«O marxismo é a insuperável filosofia do nosso tempo». (Sartre, Critique de la Raison Dialectique) Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) é muito mal conhecido, embora a sua obra "Fenomenologia da Percepção" seja referida algumas vezes mas sem ter sido devidamente assimilada. Juntamente com Jean-Paul Sartre, Merleau-Ponty é uma das figuras de proa da fenomenologia existencial e do existencialismo francês. Contudo, os seus poucos falsos adeptos ignoram sistematicamente as suas ligações ao marxismo e, portanto, as suas duas obras dedicadas à defesa da filosofia de Marx: "Humanisme et Terreur: essai sur le problème communiste" (1947) e "Les Aventures de la Dialectique" (1955), as quais estão fortemente marcadas pela influência decisiva de Sartre.
Este post é dirigido aos mais jovens, aqueles que nunca aprenderam a pensar, porque foram educados a procurar activamente a ignorância, pensando que vivem num "mundo pacífico", onde basta reivindicar para obter aquilo que desejam, sem esforço e sem mérito: a geração da desilusão e da consciência feliz! Para os arrancar desse estado de letargia mental muito pouco heróico e corajoso, resolvi reler de forma descontextualizada "Humanismo e Terror" de Merleau-Ponty e, se algum candidato a sociólogo ler este post, espero que aprenda que, no seio da Civilização Ocidental, os conceitos não têm pátria e que, portanto, posso como pensador profissional apropriar-me do seu "sentido in-temporal" liberto das marcas da sua «história contextualizada», de resto pouco relevante para avaliar a sua validade intrínseca e o seu potencial para iluminar novas realidades, aquelas que não conheceram quando foram forjados. Isto chama-se pensamento conceptual (abstracto) e a sua elaboração pertence exclusivamente à filosofia e não às supostas ciências humanas bastardas como a "sociologia". Merleau-Ponty colocou o problema do "humanismo socialista" com muita claridade, rejeitando a alternativa entre "humanismo" e "terror". Para este filósofo subtil, não há alternativa entre violência e não-violência, mas apenas entre dois modos de violência: a violência capitalista e a violência socialista. Esta alternativa foi colocada nestes termos: «Na U.R.S.S., a violência e a fraude são oficiais, a humanidade existe na vida quotidiana. Nas democracias, pelo contrário, os princípios são humanos, mas a fraude e a violência encontram-se na prática. A partir daí, a propaganda possui vasto campo de manobra». Ora, segundo Merleau-Ponty, a violência revolucionária é legítima, pela simples razão de que «tem um sentido, que é possível compreendê-la, ler nela um desenvolvimento racional, tirar dela um futuro humano». Mais adiante esclarece melhor esta ideia: «A revolução assume e dirige uma violência que a sociedade burguesa tolera no desemprego e na guerra e disfarça sob o nome da fatalidade. Mas todas as revoluções reunidas não derramaram mais sangue que os impérios. Só há violências e a violência revolucionária deve ser preferida porque ela tem um futuro de humanismo». Ao contrário da violência revolucionária cujo uso é legitimado pelo seu sentido humanista, a violência retrógrada carece de perspectiva humanista, porque «a contingência do futuro, que explica as violências do poder, lhe tira ao mesmo tempo toda a legitimidade, ou legitima igualmente a violência dos opositores. O direito da oposição é exactamente igual ao do poder». Estes dois sistemas sociais (actualmente a ganância financeira pelo lucro a qualquer preço e os ideais socialistas ainda não-realizados) estão encerrados numa luta global em que a renúncia da violência revolucionária leva ao fortalecimento do reino da exploração capitalista que, como reconheceu Mário Soares ainda hoje no seu programa "O Caminho faz-se caminhando" (24 de Janeiro de 2008/RTP1), constitui uma realidade bem evidente dos dias de hoje. No entanto, a violência daqueles que lutam pela liberdade e pela justiça social tem a oportunidade de romper o círculo infernal do terror e contra-terror, na medida em que é veiculada pela solidariedade supranacional da única classe que, «segundo a lógica interna da sua condição» (Merleau-Ponty), é capaz de traduzir o humanismo de ideologia em realidade: o proletariado de Marx. Porém, depois de ter visto o seu nível de vida melhorado substancialmente, o proletariado recusa-se a lutar pelo salvamento ideológico do humanismo. Merleau-Ponty reconheceu que, na actual conjuntura política, essa «condição revolucionária» deixou de existir e que o proletariado cessou de figurar como «termo de referência» no pensamento e na política marxista. Muitos ideólogos do "pensamento unidimensional" (Marcuse) viram neste facto o fracasso da filosofia de Marx e, com a ajuda perigosa dos mass media, começaram a falar do fim das classes sociais e da luta de classes, como se vivêssemos numa sociedade quase perfeita. Mas, como lhes lembra Merleau-Ponty, embora a história não seja conduzida actualmente pelo proletariado mundial, mas, como sabemos, pelo capitalismo financeiro global, esta classe pode a qualquer momento «retomar a palavra» e lutar contra o sistema de exploração capitalista estabelecido. Por isso, não adianta opor ao marxismo, «o único humanismo que ousa desenvolver as suas consequências» (Merleau-Ponty), um princípio moral abstracto, porque uma tal atitude «é ignorar o que ele disse de mais verdadeiro e que originou o seu êxito no mundo, é continuar a mistificação e passar ao lado do problema». «O marxismo não tem talvez a força de convencer-nos que, um dia e pelos caminhos que ele indica, o homem será para o homem o ser supremo, mas guarda a (força) de nos fazer compreender que a humanidade não é humanidade senão de nome enquanto a maior parte dos homens vive por procuração e que uns são senhores, outros escravos. Dizer que a história é (entre outras coisas) a história da propriedade e que onde há proletariado não há humanidade, isso não é adiantar uma hipótese que se deveria em seguida provar, como se prova uma lei da física, é simplesmente enunciar essa intuição do homem como ser relacionado com a natureza e com os outros, que Hegel desenvolve na sua dialéctica do senhor e do escravo e que Marx lhe tomou emprestado». Tal como Jean-Paul Sartre, Merleau-Ponty considera que o marxismo, mesmo na impossibilidade de ser realizado, devido à integração social e cultural da classe trabalhadora no sistema capitalista e ao fracasso da revolução socialista na U.R.S.S., continua a ser a filosofia inultrapassável do nosso tempo, simplesmente porque «como crítico do mundo existente e de outros humanismos, ele permanece válido. A este título, pelo menos não poderia ser ultrapassado. Mesmo incapaz de dar forma à história mundial, permanece bastante forte para desacreditar as outras soluções. Considerado de perto, o marxismo não é uma hipótese qualquer, substituível amanhã por uma outra, é o simples enunciado das condições sem as quais não haverá humanidade no sentido de uma relação recíproca entre os homens, nem racionalidade na história. Nesse sentido, não é uma filosofia da história, é a filosofia da história, e renunciar é fazer a cruz sobre a Razão histórica. Após o que não há mais do que fantasias ou aventuras». Merleau-Ponty foi um dos últimos grandes filósofos a fazer a justificação filosófica da violência legítima usada contra o sistema de exploração capitalista (a violência retrógrada instalada no poder), recorrendo à dialéctica hegeliana do senhor e do escravo, a qual mostra que a história é essencialmente luta em que «cada consciência persegue a morte da outra». O poder implica necessariamente terror e este só pode ser combatido pela contra-violência que visa a realização do humanismo. Esta concepção de poder é forte e nada amorfa como a de Michel Foucault que, ao generalizar o poder e dispersá-lo pelas relações, desviou a atenção daquele poder que é necessário combater e mudar: o poder político, na sua acepção hegeliano-marxista. Em termos mais actuais, podemos dizer que, no seio das actuais sociedades democráticas, a pureza dos princípios, tais como o respeito à lei e o respeito à liberdade, inscritos nas suas Constituições, tolera e necessita das violências que se manifestam diariamente nas relações de trabalho, nas escolas, nos tribunais, no desemprego, no crescente empobrecimento das pessoas e das famílias, no serviço militar, nas relações entre o Estado e os cidadãos, nas prisões, nas descargas policiais, na hipocrisia das relações com os países pobres, nas empresas, nos despedimentos colectivos, enfim nas assimetrias de poder e nas desigualdades sociais cada vez mais gritantes, devido à globalização financeira. As violências existem em todas as esferas sociais e na vida quotidiana, apesar da hipocrisia do discurso moralista oficial da defesa dos direitos humanos e dos princípios puros. Não admira que as nossas sociedades condenem a violência: a pacificação da vida visa tornar as pessoas submissas aos poderes estabelecidos, os da corrupção generalizada, aos quais é reservado o direito de usar a violência física "legítima" sempre que um cidadão saia da ordem estabelecida, tal como moldada pelos interesses das classes dirigentes. O Código Penal (a arma dos corruptos) é cada vez mais severo a punir todos os actos de desacato das leis da falsa paz social. Contudo, as penas mais graves não são aplicadas àqueles que se entregam à alta corrupção, as classes dirigentes, mas aos pequenos delitos praticados pelo povo. Esta diferença social de aplicação de punições em função da categoria social a que pertencem os infractores mostra que vivemos numa sociedade pouco democrática, na qual uns poucos são mais iguais do que os muitos outros. A guilhotina inventada para arrancar as cabeças dos traidores da grande política, daquela que visa a libertação da humanidade, cedeu o seu lugar a outros meios de punição, incluindo nalguns países a pena de morte, para castigar os pequenos infractores. Os infractores pertencentes às classes dirigentes nunca são punidos! Contudo, em nome do humanismo, esses corruptos das altas esferas da sociedade são aqueles que merecem as maiores e mais graves punições. E, enquanto o povo não exigir a decapitação dos seus dirigentes corruptos, a democracia corre o risco de tornar-se uma oligarquia. Sem violência contra os corruptos das classes dirigentes, a luta pela liberdade e pela justiça está condenada ao fracasso. No momento presente, a mudança social qualitativa exige o uso da violência para pôr termo à corrupção que ameaça o futuro do humanismo. A violência é a única arma não-política capaz de renovar a sociedade, sobretudo quando dirigida em nome do humanismo contra os corruptos das altas esferas que condenam o mundo à miséria e à destruição! De facto, numa sociedade bloqueada e profundamente corrupta como a nossa, a mudança social qualitativa exige a circulação de elites (Pareto) e como as elites instaladas se perpetuam no poder através do sistema nacional da cunha, como se fossem titulares nobiliárquicos, só a violência as pode desalojar e abrir a sociedade ao futuro. É isto que está em questão: a corrupção que bloqueia o futuro de Portugal! J Francisco Saraiva de Sousa
Este post é dirigido aos mais jovens, aqueles que nunca aprenderam a pensar, porque foram educados a procurar activamente a ignorância, pensando que vivem num "mundo pacífico", onde basta reivindicar para obter aquilo que desejam, sem esforço e sem mérito: a geração da desilusão e da consciência feliz! Para os arrancar desse estado de letargia mental muito pouco heróico e corajoso, resolvi reler de forma descontextualizada "Humanismo e Terror" de Merleau-Ponty e, se algum candidato a sociólogo ler este post, espero que aprenda que, no seio da Civilização Ocidental, os conceitos não têm pátria e que, portanto, posso como pensador profissional apropriar-me do seu "sentido in-temporal" liberto das marcas da sua «história contextualizada», de resto pouco relevante para avaliar a sua validade intrínseca e o seu potencial para iluminar novas realidades, aquelas que não conheceram quando foram forjados. Isto chama-se pensamento conceptual (abstracto) e a sua elaboração pertence exclusivamente à filosofia e não às supostas ciências humanas bastardas como a "sociologia". Merleau-Ponty colocou o problema do "humanismo socialista" com muita claridade, rejeitando a alternativa entre "humanismo" e "terror". Para este filósofo subtil, não há alternativa entre violência e não-violência, mas apenas entre dois modos de violência: a violência capitalista e a violência socialista. Esta alternativa foi colocada nestes termos: «Na U.R.S.S., a violência e a fraude são oficiais, a humanidade existe na vida quotidiana. Nas democracias, pelo contrário, os princípios são humanos, mas a fraude e a violência encontram-se na prática. A partir daí, a propaganda possui vasto campo de manobra». Ora, segundo Merleau-Ponty, a violência revolucionária é legítima, pela simples razão de que «tem um sentido, que é possível compreendê-la, ler nela um desenvolvimento racional, tirar dela um futuro humano». Mais adiante esclarece melhor esta ideia: «A revolução assume e dirige uma violência que a sociedade burguesa tolera no desemprego e na guerra e disfarça sob o nome da fatalidade. Mas todas as revoluções reunidas não derramaram mais sangue que os impérios. Só há violências e a violência revolucionária deve ser preferida porque ela tem um futuro de humanismo». Ao contrário da violência revolucionária cujo uso é legitimado pelo seu sentido humanista, a violência retrógrada carece de perspectiva humanista, porque «a contingência do futuro, que explica as violências do poder, lhe tira ao mesmo tempo toda a legitimidade, ou legitima igualmente a violência dos opositores. O direito da oposição é exactamente igual ao do poder». Estes dois sistemas sociais (actualmente a ganância financeira pelo lucro a qualquer preço e os ideais socialistas ainda não-realizados) estão encerrados numa luta global em que a renúncia da violência revolucionária leva ao fortalecimento do reino da exploração capitalista que, como reconheceu Mário Soares ainda hoje no seu programa "O Caminho faz-se caminhando" (24 de Janeiro de 2008/RTP1), constitui uma realidade bem evidente dos dias de hoje. No entanto, a violência daqueles que lutam pela liberdade e pela justiça social tem a oportunidade de romper o círculo infernal do terror e contra-terror, na medida em que é veiculada pela solidariedade supranacional da única classe que, «segundo a lógica interna da sua condição» (Merleau-Ponty), é capaz de traduzir o humanismo de ideologia em realidade: o proletariado de Marx. Porém, depois de ter visto o seu nível de vida melhorado substancialmente, o proletariado recusa-se a lutar pelo salvamento ideológico do humanismo. Merleau-Ponty reconheceu que, na actual conjuntura política, essa «condição revolucionária» deixou de existir e que o proletariado cessou de figurar como «termo de referência» no pensamento e na política marxista. Muitos ideólogos do "pensamento unidimensional" (Marcuse) viram neste facto o fracasso da filosofia de Marx e, com a ajuda perigosa dos mass media, começaram a falar do fim das classes sociais e da luta de classes, como se vivêssemos numa sociedade quase perfeita. Mas, como lhes lembra Merleau-Ponty, embora a história não seja conduzida actualmente pelo proletariado mundial, mas, como sabemos, pelo capitalismo financeiro global, esta classe pode a qualquer momento «retomar a palavra» e lutar contra o sistema de exploração capitalista estabelecido. Por isso, não adianta opor ao marxismo, «o único humanismo que ousa desenvolver as suas consequências» (Merleau-Ponty), um princípio moral abstracto, porque uma tal atitude «é ignorar o que ele disse de mais verdadeiro e que originou o seu êxito no mundo, é continuar a mistificação e passar ao lado do problema». «O marxismo não tem talvez a força de convencer-nos que, um dia e pelos caminhos que ele indica, o homem será para o homem o ser supremo, mas guarda a (força) de nos fazer compreender que a humanidade não é humanidade senão de nome enquanto a maior parte dos homens vive por procuração e que uns são senhores, outros escravos. Dizer que a história é (entre outras coisas) a história da propriedade e que onde há proletariado não há humanidade, isso não é adiantar uma hipótese que se deveria em seguida provar, como se prova uma lei da física, é simplesmente enunciar essa intuição do homem como ser relacionado com a natureza e com os outros, que Hegel desenvolve na sua dialéctica do senhor e do escravo e que Marx lhe tomou emprestado». Tal como Jean-Paul Sartre, Merleau-Ponty considera que o marxismo, mesmo na impossibilidade de ser realizado, devido à integração social e cultural da classe trabalhadora no sistema capitalista e ao fracasso da revolução socialista na U.R.S.S., continua a ser a filosofia inultrapassável do nosso tempo, simplesmente porque «como crítico do mundo existente e de outros humanismos, ele permanece válido. A este título, pelo menos não poderia ser ultrapassado. Mesmo incapaz de dar forma à história mundial, permanece bastante forte para desacreditar as outras soluções. Considerado de perto, o marxismo não é uma hipótese qualquer, substituível amanhã por uma outra, é o simples enunciado das condições sem as quais não haverá humanidade no sentido de uma relação recíproca entre os homens, nem racionalidade na história. Nesse sentido, não é uma filosofia da história, é a filosofia da história, e renunciar é fazer a cruz sobre a Razão histórica. Após o que não há mais do que fantasias ou aventuras». Merleau-Ponty foi um dos últimos grandes filósofos a fazer a justificação filosófica da violência legítima usada contra o sistema de exploração capitalista (a violência retrógrada instalada no poder), recorrendo à dialéctica hegeliana do senhor e do escravo, a qual mostra que a história é essencialmente luta em que «cada consciência persegue a morte da outra». O poder implica necessariamente terror e este só pode ser combatido pela contra-violência que visa a realização do humanismo. Esta concepção de poder é forte e nada amorfa como a de Michel Foucault que, ao generalizar o poder e dispersá-lo pelas relações, desviou a atenção daquele poder que é necessário combater e mudar: o poder político, na sua acepção hegeliano-marxista. Em termos mais actuais, podemos dizer que, no seio das actuais sociedades democráticas, a pureza dos princípios, tais como o respeito à lei e o respeito à liberdade, inscritos nas suas Constituições, tolera e necessita das violências que se manifestam diariamente nas relações de trabalho, nas escolas, nos tribunais, no desemprego, no crescente empobrecimento das pessoas e das famílias, no serviço militar, nas relações entre o Estado e os cidadãos, nas prisões, nas descargas policiais, na hipocrisia das relações com os países pobres, nas empresas, nos despedimentos colectivos, enfim nas assimetrias de poder e nas desigualdades sociais cada vez mais gritantes, devido à globalização financeira. As violências existem em todas as esferas sociais e na vida quotidiana, apesar da hipocrisia do discurso moralista oficial da defesa dos direitos humanos e dos princípios puros. Não admira que as nossas sociedades condenem a violência: a pacificação da vida visa tornar as pessoas submissas aos poderes estabelecidos, os da corrupção generalizada, aos quais é reservado o direito de usar a violência física "legítima" sempre que um cidadão saia da ordem estabelecida, tal como moldada pelos interesses das classes dirigentes. O Código Penal (a arma dos corruptos) é cada vez mais severo a punir todos os actos de desacato das leis da falsa paz social. Contudo, as penas mais graves não são aplicadas àqueles que se entregam à alta corrupção, as classes dirigentes, mas aos pequenos delitos praticados pelo povo. Esta diferença social de aplicação de punições em função da categoria social a que pertencem os infractores mostra que vivemos numa sociedade pouco democrática, na qual uns poucos são mais iguais do que os muitos outros. A guilhotina inventada para arrancar as cabeças dos traidores da grande política, daquela que visa a libertação da humanidade, cedeu o seu lugar a outros meios de punição, incluindo nalguns países a pena de morte, para castigar os pequenos infractores. Os infractores pertencentes às classes dirigentes nunca são punidos! Contudo, em nome do humanismo, esses corruptos das altas esferas da sociedade são aqueles que merecem as maiores e mais graves punições. E, enquanto o povo não exigir a decapitação dos seus dirigentes corruptos, a democracia corre o risco de tornar-se uma oligarquia. Sem violência contra os corruptos das classes dirigentes, a luta pela liberdade e pela justiça está condenada ao fracasso. No momento presente, a mudança social qualitativa exige o uso da violência para pôr termo à corrupção que ameaça o futuro do humanismo. A violência é a única arma não-política capaz de renovar a sociedade, sobretudo quando dirigida em nome do humanismo contra os corruptos das altas esferas que condenam o mundo à miséria e à destruição! De facto, numa sociedade bloqueada e profundamente corrupta como a nossa, a mudança social qualitativa exige a circulação de elites (Pareto) e como as elites instaladas se perpetuam no poder através do sistema nacional da cunha, como se fossem titulares nobiliárquicos, só a violência as pode desalojar e abrir a sociedade ao futuro. É isto que está em questão: a corrupção que bloqueia o futuro de Portugal! J Francisco Saraiva de Sousa
14 comentários:
Está a fazer a apologia da violência Francisco?
Olhe que nos tempos que correm, com o medo do terrorismo, ainda corre o risco de ser engaiolado.
Quanto a Merleau-Ponty não conheço a sua obra política. Só me interessei pela fenomenologia da percepção. E nesta matéria ainda não vi melhor.
Mas a volência está instalada na vida quotidiana. Noutro dia, aqui numa escola perto de casa, um indivíduo esfaqueou um aluno e duas alunas envolveram-se numa luta quase mortal, com cabelos arrancados, caso a polícia não interviesse. Outro apontou uma pistola e estamos agora a ser policiados. Merecem ser punidos, mas os corruptos também merecem ser punidos, porque é o desemprego que está a produzir esta violência.
Mário Soares ontem defendeu pontos de vista de Esquerda, sem véus pseudo-pacíficos. O terrorismo tb foi produzido pelas nossas políticas ocidentais, mas não me referia a esse. Mas à necessidade de mudança... aqui na nossa sociedade!
E na zona em que vivo não temos queixa da polícia! Aparece sempre e está atenta! Até já vedaram via Câmara uns acessos, mas suspeito que vão ser derrubados por aqueles que cobiçam o que é alheio. ao contrário do que diz Pacheco Pereira, não tenho medo e até agora o carro não foi roubado, embora esse comece a ser o cenário: vidros partidos, carros vandalizados! Não fumamos. mas eles drogam-se, injectam-se, etc. Vivemos num oceano de paz social!
O Francisco também tem vários exemplos na história de revoluções não violentas. Não lhe falo sequer do nosso 25 de Abril, mas posso recordar-lhe Ghandi.
Nunca como hoje o capitalismo esteve tão exposto. A não cooperação com a sua lógica, a mera recusa ao consumo do irracional, levaria em pouco tempo a resultados que nenhuma violência do tipo armado conseguiria.
Além disso tenho para mim que na defesa do humanismo os meios não justificam os fins.
Clamar "Liberté, egalité, fraternité " enquanto se guilhotinam pescoços, confesso que não é o meu ideal de revolução humanista...::))
Aí teremos que ser originais e procurar outras vias. Sugeri uma. Faça-lhe a critica filosófica da perspectiva Marxista...::))
Merleau-Ponty, através da análise da simples experiência quotidiana, teve em vista a transformação da experiência humana vivida. Mas como morreu cedo, de morte de súbita, o seu projecto ficou pelo caminho. Sartre admirava-o, mas este acabou por perder em favor de Raymond Aron.
Sim, vou tentar apresentar a Crítica da Razão Dialéctica de Sartre.
Sim, Sartre tem uma atracção pela violência, muito diferente da de Marx. Contudo, foram homens pacíficos!
É extraordinário como a intuição da injustiça legitima a violência. Até H. Arendt foi ambígua a este respeito.
Mas não defendo a violência: ela está aí! O problema é este. Os que governam devem assumir responsabilidades por esta violência que resulta da sua violência! Pobreza, miséria, desorientação, exploração...
Manuel Rocha
A guilhotina foi inventada para arrancar o pescoço dos grandes. Se estes tivessem permanentemente um guilhotina diante de si, talvez pensassem duas vezes antes de se corromperem e governar contra o povo! Os crimes de colarinho-branco devem ser punidos!
Mas como levar as pessoas a dizer Não ao consumo e à publicidade? Eis o problema: elas são meros animais que gostam de pastar! :(
Teoricamente, devemos mostrar que a crise ecológica é uma crise da economia, as crises social, cultural, política, civilizacional, etc., são crises da economia. A partir daqui podemos pensar novos projectos políticos...
Curioso...eu diria ao contrário, diria que são crises culturais, porque considero que resultam da forma ( deficiente pq pouco informada ) como interiorizamos a nossa interacção com o ambiente ( lato senso) e da forma como a partir daí percepcionamos a realidade e conceptualizamos os paradigmas que nos movem.
Quanto à violência.
Eu acho muito complicado fazer abordagens comparativas e quantificadas do fenómeno. Você hoje tem conhecimento em tempo real de qualquer troca de chapadas nos antipodas. Ora isso tem que mudar a nossa percepção do fenómeno. Além disso, a sociedade institucionalizada, deixou de ser capaz de resolver por si o que quer que seja. Há trinta anos, quando deflagrava um incêndio florestal, tocava-se a rebate, o povo juntava-se e ia apagar o fogo onde ele estivesse; hoje, liga-se para o 117 e procura-se um ponto de boas vistas para criticar a actuação dos bombeiros...:))
Quando falei das crises, era no sentido de responsabilizar a economia de mercado selvagem pelo desencadear dessas crises. Daí que sejam fundamentalmente crises da economia...
Mas o Estado gosta dessa dependência das pessoas em relação a si: elas tornam-se vulneráveis e perdem a confiança em si mesmas. Boa maneira de contar com o seu consentimento! Ivan Illich criticava essa dependência: acreditava nas pessoas!
Mas Illich quando fazia a apologia da sociedade convivencial também dizia que ela pode resultar da capacidade efectiva que existe para "trabalhar nas margens" em contexto de sociedade plural...:)
Ora isso hoje é possível. No entanto o paradigma de prosperidade tal como se materializou é demasiado atractivo para ser descartado como via a prosseguir. A meu ver é essa lógica que produziu e alimenta o sistema económico.
Dou-lhe um exemplo. Quando se fala em problemas de aprovisionamento de energia, todos logo descartamos a via mais imediata ( gastar menos ) porque isso iria afectar o modo de vida instalado ou desejado. Daí a crença nas "alternativas", para tentar preservar o "essencial"...:))
Agora vou dispender outras "energias"...até mais tarde ...:))
muitos parabés francisco!folgo muito em saber que ainda se fazem posts decentes em blogs relacionados com filosofia.eu estudo filosofia, sou marxista-leninista, e sou politicamente activa, não podia deixar de concordar com Merleau-Ponty na sua apologia à violência revolucionária, alias eu não acredito em revoluções pacíficas, porque elas nunca existiram!Em relação ao 25 de Abril, nem sequer foi uma revolução, foi um golpe de Estado e se tivesse havido violência revolucionária, e não se tivesse indemnizado os burgueses capitalistas como foram tantos (Champalimon por exemplo) se calhar hoje em dia tinhamos uma sociedade muito mais justa! Quanto à Índia, essa suposta revolução foi uma treta,a família Gandhi é podre de rica e sempre foi, fez com que a Índia perdesse o estatuto oficial de colonia, mas ela continuou a ser uma colonia económica dos ingleses entrando logo para o esquema manhoso da Wellfare. E eles continuam a ter uma sociedade capitalista e cheia de injustiças sociais.
De facto há que acabar com a hipocrisia democrata do pacifismo, enquanto há países que se dão ao luxo de ter democracias capitalistas, estas sobrevivem às custas das maiores atrocidades praticadas nos países de terceiro mundo, sejam eles ditaduras ou pseudo-democracias, ou seja, de democrático a única coisa que têm é o voto e mesmo assim muitas vezes manipulado. Faz também com que se esqueçam completamente do verdadeiro significado de democracia, é o governo pela maioria, por amor de deus! querem alguma coisa mais marxista do que isto? nenhuma doutrina política alguma vez foi mais democratica do que o marxismo. Ao menos o marxismo vê a violência como um mal necessario para atingir algo de superior e humano, a democracia dos nossos dias vê na violência o seu sustento e principalmente faz o capitalista feliz. A violência nos nossos dias é fruto desta falsa democracia em que vivemos, cheia de desigualdades, ignorância e apatia política: isto é mais violento do que qualquer coisa, um povo ignorante e apatico.
Outro autor mais recente que aborda de forma muito interessante esta faceta hipocrita da democracia em relação à violencia é o pensador Slavoj Zizek, também ele marxista.
Mais uma vez queria dar os meus parabéns ao francisco pela clareza, optima estruturação e principalmente relevância e muita pertinência nos nosso dias!
Francisco: boa análise de Merleu Ponty.
Eu li Humanismo e Terror e acho que tem mais acertos do que erros.
Um erro é pensar que os julgamentos de Moscou foram injustos.
Abs do Lúcio Jr.
Thanks, Lúcio Jr.! Abraço
Enviar um comentário