Infelizmente, os programas de Fátima Campos começam a ser muito monótonos, repetitivos e chatos. E o de hoje (18 de Fevereiro de 2008) dedicado à nova ponte sobre o Tejo foi simplesmente um retrato vivo da falta congénita de inteligência dos portugueses, mas sobretudo destes convidados permanentes de Fátima Campos. É certo que este formato pode colocar a Fátima Campos bem posicionada nas redes corruptas das pseudo-elites lisboetas, mas o preço desse posicionamente privilegiado tem um preço elevado: ninguém já está interessado em ver o programa. O seu crédito inicial está esgotado. De informativo e formativo o programa tornou-se um reflexo enfadonho do descrédito da política nacional, mais precisamente da política lisboeta. Quando os portugueses acusam o Estado de reduzir o país a Lisboa, como se o resto fosse paisagem, estão, provavelmente sem disso terem consciência, a distanciar-se e, de certo modo, a excluir-se da "unidade nacional", enfaticamente encarnada por Lisboa, a "capital", a "linda cidade", a "maior", enfim toda uma série de qualificativos que a tornam cada vez mais odiável aos olhos dos portugueses não-lisboetas, que, no seu íntimo, aguardam um novo terramoto. Contudo, os portugueses são vítimas da sua falta de genialidade e, por isso, não assumem a luta pela autonomia. Como capital de Portugal, Lisboa é a sede da corrupção nacional. O caso do aeroporto e agora o da terceira travessia do Tejo mostram isso: os chamados projectos nacionais são projectos lisboetas. Lisboa comporta-se como a antiga capital "imperial" dos astecas, Tenochtitlán, que explorava as suas "províncias", obrigando-as a pagar "tributos" descomunais, para manter o seu sonho ridículo de vir a ser "a capital mais bela da Europa" ou mesmo do "mundo" (afirmação novamente repetida neste programa). Cada construção, cada obra realizada em Lisboa, corresponde aos "altares astecas" que, como se sabe, eram "talhos", onde se sacrificavam milhares de pessoas capturadas durante as "guerras floridas", com o objectivo dos habitantes consumirem a sua carne. De certo modo, Lisboa é uma capital tão canibalística quanto o era Tenochtitlán: os seus habitantes ainda não consomem a nossa carne, mas consomem o nosso desenvolvimento e sacam os nossos impostos, como se estivéssemos convencidos da sua propaganda canibal. É, por isso, que agora vejo claramente os interesses que movem estas grandes construções na região de Lisboa e áreas limítrofes: investir tudo novamente na capital, a futura "cidade das duas margens", cujas "elites" ou os seus candidatos são movidas exclusivamente pela ganância de enriquecer a qualquer preço, sem levar em conta os imperativos de uma política racional do ambiente. Os seus neurónios não são células vivas, mas cifrões que matam para engordar. Lisboa é gorda e espero bem que esta nova camada de gordura a converta numa cidade obesa inviável, letal, inundada e sempre ameaçada pela catástrofe natural. A História revela alguns padrões repetitivos: a gula da capital é um deles, mas o terramoto pode ser o outro, o mais imprevisível de todos. Quando um Estado está corrompido até à medula, ele não merece ser conservado, mas derrubado pela força das armas. Mas, como os portugueses são seres pouco corajosos e, portanto, pouco dignos de um outro futuro mais brilhante, só a catástrofe natural pode corrigir os erros sistematicamente cometidos por meia dúzia de homens que se julgam únicos e imortais, como se os restantes fossem lixo que enganam e exploram a seu bel-prazer. Nenhum destes projectos é efectivamente um projecto nacional no sentido genuíno do termo, mas antes um projecto antinacional, sobretudo se levarmos em conta a "escala" de Portugal. Lameto apenas o facto deste governo que apoio, já sem chama ou mesmo esperança, ser muito semelhante aos que o antecederam neste aspecto verdadeiramente importante: ausência de um projecto verdadeiramente nacional, mais centrado na reforma das mentalidades e da cultura, a única reforma capaz de se libertar dos erros cometidos por outros países e de reinventar um novo modelo nacional de desenvolvimento sustentável que pudesse contagiar positivamente a Europa decadente. Em vez de caminharmos na direcção do Norte, caminhamos na direcção do Sul, mas de um Sul mais africano do que mediterrânico! Portugal parece estar definitivamente condenado a ser um país africano ou, como dizia Gilberto Freyre, uma "cultura mestiça" condenada ao marasmo e à folia popular, enquando as suas elites enriquecem à custa do aprofundamento da pobreza mental dos tugas que procuram o sol para ficarem tão escurinhos quanto os marroquinos. Como dizia Hegel, um povo sem metafísica nunca terá um lugar de relevo na História da Humanidade. Apesar de partilhar o auto-elogio que o Primeiro-Ministro, José Sócrates, fez também hoje numa entrevista que deu na SIC, não posso partilhar o seu optimismo quanto às reformas educativas em curso, as quais vão eliminar a cultura superior, aliás na sequência das reformas implementadas desde o 25 de Abril de 1974, e lamento a sua falta de coragem para imprimir uma reforma radical de Portugal. A seu favor conta apenas com a falta de credibilidade das oposições, sobretudo a do seu arqui-inimigo: o PSD, o verdadeiro coveiro e mentor da corrupção nacional. (Trata-se de um post irónico e deve ser lido como tal, porque não desejo que aconteça nenhum mal aos lisboetas que são tão enganados quanto os outros portugueses. Lamento as últimas inundações, como é evidente!) J Francisco Saraiva de Sousa
8 comentários:
Todo o governo gosta de deixar a sua marca na historia, obras que se designam obras de regime, foi a expo, foi a ponte Vasco da Gama, foram os estádios, evidentemente que mantendo essa tradição o actual executivo teria de fazer o mesmo.
Lançam-se obras para o futuro, chamam a isso modernizar o pais, aproximá-lo da Europa, novo aeroporto, TGV, nova ponte, no entanto laçam-se também as facturas para o futuro, quem vier que pague porque nessa altura já cá não estão.
Entretanto ali nas zonas dessas obras começam a aparecer o abutres, os grandes tubarões e alguns patos bravos, para verem o lucro que dai podem tirar.
E vamos ficar com a margem sul poluída e devastada!
Podiam pensar noutra maneira de deixar obra mais "humana"... Um país culturalmente desenvolvido, um território bem ordenado, emprego pelono, empresas mais libertas do Estado, um Estado mais democrático, leve e justo..., enfim tudo aquilo que dá qualidade de vida! Quanto à ponte a passar por cima do Terreiro do Paço é uma ideia pouco estética e racional! :)
Francisco, às vezes acho que só mesmo um terremoto (ou outra solução da natureza) para afastar a letargia que afeta boa parte das consciências do país em que vivo. Como já lhe disse uma vez, fico impressionado com as semelhanças entre Brasil e Portugal.
Os programas de TV daqui, em sua maioria, apelam para uma pornografia grosseira, para uma entretenimento do tipo "pão e circo". Como é triste escutar as idiotices proferidas por alguns "especialistas", que afirmam a necessidade de existirem programas voltados exclusivamente à diversão (novelas, programas de auditório, etc), pois o "povo trabalha demais, sofre em demasia e necessita rir e ocupar a mente com amenidades". Que bela justificativa, não é? Há um nítido mecanismo perverso que visa à preservação da ignorância.
"Há um nítido mecanismo perverso que visa à preservação da ignorância."
É isso mesmo André!
O pior é que não sabemos como eliminar esse mecanismo. A ignorância dos luso-especialista da TV é terrível e cínica: é intencional e visa apenas o seu próprio enriquecimento. A nova ponte e aeroporto aqui vão enriquecer os engenheiros, os construtores..., etc.... O país não fica mais rico...
Concordo quase inteiramente contigo Francisco.
Se o aeroporto me parece a mim uma questão quase nacional, e sem duvida regional, a 3ª ponto parece-me a maior palhaçada concelhia que ja vi. Já viram os preços: mais de 1 bilião de euros! Já viram bem os abusos?
O prós e contras tem uma pessiam apresentadora e os temas são bastante entediantes, pena a rtp ter tanta gente com qualidade e nao apresentar programas daqueles.
Tambe assisti quase desinteressado áquilo pois á primeira vista parecia-me um programa de uma tv local sobre um assunto local, tirando esta parte: os dinheiros tem que vir dos contribuintes de todo o país. É claro que isto é norma corrente: com as barragens do douro tb é assim, com as pontos de gaia-porto tb é assim, com o fluviario de mora tb é assim, com o aeroporto de faro tb é assim. No entanto devemso manter um bom senso de saber ate que ponto uma obra é de facto indispensavel. Nova travesssia? TTT? perfeitamente dispensavel.
abraço
É o país em que vivemos. :(
Talvez ainda haja alguma esperança de mudar esta situação. A filosofia deve assumir a oposição! Retomar a sua vocação política... Assim, poderemos defender a cultura superior sem fechar cursos! :)))
Eu nem digo nada... com o fel que estou... quer dizer, eu lá com o aeroporto ainda estou como o outro, mas quando ouço falar em TGV e novas pontes estou quase como o outro que sempre que ouvia falar de Cultura sacava do revólver!
Já somos muitos assim... Com tantas outras prioridades... :)
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