Parque da Cidade, Porto |
«Perguntou o Senhor, para que os senhores que mandam o mundo se não desprezem de perguntar. Se pergunta a sabedoria divina, porque não perguntará a ignorância humana? Mas esse é o maior argumento de ser ignorância. Quem não pergunta, não quer saber; quem não quer saber, quer errar. Há porém ignorantes tão altivos (os políticos portugueses, por exemplo), que se desprezam de perguntar, ou porque presumem que tudo sabem, ou porque se não presuma que lhes falta alguma cousa por saber. Deus guie a nau onde estes forem os pilotos». (Padre António Vieira)
Em Portugal, não há futuro! Sei isso desde que nasci; no entanto, tenho procurado combater esse fado através da reavaliação crítica da História de Portugal e da sua missão civilizadora no mundo. Hoje surgiu-me este título: Sistemas Fechados e Mentes Abertas. Ele permite pensar a situação desesperada do verdadeiro intelectual na sociedade portuguesa: ser exilado no seu próprio país. Mas não foi a pensar na situação dos intelectuais que forjei esta dialéctica do mundo fechado e da mente aberta: o que me preocupa é a reformulação do pensamento dialéctico, isto é, a elaboração de novas categorias dialécticas. Do meu contributo para a renovação da dialéctica destaca-se a ideia-força da dialéctica como abertura total ao mundo, que, no plano da filosofia da história, elucidei na concepção apocalíptica da história. Sou por natureza um ser da imaginação, mais precisamente um fabricador de mundos futuros que tento concretizar sem sucesso neste ermo que é Portugal. É a imaginação que permite a mudança quando o mundo entra em crise profunda: a utopia como método de pensamento domina os séculos de profundas mutações. Porém, quando liberto a minha imaginação, faço-o a partir da reformulação do passado, prestando neste caso homenagem a Comte, para o qual «a humanidade é mais povoada de mortos do que de vivos». Daí a minha preocupação recente em zelar pela memória do Império Colonial Português. Esta preocupação histórica não tem nada de surpreendente se pensarmos que vivemos num mundo cada vez mais global. O meu espírito carrega todos os mortos que estão por detrás de mim e que continuam a comandar-me e a orientar-me na direcção de um determinado rumo - a construção de um mundo aberto e plural. Neste aspecto em particular, sou muito teimoso: desejo construir um novo mundo seguindo a direcção que foi trabalhada pelos meus antepassados. Não sou um aventureiro demolidor, mas uma mente aberta num mundo fechado. Demolidor foi Samora Machel que, em nome de uma falsa ideia, demoliu todo o passado de Moçambique, mergulhando os moçambicanos na miséria. A verdadeira dialéctica é uma espécie de fusão entre passado e futuro, entre memória e imaginação. Ou talvez fosse melhor dizer: o momento dialéctico por excelência é aquele em que a memória se converte em imaginação. Os países que formam a comunidade lusófona são os herdeiros da geografia física e mental do Império Colonial Português: romper com o passado colonial e com o legado civilizacional português implica um retrocesso civilizacional. O colonialismo inscreve-se na lógica dos contactos entre civilizações ou culturas, abrindo às culturas menos desenvolvidas as portas do futuro. Os moçambicanos e os angolanos ocidentalizados - mentes ocidentais, mentes abertas, formadas nas universidades portuguesas e europeias - desejam o desenvolvimento dos seus países, mas, ao combater o colonialismo, são forçados a revitalizar um passado arcaico que bloqueia o próprio desenvolvimento. É muito difícil viver em dois mundos completamente distintos ou mesmo opostos, quase tão difícil como ser homossexual num mundo homofóbico, com a agravante de ser um homossexual duplamente "estigmatizado", pela orientação sexual e pela cor da pele. Ou melhor: é mais difícil ser branco e negro ao mesmo tempo do que ser homossexual: os preconceitos sexuais e raciais podem ser combatidos e superados, enquanto que o desenvolvimento não pode ser alcançado quando se revitaliza um passado arcaico, profundamente avesso à própria história. Não consigo imaginar nenhuma fórmula mágica que nos permita ser primitivos e civilizados ao mesmo tempo: lá onde emerge o primitivo o civilizado desaparece. A dialéctica histórica que proponho visa salvar o mundo do retrocesso civilizacional. A mente aberta deseja abrir o mundo à mudança qualitativa e só há um caminho a seguir: superar os mundos fechados.
Anexo: Já tinha lançado a noção de Comunidade PT a propósito da pesquisa de sites Web-cam. Bem, agora essa comunidade auto-promove-se alegando que os seus utentes são os seres mais bem-dotados do planeta. O orgulho PT é, neste momento, um orgulho fálico: ter um falo PT é marca de distinção. Já nem sei o que pensar da comunidade PT, mas o certo é que ela está muito unida.
J Francisco Saraiva de Sousa
Em Portugal, não há futuro! Sei isso desde que nasci; no entanto, tenho procurado combater esse fado através da reavaliação crítica da História de Portugal e da sua missão civilizadora no mundo. Hoje surgiu-me este título: Sistemas Fechados e Mentes Abertas. Ele permite pensar a situação desesperada do verdadeiro intelectual na sociedade portuguesa: ser exilado no seu próprio país. Mas não foi a pensar na situação dos intelectuais que forjei esta dialéctica do mundo fechado e da mente aberta: o que me preocupa é a reformulação do pensamento dialéctico, isto é, a elaboração de novas categorias dialécticas. Do meu contributo para a renovação da dialéctica destaca-se a ideia-força da dialéctica como abertura total ao mundo, que, no plano da filosofia da história, elucidei na concepção apocalíptica da história. Sou por natureza um ser da imaginação, mais precisamente um fabricador de mundos futuros que tento concretizar sem sucesso neste ermo que é Portugal. É a imaginação que permite a mudança quando o mundo entra em crise profunda: a utopia como método de pensamento domina os séculos de profundas mutações. Porém, quando liberto a minha imaginação, faço-o a partir da reformulação do passado, prestando neste caso homenagem a Comte, para o qual «a humanidade é mais povoada de mortos do que de vivos». Daí a minha preocupação recente em zelar pela memória do Império Colonial Português. Esta preocupação histórica não tem nada de surpreendente se pensarmos que vivemos num mundo cada vez mais global. O meu espírito carrega todos os mortos que estão por detrás de mim e que continuam a comandar-me e a orientar-me na direcção de um determinado rumo - a construção de um mundo aberto e plural. Neste aspecto em particular, sou muito teimoso: desejo construir um novo mundo seguindo a direcção que foi trabalhada pelos meus antepassados. Não sou um aventureiro demolidor, mas uma mente aberta num mundo fechado. Demolidor foi Samora Machel que, em nome de uma falsa ideia, demoliu todo o passado de Moçambique, mergulhando os moçambicanos na miséria. A verdadeira dialéctica é uma espécie de fusão entre passado e futuro, entre memória e imaginação. Ou talvez fosse melhor dizer: o momento dialéctico por excelência é aquele em que a memória se converte em imaginação. Os países que formam a comunidade lusófona são os herdeiros da geografia física e mental do Império Colonial Português: romper com o passado colonial e com o legado civilizacional português implica um retrocesso civilizacional. O colonialismo inscreve-se na lógica dos contactos entre civilizações ou culturas, abrindo às culturas menos desenvolvidas as portas do futuro. Os moçambicanos e os angolanos ocidentalizados - mentes ocidentais, mentes abertas, formadas nas universidades portuguesas e europeias - desejam o desenvolvimento dos seus países, mas, ao combater o colonialismo, são forçados a revitalizar um passado arcaico que bloqueia o próprio desenvolvimento. É muito difícil viver em dois mundos completamente distintos ou mesmo opostos, quase tão difícil como ser homossexual num mundo homofóbico, com a agravante de ser um homossexual duplamente "estigmatizado", pela orientação sexual e pela cor da pele. Ou melhor: é mais difícil ser branco e negro ao mesmo tempo do que ser homossexual: os preconceitos sexuais e raciais podem ser combatidos e superados, enquanto que o desenvolvimento não pode ser alcançado quando se revitaliza um passado arcaico, profundamente avesso à própria história. Não consigo imaginar nenhuma fórmula mágica que nos permita ser primitivos e civilizados ao mesmo tempo: lá onde emerge o primitivo o civilizado desaparece. A dialéctica histórica que proponho visa salvar o mundo do retrocesso civilizacional. A mente aberta deseja abrir o mundo à mudança qualitativa e só há um caminho a seguir: superar os mundos fechados.
Anexo: Já tinha lançado a noção de Comunidade PT a propósito da pesquisa de sites Web-cam. Bem, agora essa comunidade auto-promove-se alegando que os seus utentes são os seres mais bem-dotados do planeta. O orgulho PT é, neste momento, um orgulho fálico: ter um falo PT é marca de distinção. Já nem sei o que pensar da comunidade PT, mas o certo é que ela está muito unida.
J Francisco Saraiva de Sousa
2 comentários:
Clique sobre a imagem para a ampliar!
Bem, escapei ao miolo da dialéctica proposta. Afinal, não há dialéctica sem conteúdos de pensamento.
Estou contente com a revolução silenciosa que gerei... :)
Enviar um comentário