domingo, 2 de dezembro de 2007

Marx e José Sócrates

Lembro-me de ouvir uma entrevista do nosso Primeiro-Ministro, José Sócrates, dada antes de ter vencido as eleições, onde revelou uma das suas leituras: Eduard Bernstein e o seu socialismo reformista, isto é, «evolucionário», brilhantemente criticado por Rosa Luxemburgo. Embora a questão reforma versus revolução que ainda parece dividir a Esquerda esteja ultrapassada, convém conhecer essa história do socialismo nos seus próprios textos e, para iniciar esse estudo, recomendo o livro de C. Wright Mills, «Os Marxistas», que fornece alguns textos fundamentais dos pais do socialismo, a partir da qual o leitor pode posteriormente escolher a sua própria bibliografia.
Dessa obra de Bernstein retenho a sua célebre frase: «Os chamados objectivos finais do socialismo não são nada, mas o movimento é tudo», de resto severamente criticada por G. Plekhanov. De facto, vista em retrospectiva, esta frase pode ser elucidativa quanto à natureza das políticas socialistas em curso, desde que não se considere a crítica «quase sempre destrutiva», porque, como se apressa a acrescentar Bernstein, «para um partido que tenha de acompanhar uma evolução verdadeira, a crítica é indispensável e a tradição pode tornar-se um peso, uma cadeia opressora». E Bernstein soube defender a via reformista para a social-democracia recorrendo aos textos de Marx e de Engels.
Dado ter lido atentamente Bernstein, durante a sua juventude política, podemos supor que José Sócrates, quando propôs o plano tecnológico, inicialmente o «choque tecnológico», tivesse em mente alguns textos de Marx. Mas quais são esses textos que o PM leu mas não quis partilhar? Como sabemos, em matéria de desenvolvimento tecnológico, portanto, das forças de produção, Marx é muito prolixo, a ponto de K. Axelos ter escrito uma obra intitulada, «Marx, Pensador da Técnica», aliás elogiada por Henri Lefebvre.
Mas só muito recentemente tive a ideia de que essa obra de Marx só podia ser «Miséria da Filosofia», dirigida contra Proudhon, o economista, contra o qual Marx se afirma pela primeira vez como economista e filósofo. Nesta obra, encontramos esta frase tão citada tanto pelos adeptos como pelos adversários de Marx: «As relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens mudam o seu modo de produção, e mudando o modo de produção, a maneira de ganhar a vida, mudam todas as suas relações sociais. O moinho manual dar-vos-á a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial». Esta frase tem servido de lema a todos os defensores de uma visão tecnológica da sociedade e das mudanças, de resto conciliável em muitos aspectos com a obra de Marshall Mcluhan e Derrick de Kerckhove, e é nela que vejo o fundamento filosófico, isto é, marxista do plano tecnológico, de resto já mencionado em diversos posts, em particular neste: Prós e Contras: A Sociedade em Rede. Ao apostar «nas novas oportunidades e na qualificação», o plano tecnológico visa transformar a sociedade portuguesa e dinamizar o seu desenvolvimento tecnológico e a inovação, de modo a tornar a nossa economia produtiva e competitiva. Deste plano parece resultar uma nova noção de socialismo, a que podemos chamar socialismo tecnológico: acelerar a mudança tecnológica e, por seu impulso, modificar a sociedade e a economia portuguesas. Há aqui um objectivo claro, simples mas claro: sem mão de obra qualificada e inovação tecnológica, não é possível mudar os rumos da sociedade portuguesa e muito menos garantir um Estado com preocupações sociais. Com efeito, as novas tecnologias são intrinsecamente democráticas e parecem trazer no seu bojo a promessa de uma sociedade mais justa, livre e autónoma; mas, para que essa promessa tecnológica intrínseca, se realize, é necessário implementar políticas que salvaguardam a potencialidade democrática e criativa das novas tecnologias, possibilitando o acesso responsável de todos os cidadãos ao novo espaço público virtual. A individualidade promete desabrochar neste novo espaço virtual. E Marx, como lembra A. MacIntyre, era um «individualista», ou melhor, um liberal.
Contudo, Marx diz algo mais: Marx diz que «os mesmos homens que estabelecem as relações sociais em conformidade com a sua produtividade material produzem também os princípios, as ideias, as categorias, em conformidade com as suas relações sociais». E lembra-nos que «estas ideias, estas categorias são tão pouco eternas quanto as relações que exprimem. São produtos históricos e transitórios». Isto sugere um conceito que temos defendido recorrentemente neste blogue: Sem a aposta na formação humanística, o plano tecnológico carece de alma: Memória e Amnésia Histórica do Socialismo e sobretudo Socialismo e Políticas do Sentido explicitam esta ideia. José Sócrates está certo quando «abandona» certos aspectos ou, pelo menos, reformula-os, da tradição socialista, sempre respeitando e procurando reforçar a democracia política, mas ainda não avançou com uma concepção (mesmo que negativa) de socialismo que esteja em conformidade com as mudanças radicais que o seu governo está a executar. Precisamos de um modelo orientador de sociedade socialista e, sem o impulso das humanidades, em particular da Filosofia, esse modelo corre o risco de nunca chegar a ver a luz do sol. "Sonhar para a frente" (Bloch) é aquilo que sempre definiu o socialismo (social-democracia) e que distingue a Esquerda Socialista da Direita. Só a crítica pode galvanizar esse sonhar acordado e obrigar o Partido Socialista a acompanhar a verdadeira evolução do mundo global, sem se descaracterizar ou sem esquecer a sua tradição, ela própria uma tradição crítica, bem visível nesta obra de Marx: «Miséria da Filosofia», a qual convido a ler.
Alguns leitores poderão pensar que o recurso ao texto de Marx não acrescenta nada ao plano tecnológico. Mas esta reacção só pode desencadear um sorriso filosófico. O que verdadeiramente está em causa é a reintrodução do pensamento na política e José Sócrates tem essa dívida não só em relação a Marx (a sua tradição política) mas em relação ao filósofo chamado Sócrates, que trouxe o pensamento para a política. Deste modo, o PM pode defender-se melhor das ameaças internas da democracia, as novas classes dirigentes, que defendem um economicismo fatalista, de resto denunciado por Marx nessa mesma obra. (Convém lembrar os "comunistas" que Marx não é património do Partido Comunista, que não sabe ler Lenine e a sua aversão pela luta sindical, sobretudo quando essa luta é metabolicamente reduzida, visando manter privilégios muito pouco justos e "igualitários".)
J Francisco Saraiva de Sousa

9 comentários:

Helena Antunes disse...

De facto, é bem verdade que José Sócrates e a sua política governativa têm sido alvos das mais diversas análises e opiniões.

Francisco, leia este post no Avenida Central:

http://avenidacentral.blogspot.com/2007/05/enfim-s.html

Nele é transcrito uma análise de António Barreto relativamente a José Sócrates.
Leia também o comentário que lá deixei fazendo uma análise à luz da Sociologia do Poder.

Abraço.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá
Vou ler. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Contudo, não encontrei o texto e o seu comentário. De resto, aprecio sempre os seus comentários inteligentes. Só vejo as iluminações de Natal, aliás uma tradição do Porto. Viva o Porto!
Abraço

Helena Antunes disse...

O texto de António Barreto:

"O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado. Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo. Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado. O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade."


O meu comentário:

Quanto à analise que A. Barreto faz acerca da governaçao de J. Socrates, em nada é uma analise politica-governativa, estou em crer que a intençao dele nao é falar enquanto politico que foi, mas enquanto sociologo que é. Parece-me sim, uma analise da Sociologia do Poder, da relação que o individuo que exerce o poder estabelece com os outros individuos. Está em causa o processo de legitimaçao do poder: o jogo de diferenciaçao que se estabelece entre dominantes e dominados. Uma das vias para que sejam considerados legitimos é a diferenciaçao entre os que exercem poder e os que lhe estao sujeitos. Quem assume o poder pode adquirir uma condiçao que os torna diferentes e superiores aos outros membros da comunidade. E, com J. Socrates, essa legitimaçao do poder mostrasse bastante acentuada. Ele exerce o poder à sua grande vontade e ninguem faz nada. Como diz A. Barreto (e eu partilho da mesmo opiniao) porque a oposiçao é impotente; porque a sociedade é incompetente (e eu diria mais: a sociedade é parasita, é comodista, é passiva, com pouco sentido de mobilizaçao e intervençao na esfera politico-social); porque as organizaçoes sao fracas e porque os portugueses(eu nao diria falta de carinho mas) nao sabem como "usar" a liberdade.
J. Socrates parece-me aquilo a que G. Balandier denominava de "agente de sacralização do poder". A politica-governativa portuguesa parece um espectaculo dramatico que gira à volta do chefe, de uma personagem que concentra em si todo o poder. Esse culto sagrado do chefe está presente quando o chefe é a figura central que apaga toda a restante estrutura do poder. Socrates sozinho quer fazer a politica de Portugal, daí ser (querer ser) a figura central e unica. Apaga toda a estrututa do poder porque nao dá acçao à oposiçao que vive sem conseguir fazer verdadeira oposiçao.

O mesmo Balandier dizia "O poder estabelecido unicamente sobre a força ou sobre a violência não controlada teria uma existência constantemente ameaçada. O poder exposto por baixo da iluminação exclusiva da razão teria pouca credibilidade. O poder não consegue manter-se, nem por predomínio brutal, nem por justificação racional. Ele só se realiza e conserva pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos organizados num quadro cerimonial."
No caso do nosso PM parece-me que este poder brutal e racional vai mesmo continuar por muitos anos. À falta de melhor... Não é Marques Mendes, Paulo Portas, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, ou outro que o vai conseguir destornar da cadeira do poder. Ou a oposiçao faz verdadeira oposição e apresenta lideres fortes e consistentes ou corremos o risco de ter Socrates vencedor em 2009. Ou a sociedade civil se começa a mobilizar e ser mais interventiva, ou continuaremos um país muito central governativamente.

Eu pessoalmente gosto, no geral, do desempenho governativo do PM.
A minha intenção aqui foi também fazer uma pequena analise à volta da figura e da forma como J. Socrates exerce o poder e como a sociedade actua(ou nao) perante isso.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Excelente a sua análise do poder e devo dizer que partilho a sua admiração por G. Balandier. Mas sinceramente não simpatizo com a figura de António Barreto: é uma questão de "gosto"; não confio nele e não sei que contributo ele deu à democracia portuguesa. É sempre oposição, eterna oposição, sem construção. O texto de Barreto diz que Sócrates é um «ditador», mas eu já não caio nessa do papão da ditadura, porque não há regime que detenha o poder recorrendo sempre à força ou à violência. O Poder tem outros mecanismos para se perpetuar e um deles é a verborreia de António Barreto, que no fundo defende o seu "tacho", sem se preocupar com o futuro dos outros. O dele está garantido, como sabemos.
Admiro a sua prudência, quase aristotélica: já somos dois que não vemos Sócrates como um «autoritário». Geralmente, quem o acusa de tal está interessado em manter o seu "feudo medíocre" à custa de eliminar os adversários. Penso que Sócrates mostra vontade de mudar e determinação no sentido da mudança. Mas não vivemos num sistema socraticamente dominado, mas mergulhados numa corrupção que procura resistir à mudança qualitativa. Um sistema que deixa os seus "melhores" de fora não merece respeito: A. Barreto faz parte das forças metabolicamente reduzidas e obscuras e inimigas. Com pessoas como ele não há futuro: "eles" julgam-se superiores, o resto é rále. De facto, são superiores na mediocridade e na maldade.
Abraço

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Helena
Somos aliados... nesta luta por um Portugal mais justo, porque, de momento, é de justiça que precisamos. A democracia não se reduz aos partidos: nos momentos certos os democratas sabem qual é a sua luta,independentemente das filiações partidárias. Na política sou como no futebol: nunca me zango.

Helena Antunes disse...

Quanto a António Barreto como interveniente na esfera política devo confessar que não conheço muito o seu trabalho, daí prefiro não tecer comentários acerca do mesmo.
Admiro o seu trabalho enquanto sociólogo. É uma referência.

Quanto a José Sócrates, confesso: gosto dele. Como o Francisco já deve ter percebido sou do PSD, não só simpatizante como também militante. Tenho uma participação bastante activa na política local deste concelho.
Contudo, admito a minha admiração pela política governativa de J. Sócrates. Não o vejo como um ditador como o constantemente apelidam. Vejo muito gente à minha volta, sobretudo simpatizantes do próprio PS a criticarem perjorativamente o homenzinho. Em tom de brincadeira costumo dizer aos meus amigos "Quando eu for Primeira-Ministar deste país, vocês vão ver o que é um ditador. Nessa altura até vão rezar para J.Sócrates voltar ao poder." :)

Sou da opinião de J.Sócrates esta a dar o rumo certo ao país, está a tomar medidas que já há muito deveriam ter sido tomadas nomeadamente no que concerne às regras da Segurança Social. Algumas um pouco injustas, é certo. Todavia, teriam de ser tomadas senão correriamos o risco da insustentabilidade da Segurança Social em menos de 10 anos.
Quem tem os mínimos conhecimentos de Economia da Segurança Social sabe a urgência com que estas medidas deveriam ser tomadas.
E o que temos assistido é a uma revolta sobretudo dos funcionários públicos. Não sei se o Francisco é funcionário público e peço desculpas se o ofendo. Mas, a meu ver, estes usufruiam de regalias exageradas. Além deles, eram o cônjugue e os filhos o que acho de extrema injustiça. Agora é vê-los também a reivindicarem e a fazerem greves, enquanto anteriormente criticavam negativamente os operários fabris por as fazerem.
Tenho funcionários públicos na família, são do PS, votaram J.Sócrates nas legislativas e agora dizem mal do homem. Eu que sou da oposição não digo tão mal do homem como eles. Porquê? Porque lhes mexeu na carteira. Paciência... Eu estou bem pior, J.Sócrates prometeu 150 mil postos de trabalho e eu estou aqui com uma licenciatura, concluida há quase um ano e ainda não tenho emprego.

Acho que J.Sócrates só peca em coisas como: incerteza relativamente ao local para o aeroporto, se é aqui ou acolá; TGV quando há prioridades no páis que necessitam de investimento; a gratuitidade do aborto enquanto temos de pagar serviços urgentes e necessários de saúde, e por aí...

Acho que é um bom político porque não se deixa ir nas vontadinhas do povo só para caír em estado de graça. É mal-amado porque faz o correcto independentemente disso o deixar bem-visto ou não.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estou sempre a criticar os funcionários públicos e seus sindicatos. É a geração grisalha mais feliz do mundo. Daí as suas preocupações em relação à perda de "regalias" ou "direitos adquiridos", mas não perdem nada. Quem perde são os que não têm emprego na função pública.
Quanto aos professores, com exclusão de uns poucos, são medíocres e os universitários são responsáveis pela decadência do ensino.
A. Barreto não é para mim uma referência sociológica. Não vejo nele grande imaginação sociológica.
:)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Apesar disso, confesso que estou de acordo com A. Barreto em muitas matérias: Para mim, as divergências de opinião são um estimulo para continuar a pensar. É isso que os portuguese mais temem: a crítica, mas sem crítica não há mudança qualitativa, Por isso, sabemos o que eles temem: a própria mudança cujo sentido seria levado a cabo contra a sua mediocridade.
Eles governam sem competência e não merecem o dinheiro que recebem. Ganham muito bem, acima das médias mundiais, e governam (ou ensinam ou trabalham...) muito mal: a prova é o país que temos.
Por isso, sou liberal de esquerda e simpatizante do PS. Mas não me revejo em muitos socialistas: os da engorda.
Quanto ao desemprego, não vejo muita luz no horizonte europeu. Encaro seriamente a possibilidade da decadência rápida do Ocidente ou mesmo um regresso à barbarie: os corruptos e suas políticas já são a barbarie. Infelizmente, o mortal humano julga não ser mortal e, se tudo continuar assim, os mais jovens terão de expulsar do mundo os velhos que teimam ficar com tudo até à morte. A geriatria é um problema sério: os velhos condenam a vida à miséria e sem futuro. Mesmo reformados, continuam a acumular empregos. Cabe aos jovens desempregados dizerem "Basta! Estamos fartos destes velhos que nos recusam o futuro e que nada fizeram de bom para garantir o futuro". De facto, os anos sucedem-se e vemos sempre as mesmas caras a liderar o país em diversas frentes.
Pense nisto...
Abraço