O debate "Prós e Contras" de hoje (9 de Março de 2009) foi dedicado novamente à crise e à busca de uma "solução". E, como sucede num debate tipicamente português, as lógicas discursivas foram muito pouco claras, sendo necessário esperar até ao final da segunda parte para detectar um confronto: Miguel Lopes (psicologia social) lançou um novo conceito, o de "felicidade interna bruta", que não conseguiu explicitar, afundando-se depois na noção desgraçada de "economia de bem-estar". Ao exigir a clarificação do sentido desse conceito peregrino, Fátima Campos Ferreira confrontou Miguel Lopes com o seu perfil ridículo: "Sem exportação não há felicidade". A felicidade interna bruta foi enterrada. António Cunha Vaz aproveitou a onda e mostra o carácter especulativo das opiniões dos seus parceiros de diálogo, em especial as de Jorge Vala (psicólogo social) sobre a "insatisfação com a vida" revelada por certos indicadores de atitudes entre 2002 e 2008: "Todos teorizaram mas não resolveram o problema". Mas foi Pedro Lomba quem deu a machadada final: a discussão a que estava a assistir era uma discussão que poderia ser levada a cabo antes ou depois da crise. Ou, por outras palavras, alguns participantes teorizavam "como se não houvesse uma crise real", a maior crise depois da Segunda Guerra Mundial. Manuel Villaverde Cabral e Álvaro Santos Pereira acordam do sono psicológico e colocam-se ao lado de Pedro Lomba. Porém, com excepção dos dois psicólogos sociais, todos estavam aparentemente de acordo quanto a uma abordagem mais económica ou, pelo menos, mais pragmática e realista, da crise e da sua solução, mas esse consenso era mais aparente do que real. Luís Mergulhão, Alfredo Revuselta, Paulo Malo e Daniel Deusado defenderam a iniciativa privada e o espírito empreendedor, como se o Estado devesse "largar", isto é, desmamar os seus "filhos" e entregá-los à sua própria iniciativa individual. Paulo Malo levou esta ideia ao seu extremo: "Isto não é (uma) crise", visto que todos estão dependentes de um ou de outro modo do Estado. "Atravessar uma verdadeira crise" seria abanar a "mentalidade do Estado Pai" e partir para a luta. Mais sociedade civil (A. Santos Pereira), mais economia (Luís Mergulhão), mais iniciativa privada (Daniel Deusado), mais empresas (A. Cunha Vaz) e "mais oportunidades com minimização dos riscos" (Alfredo Revuselta): eis os slogans coroados pela "felicidade interna bruta" que irritaram Pedro Lomba que lembrou que nenhum cidadão pode criar a sua empresa sem o apoio de políticas adequadas promovidas pelo governo. Aqui residia a clivagem ideológica do debate: os que negavam a crise não tinham compreendido que esta crise real resultou da falência do fundamentalismo de mercado e da ideologia neoliberal subjacente à globalização, sendo agora a vez do Estado intervir, como lembrou Fátima Campos Ferreira. A clivagem ideológica reflecte um confronto entre a esquerda e a direita e, à partida, seria levado a identificar-me com as posições de esquerda, mas vou, em vez disso, tentar emprestar uma possível reconciliação de alguns pontos de vista defendidos pelos adeptos das duas linhas político-ideológicas, repudiando a noção desta crise ser meramente uma "crise de confiança" nas mais diversas instituições da sociedade, embora reconheça que as pessoas não confiam nas actuais classes dirigentes devido ao seu envolvimento na corrupção, a grande ausente deste debate. A crise financeira que deu origem à crise económica é uma crise antropogénica: ela foi produzida por certos grupos de homens e pelos dispositivos financeiros que criaram para satisfazer a sua gula desmesurada, agindo como se não houvesse futuro depois da sua morte. Este modo de encarar a génese da crise implica responsabilizá-los pelos seus actos criminosos. Dificilmente os mesmos homens que nos conduziram nos últimos 30 anos até esta situação de crise profunda podem tirar-nos deste abismo que ameaça todo o mundo, como frisou enfaticamente Villaverde Cabral. Crise de confiança? Sim, os portugueses e os europeus deixaram de acreditar na competência e na integridade moral dos seus dirigentes, embora sejam resistentes à mudança social qualitativa. Os três conceitos de Jorge Vala podem ser aqui recuperados: falta de confiança e ameaça do sentimento de bem-estar podem reforçar-se reciprocamente e levar ao sentimento de privação. O futuro parece ser sombrio: a fartura e a facilidade criaram animais extremamente agressivos. A sua incapacidade para pensar facilita a exteriorização dessa agressividade maligna. A desconfiança dos portugueses nas suas classes dirigentes pode ser justificada por diversos factores: (1) os políticos "têm medo de dizer a verdade" e de assumir a alteração do "modo de vida baseado no endividamento" e no crédito ao consumo, deixando escapar a "crise da oportunidade" (Pedro Lomba); (2) os políticos portugueses não definem "objectivos nacionais" para além das politiquices partidárias (Santos Pereira); (3) as actuais gerações estão "perdidas" e a sociedade civil foi eclipsada (Santos Pereira) devido ao fracasso absoluto da educação (Daniel Deusado) e à mentalidade do Estado Paterno (Paulo Malo); (4) em vez de uma cultura da cidadania responsável e autónoma, criou-se uma "cultura da queixa" (Santos Pereira) e da "pobreza envergonhada" (Santos Pereira); (5) a iniciativa privada foi substituída pela dependência do Estado (Paulo Malo) que desarma as pessoas e as levar a desistir de lutar; e (6) o erro de políticas públicas, tais como dar crédito para a compra da habitação, em vez de apostar no arrendamento (Daniel Deusado). Todos estes factores desacreditaram as classes dirigentes aos olhos dos portugueses. É certo que a entrada de Portugal na zona euro teve os seus aspectos positivos, conforme mostraram Santos Pereira e Daniel Deusado, permitindo passar do país de pés descalços ao país de pés calçados, portanto, a um país mais moderno e abrigado pelo "guarda-chuva" do euro (Santos Pereira), mas isso não impediu que os políticos acabassem por desaproveitar essa oportunidade para garantir o futuro. O que nos adianta viver num país de pés calçados quando esses bípedes calçados perderam a cabeça estruturada e capaz de pensar? A sociedade de consumo é uma sociedade metabolicamente reduzida: os seus membros comportam-se como frangos de aviário, consomem e engordam sem parar para pensar. Um tal estilo de vida anuncia o ocaso do Ocidente! Esta perspectiva da situação do país face à crise económica dificulta a tarefa de pensar soluções para a debelar. A "esperança no futuro e a perseverança no trabalho" (Luís Mergulhão), a aposta no território e no turismo, de modo a criar um país de bem-estar ou gerador de bem-estar (Daniel Deusado), o enfraquecimento da máquina pública (Daniel Deusado), a aposta na educação e no mito do lazer (Luís Mergulhão) ou a aposta na economia e na iniciativa privada (Cunha Vaz e Santos Pereira), embora possam ser levadas em consideração, não constituem verdadeiras soluções capazes de transcender a crise económica. Aliás, mesmo que tenham em mente alguma solução, os portugueses resistem a partilhá-la com os outros, porque sabem que, em Portugal, as ideias originais são facilmente pilhadas pelos outros que delas se apropriam indevidamente como se tivessem surgido milagrosamente nas suas cabeças usurpadoras do alheio. Algumas das soluções são simplesmente inviáveis. Se o lucro não é um pecado, como disse Cunha Vaz, como é possível geri-lo com ética? Como é possível acreditar na capacidade das empresas para criar riqueza e gerar empregos quando, na verdade, essas empresas estão dependentes do Estado? Como podemos aumentar o consumo quando as pessoas estão endividadas? Como é possível criar emprego quando muitas empresas se deslocalizam ou simplesmente fecham? Como é possível acreditar na educação quando o sistema de ensino deixou de funcionar? Como é que a economia de mercado pode ajudar a superar a crise quando foi o seu fundamentalismo que produziu a própria crise? Se os nossos nove séculos de nacionalidade foram um êxito, então como é que explicamos o atraso estrutural de Portugal? Portugal pode ter criado novos mundos mas, se os criou, fê-lo à custa da perda de si próprio! Esta crise pode ser uma crise da oportunidade, desde que os portugueses e os seus dirigentes tenham coragem para mudar radicalmente de paradigma. Ora, é a esta mudança social qualitativa que todos opõem resistência, alimentando a vã esperança de que, quando esta crise terminar, tudo regressará à normalidade anterior à crise. O português abraça a sua condição animal e abdica facilmente da sua humanidade: é o representante dessa nova espécie zoológica que é o animal metabolicamente reduzido. Mas a sua esperança é gratuita, porque, depois desta crise, nada voltará a ser como era. Enquanto se alimentar esta esperança vã, a crise são os próprios portugueses e a sua inércia mental! A superação desta crise exige coragem e imaginação política: o único clique feito na cabeça é tomar consciência de que o paradigma reinante deve ser completamente abandonado e substituído por uma nova organização da sociedade. Antes de ver este debate, estive a ver dois outros programas: "O Dia Seguinte" (SICNotícias) e "Há corrupção no futebol?" (TVI24). Os canais de televisão uniram-se numa campanha difamatória dirigida contra o FCPorto, alimentada nestes últimos anos pelos pseudo-apitos dourado e final. Os meios de comunicação social foram capturados por pessoas destituídas de qualidades cognitivas e de competências: em vez de analisar os acontecimentos e de informar o público, inventam mentiras nas quais parecem acreditar. A demência está instalada e a crise portuguesa ganha contornos neurológicos e psiquiátricos: a normalidade portuguesa é patologia. Como não conseguem vencer os jogos nos campos, os advogados do diabo, mais os representantes do Benfica do que os do Sporting, orquestram campanhas difamatórias contra o FCPorto, tentado lançar suspeitas infundadas sobre a vitória do FCPorto sobre o Leixões: eles negam a própria evidência e, o que é surpreendente, com recurso às novas tecnologias que desejam ver utilizadas no futebol. A insanidade é de tal modo preocupante que já bloqueia a própria percepção. A corrupção que existe no futebol é encarnada: financiamento das mentiras de Carolina Salgado, jogo violento, prática de anti-jogo, manipulação da informação, pressão exercida sobre os árbitros, incompetência desportiva, derrotas vergonhosas nas taças europeias, enfim a conspiração maléfica e criminosa contra o FCPorto e o seu dirigente que pode ser visualizada e analisada de modo imparcial por pessoas que ainda não perderam o juízo. Criado ao abrigo do guarda-chuva fascista, o Benfica não consegue viver e vencer por mérito próprio, sendo completamente cego em relação à sua própria mediocridade visceral. Mais não é do que uma mentira sobrevivente dos tempos do fascismo que urge desmistificar para conquistar a luz azul. Os canais de televisão exibem insanidade mental diária. Esta perversidade maligna revela até que ponto muitos portugueses, além de serem invejosos patológicos e vigaristas natos, são refractários à cultura do mérito e da verdade. A maior crise de Portugal são os próprios portugueses e a sua escassez de aptidões cognitivas. Portugal não é um país moderno e civilizado, mas um Estado Africano localizado na Europa. E, com estes portugueses invejosos e malignos, Portugal não tem futuro: os nove séculos de nacionalidade referidos por Santos Pereira devem levar-nos a questionar o tipo de inteligência dos portugueses que, nos seus nove séculos de História, foram incapazes de construir um país digno, moderno e civilizado. J Francisco Saraiva de Sousa
9 comentários:
Fiz algumas alterações de modo a clarificar certas ideias. Julgo que o nome do espanhol não está correcto: muitos nomes! E, em virtude do depoimento de um ex-namorado de CSalgado, clarifiquei o sentido vetorial da corrupção do futebol português: o apito não é dourado mas encarnado.
Tenho exercido responsavelmente a minha cidadania, chamando a atenção para os problemas radicais da sociedade portuguesa: são problemas de fundo cuja solução exige uma alteração radical do carácter nacional. Sem mudar substancialmente as pessoas nada pode melhorar em Portugal. Políticas radicais são necessárias: a maquinaria pública está danificada porque foi capturada por néscios. Dói mas é a pura verdade! Bípede calçado sem cabeça: tal animal só pode ser português! :(
Ahah! Sempre muito gráfico, o amigo Francisco.
Bem e o Sporting ontem? Que vergonha! Qd cheguei a casa estava a perder 6-1 (ainda levou mais outro) e achei mesmo vergonhoso. :(
O Sporting é a expressão desportiva dessa acefalia que denuncia.
Bem, hj aqui na capital está um calorão fenomenal. :)
Oi Else
Sim, foi muito humilhante as derrotas pesadas sofridas pelo Sporting ou pelo Benfica. No entanto, ambos querem ficar com o lugar do Porto, mas no campo não vencem nem garantem a continuidade nas provas disputadas. Um paradoxo! E é a campanha anti-Porto que já cheira mal, além de ser um gasto de dinheiro público desnecessário.
Aqui também está calor!
O gráfico era em relação ao bípede? É, começo a ficar cansado de tentar analisar ideias lá onde elas estão simplesmente ausentes! Isso mostra o atraso total de Portugal e devemos enfrentar isso se pretendemos mudar alguma coisa...
Sim, ainda me ri hj com o meu pai ao almoço, pq ouvíamos o treinador do Porto a dizer que o Porto joga sempre para ganhar, e dizíamos entre nós que o Sporting joga sempre para perder... é realmente muito triste: quando começam a perder, ficam nervosos e desnorteados. Isso não é ser profissional! Clube de trazer por casa. :(
Tenho um amigo aqui do Sporting que ficou doente! Também fala do espírito perdedor do Sporting. De facto, não se percebe porque perderam a oportunidade de exibir algumas qualidades na montra mundial.
Mas mais doentio é a mudança de opinião da irmã Ana da tal figura: testemunhas que se vendem no mercado da vergonha. Enfim, anti-testemunhas!
Bem isso de "ficar doente" é para fanáticos e os amigos da sabedoria não adoram as suas ideias adoram a razão. :)
Que Sol estival maravilhoso!
Hoje vai torcer pelo Porto e vamos ver se os jogadores conseguem superar as tensões e vencer...
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