Em 2005 fui convidado por um professor para apresentar uma conferência sobre comunicação numa Escola Secundária do Porto. Cheguei à Escola e fui bem recebido pelos seus professores, em particular pela sua Presidente do Conselho Directivo. Achei a recepção patética, mas só quando chegámos à sala é que tomei consciência que o público-alvo da conferência não eram os alunos mas a «nata de professores da Escola». Quem conheça bem a forma de funcionamento do ensino em Portugal, sabe o que isso significa. Contudo, preferi provocar o luso-destino triste e vazio e improvisar uma conferência sobre comunicação e self, breve, densa, hipercrítica e estimulante, para motivar os professores. E como é difícil motivar professores! Muito difícil! Durante a exposição detectei algum vazio nos olhares dos meus ouvintes, o que também não é invulgar quando se lida com professores portugueses. Por isso, procurei sempre ser claro e provocativo, mas evitando olhar muito para eles, para não me distrair ou perder a «pica». Quando terminei, esperava que me colocassem questões pertinentes que ajudassem a clarificar melhor o meu pensamento. Mas só escutei elogios deslocados e pensei: «Que burrinhos!» Afinal, como pretendia revelar a multiplicidade de "eus", mantive um deles em inglês, sem o traduzir: o próprio self. E os meus ouvintes, como verifiquei no final, não sabiam o que significava self, continuando a ensinar, ou melhor, a fingir que ensinam até hoje, com aquele ar de "ambulantes vazios" mas extremamente nefastos, aguardando unicamente a reforma. Em Portugal, ser professor significa aguardar a reforma. De facto, ninguém pode acusar os professores de não serem reformistas! Desde esta conferência fui obrigado a repensar a minha teoria do Self e, neste cenário metabolicamente reduzido, interrogo-me se por detrás daqueles rostos vazios e dos movimentos patéticos existe algo semelhante a um Eu. Confesso que ainda não consegui detectar esse eu e, por isso, dedico-me a estudar a psicologia do zombi (morto-vivo), isto é, da ausência de um eu vivo e actuante, obrigando-me a denunciar os luso-discursos patéticos produzidos por figuras patéticas no domínio da filosofia da mente e das neurociências, e confrontando-os constantemente com a sua figura carismática, Daniel Dennett, o feiticeiro vodu. J Francisco Saraiva de Sousa
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