Porto ao anoitecer |
Não pretendo comentar o debate Prós e Contras de ontem (26 de Março), mas, desta vez, Fátima Campos Ferreira dispensou a presença envelhecida das figuras tutelares dos seus debates e convidou novas figuras da sociedade civil para debater o estado de espírito dos portugueses, sujeito - como está! - às chicotadas permanentes do Ministro das Finanças e da EDP. A pergunta que interroga pelo estado de espírito dos portugueses neste tempo sombrio de crise é puramente retórica. Depois de pagar todas as suas contas mensais, sobretudo a renda ou prestação de casa e as contas da electricidade, do gás e da água, o espírito dos portugueses não pode presentear a alma com ânimo. Neste momento, a alma e o espírito dos portugueses estão divorciados: o espírito não dá ânimo à alma e a alma não alimenta o espírito. Os portugueses não estão preparados para fazer a longa travessia, porque o seu espírito já não é capaz de abrir caminhos, de os iluminar e de pôr a alma a caminho. (A Irmã Fátima, uma das convidadas que encantou Herman José, o humorista que cultiva os "melhores grelos da margem sul", falou de espiritualidade, dando ao espírito o sentido espiritual de pneuma (grego) e de spiritus (latim). Mas o espírito de que falo aqui - mais inspirado no ruah (hebraico) - é a chama do entusiasmo que inflama e que nos caça e nos extasia, lançando-nos, a cada um de nós, para fora de si mesmo. O resgate do espírito do jazigo do esquecimento implica a elaboração de uma pneumatologia filosófica, capaz de transcender o velho dualismo ocidental: o Espírito, esse sopro de vida que habita o mundo, em toda a sua espessura carnal e material, leva os homens a lutar contra a opressão e a iniciar uma vida nova, fazendo deles sujeitos activos dessa vida nova, em comunhão com a natureza e a história resgatadas.) Sem chama que o inflama, o espírito dos portugueses já nem sequer é capaz de sentir a dor que dilacera: ele está morto! Passos Coelho, o Ministro das Finanças e a EDP mataram-no! O Congresso do PSD limitou-se a reafirmar a morte de Portugal, cujo anoitecer já não promete uma nova aurora. Portugal é noite, não noite azul mas noite escura!
J Francisco Saraiva de Sousa
1 comentário:
Bem, acabei por comentar mostrando a via a seguir. :)
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