Os homens são sexualmente mais promíscuos do que as mulheres e os homens homossexuais são sexualmente mais promíscuos que os homens heterossexuais (Lauman et al., 1994). Nesta característica, os homens homossexuais são "hipermasculinos". Os dados recolhidos por este estudo de Lauman et al. (1994) sugerem que as mulheres estão menos interessadas na variedade sexual do que os homens (Symons, 1979). Diversos estudos psicossociais e genéticos têm sido realizados para examinar as contribuições dos factores genéticos e ambientais para certos aspectos do comportamento sexual, tais como a idade da iniciação da actividade sexual e o envolvimento em actividades sexuais com múltiplos parceiros.
Factores Ambientais. Muitos estudos evidenciaram o papel das influências ambientais sobre o comportamento sexual. Assim, as crianças oriundas de famílias divorciadas tornam-se sexualmente activas numa idade precoce e têm mais parceiros sexuais (Amato, 1996, Booth, Binkerhoff & White, 1984, Furstenberg & Teitler, 1994, Gabardi & Rosen, 1992, Glenn & Kramer, 1987). Variáveis estruturais familiares estão associadas com a idade do primeiro intercurso sexual: os adolescentes oriundos de famílias mono-parentais iniciam a sua actividade sexual em idades mais precoces (Miller & Moore, 1990). Níveis elevados de comportamento de monitorização parental foram associados com idade tardia da primeira relação sexual (Capaldi, Crosby & Stoolmille, 1996, Miller, McCoy, Olson & Wallace, 1986, Small & Luster, 1994). Estes jovens também tinham poucos parceiros sexuais (Rodgers, 1999). Níveis elevados de «self-reported parent-family connectedness» (Resnick et al., 1997) e níveis elevados auto-relatados de satisfação com as relações com as suas mães (Jaccard, Dittus & Gordon, 1998) foram associados com idade tardia da primeira relação sexual e com poucos parceiros sexuais. O uso de álcool e de drogas e a delinquência estão fortemente associados com o início precoce de actividade sexual (Jessor & Jessor, 1977, Rosenbaum & Kandel, 1990, Whitbeck, Yoder, Hoyt & Conger, 1999, Yamaguchi & Kandel, 1987). Aspirações educacionais baixas e fraca ligação à escola foram associadas ao comportamento sexual precoce (Hayes, 1987, Lammers, Ireland, Resnick & Blum, 2000, Small & Luster, 1994).
Factores Genéticos. A influência genética sobre a idade do primeiro intercurso sexual foi avaliada por alguns estudos de gémeos. Dunne et al. (1997) e Martin, Eaves & Eysenck (1977) mostraram que existe uma contribuição genética na determinação da idade do primeiro intercurso sexual. Usando dados do National Longitudinal Study of Youth, Rodgers, Rowe & Buster (1999) descobriram que as influências genéticas e ambientais não-partilhadas constituem importantes determinantes na idade do primeiro intercurso sexual nos pares de gémeos masculinos. Miller et al. (1999) relataram que a variação alélica dos genes que codificam os receptores da dopamina pode desempenhar um papel importante na idade da primeira relação sexual. Hershberger (1994) estudou gémeos para examinar as influências genéticas sobre o envolvimento em actividade sexual com múltiplos parceiros, mas sem resultados geneticamente significativos. Usando os métodos da genética quantitativa, Michael J. Lyons et al. (2004) realizaram um estudo para avaliar o papel das influências genéticas e ambientais na idade da iniciação das primeiras relações sexuais e no envolvimento na actividade sexual com múltiplos parceiros (10 ou mais parceiros num ano), numa amostra de gémeos masculinos do Vietnam Era Twin Registry. Os resultados mostraram que os dois aspectos do comportamento sexual eram significativamente herdados e somente a idade das primeiras relações sexuais era significativamente influenciada pelo meio partilhado pelos gémeos. A variação observada pode ser significativamente atribuível a diferenças genéticas entre os indivíduos. Os efeitos genéticos aditivos reflectem as acções de um vasto número de genes, cada um com pequeno efeito, cujas influências se combinam de uma forma aditiva para produzir diferenças ao nível fenotípico. A iniciação precoce de relações sexuais estava associada com uma probabilidade elevada de ter múltiplos parceiros sexuais. Estes resultados são consistentes com estudos do comportamento sexual dos adolescentes que mostraram que a socialização familiar (aprendizagem social) e os factores biológicos (maturação) influenciam significativamente a idade da primeira relação sexual nos rapazes (Capaldi et al., 1996, Crockett, Bingham, Chopak & Vicary, 1996, Halpern, Udry, Campbell & Suchindran, 1993, Udry & Billy, 1987). Cherkas et al. (2004) estudaram pares de mulheres gémeas e descobriram que a indifelidade e o número de parceiros sexuais estão sob controle moderado de influências genéticas: 41% e 38% herdáveis, respectivamente. A correlação genética entre estes dois traços é forte (47%) e as atitudes em relação à infidelidade são influenciadas pelo meio comum partilhado e não por factores genéticos. Contudo, não descobriram associação entre estes traços comportamentais e o locus revelado noutros mamíferos: o do gene receptor da vasopressina. Curiosamente, dois estudos de "neuroeconomia" fornecem alguma evidência do papel desempenhado pela oxitocina no comportamento de cooperação e de confiança humana. Zak, Kurzban & Matzner (2005) mostraram que a oxitocina está associada com a "confiança recíproca humana", porque as percepções de intenções de confiança afectam os níveis de circulação de oxitocina, elevando-os. Kosfeld et al. (2005) descobriram que a administração intranasal de oxitocina (Born et al., 2002) produz um aumento substancial de confiança e de cooperação entre os seres humanos. As teorias biopsicológicas da promiscuidade sexual vacilam entre duas concepções (Gazzaniga, 1996): uma concepção recorre ao "modelo químico do cérebro" e das toxicodependências para definir a hipersexualidade como dependência/adição; a outra concepção socorre-se de outra variável da nossa personalidade, nomeadamente as compulsões, colocando a promiscuidade sexual num contexto POC (perturbação obsessivo-compulsiva), juntamente com o jogo patológico, embora as duas concepções não sejam incompatíveis. Porém, uma das hipóteses mais esclarecedora ainda é a hipótese do gene receptor da dopamina 4.
Hipótese D4DR. O "efeito Coolidge" é o conceito usado para referir o interesse dos machos em diversos parceiros sexuais e está bem documentado nos humanos (Buss, 1994, 1989) e noutras espécies animais, tais como carneiros, ratos e chimpanzés. Este interesse masculino demostra três dos aspectos fundamentais das características genéticas: ocorre em diversas culturas e épocas, encontra-se nas outras espécies e revela variabilidade individual, todos eles utilizados por Eibl-Eibesfeldt (1983, 1977) para estudar os comportamentos hereditários humanos.
O estudo genético deste efeito deriva do estudo da personalidade, especificamente da característica denominada "procura de novidade", que significa encontrar prazer em experiências novas, variadas e intensas. Os estudos de Bogaert & Fisher (1995) e de Zuckerman et al. (19) demonstraram que os "grandes perseguidores de novidades" satisfazem a sua necessidade de mudança e variedade com um grande número de parceiros sexuais. O seu registo contribui mais para prever o número de parceiros sexuais do que qualquer outro factor (beleza física, masculinidade, idade ou interesse geral pelo sexo). Isto significa que, quanto mais um indivíduo perseguia novidades, mais parceiros tinha. Disseram ser óptimo fazer sexo com alguém que acabavam de conhecer, mesmo que não tivessem a certeza de gostar um do outro. Os "perseguidores menos activos" tinham mais probabilidades de se interessar pelo sexo apenas quando estavam muito apaixonados e, de preferência, casados. Os perseguidores de emoções viam o sexo como um «jogo», enquanto os que não procuravam emoções viam o sexo como uma expressão de compromisso emocional.
Além disso, os perseguidores de emoções tinham uma extensão e variedade de actividades sexuais maior que a dos que menos interessados, em particular tinham mais probabilidades de usar sexo oral e posições sexuais menos habituais. No entanto, a ligação entre a busca de emoções e a voracidade sexual não é o impulso sexual, porquanto os perseguidores de emoções não se masturbavam mais do que os outros, mas tinham mais parceiros. Isto sugere que a busca de emoções se refere à forma como se faz sexo e a quem se procura para o fazer, não à frequência sexual.
Ebstein et al. (1996) e Benjamin et al. (1996) mostraram que a busca de novidades é, em grande parte, determinada pelo gene receptor de dopamina 4, um activador do comportamento que existe em abundância no nucleus accumbens, e que existe uma correlação entre o gene D4DR e o número de parceiros sexuais. Nos homens heterossexuais, os grandes perseguidores de novidades têm a forma longa do gene D4DR, enquanto os pouco interessados em novidades têm a forma curta. Embora os primeiros tivessem um número ligeiramente superior de parceiros do que os segundos, a diferença não era estatisticamente significativa.
Contudo, alguns homens heterossexuais tinham feito sexo com outro homem, geralmente apenas uma vez e quando eram novos e, neste aspecto do seu comportamento sexual, havia uma forte correlação com o gene D4DR. Com efeito, os grandes perseguidores de novidades com o gene longo tinham seis vezes mais probabilidades de ter feito sexo com outro homem do que os que tinham um gene curto. Cerca de metade dos inquiridos do gene longo já tinha feito sexo com um parceiro sexual masculino, em comparação com apenas 8% dos homens com o gene curto.
Nos homens homossexuais, verificava-se precisamente o contrário. Como seria de esperar, os homossexuais tinham mais parceiros sexuais masculinos do que os heterossexuais tinham parceiras femininas, provavelmente porque no mundo gay o efeito Coolidge é universal e o gene D4DR tinha o efeito esperado. Contudo, o seu efeito era muito mais forte para o número de parceiras femininas dos homens homossexuais. Os grandes perseguidores homossexuais de novidades, com a forma longa do gene, tinham feito sexocom cinco vezes mais mulheres do que aqueles que não procuravam novidades, com a forma curta do gene. Estes resultados mostram que o gene receptor da dopamina D4 influencia indirectamente o comportamento sexual masculino, mediante o comportamento de busca de novidades. Ono et al. (1997) confirmaram esta associação quando estudaram sujeitos japoneses e finlandeses.
Em Portugal, muitos homens homossexuais, sobretudo os "encobertos", que fazem sexo com mulheres e que são casados heterossexualmente e têm filhos, frequentam assiduamente os "circuitos gay de sexo anónimo" e de "sexo virtual" em busca de potenciais parceiros sexuais ocasionais. É provável que o desejo de novas experiências desempenhe o seu papel neste comportamento, mas o facto de terem sexo com mulheres deve-se fundamentalmente a pressões familiares, profissionais e sociais. Certas carreiras profissionais são reguladas em conformidade com normas heterosexistas e algumas delas, como a carreira militar, policial ou política, exigem praticamente que os homens sejam casados. Os efeitos da dopamina D4 não podem ser dissociados destes factores sociais e, entre os homens homossexuais, estão certamente associados à variedade de experiências sexuais, prática de sexo arriscado, de sexo em grupo e de "sexual bondage".
J Francisco Saraiva de Sousa
Factores Ambientais. Muitos estudos evidenciaram o papel das influências ambientais sobre o comportamento sexual. Assim, as crianças oriundas de famílias divorciadas tornam-se sexualmente activas numa idade precoce e têm mais parceiros sexuais (Amato, 1996, Booth, Binkerhoff & White, 1984, Furstenberg & Teitler, 1994, Gabardi & Rosen, 1992, Glenn & Kramer, 1987). Variáveis estruturais familiares estão associadas com a idade do primeiro intercurso sexual: os adolescentes oriundos de famílias mono-parentais iniciam a sua actividade sexual em idades mais precoces (Miller & Moore, 1990). Níveis elevados de comportamento de monitorização parental foram associados com idade tardia da primeira relação sexual (Capaldi, Crosby & Stoolmille, 1996, Miller, McCoy, Olson & Wallace, 1986, Small & Luster, 1994). Estes jovens também tinham poucos parceiros sexuais (Rodgers, 1999). Níveis elevados de «self-reported parent-family connectedness» (Resnick et al., 1997) e níveis elevados auto-relatados de satisfação com as relações com as suas mães (Jaccard, Dittus & Gordon, 1998) foram associados com idade tardia da primeira relação sexual e com poucos parceiros sexuais. O uso de álcool e de drogas e a delinquência estão fortemente associados com o início precoce de actividade sexual (Jessor & Jessor, 1977, Rosenbaum & Kandel, 1990, Whitbeck, Yoder, Hoyt & Conger, 1999, Yamaguchi & Kandel, 1987). Aspirações educacionais baixas e fraca ligação à escola foram associadas ao comportamento sexual precoce (Hayes, 1987, Lammers, Ireland, Resnick & Blum, 2000, Small & Luster, 1994).
Factores Genéticos. A influência genética sobre a idade do primeiro intercurso sexual foi avaliada por alguns estudos de gémeos. Dunne et al. (1997) e Martin, Eaves & Eysenck (1977) mostraram que existe uma contribuição genética na determinação da idade do primeiro intercurso sexual. Usando dados do National Longitudinal Study of Youth, Rodgers, Rowe & Buster (1999) descobriram que as influências genéticas e ambientais não-partilhadas constituem importantes determinantes na idade do primeiro intercurso sexual nos pares de gémeos masculinos. Miller et al. (1999) relataram que a variação alélica dos genes que codificam os receptores da dopamina pode desempenhar um papel importante na idade da primeira relação sexual. Hershberger (1994) estudou gémeos para examinar as influências genéticas sobre o envolvimento em actividade sexual com múltiplos parceiros, mas sem resultados geneticamente significativos. Usando os métodos da genética quantitativa, Michael J. Lyons et al. (2004) realizaram um estudo para avaliar o papel das influências genéticas e ambientais na idade da iniciação das primeiras relações sexuais e no envolvimento na actividade sexual com múltiplos parceiros (10 ou mais parceiros num ano), numa amostra de gémeos masculinos do Vietnam Era Twin Registry. Os resultados mostraram que os dois aspectos do comportamento sexual eram significativamente herdados e somente a idade das primeiras relações sexuais era significativamente influenciada pelo meio partilhado pelos gémeos. A variação observada pode ser significativamente atribuível a diferenças genéticas entre os indivíduos. Os efeitos genéticos aditivos reflectem as acções de um vasto número de genes, cada um com pequeno efeito, cujas influências se combinam de uma forma aditiva para produzir diferenças ao nível fenotípico. A iniciação precoce de relações sexuais estava associada com uma probabilidade elevada de ter múltiplos parceiros sexuais. Estes resultados são consistentes com estudos do comportamento sexual dos adolescentes que mostraram que a socialização familiar (aprendizagem social) e os factores biológicos (maturação) influenciam significativamente a idade da primeira relação sexual nos rapazes (Capaldi et al., 1996, Crockett, Bingham, Chopak & Vicary, 1996, Halpern, Udry, Campbell & Suchindran, 1993, Udry & Billy, 1987). Cherkas et al. (2004) estudaram pares de mulheres gémeas e descobriram que a indifelidade e o número de parceiros sexuais estão sob controle moderado de influências genéticas: 41% e 38% herdáveis, respectivamente. A correlação genética entre estes dois traços é forte (47%) e as atitudes em relação à infidelidade são influenciadas pelo meio comum partilhado e não por factores genéticos. Contudo, não descobriram associação entre estes traços comportamentais e o locus revelado noutros mamíferos: o do gene receptor da vasopressina. Curiosamente, dois estudos de "neuroeconomia" fornecem alguma evidência do papel desempenhado pela oxitocina no comportamento de cooperação e de confiança humana. Zak, Kurzban & Matzner (2005) mostraram que a oxitocina está associada com a "confiança recíproca humana", porque as percepções de intenções de confiança afectam os níveis de circulação de oxitocina, elevando-os. Kosfeld et al. (2005) descobriram que a administração intranasal de oxitocina (Born et al., 2002) produz um aumento substancial de confiança e de cooperação entre os seres humanos. As teorias biopsicológicas da promiscuidade sexual vacilam entre duas concepções (Gazzaniga, 1996): uma concepção recorre ao "modelo químico do cérebro" e das toxicodependências para definir a hipersexualidade como dependência/adição; a outra concepção socorre-se de outra variável da nossa personalidade, nomeadamente as compulsões, colocando a promiscuidade sexual num contexto POC (perturbação obsessivo-compulsiva), juntamente com o jogo patológico, embora as duas concepções não sejam incompatíveis. Porém, uma das hipóteses mais esclarecedora ainda é a hipótese do gene receptor da dopamina 4.
Hipótese D4DR. O "efeito Coolidge" é o conceito usado para referir o interesse dos machos em diversos parceiros sexuais e está bem documentado nos humanos (Buss, 1994, 1989) e noutras espécies animais, tais como carneiros, ratos e chimpanzés. Este interesse masculino demostra três dos aspectos fundamentais das características genéticas: ocorre em diversas culturas e épocas, encontra-se nas outras espécies e revela variabilidade individual, todos eles utilizados por Eibl-Eibesfeldt (1983, 1977) para estudar os comportamentos hereditários humanos.
O estudo genético deste efeito deriva do estudo da personalidade, especificamente da característica denominada "procura de novidade", que significa encontrar prazer em experiências novas, variadas e intensas. Os estudos de Bogaert & Fisher (1995) e de Zuckerman et al. (19) demonstraram que os "grandes perseguidores de novidades" satisfazem a sua necessidade de mudança e variedade com um grande número de parceiros sexuais. O seu registo contribui mais para prever o número de parceiros sexuais do que qualquer outro factor (beleza física, masculinidade, idade ou interesse geral pelo sexo). Isto significa que, quanto mais um indivíduo perseguia novidades, mais parceiros tinha. Disseram ser óptimo fazer sexo com alguém que acabavam de conhecer, mesmo que não tivessem a certeza de gostar um do outro. Os "perseguidores menos activos" tinham mais probabilidades de se interessar pelo sexo apenas quando estavam muito apaixonados e, de preferência, casados. Os perseguidores de emoções viam o sexo como um «jogo», enquanto os que não procuravam emoções viam o sexo como uma expressão de compromisso emocional.
Além disso, os perseguidores de emoções tinham uma extensão e variedade de actividades sexuais maior que a dos que menos interessados, em particular tinham mais probabilidades de usar sexo oral e posições sexuais menos habituais. No entanto, a ligação entre a busca de emoções e a voracidade sexual não é o impulso sexual, porquanto os perseguidores de emoções não se masturbavam mais do que os outros, mas tinham mais parceiros. Isto sugere que a busca de emoções se refere à forma como se faz sexo e a quem se procura para o fazer, não à frequência sexual.
Ebstein et al. (1996) e Benjamin et al. (1996) mostraram que a busca de novidades é, em grande parte, determinada pelo gene receptor de dopamina 4, um activador do comportamento que existe em abundância no nucleus accumbens, e que existe uma correlação entre o gene D4DR e o número de parceiros sexuais. Nos homens heterossexuais, os grandes perseguidores de novidades têm a forma longa do gene D4DR, enquanto os pouco interessados em novidades têm a forma curta. Embora os primeiros tivessem um número ligeiramente superior de parceiros do que os segundos, a diferença não era estatisticamente significativa.
Contudo, alguns homens heterossexuais tinham feito sexo com outro homem, geralmente apenas uma vez e quando eram novos e, neste aspecto do seu comportamento sexual, havia uma forte correlação com o gene D4DR. Com efeito, os grandes perseguidores de novidades com o gene longo tinham seis vezes mais probabilidades de ter feito sexo com outro homem do que os que tinham um gene curto. Cerca de metade dos inquiridos do gene longo já tinha feito sexo com um parceiro sexual masculino, em comparação com apenas 8% dos homens com o gene curto.
Nos homens homossexuais, verificava-se precisamente o contrário. Como seria de esperar, os homossexuais tinham mais parceiros sexuais masculinos do que os heterossexuais tinham parceiras femininas, provavelmente porque no mundo gay o efeito Coolidge é universal e o gene D4DR tinha o efeito esperado. Contudo, o seu efeito era muito mais forte para o número de parceiras femininas dos homens homossexuais. Os grandes perseguidores homossexuais de novidades, com a forma longa do gene, tinham feito sexocom cinco vezes mais mulheres do que aqueles que não procuravam novidades, com a forma curta do gene. Estes resultados mostram que o gene receptor da dopamina D4 influencia indirectamente o comportamento sexual masculino, mediante o comportamento de busca de novidades. Ono et al. (1997) confirmaram esta associação quando estudaram sujeitos japoneses e finlandeses.
Em Portugal, muitos homens homossexuais, sobretudo os "encobertos", que fazem sexo com mulheres e que são casados heterossexualmente e têm filhos, frequentam assiduamente os "circuitos gay de sexo anónimo" e de "sexo virtual" em busca de potenciais parceiros sexuais ocasionais. É provável que o desejo de novas experiências desempenhe o seu papel neste comportamento, mas o facto de terem sexo com mulheres deve-se fundamentalmente a pressões familiares, profissionais e sociais. Certas carreiras profissionais são reguladas em conformidade com normas heterosexistas e algumas delas, como a carreira militar, policial ou política, exigem praticamente que os homens sejam casados. Os efeitos da dopamina D4 não podem ser dissociados destes factores sociais e, entre os homens homossexuais, estão certamente associados à variedade de experiências sexuais, prática de sexo arriscado, de sexo em grupo e de "sexual bondage".
J Francisco Saraiva de Sousa
15 comentários:
Dedico este post ao regresso da Papillon. :)
Oh, tão simpático! :)
N percebo é porque me dedica posts sobre sexualidade... eu só tenho alguns (poucos) traços de personalidade histriónica. :)))
Este texto é revelador, particularmente, pela hipótese DRD4, a ânsia de novidades (parceiros diferentes e "abordagens" diferentes) e, por exemplo, as experiências homossexuais por homens heterossexuais...
mas fiquei sem perceber se esta hipótese tb é válida para o sexo feminino, ou se a procura por gratificações sempre novas é uma perturbação (do âmbito compulsivo, por exemplo). Ou seja: qd uma mulher tem relações sexuais com um homem que conhece no próprio dia, o senso comum toma-o como um comportamento desviante, porque mesmo que essa mulher tenha tal desejo, não o deverá consumar pelo papel que ela deve representar na sua plena maturidade, daí interpretarem-na como "vulgar" ou "fácil", porque ela tem de ser "rara" e "difícil". Portanto: a mulher tb pode ser determinada para constantes novidades, ou é, de cada vez, uma desordem psico-social? (não sei se a pergunta está bem feita).
Bem...o minimo que se poderá dizer é que se trata de um presente original, sei lá, não é todos os dias que uma Mulher regressa de uma viagem e encontra à sua espera um D4DR assim embrulhado em promiscuidade e com um lacinho sexual...:)))
Papillon
Também se aplica às mulheres e refiro um estudo genético de Cherkas. Os factores culturais que refere têm o seu papel.
Sim, a compulsão é uma abordagem tida em conta. Como digo no post, as duas abordagens são compatíveis e julgo que a outra via é a da oxitocina e vasopressina que apresentei no outro post.
Manuel
Já tinha falado ontem com a Papillon. Por isso, dediquei-lhe o post. É aspenas um "lacinho sexual" e de pensamento também.
Procurei dar uma visão actual sobre o assunto, sem desenvolver todos os aspectos. Com tempo posso vir a abordar alguns pormenores com mais cuidado.
Para mim, sexo é sexo, nada mais do que um tema de investigação! Como fiz pesquisa nesse campo, falo naturalmente dele!
Sim, existem algumas amostras de mulheres sexualmente promíscuas. E a promiscuidade sexual pode ser uma perturbação preocupante, porque afecta a saúde do próprio e a vida de terceiros. Mas o D4DR aplica-se aos dois casos! :)))
Sim, já vi, o estudo das gémeas. Mas estes textos são de difícil leitura, pelo menos para mim, que n estou habiuada a lê-los e estão pejados de conceitos q n conheço. :(
De qualquer maneira, o F. incide sempre no comportamento masculino e homossexual, daí perguntar pelas mulheres!
Claro q fala naturalmente de sexo, eu tb falo, e o meu conhecimento é só de o fazer. :)
"de o fazer"! Isso é melhor! :))
Curiosamente, a infidelidade devia ser muito elevada nos paises nórdicos, mas os últimos estudos mostram o contrário. Isto porque há a noção de que as relações afectivas e a própria família estão em crise. Mas não é assim. Ontem falamos um pouco disso: a genética que nos une!
Como vou regressar ao trabalho, vou postar mais sobre o assunto: junto o útil ao agradável!
Falamos dos homossexuais porque são o modelo mais "terrível" da promiscuidade sexual. Poucos homens heterossexuais atingem um tal nível de promiscuidade... Alguns dizem que a ciência abusa dos homossexuais, mas tb estão enganados: dá-lhes visibilidade! E sabe os erros cometidos no passado: tratá-los como se fossem heterossexuais. Muitos erros de análise devido a um preconceito. :)
Sim, mas continuam a inscrevê-los num "freak show"... Só se libertam as mulheres: as "lésbicas emancipadas" como lhes chama. Enfim. :)
Ok, fico à espera dos seus novos apontamentos. Tem um trabalho muito interessante e é simpático ao publicá-lo e permitir, assim, o acesso fácil a este tipo de informação. :)
Ok Vou editar nos próximos dias um resumo da minha visão do "freak show"... Sou "objectivo"!
A comercialização da oxitocina já está tomada! Um bom negócio! :((
Para controlar comportamentos promíscuos administra-se oxitocina? É isso?
Tá, fico à espera. :)
Um bom Domingo :)
Não, a oxitocina está associada à confiança recíproca: boas sensações! Infelizmente certos tipos de promiscuidade são mais complexos. :)
A sua nova colecção de fotografias deve ser impressionante... Onde esteve tem muita monumentalidade! :)))
Ah boas sensações! Por isso fala da cocaína! Realmente a cocaína e o MDMA (vulgo extasy) trazem "boas sensações": devem elevar essa oxitocina, por isso são ambas drogas mto perigosas porque forjam esse bem-estar ... :(
(já vou ler o seu post)!
Ainda há muita coisa por esclarecer, até porque ainda não dominamos o mecanismo do orgasmo, ao qual a oxitocina está ligada!
Adição: o cérebro faz economia de princípios! :)
Ah, admirável mundo novo...uma cereja para este bolo:
“– Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.
– Em suma – disse Mustafá Mond –, o senhor reclama o direito de ser infeliz.
– Pois bem, seja – retrucou o Selvagem em tom de desafio. – Eu reclamo o direito de ser infeliz."
(Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo)
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