«Nos últimos dois séculos, a economia portuguesa registou importantes transformações estruturais que se traduziram no crescimento da produtividade da mão-de-obra e, consequentemente, no crescimento do rendimento nacional por habitante. Contudo, os progressos registados na economia portuguesa não foram suficientes para que o país vencesse o fosso que o tem separado dos níveis médios de produtividade e de rendimento dos países mais desenvolvidos da Europa. Crescimento e atraso têm convivido de forma persistente na história económica de Portugal.
«Os dois lados do desenvolvimento económico português não mereceram até tempos mais recentes, por parte dos historiadores, o mesmo grau de atenção. De facto, a maioria dos estudos sobre a economia portuguesa é ainda centrada em tentativas de explicação do atraso económico do país, sendo claramente relegada para um plano secundário a preocupação em explicar a profunda alteração que a economia sofreu. A desigualdade de tratamento do progresso e do atraso é mais evidente nos estudos sobre o século xix, mas está também presente nos trabalhos sobre o período entre as duas guerras mundiais ou, o que é mais surpreendente, nos estudos sobre o período de rápido crescimento entre sensivelmente 1945 e 1973.» (Pedro Lains, 2008)
Chamaram a minha atenção para a publicação da História Económica de Portugal de Leonor Freire Costa, Pedro Lains e Susana Munch Miranda (A Esfera dos Livros, 2011), como se esta obra cobrisse de algum modo aquilo a que chamei O Fracasso da Historiografia Portuguesa. Confesso que ainda não li a obra que trata da "evolução económica" de Portugal de 1143, data da fundação do reino, até 2010. Mas li um artigo de Pedro Lains, donde saquei a citação em epígrafe, e não me identifico - teoricamente falando - com a abordagem teórica que preside à elaboração da História Económica de Portugal: o paradigma económico usado viola o espírito das épocas passadas, supondo uma continuidade lá onde ela não existe de todo, e as conclusões são decepcionantes. Pedro Lains dá por adquirido aquilo que é questionável: a sua visão teórica da economia, o que o leva a menosprezar o debate teórico em torno da economia e a extrapolar para o passado aquilo que pertence ao nosso tempo indigente. Em face destas lacunas cruciais, duvido que a sua obra tenha sido capaz de periodizar correctamente a História de Portugal: a ideologia do crescimento da produtividade e do rendimento apaga todas as diferenças históricas, sendo incapaz de explicar o próprio atraso da economia portuguesa quando comparada com as economias desenvolvidas. Não sei quando terei oportunidade de ler o livro, porque, depois de ter escutado a entrevista de Pedro Lains na SicNotícias (23 de Novembro), não fiquei entusiasmado para ir comprá-lo. Do artigo de Pedro Lains partilho aqui as Referências bibliográficas, onde predominam as referências neoliberais:
ALDCROFT, Derek, Europe’s Third World. The European Periphery in the Interwar Years, Aldershot, Ashgate, 2006.
AMARAL, Luciano, How a Country Catches Up. Explaining Economic Growth in Portugal in the Post War Period, 1950 to 1973, dissertação de doutoramento, Instituto Universitário Europeu, Florença, 2002.
BATISTA, D., MARTINS, C., PINHEIRO, M., e REIS, J., «New estimates for Portugal’s GDP, 1910-1958», in História Económica, n.º 7, 1997, pp. 1-128.
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CRAFTS, Nicholas e TONIOLO, Gianni (orgs.), Economic Growth in Europe since 1945. Cambridge, Cambridge University Press, 1996.
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GOMES, M. Azevedo, BARROS, H. de, e CASTRO CALDAS, E. de, «Traços principais da evolução da agricultura portuguesa entre as duas guerras mundiais», in Revista do Centro de Estudos Económicos, n.º 1, 1944, pp. 21-203.
LAINS, Pedro, Os Progressos do Atraso. Uma Nova História Económica de Portugal, 1842-1992, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003.
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LAINS, Pedro e SILVA, A. Ferreira da (orgs.), História Económica de Portugal, 1700-2000, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005, 3 vols.
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SOARES, R. Morais, Relatório da Direcção-Geral do Comércio e Indústria, Lisboa, 1873.
VALÉRIO, Nuno, (org.), Estatísticas Históricas Portuguesas, Lisboa, Instituto Nacional de Estatística, 2001, 2 vols.
J Francisco Saraiva de Sousa
4 comentários:
De vez em quando a Itália acordava e vinha visitar-me. Agora tem presença permanente na minha audiência. :)
Mas os países europeus com presença constante são do Norte! Os USA estiveram sempre presentes em força. De resto, os países de língua portuguesa são constantes. :)
Como o blog está em 6º lugar nas buscas mundiais, vou ter instalado um sistema interno de maior confiança. Já espreitei... vamos ver como funciona. Em função disso, posso ir ao encontro das apetências do público. :)
menschliches Skelett
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