«Hoje devemos acrescentar a última forma de tal domínio (do homem sobre o homem), e talvez a mais terrível: a burocracia ou o domínio de um intrincado sistema de departamentos, no qual nenhum homem, nem o único - monarquia - nem o melhor - aristocracia -, nem poucos - oligarquia - nem muitos - democracia -, pode ser considerado responsável, e que poderia ser chamado de domínio de Ninguém. Se, de acordo com o pensamento político tradicional, identificamos a tirania como um governo que não tenciona prestar contas de si mesmo, o domínio de ninguém é o mais tirânico de todos, já que não há sequer alguém a quem se possa perguntar o que está sendo feito. É este estado de coisas, que torna impossível localizar responsabilidades e identificar o inimigo, que está entre as causas mais poderosas da rebelde inquietação mundial de hoje, da sua natureza caótica e da sua perigosa tendência de escapar do controle e de se radicalizar furiosamente.» (Hannah Arendt) Hannah Arendt identificou o problema que aflige a República Portuguesa: «a monopolização - ou centralização - do poder causa a evaporação ou o esvaziamento de todas as autênticas fontes de poder do país». Lisboa secou Portugal, retirando-lhe todo o poder, e, no momento presente, entrou em conflito consigo mesma: o país está parado e assiste às lutas de poder - a comunicação social medíocre, as pseudo-oposições e certo poder judicial lutam contra o governo, usando e abusando da calúnia e da mentira política, num clima de alheamento público aos sinais da crise financeira e económica - que se travam na capital. Portugal comemora este ano o Centenário da República e o cenário político, económico e social não podia ser pior: o poder político português entrou em colapso e, como observou Arendt, sempre que o poder se desintegra, os cidadãos são convidados abertamente a substituí-lo pela violência. A história da República Portuguesa é uma sucessão de fracassos: o fracasso da Primeira República, o período terrível da ditadura fascista e o fracasso do 25 de Abril. O facto da Segunda República - a Ditadura - ter sido o período mais longo desta história de fracassos sucessivos é sintomático: os portugueses não sabem viver em democracia e, o que é pior, não conseguem governar o seu país e construir uma sociedade aberta. O atraso estrutural e, por conseguinte, histórico de Portugal pode ser atribuído a esta incapacidade - debilitante e regressiva, arcaica e primitiva - nacional ou - quem sabe? - a uma deficiência etnopsiquiátrica difusa, que já foi tematizada por diversos pensadores portugueses, dos quais destaco Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa. O caso mental português foi tematizado pelos ilustres portuenses da Escola do Porto como uma aversão à razão e ao pensamento, portanto, como horror à Filosofia, e por Fernando Pessoa como o síndroma provinciano que compreende três sintomas flagrantes: «o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades (1); o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade (2); e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia (3)». Fernando Pessoa define, num rasgo de génio, o provincianismo como a pertença «a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela»: o português segue mimeticamente ou simiescamente a civilização ocidental, com uma subordinação inconsciente e feliz. Estas tematizações do caso mental português convergem na formulação de uma incapacidade cognitiva inata - a incapacidade de reflectir e de criticar -, atribuída a um excesso emocional patológico: «O génio lusíada é mais emotivo que intelectual. Afirma e não discute. Quando uma ideia se comove, despreza a dialéctica; e é sendo e não raciocinando que ela prova a sua verdade. A emoção afoga a inteligência, ultrapassando-a como força criadora. E assim, corresponde à nossa superioridade poética, uma inferioridade filosófica. O português não é nada filósofo; a luz do seu olhar alumia mais do que vê; não abrange, num golpe de vista, os conhecimentos humanos, subordinando-os a uma lógica perfeita e nova que os interprete num todo harmonioso. O português não quer interpretar o mundo nem a vida, contenta-se em vivê-la exteriormente; e tem, por isso, um verdadeiro horror à Filosofia, imaginando encontrá-la em tudo o que não entende. Daí a sua incapacidade construtiva de novas verdades que representam o móbil superior do Progresso» (Teixeira de Pascoaes). O desprezo pela dialéctica implica a imobilização mental, cognitiva e social e o conservadorismo tribal que caracterizam a mente fechada. Fernando Pessoa propõe uma terapêutica muito simples: «o saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando não o somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio de cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido. Estamos perto de acordar, disse Novalis, quando sonhamos que sonhamos». Nesta perspectiva etnopsiquiátrica, Portugal é um enclave de homens primitivos, mais animais que humanos e completamente destituídos de vida psicológica superior, na Europa e no mundo ocidental, e a sua história mais não é que a história de uma terrível mentira: supor que é uma nação civilizada quando não o é. Fernando Pessoa elabora o síndroma provinciano, usando a teoria da mentalidade das três camadas - o povo, a burguesia e o escol - e dos três tipos mentais - o campónio, o citadino e o provinciano, organicamente distintas, que constituem a vida mental de Portugal, mostrando a semelhança estrutural entre a mentalidade da criança e a mentalidade provinciana: espírito de imitação ao nível da inteligência, vivacidade pobre ao nível da emoção e impulsividade descoordenada ao nível da vontade. O provincianismo é quase definido como uma parafilia da falsa modernidade, cujos traços fundamentais são partilhados pelos membros das duas camadas da elite nacional: «o amor às grandes cidades, às novas modas, às "últimas novidades"». A elite nacional é estruturalmente provinciana: os homens inteligentes e os homens de talento confluem e irmanam-se na «ausência de ideias gerais e, portanto, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter. O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro - aceites, não porque são boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias». A teoria pessoana elogia a aristocracia do génio, ao mesmo tempo que a condena: as elites portuguesas são censuradas pelo seu provincianismo, o que significa que não são verdadeiramente elites capazes de conduzir o país à modernidade. Neste paradoxo - usar uma teoria elitista para condenar as pseudo-elites nacionais -, reside o momento de verdade da teoria de Pessoa: a tragédia mental de Portugal presente está no facto do nosso escol ser estruturalmente provinciano, pueril e medíocre, donde se infere facilmente que o povo português é vítima da má governação desse erro estrutural que são as pseudo-elites nacionais que o condenam à miséria, à pobreza, ao sofrimento e ao alheamento para satisfazer o seu interesse parafílico: apropriar-se sem mérito e de modo ilícito das últimas novidades e exibi-las como couraças que escondem individualidades ausentes ou deficitárias. As elites nacionais fingem ser elites e reagem às artificialidades da civilização moderna como se fossem crianças a brincar com brinquedos: os seus membros imitam e plagiam figuras estrangeiras. Os membros das elites nacionais do poder desejam voluntariamente ser vistos pelo povo como se fossem estrangeiros iluminados e, no momento presente, já abdicaram da língua portuguesa a favor do uso do inglês corrompido para alcançar esse efeito saloio, mas a sua acção perversa e perniciosa, além de gerar corrupção em circuito-fechado e criminalidade alargada de colarinho-branco, exila os portugueses na sua própria terra natal. As elites do poder foram treinadas para açambarcar, monopolizar e manipular o poder público, vedando-o ao povo e silenciando a sua voz que só se ouve no dia das eleições: a refeudalização da esfera pública ou do espaço público é acompanhada pelo abuso do poder político, usado pelas classes dirigentes em benefício próprio. As elites nacionais, especializadas na arte de bem roubar, confiscam a palavra ao povo, estigmatizam-no, chamando-lhe zé-povinho, e proibem-lhe o acesso ao espaço público, forçando-o ao exílio interior e exterior: os portugueses são estranhos na sua própria pátria, isto é, na terra patrum onde nasceram. A Terceira República, saída do 25 de Abril, está a gerar o mesmo erro que levou à substituição da Primeira República pela Ditadura: a corrupção generalizada que resulta do fechamento do fosso entre os governantes e os governados e do apagamento da linha divisória entre público e privado, pondo em perigo a qualidade do espaço público e a essência da democracia. O governo republicano envolve um risco permanente: a expansão do poder público e a invasão do domínio privado por parte do domínio público. A corrupção surge mais do domínio público que dos interesses privados e os partidos políticos, como máquinas de conquista do poder, em vez de operar a mediação entre a nação e o parlamento, entre o povo e a classe dirigente, funcionam como instrumentos utilizados para profissionalizar a política e possibilitar a carreira política de indivíduos seleccionados e escolhidos segundo critérios claramente apolíticos. É certo que o 25 de Abril permitiu, pelo menos inicialmente, substituir as elites do nascimento e da riqueza pelas elites nascidas do povo, mas esta substituição foi fatal: os pobres desejam ser ricos a todo o custo e, quando instalados no poder, falsificam as suas biografias e tendem a ser excessivamente autoritários, perseguindo e aniquilando a cultura do mérito em todos os sectores institucionais da sociedade. A abertura de carreiras políticas aos membros das classes mais baixas produz o efeito contrário: o nivelamento constante e abrangente da sociedade destrói toda a vida cultural do país e, paradoxalmente, bloqueia a entrada do povo na vida política e a sua participação nos negócios públicos. A lógica da política partidária portuguesa está a subverter a essência da democracia e os próprios ideais republicanos: o governo do povo pelo povo transformou-se em governo do povo por pseudo-elites saídas do povo e a concentração e centralização do poder é usada contra o Estado de Direito, contra os Direitos fundamentais dos cidadãos e contra a autonomia das regiões. O Estado foi capturado por uma teia de corruptos que o utiliza como meio privado de acumulação de capital: a geração grisalha age como se ela fosse o próprio Estado e o poder económico e, para garantir a sua permanência no poder, destruiu completamente a educação e a cultura, negando o futuro a Portugal. O poder político português não preparou as novas gerações para assumir responsabilidades na governação do país: a geração grisalha pensa unicamente em si mesma e na manutenção das suas regalias sociais, e fez tudo para garantir o seu bem-estar em detrimento do futuro de Portugal. Embora possam ser mais diplomadas, as gerações mais novas não têm competência para participar responsavelmente no governo, até porque foram treinadas a ver a política como um meio de enriquecimento privado. Portugal está mergulhado num caos e, se não formos corajosos para enfrentar os nossos erros e vícios estruturais, repensando a República como «Soberania Popular, sinal de liberdade e esperança de justiça» (De Gaulle), então não teremos futuro. J Francisco Saraiva de Sousa
36 comentários:
Violência se houver uma oposição suficientemente organizada e realmente interessada em mudar o sistema,né?
Como a oposição é o q se sabe, pode ficar descansadinho q n vai existir esse perigo :))
Restam-nos os movimentos de cidadaos e o num cada vez maior de pessoas q vao tendo cada vez mais consciencia q a mudança terá q vir de algum lado que não dos aparelhos e do jogo partidário esclerosado actual. ^^
E, ja q se tem falado ultimamente deles, podiamos ja começar a aprender com os exemplos dos movimentos sociais gregos já instalados no terreno da luta :)
fresh
http://ipsilon.publico.pt/Flash/texto.aspx?id=250336
Não sei, a nossa história é muito peculiar: a mente lusa tem uma tendência inata para desvirtuar todos os ideais ocidentais - imita a coisa sem a realizar plenamente, ou seja, imita sem compreender. Penso que a vida mental nacional é muito pobre - uma mente fechada! Será necessário repensar a nossa história e tentar compreender o que está sempre a falhar!
Sim a vida mental e cultural...
E as chamadas "elites" sucessivas tem tido culpa substancial nisso, sure.
De todo modo, essa não é uma condição e um impedimento perenes, a culpa continua a ser de quem devia fazer agitar as coisas.
Um balao de oxig pro governo que ainda n foi cá noticiado(axo)
http://www.elpais.com/articulo/economia/paises/eurozona/reunen/hoy/urgencia/decidir/rescate/Grecia/elpepueco/20100210elpepueco_3/Tes
Ai, pensar Portugal é ficar arrepiado: eu sou ocidental e quero travar a decadência do ocidente, mas quando olho para o nosso país fico assustado: vejo o horror contra o qual luto! :(((
Olá, Francisco!
O tema escolhido é muito oportuno. Temos de repensar a República. E isso significa, de um lado, valorizar as concepções antigas e. de outro, formular conceitos que atendam aos desafios atuais
Noto que a res publica está cada vez mais esquecida. Os seres metabolicamente reduzidos zelam, exclusivamente, pela harmonia de seus feudos, deixando de lado os cuidados com a coisa pública, com o espaço comum. Talvez este comportamento reducionista e mesquinho seja um dos componentes da crise na Répública.
Considero atuais as reflexões da filósofa Nancy Mangabeira Unger:
"A apatia de nossa sociedade corresponde a uma pletora de informações e à sua velocidade de rotação: assim que é registrado, o acontecimento é esquecido, banido de cena por outros mais espetaculares. A equiparação e a indiferenciação de valores, ideias e experiências caminha de par com a ênfase sempre maior num espaço adaptável a todos os comportamentos e gostos, desprovido de referências estáveis; uma 'apoteose do temporário´ sem ponto de ancoragem"
Lipovetsky nos dá um retrato preciso da nossa crise:
"A res publica encontra-se desvitalizada, as grandes questões filosóficas, econômicas, políticas ou militares suscitam mais ou menos a mesma curiosidade de um fait divers; todos os 'cumes' se abatem pouco a pouco, arrastados pela vasta operação de neutralização e banalização sociais"
Olá André
Estava a ver o FCPorto a eliminar a Académica, cujo treinador queria vencer com a ajuda da comunicação social e do árbitro que nos roubou um golo.
Sim, a crise da república é muito profunda: todas as esferas da sociedade foram adulteradas e invadidas por gente sem qualidade. As chamadas elites são muito medíocres e incompetentes. O pensamento crítico deixou de ser escutado e o mundo caminha para o declínio mortal! :)
Aqui em Portugal até o futebol está corrompido com o apito encarnado: as pessoas perderam a vergonha e querem vencer a todo o custo, mesmo sabendo que são perdedores natos! Uma vergonha! :(
Vendo um filme de ficção científica - com muito terror, tive uma ideia gira: ansiar por uma invasão extraterrestre. Seria giro ver o gado humano a ser caçado e comido por extraterrestres impiedosos! :)
Bah... A maior parte dos meus amigos é reaccionária e fascizante, mas eu sou um revolucionário profissional. Durante a habitual reunião do café provocaram-me, dizendo que deste post inferem a necessidade de uma ditadura provisória para pôr as coisas em ordem e, o pior, é que têm razão no que diz respeito às grandes obras públicas. Porém, ainda não terminei o post, embora já tenha feito uma transição que visa condenar as elites saídas do povo, o sistema partidário, o fracasso do 25 de Abril, etc - o esmagamento da esfera pública, a sua refeudalização e o afastamento do povo da coisa pública. Bah, não queria repetir o que tenho sempre defendido desde a criação deste blogue! A memória é fundamental e, de certo modo, foi ela que perdeu com todo este falso despertar para a democracia que afinal é burocracia - o governo dos corruptos.
Então, em nome de qual personagem avançou a providencia cautelar contra a publicação da 2ª parte das escutas publicadas pelo Sol, uhhhh?? =»» TADAM => Rui Pedro Soares, adm PT, o gajo que de todos os envolvidos terá menos agravantes.
Epa, GENIAL , fdx, GENIAL, estes gajos valem mesmo o seu peso em estrume!!!
;P
btw, n é preciso nenhuma ditadura, nem sequer republica! As experiencias anarquistas espanholas de tomada de poder provaram-no inequivocamente ^^
Veja este exemplo menos conhecido que me foi passado por um amg espanhol
http://es.wikipedia.org/wiki/Revoluci%C3%B3n_de_Asturias_de_1934
O seu menor sucesso ou duração é irrelevante, interessa é saber-se q a coisa é possivel*
^^
Enfim, somos um país de estrume que, se sair da zona euro, vai mesmo comer estrume! :(
http://www.ionline.pt/conteudo/46393-edicoes-do-sol-angola-mocambique-e-cabo-verde-ja-estao-caminho
isto de andar a transplantar links do facebook pra aqui é que... tsc tsc
:))
E quem nos vai governar? As lideranças partidárias não merecem confiança e a corrupção e a bancarrota não se resolvem mudando as caras, porque todas elas são caras gastas...
Bem, a comunidade de língua portuguesa une-se na corrupção e na miséria. :)
O espírito crítico não pode estar em sintonia com o que se passa em Portugal neste momento: usar a democracia para destruir a democracia. A liberdade de imprensa tem os seus limites e não pode entrar em confronto com direitos fundamentais, nomeadamente a defesa do indivíduo. A democracia nunca foi a devassa da vida pública e privada: a oponião pública fabricada pela comunicação social não pode silenciar a diversidade de opiniões, a pluralidade de opiniões. Ditadura da informação é o caminho para a liquidação da democracia: não há vacas sagradas e muito menos vacas sagradas jornalistas. A comunicação social portuguesa está doente, gravemente doente e encharcada em más hormonas. Estamos a caminhar para o abismo total!
E o que acho mesmo estranho é o PCP e o Bloco de Esquerda estarem a fazer o jogo da Direita reaccionária e perigosa - e todos estão a revelar insanidade ao mundo. Portugal é um horror antropológico!
O PS precisa de operar urgentemente uma mudança interna e começar a travar a emissão irresponsável de opiniões, até porque está rodeado por duas direitas que são uma mesma direita fascista. Se não for rápido nessa acção, vai morrer neste caos fatal e Portugal mergulha na insanidade total.
O discurso da asfixia democrática ou da falta de liberdade de expressão - que supera a liberdade de imprensa, porque a liberdade dos cidadãos é superior à liberdade de meia dúzia de jornalistas deformados - é uma terrível mentira, até porque se não houvesse liberdade de expressão não estaríamos a ser intoxicados por esta campanha anti-patriótica contra o primeiro-ministro. Entre o futuro de Portugal e a liberdade de imprensa, a escolha está feita: o futuro é a nossa escolha. E a qualidade da democracia depende desta decisão fundamental - escolher Portugal contra os inimigos internos.
Aliás, o Presidente do Supremo Tribunal desmistificou a mente tortuosa de Judite de Sousa: a liberdade está acima da liberdade de dizer mal que caracteriza certa imprensa, nem toda felizmente: há jornalistas e jornalistas...
E - verdade seja dita - a comunicação social portuguesa precisa de uma reforma revolucionária, porque ela é uma das doenças de Portugal. Demasiado evidente... se tivessemos num país civilizado não seria necessário dizer isto - a nossa imprensa é estrume.
Bem, o post está encerrado: o assunto é complexo e os comentários que fiz aqui ajudam a tematizar o que no post ficou implícito.
Ah, a república só pode ser definida em termos negativos: a forma de governo que não é a monarquia. Não entrei nesse domínio porque não faz sentido discutir com a monarquia; por isso, apresentei a noção mais positiva de De Gaulle.
Outro problema diz respeito à pobreza e ao seu papel na política: o assunto é muito complexo e, no presente cenário, opto por uma das posições de Marx; não concebo a democracia sem a eliminação da pobreza. A questão foi aflorada quando disse que o pobre quer ser rico, mas não disse tudo - fica para outra oportunidade.
Arrasador, Francisco ! :)
É como diz: a ausência de sentido critico num contexto de manipulação sistemática da informação ( de todos os quadrantes ), liquida ainda no ovo qualquer projecto colectivo de uma vida melhor.
Mas há no seu texto um aspecto que a meu ver precisaria de especial clarificação. É que quando fala das elites, penso que essa referência devia ser desmultiplicada até ao seu nivel mais elementar, das elites locais, dos chefes de repartição, bem assim como quanto ao modo como a comunidade interage com as elites e as fabrica à imagem e semelhança da sua própria mediocridade. A mediocridade dos governantes reflecte apenas a mediocridade dos governados. Pessoalmente, tenho a maior dificuldade em acusar de mau governo o presidente da minha junta de frequesia quando nunca assiti a uma única assembleia que fosse. Isto para concluir que além de falta de sentido critico nos habita também uma enorme incapacidade auto-critica.
Abraço.
Olá Manuel Rocha
Sim, reconheço que não consegui articular todos os temas, talvez porque não quero ser um pessimista prático: prefiro ver na crise uma oportunidade para repensar Portugal.
Sim, o conceito de elite deve ser desmultiplicado, como diz: eu penso que ao nível local predomina a mesma lógica partidária e, nalguns casos, o poder local é usado como plataforma de projecção nacional, como mostra o caso do Porto. Além disso, tenho algum medo em usar o termo elite, até porque ele é utilizado por pessoas com pouca credibilidade.
Os últimos acontecimentos nacionais deixam-me sem vontade para repensar a república e vamos mais uma vez perder a oportunidade de fazer alguma coisa para construir um futuro melhor. Acho que não acredito nestes portugueses, mas não quero levar o meu pessimismo teórico até esse ponto: devemos conservar a esperança.
Ah, tem razão quando afirma que as mediocridades governante e governada alimentam-se uma à outra. Por isso, referi a destruição do ensino e da educação, a peça fundamental para fomentar a mudança qualitativa.
De certo modo, condenei a democracia representativa em nome da democracia participativa, mas não fui mais longe porque a democracia participativa exige novos espaços públicos e uma boa preparação política, o que não existe entre os governados. Algumas destas contradições são dialécticas: as contradições estão instaladas na realidade e não adianta solucioná-las na teoria: a solução é política e prática.
Por isso, referi a destruição do ensino e da educação, a peça fundamental para fomentar a mudança qualitativa.
Gramsci!!!
tem q fazer ja um post sobre ele!! :P
Já fiz um post sobre Gramsci para instruir o PS! :)
Eis o post aqui -
http://cyberdemocracia.blogspot.com/2009/10/ler-antonio-gramsci.html
A Filosofia navega em águas muito estranhas e perigosas: tudo é possível, incluindo a destruição premeditada da humanidade.
escapou-me esse do grasmci ehe
Axo q foi por n me ser particularmente simpatico.. :)
Take a look
http://www.presidencia.gob.ve/action/noticia/view_ver_mas?id_noticia_web=4029
Tou curioso pra saber o q o referendo do proximo dia 15 vai ditar lá na venezuela ^^
Bom fds 0/
Hannah Arendt pretende substituir as grandes narrativas da modernidade - desencantamento do mundo, alienação do homem, secularização - por outra: a processualização do mundo resultante da expansão da capacidade humana para agir na natureza e no mundo, o domínio tecnológico unificado, mas fica assustada e recua. Afinal, quase todos recuaram e, levando em conta os seus critérios, a sua narrativa é somente mais uma perspectiva... A filosofia é mesmo complicada.
... agir na natureza e na história.
Enfim, estamos perdidos e condenados: perante esta lógica imanente, não podemos ser optimistas.
Caro Francisco,
gostei de ler e vou analisar com os meus alunos este texto, a propósito do 5 de Outubro. Continuas com a mesma rebeldia, com que fazias frente ao célebre «Rapa», nas aulas de Latim e de Português.
Que bom rever-te!
Ab.,
Vitorino Almeida Ventura
O nosso professor de latim - fazia-nos a vida "negra" mas foi divertido.
Abraço
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