Contém uma exposição da Medicina Primitiva. |
Mais ideias para o Dossier Filosofia Médica:
1. Ao repensar a Filosofia Médica, descobri que preciso pensar uma Filosofia da Medicina e uma Filosofia na Medicina. O surgimento da medicina-ciência - a biomedicina - implica uma nova epistemologia médica. Ora, a classificação das ciências médicas é uma tarefa complicada. Além disso, existem epistemologias regionais, tais como a epistemologia da genética e da imunologia.
2. O campo da Biomedicina tal como o conhecemos hoje é tão complexo que dificulta a tarefa de elaborar uma nova Filosofia Médica. Uma via interessante a seguir é a das doenças infecciosas: o seu estudo biológico ajuda a compreender a articulação de ciências-chave da biomedicina. A perspectiva médica das doenças infecciosas é antropológica, ao passo que a perspectiva biológica respeita tanto os homens como os parasitas. Porém, não sei se esta distinção deve ser mantida na nova filosofia médica.
3. Infelizmente, a antropologia filosófica não deu atenção ao homem-doente. O meu interesse pelo Hospital leva-me a propor uma Filosofia da Hospitalização capaz de reintroduzir o homem-doente no seio da antropologia filosófica. O comportamento perante a doença e perante a hospitalização revela estruturas antropológicas universais, tais como a visão reduzida do mundo ou a retirada do mundo hospitalar.
4. A passagem de uma concepção negativa para uma concepção positiva da saúde aproxima o campo da medicina do campo da filosofia: a medicina é algo mais do que o estudo, a prevenção e a cura da doença; ela interessa-se pelo fomento dos elementos que contribuem para a "boa vida" e estimulam a população a viver de modo saudável. A Filosofia da Saúde deve articular a Vida Saudável e a Vida Justa. É nesta articulação que podemos definir uma política da saúde.
5. A SIDA matou Michel Foucault que escreveu abundantemente sobre o nascimento da clínica e do hospital, embora o seu alvo predilecto tenha sido a loucura. A leitura da sua obra deixa-nos com uma visão negativa da medicina, cujos cuidados ele procurava quando entrava em depressão. Susan Sontag denuncia o predomínio da metáfora belicista no reino da imunologia, mas também ela precisou dos cuidados médicos para liquidar o seu cancro. Foucault e Sontag escreveram sobre medicina como se fossem utentes de um serviço de medicina primitiva, onde predomina a etiologia social em detrimento da etiologia científica. Eles falaram sobre as doenças sem conhecer o funcionamento do organismo.
6. Iatrofilosofia é a designação dada à Filosofia da Medicina. A Iatrofilosofia - ou simplesmente a Filosofia Médica - estuda os pressupostos filosóficos das ideias e das práticas médicas e investiga os problemas filosóficos surgidos na pesquisa e na prática médicas. A Filosofia Médica enfrenta dois grandes problemas que dificultam o seu crescimento: o primeiro problema iatrofilosófico é a caracterização da própria medicina, e o segundo problema iatrofilosófico é distinguir os seus próprios ramos e identificar as questões características e urgentes de cada um deles. Sem pretender ser exaustivo, posso destacar os seguintes ramos da Filosofia Médica: a Iatrologia, estudo dos problemas lógicos da medicina; a Iatrossemântica, estudo dos problemas semânticos da medicina; a Iatro-epistemologia, estudo dos problemas do conhecimento médico; a Iatrometodologia, estudo dos problemas metodológicos da pesquisa e da prática médicas; a Iatro-ontologia, estudo dos conceitos ou hipóteses ontológicos inerentes às teorias e práticas médicas; a Iatro-axiologia, estudo dos valores médicos, a começar desde logo pela saúde; a Iatro-ética, estudo dos problemas morais suscitados pela pesquisa e prática médicas; e a Iatropraxeologia, estudo dos problemas gerais colocados pela prática médica individual e pela gestão da saúde pública. A distinção destes ramos da Iatrofilosofia tem sido levada a cabo a partir da Epistemologia, a ciência das ciências. Uma Filosofia Médica sistematizada pode implicar outras articulações teóricas. Em vez das designações usadas, poderíamos ter usado outras, tais como Lógica Médica, Semântica Médica, Epistemologia Médica, Metodologia Médica, Ontologia Médica, Axiologia Médica, Ética Médica e Política Médica.
7. Como já vimos, as ideias de saúde, doença e terapia dependem criticamente da concepção de Homem adoptada pelos filósofos e médicos. A antropologia filosófica deverá integrar o homem-doente no seu corpo teórico. A abordagem biológica deve ser adoptada pela antropologia filosófica porque só ela permite elaborar um conceito geral de doença.
8. A Filosofia Médica articula-se com a BioFilosofia ou Filosofia Biológica. A prioridade da Filosofia Médica é pensar a problemática da BioMedicina e ajudá-la a clarificar os seus conceitos, teorias e práticas. Outra conexão a pensar é a que existe entre medicina e tecnologia: a Filosofia Médica também se articula com a Filosofia da Tecnologia.
9. Ivan Illich acusou a medicina de ser mais uma religião e um comércio do que uma ciência e um apostolado: a medicalização da vida tem efeitos nocivos. Os médicos enquanto grupo profissional ignoraram as acusações de Illich, em vez de aproveitar a oportunidade para investigar o problema e realizar uma auto-crítica honesta, reconhecendo os elementos que reduzem a saúde a um negócio lucrativo e investigando a sua influência na formação universitária dos médicos e na estrutura da sociedade. Sem a ajuda da Filosofia, a Medicina não consegue clarificar os seus próprios problemas. A iatrogénese clínica, a iatrogénese social e a iatrogénese estrutural não são meras invenções de Illich; são realidades em andamento na sociedade capitalista.
10. A Filosofia Médica não é mera espectadora da actividade médica, mas exerce efectivamente um papel activo sobre a medicina. As Faculdades de Medicina devem incentivar os estudos iatrofilosóficos, de modo a propiciar a formação de médicos com competência filosófica e de filósofos com competência médica.
11. A Filosofia Médica está a ocupar cada vez mais "espaço" no meu cérebro-mente: Em Filosofia, precisamos de ideias-fundadoras capazes de iluminar a teoria que queremos elaborar. Ora, no caso da Iatrofilosofia, o homem deve ser definido de modo a incluir os estados de doença na sua essência enquanto ser condenado à morte. A finitude implica estados de doença no decurso do ciclo vital do ser humano: a abertura ao mundo é um risco; o organismo está permanentemente sujeito a ser agredido pelo ambiente.
12. Não podemos mudar aquilo que desconhecemos. Para mudar o mundo, é preciso conhecê-lo. A célebre tese de Marx sobre a transformação do mundo foi mal-interpretada: a filosofia de Marx nunca abdicou da teoria a favor da praxis. Nós conhecemos relativamente bem a dinâmica do capitalismo, mas este conhecimento não é suficiente para transformar o mundo: os agentes sociais da mudança já não são os mesmos do século XIX. O capitalismo introduziu mudanças significativas no mundo da vida quotidiana e no mundo da cultura e da personalidade. Conhecer os novos agentes sociais e os seus mundos fantásticos e saturados é uma prioridade da teoria crítica. Este conhecimento implica mudanças estruturais na agenda política da esquerda atenta ao mundo.
5. A SIDA matou Michel Foucault que escreveu abundantemente sobre o nascimento da clínica e do hospital, embora o seu alvo predilecto tenha sido a loucura. A leitura da sua obra deixa-nos com uma visão negativa da medicina, cujos cuidados ele procurava quando entrava em depressão. Susan Sontag denuncia o predomínio da metáfora belicista no reino da imunologia, mas também ela precisou dos cuidados médicos para liquidar o seu cancro. Foucault e Sontag escreveram sobre medicina como se fossem utentes de um serviço de medicina primitiva, onde predomina a etiologia social em detrimento da etiologia científica. Eles falaram sobre as doenças sem conhecer o funcionamento do organismo.
6. Iatrofilosofia é a designação dada à Filosofia da Medicina. A Iatrofilosofia - ou simplesmente a Filosofia Médica - estuda os pressupostos filosóficos das ideias e das práticas médicas e investiga os problemas filosóficos surgidos na pesquisa e na prática médicas. A Filosofia Médica enfrenta dois grandes problemas que dificultam o seu crescimento: o primeiro problema iatrofilosófico é a caracterização da própria medicina, e o segundo problema iatrofilosófico é distinguir os seus próprios ramos e identificar as questões características e urgentes de cada um deles. Sem pretender ser exaustivo, posso destacar os seguintes ramos da Filosofia Médica: a Iatrologia, estudo dos problemas lógicos da medicina; a Iatrossemântica, estudo dos problemas semânticos da medicina; a Iatro-epistemologia, estudo dos problemas do conhecimento médico; a Iatrometodologia, estudo dos problemas metodológicos da pesquisa e da prática médicas; a Iatro-ontologia, estudo dos conceitos ou hipóteses ontológicos inerentes às teorias e práticas médicas; a Iatro-axiologia, estudo dos valores médicos, a começar desde logo pela saúde; a Iatro-ética, estudo dos problemas morais suscitados pela pesquisa e prática médicas; e a Iatropraxeologia, estudo dos problemas gerais colocados pela prática médica individual e pela gestão da saúde pública. A distinção destes ramos da Iatrofilosofia tem sido levada a cabo a partir da Epistemologia, a ciência das ciências. Uma Filosofia Médica sistematizada pode implicar outras articulações teóricas. Em vez das designações usadas, poderíamos ter usado outras, tais como Lógica Médica, Semântica Médica, Epistemologia Médica, Metodologia Médica, Ontologia Médica, Axiologia Médica, Ética Médica e Política Médica.
7. Como já vimos, as ideias de saúde, doença e terapia dependem criticamente da concepção de Homem adoptada pelos filósofos e médicos. A antropologia filosófica deverá integrar o homem-doente no seu corpo teórico. A abordagem biológica deve ser adoptada pela antropologia filosófica porque só ela permite elaborar um conceito geral de doença.
8. A Filosofia Médica articula-se com a BioFilosofia ou Filosofia Biológica. A prioridade da Filosofia Médica é pensar a problemática da BioMedicina e ajudá-la a clarificar os seus conceitos, teorias e práticas. Outra conexão a pensar é a que existe entre medicina e tecnologia: a Filosofia Médica também se articula com a Filosofia da Tecnologia.
9. Ivan Illich acusou a medicina de ser mais uma religião e um comércio do que uma ciência e um apostolado: a medicalização da vida tem efeitos nocivos. Os médicos enquanto grupo profissional ignoraram as acusações de Illich, em vez de aproveitar a oportunidade para investigar o problema e realizar uma auto-crítica honesta, reconhecendo os elementos que reduzem a saúde a um negócio lucrativo e investigando a sua influência na formação universitária dos médicos e na estrutura da sociedade. Sem a ajuda da Filosofia, a Medicina não consegue clarificar os seus próprios problemas. A iatrogénese clínica, a iatrogénese social e a iatrogénese estrutural não são meras invenções de Illich; são realidades em andamento na sociedade capitalista.
10. A Filosofia Médica não é mera espectadora da actividade médica, mas exerce efectivamente um papel activo sobre a medicina. As Faculdades de Medicina devem incentivar os estudos iatrofilosóficos, de modo a propiciar a formação de médicos com competência filosófica e de filósofos com competência médica.
11. A Filosofia Médica está a ocupar cada vez mais "espaço" no meu cérebro-mente: Em Filosofia, precisamos de ideias-fundadoras capazes de iluminar a teoria que queremos elaborar. Ora, no caso da Iatrofilosofia, o homem deve ser definido de modo a incluir os estados de doença na sua essência enquanto ser condenado à morte. A finitude implica estados de doença no decurso do ciclo vital do ser humano: a abertura ao mundo é um risco; o organismo está permanentemente sujeito a ser agredido pelo ambiente.
12. Não podemos mudar aquilo que desconhecemos. Para mudar o mundo, é preciso conhecê-lo. A célebre tese de Marx sobre a transformação do mundo foi mal-interpretada: a filosofia de Marx nunca abdicou da teoria a favor da praxis. Nós conhecemos relativamente bem a dinâmica do capitalismo, mas este conhecimento não é suficiente para transformar o mundo: os agentes sociais da mudança já não são os mesmos do século XIX. O capitalismo introduziu mudanças significativas no mundo da vida quotidiana e no mundo da cultura e da personalidade. Conhecer os novos agentes sociais e os seus mundos fantásticos e saturados é uma prioridade da teoria crítica. Este conhecimento implica mudanças estruturais na agenda política da esquerda atenta ao mundo.
J Francisco Saraiva de Sousa
4 comentários:
Uma geografia da distribuição da loucura portuguesa pode seguir um critério clubístico: zona azul indica saúde mental, zona encarnada e zona verde indicam um espectro complexo e difuso de perturbações mentais. Basta ver o "Dia Seguinte" para sermos confrontados com cérebros patológicos.
Ser portista é ser nobre e vencer sem entrar no jogo sujo dos inimigos.
Eu sou muito objectivo e lúcido nas análises que faço: Basta assistir aos programas de TV para constatar que reina em Portugal uma conspiração contra o Porto e o FCPorto. Vejamos de perto um caso: "O Dia Seguinte" da SicNotícias. O comentador encarnado possui um cérebro saudável? O comentador verde foi objectivo na análise que fez do jogo Porto-Sporting e dos confrontos prévios ao jogo? Quem atiçou o ódio da claque terrorista do Sporting? Ora, a estratégia do FCPorto foi o silêncio.
Perante a evidência empírica não há argumentos e muito menos argumentos produzidos por cérebros alucinados: O FCPorto afirmou-se como vencedor depois do 25 de Abril. O ódio ao Porto vem do tempo do fascismo que tinha os seus clubes de regime: Benfica e Sporting. Estes clubes de regime nunca se adaptaram à cultura democrática do mérito: Eles não sabem vencer a não ser pressionando os árbitros, caluniando o adversário ou recorrendo às secretarias dos tribunais ou da imprensa. A chamada imprensa portuguesa é frontalmente contra o Porto e o FCPorto. Sabemos isso e devemos agir em conformidade: Exigir a autonomia radical do Porto Cidade-Estado porque não queremos ser invadidos por vândalos.
Como adepto do FCPorto, o que me interessa Cristiano Ronaldo, a Selecção Nacional ou o Estádio do Jamor? Absolutamente nada! Quando ouço os jornalistas da SIC a dizer que nos recebem na sua sala de visitas ou que a Selecção Nacional é o retrato da cópula encarnado-verde, sinto-me distante dessas realidades saturadas de provincianismo saloio. Eu sou portista e nada mais.
O que é o jornalismo desportivo em Portugal? Falar-conspirar durante horas seguidas sobre as frustrações desportivas do Benfica e do Sporting, lançando calúnias contra o FCPorto. O país está dividido e não adianta falar de coesão nacional porque esta mais não é do que uma falsa-unidade contra o Porto: Benfica e Sporting estão unidos na calúnia contra o FCPorto e a Cidade do Porto. Ora, como portuenses e portistas, somos excluídos dessa falsa-coesão imposta pelo regime fascista. Daí desejarmos ser um território independente e autónomo.
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