"Spe Salvi" é a mais recente encíclica publicada pelo Papa Bento XVI no dia 30 de Novembro de 2007 e, como sempre, está acessível online em língua portuguesa no website do Vaticano. Aconselho a sua leitura, embora reserve a minha crítica para quando tiver acesso ao livro. Contudo, devo destacar a "crítica" que o Papa faz da noção (racionalista) de Progresso, começando por referir Francis Bacon, depois Kant, Engels, Marx e até mesmo Lenine, e, finalmente, com especial destaque, os pensadores da Escola de Frankfurt: Adorno e Horkheimer. Esta leitura dos mestres da Filosofia assenta no pressuposto de que esta noção de progresso, tal como a conhecemos ao longo da história recente, na sua versão racionalista, resulta da secularização da visão cristã da História (Karl Löwith, Étienne Gilson), uma leitura muito do agrado imbecil da Direita que, ao mesmo tempo que a usa para denegrir o marxismo, afirma ser cristã. (O Papa faz bem em demarcar-se desta Direita conservadora, oportunista, populista e reaccionária.) À primeira vista, parece-me que o Papa Bento XVI não rejeita completamente essa herança histórica, limitando-se a lembrar que lhe falta a dimensão do amor. E, neste aspecto, mostra-se consequente com a sua própria tradição cristã. Com efeito, até Hegel sabia bem que a individualidade e a historicidade eram noções cristãs e, como se sabe, a sua antropologia foi lida como uma secularização consumada da antropologia cristã (Kojève). Esta é, de facto, uma dívida que a Filosofia tem em relação ao cristianismo e, por isso, o cristianismo faz parte integrante da nossa tradição crítica. Mas o que nos diferencia hoje é precisamente o «futuro», mais precisamente aquilo que desejamos no presente e no futuro. Se há lição a tirar da história recente, ela só pode ser a de que não devemos «colonizar o futuro». Aliás, uma ideia que Horkheimer elaborou a partir da Bíblia: não devemos definir positivamente a «sociedade ideal», seja ela o "reino de Deus" ou o "comunismo" ou qualquer outra coisa. A nossa esperança é histórica e quer ser satisfeita na e pela história. A nossa alma deseja ser amada enquanto encarnada e viva. A nossa esperança continua a ser política. Aqui reside a diferença: o cristianismo não é político e ainda bem que assim é. J Francisco Saraiva de Sousa
14 comentários:
Não gosto nada da palavra "esperança". E ser-se "salvo na esperança", para mim, é paradoxal. Mas gostei da frase: "A nossa alma deseja ser amada enquanto encarnada e viva". Precisamente: algo que não se espera ser, é-se - este é o meu corpo, tomai e comei.
Cumprimentos :)
Exacto. Se tiver tempo e vontade, faço um comentário mais substantivo deste texto papal. Não refere Bloch..., mas Marx, o jovem.
Andei a passear pelo Porto iluminado e estou a pensar que o país está mesmo em baixo. Muitos "cravas"..., com justificações estranhas: "estou sem dinheiro", diziam.
Cumprimentos :)
:D não é nada "estranho", até é bastante prosaico "estar sem dinheiro".
Eu não gosto de Lx vestida de Natal. Ou, se calhar, sou eu que ainda não estou natalícia... ainda só me chegou o frio.
E muita humidade. :)
Mas o estranho que não é estranho faz pensar no país que temos: muito pouco justo e distributivo.
"Salvos na esperança" significa "salvos em Cristo", em termos simples.
Sim, salvos na fé - Jesus Cristo revelou a fé, a esperança. O que às vezes se traduz numa hipoteca de si mesmo em nome de algo vão, daí que tenha assinalado o acto da eucaristia. :)
p.s.: Posso-lhe pedir um favor? Retira esta coisa chata da "word verification"? Não necessita dela, pois os comentários são moderados. :)
Tenho isso por causa do controle dos comentários; nos outros blogues não tenho, mas depois não sei quais os comentários. Mas edito todos.
Estou a pensar num tema filosófico mas estou sem ideias.
Sim, mas pode tirar a "word verification" e continuar com a moderação de comentários. São opções isoladas.
Sim, eu deixei-lhe um comentário num post do blog de medicina e n respondeu. Não é um tema filosófico, mas se quiser falar dele será, no mínimo, interessante. :D
Não vi esse comentário. Vou tentar ver.
Confesso que não sei como se faz isso. Pensei que a CyberMedicina estava na mesma situação deste blogue.
Vou ver.
Não sabia que conhecia esse meu blogue "CyberBiologia e CyberMedicina". Nesse caso, começa a compreender melhor a minha tese sobre metafilosofia. Respondi ao seu comentário, porque me avisou. Não detectava...
O seu pedido foi satisfeito. :)
Muito obrigada, Francisco! E obrigada por me responder no outro blog, se fui infantil e impertinente, peço desculpa. Mas alguns dos objectos de estudo do Francisco despontam muita curiosidade, assim aos jovens, na flor da idade! :D
Esse foi o tema da minha tese de doutoramento em ciências médicas. Não fui eu que o escolhi... Mas gostei de realizar a pesquisa de campo. Muito trabalho! Agora prefiro afinar a teoria. :)
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