Eis alguns pensamentos políticos partilhados no Facebook a propósito da situação de Guerra em Moçambique:
1. Em Portugal, a lógica do aparelho partidário dos partidos políticos está a afundar a democracia: os deputados e os políticos são incompetentes que fazem da "política" uma fonte de rendimento. Eles não pensam em termos de ideologias em confronto mas sim em termos de emprego e de regalias. Daí que façam alianças com o poder financeiro e empresarial e com os grandes escritórios de advocacia. O regime político português está completamente podre e o povo não tem sabedoria para lutar pela sua refundação saudável. Um povo idiota tem os líderes que merece: políticos corruptos.
2. A única coisa que melhorou substancialmente em Portugal depois do 25 de Abril foi a saúde. A educação e a justiça afundaram-se completamente. Governar em função de indicadores estatísticos forjados cria um país de mentira que não resiste a uma tempestade. Portugal não resistiu à crise porque é uma mentira oficial.
3. A função primordial da Constituição é limitar o exercício do poder político. Em democracia, os partidos políticos - tanto os que estão no poder como os que estão na oposição - não podem subverter a Constituição, usando os aparelhos repressivos de Estado (Exército e Forças Policiais). Em Moçambique, os movimentos armados não podem ser vistos como partidos políticos. Por definição, um partido político não tem exército, nem nacional nem privado. Converter o exército nacional em braço armado do partido no poder é abolir a democracia.
4. O que falhou em Angola e em Moçambique? Falhou a experiência democrática: os movimentos de libertação não souberam converter-se em partidos políticos, cada um dos quais com a sua própria ideologia política. A democracia implica alternância política: uns ganham, outros perdem. Recorrer à força para conservar o poder não é política democrática.
5. A "despolitização" da sociedade e do ensino é perigosa. Sempre condenei a abolição da disciplina de Introdução à Política no ensino secundário e a indiferença dos cursos de Filosofia em relação à Filosofia Social e Política. Foi com prazer que, consultando as obras de Maurice Duverger, me deparei com uma distinção rigorosa entre Fascismo e Comunismo. Estou farto da propaganda americana que falsifica a verdade histórica para vender uma mentira: o comunismo é igualitário, o fascismo é aristocrático. O colapso do comunismo foi terrível para todo o mundo. Sociedades sem oposição interna e externa lançam o mundo no abismo, como estamos a verificar.
6. Comparemos qualquer Presidente americano com Lenine: o que verificamos? Verificamos que o primeiro é ignorante e que o segundo foi um grande pensador. O mal da esquerda contemporânea é ter rompido com a sua grande tradição: Não há grande política sem um grande pensador por detrás.
7. Por que não simpatizo com o pensamento de Michel Foucault? Porque a substituição da macropolítica - a visão marxista da política e do poder - pela micropolítica deixa-nos sem projecto político e sem visão de futuro. Ao ser seduzida por questões de micropolítica, a esquerda entregou o campo da macropolítica ao neoliberalismo que aproveitou o colapso do comunismo para impor a agenda terrível da globalização financeira. Ora, convém ler D. Guérin, porque há uma associação perigosa entre Fascismo e Grande Capital. Os comunistas da Alemanha lembram-me sempre da ligação entre BMW e Nazismo.
8. O Guião da Reforma do Estado de Paulo Portas é ridículo. O que é o Estado? Quais as funções do Estado que se pretendem reformar? A reforma do Estado tem sempre uma forte componente ideológica: o governo quer enfraquecer o Estado e transferir algumas das suas funções para o sector privado. Nunca vi governo tão pouco patriótico como este: Alemanha, França, Inglaterra, USA ou mesmo a China são Estados fortes.
9. Concordo com a experiência pedagógica da Escola de Matosinhos: a separação dos bons alunos e dos maus alunos em turmas diferentes permite melhorar a qualidade do ensino, dando especial atenção aos alunos inteligentes; os outros podem assim estudar ao seu ritmo lento e ser canalizadas para outras áreas profissionais sem prejudicar os alunos inteligentes.
10. A situação de Moçambique agrava-se. Primeiro: a descolonização foi mal feita. Segundo: não há partidos políticos em Moçambique, mas dois movimentos armados que visam a conquista definitiva do poder. Terceiro: não havendo partidos políticos, não há democracia. Quarto: predomina a ideologia da eliminação do adversário porque não há ideologias políticas em confronto mas ambições pessoais de dirigentes totalitários.
11. Já leram o guião da reforma do Estado apresentado por Paulo Portas? Privatização das escolas públicas! É tudo tão ridículo que não vale a pena comentar! No entanto, vale a pena referir a experiência interessante de uma escola de Matosinhos: separar os bons dos maus alunos ajuda a melhorar a qualidade do ensino.
12. Os sonhos de infância ditam os destinos de Portugal: Passos Coelho e Paulo Portas sonharam que, quando fossem grandes, queriam ser Primeiro-Ministros. Ser Primeiro-Ministro tornou-se o objectivo das suas vidas. E basta a ambição para ser Primeiro-Ministro em Portugal. Daí que nunca tenha havido projecto político de futuro neste pobre e feio país.
13. Façam este exercício: Pensar a composição etária e regional deste governo. Uma conclusão se impõe: os ministros e secretários-de-Estado mais jovens são incompetentes e vingativos. E alguns deles são provenientes do interior profundo de Portugal.
14. Em vez da captação de migração de "valor qualificado", devíamos seguir uma política de expulsão de cérebros de diminuto valor, como o de Pedro Lomba.
15. Por que não simpatizo com a Frelimo? Sou a favor dos movimentos de libertação dos povos oprimidos. Porém, no caso de Moçambique, o movimento de libertação devia converter-se em partido político depois da Independência mudando de nome. A Frelimo aliou-se ao comunismo, seguindo o modelo de partido-único detentor do poder político. Mais tarde, depois da Guerra Civil, tanto a Frelimo como a Renamo deviam dar origem a dois partidos parlamentares que disputam democraticamente em eleições livres a conquista do poder. Porém, como estamos a ver, nenhum destes movimentos abdicou do seu braço armado: a Frelimo usa o exército nacional para se perpetuar no poder e a Renamo tem o seu exército privado. O Estado de Direito não pode existir nestas circunstâncias. Eliminar fisicamente adversários políticos não está no ADN do combate democrático pela conquista do poder. (Angola não é bom exemplo de democracia!)
16. Quando os portugueses diziam que "somos ricos", eu reagia a tal afirmação ultra-igualitária com espanto, pensando que eles eram e são idiotas. Apesar do colapso do comunismo, a teoria marxista do poder continua a ser válida: os partidos políticos são, de certo modo, classes sociais organizadas em termos de conquista do poder. Ora, o próprio Estado não é completamente neutro em matéria de luta de classes: as suas instituições nucleares - os aparelhos repressivos e ideológicos de Estado - impõem através da violência física e/ou simbólica o domínio da classe dominante sobre as classes desfavorecidas. Até mesmo o Estado Democrático é um "Estado de Classe". Uma prova: os portugueses estão a pagar os prejuízos privados dos bancos. O Estado socorre o grande capital nacional e internacional através do empobrecimento do povo. O Guião da Reforma do Estado proposto por Paulo Portas visa reforçar o carácter de classe do Estado português.
17. Paulo Portas diz ter lido Raymond Aron, mas parece ter retido pouca coisa dessa leitura: Raymond Aron foi sempre um defensor da democracia liberal, da economia de duplo-sector e da elevação do nível de vida das classes trabalhadoras, de modo a conter o avanço do comunismo. Paulo Portas propõe a privatização das escolas públicas, entre outras medidas conjunturais ridículas.
18. Quem é que já leu "Que Fazer?" de Lenine? Uma grande obra de pensamento político que pensa a conjuntura - o momento presente - sem esquecer a estrutura a longo prazo. Lenine foi uma mente brilhante. Ora, os políticos portugueses não escrevem obras que mereçam ser lidas. O pensamento político português é lixo.
19. Sempre que ouço os socialistas a defender uma solução federalista para a Europa fico aterrorizado. Será que eles ainda não compreenderam que a alienação da soberania nacional fortalece a soberania alemã? E sempre que escuto Passos Coelho a atacar o Tribunal Constitucional a palavra "Fascismo" vem-me à cabeça.
20. Dizem no Facebook que em Belém habita a doença de Alzheimer. Confesso que esta concepção de doença como entidade exterior aos doentes - os seus portadores - me é completamente estranha. Neste aspecto, afasto-me do platonismo médico.
15. Por que não simpatizo com a Frelimo? Sou a favor dos movimentos de libertação dos povos oprimidos. Porém, no caso de Moçambique, o movimento de libertação devia converter-se em partido político depois da Independência mudando de nome. A Frelimo aliou-se ao comunismo, seguindo o modelo de partido-único detentor do poder político. Mais tarde, depois da Guerra Civil, tanto a Frelimo como a Renamo deviam dar origem a dois partidos parlamentares que disputam democraticamente em eleições livres a conquista do poder. Porém, como estamos a ver, nenhum destes movimentos abdicou do seu braço armado: a Frelimo usa o exército nacional para se perpetuar no poder e a Renamo tem o seu exército privado. O Estado de Direito não pode existir nestas circunstâncias. Eliminar fisicamente adversários políticos não está no ADN do combate democrático pela conquista do poder. (Angola não é bom exemplo de democracia!)
16. Quando os portugueses diziam que "somos ricos", eu reagia a tal afirmação ultra-igualitária com espanto, pensando que eles eram e são idiotas. Apesar do colapso do comunismo, a teoria marxista do poder continua a ser válida: os partidos políticos são, de certo modo, classes sociais organizadas em termos de conquista do poder. Ora, o próprio Estado não é completamente neutro em matéria de luta de classes: as suas instituições nucleares - os aparelhos repressivos e ideológicos de Estado - impõem através da violência física e/ou simbólica o domínio da classe dominante sobre as classes desfavorecidas. Até mesmo o Estado Democrático é um "Estado de Classe". Uma prova: os portugueses estão a pagar os prejuízos privados dos bancos. O Estado socorre o grande capital nacional e internacional através do empobrecimento do povo. O Guião da Reforma do Estado proposto por Paulo Portas visa reforçar o carácter de classe do Estado português.
17. Paulo Portas diz ter lido Raymond Aron, mas parece ter retido pouca coisa dessa leitura: Raymond Aron foi sempre um defensor da democracia liberal, da economia de duplo-sector e da elevação do nível de vida das classes trabalhadoras, de modo a conter o avanço do comunismo. Paulo Portas propõe a privatização das escolas públicas, entre outras medidas conjunturais ridículas.
18. Quem é que já leu "Que Fazer?" de Lenine? Uma grande obra de pensamento político que pensa a conjuntura - o momento presente - sem esquecer a estrutura a longo prazo. Lenine foi uma mente brilhante. Ora, os políticos portugueses não escrevem obras que mereçam ser lidas. O pensamento político português é lixo.
19. Sempre que ouço os socialistas a defender uma solução federalista para a Europa fico aterrorizado. Será que eles ainda não compreenderam que a alienação da soberania nacional fortalece a soberania alemã? E sempre que escuto Passos Coelho a atacar o Tribunal Constitucional a palavra "Fascismo" vem-me à cabeça.
20. Dizem no Facebook que em Belém habita a doença de Alzheimer. Confesso que esta concepção de doença como entidade exterior aos doentes - os seus portadores - me é completamente estranha. Neste aspecto, afasto-me do platonismo médico.
J Francisco Saraiva de Sousa
3 comentários:
O nazismo forçou o exílio de muitos intelectuais alemães. Adorno que nunca foi feliz no seu exílio americano falou da sua "vida danificada". Ora, nascer português é nascer para a vida danificada. Esta é uma verdade terrível que devia ser discutida publicamente pelos portugueses. A maldade humana manifesta-se em diversos momentos da história. Mas não é permanente como a maldade portuguesa.
Deleuze dedicou um livro à explicitação da filosofia de Foucault sem no entanto ter alcançado esse objectivo. Desconheço a existência de uma análise da "Arqueologia do Saber" de Foucault, obra onde ele se debate com o estruturalismo. Além disso, a relação de Foucault com o marxismo ainda não foi explicitada, embora as entrevistas forneçam muitas indicações a esse respeito. Eu comecei a ler Foucault durante a minha adolescência: a articulação entre relação de produção (Marx) e relação de poder sem teoria política (Nietzsche) nunca me seduziu: o aparelho de Estado ocupou sempre um lugar de destaque no meu pensamento. Estou convencido de que podemos analisar o Hospital, a Prisão, o Exército, etc. a partir da teoria do poder de Marx sem rejeitar o contributo de Foucault.
Hospital Psiquiátrico: Foucault e Goffmann aliaram-se à Anti-Psiquiatria para demolir esta instituição de saúde. Devo reconhecer que sempre estive associado a essa tendência num terreno estritamente científico: a defesa de uma Psiquiatria Biológica. No entanto, não sou favorável ao fechamento dos Hospitais Psiquiátricos. A crítica de Goffmann do Hospital Psiquiátrico como instituição total é justa: aprecio tudo o que disse sobre os territórios do eu e sobre os processos de mortificação do eu. Estes fenómenos ocorrem em qualquer tipo de internamento. Precisamos de uma Filosofia da Hospitalização.
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