Na sua obra «A Sociedade de Risco», Ulrich Beck elabora uma tese que merece ser pensada: Tese: A origem da crítica e do cepticismo da ciência e da tecnologia não reside na «irracionalidade» dos críticos, mas na negação da racionalidade tecno-científica, tendo em conta o incremento dos riscos e dos perigos da civilização. Pelo contexto da frase, ficamos sem saber quem são esses «críticos» da ciência e da tecnologia, mas, dado vivermos numa sociedade em que os indivíduos são «remetidos a si próprios e ao seu destino laboral individual», supomos que são todos os indivíduos que opinam espontaneamente, sem dominar os assuntos, como se verifica frequentemente aqui na blogosfera, aliás os mesmos indivíduos cujo estilo de vida consumista contribui decisivamente para o agravamento da grave crise ecológica que vivemos. Dado os «críticos» serem os mesmos indivíduos que recusam alterar o seu estilo de vida compulsivamente consumista e egoísta, a sua crítica carece de autoridade, isto é, não é plausível. Mas um desses críticos é o próprio Beck. Com efeito, ele acredita que foram a ciência e a tecnologia que destruíram a natureza. Segundo Beck, as ciências não estão em condições de reagir adequadamente perante os riscos de civilização, porque se formaram e participaram, de maneira notável, no crescimento destes riscos, o mais emblemático dos quais foi Chernobil. Por isso, «a história da consciencialização e do reconhecimento social dos riscos coincide com a história da desmistificação das ciências». A outra face deste reconhecimento é a refutação do «saber científico». A tese de Beck sobre a ciência é muito mais sofisticada do que deixa adivinhar esta breve referência, até porque ele encara a teoria da sociedade de risco como «sociologia cognitiva». Contudo, quando afirma que a filosofia se mistura com a vida quotidiana destes indivíduos dedicados eternamente a refazer as suas biografias, Beck revela um caminho: o regresso em força da Filosofia e da sua tutela. As chamadas ciências sociais autonomizadas mostraram-se incapazes de construir uma teoria da sociedade e, portanto, incapazes de iluminar a prática transformadora. São pseudociências amplificadoras dos riscos de civilização, ameaçando destruir o próprio cérebro humano e o seu prodígio: o pensamento. J Francisco Saraiva de Sousa
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