Colapso do Mundo |
O mundo civilizado entrou em colapso e não sei se vamos a tempo de o salvar. A única civilização que o poderia tentar salvar - o Ocidente - está de tal modo decadente que ameaça precipitar o colapso do mundo. A política tornou-se incapaz de curar a doença que ela própria gerou desde o século das luzes. A luta contra a escuridão do mito mergulhou o Ocidente numa outra mitologia obscura que eclipsou a própria qualidade da humanidade. As multidões obscuras de indivíduos ditos humanos infestam a vida cultural e social do mundo civilizado. Hoje, o homem é o seu maior inimigo. Em épocas de crise profunda, como a nossa, os pensadores voltam-se geralmente para o passado em busca da seiva que alimentou originariamente a sua tradição. Porém, neste mundo indigente, onde todos pensam ser iguais uns aos outros, merecendo todos a mesma dignidade, não há passado que resista à voracidade da sua estupidez. A Grande Política - se quiser salvar o mundo - já não pode evitar a Guerra. É urgente libertar o planeta do excesso demográfico que o devora. O progresso produziu o seu próprio contrário, a regressão, e, ao fazê-lo, desvalorizou o próprio homem em nome do qual devastou a natureza. Ora, esta desvalorização do homem permite-nos dar um salto qualitativo: salvar o planeta e adiar a catástrofe. A guerra - militar e/ou biológica - que adia a catástrofe é legítima e justa. Salvar o planeta e a civilização dos bárbaros que ameaçam destruí-los é a tarefa da Grande Política. O excesso de humanidade é uma doença letal: os homens que se comportam como meros animais domésticos não merecem a "vida" que reivindicam. O futuro só pode ser conquistado contra estes homens que abdicaram da sua humanidade: a sua morte não ameaça a continuidade da aventura humana na Terra, bastando assistir ao reality show da TVI - Secret Story 2 - para nos convencermos da miséria do animal humano que julga ser alguma coisa neste mundo alucinado. (Os concorrentes são de tal modo alucinados que perderam a consciência da sua própria ignorância e a vergonha. Eles já não vivem numa sociedade humana; vivem em manada, como se fossem gado bovino. O reality show é um pequeno retrato do triste e feio mundo que foi produzido nas últimas décadas. Quem pode confiar o futuro aos seus néscios habitantes?)
Tenho tentado redefinir a agenda política de uma Nova Esquerda, atribuindo-lhe como missão fundamental a salvação e a revitalização do Ocidente. Esta redefinição da política de Esquerda implica uma auto-crítica: a Esquerda deve assumir a sua própria culpa neste processo de degradação civilizacional. No post anterior, dedicado à teoria da consciência moral de Platão, elogiei Ésquilo. Reconheço: adoro a tragédia grega. Os poetas trágicos gregos também eram grandes filósofos: há afinidades estruturais entre a filosofia de Pitágoras e a tragédia de Ésquilo ou entre a filosofia de Heráclito e a tragédia de Sófocles. Infelizmente, com a excepção de obras fabulosas de autores ingleses e alemães, a Filosofia da Tragédia é ignorada pelos analfabetos diplomados do nosso tempo decadente. Entre estes dois pares de articulação entre filosofia e tragédia, opto pela articulação entre Heráclito e Sófocles: o par Heráclito-Sófocles rejeita a primazia da reconciliação sobre o conflito. Pitágoras definiu a média como fusão dos contrários, fazendo da unidade um absoluto. Uma vez realizada, a unidade torna-se permanente, o que levou Ésquilo a opor-se à política dos democratas radicais que se esforçavam por modificar a nova constituição democrática de Atenas. Quando o pensamento de esquerda idolatra a reconciliação, como se fosse algo permanente, ele abdica da sua própria matriz de pensamento. Se há absolutos na dialéctica, eles só podem ser o conflito, o movimento e o desenvolvimento. A luta entre contrários tem prioridade sobre a sua unidade, de resto mera ilusão da dialéctica que não ousou libertar-se do opressor. (A luta também tem prioridade sobre os seus elementos.)
J Francisco Saraiva de Sousa
Tenho tentado redefinir a agenda política de uma Nova Esquerda, atribuindo-lhe como missão fundamental a salvação e a revitalização do Ocidente. Esta redefinição da política de Esquerda implica uma auto-crítica: a Esquerda deve assumir a sua própria culpa neste processo de degradação civilizacional. No post anterior, dedicado à teoria da consciência moral de Platão, elogiei Ésquilo. Reconheço: adoro a tragédia grega. Os poetas trágicos gregos também eram grandes filósofos: há afinidades estruturais entre a filosofia de Pitágoras e a tragédia de Ésquilo ou entre a filosofia de Heráclito e a tragédia de Sófocles. Infelizmente, com a excepção de obras fabulosas de autores ingleses e alemães, a Filosofia da Tragédia é ignorada pelos analfabetos diplomados do nosso tempo decadente. Entre estes dois pares de articulação entre filosofia e tragédia, opto pela articulação entre Heráclito e Sófocles: o par Heráclito-Sófocles rejeita a primazia da reconciliação sobre o conflito. Pitágoras definiu a média como fusão dos contrários, fazendo da unidade um absoluto. Uma vez realizada, a unidade torna-se permanente, o que levou Ésquilo a opor-se à política dos democratas radicais que se esforçavam por modificar a nova constituição democrática de Atenas. Quando o pensamento de esquerda idolatra a reconciliação, como se fosse algo permanente, ele abdica da sua própria matriz de pensamento. Se há absolutos na dialéctica, eles só podem ser o conflito, o movimento e o desenvolvimento. A luta entre contrários tem prioridade sobre a sua unidade, de resto mera ilusão da dialéctica que não ousou libertar-se do opressor. (A luta também tem prioridade sobre os seus elementos.)
J Francisco Saraiva de Sousa
3 comentários:
Surgiu um vídeo da China onde um carrinha atropela intencionalmente uma miúda pequena, passa-lhe com as duas rodas, depois passam 18 pessoas sem lhe ligar e outra carrinha esmaga-lhe as pernas - tudo isto dentro de um armazém. Imagens chocantes... o mundo está bárbaro.
Este episódio ajuda a descodificar a mensagem dentro da garrafa. :)))
Estou convencido de que o mundo precisa de um grande abanão para as pessoas acordarem: elas andam anestesiadas e iludidas. Perderam a coragem...
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