Wanderson Lima publicou este ensaio - Sabato e Dostoiévski ou o Túnel e o Subsolo, cuja leitura recomendo. Aproveito esta oportunidade para divulgar a pintura de Maria Lassnig: a temática da sensibilidade corporal aparece aqui "retratada" no ambiente do Hospital. Uma série de "imagens" pinceladas do envelhecimento da Europa? Uma tentativa desesperada de conservar a sensibilidade do corpo sabendo que já não há futuro? E o que pensar das figuras obesas na sua relação com o erotismo? Dos homens com pénis de criança e das mulheres com vaginas secas? Um estudo interessante seria articular estes imaginários-mundos da pintura e da literatura contemporâneas. O universo pictórico de Maria Lassnig é carente de mundo: as suas figuras transfiguradas e desfiguradas são tão a-mundanas como as figuras animais da arte rupestre, mas, ao contrário desta última, a arte visual de Maria Lassnig não é uma arte realista. A este propósito da perda do mundo próprio do homem, a pintura de Arnulf Rainer é desconcertante e brutalmente provocante quando transfigura as figuras mortuárias, isto é, as figuras sem mundo. O sem-mundo tornou-se fatalmente o nosso destino. A explicitação desta nova categoria estética - o sem-mundo - exige um diálogo produtivo com a estética de Georg Lukács. A pintura contemporânea sugere-me esta categoria estética do sem-mundo que não identifico com o conceito ontológico de sem-abrigo: o que posso dizer é que o homem enquanto ser-sem-abrigo é, neste momento de eclipse total do Ocidente, um ser-sem-mundo. Pensar o sem-mundo é pensar a morte, o ocaso, a catástrofe.
J Francisco Saraiva de Sousa
1 comentário:
Coreia do Sul, Bem-vinda!
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