Porto: Ponte D. Luís I |
Alfredo da Cunha e Augusto Xavier da Silva Pereira afirmam ser o Diário do Porto o primeiro periódico a circular em Portugal: o seu primeiro número saiu, na cidade do Porto, a 5 de Abril de 1809, «com permissão e aprovação do governo». Rocha Martins caracteriza-o como «obra infame e infecta dum português alacaiado, dos que estão sempre prontos a rastejar, um daqueles "homens de viva quem vence"». O Diário do Porto era a folha oficial do invasor francês, que encarnava o espírito da liberdade contra o absolutismo régio. No seu primeiro número, tece grandes louvores ao marechal Soult, a quem chama «herói em cujo coração se disputam a primazia, o valor e a humanidade», e noticia abundantemente os avanços e vitórias do exército francês. (O Porto também teve o seu período francês, que, apesar de tudo, não durou muito tempo, porque os portuenses souberam organizar-se contra Junot e expulsar os franceses da cidade.) A colecção da Biblioteca Nacional de Lisboa compreende apenas cinco números, datando o último de 6 de Maio de 1809. José Tengarrinha, cuja História da Imprensa Periódica Portuguesa admiro, contesta sem razão a tese defendida por Alfredo da Cunha, alegando que o primeiro periódico português publicado diariamente foi o Diário Lisbonense, fundado por Estêvão Brocard, cujo primeiro número apareceu a 1 de Maio de 1809. Esta polémica não faz grande sentido, porque estamos diante dos dois primeiros periódicos portugueses, sendo o Diário do Porto quase um mês anterior ao Diário Lisbonense. O que importa destacar é que, em matéria de imprensa, Portugal e as suas colónias - incluindo o Brasil que, no período histórico que me interessa, ainda era uma colónia portuguesa - acompanharam sempre o movimento da imprensa mundial, sem nenhum tipo de atraso. Em Portugal, formou-se efectivamente uma esfera pública, política e literária, polarizada e «disputada» entre o Porto e Lisboa, para já não falar dos outros pólos ultramarinos, como por exemplo Rio de Janeiro (Brasil), Goa (Índia), Lourenço Marques (Moçambique) e Luanda (Angola). (O período áureo da esfera pública portuense vai dos finais do século XVII até meados do século XX: o Porto Oitocentista é o momento mais glorioso da esfera pública portuense.) Hoje vivemos o período de decadência dessa esfera pública, o período da sua refeudalização política. Associo esta corrupção da esfera pública à profissionalização do jornalismo e, no caso português, ao centralismo cavaquista que empobreceu dramaticamente Portugal: o jornalismo manipulador sepultou o jornalismo crítico. A perda da função crítica foi fatal para a esfera pública em todos os cantos do mundo.
J Francisco Saraiva de Sousa
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