Brain: tudo o que falta aos portugueses! |
«Na URSS, a violência e a fraude são (eram) oficiais, a humanidade existe (existia) na vida quotidiana. Nas democracias, pelo contrário, os princípios são humanos, mas a fraude e a violência encontram-se na prática. A partir daí, a propaganda possui vasto campo de manobra.» (Maurice Merleau-Ponty)
Prós e Contras (7 de Novembro) debateu o futuro do euro, deixando a impressão geral de que os participantes desconhecem a realidade efectiva portuguesa. Para denunciar esse desconhecimento, escolhi a imagem azul da fonte orgânica do conhecimento: o nosso órgão da vida em relação. Penso que, pelo menos, dois dos convidados de Fátima Campos Ferreira - João Ferreira do Amaral e António Hespanha - estarão, de certo modo, em sintonia com esta escolha imagética, na medida em que ambos defenderam a necessidade de discutir localmente - nalguma gruta subterrânea - alternativas ao chamado Plano A, de resto imposto pela troika. Pedro Santa-Clara assustou-se com a proposta de saída concertada de Portugal da zona Euro, avançada por Ferreira do Amaral que já tinha criticado a nossa entrada nessa zona. Pedro Santa-Clara acredita em milagres externos e, tal como a avestruz, esconde a cabeça na areia quando é desafiado a pensar alternativas. João Borges de Assunção favoreceu o fatalismo, lembrando que, neste momento, Portugal está dependente do pensamento externo. Não preciso perder mais tempo para mostrar que os intelectuais portugueses são incapazes de pensar o futuro de Portugal, o que não abona a favor da sua tese da excelência (sic) das universidades portuguesas, a mentira fatal que irá mergulhar o país no limbo obscuro. Quando afirmou - e com razão - que todos os portugueses - governantes e governados - são responsáveis pela situação de falência total em que se encontram, Borges de Assunção - para ser coerente - não podia excluir desse conjunto a população universitária a que pertence. As universidades portuguesas - tal como as restantes instituições sociais, públicas e privadas - nunca se pautaram pelo mérito, a começar desde logo pelo recrutamento de docentes: Portugal é uma fraude malvada atravessada de lés a lés pela corrupção. E é por ser uma fraude malvada, uma cloaca comportamental, que se encontra na situação em que está: a maldade patológica dos portugueses conduziu o país até ao abismo. A crise externa limitou-se a precipitar a sua queda, confrontando os portugueses com a sua própria estupidez diplomada. Observado a partir das alturas de uma nave extraterrestre, Portugal não merece ser salvo: tudo o que virá a acontecer aos portugueses será justo, profundamente justo. Ao contrário do que se diz nestes debates, os portugueses não desfrutam de boa-fama no estrangeiro. De facto, conversando com um português, é muito difícil sentir simpatia por ele. Para haver criação genuína, é preciso afastar os portugueses, que, como se sabe, além de serem malvados e invejosos, se comportam como macacos imitadores, sem compreenderem realmente aquilo que imitam: o voluntarismo histérico dos portugueses é o sinal mais evidente da sua fatal indigência mental e cognitiva. A única maneira que encontro de ajudá-los é oferecer-lhes umas orelhas de burro, na vã esperança de que esse estigma os liberte da sua malvadez. O discurso que diz a verdade magoa, mas, sem ele, não é possível pensar o futuro novo. Há alternativas demasiado evidentes, mas não há vontade para as partilhar com pessoas malvadas: os malvados devem ser punidos e não ajudados. Portugal está sozinho e sem desculpa, estando a colher o que semeou ao longo destas últimas décadas de delírio nacional. O Norte estigmatiza o Sul latino e, à luz da sabedoria imparcial da nave extraterrestre, não há nada que abone a favor da causa dos países do Sul: Grécia, Portugal, Itália e Espanha, bem como a França. (Delfim Leão abordou o problema grego como se a Grécia de hoje fosse a Grécia Antiga. Ora, não é e, por isso, não vale a pena perder tempo com essa quimera.)
A única "grande novidade" deste debate - aquela que merece ser pensada e discutida - é a já conhecida saída de Portugal da zona Euro. Ferreira do Amaral foi peremptório: o projecto político da zona euro está morto, alegando duas razões: nenhum país devia entrar em incumprimento e o domínio da Alemanha, com a sua política da moeda forte. A situação aflitiva da Itália não permite a continuação da zona euro, porque a Europa não tem meios para a ajudar, como ficou demonstrado nesta última cimeira do G20, onde os lideres europeus se insultaram uns aos outros. O problema da dívida da Itália é "ingerível" não só para os próprios italianos, como também para a Europa. A desagregação do euro entrou em ritmo acelerado e a única solução para a travar seria o BCE emitir dinheiro para ajudar os países em dificuldade. Mas, como essa solução implica uma moeda fraca, a Alemanha opõe-se. Coube a Pedro Santa-Maria recusar esta proposta de saída da zona euro, alegando contra ela a falência do sistema financeiro, entre outros pormenores. O que ele parece não ter compreendido é um princípio muito simples, que Ferreira do Amaral enunciou deste modo: o afunilar do debate nacional pode ser fatal para o futuro de Portugal. Deixar correr o tempo significa perder alternativas e, quando for necessário tomar uma decisão radical, já não haverá alternativas a não ser a catástrofe, como sucedeu com a descolonização. Ferreira do Amaral e António Hespanha defenderam a necessidade de debater alternativas, isto é, os Planos B's, mas os outros dois convidados preferiram apostar no pensamento táctico, sacrificando o pensamento estratégico. Para Borges de Assunção, Portugal não tem outra alternativa a não ser caminhar o caminho estreito para chegar ao fim, fim este que não está garantido. Angela Merkel afirmou que esta crise vai demorar dez anos para ser resolvida: o que quer dizer que, daqui a dez anos, não haverá economia, estando toda a Europa mergulhada no caos. É muito difícil pensar novas alternativas sem questionar o capitalismo que gera as crises: o que devia estar em questão é o próprio destino do capitalismo. A receita proposta por Pedro Santa-Clara - reduzir o nível de vida e aumentar o nível de produção - mais não é do que uma tentativa de prolongar a vida do moribundo, sacrificando as pessoas. Repare-se que não estou a impugnar a própria receita ou mesmo as restantes medidas micro-económicas propostas por Pedro Santa-Clara, como por exemplo forçar a EDP a reduzir os custos da electricidade: o que estou a fazer é dar razão a António Hespanha quando afirmou que esta discussão já dura há mais de um ano sem ter gerado qualquer aquisição positiva. De resto, não concordo estruturalmente com nenhuma das análises apresentadas, porque todas elas partem de um conhecimento insuficiente da realidade nacional e internacional, baseado em estatísticas forjadas para manipular a realidade em função de uma determinada perspectiva do mundo, precisamente aquela que está em crise. Para descobrir uma saída para a crise profunda em que vive, o Ocidente precisa de realizar a auto-crítica do seu legado histórico-civilizacional. Meus amigos, há um conhecimento que quero partilhar convosco: a tecnologia não é, em si mesma, neutral. A tecnologia está a conduzir o mundo à catástrofe final: tudo aquilo que se atribui ao progresso tecnológico como se fosse uma conquista civilizacional é uma fatalidade. Ao contrário do que pensam os convidados de Fátima Campos Ferreira, o prolongamento da vida humana não é uma bênção; pelo contrário, é uma maldição que condena o Ocidente ao eclipse civilizacional. O Estado Social está em crise porque - entre tantas outras razões - os europeus prolongaram exageradamente a sua vida, bloqueando a própria renovação da vida e da sociedade em nome de direitos adquiridos. (Usar a Constituição para garantir os direitos de uns - os que beneficiaram com o estado de alucinação nacional - e entregar o destino dos outros à miséria é um procedimento pouco democrático e pouco solidário, procedimento que o movimento europeu dos magistrados públicos deseja cristalizar com a sua "autonomia": o resultado seria a institucionalização do regime ditatorial dos juízes. Porém, talvez apercebendo-se desse perigo, António Hespanha vacilou na sua defesa dos direitos adquiridos e atacou a seguir o sistema de justiça português. A democracia é, nas actuais circunstâncias, letra morta! O exército que António Hespanha deseja abolir tem uma missão: livrar o país dos malditos que o bloqueiam para conservar os seus privilégios pornográficos!) Há, portanto, soluções alternativas desde que se tenha a coragem para romper radicalmente com a irracionalidade do próprio capitalismo. O mundo novo não se constrói com velhos! A luta do homem senil contra a lógica da vida está condenada à catástrofe.
J Francisco Saraiva de Sousa
A única "grande novidade" deste debate - aquela que merece ser pensada e discutida - é a já conhecida saída de Portugal da zona Euro. Ferreira do Amaral foi peremptório: o projecto político da zona euro está morto, alegando duas razões: nenhum país devia entrar em incumprimento e o domínio da Alemanha, com a sua política da moeda forte. A situação aflitiva da Itália não permite a continuação da zona euro, porque a Europa não tem meios para a ajudar, como ficou demonstrado nesta última cimeira do G20, onde os lideres europeus se insultaram uns aos outros. O problema da dívida da Itália é "ingerível" não só para os próprios italianos, como também para a Europa. A desagregação do euro entrou em ritmo acelerado e a única solução para a travar seria o BCE emitir dinheiro para ajudar os países em dificuldade. Mas, como essa solução implica uma moeda fraca, a Alemanha opõe-se. Coube a Pedro Santa-Maria recusar esta proposta de saída da zona euro, alegando contra ela a falência do sistema financeiro, entre outros pormenores. O que ele parece não ter compreendido é um princípio muito simples, que Ferreira do Amaral enunciou deste modo: o afunilar do debate nacional pode ser fatal para o futuro de Portugal. Deixar correr o tempo significa perder alternativas e, quando for necessário tomar uma decisão radical, já não haverá alternativas a não ser a catástrofe, como sucedeu com a descolonização. Ferreira do Amaral e António Hespanha defenderam a necessidade de debater alternativas, isto é, os Planos B's, mas os outros dois convidados preferiram apostar no pensamento táctico, sacrificando o pensamento estratégico. Para Borges de Assunção, Portugal não tem outra alternativa a não ser caminhar o caminho estreito para chegar ao fim, fim este que não está garantido. Angela Merkel afirmou que esta crise vai demorar dez anos para ser resolvida: o que quer dizer que, daqui a dez anos, não haverá economia, estando toda a Europa mergulhada no caos. É muito difícil pensar novas alternativas sem questionar o capitalismo que gera as crises: o que devia estar em questão é o próprio destino do capitalismo. A receita proposta por Pedro Santa-Clara - reduzir o nível de vida e aumentar o nível de produção - mais não é do que uma tentativa de prolongar a vida do moribundo, sacrificando as pessoas. Repare-se que não estou a impugnar a própria receita ou mesmo as restantes medidas micro-económicas propostas por Pedro Santa-Clara, como por exemplo forçar a EDP a reduzir os custos da electricidade: o que estou a fazer é dar razão a António Hespanha quando afirmou que esta discussão já dura há mais de um ano sem ter gerado qualquer aquisição positiva. De resto, não concordo estruturalmente com nenhuma das análises apresentadas, porque todas elas partem de um conhecimento insuficiente da realidade nacional e internacional, baseado em estatísticas forjadas para manipular a realidade em função de uma determinada perspectiva do mundo, precisamente aquela que está em crise. Para descobrir uma saída para a crise profunda em que vive, o Ocidente precisa de realizar a auto-crítica do seu legado histórico-civilizacional. Meus amigos, há um conhecimento que quero partilhar convosco: a tecnologia não é, em si mesma, neutral. A tecnologia está a conduzir o mundo à catástrofe final: tudo aquilo que se atribui ao progresso tecnológico como se fosse uma conquista civilizacional é uma fatalidade. Ao contrário do que pensam os convidados de Fátima Campos Ferreira, o prolongamento da vida humana não é uma bênção; pelo contrário, é uma maldição que condena o Ocidente ao eclipse civilizacional. O Estado Social está em crise porque - entre tantas outras razões - os europeus prolongaram exageradamente a sua vida, bloqueando a própria renovação da vida e da sociedade em nome de direitos adquiridos. (Usar a Constituição para garantir os direitos de uns - os que beneficiaram com o estado de alucinação nacional - e entregar o destino dos outros à miséria é um procedimento pouco democrático e pouco solidário, procedimento que o movimento europeu dos magistrados públicos deseja cristalizar com a sua "autonomia": o resultado seria a institucionalização do regime ditatorial dos juízes. Porém, talvez apercebendo-se desse perigo, António Hespanha vacilou na sua defesa dos direitos adquiridos e atacou a seguir o sistema de justiça português. A democracia é, nas actuais circunstâncias, letra morta! O exército que António Hespanha deseja abolir tem uma missão: livrar o país dos malditos que o bloqueiam para conservar os seus privilégios pornográficos!) Há, portanto, soluções alternativas desde que se tenha a coragem para romper radicalmente com a irracionalidade do próprio capitalismo. O mundo novo não se constrói com velhos! A luta do homem senil contra a lógica da vida está condenada à catástrofe.
J Francisco Saraiva de Sousa
3 comentários:
Deixei a questão da democracia em suspensão porque é necessário realizar a crítica da democracia e dos direitos.
Acho que os russos desejam ajudar o Porto: os empresários e os políticos do Porto devem dialogar com os seus pares russos. O Porto precisa de uma boa injecção de dinheiro! :)
Pensamento profundo: os burros portugueses pensam que todos são iguais e, por isso, fazem tudo para liquidar o mérito. Com este pensamento estúpido, eles julgavam que podiam reinar, vivendo à custa do endividamento. Ora, o que os burros não sabem é que sem os inteligentes não há nada para ninguém: expulsaram o mérito e agora têm a miséria, a sua própria miséria.
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