Prós e Contras (16 de Março de 2009) não foi um debate de ideias, mas um silêncio em torno do discurso inteligente, firme e autoritário de Aguinaldo Jaime (angolano), reforçado oportunisticamente por outros angolanos e pelos empresários "portugueses em Portugal e angolanos em Angola" (António Mota). O debate resulta da visita recente realizada por José Eduardo dos Santos (Presidente de Angola) a Portugal, mas esta visita é "suspeita": a ideia de cooperação bilateral defendida pelos dois presidentes não resiste à análise crítica. O discurso desenvolvido por Aguinaldo Jaime revela o interesse de Angola, um interesse estratégico "planeado antes da crise financeira". Uma frase ajuda a compreender o carácter desse interesse estratégico angolano que seduziu a gula dos políticos e empresários portugueses: Aguinaldo Jaime mostrou-se satisfeito por participar no programa português que, graças às novas tecnologias da comunicação, é visto em Angola. Os governantes e as elites angolanos estão bem informados sobre a situação portuguesa e, por isso, sabem como lidar com os portugueses, de modo a implementar a sua estratégia. O que é que Angola tem? Angola tem petróleo e é este mesmo petróleo que lhe dá algum poder de negociação e lhe possibilita um forte crescimento económico. Movidos pela gula e pelo facilitismo de momento, os portugueses mostraram a sua incapacidade para defender o interesse nacional e elaborar uma estratégia de futuro: eles vêem em Angola uma saída para os portugueses desempregados e para o enriquecimento fácil. A mente tuga fecha as suas janelas e delira com sonhos vãos destruídos pelo discurso angolano. A estratégia do governo angolano é obscuramente dupla: o lado visível da estratégia foi revelado pelas palavras pronunciadas por Aguinaldo Jaime, mas o seu lado invisível manifesta-se no chamado "temor da recolonização". A miséria angolana foi atribuída à guerra civil: uma forma elegante de justificar o facto histórico dos africanos não terem descoberto a escrita, dando assim um contributo original para a civilização humana. A reconstrução de Angola requer o "papel activo do Estado" e o estabelecimento de diversos tipos de parcerias controladas pelas elites estatais. "O Estado sozinho não pode fazer tudo": a construção de uma sociedade justa e próspera, isto é, de uma sociedade moderna, depende dos investimentos estrangeiros realizados em parcerias com empresários angolanos, mediante as quais o governo angolano pretende "atacar outros mercados" (uma imagem belicista!), nomeadamente o mercado português. Aguinaldo Jaime manifestou claramente o interesse do governo angolano em investir as suas mais-valias derivadas do sector mineral na banca e no sector financeiro, mais precisamente aprofundar os investimentos angolanos no sector financeiro e no mercado portugueses. Com a morte horrenda e bárbara do líder da UNITA, o governo angolano conseguiu criar "estabilidade política" (eliminação física dos adversários políticos?), de resto necessária à estabilização da economia encarada como propriedade privada da família imperial e seus vassalos à imagem do trono de Nzinga (Roy Glasgow). Apesar de reconhecer o decréscimo das receitas fiscais (quais?), a queda do preço do petróleo ou mesmo dos diamantes e a descida do PIB, movimentos provocados pela crise mundial, Aguinaldo Jaime acredita na estabilidade da economia angolana, uma confiança reforçada pela economista angolana residente em Portugal, Fátima Roque (angolana clara), para a qual os indicadores macro-económicos são sólidos, mesmo na situação do crescimento económico baixar de 5.9 para 3%. A única lição derivada da crise financeira e económica mundial é a de que é necessário "diversificar a economia", mundializando-a, de modo a evitar a "asfixia dos sectores não-minerais". Os angolanos querem promover uma "economia não-mineral". António Costa e Silva (angolano claro) acentuou a necessidade de diversificar a economia, tornando-a menos "dependente do petróleo": a diversificação económica é o único modo de evitar a "doença holandesa". Este rótulo foi desmentido por Aguinaldo Jaime, com a alegação da estratégia angolana ter sido preparada "antes da crise financeira", a qual foi aprovada por Luís Mira Amaral (português?): a noção de doença holandesa só se aplica aos países industrializados e não a Angola que, aquando da Independência, se apropriou violentamente dos bens portugueses, como se a mera apropriação violenta das riquezas alheias fosse suficiente para garantir a sua auto-reprodução e gestão espontâneas, quase milagrosas. Um resquício do pensamento mágico africano! Este desentendimento conceptual não foi completamente compreensível, até porque António Costa e Silva tinha acusado irracionalmente a "vulgata marxista" pelo "ataque às empresas", defendendo o conceito hilariante de um "Atlântico mais lusófono" como "eixo estratégico de desenvolvimento": o Atlântico da energia envolvendo Angola, Portugal e Brasil, numa "aliança anti-russa", como se a Rússia fosse um país africano e Angola, um país europeu e ocidental. De facto, a passagem de uma "economia dirigida a uma economia de mercado" (Aguinaldo Jaime), sob a presidência de um mesmo homem, é um modo febril e alienado de caracterizar a situação angolana e de justificar a pretensão do seu governo. Os angolanos acabaram por tropeçar nas suas próprias palavras, esquecendo que a crise financeira e económica põe em causa a ideia imperialista e delirante subjacente à estratégia angolana. Contrariando Fátima Campos Ferreira, as suas questões e as respostas, sobretudo no que se refere às "teias de corrupção em Angola", Fátima Roque defendeu uma "economia da corrupção". Se investirem na corrupção em Angola, os empresários portugueses estão a contribuir para o desenvolvimento angolano: investir na corrupção é "um factor positivo". "Invista na corrupção angolana": eis a orientação dada pela teórica da economia da corrupção. Na sua declaração, Obama afirmou peremptoriamente que faria tudo ao seu alcance para impedir o pagamento dos "prémios" auto-atribuídos pelos gestores financeiros a si próprios, sobretudo quando a liquidez das suas instituições está a ser garantida pelos contribuintes americanos. Obama sabe que a corrupção dos colarinhos-brancos da economia e das finanças está na origem desta crise financeira e económica, mas Fátima Roque é serodiamente uma defensora da economia da corrupção. A sua economia emergente assenta no investimento na corrupção: Jorge Armindo reconheceu ter financiado algumas "gasosas". Nenhum português teve coragem para desmistificar a argumentação angolana: António Mota (empresário imobiliário) sente-se "português em Portugal e angolano em Angola", Jorge Belmar KK trata dos dentes angolanos numa empresa que diz ser angolana, Gonçalo Rodrigues farta-se de trabalhar na sua empresa angolana, e outro de que já não lembro o nome foi colega da teórica da economia da corrupção. Enfim, um programa de angolanos, como reconheceu Fátima Campos Ferreira. Por isso, conhecendo de antemão as queixas dos portugueses e a sua gula, teve de colocar algumas questões fracturantes aos seus convidados supostamente "tugas". António Mota negou haver euforia a curto prazo e risco a longo prazo, dizendo que "estamos no melhor momento das relações": angolanos e portugueses são "povos irmãos", cujas relações são "relações entre dois iguais". Os portugueses devem apostar em Angola, cujos empresários exibem "vastíssima qualidade". A cooperação estratégica é benéfica para ambos os povos unidos pela língua e pela tradição. Fátima Campos Ferreira confrontou Helder Batalha (Grupo Espírito Santo) com o facto do "governo angolano ditar as parcerias", recebendo a resposta de que é necessária "determinação nas acções" dos empresários que devem "acreditar em Angola": o grupo Espírito Santo sempre investiu em Angola desde os tempos coloniais e, neste momento, ajuda a "promover empresários angolanos" e a criar grupos económicos com parceiros angolanos. Aguinaldo Jaime não gostou do uso do termo "ditar": o Estado angolano está empenhado no crescimento de empresários angolanos e, por isso, encara "com bons olhos as parcerias" luso-angolanas, garantindo incentivos fiscais aos empresários estrangeiros e portugueses. O seu objectivo é "criar quadros angolanos" capazes de assumir os destinos de Angola e de garantir o seu crescimento. Basílio Horta (português) contrariou a perspectiva de que abrir as portas aos capitais angolanos quando estes fecham o seu mercado aos portugueses acarreta riscos a longo prazo, afirmando que o relacionamento entre os dois povos é prioritário e útil. Como "o futuro de Portugal está fora das nossas mãos", o investimento angolano é bem-vindo: os portugueses não devem temer o deslocamento dos centros de decisão, mesmo que esse deslocamento diga respeito à GALP. Além disso, devemos ter em conta que o mercado angolano é o "quarto mercado das exportações portuguesas", não só de serviços mas também de bens ou mesmo de máquinas. Basílio Horta considera que os portugueses devem investir em três outros sectores angolanos: saúde, educação e novas tecnologias, mediante parcerias com empresários angolanos formados na escola da acumulação violenta do capital. Mira Amaral defendeu o investimento de Angola em Portugal em determinados sectores industriais, tal como as cerâmicas, e depois estas empresas luso-angolanas deveriam criar empresas do mesmo sector em Angola. Esta transferência do poder produtivo de Portugal para Angola agradou a Aguinaldo Jaime e a Isaac Wambembe (UNITA) que defendeu a ideia de uma Angola próspera. Carlos Bayan Ferreira (português?) estabeleceu como prioridade a "formação de quadros angolanos" capazes de participar activamente no desenvolvimento do seu país e de "assumir os seus destinos". A cooperação entre portugueses e angolanos tem, pelo menos, duas vantagens: a língua e uma história comum (Aguinaldo Jaime). Dela depende a criação da cidadania (qual?) e o bem-estar do povo angolano (sic). O "bom entendimento das lideranças" referido por Aguinaldo Jaime parte de um pressuposto falso: o regime português não é presidencial e Cavaco Silva não é Eduardo dos Santos. Os portugueses convertidos em angolanos e intoxicados nas suas hormonas da gula foram incapazes de pensar: os que afirmam com orgulho serem angolanos devem regressar à sua pátria africana e aguardar pela eleição futura de um presidente branco e os que acreditam na irmandade dos dois povos, exemplificada com um jogador do Benfica (corrupção reproduz mais corrupção!), sonhando com um eixo atlântico, devem ser confrontados com a história e a verdade. O governo angolano não deseja cooperação estratégica, até porque recusa vistos aos portugueses e cria dificuldades burocráticas ao investimento português em Angola: a sua estratégia é investir as suas mais-valias oriundas do petróleo em Portugal, de modo a poder ter controle sobre o tecido produtivo, a comunicação social e os centros de decisão nacionais. O temor da recolonização encobre a ambição colonizadora angolana movida pelo rancor da colonização portuguesa. É evidente que os africanos sabem que a China os encara como escravos, visando em última instância a colonização do continente africano: a Europa decadente, defensora das igualdades arbitrárias e dos multiculturalismos irracionais, parece-lhes mais apetecível. A suposta oportunidade dos portugueses é um suicídio! Portugal dispensa empresários que nunca produziram riqueza nacional! Afinal, são todos angolanos e falam a mesma língua, a corrupção incentivada por Fátima Roque! J Francisco Saraiva de Sousa
11 comentários:
A estratégia de Angola é assassina: e isto é muito mais importante do que o possível empreendedorismo lusitano, dado que o estado angolano é um povo escravo ao serviço de uma família imperial.
Ao contrário de si, como já tive oportunidade de dizer, o multiculturalismo é o futuro, irracional é crer no Ocidente que já morreu. E, por isso alianças com ex-colónias africanas e americanas, asiáticas, são e serão o futuro.
Hummm... não estou seguro de que o nosso futuro dependa dessas alianças, porque não acredito em milagres. Mas, sim, defendo uma cooperação saudável entre os povos, desde que se saiba pensar estrategicamente o futuro nacional no quadro do mundo.
Sim, a família imperial resiste à passagem da economia dirigida de guerra à economia de mercado dirigida!
Uma declaração do imperador em Portugal: "estamos bem instalados". :)
Com alguma corrupção, Fátima Roque ainda vai ser galardoada com o Prémio Nobel da Economia 2010: Invista na corrupção!
A Rússia, país europeu que se estende vastamente pela Ásia, é estratégica para a segurança do Ocidente: A UE deve saber apoiar a Rússia e trazê-la para o berço. Muito importante esta abertura total à Rússia!
Mas proteger a Europa do quê? Das invasões de bárbaros? Os europeus gordos chupam tudo e depois não querem sofrer ingestões?
Defender a revitalização interna do Ocidente e a sua cultura! Sim, os gordos devem ser impedidos de ter acesso à comida e ser obrigados a realizar exercícios de esforço acrescido! Defendo um Ocidente mais contido e muito menos consumista: precisamos de uma vida de esforço e produtiva. As causas da decadência ocidental são internas, não são externas, porque o poder alheio é alimentado com a nossa tecnologia e capitais.
Se o governo português não recuar nos aumentos salariais da função pública, estamos lixados.
Se não fosse o euro, tinhamos de recorrer ao FMI. Isto está mesmo mau: medida é reduzir os salários públicos, dos gestores e das reformas gordas.
Olá Francisco, como sempre sua análise de questões importantes é clara e profunda.
Do ponto de vista de um brasileiro, acredito que as relações, tanto econômicas quanto culturais, com Angola estão crescendo muito deste outro lado do Atlântico.
Atualmente, muitas empresas brasileiras tem atuado em Angola com grandes benefícios para ambas as partes. No campo cultural, nos últimos tempos houve um grande crescimento de ações bilaterais entre os dois países.
Acho que movimentos deste tipo são saudáveis e necessários para o futuro das nações. Espero que continuem assim.
abs
Olá Marcelo
Sim, concordo que as alianças entre os povos são saudáveis e desejáveis. Também não sou avesso ao tal eixo atlântico, mas não vejo como isso possa ser implementado enquanto existirem complexos nas relações entre povos lusófonos. Defenso uma comunidade lusófono forte e saudável: a língua já é um instrumento de união.
Abraço
Se for bem governada, Angola tem potencial para resolver as carências materiais e culturais da sua população. Espero que as resolva de modo transparente e equitativo. :)
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