O programa da RTP1 sobre «A Guerra» traz à luz da consciência um momento da História de Portugal maldosamente esquecido por alguns lideres políticos, ausente das cabecinhas ocas da maior parte dos portugueses, sobretudo dos jovens universitários mais preocupados com as noitadas, as bebedeiras, a sua dose de droga, o abuso sexual e a estupidez das praxes académicas do que com o estudo e a sua formação cultural, e muito ignorada pelos intelectuais, talvez por desconhecimento da situação real das chamadas colónias portuguesas. Infelizmente, este programa está muito centrado em Angola e limita-se a recolher o testemunho de pessoas relativamente distantes das realidades sociais das colónias: os pontos de vista militar português e dos combatentes dos movimentos de libertação valem o que valem, mas não constituem a via mais adequada para ter acesso à realidade económica, social, educativa e cultural das colónias. Além disso, os portugueses oriundos de Angola são perfeitamente distintos dos portugueses que viveram em Moçambique. Os segundos sempre foram mais distintos e elitistas do que os primeiros, mais propensos talvez para a mestiçagem caótica e parola. Se houve colonialismo português tal como se fala de um colonialismo inglês ou belga, então o colonialismo português é diferente desses colonialismos europeus e o colonialismo de Moçambique é diferente do colonialismo de Angola. É certo que Moçambique colonial sempre esteve mais ligado à Rodésia e à África do Sul do que Angola, sofrendo, por isso, uma grande influência anglo-saxónica desses países vizinhos, além das relações estreitas e cooperadoras entre as suas populações, mas esta influência nunca se traduziu em práticas racistas. O colonialismo português nunca foi racista e aqueles «brancos» recém-chegados da metrópole que tratassem mal os «negros» não eram bem vistos pelas comunidades portuguesas, podendo mesmo ser «marginalizados» e ostracizados. A prova disso reside no facto de nos últimos anos do período colonial terem sido adoptadas políticas que visavam a integração social dos «negros», através do acesso gratuito à escola e à educação, a profissões liberais, ao desporto, à carreira militar e policial ou mesmo aos negócios. Em Moçambique, muitos profissionais da saúde ou mesmo do ensino já eram «negros». Os «brancos» viam-nos como concidadãos, com os quais desejavam secretamente construir novos países multirraciais independentes de Portugal. Para os «negros», Portugal era um nome, um ponto distante no planisfério, e, para os «brancos» nascidos na metrópole, uma «má memória»: a «Santa Terrinha, pobre, atrasada e ignorante». Os seus filhos já não tinham qualquer ligação afectiva com Portugal e, quando ingressavam na Universidade, muitos aderiam à Frelimo e alguns desertaram do serviço militar. Esta tese do colonialismo português foi brilhantemente desenvolvida por Gilberto Freyre («Casa-Grande & Senzala») e é, no essencial, verdadeira, já que faz justiça aos portugueses que trocaram Portugal atrasado por novas Terras, onde construiram nações de liberdade e de iniciativa. As colónias estavam muito mais desenvolvidas do que a Metrópole, menos isoladas no mundo, dado os contactos estreitos com os países vizinhos ou com o Brasil, politica e culturalmente mais abertos que Portugal continental. As economias arrancavam em força, não havia desemprego, gozava-se de liberdade e de igualdade de oportunidades, incentivava-se a inteligência, a competitividade e a iniciativa, não havia fome ou surtos de epidemias descontroladas, numa palavra, vivia-se bem, muito bem, praticamente numa sociedade de consumo de qualidade. E, repare-se, não se falava de Lisboa, embora já tenha ouvido alguns lisboetas burrinhos dizer que Lisboa, ao contrário do Porto, teve um «império colonial»! O 25 de Abril de 1974 destruiu tudo e os militares abandonaram repentinamente as colónias e os seus habitantes, não só os «brancos», mas também os «mulatos» e os «negros», cuja maioria considerava-se integrada e de nacionalidade portuguesa. Este é o crime do 25 de Abril e da política que se seguiu. É certo que os chamados «retornados», muitos dos quais se consideravam «refugiados» (os filhos ou netos), foram integrados na sociedade portuguesa, mas nunca foram indemnizados pelo Estado Português. Foram enganados e traídos e, apesar disso, tudo fizeram para trazer para Portugal o nível de vida que gozavam nas colónias, mas em vão: os portugueses que nunca saíram de Portugal eram e são muito mais «primitivos» do que os «negros» que vêem como «gente atrasada», como se eles fossem assim tão diferentes dos novos lideres desses novos países africanos. Todos são ladrões, uns mais falsos do que outros, sobretudo quando dizem ser democratas. A subida repentina da ralé ao poder é, em todo o mundo, como já nos tinham alertado os pensadores conservadores, uma das maiores ameaças à Civilização, dado serem infinitamente mais corruptas e vingativas do que as antigas elites. É isso que se passa actualmente em Portugal: os que açambarcaram o poder depois da chamada revolução dos cravos são os maiores inimigos da democracia, da justiça e da liberdade. Neste Portugal medíocre não há futuro! J Francisco Saraiva de Sousa
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