Porto Cidade-Estado |
Hoje partilho um conjunto de pequenos textos que visam esclarecer a Filosofia Portuense:
1. A mente poética de Teixeira de Pascoaes produziu, em estado prático, uma grande Filosofia da Poesia Portuguesa que urge sistematizar. Destaco uma frase da sua autoria: «D. Quixote é. D. Sebastião há-de ser». A alma lusitana distingue-se assim da alma castelhana: a primeira deseja o futuro, abre-se ao futuro desejado; a segunda fecha-se no passado, actualiza-o. O sebastianismo transfigurado dos pensadores portuenses é uma filosofia da História de Portugal. Não temos outra.
2. Conheço a biblioteca privada de alguns dos pensadores portuenses: os títulos incluem poucas obras de vulto naquele tempo. Ora, o que é inusitado é o facto deles terem redescoberto conceitos filosóficos nucleares e terem feito distinções conceptuais de primeira ordem: a distinção entre "é" e "há-de ser" é brilhante. A alma portuense descobriu uma afinidade que partilha com a alma russa. Mas há outra afinidade e, desta vez, com a alma alemã. O romantismo portuense é brilhante e digno de figurar na grande literatura mundial.
3. As pessoas não compreendem a minha indiferença em relação a Fernando Pessoa e a minha preferência pela poesia e prosa de Teixeira de Pascoaes. Direi apenas que na obra de Pascoaes sinto-me em casa, enquanto na obra de Pessoa sou um estranho: Uma poesia que não se presta ao pensamento não me atrai.
4. Como qualquer um dos grandes pensadores portuenses do passado, eu tento libertar o pensamento filosófico em língua portuguesa da prisão da intriga e da bisbilhotice. E, nessa tarefa de devolver o pensamento à sua matriz conceptual, fui mais longe do que os pensadores ancestrais: Faço Filosofia e, quando confrontado com a Mitologia Nocturna do Povo, converto-a em Filosofia Nocturna. Surgem luzes na escuridão da funda meia-noite.
5. No meu período juvenil, rejeitei o Saudosismo de Teixeira de Pascoaes: a Saudade era-me completamente estranha. Mas, com o decorrer do tempo e à medida que aprofundava a Filosofia Portuense, descobri aquele processo de mutação intelectual a que chamo transfiguração portuense do sebastianismo: a saudade portuense deixou de ser uma noção vaga para passar a ser um conceito político. Vou mais longe: os pensadores portuenses nunca alinharam filosófica e politicamente com a Geração 70: o "há-de ser" é mais do que uma categoria ontológica; é, antes de tudo, um projecto político, e a saudade portuense mais não é do que a saudade do futuro reservado à Cidade do Porto. Eu sou o filósofo portuense da Grande Ruptura: os meus sonhos diurnos antecipam em pensamento o futuro do Porto como Cidade-Estado. Ora, a minha alma portuense não me impede de pensar outras figuras portuguesas, como por exemplo Gil Vicente.
6. Ao falar da transfiguração portuense do sebastianismo, estou a introduzir uma ruptura no seio do sebastianismo português. Rejeito a mitologia sebastianista pensada por sulistas, como por exemplo António Quadros, e aceito o desafio de levar mais longe a problemática filosófica portuense, fazendo do Encoberto-Desejado uma figura da Filosofia. Os heterónimos de Fernando Pessoa tornam-se ridículos perante a figura portuense do Encoberto-Desejado, a figura que anuncia a Filosofia Nocturna e promete a Filosofia Diurna.
7. Há pessoas que se apropriam dos tesouros cognitivos disponibilizados pela Internet como se fossem seus e, quando atacam os outros, pressupõem que eles fazem o mesmo. Ora, nem todos os utentes da Internet são "ladrões cognitivos". É complicado tentar testar a inteligência do outro, sobretudo quando esse outro está a fundar uma nova problemática filosófica, para além das problemáticas da Filosofia da Consciência e da Filosofia da Linguagem: a problemática da Filosofia do Conceito que, de certo modo, reclama a herança de Espinoza. Tontos são aqueles que se limitam a dizer vulgaridades, vampirizando a obra de Vieira, por exemplo.
8. A falência da Editora Livros do Brasil está a privar-nos das obras brasileiras. Uma obra que desapareceu das livrarias portuguesas são os "Sertões" de Euclydes da Cunha. Os portugueses desconhecem o sebastianismo brasileiro, ou melhor, o tremendo impacto de António Vieira sobre o sebastianismo nordestino: o brasileiro é-nos apresentado como um "ser saudoso" (Oliveira Torres) porque descendente detrês raças tristes: o português desterrado da sua pátria, o negro banzado de África, e o índio desesperado por ter sido arrancado às selvas. Dado esta região brasileira ter sido colonizada por gente proveniente do Norte de Portugal, a saudade brasileira - que dizem ser saudade do Paraíso Perdido - é herdeira da saudade galaico-portuense ancestral. Estou cada vez mais convencido de que a Filosofia do Sebastianismo deve ser um empreendimento luso-brasileiro.
9. Abel Salazar duvidava do equilíbrio mental de António Sérgio, cuja mente destrambelhada teve repercussões nefastas sobre o pensamento português e portuense. Os maiores cérebros portugueses seus contemporâneos - Jaime Cortesão e Abel Salazar, por exemplo - não tinham boa imagem de António Sérgio e detestavam o seu "polemismo caceteiro" que mergulhou o cultura portuguesa nas trevas da merda. Convém reanalisar criticamente todas estas polémicas travadas por Sérgio contra a filosofia portuense. Os (pseudo-)intelectuais portugueses herdaram esse espírito caceteiro que se limita a demolir sem construir.
10. Quem é o Encoberto para Sampaio Bruno, o pai do chamado pensamento português, isto é, do pensamento portuense? Eis a sua resposta: «Dissipe-se a nuvem que encobre o herói. O herói não é um príncipe predestinado. Não é mesmo um povo. É o Homem». A transfiguração portuense do sebastianismo está realizada nestas palavras de Sampaio Bruno. A figura do Encoberto - isto é, do Homem Escondido - é a figura de uma antropologia filosófica portuense que ainda não foi pensada nos seus próprios termos. No entanto, o carácter universal da filosofia portuense está estabelecido.
11. Como sabem, não estou de acordo com todos os portuenses ilustres. Dalila Pereira da Costa opera uma mitologização do sebastianismo que rejeito. Porém, há elementos produtivos em "A Nau e o Graal": «Para as duas almas constituintes desta pátria, a céltica e a judaica, a história será encarnação do mito ou o mito em vias de se fazer». Aceito a primeira ideia e rejeito a segunda. Por vezes, diante de obras profundas, temos de realizar uma leitura sintomal, dando destaque aos elementos construtivos de modo a resgatar o pensamento pensado.
12. Em 1904, Sampaio Bruno publicou a sua obra "O Encoberto", cujo índice é o seguinte: I A Fé e o Império; II O Desejado; III O Encoberto; IV O Restaurado; V Mito; VI Realidade; e VII Decadência e Progresso. Reparem que pela estrutura da obra se adivinha o seu programa de desmitologição do sebastianismo. Além disso, aparecem três figuras: o Desejado, o Encoberto e o Restaurado, além da crítica subjacente à teoria da decadência de Portugal de Oliveira Martins e de Antero de Quental. O homem do Porto indicou os caminhos adequados a percorrer.
8. A falência da Editora Livros do Brasil está a privar-nos das obras brasileiras. Uma obra que desapareceu das livrarias portuguesas são os "Sertões" de Euclydes da Cunha. Os portugueses desconhecem o sebastianismo brasileiro, ou melhor, o tremendo impacto de António Vieira sobre o sebastianismo nordestino: o brasileiro é-nos apresentado como um "ser saudoso" (Oliveira Torres) porque descendente detrês raças tristes: o português desterrado da sua pátria, o negro banzado de África, e o índio desesperado por ter sido arrancado às selvas. Dado esta região brasileira ter sido colonizada por gente proveniente do Norte de Portugal, a saudade brasileira - que dizem ser saudade do Paraíso Perdido - é herdeira da saudade galaico-portuense ancestral. Estou cada vez mais convencido de que a Filosofia do Sebastianismo deve ser um empreendimento luso-brasileiro.
9. Abel Salazar duvidava do equilíbrio mental de António Sérgio, cuja mente destrambelhada teve repercussões nefastas sobre o pensamento português e portuense. Os maiores cérebros portugueses seus contemporâneos - Jaime Cortesão e Abel Salazar, por exemplo - não tinham boa imagem de António Sérgio e detestavam o seu "polemismo caceteiro" que mergulhou o cultura portuguesa nas trevas da merda. Convém reanalisar criticamente todas estas polémicas travadas por Sérgio contra a filosofia portuense. Os (pseudo-)intelectuais portugueses herdaram esse espírito caceteiro que se limita a demolir sem construir.
10. Quem é o Encoberto para Sampaio Bruno, o pai do chamado pensamento português, isto é, do pensamento portuense? Eis a sua resposta: «Dissipe-se a nuvem que encobre o herói. O herói não é um príncipe predestinado. Não é mesmo um povo. É o Homem». A transfiguração portuense do sebastianismo está realizada nestas palavras de Sampaio Bruno. A figura do Encoberto - isto é, do Homem Escondido - é a figura de uma antropologia filosófica portuense que ainda não foi pensada nos seus próprios termos. No entanto, o carácter universal da filosofia portuense está estabelecido.
11. Como sabem, não estou de acordo com todos os portuenses ilustres. Dalila Pereira da Costa opera uma mitologização do sebastianismo que rejeito. Porém, há elementos produtivos em "A Nau e o Graal": «Para as duas almas constituintes desta pátria, a céltica e a judaica, a história será encarnação do mito ou o mito em vias de se fazer». Aceito a primeira ideia e rejeito a segunda. Por vezes, diante de obras profundas, temos de realizar uma leitura sintomal, dando destaque aos elementos construtivos de modo a resgatar o pensamento pensado.
12. Em 1904, Sampaio Bruno publicou a sua obra "O Encoberto", cujo índice é o seguinte: I A Fé e o Império; II O Desejado; III O Encoberto; IV O Restaurado; V Mito; VI Realidade; e VII Decadência e Progresso. Reparem que pela estrutura da obra se adivinha o seu programa de desmitologição do sebastianismo. Além disso, aparecem três figuras: o Desejado, o Encoberto e o Restaurado, além da crítica subjacente à teoria da decadência de Portugal de Oliveira Martins e de Antero de Quental. O homem do Porto indicou os caminhos adequados a percorrer.
J Francisco Saraiva de Sousa
5 comentários:
A Teoria do Astronauta Ancestral explora as dificuldades da ciência oficial e reduz a história da humanidade a um contacto civilizacional com extraterrestres provenientes de Oríon ou de Sírio. Porém, não consegue explicar a tecnologia extraterrestre que supera a velocidade da luz - uma impossibilidade à luz da nossa física - e o tipo de agenda civilizacional trazida aos humanos pelos extraterrestres. As civilizações desaparecidas referidas pelos seus adeptos legaram-nos grandes construções, dignas de admiração, mas a sua cultura religiosa, intelectual e política não é admirável e está muito aquém da nossa própria cultura. Não podemos admirar incondicionalmente civilizações que exibiam barbárie.
O recurso a portais por parte da Teoria do Astronauta Ancestral tenta explicar um vestígio material - uma construção, por exemplo - por um enigma que, face à ciência disponível, é uma miragem. Podemos defender certas hipóteses de trabalho adiando a sua "solução", mas não devemos recorrer a uma quimera para explicar determinados acontecimentos ou construções.
A arqueologia não pode pretender ser "a" ciência do Homem: as culturas andinas pré-colombianas colocam desafios que a arqueologia não sabe resolver, deixando assim a porta aberta aos invasores da teoria do astronauta ancestral. Exemplos de culturas que superam a imaginação arqueológica: Cultura de Caral-Supe, Cultura Nazca, Cultura de Tiahuanaco e Cultura Puma Punku. Sem documentos escritos ou tradição oral disponível, a arqueologia pouco pode fazer: o enigma permanece.
O recurso aos portais por parte da Teoria do Astronauta Ancestral para explicar um vestígio material - uma construção, por exemplo - por um enigma não é uma explicação científica: a teoria pressupõe um acontecimento estranho que, face à ciência disponível, é uma miragem. Podemos defender certas hipóteses de trabalho adiando a sua "solução", mas não devemos recorrer a uma quimera para explicar determinados acontecimentos ou construções das culturas desaparecidas.
Será necessário criar uma teoria antropológica para explicar o interesse da humanidade pela existência de extraterrestres? A NASA disponibilizou uma página onde se podem ver OVNI'S a circular nas proximidades dos satélites ou de naves de estudo: as "luzes" circulam. Ainda ninguém conseguiu explicar esse fenómeno. A humanidade parece temer estar sozinha no universo: Será este medo suficiente para explicar a crença em extraterrestres que nos visitam desde o passado distante? O fenómeno da religião não pode ser reduzido a um único enunciado: os deuses adorados pelos homens são extraterrestres que visitaram no passado distante a humanidade.
Enviar um comentário