A verdade é que eu me posiciono ao lado dos aristocratas gregos sem balancear para nenhum dos extremos: a moral dos senhores e a moral dos escravos, para usar as categorias de Nietzsche. Quando me tentam culpabilizar pelo facto de ser branco, reajo afirmando o orgulho que sinto por pertencer à única civilização que amo: o Ocidente. Sou ocidental e tenho orgulho nisso!
Enfim, estou grato a Deus por ter nascido europeu e por pertencer à Civilização Ocidental que me dá todos os instrumentos para pensar de um modo livre e autónomo. Amo o Ocidente, amo a Filosofia, amo a Ciência, amo a Política, amo a Arte. Sem o Ocidente não seria nada!
Oh, o raciocínio é simples: Eu nasci branco. Ninguém tem o direito de me impor outra raça porque, se eu dissesse que tinha orgulho em ser amarelo ou negro, além de estar a mentir, estaria a negar-me como branco que sou. Ora, ter orgulho na minha raça não proíbe que os outros tenham orgulho nas suas raças. Não precisamos ser iguais. Por isso, disse hoje que era aristocrata e sou.
Apaixonei-me pela célebre revelação de Sileno: O melhor é não ter nascido. Vejo nesta revelação a essência do pessimismo. Eurípides fez dois lindos versos sobre ela.
TEÓGNIS de Mégara (Séc. VI-V a.C.): «De tudo, o melhor para os homens é não ter nascido, nem ver o brilho do Sol ardente.
«Mas, se se nasceu, transpor o mais cedo possível as portas do Hades e jazer sob um monte de terra».
Recorri à tradução de Helena da Rocha Pereira por ser uma portuense ilustre, embora prefira a versão alemã.
Hoje desviei-me do caminho planeado para me concentrar sobre a mitologia grega e romana: Uma tarefa complicada dado não estar a trabalhar em língua portuguesa. A religião cívica dos gregos fascina-me. O meu impulso filosófico e científico sente essa atracção pelo passado heróico dos gregos. E tal como os pitagóricos e Platão sinto a atracção do Orfismo. Os eruditos alemães são excelentes professores: a minha alma fala grego e alemão.
Estou a ficar muito conservador em matéria de ensino e de política da educação: A reforma curricular deve ser de tal modo exigente que separe os bons dos maus alunos. O ensino obrigatório deve ser abolido e a disciplina deve ser reintroduzida nas escolas. Sou muito espartano em matéria de disciplina. Com esta separação o Ocidente deixa de estar dependente da mão-de-obra de estrangeiros. A Europa deve fechar-se em si mesma e renovar-se cabalmente, de modo a relançar a nossa civilização.
Na sua obra tardia "AS LEIS", Platão distancia-se muito do seu diálogo "Apologia de Sócrates": Sem romper com a recusa dos deuses tradicionais, Platão concede um lugar à religião na sua cidade-ideal. E propõe a punição máxima para os homens "sem Deus", isto é, os ateus. Como é evidente, não defendo esta concepção tardia de Platão, embora reconheça que a crítica radical da religião, em especial do cristianismo, esteja a minar os alicerces do Ocidente. Hoje vejo os ateus como criaturas pouco dignas de respeito: São assassinos culturais!
Estudando a minha genealogia, constatei que não transporto um único gene "mouro". Estrabão sabia que a Lusitânia não abrangia o Porto, e sobre o Douro escreveu: «o Douro, que vem de longe, corre ao longo de Numância e de muitas outras povoações de Celtiberos e dos Vaceiros; é navegável para grandes barcos, até cerca de oitocentos estádios».
Dado algumas pessoas quererem abolir a raça branca, vou tentar partilhar alguns conhecimentos de genética molecular e populacional, de modo a evitar a produção de disparates ideológicos. A minha onda era outra, mas sou forçado a desmistificar a ideologia da igualdade pardacenta.
Afinal, o que é a genética? Darwin nunca consegui explicar a variação genética e chegou a aceitar o mecanismo proposto por Lamarck. Mendel é que descobriu a explicação da variação quando cruzou ervilhas. Mas da genética mendeliana à genética molecular percorremos um longo caminho, mudando desde logo o animal de experimentação. A mosca, o rato e a bactéria seguiram-se às ervilhas. O que é a genética?
A chuva reteve-me em casa e estou fulo. A teoria biológica das raças humanas não implica o racismo, entendido como ideologia que visa legitimar e justificar o domínio de uma raça sobre outra ou outras raças. Ultrapassado este obstáculo ideológico, não podemos negar a existência de diversas raças humanas. As raças humanas existem e a sua delimitação não pode ser feita a partir de um único traço, como por exemplo a cor da pele. Além das diferenças morfológicas demasiado visíveis, há outras diferenças: fisiológicas, etológicas, enfim genéticas, para já não falar das adaptações ao meio.
Hoje revisitei a biologia da raciação - micro-evolução - em função da abordagem da genética populacional. E não tenho de alterar nada do que disse ontem em polémica com um amigo virtual. Acrescento apenas uma informação sobre a origem dos europeus modernos: Luca Cavalli-Sforza estudou 95 genes de populações europeias e do oeste da Ásia. Os resultados deste estudo sugerem que uma percentagem significativa dos alelos transportados pelos europeus modernos é derivada de um grupo de pessoas que originariamente viveram no Médio Oriente. Deste estudo resultou um mapa que mostra as frequências relativas dos alelos do Médio Oriente em locais geográficos diferentes da Europa. O mapa diz-nos que em algum momento no passado houve uma expansão gradual de uma população humana do Médio Oriente para a Europa. Alguns indivíduos dessa população reproduziram-se com os indígenas europeus, causando uma mistura gradual de alelos e uma diluição das características genéticas originais do Médio Oriente: Houve portanto uma diminuição gradual da frequência de alelos do Médio Oriente à medida que a população se movia mais para o norte e para oeste. De resto, a genética não permite datar este movimento populacional, cabendo à arqueologia elaborar algumas hipóteses: Uma delas é a de que a expansão populacional pode estar ligada à dispersão da agricultura na Europa. A agricultura surgiu no Médio Oriente há 10.000 anos e espalhou-se gradualmente pela Europa nos 3.000 anos seguintes, com a população de agricultores a deslocar os caçadores europeus à medida que migravam para a Europa.
Porém, como os "portugueses" do Sul de Portugal dizem ser "mouros" - ou melhor: afro-mouros -, então os nortenhos são forçados a acentuar uma clivagem racial e cultural. Somos descendentes dos CELTAS!
Chegou a hora de ser polémico, tendo em conta o que Brecht disse sobre o racismo. Os livros de genética - o estudo dos genes - terminam elaborando algumas considerações sobre eugenia. A minha tese é a seguinte: Sou contra a homogeneização da espécie humana. Sou defensor da diversidade racial humana e, como a genética molecular não me fornece um conhecimento completo do poder dos genes humanos, suspeito que a mistura racial pode estar ligada à degradação humana, tal como o podemos observar a partir do mapa do mundo. A raciação é um fenómeno fluído e reversível. Haverá sempre fluxo génico inter-racial nas populações intermédias.
A biologia de Aristóteles, sobretudo a sua embriologia, fascina-me. De certo modo, a visão tipológica do mundo vivo e das raças humanas é herdeira do pensamento grego. Segundo esta visão tipológica da vida, cada raça define-se em função de um holótipo portador do conjunto de caracteres raciais, com que todos os indivíduos pertencentes a essa mesma raça se devem parecer. A genética das populações operou uma revolução ao substituir a visão tipológica pela visão populacional: a raça passou a ser definida como sendo formada por populações que apresentam entre si trocas génicas mais maciças do que com populações dos outros grupos raciais. A raça é, portanto, uma superpopulação no seio da qual as trocas génicas têm um certo carácter preferencial, o que faz a raça coincidir frequentemente com uma zona geográfica bem delimitada. Porém, devemos acrescentar que a raciação é a antecâmara da especiação. Ocorre revolução genética se as raças passarem de subespécies para semiespécies e depois a espécies verdadeiras (esterilidade absoluta).
Actualmente, definimos a Genética como o ramo da biologia que estuda os genes. Porém, a visão clássica da genética apresenta-a como a ciência da hereditariedade. E por hereditariedade entende-se o processo pelo qual as características são passadas dos progenitores para a prole de modo que todos os organismos, inclusive os seres humanos, se assemelham aos seus ancestrais. A hereditariedade é controlada por um grande número de factores - os genes, que são pequenas partículas físicas - feitas de moléculas - presentes em todos os organismos vivos. Porém, a noção de gene mudou com o advento da biologia molecular: a identificação química do gene implicou a passagem do gene entendido como unidade de herança para o gene molecular entendido como unidade de informação biológica. Surgiu assim a genética molecular que estuda todos os aspectos do gene, procurando compreender o modo pelo qual a informação biológica é armazenada nos genes e de que maneira esta informação se torna disponível para a célula viva. Mas para explicar isso seria necessário dar um curso de genética molecular.
O genoma humano de aproximadamente 3.000.000 kb compreende entre 65.000 e 80.000 genes, divididos em 23 cromossomas, cada um contendo uma única molécula bifilamentar e linear de DNA entre 55.000 e 250.000 kb de comprimento. Cerca de 30% do genoma consistem em genes e sequências correlatas a genes, sendo o restante extragénico sem função conhecida. O genoma humano contém vários grupos de elementos repetidos que incluem milhares de cópias de retrovírus endógenos humanos (HERV), que parecem ser vírus benignos que colonizaram o genoma mas sem causar doença, como sucede com os retrovírus activos, o HIV-1 por exemplo. Ora, a descoberta destes retrovírus endógenos humanos pode vir a alterar a nossa compreensão da hominização ou mesmo do futuro da humanidade.
Logo que tenha tempo e boa disposição escrevo um artigo sobre a biologia das raças humanas, de modo a pôr termo às divagações homogeneizantes e nefastas sobre a diversidade da espécie humana. E vou atacar severamente algumas teorias antropológicas irresponsáveis sobre essa matéria.
A Ciência produzida pelos alemães exerceu um forte impacto sobre a minha formação científica e filosófica. Lorenz ensinou-me a delimitar as "doenças de civilização". Vedar o acesso da ciência a essa área de pesquisa, em defesa de uma terrível mentira, a da homogeneidade da espécie humana, é o mesmo que pactuar com a catástrofe natural e social que se aproxima. Ora, a minha atitude perante a catástrofe iminente é heróica: antes de morrer desejo alertar a humanidade para os erros que cometeu e que ameaçam a continuidade da aventura humana. Além disso, civilização ocidental e raça branca definem-se mutuamente. Dado os povos de outros continentes não desejarem seguir o caminho do Ocidente, defendo o fechamento do Ocidente sobre si mesmo, o que equivale a deixar esses povos entregues à sua própria barbárie.
De facto, tive um professor de História que dizia que eu "era marxista por acidente". Embora não tenha razão, ele previu que o meu espírito não se coadunava com a maleabilidade da natureza humana preconizada pela esquerda. A genética sempre atraiu a minha mente cognitiva desde criança: os livros de genética estiveram sempre à mão. E sei que sou capaz de planear um desenho experimental para mostrar os efeitos nefastos da homogeneização da espécie humana. Porém, antes disso, vou funcionar como conceptual designer e desenvolver a genética molecular e populacional das raças humanas.
Quando leio nos tratados de genética que o homem partilha 98% do seu material genético com os chimpanzés, fico espantado: 2% do material genético não são suficientes para explicar o salto qualitativo do Homem. É uma estupidez querer reduzir o Homem à sua animalidade: o Homem não é de facto um chimpanzé. O sequenciamento do genoma humana mostra-nos que ainda temos de aprender muitas coisas. Aquilo que parece ser "sem sentido" ou "não-funcional" pode ser precisamente aquilo que faz mais sentido: o caso das cópias de retrovírus é um exemplo.
Na genética tal como na endocrinologia temos sempre o problema: a genética molecular precisa da genética clássica, isto é, das leis de Mendel, para realizar a análise genética. Porém, a segunda lei de Mendel tem uma validade limitada e não se aplica às células eucariotas.
Alexandre Magno tentou realizar o estado mundial mediante a unificação do Ocidente e do Oriente. Porém, com a sua morte provocada pela malária, o seu império dividiu-se em quatro reinos helenísticos que depois foram unificados pelo Império Romano, o herdeiro dos gregos. Depois vieram o cristianismo e os bárbaros. Todos eles civilizaram-se graças à herança grega. A Cristandade uniu o Ocidente; o Oriente, como se sabe, seguiu o seu rumo. O estoicismo foi a filosofia desse sonho global, tanto do mundo helenístico como do mundo romano. O que quero dizer é que, apesar da beleza do sonho global - o reino do homem no mundo unificado -, os homens não conseguem unir-se... Ocidente e Oriente, mundo desenvolvido e mundo subdesenvolvido, enfim uma série de antagonismos que resistem à reconciliação!
Estou cada vez mais apaixonado pelo Espírito Grego que moldou a Civilização Ocidental. Porém, estou a ser confrontado com teses que rejeito categoricamente: Não concebo a existência das filosofias chinesa e indiana. De facto, a Filosofia e a Ciência surgiram na Grécia Antiga no século VI antes da nossa era.
A maior parte dos homens são burros e ignorantes. Basta uma catástrofe natural de grande impacto para fazer os homens sobreviventes regressar à Idade da Pedra. Aliás, no mundo de hoje, há muitos grupos humanos que nunca saíram da Idade da Pedra!
Eu tenho alguns livros sobre a teoria do astronauta ancestral e sobre o paranormal que li durante a minha adolescência. Perdi alguns, pelo menos os que emprestei, e os que retive estão algures em lugares quase inacessíveis. Vou contar um episódio: Havia na minha "escola" um grupo que estudava esses livros. O grupo convidou-me para fazer uma conferència num colóquio sobre OVNILOGIA e eu aproveitei a ocasião para atacar a teoria do astronauta ancestral. A plateia quase caiu em cima de mim. Porém, a minha capacidade de argumentação dividiu-a e o grupo ficou sem grandes adeptos. Ainda hoje os seus membros destacados fingem que não me conhecem, mas a verdade é que eu já não me lembro das suas caras. É tudo batata para mim!
Um argumento que fragiliza a teoria do astronauta ancestral: o Oráculo de Delfos - o deus Apolo - é visto como um contacto directo com uma inteligência extraterrestre. Ora, conhecendo os gregos e o seu espírito racional e crítico, duvido que a natureza extraterrestre desse contacto passasse despercebida e não fosse discutida. A teoria do astronauta ancestral supõe um portal que permite ao homem comunicar com seres extraterrestres e navegar por outras dimensões, mas não explica a possibilidade dessa comunicação, além de divinizar os seres extraterrestres, como se estes fossem portadores de um saber absoluto.
No sopé do Monte Sinai, Moisés recebeu as duas "Tábuas da Lei" contendo os Dez Mandamentos, estabelecendo solenemente um Pacto ou Aliança com Deus. Ora, a teoria do astronauta ancestral fala de uma nave extraterrestre que pousou no Monte Sinai onde um Ser Extraterrestre recebeu Moisés e lhe deu as "Tábuas da Lei". Deste modo, o Deus dos hebreus e dos cristãos é reduzido a um ser ou seres extraterrestres que iniciaram os povos terrestres na civilização. Porém, ao generalizar esta tese a diversos povos com religiões e leis diferentes, a teoria do astronauta ancestral não consegue explicar essa diversidade, a menos que suponha extraterrestres com formações culturais diferentes. Mas há mais. Como é que seres vindos das estrelas revelam na Terra pensamentos tão arcaicos? Ensinam a uns o despotismo e a outros a democracia, a uns o monoteísmo e a outros o politeísmo? Seres extraterrestres que desejavam ser deuses para os humanos não podem ser boas "criaturas", pelo menos para mim que sou humano e racionalista!
Seres vindos das estrelas são tecnologicamente desenvolvidos para realizar viagens no espaço!
Enfim, os defensores da teoria do astronauta ancestral são criaturas viciadas em ideias bizarras que visam fortalecer a ordem estabelecida, mesmo quando apregoam teorias da conspiração. Até a teoria da relatividade foi revelada a Einstein através de um contacto via portal ou vórtice. Estes herdeiros do velho saber limitam-se a revestir as velhas superstições com a roupagem de visitas remotas de seres extraterrestres. Porém, ainda ninguém decidiu interná-los num asilo de alienados extraterrestres.
Hoje estou inspirado. Disse inspirado? Oh, eles dizem que a inspiração resulta da comunicação com extraterrestres! Malucos!
Só 10% dos americanos têm passaporte, o que quer dizer que viajam pouco para fora dos USA. Hoje proponho uma nova definição dos americanos: criaturas que fazem muita coisa mas que pensam pouco. Os americanos não sabem pensar e, quando pensam, pensam mal. De facto, deve haver algum campo anómalo nos USA que enlouquece os americanos.
A Diáspora Portuguesa diz que os americanos não sabem identificar Portugal como um país autónomo. Falta saber se as vozes da Diáspora Portuguesa sabem aquilo que dizem que os americanos não sabem. Conhecem realmente Portugal? Ou na sua indigência mental reduzem Portugal a uma província de Marrocos? Sempre que os "mouros" erguem a sua voz no mundo Portugal definha!
O meu veneno é mais eficaz que a cicuta tomada por Sócrates!
Burnet e Cornford escreveram obras diametralmente opostas sobre a passagem do mito ao logos operada pelos mestres da verdade de Mileto. Eu estou mais próximo da perspectiva de Burnet porque considero a descoberta da racionalidade como uma novidade sem precedentes no mundo antigo. Porém, a novidade da ciência grega reside essencialmente na descoberta do pensamento abstracto que é ainda o nosso - ocidental - pensamento. A observação metódica e a experimentação tiveram o seu papel mas não foram muito relevantes para a descoberta do pensamento abstracto e do espírito como oposto ao corpo. Burnet e Cornford têm uma visão limitada da ciência e dos seus procedimentos: Bacon ou Newton não são autoridades nesta matéria. Aliás, a ideia de que a medicina hipocrática era experimental é um disparate. Condeno o positivismo envergonhado destes dois grandes eruditos.
Hoje passei a tarde a estudar o Divino Platão, a sua obra e a sua vida. Para conhecer a filosofia grega, é preciso conhecer a língua grega. Platão não é dogmático, como dizem alguns labregos: o espírito do platonismo é inteiramente aberto e crítico. Enfim, não concordo com a maior parte das interpretações de Platão!
O que é a Dialéctica em Platão? Crombie procurou responder a esta questão mediante o recurso às palavras gregas: a dialéctica é a tentativa de descobrir ou redescobrir a verdadeira natureza dos princípios racionais que obscuramente reconhecemos no nosso pensamento, ou então de descobrir a verdadeira natureza de cada um deles tal como é isolado das suas encarnações e em relação com todos os outros. Sem recorrer ao grego, convém lembrar que a dialéctica significa "conversar".
Os Diálogos Platónicos não são de leitura fácil para os leitores actuais porque eles fornecem indicações que os ouvintes gregos compreendiam e que nós hoje não compreendemos, a menos que dominemos toda a história da Grécia Clássica. O Platonismo pode ser reduzido a duas teorias: Uma ontologia e uma epistemologia: a primeira afirma que os universais são independentes dos singulares e a segunda defende que só há conhecimento dos universais. A Sétima Carta apresenta um platonismo aberto convidando as pessoas a pensar: o platonismo aqui é completamente inimigo do dogmatismo.
A Morte de Sócrates marcou profundamente Platão que trocou a vida política activa pelo conhecimento da política. Em Platão, o problema filosófico é problema político e vice-versa. Permanecer ou fugir da Cidade: Aristóteles, os Epicuristas e os Estóicos optaram pelo caminho da fuga; Platão deu a resposta correcta: Reformar a Cidade para que o filósofo possa viver nela.
Agora detectei um erro nas traduções portuguesas dos textos gregos: Preocupação, Despreocupação, termos que aparecem nos textos gregos mas que nas traduções portuguesas são substituídos por palavras inadequadas que não captam o espírito grego. A preocupação liga-nos ao mundo e define a nossa missão no mundo. Ser mortal é estar preocupado consigo, com os outros e com o mundo. A despreocupação rompe essa ligação.
Hoje carreguei 14 livros sobre o pensamento grego. Reli Platão e estudei o atomismo de Epicuro e a sua teoria do conhecimento, sendo levado a aprofundar a teoria da reminiscência de Platão e o Pitagorismo. Depois confrontei-a com a teoria empirista da Medicina Hipocrática e Lucrécio.
Continuo a defender que a descoberta grega da racionalidade é uma novidade sem precedente. Basta pensar em quatro conceitos nucleares da Filosofia Pré-Socrática: Kosmos, Physis, Arche e Logos. A Ciência mais não é do que a continuação do esboço jónico da "física".
Quem é que sabe contornar o DILEMA SOFÍSTICO? Ou conhecemos uma coisa e, então, não há necessidade de a procurar, Ou não a conhecemos e, então, não podemos saber o que procuramos: Eis o dilema! Sócrates ensinou que a Virtude é Conhecimento e, num dos diálogos de Platão, é confrontado com este dilema. Platão despede-se do Sócrates histórico e propõe a Anamnesis como saída do dilema, a qual fornece graus de conhecimento entre estes dois extremos, conhecimento e ignorância. Há um conhecimento inconsciente que Sócrates explicita no "Ménon".
Hoje foi dia de frequentar algumas obras de teologia. De facto, as pessoas tornaram-se anti-cristãs sem saber justificar a sua conversão ao ateísmo. Ainda não avaliámos seriamente o contributo do cristianismo e do judaísmo para a filosofia. Há bons estudos em alemão que são desconhecidos em Portugal.
Outra obra que revisitei hoje foi o "Marxismo Soviético" de Herbert Marcuse: uma obra lúcida sobre as mudanças operadas pelo Estado Soviético na dialéctica histórica marxista. Além disso, a obra facilita o acesso à dialéctica tal como praticada por Marcuse. A Revolução de Outubro mostrou o poder das ideias filosóficas, poder esse que foi substituído no nosso tempo indigente pela tecnocracia dos economistas neoliberais.
Dois acontecimentos degradaram o ensino das Humanidades: 1) a democratização do ensino nas suas diversas facetas que obriga todos a tirar uma licenciatura, e 2) a Queda do Muro de Berlim que facilitou a marcha triunfal do pensamento único. As Faculdades de Letras foram literalmente invadidas pelos indivíduos mais burros - tanto alunos como professores - que obtêm uma licenciatura sem frequentar as aulas. O eclipse das Humanidades facilitou a marcha triunfal dos economistas que reduziram a sociedade e a cultura à análise económica dos custos e benefícios. A Filosofia que orientava a praxis fechou-se em si mesma, convertendo-se em hermenêutica ou em desconstrução do seu legado histórico. A economia despediu o pensamento, reduzindo o homem à sua animalidade mais brutal e colocando-o ao serviço do lucro.
Uma questão a meditar: Que função desempenham hoje as universidades? Vender um pacote de títulos irreais - licenciatura, mestrado e doutoramento, pressupondo que os alunos já nasceram dotados de conhecimentos e de capacidades para os adquirir sem a ajuda de professores. O que é a investigação autónoma do aluno? A recolha de textos da Internet e a sua posterior montagem. O mais engraçado é constatar que o aluno não leu os textos recolhidos e colados uns aos outros.
Não há mudança sem catástrofe: este ensinamento dialéctico continua a ser verdadeiro, embora a mudança possa não ser progressiva. A História pode tanto avançar para a frente como recuar para trás. É nesse sentido que já não podemos ser optimistas.
A propaganda americana e capitalista apresenta o nazismo e o comunismo como modelos totalitários e adversos à democracia. Esta é a grande mentira americana que urge combater. Hoje, ao reler Marcuse, fui confrontado com um Estaline atento ao devir da realidade: a sua obra sobre linguística aponta no sentido de reformular o próprio marxismo soviético. Estaline não foi um ditador; pelo contrário, foi um dirigente político inteligente que colocou em marcha um programa de industrialização de um vasto país atrasado. É necessário reabilitar Estaline para depois o podermos criticar. A América é irracional!
Os deserdados de todo o mundo só começarão a triunfar no dia em que souberem distinguir entre o amigo e o adversário. O amigo é o marxismo; o inimigo é o capitalismo. E a violência é o meio adequado para liquidar o inimigo.
O capitalismo só pode ser combatido quando se possui uma alternativa: o comunismo sempre foi o discurso alternativo que faz o capitalismo tremer de medo. Saber se o comunismo pode ser realizado é outra questão!
Quando os deserdados europeus começarem a gritar nas ruas "Viva Marx", a UE pára para pensar. Não é reivindicando "direitos" que se muda o sistema vigente: Gritar "Viva Marx" é ameaçar o próprio sistema de exploração e de roubo na sua existência.
É muito difícil explicar aqui o princípio filosófico que presidiu aos posts de hoje: A Filosofia da História historicizou a própria História à luz dos ensinamentos do judaísmo e do cristianismo, dotando-a de sentido. Recusar essa herança profética é paralisar a luta do homem pela emancipação. Não podemos romper com o messianismo sem entregar o nosso destino aos exploradores e aos opressores. Pensem neste facto: o discurso económico neoliberal dispensa a história e eterniza o sistema de exploração naturalizando-o. O discurso económico desvalorizou a história e o trabalho como se tivéssemos condenados à economia de mercado e à sua mão invisível!
Vejam estas duas frases complementares e ambas verdadeiras: «Ali onde há perigo, cresce também o salvador» (Hölderlin). «Ali onde cresce o salvador, cresce também o perigo» (Bloch). De certo modo, articulei estas frases dizendo que não há uma garantia transcendental para a história do homens. Somos seres em risco permanente.
Ando furioso com a teoria do astronauta ancestral: Já nem Apolo escapa à estupidez sendo apresentado como um extraterrestre e alguns companheiros monstruosos da mitologia grega como experiências genéticas frustradas. As pessoas andam loucas.
Comecei a Ano Novo a reler alguns textos nucleares da Antropologia. Um antropólogo de Barcelona, Llobera, radicado em Londres, diz que a antropologia é filha do colonialismo e do imperialismo. A sua tese é deveras interessante embora não seja original. A questão racial volta a estar na ordem do dia e Lévi-Strauss escreveu um artigo interessante sobre as fontes da etnologia. Porém, tenho uma visão diferente sobre o futuro da antropologia.
A crítica marxista da Ideologia radicalizou-se de tal modo que mina o seu próprio terreno: o fim do colonialismo e dos impérios coloniais não implica o fim da antropologia e muito menos a sua conversão em discurso contracolonial. A tese de Lévi-Strauss deve ser ampliada de modo a integrar o colonialismo português. A ausência de ideologia antropológica portuguesa significa que não houve colonialismo português? De facto, Portugal só despertou para o discurso colonial durante o Estado Novo. Há algo anómalo na História das Descobertas Portuguesas que urge estudar. O Novo Mundo parece ter escapado à inteligência portuguesa.
A estupidez dos portugueses tal como a vejo hoje está a minar a minha percepção da História dos Descobrimentos atribuída aos portugueses. Já não acredito na veracidade dessa história narrada e glorificada durante o regime ditatorial de Salazar. De facto, os historiadores americanos negligenciam ou omitem o contributo português, como se eles tivessem passado ao lado da Grande História.
Enfim, sei que existem portugueses e um país chamado Portugal. E isso dificulta o meu pensamento e o meu desejo de uma Grande Teoria, a menos que negue o estatuto humano aos portugueses. Será que estas criaturas portuguesas são mesmo humanas? Ou serão antes o refugo de defeitos genéticos? Quando eliminamos os portugueses do palco mundial, tudo fica mais transparente!
A "natureza humana" tal como explicitada pelas diversas antropologias filosóficas faz "justiça" à enorme diversidade de raças humanas e de "humanidades" (no plural)? A crítica interna do discurso antropológico na sua conexão com o colonialismo pode ser aplicada às antropologias filosóficas. De facto, estamos diante de uma crise antropológica de dimensões inauditas. Sempre tive consciência disso.
O início do ano está a ser muito antropológico, pelo menos para mim. Hoje redescobri a obra de um antropólogo argentino, Carlos Reynoso, onde faz uma apresentação crítica das antropologias pós-modernas. Identifico-me muito com a sua crítica do pós-modernismo e do pós-estruturalismo (Derrida e Foucault), cuja agenda política foi conservadora: os americanos apropriaram-se desses instrumentos franceses sem espírito crítico, donde resultou o triunfo da agenda neoliberal que está a empobrecer o mundo. No entanto, vou mais longe: o relativismo é inimigo da mudança social qualitativa; o seu princípio "tudo vale" significa que "tudo continua igual" ou pior do que já era. Marx continua actual.
Concentro-me sobre as obras de um antropólogo americano chamado Stephen Tyler. Conhecia bem as suas obras anteriores ao seu programa antropológico pós-moderno. Ele pretende ser mais radical que Derrida, cuja teoria da escritura é um absurdo assente numa mentira. Porém, a sua crítica da epistemologia ocidental é uma esfera compacta de contradições. As filosofias pós-modernas são filosofias da autoridade. O exemplo desse autoritarismo é Braudillard. Identifico o pós-modernismo como pensamento gordo ou obeso que retoma tudo aquilo que odiamos na escolástica medieval.
A obra de Daniel Bell está de certo modo na origem do pós-modernismo quando propõe duas teses falsas: a da sociedade pós-industrial e a do fim das ideologias. Falar de pós-capitalismo não faz sentido e a pseudo-esquerda francesa que alinhou nesse coro contribuiu decisivamente para o triunfo do neoliberalismo. A agenda política da esquerda oficial foi claramente neoliberal. É por isso que a esquerda ficou sem agenda depois da crise financeira. Anti-ocidentalismo não é agenda de esquerda. Nem todos os discursos que lemos são "brancos", para utilizar a palavra preferida das antropologias pós-modernas. A confusão de géneros e as mestiçagens são invenções delirantes de discursos que perderam o contacto com a realidade. A pós-modernidade é filha do sexo oral: a língua faz o trabalho que o pénis já não consegue realizar devido à sua impotência.
Não há sociedade sem produção económica: Uma sociedade do conhecimento só é possível se houver outras sociedades produtoras, cuja mão-de-obra é explorada pelas grandes empresas globais. Os ocidentais habituaram-se a comer aquilo que deixaram de produzir. Ora, um tal modelo de sociedade não é sustentável. A China foi um dos países que beneficiou com a estupidez ocidental legitimada pelo pós-modernismo. A economia política do signo conduz à miséria.
Estou cada vez mais conservador em matéria de Filosofia: Tudo aquilo que foi condenado pelo pós-modernismo é aquilo que defendo. O tão criticado pensamento totalizador foi precisamente aquele que nos trouxe alguma liberdade e algum bem-estar. Reconheço que é necessário reformar esse pensamento mas sem o despedir. Quando um filósofo pós-moderno lhe falar da dissolução da realidade, abra-lhe o cabeça com um martelo e espere pela sua reacção, no caso dele ainda estar vivo. Porém, se a martelada o matar, não se preocupe porque a sua morte não é uma perda mas uma mais-valia para o mundo que urge transformar. Sim, há mundo fora dos textos e das práticas intertextuais!
Hoje fiz uma descoberta maravilhosa: Descobri a obra de Nicholas Danilevsky, "Europa e Rússia" (1869), onde expõe uma teoria dos ciclos civilizacionais. Da sua bateria de conceitos retenho o de "material etnográfico" que permite compreender os retrocessos civilizacionais. Infelizmente, como não sei ler russo, sou forçado a ler o resumo francês dessa obra magnífica. Depois fui estudar a "Escola Subjectivista Russa" de sociologia.
Em vez de lamentar a morte de Eusébio, prefiro ler as obras dos subjectivistas russos: Lavrov-Mirtov, Mikhailovsky, Yuzhakov e Kareyev que desenvolveram uma teoria da minoria criativa que lidera a mudança cultural. O subjectivismo russo recusou o pensamento burocrático que predominava na Rússia Imperial.
Entretanto, estive a ler um breve estudo que compara as situações coloniais do Brasil e dos Estados Unidos. De certo modo, concordo com a explicação dada pelo autor americano que capta bem as fragilidades do colonialismo português. Porém, não o acompanho na crítica que faz do racismo como estratégia antropológica. Acho que a literatura apresentada sob o rótulo "racismo" deve ser reabilitada devido à verdade que encerra. Quer dizer que hoje estive atento à literatura dos séculos XVIII e XIX.
Olhando para o mundo global partilho o receio de Nicholas Danilevsky: Há povos que não estão vocacionados para ascender à civilização. O conceito "material etnográfico" ajuda a pensar a natureza desses povos afastados da civilização. Porém, sou mais pessimista que Nicholas Danilevsky: Vejo o fim da civilização e da humanidade, a menos que se retome o domínio ocidental. É por isso que tenho estado a ler os séculos que pensaram esse domínio.
Estou feliz por saber que os vulcões do Corno de África podem entrar em erupção a qualquer momento e modificar a configuração do continente africano. Penso que vamos assistir a grandes cataclismos naturais durante a nossa vida. Não vejo qualquer possibilidade da civilização sobreviver a esses cataclismos naturais. A Terra está condenada a ser um planeta inóspito para a vida humana.
É um tremendo disparate condenar a obra de Gobineau, "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas" (1853-55), dizendo que somos todos iguais. Primeiro, porque não nascemos iguais. E segundo, porque a obra é uma análise fina da cultura, cujo núcleo é inquestionável. O pensamento conservador não pode ser descartado de ânimo leve: Ele capta um momento de verdade que convém repensar e aprofundar. O rótulo "racista" deve ser desconstruído.
O Ocidente pensou a colonização como estratégia para integrar os bárbaros no seio do processo civilizacional. Ora, o colonialismo fracassou nessa tarefa: os bárbaros aceitam a cultural material e rejeitam a cultura espiritual do Ocidente. Para pensar esse fracasso, somos reconduzidos às teorias que surgem nos livros sob o rótulo "determinismo racial". O que interessa nestas teorias não é o seu elemento ideológico mas o seu momento de verdade científica. O pensamento autónomo não pode abdicar da sua independência: pensar é pensar contra o universo ideológico dominante. A objectividade é fundamental para o pensamento autónomo.
Se a Europa aderir à ideia do federalismo, o projecto nazi - e alemão - realiza-se. Converter a Europa numa federação sob a liderança da Alemanha foi sempre o sonho subjacente ao pensamento alemão. E de facto os génios alemães souberam pensar esse sonho incorporando a herança grega.
Hoje foi dia de estudar algumas tradições sociológicas, com especial destaque das tradições inglesa, americana, francesa, helénica e italiana. É com tristeza que não consigo vislumbrar uma tradição portuguesa, embora haja uma tradição portuense que ainda não foi pensada de modo rigoroso. O atraso da teoria em Portugal reflecte o seu atraso estrutural e histórico: os portugueses odeiam visceralmente o pensamento. E, enquanto o Benfica enterrava a sua pálida e anémica historia, eu dialogava com algumas grandes tradições nacionais.
De todas as tradições nacionais estudadas - sete ao todo - há uma que não tem nacionalidade: a tradição marxista. Os intelectuais americanos e ingleses são os únicos que ainda procuram dialogar com Marx. Esse interesse justifica-se pelo facto da sociologia ter perdido credibilidade desde que tentaram enterrar Marx. A verdade é que sem Marx o pensamento fica paralisado, dando lugar à apologia medíocre do status quo.
Haverá uma tradição portuguesa de pensamento social? É muito difícil detectar uma figura aglutinadora, a partir da qual fosse possível desenhar um diagrama. O que vejo é uma cisão entre o positivismo sulista e o pensamento de Sampaio Bruno. Os pensadores portugueses nunca foram capazes de pensar um projecto global de desenvolvimento para Portugal. O eclipse mental e o eclipse social andam de mãos dadas.
Portugal foi um Império até 1975. No entanto, na era do imperialismo, o pensamento português não produziu etnografias densas dos povos colonizados. Se o funcionalismo corresponde à época colonial, como sucedeu em Inglaterra, então somos obrigados a reconhecer a indigência mental natural dos portugueses: o funcionalismo como estratégia teórica era estranho aos portugueses idiotas naturais. Portugal é um imenso deserto cultural e cognitivo.
Hobbes foi a figura dominante da tradição inglesa. Todo o pensamento social e político inglês pode ser compreendido como diálogo com esta figura pioneira que criticou Aristóteles. As tradições francesa, alemã e americana também sofreram a sua influência. Ora, em Portugal, não há notícia de Hobbes. Mas afinal há notícias em Portugal?
A tradição inglesa legou-nos o individualismo (os três postulados de Hobbes), a tradição francesa legou-nos a ideia de sociedade (os três postulados de Montesquieu), e a tradição alemã legou-nos a ideia de autodeterminação (os postulados de Kant). O pensamento português foi mais marcado pela tradição francesa: Leonardo Coimbra dialogou com Durkheim e Bergson. Porém, Leonardo Coimbra é portuense. O objectivo é delinear a tradição portuense!
Porém, há um mito portuense que deve ser destruído: Houve um pensamento liberal portuense? Diversas figuras confirmam a sua existência, algumas das quais alimentaram a revolução de 1820. No entanto, o programa liberal nunca se realizou em solo português. A economia política de Smith e de Ricardo que assenta nos três postulados de Hobbes era estranha aos liberais portugueses. O Porto envolveu-se desde logo na confluência de diversas tradições sem ser capaz de realizar uma síntese original. A História não está feita; a História faz-se. Resgatar o Porto é dar-lhe uma nova história que aponte para a sua autonomia.
O pensamento americano foi quase sempre provinciano. Sem a importação de inteligências europeias, os Estados Unidos nunca teriam produzido um pensamento sério e digno de ser estudado. Depois da crise de 1929 e sobretudo da II Guerra Mundial, conheceram um época de prosperidade da qual resultou a síntese reaccionária de Parsons. Os Estados Unidos acordaram para o pensamento quando já estavam mergulhados num caos cognitivo. As contradições que alimentaram as suas esperanças são as mesmas que ditam o seu colapso. No entanto, apesar do seu provincianismo, admiro algumas figuras da tradição americana, em especial Cooley e Mead.
A tradição italiana gira em torno de Maquiavel, tendo dado origem a duas tendências contrárias: a tendência fascista de Pareto e a tendência comunista de Gramsci. Quando era estudante universitário, tive a coragem de introduzir Pareto e outros teóricos italianos das elites, como por exemplo Mosca. Sempre fui ousado e provocador!
O enterro de Eusébio encerra mais um capítulo de Portugal e do Benfica: o capítulo do fascismo português e o capítulo da glória benfiquista. Embora não seja responsável por esse facto, Eusébio foi usado pelo governo fascista para promover um regime nefasto no mundo: a Ditadura. Hoje essa página nefasta do fascismo português está enterrada.
O Futebol Clube do Porto não é um clube dos cangalheiros: o seu reino é o reino dos vivos que lutam para vencer. A dicotomia chorar/rir permite classificar os clubes: uns riem porque são clubes alegres e vivos, outros choram porque são clubes tristes e mortos. Hoje festejo a vida!
Eu sempre articulei a teoria da classe dominante de Marx com a teoria das elites de Pareto. Não vejo qualquer tipo de tensão entre ambas as teorias: Marx denunciou o papel da "aristocracia financeira" e foi duro na crítica da burocracia.
Num escrito de juventude Marx escreve: «O burocrata vê o mundo como um mero objecto a ser dirigido por ele». Esta afirmação neutraliza a crítica de Weber e de Michels. Hegel já sabia que o corpo de funcionários da administração pública pode usar o poder político - isto é, o Estado - em benefício próprio. Ora, esta análise marxista permite estudar as elites do poder em Portugal, sobretudo depois do 25 de Abril. Curiosamente, Marx previu a ascensão do "trabalhador afluente": as duas análises estão interligadas. Enfim, as críticas do marxismo omitem aquilo que não lhes interessa colocando no seu lugar um "fantasma". Ora, a crítica de fantasmas que não habitam a obra de Marx é, ela própria, um FANTASMA.
A oposição entre totalitarismo e democracia é um fantasma inventado e alimentado por Hannah Arendt para justificar uma regressão ao tempo da escravatura. Ora, não se pode denunciar os campos de concentração quando se propõe uma teoria política que implica a escravatura. O totalitarismo ameaça qualquer regime político, incluindo o democrático, como demonstraram os teóricos italianos das classes dirigentes: Mosca, Pareto e Michels. O comunismo permite realizar a crítica do sistema vigente sem cair na tentação totalitária. Marx defendeu a autonomia do político tendo em conta as suas contradições internas.
O que é o colectivismo que os reaccionários atribuem a Marx? Francamente, não sei responder a esta pergunta porque um tal termo não aparece na obra de Marx. Popper inventou-o para lhe opor o individualismo metodológico da tradição inglesa, em especial de Hobbes. Onde há colectivismo é na obra de Durkheim. Marx apenas diz que o homem é um ser social e, deste modo, elimina a oposição burguesa entre indivíduo e sociedade. Ora, Mead - o mais revolucionário dos pragmatistas americanos, elaborou uma teoria social do Self, recentemente retomada por Habermas.
A minha professora de Filosofia Social e Política era uma mulher de esquerda radical casada com um fascista. Quando lhe apresentei um trabalho sobre a teoria da circulação das elites de Pareto, o meu objectivo era travar o seu "utopismo exagerado". Não sei se ela compreendeu isso, mas mostrou interesse em ler a obra de Pareto e de outros autores que introduzi na Universidade. Ora, o paradoxo da tradição italiana é o mesmo que habita a obra de Horkheimer e Adorno.
Eu nunca fui "comunista", mesmo quando dizia ser "marxista": o paradoxo da tradição italiana alimentou o meu pessimismo antropológico, levando-me a retomar a minha vocação biológica e médica. E quase tenho a certeza de que Marx - se tivesse concluído os seus projectos económicos, políticos e filosóficos - seria confrontado com a "exterioridade" do comunismo em relação à sua teoria da história. Porém, admito Marx por ter introduzido o "proletariado" na filosofia. Dar voz às vítimas do sistema é louvável e revela a superioridade do seu grande espírito humano. Marx é património da humanidade!
Só hoje descobri que, para compreender bem Durkheim, é preciso analisar criticamente a sua obra "O Suicídio": A sua pseudo-objectividade revela-se aí como ideologia conservadora e reaccionária. O seu conceito de anomia - ausência de normas colectivas - não tem nada a ver com o conceito de alienação de Marx.
É muito difícil realizar uma análise filosófica da vida política portuguesa: os agentes políticos portugueses carecem de conhecimentos filosóficos, agindo de uma forma extremamente voluntarista e interesseira. Hoje, ao estudar as metamorfoses do liberalismo nos USA, constatei que a agenda deste governo laranja-podre não se encaixa em nenhuma corrente liberal, filiando-se talvez a versões ultrapassadas pela democracia americana. A política portuguesa é uma política de máfias. Não há pensamento político neste ermo fascista chamado Portugal.
O Panteão Nacional devia ser extinto dado ter sido invadido por figuras populares que não deram nenhum contributo positivo para a modernização de Portugal. As entradas de Amália Rodrigues e agora a de Eusébio vulgarizaram a simbologia do Panteão Nacional que mais parece ser uma concentração fascista de túmulos. Infelizmente, em Portugal não nascem seres de espírito superior: os que nascem cá são gatunos.
Hoje dediquei algum tempo ao estudo da economia marxista: a teoria do desenvolvimento capitalista de Marx não implica necessariamente a teoria do valor-trabalho exposta no primeiro volume d' O Capital. O terceiro volume converte o valor em preço e a teoria da exploração capitalista não sofre qualquer modificação, até porque ela já estava presente no jovem Marx. No entanto, no plano da abstracção teórica, podemos conservar a teoria do valor-trabalho através da introdução de novos conceitos mediadores. Por vezes, devemos ser conservadores e manter uma teoria elaborada por Ricardo e Smith.
Eu sou contra a escolaridade obrigatória que matou o próprio ensino, nivelando todos a partir de baixo. Além disso, o modelo subjacente à escolaridade obrigatória desvaloriza o trabalho produtivo, como se pudéssemos sobreviver sem produzir e, portanto, trabalhar. Sem produção não há sociedade. As pessoas devem seguir as suas próprias "vocações".
O colaborador de Marx - Engels - transfigurou a teoria de Marx, delineando uma divisão entre materialismo histórico e materialismo dialéctico numa perspectiva evolucionista e positivista. Ora, a teoria de Marx é simplesmente teoria crítica, a qual não permite essa distinção que depois da morte de Engels foi levada ao extremo de uma ontologia materialista.
Só podemos fazer justiça à imensa obra de Marx analisando-a no seu desenvolvimento interno e descartando os seus elementos mais conjunturais. De facto, a teoria das crises periódicas de Marx não aponta para o colapso do capitalismo, mas para o seu equilíbrio dinâmico. Sem o elemento kantiano, a teoria de Marx não implica o colapso do capitalismo. Para mim, isso significa que o "comunismo" é algo exterior à própria teoria marxista. Crises, Guerras e Catástrofes: Kautsky captou um aspecto fundamental da teoria do desenvolvimento capitalista de Marx.
A realidade humana é reflexiva: o capitalismo fortaleceu-se reagindo às críticas de Marx através da obra dos seus economistas neoliberais. O motor do desenvolvimento capitalista é de facto a acumulação do capital, tal como teorizada por Marx, a qual sofre diversas crises periódicas ao longo do tempo. O núcleo duro da crítica de Marx permanece actual. E é esse núcleo que devemos aprofundar com novos desenvolvimentos teóricos. Infelizmente, a quebra da unidade entre teoria e praxis não nos permite elaborar novas agendas políticas, pelo menos no quadro dos actuais partidos de esquerda. No entanto, esta quebra revela aspectos nucleares da natureza humana.
A obra de Marx compreende mais de mil títulos, muitos dos quais ainda não foram publicados nas Obras Completas. As obras mais conhecidas são as seguintes: Manuscritos de Paris (1843-44), publicados em 1932; A Sagrada Família (1844); Teses sobre Feuerbach (1845); A Ideologia Alemã (1946); A Miséria da Filosofia (1847); O Manifesto Comunista (1848); Trabalho, Salário e Capital (1849); As Lutas de Classes em França (1850); O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte (1852); Grundisse der Kritik der politischen Oekonomie (1858); Contribuição à Crítica da Economia Política (1859); O Capital (1867); e A Guerra Civil em França (1871). Os outros dois volumes d'O Capital foram publicados posteriormente por Engels, bem como Teorias da Mais-Valia (1861-63).
A recepção de Marx em Portugal: Infelizmente não temos uma obra sobre a recepção portuguesa da obra de Marx. Sampaio Bruno dedicou muitas páginas à análise d'O Capital de Marx. Mas tanto quanto percebi fê-lo através da leitura da obra de Labriola, um marxista italiano que também foi lido por Durkheim. Bruno chama-lhe a interpretação económica da História, mas não compreendeu o capítulo A Mercadoria d'O Capital. O movimento operário português nunca pensou em termos de industrialização e de democratização: o marxismo português foi sempre uma fantasia de quem não compreendeu a lógica do desenvolvimento capitalista.
Embora tenha competência racional, não sou economista. No entanto, procuro estar atento às novidades económicas. Infelizmente, a economia planificada absorveu de tal modo a atenção dos economistas marxistas que os privou de esmiuçar a economia keynesiana e neoliberal. Acho que o núcleo duro da economia marxista continua válido desde que se liberte da teoria do proletariado. Não há história económica a não ser na perspectiva marxista: a economia marxista pode avançar na via da ciência usando um instrumental matemático sofisticado.
Ernest Mandel escreveu um livro pequeno de "Iniciação à Teoria Económica Marxista": Embora não concorde com o modelo alternativo proposto por Mandel, o livro permite compreender - em linguagem simples - um conceito nuclear: a garantia estatal do lucro que garante a redistribuição do rendimento nacional à custa dos assalariados. Ora, as parcerias público-privadas em Portugal podem ser analisadas a partir deste conceito em contexto de monopólio. As empresas de regime que agora estão a ser privatizadas foram e continuam a ser monopólios. Os economistas marxistas americanos - Baran e Sweezy - explicaram bem a lógica do capitalismo monopolista.
Tenho um livro de Paul Sweezy que nunca li, pelo menos todos os ensaios que o integram. Hoje retomei esse livro e descobri que Sweezy foi quase o único marxista que reagiu à obra de Popper, "Miséria do Historicismo". De facto, esta obra atribui a Marx aquilo que ele nunca defendeu. Uma obra medíocre e envenenada, a de Popper!
Na década de 1960, Marcuse falou de "sociedade sem oposição". Ora, se pensarmos bem sobre o significado desta expressão desesperada, constataremos que não há pensamento genuíno de esquerda há diversas décadas. Em Portugal, a esquerda é uma merda: PCP, BE e PS não têm agendas alternativas.
Hoje, nos meus tempos livres, estive a confrontar tratados de economia marxista e "burguesa". E conclui que não há diferenças muito significativas entre as duas tradições: O Capital de Marx não é um tratado de economia "pura" porque trata unicamente das leis imanentes do modo de produção capitalista num determinado período da história da humanidade. Ora, sem o factor subjectivo, é muito difícil encontrar no Capital a lógica da transição para o socialismo, cuja economia nunca foi tematizada por Marx. É possível realizar uma síntese crítica entre a economia marxista e a economia "burguesa", tendo em vista uma vida justa para todos.
Concordo com Paul Samuelson quando diz que as pessoas deviam estudar economia. O seu tratado de "Economia", escrito em colaboração com Nordhaus, é um livro sério, embora tenha uma ideologia política subjacente. Ora, a maior parte das pessoas não sabem detectar essa ideologia porque carecem do mínimo de conhecimentos para tomar partido. Caso contrário, tentem criticar esta definição: «A economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos escassos para produzir bens com valor e de como os distribuem entre os vários indivíduos». A partir desta tensão entre escassez e desejos ilimitados, Samuelson apresenta e desenvolve todos os conceitos da economia, tendo como pano de fundo Smith e Keynes.
A ideia de "economia planificada" foi tematizada pela primeira vez por um economista fascista italiano. Ora, a URSS procurou implementar uma economia planificada e, como sabemos, sem sucesso. O "comunismo" nunca foi realizado na prática, funcionando mais como uma ideia reguladora do que uma possibilidade histórica. A história dos partidos de esquerda mostra-nos uma dinâmica própria que inviabiliza a própria ideia comunista. O capitalismo é uma ordem social histórica, isto é, não é eterno, como supõem erradamente os economistas burgueses. Porém, não podemos prever o que lhe sucederá: regressão civilizacional ou mais dominação?
A economia é, em grande medida, ideologia: o instrumental matemático da econometria não faz da economia um discurso científico acima dos interesses das classes que disputam o poder. Infelizmente, as pessoas desconhecem as obras que analisam a evolução das doutrinas económicas em função da evolução das sociedades e dos seus sistemas económicos e políticos. O facto destas obras terem sido escritas em chave marxista revela a superioridade latente da teoria económica e histórica de Marx. Sou muito avesso ao abandono da teoria do valor-trabalho e à sua substituição pela teoria subjectiva do valor, isto é, pela teoria marginalista que dominou a economia neoclássica. Reconheço algumas imperfeições da teoria do valor-trabalho, mas ela tem o mérito de já ter sido criada pelos gregos e de ser dotada de grande amplitude histórica: Dignificar o trabalho é dignificar o homem.
É preciso libertar a mente dos dilemas ideológicos da totalidade antagónica que é a sociedade de classes e dos dilemas existenciais para apreender a sociedade no seu momento de verdade: a descoberta da ideologia realizada por Marx permite obter tanto quanto possível essa atitude de imparcialidade, tão necessária à análise objectiva da realidade social e histórica. As técnicas da econometria não são neutras: elas são usadas depois de se tomar uma decisão política e podem ser usadas tanto por marxistas como por reaccionários-vingativos. A utilização de cálculos matemáticos não implica maior cientificidade de uma disciplina positiva. A economia usa modelos simplificados que são insuficientes para captar a complexidade da realidade social e histórica.
Acho um disparate o curso de Filosofia não integrar um cadeira anual de Filosofia Económica. Platão e Aristóteles foram sensíveis à economia monetária e ao comércio. Filósofos sem preparação económica são perfeitos idiotas.
Se os portugueses que votam estudassem economia, fariam uma análise mais realista da acção do governo de Passos Coelho, concluindo que a sua política do empobrecimento não é compatível com uma política de desenvolvimento económico. Mas afinal os portugueses não sabem nada de nada: são perfeitos idiotas culturais!
Os povos ibéricos - espanhóis e portugueses - são os mais burros da Europa: Espanha e Portugal fartaram-se de receber ouro e prata do novo mundo e, no entanto, deixaram-no escapar para o Norte da Europa - Holanda e Inglaterra - onde essa riqueza foi acumulada, de modo a possibilitar a revolução industrial. Os intermediários não produziam nada nos seus territórios: a riqueza sacada do novo mundo era gasta ou para despesas de guerras estúpidas como as de Espanha ou para importar produtos manufacturados no Norte da Europa. A revolução comercial que iniciaram acabou por lhes passar ao lado. Nem sequer produziram um pensamento mercantil.
Considero Lenine como o líder político mais genial da História da Humanidade. Quem estuda Filosofia Política deve conhecer a vida e a obra de Lenine. Noutro dia, recomendei duas obras sobre Lenine: "O Pensamento de Lenine" de Georg Lukács, e "O Pensamento de Lenine" de Henri Lefebvre. A primeira obra é genial ao mostrar a ligação entre a sua teoria e a sua prática à luz da "actualidade da revolução"; a segunda obra completa de certo modo a de Lukács, detalhando os contributos de Lenine para o pensamento filosófico, para o pensamento económico e para o pensamento político. De certo modo, o leninismo completa o marxismo, cuja formação Lefebvre expõe em "Para conhecer o Pensamento de Marx". Como é evidente, o aprofundamento do marxismo exige a leitura das obras dos seus próprios fundadores.
Georg Lukács define o materialismo histórico como "a teoria da revolução", sendo seguido pelo jovem-Marcuse. De facto, o marxismo é a teoria da revolução que Lenine soube levar à prática. A morte precoce de Lenine interrompeu o curso normal dessa revolução que trouxe o socialismo à vida quotidiana dos explorados e oprimidos. Estaline desvirtuou o leninismo ao abdicar da dialéctica: "Os Cadernos de Filosofia" de Lenine mostram-nos o homem do poder a sistematizar a filosofia de Marx num sentido contrário ao do estalinismo.
Já aqui defendi a tese da exterioridade absoluta do "comunismo" em relação à ciência histórica e crítica exposta no Capital de Marx. Neste aspecto, concordo com alguns críticos do marxismo. No entanto, quem conheça a obra filosófica, científica e política de Lenine sabe que é possível realizar a revolução desde que os elementos objectivo e subjectivo estejam unidos numa determinada conjuntura política. Quando as classes dominantes esmagam as classes dominadas retirando-lhes parte do salários e impondo-lhes impostos, a revolução popular está na ordem do dia: a fusão-união dos oprimidos é fundamental para derrubar o poder explorador e opressor.
Os grandes lideres "comunistas" e "socialistas" foram, pelo menos em finais do século XIX e princípios do século XX, grandes pensadores filosóficos. Curiosamente, o maior líder político comunista português, Álvaro Cunhal, não deu nenhum contributo significativo para o pensamento filosófico. Vejo este caso como a indicação do ódio que os portugueses nutrem pela filosofia e pela ciência. Estudar os grandes políticos do passado é condenar a mediocridade dos actuais dirigentes políticos, homens sem pensamento e sem qualidades.
Quem tentasse por estupidez escrever uma obra intitulada "O Pensamento de Passos Coelho" constataria rapidamente a inexistência de pensamento. Ora, lá onde o pensamento está ausente domina o impulso e o impulso "diz": empobrece os pobres e enriquece os ricos. Passos Coelho é o carrasco de Portugal!
A teoria leninista do imperialismo é deveras interessante: Para Lenine, o imperialismo - o capitalismo financeiro - é uma superstrutura do capitalismo industrial. Quando cai a superstrutura, fica o capitalismo na sua forma mais brutal. Ora, foi isso que aconteceu depois da crise financeira e económica de 2008. Acumulação do capital: estudem esta teoria de Marx.
E de que lado está o Estado chamado democrático? Do lado da acumulação do capital! O estado democrático é o estado do capital financeiro e monopolista.
Quando os "assalariados" - explorados e oprimidos - deixam de estudar a teoria de Marx e dos seus seguidores ficam desarmados perante a gula das classes dominantes. Interiorizar a exploração e a opressão é uma atitude pouco digna de um ser humano. Acorda e luta contra o sistema!
Eis o que Lenine poderia ter dito sobre o actual Estado Português: «O Estado Rendeiro é o Estado do capitalismo parasitário, em putrefacção, e este facto não pode deixar de influenciar as condições sociais e políticas do país em geral». O Estado paga as rendas aos capitalistas com o dinheiro - diminuição dos salários e das reformas e aumento dos impostos - que tira ao "povo".
Lenine é genial: destruição do estado social, mais burocracia e regresso ao feudalismo. Enfim, feudalismo de Estado com este a pagar rendas à classe dominante.
Não se trata de capitalismo de estado mas de feudalismo de estado: o estado saca ao povo para dar às classes parasitárias.
Não tenho nenhum "defeito" a apontar às análises de situação realizadas por Lenine: Ele encarnou em vida a unidade entre teoria e praxis, praticando um "marxismo militante", tal como também foi defendido por Ernst Bloch. Porém, sou mais intelectual do que político: a minha critica é sempre abstracta, o que lamento porque a actualidade da revolução deve estar no âmago da teoria.
Ou seja: a Filosofia deve devir-mundo: o marxismo é uma filosofia que visa a e se realiza na transformação do mundo.
A Esquerda Portuguesa precisa de líderes com formação militar: a organização do partido deve ter em conta a actualidade da revolução. O Partido Revolucionário é aquele que sabe adaptar as suas tácticas à estratégia: a conquista do poder político e a destruição da ordem vigente.
Merleau-Ponty e Sartre foram ultra-bolchevistas, pelo menos durante o período inicial anterior ao advento de Estaline. Aprovo este ultra-bolchevismo: Há um momento de terror em todas as revoluções: a liquidação da burguesia é crucial para o sucesso da revolução.
A "astúcia da razão" de Hegel e a "mão invisível" de Adam Smith introduzem o fatalismo burguês na Filosofia da História. Lenine tinha razão quando condenou o economismo e, portanto, o oportunismo da II Internacional Socialista. Marx é peremptório no Manifesto Comunista: sem a luta de classe revolucionária da classe operária não há caminho real para o socialismo. O Progresso não está garantido, podendo ocorrer uma regressão histórica que ele ilustra com a queda do império romano e as sociedades asiáticas.
Ora, há aqui algo que faz pensar: o socialismo deve ser construído pela praxis revolucionária; ele não decorre automaticamente do suposto colapso do capitalismo.
Quer dizer que a crise faz parte da essência do capitalismo. o seu colapso resulta da praxis revolucionária.
Sem ela não há socialismo.
Os economistas neoliberais esqueceram Ricardo a favor de Adam Smith. Porém, eles não devem ter compreendido "A Riqueza das Nações", sobretudo quando Smith se comporta como um dialéctico reconhecendo a negatividade do capitalismo: a riqueza produz pobreza. Smith introduz a "mão invisível" para não ser forçado a condenar o capitalismo, refugiando-se no materialismo mecanicista do século XVIII.
Cada um de nós pode participar na luta de classe dos oprimidos numa ou em todas as suas frentes: ideológica, económica e política. Porém, o primado pertence à luta política que visa a conquista dos aparelhos de Estado. Lenine ensinou-nos que a luta revolucionária de classe deve ter em vista a conquista do poder político para o colocar ao serviço da revolução.
Por que trabalhamos para os outros - capitalistas e Estado? As pessoas deviam colocar esta questão para serem reconduzidas à génese do capital que Marx pensou como "acumulação primitiva do capital": os camponeses foram expulsos dos campos, privados dos seus meios de produção e obrigados a vender a sua força de trabalho aos capitalistas industriais das cidades. O capital veio ao mundo repleto de sangue: expropriação dos camponeses, pilhagem dos novos mundos, exploração de mão-de-obra escrava, etc. Não admira que os economistas neoliberais queiram enterrar a teoria do valor-trabalho: eles querem esconder a exploração inerente ao capitalismo. A acumulação do capital explica toda a lógica do desenvolvimento capitalista e, quando há uma crise, o Estado intervém para garantir esse processo desviando o dinheiro dos pobres para as mãos dos grandes monopólios. Nós trabalhamos para os outros porque fomos e somos constantemente expropriados!
Refazer o pensamento de Marx na sua coerência interna é uma tarefa descomunal. Estremeço só de pensar nisso mas essa tarefa precisa de ser realizada para renovar o pensamento filosófico, social e político.
Nicos Poulantzas, filósofo marxista, definiu a ideologia da pequeno-burguesia de forma lapidar na sua obra "As Classes Sociais no Capitalismo de Hoje". E associou-a ao fascismo e às ditaduras: Temendo a sua proletarização, a pequeno-burguesia acredita no Estado neutro acima das classes, fetichizando o poder político, ao mesmo tempo que anseia por mudanças sem que o sistema mude. Enfim, reconhecem aqui alguns aspectos da ideologia da classe média portuguesa.
O PSD quer castrar os homens portugueses, abolir a sua sexualidade, depois de lhes ter reduzido os salários ou as pensões, em nome da "NOVA NORMALIDADE", isto é, do neoliberalismo da pobreza!
George Weinberg, um psiquiatra americano famoso, dizia que nunca considerava são um paciente, a menos que tivesse superado o seu preconceito contra a homossexualidade. Estamos no século XXI e chegou a hora dos portugueses recusarem ser governados por homófobos que usam a sua frustração para torturar a população portuguesa. Ser homófobo é ser "paneleiro", isto é, um homossexual que não desfruta da sua sexualidade. Quereis ser governados por doentes mentais?
A Teoria de Marx foi falsificada tanto pelos adversários como pelos aliados. Há o marxismo de Marx, o marxismo de Engels e diversos outros marxismos, uns reais e outros imaginários. Sem uma compreensão correcta do marxismo, isto é, da obra de Marx, estamos condenados às "inevitabilidades" do neoliberalismo que enriquece uma minoria e empobrece a maioria das pessoas.
As pessoas pensam que a "heterossexualidade" garante a normalidade da educação dos filhos e do funcionamento mental, esquecendo que os maiores crimes da humanidade foram cometidos por indivíduos heterossexuais e que a maior parte das famílias disfuncionais são heterossexuais. A personalidade de uma pessoa não pode ser reduzida à sua orientação sexual. Quem se defina exclusivamente pela sua orientação sexual é uma pessoa fragmentada, um autêntico fetiche sexual.
Já vai lá o tempo em que o Trabalho era o Destino; hoje, graças à implementação das políticas neoliberais, o DESEMPREGO é o DESTINO. A sociedade contemporânea é muito complexa e incerta; porém, acredito que ainda podemos controlar essa incerteza, impondo um novo rumo ao Ocidente numa perspectiva para além da Direita e da Esquerda.
O Estado Social - ou melhor, o Estado-Providência - é criticado pelo pensamento conservador e neoliberal há décadas. No entanto, em Portugal, essas críticas nunca foram pensadas e divulgadas, até porque esse Estado foi usado pelo cavaquismo para enriquecer meia dúzia de famílias à custa da destruição da economia. Cavaco Silva é e continua a ser o grande demolidor da sociedade portuguesa. O neoliberalismo dito português é antipatriótico e antinacionalista, o que não sucede com o neoliberalismo britânico. A classe dirigente portuguesa é a maior inimiga do todo nacional.
No entanto, apesar do seu triunfo após a queda do comunismo e do keynesianismo, o neoliberalismo é atravessado por diversas contradições, uma das quais é a seguinte: a defesa das forças de mercado destradicionaliza a vida social e individual, o que colide com a agenda de legitimação neoliberal que pretende salvaguardar a tradição. O referendo à adopção por casais homossexuais faz parte dessa agenda neoliberal a favor dos velhos valores familiares. Ora, o que destrói a família não é a política tola da esquerda, mas a própria expansão do mercado e do individualismo. As aporias do neoliberalismo merecem ser estudadas.
A leitura que Paul Ricoeur faz do desenvolvimento da teoria de Marx é simplesmente fabulosa: além do rigor com a tradução dos conceitos, introduz trabalho (hermenêutico) de conceitos. Como é evidente, encharcados de hormonas, os marxistas - salvo raras excepções - nunca foram rigorosos na apresentação da filosofia de Marx, repetindo eternamente os mesmos disparates materialistas e vulgares canonizados por Engels. Ricoeur lembra sempre: os textos de Marx são textos abertos e a sua obra permanece inacabada.
Estive a ler uma obra póstuma de Louis Althusser e fiquei chocado com a referência constante ao movimento revolucionário operário. Ora, a obra traz novidades teóricas que merecem ser pensadas porque clarificam a teoria marxista do Estado e da Ideologia. Porém, o seu partidarismo é detestável...
Tenho estado a ler obras marxistas e não-marxistas sobre Ideologia e o que constato é que os autores marxistas são menos inteligentes que os autores não-marxistas. De facto, com estes marxistas a teoria de Marx nunca poderá ser aprofundada. O rompimento com a classe operária - inculta e reaccionária - permite revisitar a teoria de Marx sem esse peso enfadonho que é o "comunismo". Sem erudição, inteligência superior e espírito crítico não há teoria social e filosófica.
Quando aborda as crises económicas, Marx expõe uma teoria do equilíbrio dinâmico do capitalismo que não é compatível com a tese do colapso do capitalismo. Como é evidente, apesar de ser bem intencionada, a teoria do proletariado revolucionário enquanto projecto político é irrealista, no sentido de esquecer a inércia da natureza humana. Ao ser aprofundada, a teoria do desenvolvimento capitalista de Marx aponta noutra direcção, ao mesmo tempo que nos lembra que somos nós que fazemos a história.
Eu - enquanto biólogo - nunca gostei da teoria geral dos sistemas e a sua aplicação à sociedade repugna-me: a teoria dos sistemas é medularmente conservadora, além de não explicar nada. Rejeito Parsons e Luhmann e condeno Habermas: Conservadorismo reaccionário é o que vejo em acção nestes autores.
Vejam este verso medieval:
"O Rico no seu castelo,
O Pobre no seu portão.
Deus os fez grandes ou pequenos
E ordenou a sua condição".
A justificação ideológica medieval da exploração dos pobres pelos ricos e da misericórdia cristã.
A etimologia da palavra polaca "bogaty" que significa "rico" indica um ponto de vista semelhante ao do verso medieval: "Bog" significa "Deus". A estratificação social dicotómica está sedimentada na linguagem que, segundo Marx, é consciência social.
Concordo com a tarefa de livrar a linguagem da opressão que se inscreveu nela: a terapia linguística é fundamental para a crítica da sociedade vigente. Falamos a linguagem do opressor!
Eis a exortação de Shelley na sua canção aos Homens de Inglaterra:
"Homens da Inglaterra, por que arar
Para os senhores que vos irão maltratar?"
Quando estou a ler não gosto de ser interrompido. Hoje uma amiga interrompeu as minhas leituras para falar de trivialidades. Ora, enquanto falava, continuei a ler. E ela interpretou isso como se estivesse "doente" ou "triste". Comportamento típico das mulheres portuguesas!
A Viragem para Nietzsche paralisou a própria Filosofia: Foucault revela de certo modo essa paralisação da filosofia na sua teoria do poder. É fundamental recuperar a noção de fábrica elaborada por Marx e confrontá-la com a prisão de Foucault. Fábrica e Prisão: o poder disciplinar está presente nestas instituições, embora haja diferenças entre elas.
Marx não elaborou uma teoria sistemática do poder mas deu todas as indicações para a sua formulação. Há, portanto, uma teoria marxista do poder e do Estado: a sujeição é desde logo uma categoria marxista que deriva da sua teoria da ideologia. É falta de honestidade intelectual atribuir uma coisa a Marx e depois explicitar o seu pensamento como se este lhe fosse estranho: apropriação desonesta do pensamento alheio.
O Século XX foi talvez o século mais brilhante da História da Humanidade, logo a seguir ao século XIX: as Guerras Mundiais não podem ter a última palavra na sua avaliação. Filosoficamente, foi um século brilhante e penso que as obras produzidas devem ser reeditadas e estudadas. Devemos despedir as obras contemporâneas porque carecem de qualidade e de credibilidade científica.
Ando atormentado com uma ideia: Ernst Bloch criticou a psicanálise de Freud, alegando que o impulso básico não é o sexo mas sim a fome. Esta crítica de fundo foi eclipsada pela sua crítica dos sonhos nocturnos, aos quais opôs os sonhos diurnos de um mundo melhor. Como é evidente, Bloch tem razão: a fome transformando-se em docta spes pode conduzir à revolução social. Mas a fome saciada também priva a humanidade da revolução, tal como o sexo permissivo. Há aqui uma dinâmica que urge pensar porque a fome volta a estar na ordem do dia.
Indo à página inicial, fiquei a saber que houve outra expulsão no Desafio Final. Eu acho que os portuenses e os nortenhos deviam romper com estes programas manipulados pela produção lisboeta. As pessoas do sul nutrem um ódio descarado pelo norte. Mais uma razão para lutar pela independência do Porto/Norte.
Nietzsche nunca poderá ser a referência de uma crítica radical da ordem existente: a sua influência produziu o chamado novo conservadorismo filosófico. Tenho estado a ler diversos ensaios de Marcuse onde ele critica as contradições da sociedade americana e da sua ideologia. Apesar de reconhecer que o proletariado já não é o agente da mudança social qualitativa, Marcuse não abandona o núcleo duro do marxismo: a sua obra é de cariz marcadamente político, o que o coloca ao lado dos grandes mestres do marxismo: Marx, Engels e Lenine.
Eu sempre fui independente. Porém, na actual conjuntura do futebol nacional, nós portistas devemos ser prudentes nas críticas que fazemos ao FCPorto. Os inimigos estão a usá-las para "sujar" o nosso clube. Devemos permanecer unidos contra os inimigos, cuja estratégia é manipular o futebol para garantir no escritório a vitória dos seus clubes. A nossa unidade é contra os nossos inimigos. Fazer o seu jogo sujo é uma estupidez. O Presidente da Colômbia veio visitar Falcão ao Porto. Luta pela nossa autonomia radical: somos anti-mouros!
O objectivo de uma educação verdadeiramente portuense, portanto libertadora, é imunizar os jovens e os adultos contra os meios de comunicação lisboetas, dar acesso total à informação eliminada ou bloqueada por esses meios, induzir a desconfiança metódica nos políticos e dirigentes centralistas, e gerar o clima favorável à organização do protesto activo contra o poder central e a sua negação efectiva. Não podemos permitir que a ralé lisboeta tente humilhar o Porto. Porém, é preciso eliminar os portuenses anti-portistas primários, os parolos do Norte.
Neste território que dá por nome Portugal só podemos ser livres quebrando a sua falsa unidade. Recusar esta falsa unidade nacional é ser Portuense e Nortenho mediante um passo em frente: a busca de uma nova unidade enraizada no nosso passado celta.
As pessoas do Norte devem recusar socializar com as pessoas do Sul. Vejam o que se passa no Desafio Final: a TVI promove o chulismo sulista e talvez com a votação de muitas pessoas do Norte pouco informadas. Desliga os canais lisboetas e não contribuas para a perpetuação de uma mentira quase milenar.
Promove uma nova cultura portuense e socializa os jovens para a libertação final. As pessoas do Norte não devem participar nestes espectáculos de degradação sulista. DESLIGA OS CANAIS LISBOETAS! NÃO QUEIRAS SER PALHAÇO!
Se fosses uma pessoa esclarecida, já devias saber que os sulistas perpetuam o seu poder através da hegemonia que têm nos meios de comunicação social: todos os seus símbolos de (falsa) unidade nacional são símbolos opressivos para o Norte. Eusébio, Benfica, Sporting, o mausoléu nacional, o fado, enfim todas essas tretas carecem de sentido para nós que somos do Norte. A hegemonia combate-se com outra hegemonia: a nossa libertação!
Estou a ficar "conservador" no bom sentido do termo: Entre épocas do espírito e épocas do corpo, escolho as primeiras. Na minha juventude precoce, cheguei a elaborar o programa da racionalidade investida na gratificação corporal e sexual. Porém, desde cedo que compreendi que estava errado: o primado cognitivo pertence ao espírito!
Sócrates foi condenado à morte. O episódio é conhecido mas foram poucas as pessoas que compreenderam a interpretação de Platão da morte do mestre: a apologia da Polis em detrimento do indivíduo. Platão inaugura a concepção ontológica da morte ou aquilo a que podemos chamar a ideologia da morte do Ocidente desde Platão até Heidegger. Ora, o conceito ontológico da morte é um conceito político: o poder da morte é também o poder da vida. As guerras americanas exemplificam o carácter político da metafísica da morte.
Apesar de estar ciente desta conexão entre morte e política, não descarto completamente a ontologia ocidental da morte, a qual precisa de ser reavaliada em função da descoberta do seu carácter político. Há uma alternativa entre a atitude estóica e a glorificação idealista da morte.
O estado da cultura no mundo pode ser avaliado em função da "qualidade" - ou falta de qualidade - desta rede chamada Facebook: Eu tento dar a palavra aos meus amigos virtuais mas não tenho resposta. A cultura superior está morta: a massificação é contrária ao sentido da cultura.
O português perdeu a VERGONHA, se alguma vez a teve. Não sei como é que os pais dos participantes da Casa dos Segredos - Desafio Final podem olhar os filhos sem sentir profunda vergonha deles. Se fosse pai de uma dessas criaturas atrofiadas mentalmente rejeitava a paternidade. Mas como não sou pai de nenhum deles fico envergonhado com os portugueses. Sim, os portugueses envergonham-me, sinto nojo deles.
Regressámos à era do orangotango: os meninos-músculos exibem-se badalando o pénis no Desafio Final e as meninas sonham com uma sessão de estocadas-orangotango. A era do orangotango é uma era de jovens masculinos, onde as mulheres são espectadoras passivas. O orangotango é o homem reconduzido à sua animalidade ancestral.
A minha geração rejeitou a cultura nacional pimba. Porém, a cultura pimba foi retomada pela geração mais nova que a celebra com copos de vinho nas mãos. O défice cognitivo é compensado pela hipertrofia muscular.
O Zézinho do Algarve que diz ter comido "muitas gringas" tornou-se o símbolo da masculinidade portuguesa, pelo menos da masculinidade sulista. Praia e proxenetismo: eis o ideal de vida "nacional" difundido pela TVI e outros canais de televisão. A Teresa Guilherme é a madrinha de um tal movimento "nacional", reforçando a mensagem: Vende o pénis e faz parte da elite nacional de chulos!
Ah, eu bem sabia a razão que me levava a não descartar a ontologia ocidental da morte. Trata-se de um aspecto em que divirjo de Marcuse: a sua luta contra a morte leva-o a defender a redução da natalidade. Ora, a mortalidade não é nesse sentido política; a natalidade sim é política. Há outra visão da morte mais lúcida do que o prolongamento artificial da vida que, no fundo, implica a morte da sociedade. Uma teoria da mudança social implica renovação populacional.
Viva
Estás familiarizado com a obra de Alain de Benoist ?
Este é um ensaio que talvez te interesse:
http://www.polemia.com/les-demons-du-bien-dalain-de-benoist/
Depois de ler os meus mestres alemães e de os ter acompanhado no dialéctica da ocupação e da quietude, do desassossego e do sossego, resolvi pegar no "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa. Ora, este poeta português é um vazio pleno: biografia sem factos, história sem vida e alma. Fernando Pessoa foi toda a sua vida um ignorante, um vazio cognitivo. Se leu alguma coisa de jeito, não compreendeu nada do que leu: o seu "livro" não pode ser pensado filosoficamente porque não tem nada a dizer. Resta-nos esquecer Fernando Pessoa e a sua "obra"; afinal, ele não viveu a vida.
Aqueles que dizem admirar a obra de Fernando Pessoa deviam apresentar um estudo rigoroso dessa obra. Não basta dizer que o "Livro do Desassossego" é um grande livro ou um grande anti-livro; é necessário analisá-lo. Ora, quando chega o momento da análise, as vozes da admiração ficam em silêncio.
Não adianta querer tapar o sol com a peneira: Fernando Pessoa não foi um grande poeta. "Mensagem" é uma mistificação poética e foi a única obra de poesia que publicou em vida. O "Livro do Desassossego" é uma manta de retalhos. A prosa de Fernando Pessoa é feia: ele escreve mal o português. Não há filosofia no seu pensamento: há - isso sim - uma certa resignação ao fascismo. Acho que a sua "ciência das sensações" pode ser lida em chave fascista.
Um biografo brasileiro de Fernando Pessoa descobriu ou redescobriu que o poeta era dotado de um pénis pequeno. Infelizmente, não temos uma leitura psicanalítica da sua vida e da sua obra capaz de mostrar se essa particularidade anatómica teve algum efeito castrador sobre a sua obra. Porém, a sua ciência das sensações tem um carácter feminino. Diz o poeta no "Livro do Desassossego": «A mulher que sou quando me conheço». Fernando Pessoa foi uma mente feminina prisioneira no corpo masculino deficiente.
Vejam o começo do "Livro do Desassossego", aliás prometedor: Nem Deus nem a Humanidade, afirma Fernando Pessoa. Com esta "reacção" o poeta passa ao lado das problemáticas do seu tempo. O facto de teimar em falar do tédio mostra que não compreendeu o seu tempo. Um nulidade de pensamento! Um homem burro!
Fernando Pessoa é tão burro que não compreendeu a temática da metafísica. Nas suas Páginas Filosóficas, parece estar evidente que a retomou de um manual de filosofia sul-africano. Aliás, este é um problema dos pensadores portugueses desse tempo: ausência de obras, leitura escassa, falta de compreensão, incapacidade de apropriação criativa dos grandes textos, miopia intelectual, excesso de imbecilidade.
O primeiro homem culto em Portugal foi o portuense Sampaio Bruno. Embora não aprecie a sua escrita, aliás feia, admiro a sua ousadia e o seu trabalho teórico: Bruno tentou conversar com alguns grandes mestres, entre os quais Karl Marx e Hegel. Porém, suspeito que o seu conhecimento destes mestres era indirecto: Bruno não leu O Capital ou a Fenomenologia do Espírito. A leitura dos espiritualistas franceses bloqueou o pensamento português.
Leonardo Coimbra, outro portuense, produziu uma ou diversas filosofias em língua portuguesa. Aprovo o antipositivismo dos portuenses e até aceito a influência de Bergson. Porém, o estudo de Leonardo Coimbra dedicado a Bergson é uma monstruosidade: nunca li tantos disparates juntos! Devemos queimar essa obra e reter as outras mais sérias.
Sampaio Bruno pensou implicitamente o EXÍLIO INTERIOR como condição portuense neste ermo chamado Portugal. Porém, o seu republicanismo não o levou a pensar a autonomia radical do Porto como antídoto contra esse exílio em solo pátrio. Toda a filosofia de Bruno permanece por explicitar. Ele foi sem dúvida o filósofo portista mais ousado e puro.
A "Condição Humana" de Hannah Arendt é uma tremenda trapalhada conceptual que, tanto quanto sei, ainda não foi denunciada. O conceito marxista de trabalho não é equivalente ao seu "labor". Marx não reduziu a condição humana ao "labor" entendido como troca metabólica com a natureza. Aliás, o metabolismo não é verdadeiramente condição humana porque onde há vida há metabolismo. Resta-nos apenas o trabalho e a acção ou praxis, ambos pensados por Marx.
Decidi levar a cabo a desconstrução do universo político de Hannah Arendt. Recusando ser tratada como "filósofo", dado não ser homem, Arendt desafia do interior a tradição masculina da Filosofia Política. A sua última obra política ocupou hoje o meu tempo livre: a sua nova filosofia política implica a existência da escravatura, o que mina a sua crítica do totalitarismo, aliás uma mitologia conceptual. Mas há outra mulher na Filosofia: Agnes Heller, discípula de Lukács.
A condenação de Sócrates marca o início da Filosofia Política e, ao pensar essa condenação, Platão inaugura o divórcio entre Filosofia e Política que Marx volta a unir para tornar o mundo filosófico. Ora, lendo Arendt, sou forçado a condenar a política e sobretudo os políticos, a menos que o política esteja ao serviço da Filosofia. A minha condenação da política como mal menor é extensiva à liquidação das ciências sociais. A tarefa da Filosofia é demolir estas técnicas de adaptação ideológica.
Fico com a pulga atrás da orelha sempre que ouço um filósofo a traçar linhas de demarcação entre a filosofia socrática e a filosofia platónica. Esta tendência que remonta a Aristóteles foi retomada por Popper e, mais tarde, por Arendt. É certo que há uma diferença entre ambos mas Platão será para sempre o Divino Filósofo! Graças à sua obra, Sócrates conquistou a imortalidade terrena.
Hannah Arendt é uma cabra insensível ao sofrimento dos escravos: o seu desprezo pelo Trabalho e pelos trabalhadores implica uma ideia terrível da política como arena onde os homens desocupados lutam pela sua imortalidade terrena. A sua atracção por Homero revela isso: uns são livres e dedicam-se à política, outros são escravos e trabalham para satisfazer as necessidades metabólicas dos poucos livres. Que tipo de governo é este a não ser a mais terrível dominação de poucos sobre muitos?
O alemão é a língua mais filosoficamente trabalhada e pensada: Não sei como traduzir certas expressões de Ernst Bloch usando o verbo devir sem recorrer a outros verbos. Literalmente a tradução perde impacto.
Abandonei o projecto do regresso ao lar, embora ele tivesse como objectivo fracturar Portugal: O Lar sempre-é o Porto. Hoje esse projecto deveria ser pensado como autonomia radical do Porto. A pátria da identidade é o Porto.
A Pátria da Identidade corresponde ao lar paterno: a reconciliação consigo mesmo e com o mundo. Ora, na poesia portuense, só Guerra Junqueiro pensou o lar, o solo pátrio, a terra natal. Ora, pensar o Porto como abertura ao mundo implica renovar os verbos portugueses, de modo a lhes dar historicidade no sentido de processo em marcha para a frente. A autonomia futura ilumina o passado e exige irrupção no presente. O pensamento dialéctico é fracturante: a pseudo-unidade nacional cede o seu lugar à unidade Porto-Norte, a qual se afirma contra o Sul.
A falta de vergonha dos portugueses envergonha-me: a corrupção é endémica neste ermo chamado Portugal. Enfim, prefiro ocupar o meu tempo livre lendo a obra de Ernst Bloch, cuja crítica da psicanálise é mais apaixonante do que pensava. A psicologia da burguesia é míope e Jung é um fascista!
A conjugação do verbo devir em português não capta a riqueza do mesmo verbo em alemão. Não sei como traduzir em português certos verbos usados por Bloch, a não ser criando formas novas.
Wittgenstein voltou a colonizar a minha mente não enquanto estou desperto mas enquanto durmo e sonho. Ora, numa destas noites, li as Investigações Filosóficas enquanto dormia. Quando acordei, folheei a obra para sublinhar as frases que tinha retido durante o sono. Uma filosofia séria nunca pensa a "vassoura que está no canto": a leitura leninista do copo de água faz de Wittgenstein um reaccionário ultra-conservador.
Wittgenstein não se realizou enquanto gay. Se ele tivesse sexado mais teria pensado de outra maneira. Em vez da comunidade teríamos sociedade em devir...
Os espanhóis estão presentes no cultura mundial e no imaginário de muitos povos, o que não acontece com os portugueses. No entanto, os espanhóis não sabem tirar partido dessa presença.
A Cultura Portuguesa, sobretudo a que irradia de Lisboa, é uma catástrofe: figuras saloias que simulam meras pretensões culturais produzindo merda e mais merda.
Dizem os saloios que Portugal é um "país de poetas", como se isso compensasse o défice filosófico. Ora, a verdade é que não há um único poeta português que mereça ser lido e meditado: a poesia portuguesa é lixo!
Ah, se não concordarem com a sentença anterior, proponho um exercício: pensar o tédio na poesia portuguesa. Trata-se de uma experiência genuína ou de uma importação artificial do alheio?
Elias Dunn:
Conheço alguma coisa sobre Benoist. Obrigado pela sugestão!
Hannah Arendt definiu-se como uma teórica política. Leio a sua obra e fico sem saber qual é o seu projecto político alternativo: Um regresso à Grécia de Homero ou à Roma de Virgílio? A sua teorização abusiva do totalitarismo ofuscou a sua capacidade de pensar alternativas: será a aristocracia uma alternativa ao totalitarismo? Mas afinal o que é o totalitarismo? O Nazismo? Mas nesse caso não se compreende a sua crítica do "comunismo"! O medo das massas e dos trabalhadores?
Ao ler Hannah Arendt detecto um mal-estar em relação aos judeus: A sua enorme admiração pelo mundo clássico - Grécia e Roma - leva-nos a encarar o cristianismo como algo estranho ao mundo ocidental iniciado pela acção de Roma. Ora, se levarmos em conta este mal-estar, somos forçados a ver de perto as ambiguidades do seu pensamento sobre o totalitarismo. O mundo pode dar muitas voltas mas força e poder andam sempre de mãos dadas. A Europa que apoia os rebeldes da Ucrânia é a mesma Europa que reprime usando a força policial as suas manifestações rebeldes internas. A Europa também é totalitária no sentido de Hannah Arendt: usa a força não só na política externa mas também na política interna.
Hannah Arendt é tão arcaica que tende a reduzir a História à arena onde os grandes homens libertos da necessidade lutam pela fama imortal. Quando analisa alguns conceitos marxistas, desvincula-os da sua base material - a crítica da economia política, de modo a fazer de Marx o consumador da tradição ocidental. A Guerra de Tróia foi uma guerra total; porém, a imparcialidade de Homero salvaguardou a memória dos vencidos. Arendt contenta-se com este resgate literário: a realidade da produção social não lhe interessa. Ora, Hitler soube trabalhar para a sua glória imemorial... Arendt não viu as contradições internas da sua teoria política: os judeus podiam tanto ser reduzidos à escravatura como à eliminação.
A Ciência da História fundada por Marx é muito mais complexa do que se pensa; daí talvez deriva a diversidade de marxismos que se geraram depois da sua morte. Marx fala de indivíduos envolvidos na produção social: Há desde logo aqui uma dupla abordagem que os marxistas não souberam articular. Relações de produção e forças de produzem são conceitos complexos. Falta seguir o caminho que leva da mercadoria a esses conceitos e isto no que diz respeito ao modo de produção capitalista. A tópica infraestrutura - superstrutura deve ser articulada com a análise do segredo da mercadoria: a filosofia de Marx está elaborada no Capital.
O que é o materialismo para Marx? O primado da matéria sobre o espírito? Ora, este materialismo metafísico é claramente abandonado por Marx quando afirma que a dialéctica é a própria história. Da alienação ao fetichismo da mercadoria há um aprofundamento de uma antropologia crítica que constitui o núcleo duro da filosofia de Marx. Sem esta antropologia fundamental o marxismo estaria condenado a ser um estruturalismo imobilizante. A mercadoria que encobre uma relação social de exploração revela essa antropologia.
A categoria que mais me fascina no Capital de Marx é a Circulação do Capital que lhe permite pensar a crises capitalistas: o trabalho de abstracção de Marx é fabuloso. Infelizmente, os marxistas esqueceram a sua teoria do dinheiro que foi retomada por Simmel. A economia não é uma ciência, mas a sua crítica abre as portas à ciência da formação económica da humanidade. Já leram o que Marx diz sobre a compra e a venda? A macroeconomia não era estranha a Marx!
As pessoas são chatas quando colonizam os nossos ouvidos com os seus problemas pessoais e familiares, repetindo-se até à náusea. Enfim, desliguei-me e continuei a ler Frazer fingindo algum contacto com o exterior.
Os inimigos acusaram o marxismo de ser uma religião secular e uma ideologia de Estado. Os pressupostos desta leitura do marxismo são falsos, embora possam ser usados contra o neoliberalismo. Afinal, o que é o neoliberalismo? Uma religião-teologia de mercado e uma ideologia de Estado do chamado mundo livre.
Será o marxismo uma forma de evolucionismo? A ideia de progresso tal como tematizada por Hegel teve impacto sobre o marxismo. Porém, Marx nunca descartou a possibilidade de regressão histórica e de queimar estádios de desenvolvimento, e Engels chega a elaborar uma filosofia dual da história quando diz que o Ocidente encarna o progresso e o Oriente a estagnação cíclica.
Estou a reler Frazer porque a Escola de Cambridge retomou um programa iluminista do século XVIII para o aplicar ao século XX: Bertrand Russell foi um dos seus principais expoentes, casando Hume com a lógica moderna. Ora, o mesmo programa é usado por Frazer para fazer face ao problema da diversidade cultural.
Na condição de exilado, conheço bem diversas tradições nacionais do pensamento, excepto a portuguesa que simplesmente não existe. Todo o meu conhecimento é profundamente estranho a Portugal; daí que não possa ser português.
Ontem, ao ver um documentário sobre o Egipto, Cairo e seus arredores de pobreza, tematizei todo esse material mediado em termos conceptuais. E lembrei-me dos ingleses de Cambridge: Sem recurso à biologia não podemos explicar a estagnação do Oriente e o seu caos aparente e real.
Estou espantado com o facto da publicação de "A Sociedade Aberta e os seus Inimigos" de Karl Popper não ter sido alvo de um ataque filosófico cerrado: a obra é francamente medíocre e pobre. Aliás, toda a filosofia de Popper é medíocre. O elogio de Russell e Ryle é o elogio de duas figuras filosóficas medíocres. Sim, é preciso dizer a verdade: a filosofia de Russell é medíocre!
Popper inventou uma nova entidade a que chamou "historicismo" para a culpar do totalitarismo: Heráclito, Platão, Aristóteles, Hegel e Marx são responsabilizados pelo totalitarismo que Popper define como "sociedade fechada". Ora, nenhum destes autores se deixa aprisionar nessa entidade chamada historicismo, para a qual Popper cria uma lei historicista. Popper é uma vaca parda: critica o historicismo criando leis historicistas!
A raiz do totalitarismo reside - segundo a vaca chamada Popper - na doutrina do povo eleito, a qual está por detrás do totalitarismo de direita - a teoria da raça eleita - e do totalitarismo de esquerda - a teoria da classe universal. Porém, Popper não diz nada sobre o fascismo, como se a Áustria tivesse sido invadida pelo exército vermelho, em vez do exército nazi. É preciso ser intelectualmente desonesto para elogiar o carácter formal da democracia, ou melhor, a mão invisível do mercado.
A descoberta de Civilizações Perdidas deixa-me perplexo: A nossa ignorância histórica é aterradora. A possibilidade da nossa própria civilização ser destruída por uma catástrofe natural altera profundamente a nossa filosofia da história. Estou convencido de que a nossa civilização já entrou em colapso aguardado apenas a chegada da catástrofe.
A História não tem Sentido porque, segundo a vaca chamada Popper, não existe História. Porém, mais à frente, a vaca popperiana diz que podemos dar um sentido à História, o que quer dizer que ela existe. E logo a seguir edita uma adenda sobre o dualismo Factos-Decisões. A vaca popperiana faz o que fazem os inimigos da sociedade aberta negando-lhes esse direito. Popper decide por todos e, deste modo, enterra a democracia.
Enfim, Popper tanto refutou as teorias dos outros que acabou por perder a pila nesses combates inglórios. Aliás, nem sei se ele chegou a ter pila... ou se nasceu "traveca".
Popper só sabia conjugar um verbo, o verbo mamar. O que ele fez foi mamar o génio dos outros. Grande vaca esta!
Estou chocado com a crítica que Popper dirige à Filosofia Política de Platão, o divino filósofo. Conclui que a concepção liberal da autonomia da política é, ela própria, totalitária. Mas estou a aprofundar este assunto.
A Política não pode ser pensada desvinculada da esfera económica: a autonomia da política pensada por Hannah Arendt tem um pressuposto, a trabalho dos escravos que satisfazem as necessidades dos políticos. Estes só são livres porque outros trabalham para eles, libertando-os das trocas metabólicas com a natureza.
Popper pensa a sociedade aberta como sociedade abstracta. Ora, quem conheça O Capital de Marx sabe o que significa a "sociedade abstracta": o domínio do quantitativo e da racionalidade meios-fins. Uma má definição de sociedade aberta: o mercado e os seus cálculos colonizam a democracia e o mundo da vida. Popper critica Platão usando Marx e critica Marx usando Marx: as distinções que estabelece são artificiais.
Quando estabelece a distinção entre engenharia utópica e engenharia gradual, Popper esquece que a experimentação social - em grande escala ou em pequena escala - visa moldar a realidade social e humana. A engenharia é filha da racionalidade instrumental.
Popper atribui a teoria da soberania a Platão e defende a teoria da fiscalização do poder. Não tenho nada a dizer, a não ser lembrar que, apesar de vivermos numa sociedade dita democrática, o governo colocou os quadros de Miró à venda numa leiloeira de Londres. Ora, para tal violou a própria lei sem ter sido fiscalizado. Ora, para Popper, o governo português é autoritário e antidemocrático. Enfim, a fiscalização democrática fallha...
A Filosofia Política de Popper é desmentida a partir da actual agenda neoliberal: a "revolução" protagonizada pelo actual governo português é absolutamente totalitária e opressiva. Entregue a si mesmo, o liberalismo é totalitário. Aliás, o seu nascimento foi revolucionário e sangrento. A dominação não pára de crescer...
Karl Popper foi um homem detestável. Porém, apesar do seu complexo de inferioridade, vale a pena ler a sua obra para aprender com os seus erros. A sua crítica do nacionalismo germânico ensina-nos a nós portuenses que devemos lutar pela nossa autonomia e romper de vez com essa pseudo-nação que é Portugal.
Popper condena a Filosofia de Hegel dizendo que é uma apologia do prussianismo e da restauração feudal. Ora, esta crítica é claramente marxista: O que não entendo é como Popper depois de usar Marx para criticar Hegel pode - logo a seguir - associar o marxismo ao fascismo nazi. Além disso, o racismo não foi uma invenção prussiana e muito menos platónica: A Inglaterra endeusada por Popper foi profundamente racista e Darwin elaborou esse racismo dando-lhe uma justificação biológica. Popper é extremamente sectário.
Reduzir a história a uma luta entre totalitarismo e liberalismo é fazer violência sobre a história. E esquecer que actualmente o liberalismo é totalitarismo. Popper não pode defender a causa dos oprimidos sem fazer a crítica radical do liberalismo triunfante que comete os maiores crimes em nome da teologia do mercado. Inglaterra e USA são países extremamente nacionalistas: o liberalismo global continua a ser nacionalista. Popper esquece que o nacionalismo é uma força histórica efectiva: as contradições do mundo não podem ser resolvidas por decreto teórico.
O racismo é algo estranho à Filosofia de Platão: a Lei dos Metais é classista mas não é racista. A interpretação popperiana de Platão é abusiva: a utopia da ordem de Platão supõe um regime de castas mas não é racista ou mesmo totalitária. O marxismo é a crítica do classismo. O liberalismo não sobrevive à liquidação das classes sociais, até porque foi ele que inventou a sociedade de classes, espoliando as classes trabalhadoras.
Infelizmente, desconhecemos a composição racial dos bárbaros. Eu nunca li na literatura grega nada contra negros, amarelos ou castanhos. Há os gregos e os bárbaros. Mas esta distinção é universal: os astecas que não sabiam nada de filosofia platónica tb distinguiam entre eles e os outros, os não-civilizados.
Além disso, apesar de ser contra as desigualdades sociais e a exploração de classe, não há nada na teoria de Marx que me obrigue a fazer a apologia da integridade cognitiva e moral dos indivíduos das classes oprimidas. O marxismo não é uma teologia da classe operária. É isso que Popper não compreendeu. Quando Heráclito condena os homens que enchem a pança, ele está cheio de razão: a História como dominação não abona a favor do Homem.
O que Popper diz sobre a MENTIRA é deveras interessante porque as maiores mentiras são ditas pelos lideres políticos dos Estados Democráticos. O Poder mente sempre... Platão é realista: o que adianta dizer a verdade à ralé? A ralé não tem capacidade intelectual para compreender a verdade; a ralé quer é ter comida... e segue qualquer tirano que lhe prometa abundância.
Popper é tão burro que não compreendeu que Marx foi sempre um individualista: o colectivismo que lhe atribui é uma mentira. Popper faz aquilo que critica aos outros: Mente e constrói mentiras que atribui aos outros para depois as "refutar". Falar da luta de classes como motor da história nacional não é incompatível com a defesa da individualidade. A crítica que fazemos ao Ego Transcendental de Husserll pode ser aplicada ao individualismo anárquico de Popper: as relações sociais e a linguagem estão sempre-já incorporadas no ego cogito.
Ele não é burro; age de má-fé. Mais: Se há um ego puro esse eu só pode ser a alma platónica que é imortal. O marxismo deve ser corrigido mas não descartado. A luta de classes não explica tudo, como é evidente. Aliás, quem conheça a história da filosofia sabe que o individualismo metodológico - como lhe chama Popper - gera o monólogo e não o diálogo.
É muito simples refutar o liberalismo de Popper, bastando estudar a história das civilizações pré-colombianas que não foram marcadas pela Filosofia de Platão ou pelo judaísmo. Encontramos nelas os mesmos princípios que Popper atribui ao tribalismo, isto é, à sociedade fechada: o que quer dizer que Platão tratou de "matéria de facto": a sua teoria da política tem poder teórico-universal.
Hoje sou um extraterrestre que observa de longe as actividades dos humanos e, como qualquer outro extraterrestre digno desse nome, penso se não será preferível liquidar de vez o mundo dos humanos. Como é evidente, excluo os portugueses da humanidade: a sua eliminação é a atitude mais correcta.
Um pai nunca deve educar a sua filha como se ela fosse uma "princesa": o mundo das princesas ruiu há muito tempo, se é que chegou a existir. Hoje o mundo das mulheres é o mundo das gatas-borralheiras, na melhor das hipóteses, ou das mulheres da limpeza, na pior. O universo da princesa incorporado pela mente feminina produz mulheres frustradas.
Se não fosse pela sua escrita tipicamente feminina, diria que Hannah Arendt foi um homem que escreveu usando um nome feminino: o que denuncia a feminilidade de Hannah Arendt é a sua escrita que tenta captar dois universos masculinos: o filosófico e o político.
Só uma mente masculina é capaz de superar as limitações terrestres do cérebro humano: a astronomia é uma criação masculina. Os homens que reduzem o diálogo ao intercâmbio interindividual são sexualmente atípicos, ou pior, são a vergonha do sexo masculino: Choram como as mulheres!
Rir e Chorar são os extremos do comportamento humano que «reflectem» a posição peculiar do homem no universo. Plessner esqueceu a diferença sexual radical: o riso é masculino, o choro é feminino. O riso masculino levou o homem à conquista do espaço exterior: o seu mundo é o cosmos.
O princípio da incerteza de Heisenberg tem uma significação antropológica radical: Por mais que se distancie da Terra e de si próprio, o Homem está condenado a descobrir-se a si próprio.
Ortega y Gasset foi o único filósofo espanhol que se tornou famoso no mundo. Descobri há pouco tempo que ele criticou a sexta meditação cartesiana de Husserl, adoptando a atitude natural. Noutro dia ouvi um homem do Porto a dizer que era fenomenólogo sem se preocupar com a redução transcendental. Husserl marcou a filosofia ocidental lá onde os seus "discípulos" abandonaram a redução e adoptaram a atitude do mundo da vida, aquilo a que podemos chamar a redução da atitude natural. Infelizmente, Leonardo Coimbra conhecia mal a filosofia alemã, embora tenha enunciado teses que abrem o espaço a esse diálogo alargado, coisa que não foi compreendida pelo idoso auto-intitulado filósofo do Porto.
Hoje comecei a estudar a História da Formação do Brasil, mas estou um pouco decepcionado: a questão do negro foi empolgada de modo exagerado. E o Brasil ganhou a fama de ser o "país do negro". Infelizmente, os portugueses deram um contributo exíguo para a elaboração dessa história. É fundamental reescrever a história das diversas colonizações portuguesas.
Aprendi que os "moçambiques" - escravos provenientes de Moçambique - só chegaram ao Brasil nos finais do século XIX, já após o acordo de 1815. Os compradores de escravos não apreciavam a agressividade dos "moçambiques" e, de facto, nós portugueses tivemos diversas guerras durante a colonização de Moçambique. Não acredito na imagem da colonização portuguesa do Brasil. Porém, a colonização de Angola e de Moçambique obedeceu a outro padrão, talvez pela proximidade com colónias inglesas.
Começo a compreender a geografia do Brasil, embora tenha estado concentrado no Nordeste e na zona de São Paulo, fazendo uma ou outra incursão pelo sertão e pelo interior profundo. Foi um antropólogo americano que me seduziu nesta viagem pelo Brasil: o chamado "negro da Guiné" é a figura que tenho estado a acompanhar ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. E descobri Nina Rodrigues, cuja teoria me seduz.
Nas Casas Grandes, os "senhores" permitiam que os escravos festejassem e dançassem as suas danças eróticas. Achei graça à explicação: a dança erótica dos escravos incentiva a libido africana, levando os escravos a reproduzirem-se. Os sete anos de vida útil dos escravos eram assim compensados sem ser necessário comprar novos escravos. Além disso, as festas aumentavam a produtividade dos escravos que trabalhavam com semblante mais alegre. Há muita mistificação nestas ideias.
O Catolicismo levado para o Brasil foi o da Contra-Reforma. Daí o culto dos santos que foram depois misturados com elementos das religiões afro-brasileiras. Mas essa já é outra história...
Uma das danças eróticas é a umbigada: gesto que consiste numa série de danças - samba, jongo, côco, etc. - na mútua esfregação dos ventres, umbigo contra umbigo.
Estou ansioso para aprofundar a noção índia de "Santidade": a força mística que possui o indivíduo em transe. A "Santidade" foi um movimento religioso índio - Brasil - do século XVII.
A informação disponível sobre os Quilombos é muito precária: os escravos fugitivos criavam esses aglomerados "urbanos", onde reviviam algumas tradições africanas. Estudei com alguma atenção os quilombos de Palmares durante a ocupação holandesa. O facto de representarem um retorno à tradição africana mostra que a cultura africana - a regressão tribal - tinha e tem pouco a dar a uma civilização. Os estudiosos brasileiros perderam muito tempo a construir narrativas sobre a herança negra, esquecendo a classe média, a única capaz de colocar o Brasil na senda do desenvolvimento. O Brasil é ainda prisioneiro desse terrível mito africano, como o comprova a actual coexistência de forças regressivas e de forças progressivas que patinam num impasse fatal para o Brasil.
Estudei uma série de revoltas negras, começando pela Conspiração dos Alfaiates de 1798 e terminando na noite sangrenta de 1835, passando pelas rebeliões de 1807, de 1809, de 1813, de 1817-24 (Pernambuco), de 1824 (Recife), de 1820 (Minas), de 1813, de 1826, de 1827 e de 1828. Lendo as cantigas e alguns documentos da época, reencontrei uma velha aspiração africana: matar os homens brancos e ficar com as suas mulheres. Ora, esta aspiração esteve presente em Moçambique após a descolonização.
Li algumas passagens dos "cronistas" estrangeiros, em especial franceses e alemães. Convém ler com cuidado estas crónicas de viagens porque elas reflectem interesses nacionais, dando assim imagens falsas do Brasil Colonial. Espero que os franceses escrevam a história da colonização francesa, tal como escrevem a história da outras colonizações europeias. Todos conhecemos o papel desempenhado pelos franceses na expansão do nazismo.
Rebel Destiny do casal Herskovits: Eis a obra que cativou o meu interesses pelo Brasil: a recriação de África em plena Guiné Holandesa. Aliás, adoro este antropólogo americano, apesar de não partilhar a sua abordagem teórica.
Em Moçambique, no decurso da era colonial, não houve escravatura. Curiosamente, ao contrário do que sucedeu no Brasil, os brancos preferiam dar emprego aos africanos do género masculino: Havia uma grande desconfiança em relação às mulheres africanas, devido às suas práticas de feitiçaria. No caso do Brasil, as mulheres brancas dos "senhores" das Casas Grandes merecem mais atenção que as escravas negras. Ora, ninguém escreveu sobre o seu exílio interior.
Informação importante: os Quilombos liderados por negros muçulmanos não aboliram a escravatura. A realeza africana influenciada pelo Islão foi sempre escravocrata. Daí que esteja a reler a história do Brasil tendo em conta o reino de Dahomé, tal como foi estudado por Herskovits.
Já alertei para o perigo de transformar factos em opiniões. Após a descolonização, no período imediato à Independência de Moçambique, alguns homens africanos batiam à porta das casas de famílias portuguesas para "comprar" as filhas. Isto é um facto no sentido em que é o facto que a França foi derrotada por Hitler. Convertê-lo em opinião é perder o bom-senso e o mundo comum partilhado pelos homens.
A partir da instituição do Testamento de Judas, podemos aplicar o conceito de sublimação da agressividade frustrada para compreender a capoeira como sublimação da luta violenta dos escravos negros contra os brancos que se torna um jogo. Porém, prefiro outra explicação da capoeira sem recurso a conceitos psicanalíticos, tais como sublimação ou desdobramento da figura do branco. A história do Brasil é fascinante por causa dos jogos conceptuais que possibilita.
A psicanálise pode ser aplicada à realidade da escravatura no Brasil gerando uma série de imagens sedutoras. Porém, a tópica da psicanálise é, de certo modo, mitológica: Id, Ego e SuperEgo explicam aparentemente alguns comportamentos dos escravos tais como o seio negro que alimenta a criança branca ou o desdobramento do senhor em duas figuras: a boa e a má. Mas estamos aqui no plano simbólico. Há outra via: a da etologia e os seus conceitos ligados à ritualização.
Vou ser provocante e enunciar uma hipótese de trabalho: Estudando a escravatura no Brasil sou forçado a reconhecer que as escravas negras seguiram uma via diferente para ascender na hierarquia social sem entrar em tensão com a civilização dos brancos. Como escravas domésticas e amantes dos senhores das Casas Grandes, elas adquiriram poder, ao mesmo tempo que geravam mulatos. As atracções interraciais foram no sentido homem-branco/mulher-negra e mulher-índia/homem-negro. As escravas negras não sentiam atracção pelo homem-índio e a mulher-branca pelo homem-negro. Aliás, acho que estes padrões são quase universais: encontramo-los nos USA, onde a escravatura foi mais brutal.
Estou quase a concluir o meu estudo da História do Brasil: Cheguei ao Império e termino com a passagem à República. Depois passarei directamente para o Brasil Contemporâneo. Entretanto, deixei os índios de lado porque já os conheço relativamente bem. Estou intrigado com alguns factos relatados pelos historiadores brasileiros: eles atribuem à herança africana crenças e rituais que já estavam presentes na cultura portuguesa, pelo menos na cultura folclórica. Contudo, Portugal já conhecia importantes culturas africanas da costa ocidental desde o século XV. Há muitas conexões culturais a desbravar.
Acho que devemos reformular o programa do luso-tropicalismo de Gilberto Freyre. Os ingleses aceitaram-no e integraram-no nos centros de pesquisa das suas universidades, mas os franceses e outros europeus condenaram-no, vendo nele uma apologia de Portugal. Porém, as críticas francesas não derrubam o programa. A única coisa que me incomoda é o facto de aparecer o termo "luso" para o designar, porque nós que somos do Norte não somos "lusos": tropicalismo português é uma designação mais apropriada.
O meu amigo Gabriel Week Gomes falou da importância da magia negra nas relações entre portugueses e moçambicanos. A magia negra sempre fascinou o imaginário colonial português. Há algumas similaridades entre o Brasil Colonial e Moçambique Colonial: os envenenamentos e os feitiços eram feitos para matar os senhores das Casas Grandes ou para atrair o seu amor pelas escravas negras. Porém, em Moçambique Colonial, já não se recorria à feitiçaria como arte da cura, a não ser em casos pontuais. Em Moçambique, os serviços domésticos eram entregues mais aos homens do que às mulheres moçambicanas acusadas de serem feiticeiras.
Infelizmente, os membros mais velhos dos retornados estão a morrer sem que o seu testemunho colonial tenha sido recolhido. Portugal é uma terra ingrata: Silencia aquilo que se destaca do seu pensamento medíocre. Convém dar voz aos colonizadores portugueses ainda vivos, de modo a manter viva a memória dos tempos coloniais. A grandeza dos portugueses está longe das actuais fronteiras nacionais: os portugueses que construíram o Brasil, Angola e Moçambique são superiores aos portugueses que nunca ousaram sonhar Portugal fora da "metrópole".
Ai, estou a ser atormentado por uma ideia que recolhi na História do Brasil: a ideia de que os escravos negros ou os negros livres cheiravam mal. Ora, o mau cheiro pode ser provocado por falta de hábitos de higiene. Os documentos que li apontam essa origem mas deixam transparecer outra ideia: a de um cheiro racial. Eu que lidei com tantos africanos nunca detectei esse cheiro típico... Esclareçam-me, por favor.
O episódio que está por detrás disto diz respeito à existência de dois catolicismos - o negro e o branco - no Brasil Colonial: a arquitectura das igrejas coloniais brasileiras não reflecte forçosamente este dualismo social e racial que lhe atribuem alguns escritores franceses. A arquitectura das igrejas portuguesas é similar e não pode ser explicada por diferenças sócio-raciais. A única razão para deixar os escravos negros no pórtico prende-se com o cheiro.
Porém, o cheiro não funcionava nas atracções interraciais. alguma coisa está mal nesta argumentação.
Bem teoricamente não excluo a existência de cheiros tipicamente raciais pk há mecanismos biológicos que os podem explicar. mas um cheiro racial não é sinónimo de mau cheiro; este resulta da falta de hábitos de higiene.
Se os escravos não tomavam banho depois de um dia de trabalho árduo cheiravam mal, como é evidente.
Porém, a minha via é outra: aplicar as categorias aos próprios franceses. Luís XIV cheirava muito muito mal e Paris era imunda.
A higiene consistia em limpar a cara suja com um pano limpo. ora isso não funciona. é o corpo humano que precisa ser limpo e de preferência usando água. a limpeza do pano não se transmite ao corpo.
Terminei o meu estudo da História do Brasil com a política republicana de integração nacional. Acabo de iniciar o estudo da geografia das religiões africanas no Brasil. No Norte, onde a influência do índio foi mais forte, temos a Pajelança e o Catimbó: estudei a Santidade como messianismo de desforra do índio contra os colonizadores portugueses, o culto dos caboclos e o novo culto proletário, tendo em conta duas linhas: a africana e a índia. Achei piada ao mundo dos encantados no Piauí. Maranhão é uma área religiosa à parte, dominada pela resistência africana dos daomeanos: os voduns daomeanos não devem ser confundidos com o voduísmo do Haiti e de Nova Orleans. O Nordeste é a região dos Xangôs (Pernambuco, Alagoas e Sergipe) e dos Candomblés (Bahia): a influência Ioruba é predominante. O Brasil Central é a zona da Macumba e do Espiritismo do Umbanda. E a área do Rio Grande do Sul é a zona dos Batuques. Estudei apenas o Norte: a descrição pormenorizada dos cultos e das sessões espíritas ofuscaram a minha mente.
Entretanto, fiz uma pausa para relembrar o conceito de transfiguração étnica de Darcy Ribeiro e, de repente, confrontei-me com algumas contradições na sua argumentação a favor do Índio Brasileiro. Ao destacar o papel da etnia, Darcy Ribeiro fragmenta o Brasil, esquecendo que a unidade nacional não pode ser conquistada pela via da fragmentação étnica. Porém, é um facto que a colonização mental não foi bem-sucedida: a persistência das almas africana e índia requer uma explicação.
Um facto chamou a minha atenção: Depois da abolição da escravatura, os negros fugiram das casas senhoriais e refugiaram-se nos centros urbanos, onde formaram os mucambos, as favelas e os cortiços. A situação dos negros agravou-se quando perderam os benefícios do "paternalismo" dos colonizadores. Eles não se transformaram em proletários mas sim em vagabundos. Os messianismos africanos revelam que os negros - ou mesmo os índios - foram incapazes de compreender a civilização que os colonizou: reclamam apenas o bem-estar como se fosse possível conquistá-lo expulsando os brancos. Ora, este irrealismo esteve presente na independência de todas as colónias portuguesas: a pobreza é a categoria que permite compreender este fenómeno quase-milagroso.
Enfim, não acredito no mundo global porque não consigo imaginar um diálogo intercultural produtivo entre os diversos povos da Terra.
A minha mente foi colonizada: De Portugal herdei a língua, da Alemanha herdei o pensamento filosófico, dos USA herdei a ciência, de Moçambique herdei uma maneira de ser aberto ao mundo, e assim sucessivamente. Ora, em vez de me sentir diminuído, sinto-me orgulhoso por ser dotado de uma mente hipercolonizada.
Hoje o meu dia foi complicado e acabei por substituir o meu estudo do Brasil pelo estudo das sociedades dos insectos sociais. Os insectos sociais fascinam-me. Descobri que a formiga doméstica que invade as casas do Porto é proveniente da Argentina, ou mais precisamente das regiões quentes do Brasil e da Bolívia: o seu nome técnico é Iridomyrmex humilis. Esta pequena formiga especializada em expedições de caça de grande estilo realizou grandes conquistas territoriais mediante o seu transporte involuntário com os artigos de comércio, sobretudo o envio de frutas e de outros produtos vegetais. Penso que a sua introdução no Porto - onde não a vejo há 2 ou 3 anos, pelo menos em casa - deve datar do século XIX ou recuar na noite dos tempos, se pensarmos na colonização portuguesa do Brasil.
As sociedades dos insectos sociais compreendem uma vasta gama de tipos de eusociabilidade: a forma mais fascinante é a das formigas escravocratas que, tais como a formiga sanguinária e a formiga da Amazónia, realizam expedições para raptar formigas obreiras de outras espécies. Elas raptam as crias de outros formigueiros e levam-nas para o seu próprio formigueiro, onde depois de adultas são escravas que trabalham para a rainha e a sua prole. A escravatura é uma invenção dos insectos sociais: as formigas que escravizam outras formigas libertam feromonas nos ninhos alheios gerando pânico entre as suas operárias e os seus soldados que abandonam o formigueiro, deixando-o entregue às escravocratas.
Conheço bem a anatomia do cérebro dos insectos, mas nunca dei atenção às suas anatomias especializadas. A anatomia do aparelho digestivo das abelhas produtoras de mel é fascinante. O nosso estômago recebe os alimentos e digere-os mediante a acção dos sucos gástricos: os alimentos assim transformados passam a fazer parte integrante do nosso organismo. Porém, o estômago das abelhas é um saco de recolha de néctar: o seu conteúdo pertence a toda a família, ao conjunto da colmeia ou comunidade das abelhas. Durante a visita que faz às flores, a abelha vai passando ao seu estômago, através da boca e do largo esófago, gotícula após gotícula de néctar. Quando tem fome, a abelha abre um pouco a válvula que liga o estômago social ao resto do tubo digestivo: o alimento assim libertado é aproveitado para a alimentação do indivíduo. Mas a maior parte do néctar recolhido é entregue à colmeia, para a alimentação da comunidade, onde é distribuído mediante regurgitações repetidas.
As sociedades dos insectos sociais estão sob controle genético e compreendem geralmente três castas ou "classes sociais": a rainha, as obreiras ou operárias e os soldados. Estas três castas são formadas por fêmeas-irmãs da rainha. Os machos limitam-se a viver para o voo nupcial, fecundando a rainha. A rainha é extremamente feminina; às restantes fêmeas falta-lhes o essencial da feminilidade, isto é, a possibilidade de engendrar uma prole, embora retenham alguns instintos femininos, tais como criar e cuidar da descendência da rainha.
A sociedade das térmites é fascinante. No Brasil, são cupins e em Moçambique tinham outro nome: muchã. Lembro-me da população africana que as caçava durante o seu período alado: elas são ricas em proteínas. Em Angola chamavam-se "salalé".
Hoje resolvi falar das sociedades dos insectos sociais porque, olhando para os programas de Biologia, fiquei aterrorizado: os alunos devem chegar ao fim do curso secundário sem saber nada de biologia. Nem biologia molecular nem biologia evolutiva, para já não falar da biologia do organismo. Ora, o estudo apurado de zoologia permite um bom acesso à genética molecular: da sociedade dos insectos sociais vamos rapidamente às suas bases genético-moleculares e evolutivas.
Nos USA, os chimpanzés que vivem com as pessoas começaram a matá-las: uma delas ficou sem olhos e pálpebras, com o rosto desfigurado e com golpes brutais no peito. O chimpanzé alimentou-se dela antes de ser abatido pela polícia. É uma estupidez ter chimpanzés em casa, até porque eles são assassinos e sentem prazer em matar congéneres vizinhos, tal como os humanos.
Se as pessoas do Facebook fossem inteligentes e cultas e encarassem a natureza humana como biogramática, não reproduziam e difundiam tantos disparates moldados a partir dessa matriz a que se chama "politicamente correcto": o seu fracasso global é evidente em todos os cantos do mundo. Estas pessoas pseudo-informadas perderam o contacto com a realidade do mundo: o politicamente correcto viola as regras básicas da biogramática humana. E a natureza - externa e interior - revolta-se contra os humanos metabolicamente reduzidos.
Ontem vi um documentário sobre as favelas do Rio de Janeiro libertadas dos gangues da droga. E, pensando sobre o assunto, acho que a melhor solução é conservar as favelas como bairros típicos do Rio de Janeiro, dando-lhes segurança e algum conforto aos seus habitantes. Afinal, pelo que vi, eles até parecem ser mais «felizes» do que os outros habitantes do Rio de Janeiro. Uma das favelas já tinha um banco e a polícia circula pelos ruelas tortuosas. As favelas são giras e fazem lembrar as "ilhas" do Porto.
Infelizmente, os portuenses - onde me incluo - não conhecem bem esses bairros chamados "ilhas" do Porto. Junto da Igreja da Lapa há um bairro lindíssimo e outro mais fascinante algures nas imediações da Rua Costa Cabral. Uma vez por engano entrei neste último bairro e fiquei aflito para sair de lá. O granito puro e bruto da paisagem não permite o cruzamento de carros. Senti claustrofobia! Mas foi uma experiência intensa e linda. Amigos do Porto, descubram as "ilhas" e partilhem fotografias.
Ah, esqueci de dizer que o documentário sobre as favelas do Rio de Janeiro surpreendeu-me com a Igreja Evangélica ou coisa do género que anseia superar a Igreja Católica. Ora, no "altar" estava uma jaula, onde os fiéis lutavam boxe, claro dois a dois. Não entendi a mensagem dessa igreja da luta livre. O Brasil é feito de contrastes: coisas boas junto a coisas péssimas.
No inquilinismo total, o parasita social depende do seu hóspede ao longo do seu ciclo vital. Quando uma espécie de formiga social entra no naufrágio evolutivo final do inquilinismo, evolui rapidamente para um estado de abjecta dependência da espécie hóspede, adquirindo um número crescente de traços morfológicos e comportamentais que, em conjunto, constituem o "síndrome do inquilino". Eis alguns desses traços: perda da casta das operárias, redução do tamanho da rainha no caso desta persistir sem ser substituída por intercastas férteis rainha-operária, simplificação morfológica do corpo, perda ou diminuição das glândulas exócrinas, redução do tamanho do cérebro e estreitamento do repertório comportamental, entre outros traços.
As térmitas do género Amitermes hastatus - família Termitidae - que vivem na África do Sul foram estudadas por Skaike (1954, 1955). Penso que as térmitas moçambicanas pertencem a este grupo tropical que aninha no solo areoso, construindo conspícuos montículos cónicos ou hemisféricos com uma mistura negra de terra e excrementos: os morros. Várias espécies tropicais especializaram-se em virtualmente todas as fontes de celulose concebíveis: o contacto ou comunicação anal entre indivíduos da mesma espécie é fundamental para transmitir flagelados responsáveis pela transformação da celulose. As operárias escavam extensas galerias através do solo para alcançar este alimento. As térmitas são temidas em Moçambique porque elas podem reduzir uma casa de madeira a pó.
Em 1968, o Clube de Roma debateu os limites do crescimento, criticando severamente a "ética do crescimento" abraçada pelos países ocidentais. Aldo Leopold propôs uma "ética conservacionista" que, em termos ecológicos, representa uma limitação à liberdade de acção do homem na luta pela sobrevivência. Embora não aplauda todos os seus princípios, partilho a ideia fundamental da conservação da biodiversidade. Eu sou cientista e filósofo e não ando aqui a intoxicar as mentes turvas dos utentes desta rede. Há comentários que ignoro...
Oponho-me à ética conservacionista sempre que exige o direito à existência dos animais à custa do auto-sacrifício humano. A Europa perdeu imensas espécies animais ao longo dos milénios e hoje não sentimos a sua falta. Sou claramente antropocêntrico e nunca aceitaria sacrificar uma vida humana para proteger um animal perigoso. Porém, mediante reformulação, aceito os nove princípios fundamentais da ética conservacionista, sobretudo o das baixas densidades populacionais humanas. É fundamental controlar o crescimento das populações humanas, sobretudo nos países menos desenvolvidos.
Eis os nove princípios da ética conservacionista: 1) A terra é um sistema fechado com um suprimento finito de ar, água, alimentos e tolerância de resíduos; 2) Solos em boas condições são essenciais para toda a vida terrestre; 3) Os princípios ecológicos aplicam-se ao controle da natureza e ao homem; 4) Outros organismo têm o direito da existência, sendo o homem uma parte da natureza e não o conquistador dos outros seres vivos (Aqui imponho algumas reservas!); 5) A diversidade nos ecossistemas naturais dá-lhes estabilidade e adaptabilidade frente às mudanças ambientais; 6) Alterações significativas dos equilíbrios naturais podem prejudicar tanto o homem como os outros organismos; 7) Baixas densidades populacionais humanas reduzem a competição, protegem a diversidade orgânica, diminuem a poluição e abaixam as demandas por recursos limitados; 8) Um elevado padrão de vida tem de incluir ar puro, água limpa, comida saudável, ambientes agradáveis e tranquilidade; e 9) A educação deve desenvolver um profundo apreço pela natureza. Ora, a ética do crescimento predominante é avessa a todos estes princípios: Atribui ao desenvolvimento tecnológico, ao aumento do número de consumidores e ao crescimento do produto interno bruto (PIB) o papel de indicadores da saúde económica de um país. É contra esta ética económica que devemos lutar mudando desde logo de estilo de vida.
Na Índia, os elefantes já sofrem de stress pós-traumático induzido pelas interferências humanas no seu habitat natural e pelo ritmo alucinante das mudanças. A lógica do desenvolvimento tecnológico e social é fatal para a saúde humana e animal. Todos precisamos de estabilidade para sermos saudáveis.
A Ancestrolatria é a religião dos Tongas e de todos os Bantos da África meridional. Para os Bantos, todo o homem que deixou esta vida terrestre tornou-se chicuembo, um deus, donde resulta haver diversas categorias de antepassados-deuses. No entanto, apesar da predominância do culto dos antepassados, os Bantos - moçambicanos, claro - elaboraram uma concepção tosca do Céu (Tilo), o qual não é apenas um lugar mas algo mais: uma potência que actua e se manifesta por várias maneiras.
Mas hoje não quero falar da religião Banto mas sim da magia, na qual incluo todos os ritos, práticas e concepções que têm por fim actuar sobre influências hostis, neutras ou favoráveis, exercidas quer por forças impessoais da Natureza, quer pelos seres humanos que deitam sortes, quer ainda por espíritos pessoais, antepassados-deuses ou espíritos hostis que se supõe tomarem possessão das suas vítimas. Embora não utilizem palavras específicas para as distinguir e nomear, os Bantos distinguem entre magia branca, pela qual o homem tenta proteger-se a si próprio contra essas influências ou tenta voltá-las a seu favor, e magia negra, pela qual o homem tenta servir-se dessas forças contra o próximo. Neste amplo domínio, podemos distinguir a Arte Médica, as Possessões, o Exorcismo, a Feitiçaria e a Adivinhação. Os brancos nem sempre souberam fazer estas distinções. Curiosamente a Magia Negra - Bolóii - implica uma concepção nocturna deveras interessante, bem como a capacidade dos homens nocturnos de se desdobrarem durante o sono. Seria interessante confrontar estas crenças dos Tongas de Moçambique com as crenças dos Ekoi do sul da Nigéria, segundos os quais o homem é dotado de duas almas.
Eu fui iniciado nestas crenças e rituais bantos por um "sábio" negro que gostava de me assustar com os "fogos da noite", as luzes que se movem sobre os pântanos. Os Rongas utilizam a palavra chipoco para referir que os servidores nocturnos dos bàlóii - feiticeiros - são os espíritos dos defuntos que se comportam como crianças. Vivi a minha primeira infância como que enfeitiçado pelo chipoco.
Os cérebros do mundo não-ocidental e da ralé em geral foram infectados por um vírus-ideia letal: a síndrome pode ser vista simultaneamente como um recuo mágico e como recuo infantil. Os Bantos de Moçambique falavam da "loucura dos deuses", uma espécie de doença nervosa que atribuíam à possessão por espíritos Zulus. Houve no passado de Moçambique epidemias de loucura dos deuses. Viver sem esforço: eis o traço típico da nova epidemia nervosa. As pessoas acreditam que a riqueza cai do céu de pára-quedas, como se os "deuses" fossem pais que amamentam os filhos terrestres do nascimento até à morte. Ora, o resultado paradoxal desta síndrome é a "liberdade" na miséria.
Ontem vi um documentário sobre Portugal realizado por uma jornalista francesa. Ela tomou o comboio - o pendicular e o regional, iniciando a viagem em Braga até ao Porto. Depois esteve em Aguda e daí seguiu para Lisboa. Entretanto, a conselho de uma portuguesa, fez um desvio para Fátima. Seguiu para de Lisboa e daí para Faro. Fiquei muito envergonhado com os portugueses que falaram com ela: eles ainda vivem no mundo do fado e são muito burros. Em suma: o aspecto interessante esteve na viagem entre Braga e Porto.
As pessoas-buscadoras compulsivas de orgasmos desconhecem a química do orgasmo. Infelizmente, conhecemos melhor a química da dor que a química do orgasmo. Noutro dia, numa mesa redonda, trocei dos "filósofos" que não sabiam que o orgasmo é, antes de tudo, uma experiência cerebral. De facto, é ao nível do encéfalo que devemos procurar a sua pista. De momento, sabemos que o orgasmo que as pessoas vivenciam como uma sensação subjectiva corresponde a uma descarga maciça de oxitocina. Os buscadores compulsivos de orgasmos são viciados em oxitocina.
Infelizmente, é impossível avaliar a gama de sensações subjectivas produzidas por essa experiência cerebral que é o orgasmo. A sexologia gerou uma autêntica ideologia ou mitologia do orgasmos: todos reclamam orgasmos e descrevem experiências mirabolantes. Enfim, em nome do orgasmo, as pessoas exploram de modo nefasto os seus órgãos sexuais, submetendo-os a exercícios estranhos e nefastos. O orgasmo não é aquela experiência de prazer intensificado que as pessoas descrevem. As manifestações externas do orgasmo - tais como gemidos de cão ou gritos histéricos - podem ser vistas como encenações. Quando o cérebro abdica das suas funções cognitivas superiores, os seus inquilinos gritam como vacas histéricas.
Tenho feito muitas críticas aos erros históricos dos portugueses mas nunca referi este, talvez a mais fatal: a perda da independência quando fomos anexados por Filipe. Que tremendo erro! Foi durante este período filipino que perdemos partes do império. E houve traidores nacionais!
Hoje dediquei algum tempo ao estudo da História de Portugal, especialmente a Alexandre Herculano e a Oliveira Martins. Embora não concorde com a sua interpretação, aprecio a crítica que O. Martins dirige aos governantes portugueses: uma sequência infinita da gatunos que sacrificam o interesse nacional para se manterem no poder.
O período de domínio filipino (1580-1640) deve ser severamente criticado. Por causa desta perda da independência, Portugal perdeu o domínio do Império do Oriente, zelosamente construído pelos três vice-réis da Índia. Admiro a estratégia de Vasco da Gama: erradicar os mouros do Índico e fazer comércio sob a ameaça de bombardeamentos. O catolicismo foi fatal para a nossa política ultramarina e, sob o domínio filipino, os ingleses e os holandeses apropriaram-se do nosso Império do Oriente. E os holandeses estabeleceram-se no Brasil entre 1630-1654, quando forram expulsos com a ajuda dos próprios brasileiros.
Porém, o meu interesse debruçou-se sobre o tráfico negreiro. Salazar proibiu que se falasse da escravatura e, apesar de não ter vivido nesse tempo, a questão da escravatura nunca foi ventilada nas minhas aulas. Desconheço a localização do mercado de escravos no Porto. Mas tenho alguns dados estatísticos sobre Lisboa: Em 1551, a população de Lisboa compreendia, em 100 000 habitantes, 9 950 escravos; e este número subiu a 10 470 em 1620, incluindo quase exclusivamente escravos negros que chegaram a coexistir com escravos mouros. Oliveira Martins ironiza com as fidalgas que apareciam grávidas, dando à luz mulatinhos.
Os portugueses são idiotas culturais. O Tratado de Fontainebleau - em virtude do qual Junot atravessou a Espanha para ocupar Portugal - dividia o reino português em três Estados: 1) O Estado de Entre Douro e Minho, como o nome de Lusitânia Setentrional, seria dado à rainha da Etrúria, expropriada pela nova constituição de Itália; 2) O sul do Tejo, chamado principado dos Algarves, indemnizaria Godoy, pagando-lhe os seus bons serviços; e 3) Trás-os-Montes, as Beiras e a Estremadura ficariam, como penhor, nas mãos do imperador Napoleão Bonaparte, podendo eventualmente reverter à casa de Bragança. Bem, se os espanhóis e os franceses tivessem levado a cabo esta divisão, o Porto era hoje uma Cidade-Estado. Eheeee
Consultei uma história contemporânea sobre a expansão portuguesa e não concordei com a crítica do último Império Português: o de Salazar. Acho que os colaboradores da obra perdem a imparcialidade quando atacam a política de Salazar para o Ultramar. Além disso, desconhecem a realidade objectiva das colónias ou províncias ultramarinas portuguesas. Esta malta que saiu da senzala para ir viver em "palácios" falsifica facilmente a história portuguesa, gerando caos e pobreza. Portugal perdeu todos os historiadores de qualidade; reina a imbecilidade, como dizia Oliveira Martins.
Um amigo alemão disse-me que Portugal teria desaparecido do mapa se não fosse a moeda espanhola durante o nosso longo período filipino. Não pensei neste factor "monetário" - resultante do saque de ouro e de prata do novo mundo, mas tínhamos o Império do Oriente, donde trazíamos ouro e outros produtos.
O Império Português do Oriente teve uma organização política deveras inovadora, com a figura do vice-rei da Índia e as relações de "vassalagem" com reinos da zona. Bombardeávamos os reinos e principados adversários e fazíamos alianças com outros, de modo a fazer deles "vassalos" do rei português. Merece um estudo detalhado.
Oliveira Martins atribui a superioridade inglesa ao protestantismo e ao génio mercantil.
1591: primeira viagem dos ingleses à Índia.
1594: primeira esquadra holandesa às Índias.
1498: Vasco da Gama descobre p caminho marítimo para a Índia. Fomos pioneiros.
Pelo menos no passado distante, Portugal não era tão submisso como é hoje na União Europeia: Lutámos contra mouros, espanhóis, franceses, ingleses, holandeses e alemães, além das bulhas com os povos colonizados. E, afinal, até fomos vencedores: o primeiro e o último grandes impérios ultramarinos foram portugueses. É esta atitude que define a nossa raça.
OCIDENTAIS DE TODO O MUNDO UNI-VOS! Eis a nova palavra de ordem! Neste mundo globalizado e cada vez mais confuso, convém ser inteligente, cínico e maquiavélico, unindo esforços e colaborando num vasto grupo-fusão, capaz de defender o Ocidente contra os bárbaros.
Vestir as fardas, agarrar as armas e disparar contra o inimigo: GUERRA.
Hoje "passei-me" com Alasdair MacIntyre e a filosofia inglesa: MacIntyre pretende mostrar que a maior parte das teses defendidas por Marcuse são falsas. A verdade, porém, é que muitas das ideias que elabora contra as teses de Marcuse foram expostas por este. MacIntyre é insensível à "beleza" da interpretação marcuseana de Freud e à elegância da sua teoria de que liberalismo e totalitarismo são irmãos gémeos. A verdade é que esta equivalência notável é uma realidade no mundo de hoje: a chamada profecia de Marcuse cumpriu-se. Marcuse exerceu uma enorme influência sobre o meu desenvolvimento intelectual e o seu elitismo decalcado de Platão faz parte do meu ADN. Porém, dado nem sempre concordar com a lista de agentes de libertação proposta por Marcuse, acho ser necessário reactualizar o seu pensamento filosófico e voltar a condenar a filosofia anglo-saxónica que, de facto, é reaccionária.
É certo que Marcuse não aprofundou a sua crítica da lógica formal, da análise linguística e da filosofia da ciência, mas a sua concepção da Filosofia - quando aprofundada - permite esse aprofundamento. MacIntyre não pode condenar o marxismo hegeliano de Marcuse como sendo pré-marxista. A teoria de Marx foi interpretada de muitas maneiras, o que nos obriga a falar de "marxismos" no plural. Marcuse não condenou a terapia da linguagem de Wittgenstein tout court, até porque em 1969 ele propõe uma terapia da linguagem política entendida como libertação.
MacIntyre acusa a "biologia" de Marcuse de ser "especulativa". A verdade é que não sei o que significa ser especulativo: Só os atrasos mentais é que não "especulam". Porém, independentemente do significado de "especulação", a biologia de Marcuse e sobretudo a sua tese da recapitulação não são nada "especulativas": a Biologia do Desenvolvimento dá-lhes suporte empírico e a Embriologia foi elaborada a partir da ideia de recapitulação.
Maio de 68: as revoltas dos estudantes foram revoltas financiadas pelos pais. De facto, os movimentos estudantis desse período podem ser vistos como versões da cruzada das crianças contra o status quo que as sustentava. Ora, como interpretar a chamada Primavera árabe ou os movimentos juvenis no mundo de hoje? Em Portugal, o governo empobrece os avós e os pais, manda os jovens emigrar e gera desemprego. Qual o potencial subversivo dos desempregados? Posso responder a estar questões sem cair na aporia de Marcuse porque, para mim, a felicidade não é a meta final; aliás, abdico do discurso das metas ou das finalidades.
A distinção entre Direita e Esquerda deixou de ser pertinente no mundo de hoje: o que há são minorias activas e maioria passiva. A auto-educação - a solução de Marx - é uma quimera numa sociedade onde a satisfação gera conformismo absoluto. As massas devoram a civilização e, por isso, devem ser afastadas da política criativa. A luta pertence às elites.
Trotsky enunciou - de forma lapidar - a brecha que existe entre aspiração e realização, e Marx não está muito distante desse enunciado. Duas experiências cruciais marcaram o carácter elitista do meu pensamento: a triste revolução do 25 de Abril e a descolonização de Moçambique. Nestes dois acontecimentos, as massas destruíram a civilização e a cultura superior.
Vou assumir o conceito de natureza humana de base genética de O. Wilson, embora não a queira reduzir a um conjunto de regras epigenéticas. Este conceito permite-nos pensar a divisão da humanidade em dois grupos: os "burros" - a imensa maioria da população humana - e os inteligentes que criaram a cultura. Porém, rejeito o projecto da Consiliência - a unidade do conhecimento, sobretudo quando deseja transformar a Filosofia em Ciência: uma pretensão materialista grosseira dominada pela ideologia neoliberal.
A Sociobiologia é a ciência biológica da adaptabilidade biológica do comportamento social, animal e humano. Neste momento, já existem alguns modelos de Sociobiologia Humana que, cada qual a seu modo, assente no paradigma darwiniano, oferecem uma perspectiva naturalista da conditio humana. Porém, a sociobiologia humana tende a rejeitar todos os conceitos sociais e culturais que se afastam da ideologia neoliberal que a domina. Para credibilizar o estudo da base genética do comportamento social humano, é necessário neutralizar esta ideologia nefasta que tolhe o crescimento científico da sociobiologia. É estranho como um especialista em sociedades de insectos - O. Wilson - pode rejeitar o marxismo quando, na sua investigação de terreno, se depara como estratificação social, guerra, escravatura, divisão em classes, parasitismo ou inquilinismo.
O Paradoxo do Nosso Tempo: O Excesso de informação científica disponível esbarra contra a indigência mental e cognitiva das pessoas. A ralé diplomada nas universidades sob a exigência de igualar tudo e todos é, biologicamente falando, inapta para assimilar conceitos que ultrapassam os seus limites mentais. A investigação científica deve ser dirigida para o estudo dos limites mentais da ralé, de modo a guiar-nos na luta contra esta maioria estúpida.
Um exemplo de barbárie: A África do Sul com os seus lideres africanos "carismáticos" dá protecção legal às reservas de criação de leões, sobretudo de leões brancos que são raros em estado natural. Os turistas que visitam esses parques não sabem que os leões adultos ou mesmo juvenis são depois enviados para outras reservas onde são caçados e mortos a tiro. O negócio da caça de leões é lucrativo e, em New York, surgiram restaurantes que fornecem pratos de carne de leão.
Admiro o esforço teórico de E.O. Wilson, em defesa da Biodiversidade e na fundação da Sociobiologia. Depois da sua reforma em Harvard, Wilson dedicou algumas obras ao estudo da Filosofia e, numa dessas obras, lança a noção de que a história da filosofia de Descartes e Kant até ao idealismo alemão, mais não é do que a elaboração de modelos fracassados do cérebro. É uma leitura duplamente precipitada. É certo que todas as filosofias que apresentam uma teoria do conhecimento supõem um determinado modelo de cérebro. Mas os modelos apresentados não são modelos fracassados: elementos dos modelos de Descartes e de Kant ainda são utilizados pelas neurociências. Lorenz reconheceu isso quando prestou a sua homenagem a Kant. Mas há mais: as referidas filosofias, bem como a de Platão, ligam-se à Política. Ora, é esta conexão estrutural Filosofia-Política que Wilson não compreendeu, preferindo fazer a apologia de Bacon que propôs a equivalência nefasta conhecer = poder. A Filosofia não pode ser transformada em Ciência porque isso representaria o triunfo total da racionalidade instrumental. Mas podemos propor uma Nova Aliança entre filosofia e ciência.
A Filosofia é o esforço desesperado de dar sentido ao exílio mental do homem depois da sua expulsão do paraíso. A Filosofia está estruturalmente ligada à Ciência e à Política. O surgimento da Filosofia na Grécia antiga foi preparado pela emergência da matemática e da política. O seu ideal de vida - a vida justa - resulta desta dupla conexão da filosofia com a ciência e a política: o seu protagonista principal foi Platão. Os milénios sucederam-se mas o esforço de Platão continua a orientar o nosso próprio esforço neste tempo indigente.
Na minha tese de mestrado, confrontei-me com o conceito da história da filosofia como sucessão de modelos fracassados do cérebro proposto por E.O. Wilson. Mas não cheguei a analisar cada um desses modelos, embora tenha esclarecido o modelo de Descartes e o modelo de Kant, de modo a demarcar-me dos modelos empiristas dos filósofos ingleses. Ora, nessa altura, eu estava muito marcado pelos modelos hierárquicos da etologia e pela teoria dos padrões fixos de comportamento de Lorenz. Hoje que estive a trabalhar no campo das neurociências lembrei-me do repto de Wilson. De facto, convém clarificar os modelos do cérebro elaborados pelos filósofos, incluindo o de Santo Agostinho. A preocupação política está presente em todos.
O que é um modelo do cérebro? Qual a organização do cérebro? Qual a sua relação com a mente e o comportamento? Enfim, uma série de questões que os filósofos deviam resolver quando analisam uma teoria do conhecimento. E a questão crucial: Temos uma teoria do cérebro ou meros modelos?
Konrad Lorenz escreveu sobre os oito pecados mortais da civilização: as doenças de civilização são doenças do espírito humano, uma das quais é o stress que sofremos devido ao desfasamento entre o ritmo da evolução filogenética - demasiado lento - e o ritmo alucinante da evolução cultural e tecnológica. Mais pior que a doença de civilização é a degenerescência genética que ajuda a compreender os ciclos culturais de Spengler. Enfim, estamos em decadência, a começar desde logo pela decadência da língua.
O pensamento tecnomorfo é outra doença de civilização. Nos USA, o behaviorismo protagonizou este estilo de pensar que visa o domínio sobre o homem mediante a aplicação do instrumental matemático ao estudo dos sistemas vivos. O pensamento tecnomorfo é insensível aos valores humanos, e lá onde vemos limitações éticas ele vê limitações técnicas: a desumanização resulta deste estilo de pensar.
A libertação das mulheres reduzida ao direito de fazer sexo produziu, segundo Lorenz, outra doença de civilização: a falta de contacto entre os seres humanos. A base da sociedade - a família - é arruinada, desencadeando uma cascatas de efeitos negativos, tais como a formação de sociedades juvenis, o conflito entre gerações, enfim a eliminação da tradição que implica o respeito pela autoridade parental. Suspeito que a maior parte dos utentes das redes sociais sofrem de deficiências nos contactos inter-humanos: sensibilidade mutilada e claudicação espiritual.
Os Relatórios Kinsey reduzem o "sexo" - ou, se quiserem, a sexualidade - à actividade sexual, a qual é medida usando métodos estatísticos. Comportamentos sexuais tais como a formação de pares, a corte ou o namoro foram assim descartados dos relatórios, dando lugar àquilo a que podemos chamar reificação sexual. O pensamento tecnomorfo desumaniza o homem, privando-o da dignidade humana e da sua forma peculiar de ser. A ideologia do orgasmo é sintoma disso: as mulheres buscam o seu ponto G e recorrem às injecções para aumentar o seu tamanho, e algumas até ejaculam. A sociedade está cada vez mais irracional e animalizada.
Quando contracenei com A. MacIntyre num Congresso Internacional chamei-lhe "reaccionário" enquanto expunha a sua comunicação em inglês: o homem ficou a detestar-me. O que eu não suporto é a falta de honestidade intelectual e a sua leitura de Marcuse é desonesta e falsa.
Geralmente, os intelectuais "nórdicos" olham de cima para os intelectuais da Europa do Sul e, infelizmente, estes últimos permitem esse desprezo. Contudo, comigo eles são confrontados com a sua infinita ignorância e má-fé: eles carecem de erudição e à sua estratégia argumentativa reajo como um mandarim alemão, o que choca a sensibilidade inglesa.
Estive a ler o Prefácio Político de 1966 a "Eros e Civilização" de Herbert Marcuse. É certo que não concordo que as forças externas do Terceiro Mundo possam alterar o status quo ocidental, mas sou sensível à análise de Marcuse que, a partir da composição orgânica do capital, mostra o crescimento das actividades improdutivas e do desemprego tecnológico. Aliás, considero que reside aqui uma das profundas contradições internas do capitalismo ocidental: o aumento das actividades improdutivas implica o conceito de inutilidade da vida humana: as massas improdutivas constituem a ralé.
Os americanos andam preocupados com esta questão do desemprego tecnológico. A economia de mercado precisa de consumidores, mas o progresso tecnológico gera desemprego e, sem dinheiro, as pessoas não consomem. Sou muito pessimista quanto à emergência das actividades improdutivas porque, nessas condições, as pessoas são descartáveis.
"Eros e Civilização" é a obra mais marcuseana de Marcuse. Nunca me identifiquei completamente com a forma como definiu o princípio de uma civilização não-repressiva e, neste aspecto, estou mais próximo do conservadorismo de Freud. Porém, se lermos a poética de Bachelard, ficamos com outra ideia da "utopia" de Marcuse: a noção de repouso é fundamental e, de certo modo, Orfeu e Narciso oferecem imagens de repouso.
Marcuse coloca Freud contra Freud para definir o princípio de uma civilização não-repressiva: o que lhe interessa em Freud não é a ciência do inconsciente e a sua prática terapêutica, mas a Filosofia da Psicanálise que ele vê elaborada na metapsicologia de Freud. Concordo absolutamente com esta postura filosófica de Marcuse que converte os conceitos psicológicos em conceitos políticos. Numa sociedade onde os indivíduos são meros portadores de determinações sociais, a psicologia perde autonomia: o primado da sociedade sobre o indivíduo autónomo exige uma mudança de paradigma que Marcuse capta quando diz que o biologismo de Freud é teoria social. As consequências epistemológicas desta mudança de paradigma ainda não foram pensadas. Porém, também podemos colocar Marcuse contra Marcuse: a luta pelos direitos civis nos USA não trouxe consigo nenhuma mudança social qualitativa: o conformismo articula-se hoje com a regressão civilizacional. O retorno do reprimido, neste caso do inconsciente colonial, ameaça a própria civilização.
Confrontemos Marx com Freud. Marx diz: a História da Humanidade é a história da luta de classes. Freud diz: a História do Homem é a história da sua repressão. Aparentemente há um abismo entre estas duas teorias. Reich mostrou ser possível fazer a síntese de Marx-Freud, o freudo-marxismo, a partir da reformulação do conceito de repressão. A síntese freudo-marxista é uma das grandes vitórias da filosofia contemporânea: ela é simplesmente brilhante. Marcuse explicitou melhor essa síntese ao introduzir o princípio de desempenho ao lado do princípio de prazer e do princípio de realidade.
Hoje descobri que é possível definir uma Ordem não-repressiva a partir da imagem de Narciso. Para a explicitar é necessário regressar à mitologia grega e à sua poesia. Só bebendo na origem podemos resgatar o Ocidente.
O marxismo conservador abandonou o ideia de progresso, rompendo completamente com o optimismo de Marx. Cada um de nós nasce com o seu temperamento determinado pela lotaria genética: uns nascem optimistas, outros nascem pessimistas, como é o meu caso. Eu penso que a história dá mais razão aos pessimistas metódicos do que aos optimistas ingénuos. A história do homem é a história do domínio sobre a natureza e da dominação, e esta não tem parado de crescer proporcionalmente ao progresso técnico. Porém, chegou a hora de dosear o pessimismo e o optimismo. A biologia evolutiva ao reduzir o homem ao animal animaliza na realidade o homem. E o mesmo sucede com o retorno do reprimido que, numa sociedade sexualmente permissiva como a nossa, não trouxe nenhuma mais-valia ontológica ao mundo; pelo contrário, produziu a consciência feliz de indivíduos mutilados somática e cognitivamente.
Houve um tempo em que os intelectuais portugueses e brasileiros colaboravam, mas com a ascensão social da ralé perdeu-se o contacto: os grandes temas da língua portuguesa foram esquecidos, as obras deixaram de ser reeditadas e a ralé limita-se a opinar sem saber donde vem, onde está e para onde vai. Lendo a obra de Antero Vieira de Lemos - Anto, O Poeta da Saudade -, fiquei a saber da existência de estudos brasileiros sobre António Nobre, o poeta mais triste do Porto. Porém, fiquei desconcertado com a tónica posta na suposta herança árabe da lírica portuguesa. O grande acontecimento na vida do poeta portuense foi a sua própria tuberculose, em função da qual a saudade deve ser lida. A Água é o elemento predominante na poesia de António Nobre, o marinheiro que faz a sua viagem para a morte. A água leve do rio Leça cede lugar à água pesada do oceano: o naufrago em vida, eis António Nobre.
O que faz a ralé no Facebook? Anda no engate.
Antero Vieira de Lemos, autor da obra "Anto, O Poeta da Saudade: a vida e a obra de António Nobre", foi um crítico literário portuense deveras surpreendente. Rejeita as chamadas correntes literárias para ver nelas meras atitudes perante a vida e o mundo. Destaca duas atitudes: a romântica que define como fuga à realidade exterior, e a realista que permite a crítica dessa mesma realidade exterior. Ora, a fuga à realidade é um encontro do eu consigo mesmo. Neste sentido, António Nobre é um romântico: ele revela o seu mundo interior. Porém, quando confronto o mundo interior dos poetas portugueses com o mundo interior dos meus poetas preferidos, sou obrigado a reconhecer a sua ausência no universo poético português, e, sendo assim, a saudade mais não é do que a saudade de um mundo interior rico vedado aos portugueses, os seres mais idiotas à face da Terra.
Porém, Antero Vieira de Lemos saca uma conclusão incontornável: o romantismo português é mais sentimental do que metafísico. Daí a incapacidade dos portugueses para produzir uma obra universal. Os portugueses leram os românticos alemães sem os compreender: o povo português é um povo sem metafísica.
Em vida, António Nobre só publicou uma obra: "SÓ". Quando morreu, os seus amigos publicaram "Primeiros Versos" e "Despedidas", onde encontramos "O Desejado", com apresentação de Sampaio Bruno. Mais tarde publicaram-se "As Cartas Inéditas de António Nobre" e outros documentos. Os portugueses são tão burros que nunca desconfiaram que são nesses escritos - cartas, notas e cartões - que reside a chave de leitura da poesia de António Nobre. Malditos portugueses que não merecem existir!
António NOBRE: "Que fazia eu? Nada. Cismava, às vezes,
"Errante, ao «Deus-dará» da vida:
"Sempre assim fomos nós os Portugueses!"
"Mar alto, naquela escuna,
"Fugace, de asa ligeira,
"Vai um mísero rapaz,
"Procurar, fazer fortuna,
"Em uma terra estrangeira,
"Já que na Pátria a não faz".
António NOBRE:
"Quando nasci eu embarquei, criança!
À beira-mar, da lacrimosa Viva,
Na escuna «Spes», para seguir viagem,
No mar da Vida, em busca do Futuro".
Nobre era ainda um jovem rapaz quando escreveu estes versos no Porto. Mas quando regressa de Paris a sua vida muda: a viagem trouxe um outro hospedeiro, a tuberculose, e a água leve converte-se em água pesada, a da morte.
Os portugueses são bêbados que produzem vinho sem nunca terem captado a poética do Vinho do Porto e das Vindimas. O que é o Vinho do Porto? Não encontramos resposta na poesia portuguesa. O Vinho do Porto é um corpo vivo onde se mantêm em equilíbrio os "espíritos voláteis" e os "espíritos ponderados", conjugação de um céu azul e de um solo montanhoso. O Vinho do Porto é realmente o único universal que sabe tornar-se particular quando encontra um filósofo que saiba bebê-lo e preservar-lhe a sua virilidade.
De todos os poetas portugueses Guerra Junqueiro foi o único que teve um grande pensamento que, infelizmente, não soube realizar e concluir. Hoje pensei nele como o poeta da Casa Onírica. A minha interpretação de Guerra Junqueiro foi considerada pelos especialistas como "definitiva". Mas se introduzir a Casa Onírica volto a reabrir o Dossier GJunqueiro.
Um poema autêntico em língua portuguesa deve amaldiçoar Portugal e ansiar pela extinção dos portugueses, o agregado sem metafísica e sem ciência. Título: Anti-Portugal.
Chegou a hora de dar a palavra ao meu poeta, Georg TRAKL, embora tenha pensado também nos Sonetos a Orfeu de Rilke:
"Sombras azuladas. Oh, olhos de mágoas
Que me olham longamente ao deslizar.
Guitarras nos jardins, a acompanhar
O outono e a dissolver-se em escuras águas.
Duras trevas da morte, construídas
Por mãos nínficas, rubros seios sugados
Por lábios podres, e os cabelos molhados
Do jovem nas águas enegrecidas." (Melancolia)
Um universo metálico e frio! Maldita geração! Aguardamos pelos que ainda não nasceram para renovar o mundo!
A questão: Quem é o Jovem? A resposta ajuda a compreender a poesia de Trakl! G Junqueiro aproxima-se desta temática para depois fugir para o mundo simples. Ora, o mundo simples é o mundo dos nossos pais e avós. O regresso é fatal; paralisa a novidade e bloqueia o futuro. A menos que a simplicidade seja sinónimo de renovação. Garrett sabia que o regresso não encontra o mundo de que o forasteiro partiu: não há regresso.
Pois, podemos pensar a temática do regresso a partir da experiência dos "retornados". Ou a partir de um regresso ao país donde se foi expulso. Voltar a Moçambique ou a Angola! Dois falsos regressos: quem nasceu numa dessas colónias não é retornado: ele limita-se a ir viver para a terra natal dos seus pais. Mas o regresso à sua terra natal depois dessa experiência de exílio também é um falso regresso: a terra já não é a mesma. Sendo assim, ele vive entre dois mundos, ambos sonhados.
Apesar de ser um crítico de Portugal, reconheço que há uma cultura portuguesa que ainda não foi descoberta pelos portugueses. Os portugueses não conhecem a sua história e a sua literatura. Não sei para que servem as disciplinas de História e de Língua Portuguesa: os professores não cumprem a sua missão na transmissão da cultura portuguesa.
O actual divórcio entre a cultura portuguesa e a cultura brasileira é fatal para a cultura em língua portuguesa. Houve sempre uma aliança estreita entre as duas culturas desde o século XIX até às primeiras cinco ou seis décadas do século XX. O Porto do século XIX foi o grande centro português que deu rosto a essa aliança. Aliás, muitos portuenses ilustres tinham ligações familiares com o Brasil. Os jornais brasileiros publicavam poemas portuenses e as revistas literárias portuenses contavam com a colaboração de brasileiros.
O Brasil perdeu-se na busca das suas raízes indígenas e africanas. Nenhum grande país que deseje vencer no mundo pode trocar a cultura ocidental por culturas primitivas: as dificuldades do Brasil prendem-se com essa busca regressiva.
Eu não gosto da escrita da maior parte dos actuais escritores portugueses porque é uma escrita inadequada para o pensamento filosófico. Porém, hoje li diversos textos do passado cuja escrita me encantou. O Porto deu a Portugal a possibilidade de pensar filosoficamente em língua portuguesa, e a primeira tentativa de pensar a filosofia da história de Portugal devemo-la a um portuense ilustre: Sampaio Bruno cuja escrita é, por vezes, obscura.
Há uma dupla-clivagem entre o Norte e o Sul de Portugal: há a clivagem étnica e há a clivagem cultural. Toda a cultura genuinamente portuguesa nasceu no Porto. Júlio Dinis imprimiu-lhe um rumo que chocou com a sensibilidade citadina de Eça de Queirós, ele próprio um homem do Norte. Protagonizou este Porto profundo o ideal da vida simples dos camponeses contra o "spleen" da vida das cidades? Acho que devemos reinterpretar a "simplicidade".
Portugal transporta no corpo a sua própria morte: a unidade nacional é mais ideológica do que real. Lisboa seca Portugal condenando-o à eterna repetição do mesmo erro estrutural. O Porto precisa de se recriar e se reinventar na luta contra essa falsa unidade nacional. Embora soubessem isso, os ilustres portuenses não tiveram coragem para quebrá-la e reclamar a sua autonomia. A única possibilidade de universalizar a cultura em língua portuguesa reside na grande tradição cultural do Porto, a única cidade capaz de ansiar pelo infinito sem o procurar no finito. Neste contexto, a saudade muda de sentido e de orientação: o fado é estranho à alma portuense.
A Crimeia é russa e a Rússia deve tomar conta daquilo que é seu e dar cabo dos ucranianos. Os USA não mandam na Europa e devem devolver a Califórnia ao México e o Alasca à Rússia. A França é merde.
O génio dramático de Mozart foi estudado por três filósofos: Hermann Cohen, Kierkegaard e Dilthey. Dos três foi Dilthey que mais se aproximou da compreensão de Mozart como génio dramático: a arte dramática de Mozart é uma representação da estrutura básica do mundo social e não uma imitação da natureza, como defendeu Rousseau numa polémica anterior. Mozart utiliza três recursos musicais para iluminar de dentro o sentido com referência ao qual cada uma das personagens do cenário define a situação, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta à participação dos espectadores nesse processo: o uso do recital, o tratamento da orquestra e a utilização do conjunto vocal. Dilthey esboçou uma estética musical da obra dramática de Mozart.
Há uma ligação orgânica entre Filosofia e Música desde a Grécia antiga até ao nosso tempo. Esta conexão tem sido pensada de maneiras diferentes ao longo dos tempos. Um momento decisivo é o movimento dos enciclopedistas franceses. Rousseau escreveu quase todos os artigos musicais da Enciclopédia, e envolveu-se numa polémica musical a propósito de uma obra de Rameau. Convém lembrar que Rousseau é autor de um Dicionário de Música e de uma ópera - Le Devin de Village, que foi representada em toda a Europa. Actualmente, com a ascensão social da ralé, perdeu-se o contacto com o espírito da música: as criaturas humanas abanam o esqueleto simulando gestos obscenos e sambam feitas baratas tontas.
Leibnitz: «Musica est exercitium arithmeticae occultum nescientis se numerare animi». A Música é uma actividade aritmética oculta de uma mente que não sabe que está a contar.
Schopenhauer: «Musica est exercitium metaphysices occultum nescientis se philosophare animi». A Música é uma actividade metafísica oculta de uma mente que não sabe que está a filosofar.
Infelizmente, Portugal nunca teve uma cultura musical, mantendo-se distante das inúmeras querelas musicais que se travaram em França, Itália e Alemanha. Ainda hoje as grandes obras dos músicos famosos não estão traduzidas em língua portuguesa. Também não há obras de história da música ou de estética musical. Portugal é um ermo de gente sem sensibilidade estética.
O que seria de nós sem o romantismo alemão? No que diz respeito à estética musical, esse romantismo legou-nos as teorias de Wackenroder, Schelling, Hegel, Schopenhauer, Hoffmann e Stendhal. Sem estas referências é impossível compreender as estéticas musicais.
Theodor W. Adorno, filósofo e compositor, é talvez o último grande filósofo a escrever sobre música: a sua "Filosofia da Nova Música" é uma obra incontornável da estética musical. A sua "sociologia da música" - menos conhecida - é um desafio hermenêutico: Adorno introduz - e bem - a mediação para pensar a relação entre música e sociedade. E, deste modo, evita tratar a música como reflexo superestrutural da base económica da sociedade. É isso que os seus críticos não compreendem.
Já não suporto a música negra e, nesta condenação, permaneço fiel a Adorno: a música africana é ruído e demasiado imediata. A imediatez tão elogiada por Kierkegaard contra a reflexão assusta-me porque me rouba o pensamento e a minha essência humana.
Como é evidente, sou demasiado hegeliano para me satisfazer com a imediatez. Aprecio o esforço de Rousseau mas não posso ceder à imediatez musical.
Rousseau deixou o núcleo da sua estética musical envolto numa ambiguidade. Há sempre duas leituras legítimas de Rousseau.
Os americanos estão a destruir o legado cultural do Ocidente, convertendo os seus produtos em mercadorias consumidas pela voracidade da ralé.
Os estudos neurobiológicos sobre os efeitos mentais da música são instrumentais, no sentido de possibilitarem o uso da música para favorecer a venda de outros produtos. Porém, há outra via a seguir pela pesquisa neurobiológica e esta sim conforma-se aos padrões elevados de uma teoria crítica.
Hoje estive a contar as prateleiras de três estantes dedicadas às artes e à estética: são 18 prateleiras repletas de arte e teoria da arte. Saquei algumas obras de música e estive a reler uma História da Música bastante técnica. Tanto esta história como a da estética musical concluem com o aparecimento da música electrónica. Depois consultei uma história sobre música electrónica. Se tivesse tempo e vivesse noutro país, era capaz de esboçar uma História da Filosofia à luz da ideia de Música.
Ontem, quando disse que Portugal não tinha uma cultura musical, estava a exagerar: Há uma cultura musical portuguesa, como é evidente, mas não há uma História da Música Portuguesa e da Estética Musical, pelo menos no sentido que dou a estes termos. Consultei uma antropologia dos instrumentos musicais e fiquei triste por não ver os instrumentos portugueses referenciados. Mas a culpa não é do seu autor alemão mas dos portugueses.
A Antropologia dos Instrumentos Musicais que consultei trata da evolução conjunta dos instrumentos musicais e da música. Distingue os seguintes tipos de instrumentos musicais: os instrumentos de percussão, nos quais se incluem a tradição antiga e a nova tradição do Jazz, os instrumentos de sopro, os instrumentos mecânicos e os instrumentos de corda. A cada novo tipo de instrumental musical corresponde uma ou mais tradições musicais. Eu prefiro falar de culturas e subculturas musicais.
As filosofias da música esquecem o fundamental: o mundo dos sons visto a partir de uma antropologia filosófica fundamental. Só a partir deste fundo filogenético é possível estabelecer um diálogo produtivo com as neurociências.
Uma teoria neurobiológica da música introduz diferenciação no "escutar música": o ouvido feminino é diferente do ouvido masculino, e cada um destes diferencia-se em função da orientação sexual. A partir deste fundamento podemos diferenciar diversas culturas musicais e recepções musicais: a cultura musical masculina e a cultura musical feminina. E todos estes conceitos nos reconduzem à hominização.
Etologia da comunicação, sociobiologia... diversas disciplinas ajudam a clarificar a música.
A audibilidade do mundo diz-se de muitas maneiras.
O estudo de McFadden & Pasanen (1999) fundamenta a minha hipótese neurobiológica da música. Mas - como sou conceptual designer - posso ir mais longe, integrando tanto a filogénese como a ontogénese e levando em contas os níveis hormonais. Evolução do ouvido e Desenvolvimento do ouvido conjugam-se, de modo a fornecer o quadro geral da teoria neurobiológica da música e do seu mundo de sons. Encaro o ouvido como uma teoria susceptível de ser melhorada: quer dizer que a audibilidade do mundo se diz de muitas maneiras. Grosso modo, há o mundo audível dos homens e o mundo audível das mulheres, e cada um deles altera-se ao longo do desenvolvimento. Assim, por exemplo, o mundo audível do bebé é diferente do mundo audível do adulto. As patologias da audição devem ser levadas em conta.
Ora, a minha hipótese neurobiológica dá uma resposta à velha questão de saber se a música está no topo das artes ou se é a obra de arte total. Recorro a um dado fundamental e a um ritmo biológico: a audição é mais importante à noite do que durante o dia onde predomina a visão. A Filosofia abunda de metáforas visuais: o órgão sensorial privilegiado foi sempre a visão. A teoria é visão. O que acrescento é outra metáfora: a teoria é audição. As implicações filosóficas são profundas e conduzem à audição do cosmos.
Embora já tenha estudado alguns tratados de etnomusicologia, ainda não tenho uma opinião formada sobre a problemática das diferenças musicais em função da etnia e da cultura. Mas em princípio sou favorável à abordagem diferencial das musicalidades étnicas.
Os etnomusicólogos recolhem sons de outras culturas e esta é uma tarefa fundamental que deve ser completada pelo estudo dos seus instrumentos musicais: Da conjugação destes dois estudos resulta o perfil ou estilo etnomusical de um povo. Definidas as diversas musicalidades étnicas, podemos confrontá-las com a musicalidade ocidental: os pitagóricos foram os primeiros filósofos a racionalizar a musicalidade. Há, pois, uma racionalização da música que não tem sido levada em conta no discurso da racionalização ocidental, embora Weber tenha dito alguma coisa sobre o assunto. Suspeito que a mistura de musicalidades diferentes tenha como efeito a regressão auditiva, uma perturbação contemporânea.
Ontem, antes de dormir, estive a reler partes de uma obra de Changeux dedicada ao prazer estético. Em primeiro lugar, acho mais complicado realizar a neurobiologia da pintura do que a neurobiologia da música. E, em segundo lugar, a noção de prazer estético pode não corresponder à experiência de recepção de um quadro. Não estou a descartar a noção de prazer.
A neurobiologia do coleccionador e do comportamento de coleccionar só pode ser vista à luz do comportamento obsessivo-compulsivo. E, neste capítulo, divirjo completamente da análise neurobiológica de Changeux. Há semelhanças entre os comportamentos dos coleccionadores e dos "acumuladores". Porém, há também uma diferença qualitativa: o coleccionador não precisa de tratamento.
Há uma neurobiologia da criação artística? Não rejeito a hipótese desde que ela leve em conta o lobo frontal como órgão da civilização, bem como a genética. Porém, embora sejam produtos do cérebro criativo, as obras de arte têm uma lógica própria que supera as leis de sua criação neuronal. A estética goza de autonomia em relação às neurociências.
A Biologia Molecular tem o seu dogma e a Etnologia também tem o seu dogma: o da unidade do género humano. Deixando de lado o dogma da biologia molecular, segundo o qual o ADN não recebe lições da experiência, o dogma da etnologia não resiste a uma análise crítica. Hoje, ao ler ensaios de autores alemães, descobri novos argumentos-factos para demolir a dogma da etnologia: Não há uma Humanidade; existem diversas humanidades.
N. Humphrey esboçou o programa de uma "estética natural", cuja ideia-mestra é a seguinte: as estruturas belas na natureza (Belo natural) e na arte (Belo artístico) são aquelas que facilitam a tarefa de classificação, apresentando evidências de relação taxonómica entre as coisas, de uma maneira informativa e fácil de aprender. A proposta de Humphrey fundamenta-se no facto da classificação ajudar na organização da experiência sensorial, introduzindo uma economia na descrição do mundo. Ora, uma tal actividade vital evoluiu como fonte de prazer: Classificar é, ao mesmo tempo, juntar espécies diferentes numa mesma categoria e separar as categorias umas das outras. A minha experiência confirma a ideia de que o prazer taxonómico resulta da percepção simultânea da rima e da novidade. O que me dá mais prazer numa investigação é precisamente a classificação. Quando imponho uma classificação ao material recolhido alieno-me completamente do mundo: o prazer resultante é fabuloso.
O Orgasmo é o ópio do povo.
Apesar de ser um disparate, a teoria dos três estádios evolutivos de Comte marcou profundamente diversas filosofias. Se no passado a religião foi o ópio do povo, como disse Marx, hoje, neste nosso tempo indigente, o orgasmo é o ópio do povo. Depois da religião, o orgasmo deve ser a segunda maior adição da humanidade, o que confirma a ideia do homem ser um animal-adicto. A Filosofia e a Ciência não são formações aditivas.
A Biologia das Adições e das Drogas deve ser o sector biológico mais adequado para ajudar a reformular a antropologia filosófica: a origem da adição recua até aos nossos antepassados que povoaram o oceano primordial e está ligada ao SAL. E da palavra "sal" resultou a palavra "salvação" ou a palavra "salário". O Sal ajuda a compreender a nossa aventura na Terra.
A Arquitectura tem sido classificada como uma "arte menor". Pessoalmente, não concordo com este lugar inferior atribuído à arquitectura e, de certo modo, se Hegel tivesse elaborado melhor as suas belas imagens, teria dado à arquitectura um outro lugar no parlamento das artes. Adoro a arquitectura, a arte do espaço!
Li alguns artigos alemães sobre Urbanismo e fiquei interessado nas temáticas que desenvolvem. Uma delas é como tornar o centros históricos habitáveis. Os portuenses - se não fossem tão parolos - deviam estudar mais para deixar de lado o bolor que transportam. O que é um arranha-céu? A arquitectura da verticalidade responde a um velho anseio humano. O que é um bairro ou uma zona residencial? Os portugueses não sabem responder a estas questões: são burros!
Os portuenses com bolor - e infelizmente são muitos - têm merda de lagartixa no cérebro: Nunca estudaram as obras de sociologia urbana da Escola de Chicago e nunca leram a crítica da vida quotidiana de Lefebvre. Estes brutos não sabem o que significa ser uma cidade aberta ao mundo! Ui, hoje acordei com ódio contra estas criaturas burras do Porto.
Agora, quando fui tomar café, presenciei uma cena deveras estranha: um casal de mau aspecto "caçou" um gato que se escondia debaixo de um carro, com a ajuda de uma vassoura. Uma senhora parou para protestar mas foi insultada pela mulher que lhe disse "gostar mais de gatos do que de pessoas". Ora, não é a primeira vez que os vejo a caçar gatos. Suspeito que vão esfolar o gato e cozinhá-lo com arroz!
Que pensamento terrível! Dizem ser amigos dos animais, agarram gatos nas ruas alegando que os levam para casa e, no final, andam a comer os gatos. Ora, sempre houve muitos gatos nas ruas e agora quase não os vejo.
Este governo só faz mal a Portugal: obriga os doentes a morrer em casa sem apoio e força os tugas a comer gatos. Aliás, eu acho que o café que tomamos perdeu qualidade: andamos a beber qualquer tipo de mistura sem qualidade e talvez prejudicial à saúde. Falta saber se não comemos gato nos restaurantes. Eu não ponho as mãos no fogo pelos portugueses porque ficava com elas queimadas.
Ai, estava a fumar e fui invadido pelo remorso. Não vou denunciar a situação à polícia porque pessoas em situação de fome extrema precisam de se alimentar. E os gatos são uma fonte de proteínas, ácidos gordos e açúcar. Devemos é lutar contra este governo que gera pobreza extrema.
A União Europeia é igual à URSS: os seus burocratas são anti-democráticos e têm fortunas nos bancos da Suiça e em offshores da City de Londres. Além disso, violam todos os princípios democráticos vigentes, apoiando os rebeldes-arruaceiros na Ucrânia e mandando a polícia a reprimir as manifestações nos países que integram a UE. Há, portanto, um duplo-critério: apoiam no exterior aquilo que reprimem no interior. Os euroburocratas são indivíduos incultos e perversos. E são piores do que os russos: esquecem que as sanções à Rússia terão efeitos nefastos na Europa.
Ontem estudei vulcanologia e, olhando para o mapa dos vulcões, verifiquei que as zonas mais seguras do planeta são Brasil, África Austral, Austrália, uma parte dos Estados Unidos e nós aqui no Porto não estamos mal, apesar da proximidade do Vesúvio e dos vulcões dos Açores.
Hoje acordei metafísico e, quando isso acontece, permaneço metafísico até adormecer e acordar para um novo dia. A Filosofia debate-se com um conjunto de problemas que não têm solução. "Filosofia Perene" é o nome que devemos dar ao exercício filosófico que trata desses problemas, um dos quais é o problema da morte. Hoje sou epicurista e afirmo: Não temas a morte porque nunca te encontrarás com ela. Epicuro: «O mal mais terrível, a morte, não nos toca. Com efeito, enquanto nós existimos, a morte não está (presente); quando a morte está (presente), nós já não existimos».
A descoberta do núcleo radical do devir histórico impõe a questão do sentido último da história. A Filosofia no seu devir histórico apresenta duas respostas: ambas são respostas de imanência intramundana e intrahistórica, diversas e opostas entre si. A primeira resposta foi esboçada por Marx e pensada por Ernst Bloch: o sentido do devir histórico é a sua finalização para a plenitude imanente definitiva na identidade vindoura entre o homem e a natureza por ele transformada, a Pátria da Identidade. A segunda resposta foi dada por Nietzsche e Garaudy: o devir histórico não tende para um porvir último definitivo: é um devir nunca concluído e acabado, nunca definitivamente cumprido, um devir que se faz e se fará sem fim, sem finalidade e sem termo último. Daqui resulta que o sentido da história é o de um processo ilimitado de metas sempre penúltimas e provisórias sem nenhuma etapa final, nem de plenitude nem de extinção. Porém, há uma terceira resposta que é teológica, mais precisamente escatológica: a história está em si mesma aberta a um porvir meta-histórico, transcendente à história e absoluto.
A Filosofia da História elaborada por Ernst Bloch apresenta algumas aporias que herdou da antropologia do Jovem-Marx. Não me refiro tanto à ambiguidade da solução dada à questão da morte, mas basicamente à aporia resultante da apresentação final do humanismo como naturalismo. Esta aporia afastou-me da utopia positiva marxista. E, para a ultrapassar, elaborei a teoria apocalíptica da história: um processo aberto mas condenado à destruição-aniquiladora. A política surge aqui como adiamento da catástrofe final. A minha visão da história foi profundamente marcada pelo pessimismo das cosmologias maia e asteca.
A questão da morte é geralmente utilizada para mostrar as limitações da Filosofia Marxista. Ernst Bloch debateu-se com ela, repetindo dois lemas: «Non omnis confundar» (Não desaparecerei de todo, não cairei totalmente no caos do nada) e «Spero, ergo ero». Mas estes dois lemas não alteram substancialmente o texto de Marx que opõe a imortalidade da espécie humana à mortalidade do indivíduo. Não se trata de sobrevivência do eu pessoal, mas da sobrevivência da natureza humana como tal: o elemento imortal é o núcleo do género humano, que subsiste à caducidade do processo e permanecerá definitivamente plenificado na identidade vindoura humanidade-natureza. Ora, a minha teoria opõe-se à imortalidade da espécie humana: a humanidade está sempre-já condenada a perecer.
Enfim, aspirar à imortalidade é um sonho perigoso que leva a humanidade à extinção.
Eis a solução apresentada por Unamuno, filósofo espanhol, amigo da Cidade do Porto e dos seus ilustres filósofos: A razão não pode demonstrar a sobrevivência do homem mais-além da morte; a ultratumba é totalmente inacessível à razão. Mas a esperança supera o conhecimento racional e é irredutível à razão. Sem a esperança de uma sobrevivência imortal, a nossa vida no mundo careceria de sentido, fundindo-se no nada, no despojamento do eu-pessoal. A esperança é a ânsia insuprível de eternidade, um querer-viver para sempre, que somente Deus pode garantir: «Deus é a substância do que esperamos», diz Unamuno; no nosso eu-pessoal, na nossa consciência de ser si-mesmo, transportamos Deus como fundamento de uma esperança que não pode morrer. Ora, esta solução de Unamuno tem afinidades com as soluções dadas por Teixeira de Pascoaes e Leonardo Coimbra à questão da morte.
Para solucionar o problema da morte, cheguei a elaborar a teoria de um campo de memória infinita, a de Deus ou simplesmente um campo impessoal. Porém, esta teoria não evita completamente as aporias apontadas pela teologia às teorias imanentes, além de implicar a perda de soberania de Deus. Mas há uma outra via física: o universo-holograma retém toda a informação sobre cada um de nós à "superfície de um buraco-negro".
Eheeee... Quando sou metafísico não deixo de ser físico: os meus pensamentos estão para-além dos limites estreites das mentes metabolicamente reduzidas, boas para usar em experiências de ressonância magnética funcional.
Quais as obras de Leonardo Coimbra que aconselho? Da edição Lello editores das Obras Completas: Criacionismo: Esboço de um sistema filosófico; Criacionismo: Síntese filosófica; A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre; Pensamento Criacionista; A Razão Experimental; O Homem às Mãos com o Destino; e, por último, A Alegria, A Dor e A Graça.
Tenho muita vergonha dos portugueses que desconhecem as obras criadas pelos seus concidadãos ilustres: Miguel Bombarda, Ricardo Jorge, Magalhães Lemos, Abel Salazar, enfim Júlio de Matos. E todos médicos portuenses ilustres! Uma vergonha as suas obras não serem reeditadas. A maldição abateu-se sobre Portugal.
Se tivesse paciência para pesquisar arquivos, escrevia um livro sobre O Nascimento da Psiquiatria Moderna no Porto, outro sobre A Escola Médico-Cirúrgica do Porto e o Problema Cérebro-Mente, e outro sobre o Nascimento da Clínica no Porto. Porém, sou preguiçoso e prefiro planear estudos experimentais.
Egas Moniz: «(A atracção mútua monogâmica) É o amor o mais intenso dos sentimentos: domina completamente a nossa vida, abrange e absorve as actividades da nossa existência, e, fundamentalmente, é, no homem, o desejo da saciação genésica, e na mulher, que é menos sensual, a aspiração dum protector e dum pai para os seus filhos. /No mundo dos animais é sempre o macho mais bonito que a fêmea; nós porém achamos mais belas as mulheres, galantaria unicamente explicável pela sensualidade masculina. /O homem é essencialmente sexual, a mulher é essencialmente mãe».
EGAS MONIZ: «A copulação é um acto em que o homem desenvolve muito mais actividade do que a mulher. Esta fica sempre num estado de relativa passividade que pode chegar a ser completa». Bem, não vou entrar na fisiologia e patologia sexual tal como as encara Egas Moniz. Porém, esta descrição da cópula heterossexual esquece que muita dessa actividade masculina resulta da produção de espermatozóides em quantidades astronómicas - e o espermatozóide é activo e sabe dirigir-se ao alvo para o fecundar.
A Obra de Egas Moniz divide-se em duas partes: a primeira é dedicada à fisiologia da vida sexual e inclui a descrição dos órgãos sexuais, a puberdade, menstruação e menopausa, o instinto sexual, o acto sexual e a fecundação, a hereditariedade e a origem dos sexos, a esterilidade artificial na mulher, a fecundação artificial na mulher e o casamento e higiene sexual; a segunda parte debruça-se sobre a patologia sexual. As patologias sexuais são classificadas nesta ordem: perversões sexuais, neuroses sexuais, heterossexualidade mórbida - prostituição, sadismo, necrofilia, masochismo e devassidões heterossexuais -, homossexualidade masculina e feminina, assexualidade - erotomania, exibicionismo, onanismo, feiticismo e bestialidade -, e perversões morais. Além disso, trata da vida sexual dos alienados mentais. A obra é interessante e inovadora.
A intuição genial de Egas Moniz: «(Os homens homossexuais) preferem todos os brinquedos femininos, possuem a habilidade manual das pequenas coisas, preocupam-se particularmente com o seu vestuário, preferem as bonecas aos divertimentos dos rapazes, de quem se esquivam para se associarem às pequenitas com quem se entretêm de preferência, etc.». Egas descreve aqui aquilo a que chamamos hoje infância sexualmente atípica de alguns rapazes homossexuais, mas não de todos. Egas não diferencia as homossexualidades e não suspeita da sua origem genética. Mas a descrição é boa.
Sou capaz de escrever "O Nascimento da Psiquiatria no Porto", mas os outros dois projectos são difíceis de realizar: A História da Medicina exige uma clarificação prévia da Filosofia Médica e esta ainda não apreendeu a novidade radical da nova medicina. "O Nascimento da Clínica no Porto" requer muitas leituras e alguma violência hermenêutica: os médicos portugueses mais famosos desse período saíram de Portugal. Porém, hoje recolhi novos materiais sobre medicina tropical e a política de saúde nas colónias portuguesa. D. João VI fundou as Escolas de Cirurgia na Bahia e em Rio de Janeiro. Goa teve o seu hospital e a sua escola médica, e o mesmo sucedeu em Moçambique e Angola.
A decadência da medicina portuguesa corresponde ao período filipino. Mas nem sempre concordo com o ilustre historiador portuense da medicina, Luís de Pina
A dissertação de Abel Salazar não é médica mas filosófica: Não sei como o quadro docente da Faculdade de Medicina do Porto lhe deu a nota de 20 valores. Depois de ter estudado um núcleo cerebral esperava-se que ele elaborasse uma teoria mais interessante do encéfalo, mas tal não sucedeu: Dedicou-se inteiramente aos filósofos, desenvolvendo um inatismo mental que ainda não compreendi.
Que horror! Os higienistas portugueses queixavam-se do mau cheiro das mulheres portuguesas, salvaguardando as mulheres do Porto que eram asseadas. Abel Salazar diz que as mais sujas eram as de Braga.
Os médicos portugueses foram pioneiros na Medicina Tropical, levando a medicina europeia para Goa, Timor, Japão e China. Os nossos arquivos são muito ricos nessa matéria, e, apesar de haver algumas obras interessante de História da Medicina em Portugal, nenhuma delas é plenamente satisfatória: a biografia de médicos famosos faz perder de vista as organizações hospitalares e de ensino médico e o sistema de ideias médicas.
As obras de Foucault sobre a medicina e a casa dos loucos deixam-me perplexo, na medida em que ele não está preocupado com o crescimento objectivo dos conhecimentos médicos. É certo que a medicina praticada no período que ele analisa tinha fraca eficácia terapêutica: a história da medicina não foi uma sucessão de sucessos e a clínica orientada pela anatomia patológica (Bichat) também não produziu tratamentos eficazes. A medicina científica dotada de eficácia terapêutica é muito, muito recente: a sua pré-história é mais longa do que a sua história. Foi preciso aguardar pela bacteriologia e pela imunologia para ver resultados positivos. Depois vieram as outras disciplinas médicas nucleares: genética, endocrinologia, medicina nuclear, oncologia, etc.
Ou simplesmente: foi preciso esperar pela biologia molecular. E está tudo dito.
Nunca pensei viver esta época de declínio da cultura superior, e como me arrependo de ter sido optimista neste campo quando a minha experiência pedagógica apontava nessa direcção. O meu temperamento sempre me aconselhou a desconfiar do homem.
Apesar desta terrível experiência de declínio da cultura, acordei antropológico porque, em tempo de crise profunda, devemos reformular e aprofundar as temáticas e as abordagens da antropologia filosófica fundada por Max Scheler. Critico algumas posturas filosóficas de Michel Foucault mas reconheço o mérito da sua análise da loucura na época clássica. Porém, embora tenha detectado a dupla experiência da alienação psicológica no século XVII, a jurídica e a social, ele não foi inteiramente justo para com o nascimento da psiquiatria no século XIX, cujo a priori histórico foi precisamente a síntese confusa dessa dupla-experiência do desatino.
Na sua obra "História da Loucura", Michel Foucault refere a criação de algumas casas de loucos em Espanha, de acordo com a velha tradição árabe, mas não refere uma única vez a obra pioneira de António Maria de Sena que, no século XIX, dirige no Porto um hospital psiquiátrico criado de raiz: o Conde Ferreira. Sena fez do louco um ser humano que pode ser tratado. A sua escola irá elaborar uma psicopatologia: Júlio de Matos e Magalhães Lemos. A Lei de Sena salvaguarda os loucos. É uma pena não termos ao nosso dispor estudos do enquadramento jurídico e social da loucura em Portugal. A cultura jurídica portuguesa é fraca e débil: as relações portuguesas entre os homens são relações de abuso. Daí que defenda a tese de que em Portugal predomina o terrorismo íntimo em todas as esferas da vida social.
Os portugueses não merecem a língua que falam: a língua portuguesa supera as debilidades dos seus pobres utentes. A língua portuguesa usa um extenso e rico vocabulário para designar a loucura e, no entanto, os seus utentes empobrecem essa riqueza da língua. A indigência mental e cognitiva reflecte-se desde logo na pobreza de vocabulário dos utentes de língua portuguesa. Ora, a pobreza mental traz consigo a pobreza material. E o que estamos a viver é o fechamento do círculo da pobreza total.
Há por aí muitos indivíduos que dizem ser filósofos. Ora, sendo verdade o que dizem, já devem ter lido "O Conflito das Faculdades" de Kant. Que relação há entre esta obra e a experiência da loucura? Aceita Kant a autoridade do médico - ou mesmo a autoridade jurídica - para definir a loucura? É fácil dizer que se é filósofo; mais difícil é sê-lo efectivamente.
Por que digo que a psiquiatria portuguesa nasceu no Porto? Como sabem, o Hospital de Rilhafoles foi criado em 1848 em Lisboa e o Hospital do Conde de Ferreira em 1882 no Porto. A cronologia não nos pode induzir em erro: o Porão do Hospital de Santo António no Porto desempenhava a mesma função que o Hospital de Rilhafoles no velho convento de S. Vicente de Paula. A diferença entre estas duas instituições do desatino é esta: Rilhafoles interna loucos, tal como o Porão no Porto; Conde Ferreira hospitaliza loucos para os submeter a tratamento. Internamento e hospitalização não são a mesma coisa. Em Portugal, o primeiro Hospital Psiquiátrico foi fundado no Porto e da direcção de António Maria de Sena surgiu uma escola portuense de psicopatologia clínica que, na obra de Magalhães de Lemos, se liga à neurologia.
Alan Turing foi o pai da Informática. Porém, quando denunciou um assalto à sua casa, a polícia, em vez de procurar o ladrão, pesquisou a vida sexual de Turing descobrindo que ele era homossexual. O tribunal condenou-o à castração química ou a um ano de prisão. Para conservar a sua carreira académica, Turing optou pela castração química: um erro fatal porque as hormonas que lhe injectaram deram cabo da sua vida mental. Turing suicidou-se.
Alexandre Herculano: «A voz da consciência, que nos fala da dignidade e da liberdade do homem, é uma ilusão do nosso espírito».
Sempre associei Rudolph Virchow à Fisiologia e à Patologia da célula. Porém, descobri outro livro dele onde desenvolve a teoria de que as doenças epidémicas resultam de inadaptações culturais e sociais. Virchow distingue entre epidemias naturais e epidemias artificiais. Ora, as epidemias psíquicas que lançam os povos em movimentos disparatados incluem-se nas epidemias artificiais. Virchow fundou a psicopatologia colectiva.
Ora, ao estudar as epidemias psíquicas, confrontei-me com esta obra de Graciliano Ramos: "Memórias do Cárcere" que fala das epidemias psíquicas no Nordeste do Brasil.
Os surtos de loucura colectiva eram frequentes na Idade Média europeia, mas depois da Reforma começaram a desaparecer. Os etnólogos registaram muitas epidemias psíquicas nas sociedades arcaicas que estudaram. Porém, a loucura colectiva instalou-se nas colónias europeias que alcançaram a independência: os surtos de loucura colectiva foram frequentes nos USA e no Brasil. Os movimentos messiânicos no Nordeste do Brasil devem ser classificados como epidemias psíquicas. A pobreza não explica completamente a loucura colectiva. Suspeito da existência de uma predisposição genética para a loucura colectiva. Por exemplo, quem tenha assistido a uma sessão de Vodu sabe que se trata de loucura colectiva.
Os estudos sobre epidemias psíquicas dizem que elas são contagiosas sem, no entanto, explicitarem o "agente" responsável por esse contágio. Infelizmente, ainda não possuímos uma teoria da loucura colectiva capaz de orientar diversas hipóteses susceptíveis de serem testadas. Se me pedissem um palpite, elaborava um modelo do cérebro arcaico capaz de identificar estruturas cerebrais responsáveis por esses comportamentos arcaicos e pelo dito "contágio". Por exemplo: as discotecas podem ser vistas como ante-câmaras para a loucura colectiva: o delírio dançante é manifestação de loucura.
Um eventual circuito neural é aquele em que estruturas do cérebro arcaico enviam sinais para o córtex pré-frontal que o impedem de enviar para baixo sinais de inibição. Ora, com este controle superior desactivado, o sistema límbico apodera-se da "mente" e, numa troca de comunicação com os gânglios basais, gera o delírio dançante que contagia os outros. Há como que um retrocesso momentâneo ao controle do cérebro arcaico.
A monotonia das crenças e dos rituais está sob controle dos gânglios basais, como o mostra a doença de Parkinson. Sou bom a arquitectar desenhos experimentais.
Para pensar o contágio pensei em distinguir duas sociabilidades, uma básica e outra mediada pelas estruturas superiores em diálogo com a cultura.
Outro mecanismo é o da imitação com o substrato neural no sistema límbico.
A minha mente aberta fechou-se depois de ter visto os documentários americanos sobre "fenómenos paranormais", "conspiração" e "extraterrestres". Doravante, considero patológico um indivíduo que acredita em espíritos ou fantasmas.
O que sempre fez o VULGO, isto é, o idiota cultural? Alexandre Herculano responde: «saúda o vencedor, sem perguntar donde veio, nem para onde vai; vocifera injúrias junto ao patíbulo do que morre mártir por ele, ou vitoreia a tirania, quando passa cercada de pompas que o deslumbram». Enfim, o vulgo é a figura típica da psicopatologia!
Como nos defender dos loucos e da epidemia zombie? Eis a questão para a qual devemos dar uma resposta, se quisermos sobreviver ao Apocalipse. Cerca de 75% da população mundial é constituída por malucos. Precisamos desenvolver armas biológicas selectivas para combater esta epidemia zombie.
Irrita-se facilmente perdendo o auto-controle? Costuma insultar as pessoas que o incomodam? Fala demasiado alto? Agride fisicamente as pessoas que discordam consigo? Pois, o seu cérebro tem algum defeito neuroquímico ou anatómico.
Ontem, fiquei surpreendido com a explicação dada por uma amiga pouco "inteligente" à epidemia espirita americana: Ela diz que o sucesso desses programas se deve ao poder das grandes audiências. Claro, a cultura de massas nivela tudo a partir de baixo: todos os critérios do cânone foram corrompidos em nome das grandes audiências e do lucro.
A minha viagem pelo universo da loucura já produziu os seus frutos: a beleza arquitectónica das classificações da loucura no século XVIII, a descoberta de um Cícero preocupado com as doenças da alma, a sedução da teoria dos vapores e das doenças dos nervos, e o fascínio da materialidade da alma de Voltaire. De facto, o brilho do século XIX tende a ofuscar a elegância dos séculos anteriores. Hoje compreendi que, a partir de Voltaire cuja teoria da loucura antecipa o século XIX, é possível iluminar o que verdadeiramente me interessa: o nascimento da medicina científica e da psiquiatria moderna. Ou seja: o abandono do modelo da medicina mental e a elucidação do novo modelo da medicina filosófica.
A NeuroFilosofia, de origem recente, colocou na ordem do dia o problema Mente-Cérebro. Quem conheça a história da filosofia julga que este problema esteve sempre presente em todas as filosofias, e, de certo modo, não está inteiramente enganado. Porém, no século XVIII, este problema não se colocava aos médicos: Voltaire colocou-o quando falou da materialidade da alma, e, deste modo, o seu pensamento não pertence à Idade Clássica; é já um pensamento do século XIX. A critica do positivismo deve ser feita a partir do interior das novas positividades que emergiram no século XIX.
Cícero: «A alma é chamada a pronunciar-se sobre o seu estado justamente quando é a faculdade de julgar que está doente». Cícero capta a contradição e enuncia o paradoxo das doenças da alma e sua cura: Quando o corpo está doente (doença somática), a alma reconhece esse facto, toma conhecimento dele e tenta curá-lo; mas quando a alma está doente (doença da alma), o corpo não diz nada sobre ela.
Segundo Zacchias, as doenças do espírito são "afecções do cérebro nas quais são lesadas a razão e as outras funções da alma". Parece uma definição moderna mas não é porque pertence a um tempo em que os médicos viam união lá onde tendemos a ver oposição entre cérebro e mente. Uma estratégia reducionista bem sucedida levaria à dissolução da psiquiatria na neurologia. Só há medicina quando há diálogo entre médico e doente.
Quando afirmo que é uma fatalidade nascer português limito-me a enunciar um facto. Tenho estudado a Inquisição Portuguesa nas suas relações com a Psiquiatria e, ao percorrer os livros, detecto as suas falhas teóricas e os eternos erros dos portugueses. Depois da alucinação da riqueza veio novamente a penúria no âmbito da qual não é possível pensar e sonhar. Portugal é um eterno ermo que nega a vida a todos aqueles que desejam sonhar um outro futuro que rompa de vez com a escassez, a penúria e a amargura.
Enfim, estou como o poeta: Portugal é triste.
É uma vergonha o que os portugueses fizeram aos judeus e aos cristãos-novos ou marranos: mataram, expulsaram e saquearam a sua riqueza. Ora, os judeus sempre fizeram parte da população portuguesa, protagonizando a novidade, a riqueza e a ciência. A sua expulsão devolveu os portugueses à sua eterna imbecilidade e pobreza.
Nós humanos somos mortais e onde estamos há sempre mortes. Fazemos amizades virtuais e a morte - a ceifeira da vida - encarrega-se de as levar. O nosso mundo encolhe-se sempre que perdemos familiares e amigos. Somos eternos órfãos até a morte se lembrar de nós.
A Independência do Brasil é uma das maiores trapalhadas da História de Portugal: a monarquia portuguesa foi a responsável. Ora, se o Brasil tivesse continuado a ser português, com a chegada do Estado Novo, a história seria outra. É certo que não podemos mudar a história mas podemos ter outra perspectiva da história: a independência do Brasil ainda não foi elucidada, pelo menos em Portugal.
Noutro dia escutei diversas anedotas sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil. Mas como tenho fraca memória para anedotas não as posso reproduzir aqui. Em resumo: todas elas partiam do atraso na construção dos estádios para concluir que, no Brasil, não se trabalha. De certo modo, o prestígio do Brasil no mundo joga-se nesta Copa.
A Frelimo e o MPLA receberam de bandeja a independência de Moçambique e de Angola. No campo de batalha, a vitória pertencia-nos e, mesmo tendo em conta a conjuntura mundial, duvido que houvesse intervenção externa. Os governos portugueses que negociaram as independências devem ser julgados no tribunal da história: Será que os próprios africanos desejavam a independência? Ou preferiam antes aprofundar a via da integração?
A Esquerda é muito idiota: Abraçou a causa da descolonização sem tomar consciência de que este processo beneficiava o mundo anglo-saxónico e, pouco depois, o império americano. A descolonização não tem nada a ver com raças oprimidas ou com culturas; mas tem tudo a ver com poder e economia. Dos países "latinos" descolonizados qual deles é hoje uma nação desenvolvida? Sempre fizemos o jogo do império inglês e depois do império americano. Ora, não se pode ser a favor da descolonização e ao mesmo tempo contra os USA. A esquerda é estupidamente paradoxal.
Apesar do meu suposto radicalismo, sou muito consensual porque consigo colocar-me na pele dos outros: quer dizer que o meu radicalismo é mais dialéctico do que real. Sim, reconheço que, com o fim da Primeira República, o Estado Novo desempenhou um papel positivo e que Salazar teve os seus méritos. Porém, a partir de certo momento, era necessário democratizar o sistema e modernizar o país. Infelizmente, hoje estamos como estávamos no fim da Primeira República: escassez total.
Agora pensem nesta alternativa: Deixem de falar estupidamente contra o "colonialismo" - afinal o que é isto?, aculturação como dizem os americanos? - e de racismo e pensem na formação de uma comunidade lusófona sólida. Somos a 3ª ou a 4ª língua mais falada no mundo e, se soubermos conjugar os nossos esforços e competências, podemos ser um pólo mundial de desenvolvimento sem submissão aos interesses imperiais vigentes. Uma comunidade lusófona unida teria tanto poder como os USA, a UE, a China ou a Rússia! Sim, teríamos um exército comum.
Estou fascinado com a Medicina na Idade Clássica. Porém, as doenças dessa medicina não são as nossas doenças de hoje. Considero um exercício disparatado tentar identificar essas doenças em função das nossas classificações de hoje. Ora, isto torna-se mais evidente no caso das "doenças do espírito". É outro universo médica!
Hoje pensei reduzir a História da Biologia a quatro paradigmas: Biologia aristotélica, Biologia cartesiana, Biologia goetheana e Biologia molecular e evolutiva. No entanto, articulando este modelo com as doutrinas médicas, o esquema resulta mais complexo porque há muitas medicinas.
O universo da loucura absorveu-me completamente: Começo a ver conexões que ainda não foram clarificadas. O tema da pobreza deve ocupar um lugar de destaque no nascimento da Psiquiatria moderna. O nome de Michel Foucault é muito badalado mas suspeito que ninguém o leu atentamente, até porque as obras que lhe são dedicadas deixam de lado as suas temáticas predilectas. Há duas lacunas na História da Loucura de Foucault: negligencia a formação económica em devir e o seu papel na estruturação do espaço da loucura, e a questão da bruxaria na sua relação com a Inquisição. De certo modo, Inquisição e Psiquiatria Institucional andam ligadas.
Foucault cai no erro de privilegiar a Psicanálise, a qual teve um efeito nefasto na questão homossexual. O seu relativismo detém-se diante da Psicanálise.
Dos médicos portugueses Foucault só refere o nome de Amato Lusitano, dedicando-lhe um breve parágrafo. Porém, os protagonistas da psiquiatria portuenses são excluídos, embora as suas obras tenham sido editadas em francês. O Hospital Conde de Ferreira foi o primeiro hospital psiquiátrico português construído de raiz: o nome de António Maria de Sena pode ser colocado ao lado de Pinel e Tuke. Porém, na História da Psiquiatria Portuguesa, não temos estudos económicos e jurídicos para avaliar o mérito da obra de Sena e de Júlio de Matos.
A Igreja Católica Portuguesa bloqueou o desenvolvimento da medicina em Portugal. As Misericórdias foram e ainda são fatais para a medicina. A saúde não pode ser entregue a uma instituição que promoveu a Inquisição e que glorificou a figura do pobre. A riqueza de uma nação está na sua população. A palavra de ordem do liberalismo nascente foi a libertação dos pobres, usados como mão-de-obra. O actual governo português está a cometer o eterno erro português: a ideia de assistência aos pobres é nefasta, bem como a saída dos portugueses para o estrangeiro. A população cria riqueza; perder população é empobrecer.
Escrever a História da Psiquiatria Portuguesa é revelar as estruturas da insanidade mental subjacentes ao devir da nação portuguesa.
O Internamento desempenhou um papel relevante no povoamento das colónias: as deportações ajudaram a povoar os novos mundos descobertos pelos europeus. Porém, se lermos uma História de Portugal, não ficamos a saber nada sobre as deportações e, quando há referências a elas, surgem desligadas da prática de exclusão do desatino e da loucura: quer dizer que os historiadores portugueses são idiotas culturais que empobrecem mental e cognitivamente o país.
Consultei uma História de Medicina em Espanha e verifiquei a inclusão de muitos médicos portugueses: alguns deles viveram no período do domínio filipino, mas outros não. Nós precisamos de uma nova História da Medicina em Portugal.
Amato Lusitano foi um anatomista exímio que descobriu as válvulas das artérias, embora tenha cometido erros. O que interessa destacar é que ele dissecou muitos cadáveres humanos e animais, procurando identificar o substrato das patologias observadas, e descreveu muitas anormalidades genéticas. Acho que não temos exemplares de nenhuma delas.
Estive a ler um texto do neuropsiquiatra chinês, Tsung-Hwa, que diz que na China Comunista «não existem as neuroses e as psicoses, nem a paranóia». Claro, todas estas espécies psiquiátricas são americanas.
Stuart Mill: «Cada pessoa é o guardião da sua saúde, física ou mental e espiritual». Daqui pode resultar um novo modelo médico.
Um tema a explorar: a relação entre clubismo e psiquiatria. Há um clubismo sadio que se enraíza no passado arcaico da humanidade, e um clubismo doentio. Em Portugal, o clubismo doentio reside para os lados do clube do regime salazarista.
Em 1486, Jacob Sprenger e Heinrich Krämer, dois inquisidores dominicanos, publicam o "Malleus Malleficarum" (O Martelo das Bruxas), obra que ensina a identificar as bruxas e a persegui-las. A Inquisição usou-o para identificar correctamente a feitiçaria. De facto, este período foi verdadeiramente a era da angústia: o tom sombrio das Missas Negras, com ou sem práticas canibais, apoderou-se da mente frágil das pessoas, levando-as a actos desesperados.
Um ou outro psiquiatra afirma que "Malleus Malleficarum" expõe uma teoria que visa justificar a superioridade masculina. Mas uma tal visão do livro é demasiado ridícula: o livro limita-se a ser um manual dos procedimentos e de teoria para processos por bruxaria. Nesta idade da ansiedade, milhares de mulheres prestavam culto ao diabo, representado em forma de homem ou em forma de animal, com acompanhamento de músicas sobrenaturais e macabras, bailando ao redor dele, beijando-o na cauda e oferecendo-lhe estranhos manjares de gosto local e étnico. E algumas dessas mulheres velhas celebravam Missas Negras, com práticas de canibalismo ou parodiando e profanando a Hóstia.
Porém, ontem fiquei agarrado pela história do "anestesista fantasma". Tudo começou na noite de 1 de Setembro de 1944 quando uma mulher de Mattoon, Illinois, informou a polícia de que alguém tinha entrado pela janela da sua casa e que lhe lançou um gás com cheiro nauseabundo que paralisou parcialmente as suas pernas e que a adoeceu. A polícia recebeu informações de outros casos similares: a epidemia do anestesista fantasma alastrou-se rapidamente pela população. Como explicar esta epidemia psíquica colectiva? O caso foi encerrado sem explicação.
A teoria da monstruosidade sempre me fascinou na sua conexão com a teratologia, o estudo das malformações genéticas. Há uma abundante literatura sobre os monstros e os demónios, mas ainda não temos uma teoria geral da monstruosidade.
Para Bosch, o universo é uma fábrica de monstros. "Malleus mallificarum" transforma a mulher em monstro que, sendo mentiroso por natureza, seduz o homem, levando-o pelo caminho da concupiscência e da perdição. As mulheres mais propensas à bruxaria são as adulteras e as fornicadoras: «As bruxas podem enfeitiçar o poder genital a ponto de tornar o homem incapaz de copular e a mulher, de conceber». "Malleus mallificarum" é um livro fascinante!
Sempre que exagera a Idade Média diz a sua verdade.
Giordano Bruno foi frade e, durante esse período em que teve emprego fixo, leu as obras proibidas pela Igreja, uma das quais a de Lucrécio. Pouco tempo depois - antes de ter sido despedido do seu emprego eclesiástico, Bruno sonhou que o universo era infinito e que havia múltiplos universos. A Inquisição não lhe perdoou e condenou-a à fogueira. Porém, apesar da sua obra ter sido queimada em praça pública, sobreviveu e hoje devemos a Bruno uma das descobertas mais fantástica da ciência: as galáxias são universos ligados uns aos outros por matéria escura.
Hoje acordei cansado e irritado com todos os utentes de língua portuguesa. Portugal produziu muitas obras, algumas das quais nunca foram editadas. Silva Dias elaborou uma bibliografia dos descobrimentos. Porém, lendo a sua obra, ficamos desapontados. Assim, por exemplo, a sua análise dos mapas do mundo omite o contributo português, seguindo a orientação de um escritor francês. Enfim, as obras são mencionadas mas não são analisadas no seu conteúdo próprio. O conceito de renascimento de Silva Dias é miserável.
Silva Dias analisa a obra de Amato Lusitano em pouco mais de três parágrafos, frisando a ideia de que ele combateu a autoridade silogística de Aristóteles em nome da experiência. Enfim, para este historiador obscuro, o renascimento é experimentalismo. Ora, esta é uma maneira paupérrima de conceber o renascimento. Há toda uma geografia imaginária produzida pelos portugueses que escapou a Silva Dias. No entanto, na bibliografia surgem nomes de autores estrangeiros que desbravaram esse terreno. Afinal, Silva Dias leu as obras que menciona na bibliografia?
Quem conhece a obra de Pedro Nunes? Claro, ninguém... e não existe um estudo sério do seu "Tratado da Sphera".
A "História da Loucura" de Foucault centraliza a experiência da loucura em França e em Inglaterra. Quando fala do nascimento do asilo moderno, o Retiro de Tuke e Bicêtre em Paris, Foucault ignora que o Hospital Conde de Ferreira foi o primeiro hospital psiquiátrico construído de raiz. E não se trata de um mito: a sua função médica é evidente desde a sua criação.
Perante os franceses, a nossa palavra de ordem deve ser: Descolonização mental. Não podemos construir a nossa própria história à luz dos quadros cognitivos impostos pelos franceses. Afinal, muito antes deles, fomos nós - portugueses e espanhóis - que descobrimos novos mundos e temos crónicas e outro material impresso sobre essas descobertas.
As figuras centrais do pensamento de Michel Foucault estão incorporadas nas próprias estruturas do Hospital Conde Ferreira, cujo panóptico é um dos poucos existentes na Europa. A terapia do trabalho e o contacto com a natureza constituem ideias fundamentais da prática psiquiátrica de António Maria de Sena. Há portanto uma nova concepção da loucura em acção: os loucos nunca chegaram a ser acorrentados ou misturados com outras figuras do desatino e do mundo do crime. No entanto, quando a electricidade chegou ao hospital, os choques foram utilizados para tratar certas perturbações. A ala dos furiosos nunca se misturou com a ala dos alienados.
A libertação dos loucos do Porão do Hospital de Santo António significou humanização da loucura; daí o predomínio dos tratamentos "morais".
Hoje encantei-me com a filosofia de Carolus Bovillus, um discípulo de Nicolau de Cusa. Diz ele que o eu é o "espelho do universo" que condensa em si todos os raios que este irradia. As forças dispersas no universo entrelaçam-se no eu, encontrando a sua unidade viva e o seu centro comum. De facto, somos poeira estelar.
Estou exausto: Hoje estudei a fisiologia de Empédocles e a medicina pitagórica. E surgiu-me esta dúvida: Quem conhece os princípios básicos da fisiologia da respiração e do sistema cardiovascular? De facto, perante esta ignorância, não podemos explicar a experiência da clepsidra de Empédocles.
Com a chegada das positividades nos finais do século XIX, perdemos o maior filão do pensamento antigo: a formação de uma medicina filosófica que não pode ser identificada com a medicina psicológica e a medicina social. O grande modelo da medicina filosófica encontra-se elaborado no pensamento pré-socrático. O tratado hipocrático sobre medicina antiga é deveras estúpido: Empédocles é o pai da fisiologia tout court e não da psicofisiologia, noção que lhe era estranha. A analogia de maior sucesso é aquela que compara o homem com a tecnologia. Curiosamente, os fósseis conceptuais do passado ainda sobrevivem na linguagem de hoje.
Ora, estudando o perfil epistemológico dos conceitos científicos, verificamos que, à medida que se aperfeiçoam, perdem riqueza semântica, o que nos permite falar de alienação científica. Dois exemplos: A noção complexa de causa de Aristóteles foi reduzida à causa eficiente e a noção de alma evaporou-se. Ora, Aristóteles foi o pai da embriologia e, como sabem, é desta ciência que surgem os ataques contra a nova síntese: a causa final ou mesmo a causa formal ainda não desapareceram completamente.
A biologia mecanicista de Descartes foi prematura: o século XVII não estava preparado para a acolher e a desenvolver. A sua herdeira é a biologia molecular. Curiosamente, a biologia molecular só foi possível a partir da clarificação do pressuposto atomista da medicina filosófica. A autoridade aristotélica bloqueou o aperfeiçoamento da teoria atómica da matéria durante 2000 anos.
E quem foi o responsável pelo reanimar do atomismo? Foi um adversário clerical de Descartes: Gassendi. Pois, a história da ciência tende a omitir o seu nome, mas ele foi fundamental para o desenvolvimento da ciência tal como a conhecemos.
Michel Foucault escreveu muitos disparates. Na sua obra "As Palavras e as Coisas", reduziu o Renascimento ao reino das similitudes, esquecendo que a "simpatia" e as correspondências que gera define a magia, com as suas duas leis: a da similitude e a do contágio. Ora, a verdade é que o pensamento se desenvolve mudando as suas analogias.
Qualquer filósofo inteligente sabe que havia uma matemática sofisticada anterior à Grécia Clássica: as construções colossais testemunham-na mas não temos documentos escritos para a analisar. Para evitar derrapagens para teorias fantásticas, só há um caminho a seguir: Encarar a história da ciência e da filosofia como uma teoria da imaginação. E aqui uso o termo imaginação no sentido que lhe deram os românticos ingleses. Tudo se reduz a mudanças de percepção do mundo...
Eu sou reducionista e sei que as reduções deram eficácia à ciência. Porém, também sei que o reducionismo empobrece o homem, fazendo dele um mero animal. Mas há mais: suspeito que as novas teorias científicas vão criar sérias dificuldades à estratégia reducionista.
Parménides foi o pré-socrático que maior impacto teve sobre o desenvolvimento da ciência. Sem ele o atomismo não poderia ser tematizado. As pessoas não sabem ler os pré-socráticos: tudo aquilo que fazemos hoje tem raízes nos seus escritos.
A medicina pitagórica ensina-nos uma coisa fundamental: Sem os homens criativos dotados de uma imaginação prodigiosa a humanidade estaria ainda hoje na idade da pedra. A criatividade não é algo que se aprende: ou nascemos criativos ou nascemos idiotas. Ora, a história é uma construção das mentes criativas; o resto são batatas.
Descartes falhou ao descrever a circulação do sangue: Harvey, o pai moderno da fisiologia, descobriu a circulação do sangue, tendo como precursor Empédocles. Porém, como era aristotélico, seguiu a ideia grega de que o movimento circular é perfeito. E foi esta ideia preconcebida que o conduziu à descoberta do sistema cardiovascular.
O grande médico pitagórico foi Alcméon, para quem a causa da mortalidade do homem é identificada com a incapacidade para "unir o princípio com o fim". Ora, para saber o que significa isto, é necessário retomar a ideia grega de que o movimento circular é perfeito porque não tem nem princípio nem fim, como sucede com o movimento em linha recta. Ora, se o princípio e o fim da vida humana pudessem ser unidos, teríamos um movimento circular e a imortalidade pessoal. Infelizmente, somos mortais cujas vidas decorrem entre um princípio e um fim.
Hoje lembrei-me do Seminário que dediquei à "História da Sexualidade" (3 volumes) de Michel Foucault: os alunos ficaram encantados com a obra e realizaram bons seminários sobre ela. No entanto, na altura, realizava a minha investigação sobre genética da determinação sexual e diferenciação sexual do cérebro e do comportamento e, por isso, fiquei um pouco irritado com a recepção entusiástica da obra de Foucault. Entretanto, voltei a reler Foucault e, de facto, há uma inflexão no seu pensamento: "A Vontade de Saber" foi excluída da "história da Sexualidade", cujos volumes seriam O Uso dos Prazeres, O Cuidado de Si e As Confissões da Carne. Foucault morreu sem ter concluído o último volume da sua trilogia moral-sexual.
Tive razões para me irritar com os alunos? Claro que sim, embora as razões de ontem não sejam as mesmas razões de hoje. A "História da Sexualidade" de Foucault não é uma História dos Comportamentos Sexuais, os únicos que me preocupavam nessa altura, mas uma genealogia do homem de desejo, desde a Antiguidade clássica até aos primeiros séculos do cristianismo. Hoje admito mais esse empreendimento do que no passado ainda próximo. Porém, os alunos tendiam a identificar os comportamentos sexuais com a moralidade dos comportamentos sexuais e isso irritava-me profundamente.
Porém, defendendo eu uma biologia da orientação sexual, nem sempre concordei com a abordagem que Foucault faz da homossexualidade masculina. O tema da "inversão" surgiu no século XIX e já reflecte o mito médico da sexologia. Mas na obra do Pseudo-Aristóteles encontramos o mesmo tema, talvez abordado noutro campo de problematização. A Moral Pagã - grega e greco-romana - e a Moral Cristã são, apesar da continuidade vislumbrada por Foucault, completamente distintas porque há uma grande diferença entre o domínio de si e a renúncia a si. Foucault detecta uma problematização deveras importante para o nosso tempo: a problematização da pedofilia. Os estudos mais correctos desmentem a estigmatização oficial da pedofilia.
A religião, a filosofia e a ciência, e a arte foram sempre empreendimentos masculinos: a moral pagã era uma moral do homem, feita por homens e dirigida a homens. As feministas encontram aqui um modelo de epistemologia masculina que tentam destruir. Ora, é neste terreno que filosofia e biologia devem unir esforços para expulsar o feminismo doentio reinante. Mesmo desconhecendo a biologia da diferenciação sexual, os filósofos gregos souberam definir as diferenças sexuais.
Concordo com Foucault quando fala da virilidade subjacente ao uso dos prazeres. Porém, a virilidade tal como era usada pelos autores clássicos ultrapassa esse domínio de si. Basta ler os romanos para detectarmos outra concepção da virilidade centrada sobre a potência das erecções masculinas. Ou ler as inscrições murais de Pompeia. As palavras têm diversos sentidos e nem todos partilham a mesma moral. Uma ou diversas morais pagãs? Eu sou pluralista...
Um ateu consequente não pode negar Deus e, ao mesmo tempo, conservar um preconceito anti-gay ou sonhar com uma relação de fidelidade conjugal. Ainda não foram analisadas as aporias do ateísmo!
A SIDA marcou o deslocamento operado por Foucault nos seus estudos sobre sexualidade: a patologia do excesso tal como vista pelos gregos foi a grande doença de Foucault. Se tivesse sido um homem moderado e, portanto, sábio, não teria sido contagiado pelo HIV. Uso dos prazeres e cuidado de si: eis o que faltou a Foucault. RIP.
Estive a ler uma descrição romana da gonorreia e não identifiquei a doença: a perda de esperma é identificada com o excesso de masturbação. Não é a mesma doença: o mesmo nome encobre realidades diferentes.
O cristianismo estragou todo o erotismo grego: Lá onde predominava a figura do homem moderado passou a dominar a figura da mulher casta. Apetece-me dizer que o cristianismo criou a pornografia e a promiscuidade sexual. O cristianismo é uma doutrina moralmente porca.
Do falo à vagina: eis a mudança operada pelo cristianismo.
A abordagem dos amores masculinos feita por Foucault deixa de lado o jogo das atracções sexuais. No entanto, as formas de amor masculino problematizadas pela moral grega apontam para o jogo das atracções sexuais. Afinal, os gregos eram organismos humanos sujeitos às regras da biologia.
Lendo Foucault, ficamos com a impressão da existência de um apetite (sexual) pela beleza masculina e feminina, que se situa para além do apetite sexual que pode ser classificado em função do seu objecto. Ora, não há uma biologia especificamente grega.
Hoje acordei preocupado com a sismologia. Há diversos tipos de sismos e, infelizmente, nós portuenses podemos sofrer o impacto deles através de tsunamis. Os sismos não podem ser previstos e a última notícia científica é que um sismo pode gerar outros sismos seguindo a fractura. Eu acho que em Portugal não há geólogos competentes. Afinal, o que há neste ermo?
Na Europa, a Turquia (Istambul), a Itália e talvez Lisboa são zonas ameaçadas de morte: o Grande Sismo pode ocorrer a qualquer momento. O mais aguardado é o que vai destruir Istambul. A Itália está a ser fustigada e Lisboa pode vir a ser a outra vítima. A costa do Pacífico das Américas está toda ela ameaçada de morte, bem como o Japão (Tóquio) e outras áreas próximas. Os sismos silenciosos são perigosos porque indicam a proximidade de grandes sismos.
Tenho estado a retomar os meus próprios estudos sobre sexualidade e devo confessar que estou a apreciar o deslocamento operado por Foucault na sua "História da Sexualidade". Porém, a cultura do cuidado de si tem implicações mais profundas que Foucault deixou escapar mas o seu esforço para compreender a Filosofia Romana é admirável. Infelizmente, o contributo romano para a filosofia é desprezado.
Uma amiga francesa resolveu vir viver para o Porto e ontem foi preciso ajudá-la a fazer boas opções longe da ralé. Ensinar-lhe a discriminar entre pessoas interessantes e pessoas perigosas. Ela quis comprar casa num local lindo mas pouco aconselhável, mas acabou por fazer a escolha certa. Em Portugal, é preciso evitar a ralé perigosa e atrasada mental.
A arqueologia do saber de Michel Foucault é tendencialmente "idealista". De facto, a "História da Sexualidade" trata sobretudo de textos prescritivos e da constituição do sujeito moral das suas condutas sexuais. Porém, a argumentação de Foucault vacila entre dois registos: o moral e o "material". Descartar a história dos modos de produção não é boa ideia. Falta analisar se Foucault foi bem-sucedido na eliminação da hipótese repressiva do sexo.
O meu estudo da história da medicina confrontou-me hoje com duas noções quase-antropológicas: o homem como "ser espermático" e o homem como "ser conjugal". Estas noções têm importância para a elaboração de uma nova antropologia filosófica.
O meu pensamento foi sempre dominado por uma preocupação africanista. Porém, depois de estudar o Mali e os seus povos, voltei ao ponto de partida: a humanidade-unidade é uma ficção. As diferenças são de tal modo marcantes que exigem uma explicação genética.
Conheço todas as antropologias filosóficas e devo confessar que nenhuma delas é capaz de fornecer uma teoria do homem que integre bancos, negros, amarelos e vermelhos. Há estruturas antropológicas fundamentais que definem a nossa humanidade que quase não estão presentes noutros grupos étnicos. A menos que se lhes faça muita violência hermenêutica. Há populações humanas que permanecem estacionárias no tempo e no espaço. Ora, devemos procurar uma resposta...
Só há uma única História Universal da Humanidade: a História do Ocidente em que os outros povos entram na qualidade de facilitadores ou de obstáculos a superar. Eu adoro os Dogon; no entanto, nunca poderia escrever uma arqueologia do saber dos Dogon. Eles vivem hoje como viveram no passado: quer dizer que pertencem a uma humanidade que nos é estranha.
Enfim, para evitar a catástrofe, é preciso criar ordem em nossa casa, isto é, no interior dos países ocidentais. Precisamos de reinventar novas políticas de austeridade e de silenciar certas vozes. Uma ditadura pedagógica seria o ideal. Se não fizermos isso, seremos invadidos pela barbárie interior e exterior.
Medicina e Filosofia partilham um longo passado comum: cada uma delas cuidava de um aspecto do homem; a medicina do corpo e a filosofia da alma, e na época imperial houve mesmo uma convergência médico-filosófica; o modelo de medicina filosófica que foi preterido a favor desse erro terrível que foi e é a medicina psicológica. Ora, ao estudar a história da medicina, vejo caminhos que urge percorrer, de modo a descobrir um futuro mais pacificado. Os crimes cometidos pela psiquiatria institucional devem-se a esse erro fundamental: o abandono da medicina filosófica que responsabiliza o homem pelo estado da sua saúde, aliás um conceito filosófico.
Maria Filomena Mónica acaba de publicar a "Sala de Aula", onde arrasa o sistema de educação português e o ministério da educação. Educação da merda: eis o ensino em Portugal depois do 25 de Abril.
Há mais de sete anos que denuncio o mito da nova geração bem-preparada. Qualquer pessoa inteligente sabe que as novas gerações são menos cultas que as gerações anteriores, até porque se formaram num sistema de ensino profundamente medíocre. Filomena Mónica responsabiliza as políticas burocráticas do Ministério da Educação por esse facto. Mas convém acrescentar que o quadro docente é medíocre e articular essa mediocridade com a estupidez geral da sociedade portuguesa.
Neste momento, é uma vergonha ser-se "professor" ou mesmo "médico". E isto não é só em Portugal; é em todo o mundo. Nos USA, os melhores não querem ser professores, preferindo ir trabalhar para empresas. O ensino foi assim entregue aos menos inteligentes e cultos: o emprego que não arranjam em outro lado. Ora, esta destruição da educação e da cultura reflecte uma realidade: o predomínio da mentalidade de engenheiro no quadro do saber. Todos os sectores da sociedade que gozavam de autonomia foram capturados e colonizados pela economia e pelos seus servidores: economistas, gestores, contabilistas, etc.
Paulo Coelho que festejou ontem a sua festa de São José em Portugal disse que fez o Caminho de Santiago. Ora, a minha rua faz parte desse itinerário mas não me lembro de o ver a passar aqui.
De facto, nós falsificamos a obra de Sócrates e de Platão quando omitimos a questão dos amores masculinos. Como ler o Banquete sem falar do amor pelos rapazes? E como compreender a solução dada por Platão? Eros pedagógico...
Enfim, hoje em dia até "ser homem" é difícil... O mundo decai cada vez mais sobre si mesmo. No tempo dos gregos, sabíamos o que era ser homem. O cristianismo castrou-nos e a moral burguesa reforçou essa castração. Hoje a permissividade baralha tudo.
Como se pode conhecer a filosofia de Sócrates sem ter lido Xenofonte? Ora, em Portugal, estuda-se Sócrates a partir da Apologia de Platão. E a Apologia de Xenofonte?
Quem já leu "A Chave dos Sonhos" de Artemidoro? O livro da Antiguidade sobre Onirocrisia, a arte de interpretar os sonhos!
Conclui a minha releitura apurada de Michel Foucault. As inflexões detectadas por ele nos discursos dos prazeres baseiam-se num número reduzido de documentos: alguns capítulos são análises de textos seleccionados. Se aceitarmos que o amor pelos rapazes é desqualificado pela ética da relação conjugal nos dois primeiros séculos da nossa era, então ficaremos perplexos diante das práticas homossexuais durante todo o Império Romano, a menos que se introduza os prazeres das práticas homossexuais. O discurso pode dizer que o rapaz não sentia prazer mas sabemos que essa ausência de prazer é uma ficção moralista. No entanto, o discurso sobre o amor pelas mulheres retoma a discurso sobre o amor pelos rapazes. Esta mudança é crucial para compreendermos a ética sexual do nosso mundo.
Enfim, depois de ler a análise de Foucault, vejo em Plutarco o pai do heterossexismo.
Foucault esqueceu os graffiti de Pompeia. Se os tivesse analisado teria descoberto uma multiplicidade de prazeres. Eis um caso: "Uma (vagina) com pêlos come-se melhor que uma depilada, porque segura melhor a humidade e também o (pénis)". Enfim, os romanos exploraram diversos prazeres dentro e fora do "casamento": coito vaginal, sexo oral, coito anal, etc.
Onde reside a fragilidade da arqueologia/genealogia de Foucault? Ele diz que os textos prescritivos dos dois primeiros séculos da nossa era não abordaram os prazeres íntimos do par conjugal. Ora, se não tivesse descartado a história dos modos de produção e a tópica marxista, Foucault seria obrigado a reconhecer o carácter ideológico desses textos: a moral não reflecte os comportamentos reais dos indivíduos. As actividades sexuais são descritas noutros documentos. Aliás, a literatura romana é rica nessas descrições. Um exemplo: descreve a diferença entre um beijo dado a outro homem saído do ginásio e um beijo dado a uma mulher. Mais, quando analisa os prazeres gregos, Foucault omite as práticas sexuais entre o adulto e o rapaz. Ora, eles praticavam o coito intercrural, e na calada da noite outras actividades mais invasivas.
Porém, Foucault tem razão quando afirma que a arte erótica ocidental nasceu a partir do amor pelos rapazes. Ora, Sergent mostrou que a pederastia era um "ritual" indo-europeu. O Amor heterossexual enquanto Erótica é uma transposição heterossexista do Amor pelos rapazes. De facto, o erotismo é tudo aquilo que enriquece o menu sexual do homem.
Eis a obra-chave de Felix Buffière: EROS ADOLESCENT: LA PEDERASTIE DANS LA GRECE ANTIQUE.
Para estudar a Erótica do Mundo Clássico, precisávamos de ler as obras de cerca de 59 autores gregos e romanos. E de 62 autores modernos, pelo menos. Um número finito de obras que podem ser lidas no decorrer de uma vida. Infelizmente, não temos acesso a todas essas obras em tradução portuguesa.
Será o casamento compatível com o exercício da Filosofia?: eis uma questão que preocupou os autores clássicos. De facto, para fazer filosofia, é preciso dispor de tempo ou, como dizia Aristóteles, de ociosidade. A escola portuguesa demitiu-se da sua função educativa: os alunos preferem fazer sexo em vez de exercitar a mente racional. Enfim, não temos massa cinzenta preparada para tomar o lugar dos que morrem. A pobreza portuguesa é, antes de tudo, pobreza mental e cognitiva. O Ocidente precisa de regressar às suas origens para se renovar mais uma vez. A austeridade sexual vai ser necessária para impor ordem.
Um dos maiores empresários da Índia veio a Portugal para estudar a possibilidade de investimento. Ele colocou apenas três perguntas: as vossas crianças sabem matemática e lógica?, sabem falar inglês? e qual a situação da engenharia informática? Em suma: os portugueses não responderam porque a situação portuguesa é péssima nestes três domínios. Afinal, o que as crianças aprendem na escola? Ou melhor: ainda há escola em Portugal?
Ah, colocou outra questão: Posso premiar o mérito? Ora, os portugueses ficaram mudos porque em Portugal não há mérito; há trapaça e cunha.
Os cursos de Filosofia em Portugal são merda elevada ao quadrado: os mais burros escolhem os cursos de Letras. Ora, sendo assim, os burros depois de diplomados não sabem como abrir a Filosofia ao mercado de trabalho. A Lógica abre uma dessas portas: Uma boa formação em lógica abre a porta da informática. Porém, os burros diplomados nada sabem sobre matemáticas discretas. Enfim, devem ir para o campo para cultivar batatas.
O ensino da matemática devia ser obrigatório em todos os cursos, em especial no curso de Filosofia, tal como já era exigido por Platão. O insucesso na matemática deve-se, em parte, aos maus programas e à má pedagogia adoptada pelos professores de matemática. Convém dominar a matemática contínua, mas mesmo sem esse domínio adquirido é possível formar bons estatísticos, informáticos inteligentes e matemáticos discretos. Cabe ao professor adoptar a melhor estratégia face aos alunos que tem diante de si. Claro, dá trabalho mas sem trabalho não há mérito.
Já que estou lúcido deixo aqui dois "enigmas": 1º As crianças precisam de apanhar tareia sempre que se desviam das normas do bom comportamento; 2º Houve um tempo em que os homens homossexuais produziam boas obras; hoje transmitem Sida e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Estudem Matemática Discreta; pelo menos, aprendem alguma coisa sobre álgebra de Boole, teoria dos números, grafos, enfim criptografia e decriptografia.
A Teoria Matemática dos Grafos quando aplicada ao cérebro permite compreender a estupidez das pessoas: Um cérebro burro perdeu toda a sua plasticidade neuronal e, sem grafos neurais, não há comportamentos inteligentes. Como detesto lidar com burros!
Todo o empreendimento de Michel Foucault pode ser derrubado pela raiz. De certo modo, sempre apontei os pontos fracos e as contradições da sua arqueologia/genealogia do saber-poder. Porém, há aspectos em que concordo com ele. Quando ataca a hipóteses da repressão do sexo denunciando a concepção jurídico-discursiva do poder que lhe é subjacente, Foucault está em diálogo com Althusser e Marcuse: a proliferação de discursos múltiplos sobre a sexualidade viabilizou, de certo modo, as sexualidades periféricas, mas o discurso da repressão não é necessariamente o do silêncio. Foucault desafia-nos... com a sua noção de um poder sem soberania e sem lei.
Tenho pena de Foucault ter morrido e de não ter concluído os seis volumes da sua História da Sexualidade. Adorava falar com ele sobre este empreendimento que destrói três autoridades emblemáticas: Marx e Freud e Lévi-Strauss. De certo modo, a arqueologia desconstrói os discursos das chamadas ciências sociais e humanas. Porém, quando fala dos dois dispositivos - o da Aliança e o da Sexualidade, Foucault recua ou, pelo menos, vacila, e, assim sendo, a hipótese da repressão volta a espreitar. A minha dúvida é a de que a analítica do poder - em vez de uma teoria do poder - não está preparada para fazer frente à lógica do poder que move o nosso mundo cada vez mais global. Além disso, todas as instituições escrutinadas por Foucault abrigam-se à sombra do Estado.
Um medievalista americano chamado R. Howard Bloch escreveu sobre a misoginia medieval em chave feminista. A sua obra tem pontos interessantes mas o feminismo não é uma abordagem teórica credível: a misoginia é uma ficção. Lá onde Bloch descobre antifeminismo eu vejo erotismo. O erotismo ocidental sobreviveu nas práticas ascéticas.
Infelizmente, não temos uma História dos Sanatórios em Portugal, construídos durante a monarquia e durante o Estado Novo. Os sanatórios fecharam: alguns edifícios foram recuperados para outras funções, outros foram abandonados. Como é evidente, depois da descoberta do tratamento eficaz da tuberculose, os sanatórios já não fazem sentido.
É um acontecimento incontornável: a fusão Porto/Norte e Galiza.
Os grandes matemáticos são platónicos: o "mundo dos números" - ou, como se diz hoje, o Código - preside à criação do mundo. É uma pena Portugal nunca ter produzido grandes matemáticos ou físicos: o cérebro-médio português é claramente anti-matemático.
Uma catedral é uma sinfonia musical. A catedral do Porto é uma das mais lindas de Portugal e, no entanto, ainda ninguém escreveu sobre o seu código matemático.
Uma história de uma mulher jovem que sofria de sintomas agudos, sendo o marido impotente ou muito grosseiro no acto sexual. Charcot diz ao seu assistente: "Mas, em casos semelhantes (de histeria), trata-se sempre de sexo, sempre! sempre! sempre!". Freud escreve: "Sei que por um momento fiquei paralisado de espanto e perguntei a mim próprio: Mas se ele sabe isto, porque é que nunca o diz?"
A nossa época é paradoxal: Possui todos os elementos para elaborar uma nova Filosofia e, no entanto, recusa-se a isso entrincheirada como está em anacronismos desmentidos todos os dias. O pior é que este paradoxo parece apontar para um futuro divorciado do conhecimento.
À sociedade de sangue sucedeu a sociedade de sexualidade e a esta sucede a sociedade da ignorância activa: a vontade de saber foi desalojada e, em seu lugar, emerge a paixão pela ignorância.
Enfim, é um facto incontornável: O Discurso da Libertação está falido. Tudo aquilo que foi tido como um avanço da libertação mais não foi do que um aumento da dominação. Quanto mais sonha o homem com mundos perfeitos, mais escravo se torna das novas realidades. O princípio esperança está esgotado: sonhar deve ser proibido.
O Discurso do Totalitarismo que coloca o nazismo e o comunismo no mesmo saco desvia a nossa atenção de uma realidade nua e crua: o colapso da URSS significa o colapso de construir um mundo perfeito na Terra de homens e para homens. Hoje só podemos dialogar com o marxismo se o descartarmos do seu projecto político. No entanto, esse diálogo deve ter em vista a elaboração de uma nova filosofia.
Todos aqueles que dizem admirar Foucault não compreenderam realmente o sua filosofia. Isto é particularmente evidente no caso brasileiro ou na América Latina: o "esquerdismo" que vemos nas ruas não encontra justificação teórica na filosofia de Foucault. E o que dizer do discurso anti-colonial? Meus amigos: Foucault cagou-se para esse discurso.
A Filosofia de Foucault é ameaçada internamente pelo relativismo quase-historicista, bem como pelo seu próprio estilo de escrita. Porém, se a analisarmos com cuidado, descobrimos que é possível tematizá-la no estilo clássico da Filosofia. E o mais interessante é que nessa tarefa de reformular Foucault descobrimos desde logo um Marx liberto do comunismo. A filosofia de Foucault pode ser vista como uma nova modalidade de fazer filosofia marxista.
Num Colóquio sobre Nietzsche, ataquei os filósofos estrangeiros que me perguntaram se era possível ser nietzschiano hoje. Disse e continuo a dizer: Foucault não é nietzschiano. Aliás, diante da Genealogia da Moral de Nietzsche, ele só podia rir, rir imenso. E devemos rir com Foucault!
As pessoas não conseguem transcender os limites do discurso oficial; aceitam as suas regras de jogo e falam nos seus próprios termos. Enfim, cheguei à conclusão que, neste momento, as universidades ensinam o jogo da burocracia: os alunos aprendem a fazer projectos para pedir financiamento; no entanto, o projecto esgota-se nesse objectivo externo.
Há duas obras filosóficas que me desafiam e me decepcionam: a "Dialéctica Negativa" de Adorno e a "Arqueologia do Saber" de Foucault. Ambas pretendem ser a "metodologia" das obras anteriores publicadas por estes autores; o mais engraçado é que nenhuma destas obras é compatível com a temática do método. A dialéctica negativa resiste à codificação e a arqueologia detecta os erros/desvios cometidos nas obras concretas.
Hoje a palavra "investigação científica" não tem significação, excepto aquela que a associa a uma "bolsa". Alunos formatados nas universidades do vazio cognitivo não podem fazer investigação, até porque não sabem o que querem investigar. O anonimato reina em todos os lados. Se pedirmos uma tese sobre o confronto entre Arendt/Foucault obtemos uma manta-de-retalhos, uns recolhidos na Internet, outros recolhidos em livros: o trabalho de pensamento está ausente; aliás o pensamento está ausente tout court.
Enfim, só há uma maneira de pôr as pessoas a pensar: privá-las de comida e de conforto.
Geralmente, ando sempre acompanhado de livros e de artigos. Em Portugal, transportar livros e ler livros é ser objecto de desqualificação: o povo diz que a leitura faz mal à saúde, além de não trazer nenhum benefício à vida; o que conta é ser malandro e ganhar a vida com isso. Claro, com esta mentalidade não é de admirar que Portugal nunca tenha realizado grandes feitos científicos e filosóficos. Mas hoje em dia, sobretudo depois da crise, o livro é objecto de estigma: o povo pensa no preço do livro e reclama esse preço.
Acho que foi Engels que disse que a liberdade era uma noção burguesa, e, de facto, tinha razão para o dizer. A verdade é que o povo nunca lutou pela liberdade; o que o povo quer é comer, e, tendo comida e abrigo, não opõe resistência ao sistema. O discurso da liberdade é o discurso dos intelectuais.
Termino com esta última perplexidade: Toda a Pré-História narrada pelos livros-de texto é provavelmente uma tremenda ficção, para já não falar do registo fóssil do "homem". Não conhecemos o nosso passado e ignoramos o estilo de vida de muitas civilizações desaparecidas.
Estou mesmo cansado com a biografia de Foucault. Dei-lhe o benefício da dúvida e tenho estado a relê-lo com atenção, mas estou cansado das suas amizades coloridas. O homem quis amar perdidamente e tanto amou sadomasoquisticamente que morreu com a doença da paixão descontrolada.
Hoje vou ficar sem TV porque os técnicos da Zon só podem vir amanhã. Enfim, é possível viver sem TV, Phone e Internet. De facto, gastamos dinheiro inutilmente e o mundo virtual não é melhor que o mundo real. Entretanto, MEO fez-me uma proposta sedutora. Segunda-Feira já tenho outra operadora, mas o ideal seria desligar tudo e escutar o silêncio dos livros.
Enfim, tenho dormido bem nestes dois dias sem TV... e começo a pensar se devo fazer novo contrato ou simplesmente libertar-me destas adições tecnológicas que não trazem mais-valia à minha vida. Lendo três biografias de Foucault fiquei a saber que as suas nomeações resultaram de cunhas: os professores que o recomendavam para os cargos eram quase todos gay como ele. Os primeiros currículos enviados por Foucault eram puras invenções e é assim que se vence na vida: prostitui-te.
A arrogância intelectual de Foucault era proporcional à sua inutilidade filosófica: o seu livro sobre "metodologia" - a Arqueologia do Saber - é um amontoado de lugares-comuns que visam justificar os temas do estruturalismo. Foucault foi um homem histérico e profundamente maldoso, como testemunha a vida negra de Garaudy. Um sadomasoquista que tudo fez para ter o seu momento de glória...
Na etapa final da sua vida, quando estava na Califórnia, Foucault rodeava-se de jovens cultivando a tal velha amizade grega. Conheceu a felicidade que o levava a frequentar saunas sadomasoquistas em San Francisco e em New York. Dumézil que sempre apadrinhou Foucault também era gay: a correspondência que trocavam é muito, muito histérica. Enfim, nas cartas libertavam as "bichas" que os habitavam.
Se tivesse tempo e disposição criava uma página "Orgulho de Ser Branco" ou "White Power", para testar certas hipóteses de trabalho. Hoje, sem TV e com muita chuva, estou brincalhão...
Alguns reformados públicos dizem em voz alta que o Estado lhes cortou 600 euros. Ora, dizer isto em espaço público gera conflito. Eu acho que sofreram um corte de 400 euros: os funcionários públicos é que sofreram cortes maiores, em média, claro.
O Estado Português corta nos serviços públicos para subsidiar os mesmos serviços privados. Isto não é realmente liberalismo mas uma monstruosidade especificamente lusitana. Portugal não tem empresários; tem chulos privados que vivem à custa do Estado. Ora, a destruição da saúde e da educação públicas vai produzir doentes sem tratamento e mortos precoces e analfabetos: a massa salarial portuguesa é demasiado baixa para poder recorrer a serviços privados. Pobreza: eis o destino de Portugal.
Desde que entraram na zona do Euro os portugueses começaram a viver como se fossem alemães: endividaram-se sem cuidar da economia. Ora, os alemães não são responsáveis pela estupidez dos portugueses. Aliás, o perfil tecnológico das exportações portuguesas deve-se ao investimento alemão em Portugal; sem esse investimento não teríamos exportações de elevada tecnologia. Enfim, os portugueses estão com o rabo entalado em relação aos alemães.
Em Portugal, a regulação é uma fraude: as águas foram privatizadas e as contas aumentaram, a regulação da electricidade é uma mentira, e a regulação dos combustíveis outra grande mentira. As chamadas empresas do regime que foram privatizadas arruinaram a economia nacional.
Sabiam que um taxista não tem salário fixo em Portugal? No Porto e em Lisboa, os taxistas recebem pouco mais de 30% das "viagens" que fazem; o resto é para o proprietário dos taxis. Ora, com a crise, os taxistas têm poucos clientes nestas duas cidades e chegam ao fim do mês com pouco mais de 500 euros.
O empobrecimento gerado por este governo está a gerar ódios entre os portugueses. De facto, os trabalhadores do sector privado ganham menos do que os funcionários públicos. Ora, quando um professor reformado diz publicamente que o Estado cortou 600 euros da sua reforma, as pessoas ficam revoltadas porque a maior parte recebe salário mínimo ou pouco mais. Ninguém cuidou de Portugal como um todo e, sempre que havia eleições, as pessoas votavam naqueles que prometiam aumentos salariais. E de eleição em eleição o país afundou-se em dívidas públicas e privadas.
Governar pelas e para as estatísticas gera uma tremenda fraude estatística. Os indicadores mostram "melhorias" no sistema de ensino português mas essas indicações - ao contrário das indicações relativas à saúde - são falsas, no sentido de produzirem uma realidade falsa. Todos sabemos que os professores não conseguem dar uma aula e, no entanto, os alunos passam e recebem diplomas. Ora, estes diplomas são falsos. Apesar desta fraude, Portugal deve apostar na educação, na ciência e na tecnologia, mas numa educação rigorosa e de qualidade.
A demografia portuguesa é uma catástrofe. Em 2060, seremos apenas 6 milhões de portugueses, com predomínio dos "velhos". Ora, a receita do crescimento económico exige muita população, com predomínio dos mais novos. Enfim, Portugal está a morrer.
A minha paixão pelo Porto é muito idêntica à experiência dos estrangeiros que se apaixonam pelo Porto. Tanto eu como eles não somos portuenses de nascimento: eu encantei-me pelos telhados do Porto e eles com a sua arquitectura diversificada e acolhedora. A experiência urbana no Porto convida ao recolhimento em grupo: as multidões no Porto não perderam o rosto. Mas há mais: No Porto tudo parece próximo quando na verdade as distâncias são imensas. A densidade arquitectónica parece encurtar o espaço ou, pelo menos, encurvá-lo sobre si mesmo. É a esta experiência que chamo atractor de recolhimento.
Há outra abordagem do Porto: a do abraço carnal. O meu amigo italiano articula as duas abordagens: a da arquitectura acolhedora e a do abraço carnal. O Porto tem essas duas facetas e, de facto, a noite de São João é a noite da fusão carnal e orgiástica. Pelo menos, que a fusão carnal seja segura...
O prolongamento da "infância" ou mesmo da juventude muito para além da idade reprodutiva ceifa a vida: Quando forem velhos, os "eternos jovens" com "mente pueril" olham para trás e soletram: "Perdi a vida".
Sou completamente contra a pesquisa biológica do envelhecimento: prolongar artificialmente a vida humana para além dos limites razoáveis é uma estupidez. Não podemos continuar a viver a actual ditadura geriátrica: devemos aprender a ceder o nosso lugar aos mais novos.
Para mim, a pior geração de toda a história do homem foi a chamada geração de Maio de 68: os labregos que nessa altura protestavam em nome de pseudo-ideias de esquerda são hoje os carrascos da Europa e da América. São ultra-conservadores, egoístas geriátricos e malvados, e geraram filhos e netos mal-educados. A ralé de 68 estragou o mundo.
Quando comecei a especializar-me em neurociências, via as pessoas reduzidas às suas "avarias neuronais". E partilhava publicamente com ironia a leitura que fazia dos cérebros dos outros. Hoje prefiro chamar os bois pelos nomes correctos e reservo para mim o diagnóstico: o que mais me irrita nas pessoas é a sua burrice congénita.
A presença dos portugueses bloqueia a criatividade. Para se criar é preciso escapar de Portugal. É verdade o que estou a dizer. Se acha que o seu filho é inteligente, não o coloque numa escola portuguesa: toda a socialização formal e informal da escola portuguesa é um sofrimento para as crianças criativas. Entram espertas na escola e saem de lá burras. Maldita escola portuguesa!
Hoje acordei herético e só agora despertei do estudo intenso do catarismo nas suas ligações com o maniqueísmo. Quando era estudante publiquei dois ensaios dedicados: um ao maniqueísmo e outro à poesia trovadoresca. O último gerou entre mim e o professor uma longa polémica: foi nesse momento que compreendi o espírito castrador dos portugueses. Mas fui eu que venci... o prof era uma merda "comunista".
O Porto Trovadoresco: o Porto sofreu a influência da poesia provençal, até porque foi o porto de desembarque dos cruzados. Infelizmente, desconheço a existência de trovadores portuenses. E não sabemos até que ponto o druidismo influenciou o pensamento portuense. Porém, com base nas obras de certos bispos do Porto, é possível elaborar essa quadro portuense: D. Hugo é de origem francesa.
Tive uma professora inglesa que me explicou a diferença entre ortodoxo e heterodoxo. Achei graça à explicação dada em inglês. Ora, anos mais tarde descobri o Porto Heterodoxo: o pensamento portuense nasceu heterodoxo.
Mais uma confissão: Os Amigos de Agostinho da Silva convidaram-me para apresentar três conferências sobre este pensador português, uma no Clube dos Fenianos Portuenses, outra na Faculdade de Letras da UPorto e outra em Coimbra. Apresentei as três conferências, mas em Coimbra os lideres de um grupo maçónico ficaram furiosos comigo por ter confrontado Agostinho com Moltmann. Ora, durante a discussão na Faculdade de Letras, eu já tinha defendido uma recuperação do pensamento portuense a partir de um confronto produtivo com o pensamento alemão. Porém, esse grupo maçónico era e ainda é muito retrógrado. Enfim, depois da discussão de Coimbra, deixei-o e apanhei a boleia de um deputado portuense.
«Jamais ninguém conseguirá entravar o progresso técnico do mundo: mas é fora de dúvida que ele pode servir para escravizar ou para libertar» (Agostinho da Silva).
«(...) O pensador é bom na medida em que a audácia das suas explorações o leva a cada passo à beira da heterodoxia» (Agostinho da Silva). Como diz logo no início do capítulo: «Não há vida sem perigo...». E depois uma reflexão sobre heresia e heterodoxia.
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