O meu post sobre "Marx e José Sócrates" deu origem a uma troca de ideias fértil entre mim e a minha amiga Helena, autora do blogue «Socióloga Avense». Apesar das nossas simpatias partidárias serem diferentes, partilhamos muitos pontos de vista, como se pode verificar consultado a secção de comentários desse post, bem como doutros. No meu último comentário, desafiei a Helena a meditar sobre a "geração grisalha", aquela que teve a vida facilitada, sobretudo no domínio da função pública, e que vão ter uma reforma garantida, embora não tenham sabido governar bem Portugal, sobretudo depois do 25 de Abril de 1974. Por isso, dado o estado precário do país e o desemprego galopante, coloquei a questão de saber se vale a pena continuar a sacrificar o futuro de Portugal por causa das "regalias" e dos "direitos adquiridos" dos funcionários públicos e das elites nacionais. Esta malta incompetente domina a vida pública há mais de 30 anos: o tempo passa, mas eles permanecem nos seus postos, quais monarcas. A geriatria constitui um problema e até mesmo os já reformados com reformas chorudas continuam a acumular empregos, roubando-os aos desempregados, muitas vezes com melhores qualificações e competências do que eles. Se isto continuar assim e se não se fizer nada para expulsar esses párias corruptos da vida pública, justifica-se uma revolta dos desempregados contra os instalados que não querem partilhar os seus múltiplos empregos, e sobretudo uma insurreição dos jovens contra a geração dos velhos incompetentes e gananciosos. Portugal precisa mudar de rosto! Caso contrário, é preciso expulsar a geração grisalha incompetente e tirar-lhe todas as regalias adquiridas, condenando-a à miséria, aquela a que ela condena todos os outros. Devem ser julgados e condenados pelos crimes cometidos contra Portugal e o seu futuro. Além disso, os portugueses deviam recusar endividar as gerações futuras para garantir este sistema de privilégios injusto e irracional. Se não trabalharam bem durante a sua longa existência, não merecem reformas. Que regressem à casa dos seus pais nas aldeias e cultivem os terrenos para garantir a sua subsistência. Esta "geração feliz" precisa sentir na sua própria carne os efeitos que produzem na carne daqueles que nunca tiveram ou terão a vida facilitada. A política é uma questão de natalidade e não de mortalidade. Deixemos a "brigada do reumático" morrer sem conforto médico ou reformas. O futuro já não lhes pertence. Façam o favor de morrer e morrer rapidamente, não todos, mas aqueles que nunca trabalharam e deram um contributo para o desenvolvimento de Portugal. As pseudo-elites que nos «governam» são simplesmente "rascas", néscias e, por isso, más (em termos morais), porque, se fossem competentes, o país não estava como está: na miséria e sem perspectiva futura, com um presente recheado de assaltos e de crimes organizados. Em vez de se preocupar com o tabaco, o governo devia preocupar-se com a droga. Em vez de se preocupar com o falso "apito dourado", o governo devia preocupar-se com o crime organizado, como lhe lembrou Rui Rio. Em vez de ir enriquecer as recentes "natas do plano tecnológico", o governo devia estudar bem quais as áreas que merecem investimentos e que possam garantir um desenvolvimento económico sustentável. Em vez de tomar medidas educativas gratuitas, o governo devia já saber que o problema está em cima, no ensino universitário, como o demonstram os casos tristes das universidades privadas. Antes de falar, os "catedráticos" deviam sondar os seus conhecimentos ou, como se diz por ai, ver se ainda se lembram da tabuada, porque fazem uma triste figura nos ecrãs da TV. É esta a geração que tem governado Portugal e que recusa abandonar o poder, explorando descaradamente a população portuguesa. Isto não é democracia, mas oligarquia corrupta e ladra: pseudo-democracia cleptocrática. (Veja este post "Amamentai-vos e Crescei e Amamentai-vos!" no blogue Hípias Maior.) J Francisco Saraiva de Sousa
14 comentários:
Tanta crueldade, Francisco.
Eu adoro velhos e eles são tão desprezados pela nossa sociedade! "Aqueles que nunca trabalharam" são uma ínfima parte! Muitos deles, a maior parte, trabalharam a vida inteira e gozam agora de reformas ridiculamente pequenas, ou então, aqueles que têm uma vida folgada foi à custa de muito trabalho... vejo por mim que sempre tive uma vida facilitada, fruto do trabalho dos meus pais, avós, etc.
Isto, como é claro, não destitui o seu argumento de que neste momento o futuro avizinha-se negro para os jovens. Mas também, e digo-lhe com uma sinceridade triste: não vejo os jovens com a coragem e a força para fazer frente a esta vertigem. Pelo menos por agora não. Vejo-os à semelhança dos "funcionários públicos" que caracteriza: "gordos" e "metabolicamente reduzidos" que querem continuar a mamar até que a fonte seque. (veja o meu último post).
Não sou cruel... Referia-me àqueles que lideram o país em diversas frentes e sem resultados positivos. Concordo consigo quanto aos jovens. Vou ver o seu post.
Tudo bem. O título parece-me indevidamente alargado, é só isso. Gosto muito da palavra "geros" e do que significa, como já disse.
O título inspira-se na poesia de Georg Trakl e na sua "maldita geração", bem como em Baudelaire. Sim, é exagerado, mas, como diz Adorno, no exagero está, por vezes, a verdade.
:)
O título inspira-se na poesia de Georg Trakl e na sua "maldita geração", bem como em Baudelaire. Sim, é exagerado, mas, como diz Adorno, no exagero está, por vezes, a verdade.
:)
Antes demais Francisco, deixe-me lançar uma piada dizendo-lhe que caso a minha avó materna(senhora pela qual não nutro grande simpatia)de quase 80 anos lesse este seu post diria muito zangada: "Eu não sou velha, velhos são os trapos. Ainda faço questão de andar por cá muito tempo. Estou a ocupar o meu lugar."
Partindo agora para o seu post devo dizer que me parece um pouco exagerada a generalização, dado que poderemos correr o risco se estarmos a ser injustos com alguns idosos que trabalharam esfoladamente na sua vida e, por vezes, não recebem aquilo que merecem, como muito bem focou a Aveugle.Papillon.
Contudo, Francisco, estou muito de acordo consigo quando se refere aos funcionários públicos que sem fazerem muito, sem terem contribuído muito para a produção do país usufruem de reformas elevadas, já para não falar de todas as regalias económicas e sociais que foram beneficiando aquando da sua vida laboral.
Eu não gosto muito de revelar pormenores da minha vida pessoal e dos meus próximos na blogosfera, contudo falarei sucintamente aqui dada a pertinência do tema e para ser mais esclarecedora. Tenho um tio-avô reformado, ex-agente da PJ. Não sei de quanto é a reforma dele, mas talvez ronde os 2500euros.
A minha mãe foi operária-fabril, reformou-se agora aos 55 anos, estava desempregada e agora reformou-se. Tem 42 anos de carreira contributiva. Vai receber uma reforma de 217euros. O que me dizem a isto? Será justo receber uma mísera pensão de 217euros, uma pessoa que contribuiu 42 anos para a Segurança Social? Como disse ao Francisco no post "Marx e José Sócrates" concordo com as leis de alteração da Segurança Social, mas neste caso pecam por injustas. Só porque não se tem a tal idade..Conta mais a idade do que os anos que descontamos para a Segurança Social. Claro que eu não estaria à espera que a minha mãe recebesse aquilo que recebe o meu tio-avô, nem de longe nem de perto. São profissões completamente distintas, para as quais se exige formação completamente distinta. Por exemplo conheço uma senhora que trabalhou metade dos anos que a minha mãe trabalhou e ganha mais cento e tal euros que ela só porque tinha os 65 anos. Mas porque não manter a minha mãe pelo menos com o salário mínimo, que por si só já é uma miséria?
Voltando à minha avó (quem diz a minha avó diz todas as viúvas e viúvos deste país), porque razão tem ela de receber, além da reforma dela, metade da reforma do meu avô? Uma pessoa que vive sozinha, que só tem a si para se manter? A minha opinião é que deveriam ficar com a reforma do cônjugue somente aquelas pessoas que, à morte do seu parceiro, ficam com filhos para manter e educar.
Portugal, está actualmente perante baixas taxas de natalidade e baixas taxas de mortalidade. Estamos perante um país cada vez mais envelhecido. Por tal, terão de ser os jovens a trabalhar e a descontar para os pensionistas idosos usufruirem. Ou seja, a população activa de hoje não está, de algum modo, a garantir as suas pensões futuras, mas sim a contribuir para as reformas dos pensionistas actuais. Daí há uns anos atrás se falar de uma possível insustentabilidade da Segurança Social a curto prazo. Todavia, parece que o cenário hoje está mais positivo dadas as alterações procedidas pelo Governo de José Sócrates, medidas que pecam, sobretudo, por tardias. Se estas medidas tivessem sido tomadas mais cedo, se tivessemos tido um Primeiro-Ministro determinado e corajoso que, como José Sócrates o foi, tirou muitas regalias aos funcionários públicos, talvez a esta altura a minha mãe não estivesse com uma reforma de 217euros...
Falando agora de determinads categorias profissionais, o Francisco foca, e muito bem, os professores. São dos que estão melhor e são os que mais se queixam.
Tenho uns familiares (um casal)que são professores, ele dava aulas em duas escolas (uma pública e uma privada, são do PS, votaram josé Sócrates e agora acusam-no de traição, de mentiroso, de estar a estragar o país e a classe profissional,etc. Este mesmo casal possui duas casas, uma dela casa de férias. Têm 3 carros. Passam as férias sempre fora do país percorrendo países europeus, gastos em hotéis e etc. Afinal de que tanto se queixam eles? De não terem dinheiro para os seus luxos? Pior estou eu e os meus pais, que mal temos dinheiro para a nossa própria subsistência.
Um tio meu, agente da PSP diz que foi para a polícia porque não é pessoa para andar aí a trabalhar muito e a cansar-se. Mais um que é PS, votou José Sócrates e não o pode ver à frente.
Enfim...
No que respeita aos jovens, devo concordar em grande parte com a Aveugle.Papillon, também não vejo os jovens de hoje com força e coragem para mudar este sistema. Os jovens ainda são muito comodistas, pouco mobilizadores, não se interessam minimamente por aquilo que os rodeiam.
Ainda um dia destes em conversa com uma amiga minha também socióloga, chegavamos à triste conclusão de como os jovens de hoje são ocos, burros, sem interesse pelas mais diversas esferas da vida em sociedade. Pelos nossos colegas de curso, eram poucos aqueles que, para além de nós, consideravamos pessoas inteligentes, cultas, possuidores de conversas dos mais diversos domínios. Falavamos das melhores alunas do nosso curso, com médias altas, mas completamente ocas. Não falam de política, não falam de cultura, não falam de nada. Viviam à parte dos nossos temas de discussão. Memorizavam a matéria que lhes dava notas de 15/16 para cima e mais nada sabem. Hoje é o dia em que jão não devem se lembrar de nada.
Eu nunca memorizei matéria, a minha capacidade de memorização é muito limitada. Contudo, hoje orgulho-me de possuir algo que elas não possuem: consigo na perfeição pegar em toda a teoria que estudei e aplicá-la è realidade em que vivemos, consigo articular a teoria e a prática.
Infelizmente, não considero que todas as pessoas que possuem uma licenciatura mais inteligentes que as outras. Muitas pessoas tiram uma licenciatura por tirar, porque dá status, porque é fixe, porque é importante. Vai-se a ver no fim do curso e não sabem nada daquilo que aprenderam, não articulam teoria e prática, não se mobilizam na esfera política e social, não fazem nada pelo local onde vivem, muito menos pelo país, não conseguem ver mais nada nem fazer mais nada para além daquilo que o curso lhes deu. Não fazem nada para informar-se e cultivar-se, vivem à parte da vida social e política.
É triste estarmos perante uma juventude assim: pouco sentido de mobilização e intervenção; pouco inteligente, culta e informada.
De facto. há muitos velhos que fazem ver a muitos novos.
Concordo com tudo o que diz. Um belo texto o seu, Helena. Exagerei para chamar a atenção para esses aspectos gritantes de injustiça que analisou. Essa imagem dos "licenciados" é absolutamente verdadeira, mas ninguém faz nada para corrigir esse "erro fatal": diplomados analfabetos! Pelo contrário, agora são "doutorados analfabetos". Basta ler as teses que são públicas!
Obrigado. Espero que a Aveugle.Papillon diga alguma coisa. :)
Mas, por favor, não sou "contra os velhos": a velhice é uma benção! E, muito menos, contra o aumento equitativo das reformas, mesmo que não tenham trabalhado e feito os descontos... Sou contra reformas chorudas, por princípio. O dinheiro é necessário no início e não no fim da vida, até porque existem outros apoios à velhice.
Os professores são, de um modo geral, "chulos" e "fazedores de actas", repletas de erros e mal elaboradas. Analfabetos... e párias.
Percebi muito bem a sua intenção, Francisco. Longe de mim ter ficado com a ideia de que você despreza os velhos. Apenas referi que é um pouco injusta a generalização. Só isso!
:)
Abraço.
Obrigado Helena
Subscrevo o que a Helena diz. Mas apenas com uma ressalva: as pessoas que vivem bem ou melhor do que a maioria não podem nem devem ser os bodes expiatórios (a propósito do exemplo que a Helena deu do casal amigo de professores). Só acredito numa sociedade liberal.
Cumprimentos a ambos,
Obrigado Aveugle.Papillon
Também sou liberal, (a Helena também, suponho) mas a justiça social deve ser uma norma. Não defendo a "igualdade" (igualitária): apenas a igualdade de oportunidades. E reformas dignas. O animal humano merece! :)))
Também defendo a justiça social e a igualdade de oportunidades.
Agora não defendo a igualdade igualitária (como diz o Francisco), pois essa igualdade acarreta injustiça.
Abraço.
Obrigado Helena
Os três temos muitas afinidades cognitivas e morais: queremos um país mais justo e mais livre, com emprego pleno.
Abraço
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