São João: Hoje à noite no PORTO |
Uma proposta para a reforma do São João do PORTO: Como a festa está cada vez mais mundial, acho que as entidades competentes do Porto e de Gaia deviam organizar um festival/concurso mundial de Fogo de Artifício, envolvendo equipas coreanas, japonesas, portuguesas e americanas. A paisagem é única para este tipo de concursos. Houve um ano em que a Ribeira do Porto foi bombardeada com fogo de artifício a partir do Rio Douro e do lado da Sé: o impacto desse fogo cruzado é fabuloso. Na reorganização do S. João, graças ao computador, poderíamos explorar diversos pólos, de modo a pôr a cidade sob fogo.
Abaixo os coiros da SIC e da TVI que ontem transmitiram merda, em vez da festa do São João! Ontem, além dos turistas habituais, o Porto foi visitado por italianos, franceses, marroquinos e cabo-verdianos, entre outras nacionalidades. O empreendimento turístico e empresarial proposto visa a globalização da Festa de São João do Porto.
13 comentários:
Ninguém é mais feliz por viver mais anos, porque, se a morte for aniquilação total do nosso ser, depois de mortos, já não saberemos o que fomos. O pensamento da morte como aniquilação não é racionalmente compatível com o projecto de viver muitos e muitos anos.
Mas, como o universo é um objecto estranho, não temos nenhuma certeza... Porém, para aqueles que acreditam num paraíso celestial, a vida em anos também não conta.
As teorias filosóficas da fundamentação deixam-me perplexo: Como é que seres mortais podem ter a pretensão de fundamentar seja o que for, dando-lhe uma garantia transcendental? As pessoas rejeitam a morte e, no entanto, são indiferentes ao sofrimento alheio. Como é que tais pessoas podem esperar ser recompensadas de algum modo aqui ou noutra "vida"? A sua existência é uma crueldade para os outros. Devemos lamentar a sua morte?
Retomando o tema da morte: Reconheço que a racionalização da tradição ocidental não conseguiu substituir o papel da mitologia. Ou melhor, as alternativas propostas e realizadas são, elas mesmas, novas mitologias. É por isso que condeno o positivismo. Mas, para fazer novas propostas, precisamos de novos estudos e de novas filosofias. Um caso exemplar a estudar é a cristianização da Grécia Antiga. Outro caso curioso é o dos Maias subjugados pela Espanha e pelo cristianismo.
Eu não aprecio nenhuma religião, nem sequer preciso de religião para viver. Porém, as religiões do livro mexem comigo: a Conquista Espanhola irrita-me profundamente e nutro um ódio especial pelos bispos que destruíram os códices maias e astecas. A verdade é que o cristianismo mostrou ser mais violento do que a prática dos sacrifícios humanos. Afinal, é mesmo um ódio filosófico...
O modo de ver a vida dos Maias pode ser sintetizado deste modo: "Viver e deixar viver" - os homens e os animais. A esta bandeira podemos acrescentar o lema - "Nada em excesso", que já estava inscrito no Templo (grego) de Delfos. A atitude maia é estranha aos portugueses que tudo fazem para danificar a vida dos outros; os espanhóis conquistadores - movidos unicamente pelo culto do bezerro de ouro - destruíram tudo: a sua maneira de ver a vida não tolerava a diversidade. As religiões politeístas são religiões da tolerância: o monoteísmo é nefasto.
Amo a Grécia Clássica, como é evidente. No entanto, nutro muita simpatia pela educação dos Maias e dos Astecas: a disciplina que não devemos confundir com autoritarismo fascina-me. Para provocar a ira do defunto Foucault, direi mesmo que admiro as sociedades disciplinares.
Ah! Se vivêssemos para sempre!
Ah! Se não morrêssemos nunca!
Vivemos com a alma rasgada,
Sobre nós espoucam os raios,
Somos vigiados, atacados.
Vivemos com a alma rasgada. Há que sofrer!
Ah! Se vivêssemos sempre!
Ah! Se não morrêssemos nunca!
Ou este:
Será que o meu coração se irá
Como as flores que feneceram?
O meu nome não será nada algum dia?
O meu renome não será nada na terra?
Ao menos flores! Ao menos cantos!
Como o meu coração fará (para sobreviver)?
Ah! É em vão que passamos pela terra.
A tradução merece ser revista! Fui literal! Trakl escreve: A alma é um estranho na terra. O poeta asteca diz: É em vão que passamos pela terra. O mesmo conceito!
Na sua língua, coração e flor têm forte afinidade semântica. No entanto, eles não eram cardiocentristas: coração -> vida -> sangue.
Dois poemas líricos astecas! :)
Conhecemos a concepção da sexualidade dos astecas mas sabemos pouco sobre o seu erotismo: os frades espanhóis dizem que praticavam sodomia. Porém, os astecas puniam severamente os actos homossexuais: a forma ritualizada de homossexualidade já referida encontra-se na zona do Golfo do México. Mudando de continente, da América para África, o erotismo torna-se quente. Eis aqui um cântico erótico dos ba-ilas do norte da Rodésia:
Oh, querido!, querido!, querido! Que tamanho o do seu enorme pénis!
É algo sem fim. Quão prolongada deve ser a sua erecção!
Ma! Ma! Ma! diakomena itoni diakwe!
ndia mulolobozho
kudikwete kudilolobola.
Não resisto a partilhar outro cântico erótico africano. Desta vez saquei-o dos Akambas do Quénia:
Eh! Eh!
Viemos de longe
Em busca do sal para a "kino" (genital feminino)
ergue-te, pénis.
Eh! Eh!
O que significa? Significa isto: as mulheres procuram a chuva para obter alimento para os maridos, os quais não podem cumprir os seus deveres sexuais quando estão debilitados pela fome.
Dos povos africanos prefiro o erotismo Zande ou Azande: o erotismo zande é quente e explícito. Eis dois fragmentos:
Oh pénis, oh pénis! A vagina chama-te.
Parentes, oh parentes! parentes, saquem os vossos pénis.
As canções são demasiado longas para as partilhar na íntegra.
Nós ocidentais temos a ideia de que os povos primitivos são pouco higiénicos. Porém, tanto os maias e os astecas, povos já civilizados, como os povos das ilhas do Pacífico operavam a dissociação entre sexo e excremento. Assim, por exemplo, os ilhéus do Pacífico consideravam o asseio como condição essencial para a pessoa ser considerada atraente: a sodomia repugnava-os pelo facto de estar relacionada com as fezes. Aliás, eles usavam esta expressão: "esse homem copula com os excrementos" (matauna ikaye popu) para reprovar esse comportamento.
Os portugueses colonizaram muitos povos da Terra, mas, ao contrário dos ingleses ou mesmo dos espanhóis no caso da América Central, não fizeram as suas etnografias. Estou a ser um pouco injusto: Há estudos etnográficos de pouca qualidade, muitos deles datados do século XX. O problema é que os portugueses não zelam pelo seu património cultural: as obras estão esquecidas nos arquivos e nas bibliotecas. O Império Monomotapa é um desses casos: Portugal lutou contra esse império, tal como os espanhóis lutaram contra o império asteca.
Enviar um comentário