segunda-feira, 21 de maio de 2012

Programação de Novos Estudos

Cidade do Porto ao anoitecer
«Nós não desembarcámos neste planeta como alienígenas. A humanidade é parte da natureza, uma espécie que evoluiu ao lado de outras espécies. Quanto mais nos identificarmos com o restante da vida, mais rapidamente seremos capazes de descobrir as origens da sensibilidade humana e de adquirir o conhecimento sobre o qual fundamentar uma ética durável, um verdadeiro senso de direcção». (Edward O. Wilson)


«Gostaria de dizer ainda que o homem perdeu o seu rumo actualmente - o que poderíamos chamar de dilema da humanidade. Ele necessita alguma nova mensagem pela qual possa viver com esperança e significado. Penso que a ciência foi longe demais fazendo diminuir a crença do homem na sua grandeza espiritual e dando-lhe a ideia de que ele é meramente um insignificante ser material na frígida imensidão cósmica. (...) Creio que existe um mistério no homem, e asseguro que pelo menos é maravilhoso para o homem ter o sentimento de não ser um macaco apressadamente reformado, e que existe alguma coisa muito mais maravilhosa na sua natureza e no seu destino». (John C. Eccles)

«Para mim, agora (na hora da morte), a única realidade é a alma humana». (Charles Sherrington)

«O espírito é o homem que se conhece. Ele tem que ter continuidade através de períodos de sono e coma. Presumo então que este espírito tem de vir de uma ou de outra maneira após a morte. Eu não posso duvidar que muitos (homens) estabelecem contacto com Deus e se direccionam para se tornarem espíritos superiores. Mas estas crenças são pessoais, que cada homem deve adoptar para si próprio. Se ele possuir apenas um cérebro e não uma mente, esta difícil decisão poderia não ser dele». (Wilder Penfield)

«Se o homem é social por natureza, então ele desenvolve a sua verdadeira natureza só na sociedade». (Karl Marx)

Georg Lukács desenvolveu uma ontologia do ser social, onde faz alguma justiça a esta afirmação de Marx, mas não soube ver a sua implicação no campo da medicina ou mesmo da biologia. Vou dar continuidade aos estudos biológicos e biomédicos, mas desta vez realizados com uma preocupação antropológica: o objectivo destes estudos é preparar o terreno para a emergência de um novo paradigma do homem que deverá orientar toda a investigação no domínio da antropologia filosófica. Infelizmente, em Portugal e nos países de língua portuguesa, a antropologia filosófica nunca teve eco: interpreto esta indiferença lusófona em relação ao paradigma do homem como sintoma de uma insegurança dos utentes de língua portuguesa quanto à sua própria humanidade. Esta insegurança antropológica generalizou-se a toda a área cultural do Ocidente: o homem metabolicamente reduzido, dotado de inteligência reduzida e destituído de fibra moral e de honestidade intelectual, atribui aos animais as qualidades que deviam pertencer-lhe. (Os homens mais desonestos que conheço são os portugueses, que, como diz um amigo de São Paulo, referindo-se aos brasileiros, parasitam as sinapses dos outros, apropriando-se ilegitimamente dos pensamentos alheios sem mencionar os seus autores.) Esta transferência da humanidade do homem para o animal resulta de um processo de degenerescência genética e de degradação cultural em curso. Ao esbater as fronteiras entre o animal e o homem, a ciência biológica contribuiu para este processo, mas o grande responsável pela miséria humana é o capitalismo, cuja lógica do lucro está a devastar a terra. Uma das funções da Filosofia é denunciar o sonho totalitário que se abriga na noção de programação. (O behaviorismo antropológico não surgiu nos Estados Unidos da América por mero acaso: a programação do comportamento humano esteve sempre ao serviço da economia capitalista de mercado.) O desenvolvimento tecnológico não é, em si mesmo, inofensivo e neutral: a tecnologia é um imenso projecto de dominação total. (A ficção científica prevê um cenário futuro terrível: o homem a lutar contra um sistema - tecnológico ou alienígena - que lhe nega as suas qualidades humanas.) Eis alguns títulos previstos que parecem apontar no sentido da elaboração de uma tipologia diferencial apriorística das imagens do homem (Menschenbilder), tal como foi sugerida por Alois Dempf (1967):

1. A Imagem do Homem na Biologia de Monod.


3. O Materialismo Emergentista e o Problema Mente/Cérebro.

4. A Imagem do Homem na Ecologia: a Biodiversidade Ameaçada, o Homem Ameaçado.

5. A Imagem do Homem na Genética Molecular do Cancro.

6. Filosofia da Evolução e a Imagem do Homem.

7. Tecnologia e a Imagem da Humanidade Programada.

8. A Imagem do Homem na Medicina Legal e Forense. (Estive a pensar e cheguei à conclusão que sou mais competente a abordar - A Imagem do Homem na Patologia. A existência de uma anatomia patológica específica do homem permite ir ao encontro da antropologia da doença e do mórbido.)

Curiosidade extra-texto. Encontrei recentemente o meu projecto de juventude precoce de uma Crítica da Razão Tecnológica. Lembro-me de ter publicado alguns artigos sobre esse projecto que acabei por abandonar. Porém, ele ressurgiu neste texto programático e acho que estou mais maduro para o levar a cabo. A minha segurança intelectual revela-se no facto de saber que posso concluir qualquer projecto, lançando nova luz sobre os problemas que tento resolver. A Crítica da Razão Tecnológica foi pensada para suplantar Kant. Eu aprendi a ler lendo literatura para adultos, filosofia e ciência: quase não li nada indicado para a minha idade. Nunca me interessei por "coisas" para crianças: sacava os livros da biblioteca e lia-os. Hoje, à hora do almoço, escutei uma conversa entre pessoas vulgares e pensei: "Que pessoas burras!" O meu desejo mais básico de momento era eliminá-las: odeio mediocridade. Mas tive um outro pensamento muito calvinista: "Não há lugar na eternidade para almas idiotas".

J Francisco Saraiva de Sousa

6 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hoje estou cognitivamente mortífero: respiro pura inteligência sob o olhar protector de Deus!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Fico imensamente feliz por saber que tenho audiência em Moçambique e Angola: um dos meus objectivos é contribuir para o vosso desenvolvimento. E tb de Portugal e do Brasil, presenças constantes e fortes. Qto aos USA e Europa do Norte, trata-se de uma ligação de proximidade! :)))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Tb não têm outra alternativa, a não ser a da rendição intelectual! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Quando vim para o Porto, parava o trânsito. Agrada-me saber que gero reboliço em New York e em Berlim! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Ministro da Economia chamou "coisos" aos desempregados. Pena os "coisos" andarem flácidos; caso contrário, dávamos com eles na cara do ministro, bolinha de gordura pegajosa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um ministro de Portugal a usar linguagem sexual! Agora vamos todos conjugar o verbo coisar! :(