Este post recolhe alguma informação colhida de um outro post já publicado no meu blogue «CyberPhilosophy», com algumas alterações, com o objectivo de clarificar as novas adições tecnológicas. (É evidente que os dados da nossa pesquisa foram substancialmente omitidos.) Os resultados da nossa cyberpesquisa mostraram que os frequentadores de "chat rooms" ou de sites pornográficos da Internet, estão, uns mais que outros, viciados, ou melhor, desenvolveram uma forte dependência sexual da Internet. Este conceito implica a sobreposição de duas dependências: a dependência sexual e a dependência da Internet, cuja relação é extremamente complexa, embora os nossos resultados de campo tenham revelado que aqueles indivíduos que já eram viciados em sexo começaram a recorrer aos serviços da Internet para alargar o seu espaço de conquista sexual. Portanto, a adição sexual era anterior à adição da Internet.
Com poucas excepções, provavelmente daqueles utentes mais novos já criados na era da Internet, a dependência sexual facilita e reforça a dependência sexual da Internet: quer dizer que os utentes com determinados tipos de perturbações de comportamento, tais como a compulsividade sexual e fraco auto-controle, estão logo à partida mais predispostos para a dependência sexual da Internet, embora a utilização e a frequência de canais seja, só por si, capaz de criar dependência, induzindo provavelmente o desenvolvimento de uma sindrome aditiva, talvez devido à depressão e outros factores associados.
As adições tecnológicas são adições não-químicas, portanto, comportamentais, que envolvem uma interacção excessiva entre homem e máquina. Podem ser passivas (televisão) ou activas ("computer games") e, geralmente, contêm características indutoras e reforçadoras que podem promover as tendências aditivas (Griffiths, 1995). Incluem também muitas componentes da adição, tais como "salience", "mood modification", "tolerance", "withdrawal", "conflict" e "relapse" (Griffiths, 1996). O comportamento de uso da Internet que obedeça a estes critérios pode ser operacionalmente definido como adição.
· A salience ocorre quando o Internet sex se torna a mais importante actividade na vida de uma pessoa e domina os seus pensamentos (preocupações e distorções cognitivas), sentimentos (craving) e comportamentos (deterioração do comportamento social).
· A modificação de humor refere-se às experiências subjectivas que as pessoas relatam como uma consequência do envolvimento em Internet sex e pode ser vista como uma coping strategy.
· A tolerância é o processo pelo qual quantidades crescentes de Internet sex são exigidas para atingir os efeitos de modificação de humor desejados.
· Os sintomas de withdrawal (abstinência) são os estados de sentimentos desagradáveis e/ou os efeitos físicos que ocorrem quando o Internet sex é descontínuo (interrompido) ou subitamente reduzido.
· O conflito refere-se aos conflitos entre o utente da Internet e aqueles que o rodeiam (conflito interpessoal), conflitos com outras actividades (emprego, vida social, hobbies e interesses) ou conflitos interiores (conflito intrapsíquico e/ou sentimento de perda de controle), os quais estão relacionados com o dispêndio de muito tempo no Internet sex.
· A reincidência ou recidiva é a tendência para repetir novamente padrões de Internet sex, após vários anos ou meses de abstinência ou controle, restaurando-os e provavelmente em doses excessivas.
Young (1999) considera que a Internet addiction pode ser melhor categorizada por cinco subtipos específicos:
· Adição cibersexual (cybersexual addiction), envolvendo tipicamente o uso compulsivo de websites adultos para cibersexo e ciberporn.
· Cyber-relationship addiction, envolvendo tipicamente o sobre-envolvimento em relações online. Esta adição parece ser mais frequente entre homens heterossexuais do que entre homens homossexuais e bissexuais, talvez porque estes últimos são sexualmente mais promíscuos do que os primeiros.
· Net compulsions, envolvendo tipicamente actividades obsessiva/compulsivas, tais como online gambling, shopping, day-trading, etc. Os jovens são mais propensos às compulsões do tipo "online gambling".
· Information overload, envolvendo tipicamente navegação compulsiva na web ou pesquisa de database.
· Computer addiction, envolvendo tipicamente obsessive computer game playing on games, tais como Doom, Myst, Solitaire, etc. Destas categorias de adição da Internet, apenas a adição cibersexual e a adição de relações online são adições sexuais. Existem efectivamente indivíduos que manifestam algum tipo de adição relacionada com o uso sexual da Internet, mas não são muito raros aqueles que perderam ou perdem o controle sobre os seus comportamentos, ficando perdidos e sozinhos num meio virtual. Estes casos, observados sobretudo em homens gay, heterossexuais e bissexuais, obedecem, pelo menos, a três critérios da adição: o uso sexual da Internet torna-se a actividade mais importante das suas vidas, não conseguem libertar-se das suas vidas on-line, o que os leva a despender mais tempo diante dos computadores, e entram em rota de colisão ou conflito com os seus amigos ou familiares, alguns dos quais prejudicam as suas carreiras profissionais. Os encontros sexuais passam a ser marcados via Internet e, frequentemente, tornam-se tão dependentes das novas tecnologias que começam a usar a Web-cam ou o telefone para fazer sexo com estranhos próximos ou distantes. É evidente que os portadores de HIV recorrem muito à Internet para arranjar novos parceiros sexuais: uns limitam-se ao cybersexo ou sexo via Web-cam ou via telefone, mas outros não se privam de marcar encontros sexuais offline, sem usarem o preservativo. J Francisco Saraiva de Sousa
10 comentários:
Obrigada pelo seu texto.
Fez-me repensar, e lembrei-me da compulsão à repetição de Freud, descrita no "Para Além do Princípio do Prazer". O uso da internet toma-se como um hábito ritualizado. Daí a obsessão de estar diante do computador. Mas o ritual, dado o infinito virtual, torna-se difícil impor um fim.
É difícil é enunciar o que acontece... :)
p.s.: sexo via web-cam não é sexo é masturbação assistida.
Sim, tem razão...
Vou tomar café. Já volto. :)
O amor também é uma adição. Talvez um dia escreva sobre isso.
Sim, somos animais rituais: a rotina protege-nos das agressões do "meio" e conserva a mente mais serena. Caso contrário, ficaríamos nervosamente esgotados. Simmel já tinha analisado isto no seu ensaio sobre a cidade ou na sua "Filosofia do Dinheiro", outra obra esquecida.
Pelo menos, a masturbação assistida não contagia. :))
Tenho estado a pensar que temos sido governados pelos portugueses mais incompetentes e maldosos. Afinal, se o Estado fosse digno, seria possível criarmos um centro de pesquisa interdisciplinar, para estudar o nosso mundo, sem burocracia e homens có-có e mulheres galinhas. Mas a pesquisa nacional foi sempre tomada pelos oportunistas sonâmbulos mas muito venenosos: gente má porque burra!
A Internet permite-nos avançar sozinhos... Pena é que muitos bloguistas ainda não compreenderam que vivemos em Portugal, onde as pessoas vampiram-se umas às outras. Ocultam os outros para ficar com a sua miséria visível.
A blogosfera deveria organizar-se como protesto... contra a miséria nacional. Denunciar a corrupção e as malhas dos macacos portugueses que açambarcaram tudo.
Repare que existem muitos utilizadores da Internet viciados em "information overload". Para que serve isso? Para nada. São uma espécie de "coleccionadores de lixo electrónico", incapazes de processar a informação recolhida e transformá-la em conhecimento.
Isto também acontece porque os macacos portugueses (sem ofensa) não compreendem a sociedade: o único refúgio é a família, onde as vinculações são concretas e não abstractas. Gehlen chamou a atenção para estes fenómenos, muito antes do advento da Internet.
Sim, a masturbação não contagia. Mas, mesmo os infectados com HIV podem arranjar parceiros que tenham o mesmo tipo de vírus.
O amor é uma adição? Ou a paixão? O estado de paixão pode ser aditivo, sim.
Infelizmente tenho dúvidas sobre as possibilidades da internet como uma resposta alternativa, consistente, que produza efeitos. A blogosfera, aliás, é o sítio ideal para a germinação das opiniões não-fundamentadas e do mimetismo de opiniões.
Sim, a família é um refúgio: não há nada realmente de meu, então arranjo parceiro/a e faço filhos.
Bem, com os meus blogues, procuro criat as minhas próprias agendas, sem seguir as práticas de agenda-setting estabelecidas. Nem tudo é medíocre na blogosfera. :)
Não foi isso que eu disse.
O que eu disse foi que duvido que a blogosfera possa ser um meio para "organizar protestos"... Mas os seus blogs são óptimos! Por isso venho cá... :)
Obrigado, Aveugle.Papillon
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