«O dia é sempre longo mas, felizmente, já vai bastante avançado. A noite não tardará a cair. A filosofia marxista vai-se erguer. /O elemento novo que o marxismo introduz na filosofia é uma nova prática da filosofia. O marxismo não é uma (nova) filosofia da praxis, mas uma prática (nova) da filosofia». (Louis Althusser) «O sistema, mesmo quando pretende ser um sistema de liberdade, é inconciliável com a liberdade, e no conceito de sistema já está dada propriamente a passagem para o totalitarismo. A necessidade de segurança que transporta em si a exigência do sistema é inimiga da filosofia. É o momento que bloqueia a liberdade da reflexão e transforma imediatamente o sistema em algo violento e opressor. O pensamento verdadeiramente livre é inconciliável com o sistema». (Theodor W. Adorno) «(O limite da dialéctica idealista) é o limite da simples contemplação, referida per se ipsum ao passado e aos seus horizontes, a uma essência já revelada nos fenómenos que têm chegado a ser. Somente numa dialéctica, que já não se desenrola na cabeça e que já não faz passar os seus movimentos puramente idealistas a algo objectivamente estático, assume o descontentamento-esperança-totalidade a função de conteúdo-meta. Somente nesta dialéctica, a do acontecer não contemplado e não fechado na história contemplada, é o próprio saber factor de mudança. O saber não está nela simplesmente referido a um passado susceptível de ser conhecido, mas a um devir efectivo em formação. S não é ainda P, o proletariado não foi ainda superado, a natureza não se converteu ainda em pátria, o verdadeiro não é ainda o predicado da realidade efectiva: esse nondum em processo, já parcialmente alcançado ou no início da sua perspectiva de constituição, faz amadurecer ao mesmo tempo a fé no sentido do verdadeiro esforço humano e do seu optimismo militante. Precisamente por isso, o agente dialéctico do não, que conduz através de todas as interrupções e de todas as "coisificações" à predicação e à manifestação do seu próprio conteúdo enigmático, do seu conteúdo-meta, mais não é do que a esperança». (Ernst Bloch) «O discurso hegeliano é dialéctico na medida em que descreve a dialéctica real da luta e do trabalho, assim como o reflexo ideal dessa dialéctica no pensamento em geral e no pensamento filosófico em particular. Mas em si mesmo o discurso hegeliano nada tem de dialéctico: não é diálogo nem discussão; é uma pura e simples descrição fenomenológica da real dialéctica do real e da discussão verbal que reflectiu essa dialéctica no decurso do tempo. Assim, Hegel não precisa demonstrar o que diz, nem refutar o que dizem os outros. A demonstração e a refutação ocorreram antes dele, no decorrer da história que o precede, e foram efectuadas não por meio de argumentos verbais, mas, em última análise, pela prova (Bewährung) da luta e do trabalho. Hegel só teve de registar o resultado final dessa prova dialéctica e descrevê-lo correctamente. E como, por definição, o conteúdo dessa descrição nunca será modificado, nem completado ou refutado, é possível afirmar que a descrição de Hegel é o enunciado da verdade absoluta, universal e eternamente (isto é, necessariamente) válida». (Alexandre Kojève) «O fatalismo que se funda em tais erros não é apenas teoricamente indefensável, mas exerce também um efeito paralisante em toda a actividade humana, especialmente sobre a que visa a transformação radical da sociedade no sentido do progresso. Ao escamotear das ciências a dialéctica do carácter absoluto e relativo do conhecimento, ao amputar o conhecimento do seu carácter de aproximação, suprime-se a "margem de liberdade" filosófica da actividade social». (Georg Lukács) «A redução da filosofia da praxis a uma sociologia representou a cristalização da tendência vulgar, já criticada por Engels, que consiste em reduzir uma concepção do mundo a um formulário mecânico, que dá a impressão de poder colocar toda a história no bolso. /A função e o significado da dialéctica só podem ser concebidos em toda a sua fundamentalidade se a filosofia da praxis é concebida como uma filosofia integral e original, que inicia uma nova fase na história e no desenvolvimento mundial do pensamento, na medida em que supera tanto o idealismo quanto o materialismo tradicional, expressões das velhas sociedades. Se a filosofia da praxis não é pensada senão como sendo subordinada a uma outra filosofia, é impossível conceber a nova dialéctica, na qual, precisamente, aquela superação se efectua e se expressa. /Destacada da teoria da história e da política, a filosofia não pode deixar de ser metafísica, ao passo que a grande conquista da história do pensamento moderno, representada pela filosofia da praxis, é precisamente a historicização concreta da filosofia e a sua identificação com a história». (António Gramsci) «A análise dialéctica de contradições históricas é o instrumento lógico descoberto pelo materialismo histórico que faz deste uma ciência humana enquanto sociologia histórico-crítica». (Galvano Della Volpe) «(O essencial da dialéctica não é) nem a ideia da acção recíproca, nem a da solidariedade dos contrários e da sua superação, nem a de um desenvolvimento que se processe por si mesmo, nem a de um transcrescimento de uma qualidade que instala numa nova ordem uma modificação até então quantitativa», mas sim a noção de história que comporta a inserção do sujeito no objecto, a resposta criadora do homem a uma situação, ela própria cristalização de obras ou de actos humanos. (Maurice Merleau-Ponty) «Para Marx, como para Hegel, a verdade está na totalidade negativa. No entanto, a totalidade na qual a teoria marxista se move é diferente da totalidade da filosofia de Hegel, e esta diferença assinala a diferença decisiva entre as dialécticas de Hegel e de Marx. Para Hegel, a totalidade era a totalidade da razão, um sistema ontológico fechado, que acabava por se identificar com o sistema racional da história. O processo dialéctico de Hegel era, pois, um processo ontológico universal no qual a história se modelava sobre o processo metafísico do ser. Marx, pelo contrário, desliga a dialéctica desta base metafísica. Na sua obra, a negatividade da realidade torna-se uma condição histórica que não pode ser hipostasiada como uma condição metafísica. Por outras palavras, a negatividade torna-se uma condição social, associada a uma forma histórica particular da sociedade. A totalidade que a dialéctica marxista atinge é a totalidade da sociedade de classes, e a negatividade que está subjacente às contradições dessa dialéctica e que dá forma ao seu conteúdo integral é a negatividade das relações de classe. A totalidade dialéctica também inclui a natureza, mas só na medida em que esta se envolve no processo histórico da reprodução social e o condiciona». (Herbert Marcuse) «Se alguma coisa como uma Razão dialéctica existe, ela revela-se - e fundamenta-se - na e pela praxis humana, a homens situados numa determinada sociedade, num determinado momento do seu desenvolvimento. A partir dessa descoberta, é necessário estabelecer os limites e a validade da evidência dialéctica: a dialéctica será eficaz como método enquanto permanecer necessária como lei da inteligibilidade e como estrutura racional do Ser. Uma dialéctica materialista só tem sentido se estabelece no interior da história humana a primazia das condições materiais tais como a praxis dos homens situados as descobre e se submete a elas. Por outras palavras, se existe algo como um materialismo dialéctico, isso deve ser um materialismo histórico, isto é, um materialismo de dentro: é uma só coisa fazê-lo e submeter-se a ele, vivê-lo e conhecê-lo. /Não existe uma dialéctica que se imponha aos factos como as categorias de Kant aos fenómenos; mas a dialéctica, se ela existe, é a aventura singular do seu objecto. /A dialéctica, se existe, só pode ser a totalização das totalizações concretas, operadas por uma multiplicidade de singularidades totalizantes. É o que chamarei de nominalismo dialéctico». (Jean-Paul Sartre) «A filosofia nova depende de um acto real e de uma exigência, não de um postulado, de uma alternativa abstracta, de um valor arbitrariamente escolhido ou de uma ficção. A sua tarefa é a de "efectuar" as ligações implícitas entre todos os elementos e aspectos do conteúdo da consciência e do ser humano. Nesta procura, o único critério possível é prático: eliminar o que detém o movimento, o que separa e dissocia, o que impede a ultrapassagem. /O homem só se pode desenvolver através de contradições; logo, o humano só pode constituir-se através do inumano, de início a ele misturado para, em seguida, se distinguir, por meio de um conflito, e dominá-lo pela resolução deste conflito. /O humano é o elemento positivo: a história é a história do homem, do seu crescimento, do seu progresso. O inumano é apenas o lado negativo: a alienação (aliás, inevitável) do humano. Eis por que o homem, por fim humano, pode e deve vencê-lo, ultrapassando a sua alienação». (Henri Lefebvre) O marxismo ocidental nasceu em 1923, com a publicação de dois livros: História e Consciência de Classe de Georg Lukács e Marxismo e Filosofia de Karl Korsch. Lukács e Korsch rejeitam duas teses nucleares do "materialismo dialéctico", tal como era interpretado pelo marxismo soviético - a dialéctica da natureza de Engels e a teoria leninista do conhecimento como reflexo, bem como a sua combinação numa ampla concepção materialista do mundo avessa à dialéctica. (:::) Na tradição do marxismo ocidental, além da dialéctica sujeito-objecto de Lukács, destacam-se as contradições teoria/prática de Gramsci, essência/existência de Marcuse e aparência/realidade de Colletti. Segundo Marcuse, a dialéctica materialista é uma teoria crítica da sociedade. Quando aborda a oposição entre essência e aparência, a dialéctica marxista dá ênfase ao motivo crítico da teoria da essência, destacando a tensão entre potencialidade e actualidade, entre o que o homem e as coisas podem ser e o que são efectivamente. A sociedade não é encarada como uma estrutura transcendental do Ser ou como uma diferença ontológica imutável, mas sim como uma relação histórica que pode ser transformada nesta vida por homens reais. A incongruência de potencialidade e actualidade incita o conhecimento a participar na prática de transformação do mundo. (:::) Além destas contradições dialécticas, existem outras visões da dialéctica inspiradas mais ou menos em Hegel. Em Walter Benjamin, a dialéctica representa a descontinuidade e o aspecto catastrófico da história. Em Ernst Bloch, a dialéctica é concebida como fantasia objectiva. Encarando a própria totalidade, bem como a essência enquanto tal, como um utopicum, E. Bloch demarca a dialéctica marxista do feitiço da anamnesis, que desde Tales de Mileto até Hegel pensa a essência como essencialidade terminada e concluída, frequentemente segundo o critério da contemplação. Tanto a Fenomenologia do Espírito e a sua galeria de figuras do espírito como a Lógica e o seu logos ante mundum, fecham as portas ao futuro: o saber absoluto, o espírito que sabe que é espírito, encerra-se na sua essencialidade concluída, condenado a rememorar a crónica do seu mundo passado, isto é, a recapitular a arqueologia da verdade. Porém, a noção hegeliana de que a substância é o sujeito revolta-se contra o próprio sistema idealista que a aprisiona no quadro do ente-existente dado como terminado e concluído, enquanto o estar-em-processo força o homem alienado a viver na esperança e sem rememoração. O ser como utopia impulsiona a história no sentido da realização da utopia concreta. Em Sartre, a dialéctica está enraizada na inteligibilidade da actividade totalizante do próprio indivíduo e, em Lefebvre, a dialéctica significa o objectivo da humanidade desalienada. (:::) A dialéctica de Della Volpe consiste essencialmente num pensamento não-rígido, não-hipostasiado e a dialéctica de Althusser representa a complexidade, pré-formação ou sobredeterminação das totalidades. As dialécticas de Della Volpe e de Althusser, bem como a de Colletti, são claramente anti-hegelianas, na medida em que procuram pensar a relação entre Hegel e Marx como uma ruptura radical. A diferença entre as dialécticas de Marx e de Hegel alimentou sempre as controvérsias científicas entre filósofos marxistas. Quando abraçou os motivos dialécticos, o marxismo ocidental foi geralmente hostil ao materialismo, como mostram os casos de Lukács, Korsch, Adorno, Benjamin, Sartre ou mesmo Gramsci: as excepções são Althusser, Della Volpe e Lucio Colletti que apregoaram um materialismo de tipo epistemológico. (:::) A dialéctica materialista de Althusser é interessante, mas tende a imobilizar a própria dialéctica. A dialéctica negativa de Adorno procura estabelecer um equilíbrio entre os dois campos, destacando a imanência de toda a crítica e o pensamento da não-identidade. A reconstrução da teoria crítica realizada por Jürgen Habermas é uma tentativa de garantir o conhecimento como emancipação através de uma ética da comunicação (Apel) ou ética do discurso (Habermas). Com a teoria do agir comunicacional de Habermas e a fundamentação pragmático-transcendental da ética da comunicação de Karl-Otto Apel, a teoria crítica sofre uma viragem linguística similar à do último Wittgenstein ou à hermenêutica de Gadamer: o paradigma da filosodia da consciência é substituído pelo paradigma do diálogo. Embora seja um crítico severo do pensamento arqui-relativista e céptico protagonizado por Foucault, Derrida e Lyotard, Habermas acaba por abandonar a temática da luta de classes, diluindo o marxismo ocidental numa espécie de neo-evolucionismo, centrado na macro-história da acção comunicativa: o deslize teórico e prático do conflito para a busca do consenso constitui um movimento absolutamente estranho ao marxismo e à própria dialéctica. Raymond Aron - um "marxista" de direita - caracterizou o pensamento dialéctico ou, para usar uma expressão feliz de Martin Jay, a imaginação dialéctica como o ópio dos intelectuais, mas nem por isso deixou de ansiar pela existência de um partido socialista forte: a dialéctica é, como disse Hegel, "a alma imanente do próprio conteúdo" e qualquer tentativa de imobilizar o processo que anima o estar-a-caminho é anti-dialéctica e reaccionária. Aron quis imobilizar a dialéctica, apelando para as supostas virtudes da democracia liberal e engordando os membros da classe operária, como se a sociedade da abundância fosse a realização plena das aspirações humanas. O capitalismo não pode resolver os problemas sociais, culturais e ecológicos que gera continuamente: a Direita não tem argumentos racionais que justifiquem a sua existência. Em duas cartas, Karl Marx prometeu escrever vinte páginas sobre a dialéctica, mas não chegou a cumprir essa promessa. O facto de não ter deixado nenhum tratado ou discurso de filosofia não significa que Marx não tenha deixado indicações importantes sobre aquilo que é racional no método que Hegel descobriu e, ao mesmo tempo, mistificou. Existe, portanto, uma dialéctica marxista, que, apesar de não ter sido produzida como filosofia, gerou, no seio do marxismo, efeitos filosóficos profundos, em especial as notáveis figuras dialécticas já referidas: as indicações deixadas por Marx mostram que é possível extrair parte da dialéctica hegeliana sem ser comprometida pelo idealismo de Hegel. No Posfácio à 2ª. edição alemã de O Capital, Marx afirma que a dialéctica é crítica e revolucionária. Marcuse interpretou esta frase como uma indicação daquilo que demarca a dialéctica marxista da dialéctica hegeliana: no sistema de Hegel todas as categorias aplicam-se à ordem existente, enquanto no sistema aberto de Marx as categorias apontam para a negação da sociedade capitalista, visando uma nova ordem da sociedade, mesmo quando descrevem a forma vigente da sociedade. Dado que as categorias marxistas visam uma verdade que está para vir através da abolição da sociedade capitalista, a teoria de Marx é uma crítica: todos os seus conceitos acusam, condenando-a, a totalidade da ordem estabelecida. A dialéctica marxista é uma dialéctica histórica que abarca a negatividade vigente e a sua negação. (:::) Na actual conjuntura histórica, dominada pela Queda do Muro de Berlim e pela falência do neoliberalismo, somos completamente livres para repensar a dialéctica. A actual crise financeira e económica confirma a actualidade da crítica marxista da sociedade capitalista. (:::) Nota: No blogue Ademonista, encontra um comentário a este post: leia aqui. Este post ainda não está concluído, mas penso retomar a dialéctica num outro post. Já agora pode consultar este livro on-line sobre o marxismo ocidental de Perry Anderson. J Francisco Saraiva de Sousa
64 comentários:
Se tivesse tempo ou paciência, escreveria um livro a denunciar os traidores da dialéctica, os intelectuais da esquerda corrompida. :)
Coisa estranha: ligaram o meu blogue a Durão Barroso e à UE e ainda não percebi essa conexão, mas desisto de pensar nela.
Não compreendo a razão que levou a blogosfera portuguesa a protestar contra o vídeo de Maitê Proença: os portugueses são efectivamente burros, mas a Maitê não é mais esperta do que os tugas invejosos e maldosos. :)
Meti-me num grande trabalho; mentalmente está concluído, mas vou tentar usar uma linguagem simples, sem entrar nas questões mais técnicas. Infelizmente, não vou poder referir os marxistas contemporâneos, talvez um ou outro, ou explicitar o marxismo analítico que faz parte do marxismo ocidental.
Ah, agora descobriu que tinha o Callinicos em galego e o Wellmer cuja dialéctica moderno-pós-moderno não deve ser esquecida. Porém, esse é um outro trabalho que tentarei levar a cabo a partir de uma coincidência: Marx e nietzsche partem de um mesmo ponto de partida, o que possibilita pensá-los como metafilósofos. Mas será que já não podemos fazer filosofia à moda clássica? Eis uma questão! Olhando para os sinais do tempo, nada mudou substancialmente, o que possibilita um diálogo produtivo. :)
Ah, o galego compreende-se melhor quando ouvido/escutado do que na escrita - lido em silêncio, mas Callinicos desenvolve um pensamento similar ao meu: não houve verdadeira transformação, donde a demolição justa de Baudrillard e da pós-modernidade.
Hmmmm... Callinicos também não quer deixar cair a luta de classes, uma grande afinidade nos une, além de uma origem próxima. O que nos diferencia é a dialéctica como peça central do marxismo: ele é ligeiramente mais adepto do marxismo clássico do que eu. Ele arrasa Foucault, Lyotard, Deleuze e outros palermas que, citando Oscar Wilde, diz serem superficiais e frustrados. Lá isso são ou foram: a geração de 68 fodeu o mundo. Mais outra afinidade - detestamos tal geração de corpos repletos de pulgas e cabeça cheia de haxixe.
Outra afinidade é o processo de acumulação de capital na sociedade actual, a que ele chama superconsumo, assente numa política que favorece economicamente a camada sub-burguesa de executivos, as minhas classes dirigentes. Ele recorre a Mark Davis; eu cheguei lá pela mão do próprio Marx e de alguns economistas marxistas já distantes. Eu vou daí até à corrupção que penso sem recorrer a Weber, pelo menos de modo directo. :)
Já acordei e já estou a trabalhar na dialéctica. Relendo Della Volpe, fiquei lixado com a crítica que faz aos meus mestres: acusa-os de serem românticos. Até pode ter alguma razão, mas não fornece alternativa viável com as suas contradições históricas que acabam por ser tão abstractas quanto as contradições hegelianas.
Off topic:
Postei recentemente acerca duma triste opinião exposta pelo reaça laranja podre Vasco Graça Moura acerca do valor da arte africana.
Se quiseres ir lá dizer de tua justiça o que achas disso, estás à vontade...
http://a-terceira-via.blogspot.com/2009/10/este-pais-e-para-velhos-do-restelo.html
Fui um pouco duro com Habermas, mas reconheço o seu mérito na luta contra a linha de pensamento que deriva de Nietzsche e de Heidegger, assumida pelo pós-estruturalismo - Foucault, Deleuze, Derrida e Lyotard.
Ontem pensei numa via de compromisso entre Hegel, Marx e Nietzsche, mas, pensando em Deleuze, vejo que o melhor é submeter Nietzsche à crítica marxista. Resistirá Nietzsche à crítica marxista dura?
Deleuze advoga um vitalismo material - uma versão da filosofia da vida, que apresenta no seu "Foucault", ou melhor, "Deleuze". Ora, desde Lukacs, nós sabemos onde conduz o vitalismo - a um regime fascista e autoritário.
Habermas disse que não podia ler todos, para justificar o facto de não ter lido Deleuze. Guattari e Deleuze parecem ser de esquerda, mas não são, porque é muito difícil ser nietzschiano e, ao mesmo tempo, de esquerda.
Bem, mas a filosofia que interessa à dialéctica está contida na obra que Deleuze dedica a "Nietzsche e a Filosofia": uma obra inteligente, inegavelmente inteligente, mas susceptível de ser criticada, porque permite dizer adeus a Nietzsche e a Deleuze - sepultando-os lá bem fundo no abismo interior da terra.
Ya, o Francisco a enterrar Nietzsche e a ressuscitar a carcaça da "luta de classes" - que belo filme de zombies, o seu. É mais: a aventura de F. e seus amigos zombies na terra da dialéctica. ;)
Deleuze capta bem que o adversário de Nietzsche é Hegel e a dialéctica, mas, quando opõe o trabalho ao prazer, revela o carácter masturbatório do seu/dele pensamento - Deleuze = Nietzsche. O pós-estruturalismo é a filosofia da masturbação: masturbação mental. O super-homem não é já homem, mas um corpo vivo que se masturba e que só sabe viver masturbando-se permanentemente.
Mulheres de todo o mundo: masturbai-vos!
por acaso, é um óptimo grito de revolução.
os homens já n se masturbam, o futuro do homem é a-tesudo.
Sim, Nietzsche e Deleuze são zombies masturbatórios.
Não concordo mesmo nada: dois filósofos que advogam a vida! reaccionário é o F., no sentido deleuziano.
Advogam a vida? Os fascistas tb dizem advogar a vida, repare-se a vida sem pensamento! São candidatos a vegetar, mortos-vivos.
A filosofia deles é um mero jogo de palavras, nada mais do que isso, e, como vazio, ajuda o sistema a perpetuar-se: a dialéctica é criativa, não é reactiva; o poder da negação cria. Eles defendem a passividade da vida vegetal e, como devir-vegetal, desistem da luta e reagem como delírios masturbatórios. Isso não é vida, é MORTE!
Repare nesta frase de Deleuze que não reproduz na integra:
"O «sim» de Nietzsche opõe-se ao «não» dialéctico... etc..."
Ora, na perspectiva da responsabilidade dialéctica, isto significa que Nietzsche diz sim à miséria presente, enquanto o filósofo dialéctico diz não, com o objectivo de a suavizar e, se possível, a eliminar. Só um pensamento masturbatório pode dizer sim, porque o sim que afirma é a afirmação da sua própria masturbação. Claro, à responsabilidade dialéctica Nietzsche opõe a bela irresponsabilidade, daí que converta a tragédia numa bela reconciliação.
Ora, se Nietzsche vai buscar os seus conceitos a Hegel - a dialéctica do senhor e do escravo, então é mesmo um burro, porque a história nunca foi a vitória do escravo sobre o senhor. Nietzsche falsifica a história que, de resto, não compreende!
E o mais estranho é que Deleuze interprete Nietzsche, igualando-o a si próprio, sem ser justo com Hegel, porque o espírito absoluto foi na sua juventude vida e o poder da negação foi poder da vida.
Uma pessoa séria diverte-se a ler a obra de Deleuze sobre Nietzsche: é uma comédia! E não é para ser levada a sério, porque a gravidade é dialéctica e não nietzschiana!
Os escravos trabalham e, se querem deixar de ser escravos, devem lutar: trabalho e luta são categorias dialécticas. E para lutar contra a escravatura é preciso dizer não e assumir um risco de morte: o escravo que diga sim ao poder vigente fica escravo para sempre. Se o pensamento de Nietzsche teve algum efeito para além da interioridade masturbatória, esse efeito é necessariamente ideológico: a apologia do metabolismo e do devir-vegetal. Mas a crise económica acordou-nos desse pesadelo metabólico: há vida livre para além do metabolismo. Este é o grito dialéctico!
Vejo que a Else anda a escutar a Manuela Ferreira Leite e já acredita que as empresas criam riqueza. Mas isso é uma mentira: o que cria riqueza é o trabalho dos homens. Sem esse trabalho, uma empresa não é nada. Nietzsche pensa como um parasita - viver à custa do trabalho dos outros, dizendo que diz sim à vida, isto é, à vida que parasita alegremente outras vidas. Eis a mentira milenar!
A dialéctica da dor e do prazer ou mesmo da alegria não se resolve afirmando um dos elementos: o corpo nietzschiano está absolutamente anestesiado, tal como o seu pensamento. Ora, um corpo anestesiado, privado de dor e de prazer, não poder ser alegre!
Francisco,
Não ando a escutar a Manuela Ferreira Leite, e fiquei contente, se quer saber, que o seu Sócrates tivesse ganho, mesmo n podendo votar. Apenas considero errada a sua fórmula simplista e já batida, de associar Nietzsche ao fascismo, porque se vamos por aí, o seu Marx é tb muito rebatível, e assim o pensamento n floresce. Não acredito em algumas premissas do pensamento de Marx, e por isso n me posso considerar marxista, e uma delas é a suposta "naturalidade" do trabalho, isso é um mito. E a tecnologia e o autómato, é precisamente a prova de que o ideal do humano n é o trabalho.
No entanto, no que diz respeito ao aspecto do homem "adormecido" e indolente do pós-modernismo, nisso estamos de acordo, vivemos numa época que até os revivalismos do fascismo já se fazem sentir... aqui onde estou alguns jovens sei que idolatram Mussolini e se falarmos com eles, dizem que ele era socialista, que era amigo de Lenine, bla bla, enfim.
Else
Então, estamos de acordo: os jovens não sabem valorizar a vida, porque não sabem o que é o esforço e o sofrimento ou mesmo o trabalho e a responsabilidade. Se não tivessem sido mimados, usavam mais a cabeça e não seriam atraídos pelo fascismo.
Só duas notas:
1. Marx não estabelece o trabalho como ideal do homem, até porque lutou pela redução do horário de trabalho e contra a desumanização do trabalho. A naturalidade do trabalho resulta da nossa própria condição humana. Para viver, o homem precisa de transformar a natureza e é aqui que entra o trabalho.
2. Uma sociedade que dispense o trabalho será uma sociedade do desemprego, a menos que se reduza a população. Este assunto é muito complexo: o mundo é muito, muito finito e escasso.
3. Considero que o trabalho faz bem à saúde: o estar desocupado fomenta os vícios e, se o desocupado for desemprego, é o atentado contra a dignidade e a independência.
Ah, a ligação de Nietzsche com o fascismo - mais precisamente com o nazismo - não é acidental: o nazismo recorreu a Nietzsche para legitimar a sua ideologia, até mesmo na questão racial. Os intelectuais do regime nazi escreveram obras, nas quais estabelecem essa ligação.
Ora, a esquerda foi surpreendida pela conquista democrática do poder por parte de Hitler, talvez por se ter desviado da dialéctica a favor do evolucionismo e do economicismo. E, com o exemplo dos jovens fascistas, confirma esta fragilidade da esquerda... O mundo tal como o conhecemos não está garantido: a luta é a luta pela justiça e pela liberdade. Luta de classes não é andar à pancada... :)
Exactamente, mas Nietzsche nesse aspecto não dizia que a vida era prazer, ele sublinhou o aspecto dolente e trágico da vida. N pode ser injusto com Nietzsche, ele foi um grande filósofo, se n gosta das digressões recambulescas da recepção francesa de Nietzsche, é outra coisa. Mas, diga-me, vivemos um tempo muito insonso não só em termos de filosofia, como de arte. Só a ciência e a tecnologia parecem seguir em frente, em recta veloz. As instituições ocidentais enfraquecidas. Tudo parece ruir. Como as ruínas que vejo todos os dias. Impérios desfeitos, talvez o nosso rua por fim. Que há a fazer? Assistamos à implosão. Baudrillard nesse sentido agrada-me, porque não é condescendente.
«a ligação de Nietzsche com o fascismo - mais precisamente com o nazismo - não é acidental»
Sim, isto é um lugar-comum. Foi mal interpretado. Quem compilou a sua obra e a "vendeu" foi a sua irmã, mulher de um famoso anti-semita.
*insosso
O mundo só vai ruir se ficarmos parados. Isso não é uma fatalidade: precisamos ter coragem e lutar. E, nesse aspecto, vejo a dialéctica com o impulso orientador dessa luta - mas uma dialéctica que desiste de pensar um estado final de reconciliação plena. A vida conquista-se minuto a minuto - nada está garantido.
Eu não disse que Nietzsche era mau filósofo; apenas aviso sobre os sinais menos positivos que habitam nas suas obras. Leitura crítica - aliás essa deve ser a nossa missão. Também não concordo com o tudo o que Marx diz - leitura crítica.
Estive a perder tempo ao dar alguma atenção a Deleuze. Confirma-se o meu tédio depois da leitura de Anti-Édipo. Algumas notas:
1. Deleuze fez filosofia? O que ele fez foi jogos de linguagem metafórica infantis!
2. A metáfora do rizoma corresponde a quê? A nada, porque Deleuze é esquizofrénico, tal como a esquizo-análise - experimenta infinitamente as máquinas desejantes no corpo sem órgãos. Desedipiza o inconsciente de modo a fazer a experiência da matriz energética amorfa de todas as organizações e de todos os processos possíveis e impossíveis.
3. Deleuze faz uma apologia do capitalismo: o capital é o corpo sem órgãos, depois de ter desfeito o self.
4. A esquizo-análise afecta apenas o indivíduo que viva numa determinada sociedade que o tolere. Recusa a interiorização da sociedade - descodifica, e desterritorializa - é pensamento nómada. O esquizofrénico não é senhor da criação, mas sim senhor dos nomes da criação. Um domínio simbólico, na verdade prisioneiro da sua finitude. Ora, não há sociedades sem códigos, embora possa haver sociedades desterritorializadas. A esquizo-análise não tem alcance político e muito menos revolucionário, porque legitima tudo, incluindo a deslocalização das empresas e o fluxo corrupto dos capitais. Além disso, a multiplicidade caótica de desejos inviabiliza a ética: o esquizofrénico não é revolucionário, é um grande filho da puta!
Deleuze é tudo - é homem, é mulher, é marido, é esposa, é gay, é transsexual, é traveca, é cão, é boi, é merda, é porco, enfim não é nada.
Convém traçar uma distinção no pensamento pós-moderno: o textualismo de Derrida e o poder-saber de Foucault. Deleuze realiza um estudo interessante sobre "Foucault", mas será que este se reconheceria nesse estudo? Sinceramente, não vejo como estas filosofias possam ser revolucionárias e é pela via dos seus efeitos políticos que devem ser avaliadas.
O mais engraçado é que lendo a revolução molecular de Guattari detectamos diferenças em relação a Deleuze e, no entanto, eles misturaram os seus fluídos em diversas obras-rizoma. A edipização do inconsciente é repressiva e impõe ordem. quem aceita o ordem é normal e moral; quem não a aceita é doente. A edipização castra o desejo. Somos todos máquinas castradas. A política do desejo deve libertá-lo da tirania da lei interiorizada. A esquizo-análise convida a encontrar o corpo pleno sem órgãos e a desfazer-se do eu. O que se submete à ordem é neurótico; o esquizofrénico é aquele que resiste à edipização. Ele é um nómada: escapa à psicanálise e à sociedade.
Ora, como é que estas teses - de resto, não originais de todo, porque Marcuse e Lyotard já tinham tratado desses assuntos - podem fornecer uma política se elas inviabilizam a vida social e a ética? E o que é que isto tem a ver com Nietzsche? Cada livro de Deleuze usa novas metáforas, mas dificilmente encontramos um fio condutor: a noção de máquina desejante não casa com a noção de dispositivo de Foucault. O corpo sem órgãos é o corpo liberto dos efeitos castradores da edipização, logo é um corpo animalizado. E a dobra resolve o problema das relações entre o interior = de-dentro e o exterior = de-fora? A dualidade é vista em termos de dobra. Apesar do leque enorme de metáforas usadas, Deleuze nada diz sobre as neurociências: os efeitos metafóricos que produz são interiores aos seus jogos de linguagem. É isso o homem como obra de arte? Arquivo, diagrama... e tantas outras noções! Afirmação da multiplicidade! O leão come a gazela e afirma-se e a gazela comida tb se afirma? Ah, tantas tontices deleuzianas!
Ah, Deleuze pode ser desmontado por partes: analisar o fascismo, levando em conta os seus aspectos molar e molecular, o Estado e os micro-poderes, o macro-fascismo e os micro-fascismos. O que se detecta? A tradução de noções comuns na linguagem do seu jogo de linguagem. O marxismo nunca minimizou o papel fundamental dos micro-fascismos: a pesquisa da Escola de Frankfurt sobre família e autoridade e a personalidade autoritária mostram a acção desses micro-fascismos. Maio de 68 foi um fenómeno molecular e quais foram os seus efeitos macro-políticos? Eis a questão! Os poderes disciplinares ou micro-poderes estão presentes em Gramsci.
No fundo, Deleuze herda a questão básica do estruturalismo que o conduz aos agenciamentos... Mas a avaliação do seu rizoma deve ser feita caso a caso...
Há um aspecto que não foi analisado: o impacto de Althusser sobre Foucault e Deleuze! A teoria althusseriana da ideologia traz a marca de Gramsci: a pluralidade das práticas e dos aparelhos de Estado são unificadas pela ideologia dominante. Foucault e Deleuze retomam o pluralismo mas rejeitam a unidade que Althusser recusa ao sujeito. Todas estas noções devem ser compreendidas.
Deleuze recorre à mitologia indo-europeia para expôr a sua teoria do Estado e explicitar a noção de máquina de guerra. Ele "identifica" o Estado e o Sujeito. Ora, este é o planalto indicado para o confronto dialéctico com Deleuze, porque está em questão a nomadologia.
Em suma, para explicitar a sua visão do Estado, Deleuze recorre a Marx e ao modo de produção asiático! A máquina de guerra é exterior ao Estado, que se apodera dela para a converter em instituição militar. A máquina de guerra é um invenção dos nómada, contra o aparelho de Estado. A história não compreende o nomadismo. A nomadologia é o contrário da história - pensamento estatal. O livro não compreende o fora. Com o fascismo, a máquina de guerra instala-se em cada buraco negro, em cada nicho: o fascismo vem de fora, é nómada! A sexualidade é uma máquina de guerra por onde passa o amor. A teoria dos devires de Deleuze é deveras tonta: o nómada só pode existir no seio de uma sociedade que o tolere a si e à sua emancipação simbólica. Fora dessa sociedade, o nómada morre...
Curiosamente, Mil Planaltos quase não refere Nietzsche, e, quando o refere, é um Nietzsche emprestado ou inventado. :)
Hallo!
Francisco, hj n tenho tempo, mas, lembrei-me de subir aqui um doc sobre baudrillard q eu considero bastante util pra se entender bem não so o pensamento deste, como tb para esclarecer a sua filiação(nietzsche, bataille, artaud, mauss..):
http://www.zshare.net/download/6718987086473748/
Ah! sobre a dialectica e a caducidade do marxismo tb.. :)
Boa leitura... a todos \0/
Olá Sr
Caducidade do marxismo?! Ah, como disse um filósofo: Baudrillard é pseudo-filosofia com pretensão literária e pseudo-literatura com pretensão filosófica! Baudrillard não tem pensamento e é por isso que atraí todos os que não querem pensar e mudar as coisas!
Faça este exercício: Leia um parágrafo de Baudrillard e tente resumi-lo. Consegue? Depois passe ao parágrafo seguinte e faça a mesma operação e assim sucessivamente. Veja o resultado final: terá um pensamento com princípio, meio e fim? Até pode abolir o princípio e o fim, mas terá meio? Baudrillard é masturbação compulsiva que se dispersa no nada de pensamento.
leia, leiaaaaaaaaaaaa :))
Mas, tb dd já lhe digo, entender e aceitar como válido o pensamento de nietzsche é fundamental para entender autores pos-modernos como baudrillard(embora ele rejeitasse o epiteto)
Leia. Mais pra frt do txt tem as respostas necessarias a tdas essas objecçoes q coloca ;)
C ya later
A única tese empírica de Baudrillard - segundo a qual é na esfera dos simulacros e dos códigos onde o processo global do capital se baseia - é refutada empiricamente, até porque todos sabemos por experiência que a organização e o controle da produção é fundamental: as nossas necessidades básicas precisam ser satisfeitas. O esteticismo de Baudrillard é uma tentativa fracassada de iludir as aporias da razão nietzschiana. Ao rejeitar qualquer modelo de profundidade, Baudrillard impossibilita a crítica: a sua ausência de argumentação (Bouveresse) é apologia, isto é, capitulação perante a realidade estabelecida.
Bem, faz editei 2 ou 3 posts sobre Michel Foucault e, como se sabe, nos últimos 2 volumes da história da sexualidade, Foucault muda de rumo, introduzindo a noção de sujeitos livres sobre os quais actua o poder. É certo que há a estética de si, mas ela é acompanhada pelo retorno do sujeito autónomo e da historicidade. Como morreu, não saberemos como Foucault iria tratar esta mudança de orientação que o distancia de nietzsche. Concedo a foucault um lugar importante na filosofia, embora seja crítico de algumas das suas ideias.
O que me choca na pós-modernidade francesa? A limitação da luta contra o sistema à "activação das diferenças", para usar a expressão de Lyotard. A resistência que o pós-estruturalismo defende é mais estética ou moral do que política. Derrida ficou no final preocupado com o enquadramento político da desconstrução, voltando aos espectros de Marx - o espírito crítico do marxismo.
Sim, Sr, uma da fontes da pós-modernidade é Nietzsche, mas esse facto não faz dele um herói; pelo contrário, revela o comodismo dos intelectuais de esquerda, contra o qual reagiram Habermas, Wellmer, Jameson e Callinicos, entre outros.
Já agora - Sr - leia "O Marx de Baudrillard" de Arthur Kroker, onde se trata da relação Marx/Nietzsche. :)
Sr
Já que não acredita na autoridade de Lukács quando chamou a atenção para o nazismo subjacente ao pensamento de nietzsche, aconselho outros autores, tais como
Zeljko Loparic, Victor Farías, Leszek Kolakowski, Luc Ferry e Alain Renaut, e Pierre Bourdieu, que analisaram a atitude de Heidegger perante o nazismo. E recordo que a crítica aristocrática da cultura de massas bebe em Nietzsche.
Com isto não quero dizer que não frequento esses autores, até porque tenho postado sobre eles, sem me preocupar com esse fundo político desagradável. :)
Ah, o autor de O Fascismo na sua Época - Ernst Nolte, dedica um livro a Heidegger. Ora, Nolte é um historiador muito próximo do fascismo, dado ter tentado branqueá-lo, mas não é burro. Dessa obra resultou uma polémica entre historiadores que levou Habermas a defender a modernidade como emancipação - a ideia marxista abandonada pelos pós-estruturalistas parisienses. :)
A crítica aristocrática da cultura de massas bebe de Nietzsche??? bebe de todos os pensadores e intelectuais do século XIX e ainda no século XX com o seu mais-que-tudo Adorno!!
Como é que um "marxista" pode ficar tão indignado se defendem que a elite iluminada deve libertar o povo da cegueira e do conformismo? A dialéctica da libertação é um ciclo vicisoso e nesse sentido os fracos pós-modernistas têm razão.
Sr.,
Se se interessa por Baudrillard aconselho-lhe "baudrillard and the media"~de william merrin, o livro que eu li dele mais claro e rigoroso.
Sim, e onde Adorno bebeu essa ideia? Da filosofia da vida e do romantismo, claro! Mas essa raíz marca o marxismo ocidental: Lukács é a prova disso!
Mas o marxismo não tem sido bem interpretado: a dialéctica que me interessa está a ser elaborada.
Algumas notas:
1. Hegel aplaudiu a revolução francesa: foi revolucionário.
2. Marx defendeu que as conquistas dessa revolução deviam ser alargadas à classe operária: duas revoluções.
3. Lénine fez essa revolução proletária num país não-industrializado: boa estratégia que abona a favor da organização e da liberdade.
Ora, o modo de produção capitalista não podia ser substituído de um dia para outro por outro modo de produção. Daí que o marxismo tenha seguido duas vias - revolucionária que era precoce e no país menos indicado - e reformista. É a segunda que hoje domina, embora de modo degenerado.
Não vejo nenhum fracasso do marxismo, até porque a análise económica de Marx é aquela que revela a essência da modernidade = capitalismo. A lógica económica domina os nossos destinos - não são as esferas dos valores ou da cultura que dominam, aliás estas esferas estão a ser territorializadas pela economia de mercado. O niilismo de Nietzsche é um artifício serôdio: o capitalismo caga-se para os valores e a cultura, porque os seus valores são económicos. Nietzsche não captou o espírito dos tempos: a luta contra a teologia já era assunto do passado e foi travada pela ideologia revolucionária da burguesia ascendente.
Caro,
a via reformista é a mesma do liberalismo, portanto resta-nos a via revolucionária? É esta precisamente que baudrillard critica.
E foi por essa via que se realizaram muitas mudanças: o capitalismo possibilitou desde o início essa abertura que levou Hegel a considerar a história concluída. A partir do momento em que se conquista a liberdade, cabe aos homens garanti-la e avaliar o devir em função dela. Esta é a ideia mais fascinante que floresceu no Ocidente; por isso, qualquer tentativa regressiva é reaccionária. Quanto ao liberalismo - não no sentido económico, o marxismo não é geneticamente anti-liberal; pelo contrário, Marx foi um liberal e um democrata: esta é a matriz que vem de Kant e de Hegel.
Baudrillard não merece atenção, porque não tem pensamento. :(
Ah, como diz Merleau-Ponty, a revolução é tudo; o pior pode vir a seguir. Mas essa avaliação depende do carácter social da revolução e da sua pertinência objectiva e subjectiva. (Baudrillard é um frustrado de Maio de 68, tal como os outros pós-estruturalista.) :)
Pode ser um frustrado do Maio de 68 sim, mas n considero que o seu pensamento seja tão desprezível assim. Acho q é muito lúcido. É fácil criticar quando n se conhece. ;)
Sim, é por conhecer Baudrillard que digo que o pensamento dele é um exílio: as suas quatro negações não fornecem instrumentos para fazer face à actual crise económica, para melhorar a cidadania, para criticas os media, para fazer frente às alterações climáticas, para combater o desemprego, enfim para descobrir um outro futuro. ;)
fazer filosofia n é arranjar solução para a crise económica ou para as alterações climáticas, não se está a ser cínico ou apenas intelectualmente desonesto, dado que sabe perfeitamente o que se trata o exercício da filosofia. afinal, baudrillard fá-lo muito bem, pois propõe hipóteses radicais, reduções ao absurdo, das quais se podem extrair algumas conclusões. Se ele n lhe serve para o a sua "linha de pensamento", tudo bem, mas argumentar que o pensamento de baudrillard n serve para melhorar a cidadania é absolutamente risível e bastante suspeito para quem se auto-nomina filósofo ou aspirante a...
afinal o que os herdeiros da dialéctica fazem é repetir as mesmas noções e conceitos que já se viram que foram infrutíferos em prática, ou então sao adiados indefinidamente pelas "reformas". a mudança é nula.
é por isso que baudrillard é frustrado de '68 e somos todos filhos desse desaire, mas ao menos ele teve consciencia disso e expo-lo na sua produção literário-filosófico como lhe queira chamar.
Também Platão e Nietzsche são poetas-filófosos, portanto essa pseudo-literatura, como lhe chamam, nem é propriamente novidade.
Está a cometer um grande erro: a noção de que a filosofia é um género literário deriva do textualismo - uma das versões da pós-modernidade. Fazer de Platão um textualista é ridículo.
Eu usei argumentos e esperava que tentassem refutar esses argumentos. Aguardo pela explicitação da agenda política de Baudrillard: a sedução? a moda? ;)
Sim, a filosofia tem um papel a desempenhar na orientação da sociedade: sempre assumiu essa tarefa como sabe.
A dialéctica triunfou, no sentido de ter ajudado a construir um mundo mais livre e mais justo: o bem-estar social que foi conquistado pelas sociedades ocidentais é uma das vitórias da dialéctica que disse não à exploração e à desumanização.
Bem, e Nietzsche como poeta é um fracasso total, como sabe... ;)
Quando as pessoas protestam na rua, agem como sujeitos históricos, desmentindo uma das negações de Baudrillard.
Quando as pessoas se reunem para tomar posição sobre os rumos a imprimir ao mundo, agem de modo social, refutando outra das negações de Baudrillard.
Quando um canal de televisão mostra imagens terríveis da guerra do Iraque, refuta outra negação de Baudrillard.
Quando as pessoas ficam desempregadas e são ajudadas pelo Estado ou por uma associação da sociedade civil, essa colaboração solidária desmente outra negação de Baudrillard.
Etc... Eu não vivo num mundo virtual, mas no mundo real: a minha luta pela emancipação é social e não meramente simbólica.
A filosofia não é masturbação privada, mas sim masturbação social - desde o divino Platão: eis a resposta humorística que dou a Rorty! :)
Rorty? parece q sempre foi ler a tese mestrado q deixei..
N sei é se n terá lido na diagonal, como eu agora fiz com os comentarios q foi deixando pra trás, ja q o rorty é la citado positivamente mas tb arrumado na prateleira da ilustração :)
Mas é um pouco como a else insinua, axo q tá com dificuldade em sair do ambito da reflexão academicista, e então não admira q tenha dificuldades em captar o registo irónico como processo verdadeiramente criativo e iluminador desses pensadores, n vendo nisso mais q retorica e esterilidade.
Tou com sono e cansado, pelo q ja n volto cá, mas volto a deixar mais uns docitos :) Desta vez, para apontar sobre como a verdadeira vanguarda dos estudos marxistas foi ao encontro de mtas intuiçoes e reflexoes do baudrillard
http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/krisis/jappe/tx_jappe_011.htm
Nesse site tem outros txts, como kurtz, benjamin etc, mas todos tem em comum, se quiser confirmar, o seguirem a tal estrutura de continuidade q apontei no tal doc de mestrado q postei anteriormente.
Outra coisa interessante:
relativamente à propalada questão da esterilidade prática e social q tds estes pensadores mais heteroclitos lhe suscitam, sabe onde tenho vindo a descobrir as reflexões e prática mais moderna e auto-consciente?? Nas teóricas e activistas - sim, maioria sao mesmo mulheres, lol - posfeministas e/ou poscoloniais.
LOL, verdade! São das poucas q eu tenho visto a delinear estrategias e acção politica directa com base em produção teorica super-actual dos pensadores(homens, lol) mais vanguardistas(derrida, deleuze, foucault etc) do social.
J.Butler, B.Preciado, Eve Sedgwick, Donna Haradawy, De Lauretis etc
I must say im amazed :O
http://www.youtube.com/watch?v=aWdr-ohVmOc
Asta \0\
Ya, eu gosto muito de Judith Butler. :)
Sr
Deixei-lhe resposta no post seguinte. :)
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