«Assim comete adultério a alma, quando se afasta de ti (Deus) e fora de ti procura aquilo que não encontra puro e transparente, senão quando volta para ti». (Santo Agostinho, Confissões, II, 14) O cristianismo é, por definição, a-político e, por isso, um dos seus maiores intérpretes, Santo Agostinho (354-430), manifesta um desinteresse extremo em relação à vida económica e política: o seu interesse não está voltado para este mundo e as coisas mundanas, mas para o outro mundo, onde o homem que sofreu o suficiente no mundo terreno alcançará a felicidade eterna junto de Deus. A teoria do livre arbítrio de Santo Agostinho poderia ter sido usada para estimular um maior empenhamento nos assuntos comuns da vida política, mas, em vez de orientar a tarefa da libertação, parece fomentar uma espécie de ódio ou de desprezo pelo mundo terreno. A verdadeira justiça não tem a sua sede neste mundo, mas na «cidade de que se fala na Sagrada Escritura: “Publicaram de ti coisas gloriosas, ó Cidade de Deus”» (De Civitate Dei, II, 22). Este desinteresse pelo mundo temporal, portanto, pela "cidade terrena" levou Santo Agostinho a preconizar a submissão dos cristãos às leis e à ordem das sociedades estabelecidas, mesmo que essas leis e ordem não fossem inteiramente justas. A comunidade dos cristãos, afirma Santo Agostinho, «nunca tem dificuldade em obedecer às leis da cidade terrena, promulgadas para a boa administração e regulamento desta vida transitória» (De Civitate Dei, XIX, 17). Este desinteresse que o cristianismo exprime em relação à vida política e económica levou-me, num estudo estudantil, a defender a tese de que o triunfo do cristianismo no mundo ocidental representava o eclipse da filosofia política, ou, dito de forma provocante, não existe uma filosofia política cristã (Cf. Hannah Arendt). Existe sim uma desvalorização da política em nome da "salvação eterna", junto a Deus: «A família humana, diz Santo Agostinho, que não vive da fé busca a paz terrena nos bens e recompensas (huius) desta vida temporal. Ao contrário, aquela cuja vida é regulada pela fé está à espera dos bens eternos prometidos para o futuro. Utiliza as realidades temporais desta terra como quem está em pátria alheia. Põe cuidado em não ser tomada por elas nem desviada do seu ponto de vista, Deus, e procura apoiar-se nelas para suportar e nunca agravar o peso deste corpo corruptível, que oprime (aggravat) a alma» (De Civitate Dei, XIX, 17). Porém, esta desvalorização da vida política e económica tem um sentido fortemente político: significa a submissão do homem ao status quo e à injustiça social, significa abnegação ou mesmo quietismo. A teoria medieval do Estado baseia-se em dois princípios: o conteúdo da revelação cristã e a concepção estóica da igualdade natural do homem, dos quais resultam duas características específicas da “posição política cristã”: 1) Contrariamente aos gregos que viam as leis como o resultado da razão humana, os cristãos defendem que todas as leis são a revelação da vontade divina, o que significa que as leis coincidem com a vontade de Deus.
2) Contrariamente aos gregos que consideravam que os homens eram desiguais ou diferentes, visto que «é por nascimento que se estabelece a diferença entre os destinados a mandar e os destinados a obedecer» (Aristóteles, Política, 1, 5), os cristãos, tal como os estóicos, aceitam a doutrina da igualdade e da liberdade dos homens. Santo Agostinho aceita esta doutrina estóica segundo a qual, em conformidade com a natureza das coisas e na sua ordem original, todos os homens são livres e iguais. Por isso, Santo Agostinho afirma que a escravatura não é uma instituição natural, mas uma exigência da sanção do pecado: «Depois de ter criado o homem racional e de o ter feito à sua imagem, (Deus) não quis que ele dominasse sobre os homens, mas sobre os animais» (De Civitate Dei, XIX, 15). Portanto, Deus concedeu ao homem poder sobre todos os animais, mas negou-lhe qualquer poder sobre as outras almas humanas. Apesar desta sua adesão ao estoicismo, Santo Agostinho, no mesmo capítulo, desenvolve a doutrina da aceitação necessária do “mal social” como punição do pecado: «A situação de escravatura é uma justa imposição feita ao pecador» (De Civitate Dei, XIX, 15). Os escravos são homens vencidos numa guerra. Ora, «toda a vitória, mesmo a que foi obtida pelos maus, é um efeito dos justos desígnios de Deus, que humilha com ela os vencidos, quer os queira emendar, quer os queira punir». (De Civitate Dei, XIX, 15). Assim, a escravatura resultante de uma derrota desejada por Deus, é, ela própria, justa! E Santo Agostinho conclui: «A escravatura é, portanto, uma pena, e foi imposta por esta lei que manda conservar a ordem natural e que proíbe perturbá-la, dado que, se não se tivesse feito nada contra essa lei, a escravatura não teria nada a punir. Eis por que o apóstolo aconselha os escravos (Efésios, VI, 5) a serem submissos aos seus senhores e a servirem-nos com bom coração e boa vontade, a fim de que, se não puderem ser libertos da sua profissão, saibam encontrar nela a liberdade, nunca servindo por temor, mas por amor, até que a iniquidade passe e que toda a dominação humana seja aniquilada, no dia em que Deus será tudo em todos» (De Civitate Dei, XIX, 15). Em face destas considerações, não devemos ficar espantados pelo facto do cristianismo ter sido bem recebido pelos senhores que mandam no mundo temporal e de Martinho Lutero, aquando da guerra dos camponeses de 1524-1525, ao contrário de Thomas Münzer (Ernst Bloch), tenha aconselhado os camponeses a obedecer sem protestos ao poder dos príncipes alemães, visto que, segundo a doutrina cristã, o seu poder é uma delegação do poder divino (Cf. Lucien Febvre, Herbert Marcuse). Esta perspectiva decorre da própria teologia política de Santo Agostinho, segundo a qual «todo o poder vem de Deus» (1) e, «uma vez que Deus é o autor e o regulador de tudo, é impossível que ele tenha querido deixar os reinos da Terra fora das leis da Providência» (2), o que significa que a história dos impérios e dos regimes particulares, tal como apresentada na sua obra polémica "Cidade de Deus" (413-427), obedece a um plano geral da Providência, princípio ainda presente na filosofia da história de Hegel e, de certo modo, nas filosofias seculares da história. Contudo, a teoria agostiniana da escravatura e da submissão às leis da cidade terrena deve ser suavizada pelo facto de Santo Agostinho retomar a oposição entre a lei natural e a lei positiva. A lei natural, que reside no coração de cada homem, é a lei de Deus, e a lei cristã é a promulgação exterior da lei interna da alma. Embora mantenha esta distância entre o ideal cristão e a política positiva, Santo Agostinho defende, ao mesmo tempo, a necessidade de cultivar as boas relações entre ambos os poderes, o temporal e o divino, dado considerar que o direito positivo deveria ser o desenvolvimento da lei natural, isto é, que o império deveria subordinar-se moralmente à Igreja. Daqui irá surgir mais tarde uma versão do cristianismo mais empenhada na concretização dessa aproximação e, uma vez que a escravatura nunca foi considerada como uma instituição natural, muitos cristãos, leigos ou clérigos, irão desempenhar um papel importante na luta contra a escravatura. Em Portugal, tivémos um jesuíta que dedicou toda a sua vida, sem qualquer sucesso devido à mesquinhez dos governantes do seu tempo que chegaram ao ponto de expulsar os judeus de Portugal, à luta contra a escravatura dos índios no Brasil: chama-se Padre António Vieira que, ao contrário de Santo Agostinho, abraçou o messianismo. J Francisco Saraiva de Sousa
2) Contrariamente aos gregos que consideravam que os homens eram desiguais ou diferentes, visto que «é por nascimento que se estabelece a diferença entre os destinados a mandar e os destinados a obedecer» (Aristóteles, Política, 1, 5), os cristãos, tal como os estóicos, aceitam a doutrina da igualdade e da liberdade dos homens. Santo Agostinho aceita esta doutrina estóica segundo a qual, em conformidade com a natureza das coisas e na sua ordem original, todos os homens são livres e iguais. Por isso, Santo Agostinho afirma que a escravatura não é uma instituição natural, mas uma exigência da sanção do pecado: «Depois de ter criado o homem racional e de o ter feito à sua imagem, (Deus) não quis que ele dominasse sobre os homens, mas sobre os animais» (De Civitate Dei, XIX, 15). Portanto, Deus concedeu ao homem poder sobre todos os animais, mas negou-lhe qualquer poder sobre as outras almas humanas. Apesar desta sua adesão ao estoicismo, Santo Agostinho, no mesmo capítulo, desenvolve a doutrina da aceitação necessária do “mal social” como punição do pecado: «A situação de escravatura é uma justa imposição feita ao pecador» (De Civitate Dei, XIX, 15). Os escravos são homens vencidos numa guerra. Ora, «toda a vitória, mesmo a que foi obtida pelos maus, é um efeito dos justos desígnios de Deus, que humilha com ela os vencidos, quer os queira emendar, quer os queira punir». (De Civitate Dei, XIX, 15). Assim, a escravatura resultante de uma derrota desejada por Deus, é, ela própria, justa! E Santo Agostinho conclui: «A escravatura é, portanto, uma pena, e foi imposta por esta lei que manda conservar a ordem natural e que proíbe perturbá-la, dado que, se não se tivesse feito nada contra essa lei, a escravatura não teria nada a punir. Eis por que o apóstolo aconselha os escravos (Efésios, VI, 5) a serem submissos aos seus senhores e a servirem-nos com bom coração e boa vontade, a fim de que, se não puderem ser libertos da sua profissão, saibam encontrar nela a liberdade, nunca servindo por temor, mas por amor, até que a iniquidade passe e que toda a dominação humana seja aniquilada, no dia em que Deus será tudo em todos» (De Civitate Dei, XIX, 15). Em face destas considerações, não devemos ficar espantados pelo facto do cristianismo ter sido bem recebido pelos senhores que mandam no mundo temporal e de Martinho Lutero, aquando da guerra dos camponeses de 1524-1525, ao contrário de Thomas Münzer (Ernst Bloch), tenha aconselhado os camponeses a obedecer sem protestos ao poder dos príncipes alemães, visto que, segundo a doutrina cristã, o seu poder é uma delegação do poder divino (Cf. Lucien Febvre, Herbert Marcuse). Esta perspectiva decorre da própria teologia política de Santo Agostinho, segundo a qual «todo o poder vem de Deus» (1) e, «uma vez que Deus é o autor e o regulador de tudo, é impossível que ele tenha querido deixar os reinos da Terra fora das leis da Providência» (2), o que significa que a história dos impérios e dos regimes particulares, tal como apresentada na sua obra polémica "Cidade de Deus" (413-427), obedece a um plano geral da Providência, princípio ainda presente na filosofia da história de Hegel e, de certo modo, nas filosofias seculares da história. Contudo, a teoria agostiniana da escravatura e da submissão às leis da cidade terrena deve ser suavizada pelo facto de Santo Agostinho retomar a oposição entre a lei natural e a lei positiva. A lei natural, que reside no coração de cada homem, é a lei de Deus, e a lei cristã é a promulgação exterior da lei interna da alma. Embora mantenha esta distância entre o ideal cristão e a política positiva, Santo Agostinho defende, ao mesmo tempo, a necessidade de cultivar as boas relações entre ambos os poderes, o temporal e o divino, dado considerar que o direito positivo deveria ser o desenvolvimento da lei natural, isto é, que o império deveria subordinar-se moralmente à Igreja. Daqui irá surgir mais tarde uma versão do cristianismo mais empenhada na concretização dessa aproximação e, uma vez que a escravatura nunca foi considerada como uma instituição natural, muitos cristãos, leigos ou clérigos, irão desempenhar um papel importante na luta contra a escravatura. Em Portugal, tivémos um jesuíta que dedicou toda a sua vida, sem qualquer sucesso devido à mesquinhez dos governantes do seu tempo que chegaram ao ponto de expulsar os judeus de Portugal, à luta contra a escravatura dos índios no Brasil: chama-se Padre António Vieira que, ao contrário de Santo Agostinho, abraçou o messianismo. J Francisco Saraiva de Sousa
35 comentários:
O cristianismo prega a salvação pessoal da alma numa ascese até ao reino dos Céus, logo, sendo um caminho absolutamente só, há um afastamento da vida política. Por outro lado, como "somos todos iguais" e temos que "amar os outros como a nós mesmos", o primeiro princípio nunca chega a por em causa a obediência às regras mundanas, como diz S. Agostinho.
Acho curiosa a sua posição perante a escravatura, remetida à noção terrível de pecado, logo, uma necessidade; mas, até mesmo, uma justiça por parte do vencedor! Aqui, é aventado um cristianismo ainda pouco "cristão"... :)))
Olá Papillon
Hoje acordei "místico"! Vou postar em "Mestre Eckhart: Mística e Política"! :)
Falta a outra parte: "Sto Agostinho e História". A minha não; a de Sto Agostinho. Repare: somos todos iguais e livres "perante Deus". O Direiro diz: "perante a Lei". Mas, na realidade. como sabemos, não somos iguais e uns são mais "livres" do que outros! Como mostrou o bastonário, Marinho Pinho!
Esse princípio cristão do amor será político? H. Arendt fala dele... É preciso reler S. Paulo!
Segundo S. Agostinho, somos sempre livres, mesmo quando escravizados, pois reside em nós a escolha de amar, e de nos rendermos pacificamente..., até que num ultra-mundo metafísico tudo se recomponha!
Enfim, uma doce aberração.
Sim, para mim é claramente político; aliás esse princípio encontra-se em quase todas as fundações das religiões, não somente no cristianismo.
Sim, político, graças à mediação mística de Mestre Eckhart: a primazia do conhecimento, a centelha, o homem divinizado, o instante, a união mística... Ele converteu o alemão em língua filosófica!
Quando falo no a-político, procuro um diálogo com H. Arendt, retomando os mestres gregos e a filosofia política. Há a mediação de Cícero! Mas gostava que clarificasse esse conceito de amor como conceito político! :)))
Pensa na "amizade" de Aristóteles?
Contudo, há sempre o "lado bom" da "escravatura": a doce submissão do "escravo" ao seu "amo". Esta pratica-se até hoje! :)))
Não acho que haja um lado "bom" na submissão, mas antes uma necessidade estratégica. Penso que qualquer pessoa anseia dominar, ou pelo menos ser livre.
Não, não pensava na philia aristotélica que é muito complexa e não tem nada a ver com o amor universal cristão.
Digo que ele é político, na medida em que ele cede ao desejo colectivo de paz social, o tal lado "bom" na submissão, da aquiescência. O cristianismo apela ao sentimento de compaixão: os escravos têm compaixão pelos escravizador (n sei se existe esta palavra) porque eles "não sabem o q fazem". Quer mais senso político do que este? Perfeito!
Politicamente, sou contra qualquer tipo de "escravatura". Por isso, não aceito a sua "justificação"! Mas não vejo o amor como política ou capaz de sustentar uma política, sobretudo visto como "compaixão". Está muito à Schopenhauer! Nem nesse sentido ético aceito a compaixão!
Porém, brincava consigo: referia-me às práticas de "sexual bondage"!
N sou schopenhaeuriana! Considero que a moral cristã cobre uma sustentabilidade política, na medida que o próprio S. Agostinho a explicita: não se revoltem, escravos...
N percebi que era de bondage que estava a falar
Aliás... até o "cultivo" da ignorância, tão disseminado pela Igreja e insituições homólogas, é uma estratégia política... não o observa?
Quantas vidas teve Agostinho, e quantas vidas tem o “nosso S.”?
Alegadamente um problema de saúde levou a “alma tórrida africana” a abandonar uma promissora carreira política. É curiosa a reviravolta na vida deste homem (qual estrada de Damasco), que o levou a organizar um Symposion – De Beata Uita (Diálogo sobre a Felicidade) em 386, cujo dia inaugural foi o dia do seu aniversário, com toda a pompa e circunstância. Um estudo sobre o amor e o desejo.
Sim, mas o "não se revoltem" é quietismo político. Deixei essa ideia clara no texto: o lado negativo do cristianismo, que também contém a semente da revolta, quer por via do messianismo, quer por via mística. E, nesse sentido, somos herdeiros do cristianismo, no bem como no mal, conforme disse noutro post.
O amor cristão é mais complexo e a primeira enciclica de Bento XVI aborda isso. Eu vejo a política como "luta" e debate... Não preciso de "amar" para defender uma causa que não me envolva pessoalmente! :)))
Oi F. Dias
Sto Agostinho teve uma trajectória vida complexa: sofreu muitas influências, em especial do platonismo que, segundo creio, nunca abandonou verdadeiramente, e do maniqueísmo. Foi um homem vivido e soube experimentar a carne da vida. Mas converteu-se e soube usar os seus conhecimentos de retórica para defender o cristianismo. A "sua" suposta "origem africana" não merece debate...
Sim, Papillon, mas essa é uma visão (cristã) obscura da política! Defendo a Grande recusa e a Revolta contra o obscurantismo político! :)))
“Ser feliz consiste em não ser indigente, ou seja, em ser sábio….Sabedoria consiste na moderação da alma. A alma derrama-se na luxúria, nas ambições e no orgulho e outros excessos deste género, em que as almas dos desregrados e dos infelizes julgam obter prazer e poderio…”[Santo Agostinho]
A tal história da biografia do “nosso S.”= Sócrates que ao procurar um estar prático na vida, quantas vidas ele já teve? E como isso sufocou os outros que podiam ser e não foram?
É esta trapalhada da Trindade. Transmigrar o Espírito Santo, de Agostinho – Joaquim de Fiora – Vieira, em BES.
Percebi! :)))
Já tinha comentado isso com a Papillon! Bes-ada terrível! Santissíma Trindade mesmo!
Mas eles não são ser humanos, porque carecem de "despojamento", desprendimento, a "pobreza da alma", como diz Mestre Eckhart!
P inferno devia existir para tais "criaturas"!
O Francisco hoje está mesmo místico!
Olhe, o Quinto Império de Vieira levado às últimas consequências é um império místico. O mesmo império de Camões sonhado na Ilha dos Amores. Penso que aqui Papillon também concordará. Não há nenhum acto racional que possa ser ao mesmo tempo humano e divino. Só o místico pode, porque opera fora do tempo e do espaço.
É um império sem imperador, em que os homens vivem uma fraternidade humana, mas numa compreensão divina, sem que nenhum homem mande noutros homens.
Exacto: a mística sempre foi, na sua essência, política (da revolução). Eckhart defendeu o homem divinizado, portanto, livre, não noutro mundo, mas aqui e agora! Pena é que os homens de hoje não queiram ser livres! Aceitam tudo, até os corruptos!
:(((
Mas a mística só funciona como princípio heurístico, tal como as ideias platónicas: guias.
Eu quero ser livre, Francisco! Mas parece que toda a gente tem o seu preço hoje em dia, n é? Somos (todos) prostitutos.
Eis o nosso problema, Papillon! Vou ler Lenine: "Que Fazer" (brinco)! É verdade: vivemos num mundo de cães! :(((
O dinheiro suscita a maior parte das vociferações que ouvimos: é o dinheiro que fatiga os tribunais, é ele que coloca pais e filhos em desavença, é ele que derrama venenos, é ele que põe a espada nas mãos dos assassinos e das legiões; ele está manchado de sangue nosso; é por causa dele que as discussões de marido e mulher ressoam na noite, é por causa dele que a turba aflui aos tribunais; por causa dele, os reis massacram, saqueiam e arrasam cidades que demoraram séculos a construir, para procurarem ouro e prata entre as cinzas. Vês os cofres arrumados a um canto? É por causa deles que se grita até os olhos saírem das suas órbitas e que os brados ressoam nos tribunais; é por causa deles que juízes vindo de regiões longínquas se reúnem para decidir qual é a avidez mais justa. E quando, não por um cofre, mas por um punhado de ouro ou por um denário que se dispensaria a um escravo, se perfura o estômago de um velho que ia morrer sem herdeiros? E quando, possuindo vários milhares, um usurário de pés e mãos deformados, incapaz sequer de mexer no dinheiro, reclama, furioso, os juros dos seus asses? Se me apresentasses todas as minas e todo o dinheiro que delas retiramos, se pusesses aos meus pés todos os tesouros escondidos (pois a avareza devolve ao interior da terra aquilo que dela fora retirado com maldade). não creio que todas estas riquezas conseguissem impressionar um homem virtuoso. Quão risíveis são todas as coisas que nos provocam lágrimas!
Adivinhem quem escreveu isto! :)))
O problema já é "antigo"
Papillon, o preço da liberdade é demasiado caro! Sermos estrangeiros na nossa pátria corrompida pela "trindade" (Gula + Dinheiro + Poder)! Por isso, admiro Marx: "mudar o mundo", neste caso, o próprio "homem". Como? Confesso que não sei! Está tudo conformado e com um medo terrível de perder os tostões!
O texto não me é estranho! Aristófanes tem algo parecido, suponho! A economia monetária era alvo da atenção dos gregos. Spengler vê na "ditadura do dinheiro" o nosso declínio! Marx tem diversos "hinos" no mesmo sentido! Mas diga o nome do autor ou é do século XVI?
Sófocles tem um belo poema sobre o provérbio antigo "O homem é dinheiro".
Latino! Séneca. De Ira.
Romano, aliás... :)))
Eis o poema:
"O dinheiro compra amizades, honras, distinções e poder,
E coloca o homem junto ao trono do tirano orgulhoso
Por sendas conhecidas e por sendas desconhecidas,
Agilmente o rico vai ascendendo, enquanto o pobre
Resignadamente abdica de seus anseios mais queridos"
Sófocles
George Thomson tem diversos estudos sobre o pensamento grego, um dos nossos clássicos da área. Um intitulado "Marxismo e Poesia". Belo!
Conheço mal Séneca! :(((
Gosta mesmo dos marxistas - conhece-os a todos! :)))
Este carnaval vou de capuchicho... vermelho! lol o meu paroxista manifesto comunista! Mas a mim ninguém me "come" e n preciso do "caçador" para me salvar.
Hummmm... eu já n me mascaro...
Eu gosto de me mascarar. Espero n perder com a idade.
Pode fazer de Capitão-gancho, de Medusa ou Pierrot!
Ou todinho de couro, qual deus sado menor! :)
Ui! Que medo!
Não apareça assim diante dos Capuchinhos Vermelhos ou das Ninfas dos bosques! Nós preferimos o divertido Pã e a sua flauta! :)
Isso tudo pouco me importa, enquanto eu ainda puder jogar, quero que todos se fodam.
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