terça-feira, 2 de outubro de 2012

Prós e Contras: Manifestações e Forças da Ordem

Panóptico do PORTO
Eis o texto reaccionário de apresentação do debate Prós e Contras de ontem (1 de Outubro):

"Grécia, Espanha, Itália e Portugal: A crise agudiza-se e explodem os protestos na rua. O que distingue as manifestações no sul da Europa. A efervescência das sociedades angustiadas e a necessidade de defender o Estado de Direito e a ordem pública. A importância das manifestações e o delicado desempenho das forças da ordem. Como é que as forças de segurança estão a lidar com a tensão crescente?"

Cada um dos quatro convidados de Fátima Campos Ferreira desenvolveu o seu discurso reaccionário em nome do Estado de Direito e da ordem pública. O elogio da fotografia da rapariga e do polícia que circulou pelo Facebook é um elogio reaccionário: os revoltosos dotados de consciência política radical não podem tratar as forças policiais de repressão como forças amigas. A violência das forças policiais é usada para garantir a perpetuação da ordem social estabelecida, precisamente aquela que gera o empobrecimento dos povos do sul da Europa. Em Portugal, não há verdadeiramente Estado de Direito ou mesmo democracia: o Estado foi capturado pela máfia lusitana que usa os aparelhos repressivos de Estado para garantir os seus privilégios. A fotografia só mereceria um elogio se o polícia tivesse despido a farda e passado para o lado dos manifestantes: o caso amoroso desejado pelo General - outro representante do poder repressivo do Estado - implica a capitulação dos manifestantes perante o poder estabelecido. Os polícias não podem ser vistos como aliados porque a sua missão é usar a violência para restabelecer a ordem social que priva os manifestantes da sua humanidade. Como tenho defendido em diversos lugares, os manifestantes devem adquirir consciência política radical: a política praticada pelos governantes portugueses deve ser combatida com novas políticas radicais. Alguém afirmou que o discurso do século XIX - entenda-se o pensamento de Marx - está ultrapassado: os privilegiados temem a luta de classes e dizem condenar a violência, não a sua própria violência retrógrada mas a violência revolucionária que visa a realização plena do humanismo integral. Ora, como demonstrou Merleau-Ponty, não há escolha entre a violência e a não-violência, entre o humanismo e o terror, mas apenas entre dois modos de violência - a capitalista e a socialista. A renúncia à violência revolucionária fortalece o reino da exploração capitalista, mas o seu uso tem a oportunidade de romper o círculo infernal do terror e contra-terror na medida em que é veiculada pela solidariedade do povo em sofrimento que, enquanto força política, é capaz de traduzir o humanismo de ideologia em realidade. Numa sociedade profundamente corrupta e desigual como a sociedade portuguesa, não há diálogo possível entre os carrascos e as vítimas, até porque o diálogo não muda nada. A crítica marxista da democracia liberal não perdeu actualidade e a teoria leninista do Estado continua a ser pertinente, embora deva ser reavaliada. O marxismo é verdadeiro ontem e hoje. Aconselho a leitura de Humanismo e Terror de Merleau-Ponty. (Fátima Campos Ferreira tem uma ideia errada da ordem pública: os verdadeiros representantes da ordem pública são os manifestantes, não os seus convidados privilegiados e opressores! O sociólogo convidado fez uma triste figura!)

J Francisco Saraiva de Sousa

7 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Se estiverem a escutar o debate Prós e Contras ou os comentadores da TV, já devem ter ouvido o discurso contra o século XIX e a luta de classes. Claro, eles temem a revolução. Falam de segurança em vez de liberdade. Falam de governos de independentes em vez de governos democráticos. O capitalismo é anti-democrático: o discurso liberal é uma mentira!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Tenho estado a reler Merleau-Ponty e a sua primeira análise da política marxista é aquela que goza de plena actualidade: o papel da violência revolucionária que visa realizar o humanismo integral. Porém, nós ocidentais já não estamos sozinhos no mundo. Este facto obriga-nos a mudar de projecto político: a sociedade tal como a conhecemos chegou ao fim. Há novas contradições internas e externo-mundiais que apontam para novas alternativas políticas. A crítica marxista da democracia liberal é verdadeira e a teoria leninista do Estado reflecte essa verdade essencial: o Estado é um aparelho de classe, neste caso da classe capitalista. Nada mudou que justifique uma mudança de paradigma: o marxismo é verdadeiro ontem e hoje, embora a sua análise deva ser complementada por novos conceitos capazes de revelar as novas contradições.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A necessidade de reler Marx. Vejam esta frase exemplar: «A produção de demasiadas coisas inúteis resulta na criação de demasiadas pessoas inúteis» (MARX). O objectivo é abolir a pobreza extrema, a qual impede o homem de se tornar inteiramente humano, e impedir a riqueza extrema, na qual o indivíduo se torna prisioneiro da sua cupidez. O objectivo de Marx não é o máximo, mas o óptimo de consumo. As pessoas nunca entenderam isso devido à cupidez da sua natureza.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Por isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos revoltar contra os seus interesses. E esta revolução não exige violência armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços. Assim, quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais, isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e de uma forma relativamente pacífica.(John Perkins)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ainda não estou em condições para elaborar novos conteúdos de emancipação, mas já separei alguns livros de filosofia política para ler e meditar. De facto, estudando as agendas políticas dos anos 60, 70 e 80, detecto falhas graves que ajudam a compreender a situação em que estamos: a crise da identidade anunciada nos anos 80 deve ser repensada porque a identidade não é um conceito sólido. Porém, as gerações mais novas já andam a ser descartadas desde os anos 70-80. Um vasto sector da população europeia não tem pátria há muito tempo. Um sector potencialmente revolucionário? Não sei porque ele ainda não compreendeu que a identidade é um processo dinâmico que deve ser construído por cada um de nós e por todos em conjunto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas de uma coisa estou seguro: os novos manifestantes carecem de subjectividade rebelde ou revolucionária. E - o que é deveras preocupante - carecem de formação filosófica e científica. Os rebeldes dos anos 60, 70 e 80 tinham uma formação teórica e política mais sólida. Não se pode fazer política descartando a política. A grande política tem o seu momento destrutivo. Para construir um novo mundo é preciso destruir o velho mundo. Rupturas são fundamentais e, como se sabe, não há ruptura sem violência.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O PS É O PARTIDO DA BOLACHA-MARIA! NÃO VAMOS LONGE COM ESTE PS RECHEADO DE BOLACHAS-MARIAS!