terça-feira, 2 de março de 2010

Prós e Contras: Desemprego - Ultrapassar a Crise

É muito difícil pensar Portugal e a sua crise estrutural, porque os portugueses são, por natureza, animais avessos ao pensamento. Não pretendia comentar o debate Prós e Contras (RTP1) de ontem (1 de Março), mas, depois de ter visto casualmente esta imagem, resolvi não quebrar a tradição: o desemprego revela o fracasso total da geração grisalha na condução do destino nacional. Fátima Campos Ferreira colocou o dedo na ferida: a geração grisalha foi de tal modo egoísta e incompetente que hipotecou o futuro de todas as outras gerações, negando-lhes desde logo uma educação verdadeira. Portugal está cada vez mais pobre e a geração grisalha que se instalou no poder depois do 25 de Abril contribuiu activamente para o empobrecimento nacional em todas as frentes institucionais: as gerações mais novas perderam o emprego e não estão preparadas - psicológica e cognitivamente - para imaginar um novo futuro para Portugal.
Os convidados - empresários (António Saraiva, Armindo Monteiro e José Manuel Fernandes) e sindicalistas (Raymond Torres, Carvalho da Silva e João Proença) - são figuras do sistema que urge derrubar através da acção revolucionária. Os empresários portugueses desconhecem o significado da livre iniciativa, carecem de formação, exploram descaradamente a mão-de-obra e, no fundo, parasitam o Estado. E os sindicalistas perderam o contacto com a luta política: a sua única missão é garantir e reforçar tanto quanto possível as regalias já conquistadas dos trabalhadores do Estado, isto é, dos funcionários públicos. Com a ajuda preciosa de políticos medíocres e amigos da corrupção e do sistema financeiro, os empresários e os sindicalistas criaram este monstro que nega o futuro às novas gerações: o capitalismo sem riscos. Em Portugal, este tipo de capitalismo de Estado, que gera continuamente corrupção, mediocridade e regressão, é absolutamente refractário à renovação das elites: ele foi inventado e fabricado para garantir o enriquecimento fácil das mesmas figuras - os mesmos sindicalistas, os mesmos empresários, os mesmos políticos, os mesmos magistrados, os mesmos banqueiros, sempre os mesmos - que formam as pseudo-elites nacionais, bem como dos membros das suas famílias e das suas redes. Ora, nesta hora de crise, tornou-se demasiado evidente que as mesmas figuras nacionais que bloquearam o futuro aos portugueses não podem protagonizar a mudança social qualitativa. Os desempregados e os esquecidos, que não são sindicalizados e que não encontram emprego nas empresas privadas e públicas, devem revoltar-se violentamente contra o sistema estabelecido e derrubá-lo. Libertar o futuro de Portugal é tarefa de uma revolução social: não há outra alternativa, como demonstrou este debate. Aqueles que devem ir lavar os pratos não são os licenciados, mas as pseudo-elites que traçaram como destino das licenciaturas lavar pratos ou conduzir taxis. É preciso não ter vergonha na cara para fazer tais afirmações ou defender a evolução darwinista (Jack Soifer): a própria falsidade do sistema instituído exige o seu derrubamento revolucionário.
Os tempos que vivemos são muito indigentes e, apesar de desejar uma filosofia mais "positiva", não a posso formular, porque as catástrofes naturais e sociais que se abatem sobre diversos países do mundo trazem à consciência a condição mortal do homem. Doravante, a filosofia precisa ter em conta a condição essencial de sem-abrigo do homem. Diante da revolta da natureza, nada está protegido. Porém, esta condição de ser sem-abrigo do homem pode funcionar para lhe lembrar que existe vida - e vida mais digna - para além do consumo. O homem precisa aprender a libertar-se, objectiva e subjectivamente, da objectividade capitalista e das suas ilusões. A dúvida moderna e a desconfiança que a acompanha podem materializar-se através destas catástrofes naturais, e, quando já nada faz sentido, resta-nos o suicídio ou o pensamento da morte. O mundo comum colapsa e mergulha nas trevas do eterno esquecimento, devorando a luz e a dignidade da vida humana, e a vaidade revela a sua estupidez. A ganância pela imortalidade demonstrada por esta geração grisalha condenou Portugal à morte, em nome da qual os portugueses esquecidos e injustiçados podem livrar-se dos velhos incompetentes que enriqueceram à custa do empobrecimento geral: a sua morte gera novas oportunidades para a vida. Os velhos - sempre os mesmos velhos das mesmas velhas pseudo-elites - precisam morrer para que haja espaço para a vida. Os portugueses devem permanecer em Portugal e recusar ser exilados no seu próprio país: abandoná-lo, emigrando, é deixar os velhos egoístas usufruir de reformas chorudas auto-estipuladas, ter uma vida longa e uma morte pacífica. Superar a geriatria instalada no poder é dar início à acção que visa ultrapassar a crise e libertar o futuro.
J Francisco Saraiva de Sousa

13 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os tempos que vivemos são muito indigentes e, apesar de desejar uma filosofia mais "positiva", não a posso formular, até porque as catástrofes naturais e sociais que se abatem sobre diversos paises do mundo trazem à consciência a condição mortal do homem. Doravante, a filosofia precisa ter em conta a condição de sem-abrigo do homem. Diante da revolta da natureza, nada está protegido.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Porém, esta condição de ser sem-abrigo pode ser usada para lembrar ao homem que existe vida - e vida mais digna - para além do consumo. O homem precisa libertar-se objectiva e subjectivamente da objectividade capitalista.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A dúvida moderna e a desconfiança que a acompanha podem materializar-se através destas catástrofes naturais, e, quando já nada faz sentido, resta-nos o suicídio ou o pensamento da morte. Tudo mergulha nas trevas, incluindo a luz. Tudo é esquecimento. E a vaidade é uma estupidez.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A ganância pela imortalidade demonstrada por esta luso-geração de velhos grisalhos e incompetentes condenou Portugal à morte. E só em nome da morte podemos libertar-nos destes velhos burrecos: a sua morte liberta novas oportunidades para a vida. Os velhos precisam morrer para que haja espaço para a vida!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E quando falo dos velhos refiro-me unicamente à velhice das pseudo-elites nacionais: os velhos que empobreceram Portugal.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os portugueses devem permanecer em Portugal: abandoná-lo é deixar os velhos ter uma morte pacífica e feliz. Eles é que devem deixar Portugal e ir trabalhar duro nos confins da Europa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Apetece-me brincar com o post sobre a família do homófobo que não se apercebe da relatividade do conceito de família que deu: anseia pelo regresso de um sistema matrilinear! Percebe-se a razão de ser de tal anseio-desejo!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Diz ele que a família nuclear é constituída pelo irmão da mulher, os filhos da mulher e o marido da mulher. Que ridículo! Além disso, deixa por esclarecer se os filhos da mulher são também filhos do marido da mulher!

Unknown disse...

LOL, isto tá hardcore ahah

Bueno, tava ag a ler isto


“Estamos vendiendo allá a la mitad de precio, comparado con lo que venden los capitalistas venezolanos”
http://www.presidencia.gob.ve/action/noticia/view_ver_mas?id_noticia_web=4179


e de tarde encontrei estes peq docs

POUM
http://www.youtube.com/watch?v=RzUlT2yOXmg


e este sobre a Durruti vou ver logo :)
http://www.youtube.com/watch?v=BGJnN1QojyI


asta \0/

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

No debate da Sic, Passos Coelho colou Rangel à Manuela Ferreira Leite e assim comeu-o.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O certo, o verdadeiramente certo, é que os políticos lusos desejam poder pessoal e status, mas não têm solução para a crise que ajudaram a criar. A política das medidas e dos papéis nunca funcionou; pelo contrário, bloqueia a mudança qualitativa.

O homem certo ainda não chegou!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Afirmar que o PSD - ou mesmo o PS - foi a locomotiva da ruptura não é verdade, porque nunca houve uma ruptura qualitativa em Portugal. Se estes partidos tivessem governado bem, não estaríamos na crise em que estamos: teríamos mais confiança no futuro e nós não a temos, porque o país está cada vez mais pobre e doido. É preciso dizer a verdade: ninguém com bom-senso é feliz neste país invejoso e maldoso.

Inês disse...

Qualquer semelhança com o Brasil, não será mera coincidência...
Gostei do seu blog! Muito esclarecedor e reflexivo. Parabéns!