Casa da Pedra, Águas Férreas, Porto, onde Oliveira Martins viveu. Aqui - nesta casa portuense - realizaram-se muitas tertúlias da Geração de 70. Porto Mental: eis a nossa marca. |
«O homem é menos belo, o homem desceu, por isso mesmo que se tornou, de centro e objecto da civilização, em instrumento dessa própria civilização que, engrandecendo-se, o deprime.» (Oliveira Martins)
«Mais de uma vez me tem passado pela cabeça emigrar - porque a filosofia é excelente, mas antes disso é mister viver. E viver para mim, que não tenho riqueza, nem ofício ou profissão definida, é um problema, querendo, como quero, conservar-me limpo.» (Oliveira Martins)
«A androfagia aparece como um momento da evolução mental do homem, exprimindo a primeira definição dos sentimentos guerreiros. Demonstra já um elevado grau de capacidade moral, e provém exclusivamente de um movimento da inteligência. A revolução natural deu-se quando de herbívoro o homem se tornou carnívoro; e o canibalismo, atingido agora, não tem importância para o organismo: a carne das rezes e a dos homens é uma e a mesma carne. /Como negar, pois, que o canibalismo seja relativamente um passo enorme andado na evolução moral do homem, se daí nascem as religiões? Ainda hoje a androfagia é um rito entre selvagens nossos contemporâneos: devorar o inimigo é para eles comungar; cada parte do corpo tem virtudes suas: o coração trincado dá-lhes força, o sangue bebido conserva-lhes a vida; e os olhos engolidos aumentam-lhes a perspicácia.» (Oliveira Martins)
Vou apresentar as obras de Oliveira Martins (1845-1894) pela data da sua publicação, tecendo alguns comentários sobre cada uma delas. A edição das obras completas (Guimarães Editores) compreende - tanto quanto sei - 43 volumes.
«A androfagia aparece como um momento da evolução mental do homem, exprimindo a primeira definição dos sentimentos guerreiros. Demonstra já um elevado grau de capacidade moral, e provém exclusivamente de um movimento da inteligência. A revolução natural deu-se quando de herbívoro o homem se tornou carnívoro; e o canibalismo, atingido agora, não tem importância para o organismo: a carne das rezes e a dos homens é uma e a mesma carne. /Como negar, pois, que o canibalismo seja relativamente um passo enorme andado na evolução moral do homem, se daí nascem as religiões? Ainda hoje a androfagia é um rito entre selvagens nossos contemporâneos: devorar o inimigo é para eles comungar; cada parte do corpo tem virtudes suas: o coração trincado dá-lhes força, o sangue bebido conserva-lhes a vida; e os olhos engolidos aumentam-lhes a perspicácia.» (Oliveira Martins)
Vou apresentar as obras de Oliveira Martins (1845-1894) pela data da sua publicação, tecendo alguns comentários sobre cada uma delas. A edição das obras completas (Guimarães Editores) compreende - tanto quanto sei - 43 volumes.
1867: Febo Monis. (Livro de intenção política quanto ao problema do federalismo ibérico.)
1869: Teófilo Braga e o Cancioneiro e o Romanceiro Português. (Durante este período, Oliveira Martins escreveu algumas peças teatrais que, tanto quanto sei, ainda são inéditas.)
1872: Os Lusíadas: Ensaio sobre Camões e a sua Obra. (Obra revista e ampliada em 1891, sendo reeditada com o título - Camões e os Lusíadas.)
1872: A Teoria do Socialismo: Evolução Política e Económica das Sociedades Europeias.
1873: Portugal e o Socialismo: Exame Constitucional da Sociedade Portuguesa e a sua Reorganização pelo Socialismo. (Oliveira Martins elabora nestas duas últimas obras a sua própria perspectiva da sociedade portuguesa, de modo a propor a sua reconstrução e reorganização pelo socialismo. Infelizmente, o socialismo de Oliveira Martins tem a marca de Proudhon!)
1877: A Reorganização do Banco de Portugal. (Opúsculo de intervenção política e de análise económica.)
1878: Circulação Fiduciária. (Com este opúsculo Oliveira Martins ganhou o concurso aberto pela Academia das Ciências para uma memória sobre o melhor sistema de circulação fiduciária.)
1878: As Eleições. (Opúsculo de intervenção política.)
1878: O Helenismo e a Civilização Cristã. (A grande obra de filosofia de Oliveira Martins.)
1879: História da Civilização Ibérica. (Obra interessante, da qual retemos a ideia de que a decadência peninsular é obra do Catolicismo.)
1879: História de Portugal. (Como escreve António Sérgio: «A História de Portugal é o livro de um feiticeiro, mas não de um mestre, - apesar do intuito de nos ministrar, pelo exame crítico dos factos, as lições políticas correspondentes». Nem sempre concordo com as análises críticas de António Sérgio: a História de Portugal de Oliveira Martins é, tal como a História de Roma de Mommsen (Prémio Nobel da Literatura), uma obra de arte literária.)
1879: História de Portugal. (Como escreve António Sérgio: «A História de Portugal é o livro de um feiticeiro, mas não de um mestre, - apesar do intuito de nos ministrar, pelo exame crítico dos factos, as lições políticas correspondentes». Nem sempre concordo com as análises críticas de António Sérgio: a História de Portugal de Oliveira Martins é, tal como a História de Roma de Mommsen (Prémio Nobel da Literatura), uma obra de arte literária.)
1880: O Brasil e as Colónias Portuguesas. (Ensaios de história económica nacional.)
1880: Elementos de Antropologia. (Uma história natural do Homem: obra importante para a elaboração de uma antropologia filosófica. A posição de Oliveira Martins aproxima-o do esquema das antropologias filosóficas produzidas na Alemanha.)
1881: Portugal Contemporâneo. (Esta obra - injustamente esquecida - desacredita a Dinastia de Bragança, pelo menos foi essa a marca que nos deixou. Portugal Contemporâneo - 2 vols. - começa onde a História de Portugal tinha terminado: ambas as obras fornecem-nos uma filosofia da História de Portugal, que, apesar da ausência da influência de Marx, se articula com uma filosofia política e uma praxis de intervenção política nacional. Esta filosofia da História de Oliveira Martins continua a ser actual.)
1881: As Raças Humanas e a Civilização Primitiva (2 vols.). (Obra de divulgação, com um poderoso toque de génio pessoal: o que é lamentável é o facto de Oliveira Martins não ter compreendido o conceito de espécie, tal como funciona na teoria da evolução de Darwin. Porém, Oliveira Martins captou os grandes momentos do pensamento biológico: a visão tipológica e a visão populacional evolucionista.)
1882: Sistema dos Mitos Religiosos. (Obra de divulgação que merece ser revisitada pela filosofia da religião.)
1883: Quadro das Instituições Primitivas. (Obra de divulgação genial.)
1883: O Regime das Riquezas. (Obra brilhante de divulgação.)
1884: Taboas de Cronologia. (Oliveira Martins foi um divulgador de génio. Muitas destas obras foram escritas para suportar e preencher os tópicos do seu projecto pessoal da Biblioteca das Ciências Sociais, anunciado em 1879.)
1884: O Empréstimo Real de 1832. (Este opúsculo não foi lançado no mercado.)
1885: História da República Romana (2 vols.). (Uma obra arrojada que merece figurar ao lado da História Social e Económica do Império Romano de Rostovtzeff e da História de Roma de Theodor Mommsen. A defesa do cesarismo socializante, tão criticado por António Sérgio!)
1885: Política e Economia Nacional. (Ensaios brilhantes de história económica nacional.)
1887: Projecto de Lei sobre o Fomento Rural. (Na edição das obras completas, intitula-se Fomento Rural e Emigração. Estudo brilhante!)
1887: Projecto de Lei sobre o Fomento Rural. (Na edição das obras completas, intitula-se Fomento Rural e Emigração. Estudo brilhante!)
1889: Portugal nos Mares (2 vols.). (Ensaios de história económica nacional.)
1891: Os Filhos de D. João I (2 vols.). (Ensaio histórico sobre a Dinastia de Avis.)
1891: Portugal em África. (Ensaios de história económica nacional. Convém dizer que Oliveira Martins escreveu bons ensaios de economia.)
1892: A Inglaterra de Hoje. (Conjunto de cartas escritas durante o seu exílio em Londres e dirigidas ao Jornal do Comércio do Rio de Janeiro.)
1893: Vida de Nun'Álvares. (Ensaio histórico.)
1892: Começa a escrever O Príncipe Perfeito. (Obra inacabada, publicada, com uma introdução de Barros Gomes, em 1896).
1892: Começa a escrever O Príncipe Perfeito. (Obra inacabada, publicada, com uma introdução de Barros Gomes, em 1896).
1895: Cartas Peninsulares. (Oliveira Martins morreu em 1894: o que quer dizer que esta obra é póstuma, sendo constituída pelas cartas que escreveu durante a sua viagem a Espanha, todas elas dirigidas ao Jornal do Comércio do Rio de Janeiro.) A colaboração de Oliveira Martins em diversos jornais e revistas foi editada postumamente em livros - tais como Política e História (2 vols.), O Repórter (2 vols.), A Província (5 vols.), Jornal (Dispersos) e Literatura e Filosofia.
J Francisco Saraiva de Sousa
2 comentários:
A Casa fica em Ramalde!
Ai, que vergonha, fica em Cedofeita e, nesta casa, ocorreram as tertúlias da Geração 70.
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