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sábado, 2 de novembro de 2013

Dossier Filosofia Médica (3)

 Mala Moçambicana
Eis mais algumas ideias sobre Filosofia Médica:

1. O nazismo forçou o exílio de muitos intelectuais alemães. Adorno que nunca foi feliz no seu exílio americano falou da sua "vida danificada". Ora, nascer português é nascer para a vida danificada. Esta é uma verdade terrível que devia ser discutida publicamente pelos portugueses. A maldade humana manifesta-se em diversos momentos da história. Mas não é permanente como a maldade portuguesa.

2. Deleuze dedicou um livro à explicitação da filosofia de Foucault sem no entanto ter alcançado esse objectivo. Desconheço a existência de uma análise da "Arqueologia do Saber" de Foucault, obra onde ele se debate com o estruturalismo. Além disso, a relação de Foucault com o marxismo ainda não foi explicitada, embora as entrevistas forneçam muitas indicações a esse respeito. Eu comecei a ler Foucault durante a minha adolescência: a articulação entre relação de produção (Marx) e relação de poder sem teoria política (Nietzsche) nunca me seduziu: o aparelho de Estado ocupou sempre um lugar de destaque no meu pensamento. Estou convencido de que podemos analisar o Hospital, a Prisão, o Exército, etc., a partir da teoria do poder de Marx sem rejeitar o contributo de Foucault.

3. Hospital Psiquiátrico: Foucault e Goffmann aliaram-se à Anti-Psiquiatria para demolir esta instituição de saúde. Devo reconhecer que sempre estive associado a essa tendência num terreno estritamente científico: a defesa de uma Psiquiatria Biológica. No entanto, não sou favorável ao fechamento dos Hospitais Psiquiátricos. A crítica de Goffmann do Hospital Psiquiátrico como instituição total é justa: aprecio tudo o que disse sobre os territórios do eu e sobre os processos de mortificação do eu. Estes fenómenos ocorrem em qualquer tipo de internamento. Precisamos de uma Filosofia da Hospitalização.

4. Infelizmente, ainda não temos uma História da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, a vanguarda da medicina e da psiquiatria portuguesas. As obras fundadoras da Psiquiatria Portuense não estão disponíveis no mercado do livro. Barahona Fernandes tentou suprir essa lacuna dos estudos médicos portugueses escrevendo "A Psiquiatria em Portugal" como complemento de "Um Século de Psiquiatria" de P. Pichot. Porém, a obra é francamente medíocre. Barahona Fernandes limita-se a condenar a anti-psiquiatria tal como a entende Foucault. 

5. Os médicos portuenses dão nome a diversas instituições de saúde espalhadas pelo país. Destaco três nomes: Júlio de Matos, Miguel Bombarda e Magalhães de Lemos, para já não falar de Ricardo Jorge. Júlio de Matos escreveu duas obras fundamentais: "Os Alienados nos Tribunais" e "A Loucura", nas quais se afirma como alienista-filósofo. Magalhães Lemos defendeu a face neurológica da psiquiatria. António Maria de Sena legou-nos uma obra profunda: "Os Alienados em Portugal". Enfim, uma série de obras que ainda não foram estudadas. De certo modo, a anti-psiquiatria tal como a entende Foucault percorre cada uma delas. O cerne da anti-psiquiatria é a luta  com, dentro e contra a instituição psiquiátrica: o questionamento do poder na prática anti-psiquiátrica leva à desmedicalização da loucura

6. António Mendes Correia é outro ilustre portuense que nos legou um conjunto de obras em diversas áreas científicas, da biologia à história, passando pela antropologia e pela criminologia: O Génio e o Talento na Patologia (1911), Criminosos Portugueses (1913), Crianças Delinquentes (1915), Antropologia (1915), Raça e Nacionalidade (1919), Homo (1921), Os Povos Primitivos da História (1924), A Antropologia nas suas relações com a Arte (1925), A Nova Antropologia Criminal (1931), Origens da Cidade do Porto (1932), Da Biologia à História (1934), Da Raça e do Espírito (1940), Uma Jornada Científica na Guiné Portuguesa (1946) e Antropologia e História (1954). A malvadez dos portugueses condena ao esquecimento as obras dos ilustres portuenses.

7. Interrompi o meu estudo sobre a evolução da psiquiatria portuguesa para estudar a situação da psiquiatria nos países asiáticos, tais como China, Coreia, Tailândia, Japão e Índia. Fiquei encantado com a abordagem cultural da psiquiatria asiática. Entretanto, tenho espreitado a psiquiatria forense americana, em especial o homicídio sexual em série porque ela me permite reintroduzir a noção de maldade, de modo a pensar a natureza perversa dos portugueses.

8. O aumento do número de assassinos em série nos USA levou alguns teóricos a reintroduzir a noção de maldade dentro da esfera da psiquiatria. As noções de mal e de pecado transitam da esfera religiosa para a esfera da psiquiatria e da filosofia, dando-nos uma plataforma conceptual de pensamento sobre a experiência humana universal de crueldade e dor (Cf. Andrew Delblanco, 1995). Doravante, a maldade ocupa um lugar privilegiado nos vocabulários profissionais da psiquiatria e da filosofia: as pessoas que cometem actos de crueldade devem ser consideradas responsáveis pelos seus actos, mesmo que uma doença mental possa estar presente.

9. Cesare Lombroso (1836-1909) acreditava que havia uma forte correlação entre certas configurações faciais e várias tendências criminais: o self exterior compartilhava assim da mesma "degeneração" manifestada pelo self interior do insano (Morel). De Cardano e Della Porta a Lombroso, passando por Gall, predominava o interesse pela fisionomia, no caso dos italianos, e pelo formato do crânio, no caso de Gall. Ora, em Portugal, a obra de António Mendes Correia situa-se nessa linhagem teórica da criminalidade: o ilustre portuense elaborou uma nova antropologia criminal - e do génio, tal como Lombroso, que urge analisar nesse contexto cultural.

10. A síndrome japonesa de ka-roh-shi - cujo significado literal é "morte por excesso de trabalho" - tem preocupado os psiquiatras japoneses. À carga de trabalho imposta pelas empresas japonesas aos executivos médios, eles acrescentam as pressões parentais. Com efeito, a elevada expectativa parental por desempenho académico está na base da criação de um sistema de escolas extremamente exigentes, onde os alunos continuam debruçados sobre os seus livros após o termo do seu já longo dia escolar. No Japão, as crianças estudam e fazem tudo para obter boas classificações escolares. Ora, as pressões familiares e sociais levam aqueles que não conseguem alcançar as notas exigidas à depressão ou mesmo à delinquência. A taxa de suicídio é alta no Japão. Em Portugal, as escolas já não funcionam: a paixão pela ignorância converteu as escolas portuguesas em recreios de engate.

11. O meu interesse pelas neurociências espirituais abriu a minha mente ao estudo de Tomio Hirai (1989) sobre uma forma de meditação Zen - Zazen - em relação ao tratamento psiquiátrico. O Zazen - a meditação sentada - está relacionado com os ensinamentos budistas e o estado de tranquilidade que proporciona é chamado satori (iluminação) que significa mente livre de ilusões. À medida que a meditação prossegue, a frequência de ondas alfa diminui gradualmente e aparecem as ondas teta rítmicas, alterações que correspondem àquelas que ocorrem durante o sono e estados de transe hipnótico. A filosofia da meditação Zen é mais interessante que a filosofia da psicanálise.

12. A disfunção psicossexual é frequente na China. Nos homens, a disfunção psicossexual pode tomar a forma de suoyang que significa "encolhimento do pénis". Na cultura popular, esta condição representa a perda da força yang (masculina) como resultado de actividades sexuais excessivas ou de possessão por espíritos maus (Wen, 1995). Além disso, a masturbação excessiva pode exaurir o yang do indivíduo, levando à condição mórbida conhecida como shenkui, equivalente ao nosso antigo conceito de neurastenia. O significado original de shenkui é deficiência renal, reflectindo a crença popular de que o rim armazena o sémen. A neurastenia cerebral - nao-shenjing shuai-ruo - está relacionada com esta neurastenia sexual, sendo ocasionada por excesso de estudos: tontura, falta de concentração e de memória e insónia são os seus sinais.

J Francisco Saraiva de Sousa

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Palavra do Anjo Nocturno: Portugal está morto

Arte de Rua, Cidade-Estado do Porto
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de miséria, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalépsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.» (Balanço Patriótico, Guerra Junqueiro

Durante algum tempo alimentei o projecto de pensar uma filosofia em língua portuguesa, de modo a avaliar os contributos do pensamento português para a Filosofia Universal. Porém, depressa compreendi que, com excepção da Escola do Porto, os portugueses odeiam visceralmente o pensamento filosófico e científico. A imbecilidade natural dos portugueses foi pensada por Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoaes, entre outros ilustres portuenses. A minha experiência de exílio interior levou-me a restringir o âmbito desse projecto filosófico destacando apenas o pensamento portuense. Ultimamente o projecto filosófico portuense converteu-se num projecto político: a auto-instituição da Cidade do Porto como Cidade-Estado. Operei assim uma ruptura com Portugal, cuja morte anuncio hoje.

1. Acordei a pensar que é necessário rever todas as nossas teorias filosóficas sobre o homem nas suas relações com o mundo. O homem não é nenhuma maravilha da natureza; é talvez o ser propenso à loucura e à violência desmesurada. As antropologias propostas com base na etologia apreenderam o diabo que habita cada um dos homens. A saturação social torna-nos inimigos mortais uns dos outros. E num tal ambiente de hostilidade cada sociedade define o Outro como alvo a abater. O clima é favorável à vinda triunfal do Anti-Cristo.

2. O sebastianismo pode ser criticado de modo a revelar a "essência" portuguesa: Um povo sem história digna de ser rememorada em termos mundiais sonha com o Quinto Império realizado sob a liderança de uma figura portuguesa. Ora, nós sabemos que os portugueses são desprezados por todos os europeus e por todos os povos da terra: Um povo medíocre e inferior - um povo sem metafísica - não pode ter sonhos mundiais. Portugal é um país medíocre habitado por gente atrasada e arcaica.

3. A figura messiânica de D. Sebastião deve converter-se - mediante mutação radical - na figura do Anjo Nocturno que anuncia o Fim de Portugal. Eis o anúncio terrível do Anjo Nocturno: "Portugal está morto". Convém aceitar este anúncio e assumir todas as consequências que resultam dele. A morte de Portugal é a única maneira de fazer justiça plena aos "portugueses" - em especial aos portuenses - que ousaram pensar neste asilo de alienados mentais que foi e é Portugal. Só à luz da morte de Portugal podemos alcançar alguma redenção e serenidade. É com alegria que anuncio a morte de Portugal.

4. Não há pensamentos portugueses. Todo o pensamento genuíno afirma-se contra Portugal. Ou melhor: Todo o pensamento é, na sua essência, anti-português. Pensar contra a existência de Portugal é pensar por antecipação um mundo liberto da imbecilidade e da corrupção, esse mal dos povos latinos e atrasados.

5. A História de Portugal é uma tremenda mentira para consumo interno, porque, na verdade, um povo sem metafísica não tem história. Os pensadores que pensaram a imbecilidade do povo português sabiam que ele era incapaz de fazer história. Aliás, os portugueses não merecem a designação de "povo": "rebanho" é o termo adequado para designar uma população animal que deve ser estudada pela Zoologia - e não pela Antropologia.

6. A Globalização em marcha reserva um destino para o rebanho português: a escravatura. As pessoas são tão burras que ainda não perceberam que o retrocesso civilizacional de que se fala é o regresso da escravatura.

7. A nossa missão filosófica e política é salvar a Cidade do Porto do naufrágio de Portugal. Quando falei da metamorfose portuense do sebastianismo nacional, procurei pensar aquilo que permaneceu impensado no pensamento portuense: a metamorfose implica - em última análise - uma ruptura política da Cidade do Porto com Portugal. A Filosofia Nocturna que se insinua nas entrelinhas do pensamento portuense anuncia claramente a morte de Portugal. Porém, a noite eterna de Portugal significa um novo amanhecer para a Cidade do Porto: a morte de Portugal é o grande dia da libertação do Porto Cidade-Estado.

8. Os pensadores portuenses reagiram mal ao Ultimatum inglês e Guerra Junqueiro escreveu uma pequena obra de poesia intitulada Finis Patriae. Hoje a reacção ao eterno resgate (financeiro) de Portugal deve ser mais profunda e radical: a ruptura política da Cidade do Porto com Portugal. Mas, para consumar a grande ruptura. é necessário um novo homem, isto é, um novo portuense suficientemente corajoso para enterrar Portugal. 

9. Como é evidente, um povo apático e fatalista que se ajusta pela maleabilidade da indolência a qualquer estado ou condição - o povo português segundo Guerra Junqueiro, não pode protagonizar a ruptura com Portugal. Essa missão cabe a todos aqueles que já não conseguem olhar para os símbolos nacionais sem vomitar e sentir náusea. 

10. O fracasso da revolução republicana portuense levou Sampaio Bruno ao exílio. Quando regressou do seu exílio em França e na Holanda, Sampaio Bruno refugiou-se na sua terra natal - a Cidade do Porto, onde pensou o seu exílio interior. Lá no fundo da sua alma danificada ele sabia que, para salvar a Cidade do Porto do naufrágio de Portugal, era preciso romper com essa matriz nacional, cuja história é uma "série de biografias, num desfilar de personalidades, dominando épocas" (Guerra Junqueiro). Não basta sonhar a "quimera"; é preciso realizá-la. Ora, a "quimera" foi sempre para os ilustres portuenses a auto-instituição da sociedade portuense como Cidade-Estado.

Apocalipse de Portugal, o Cumprimento da Profecia:

1. A pobreza começa a instalar-se na chamada classe média e as pessoas são tão burras que não sabem o que fazer. Por este caminho, Portugal vai recuar até aos tempos do fascismo. As pessoas já vivem no modo de sobrevivência: não há futuro.

2. A classe dos idosos portugueses passa fome e não tem dinheiro para os comprimidos. Aliás, acho que os portugueses passam fome para pagar as contas e os empréstimos: Asseguram o abrigo e passam fome. Os funcionários públicos - apesar dos cortes - ainda resistem à crise.

3. Portugal já está pobre mas no próximo ano passará a ser um país do Terceiro Mundo, portanto um país miserável. A sociedade portuguesa já entrou em colapso e nunca mais sairá da miséria. Portugal é a lixeira da Europa. A mão-de-obra escrava será recrutada entre portugueses.

4. A maldição abateu-se sobre Portugal: o povo que sonhou o Quinto Império será escravizado no futuro próximo. A verdade é que não há lugar para os portugueses na sociedade do futuro. A existência de portugueses é uma crueldade. De facto, o extermínio desta raça maldita é a salvação do mundo.

5. Portugal não está na agenda nem do Anti-Cristo nem de Cristo: os portugueses nasceram sem salvação possível. O seu lugar natural é o inferno.

J Francisco Saraiva de Sousa

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Projecto Porto Cidade-Estado (3)

Cidade-Estado do PORTO
Novas ideias para pensar a Filosofia da Autonomia Radical do Porto:

1. A Cidade do Porto merece uma nova história geral e diversas histórias regionais: a História Social do Porto deve ser completada pelas Histórias da Cultura e Literatura Portuenses, da Filosofia Portuense, da Arte Portuense e do Pensamento Político Portuense. Há muito trabalho teórico a realizar e este trabalho não pode ser realizado por amadores. Há muitos livros sobre o Porto, mas a maior parte deles são escritos num estilo apaixonado e distante da disciplina do rigor teórico. Ora, sem teoria não há obra séria.

2. A sociedade portuguesa é uma sociedade de classes peculiar: a classe dominante portuguesa não sabe lidar com as classes dominantes de outros países, como o demonstra o caso de Angola. Se olharmos para a elite do poder português, ficamos chocados com a sua imbecilidade, a sua emotividade histérica, a sua subserviência em relação às instituições estrangeiras e a sua corrupção. As pessoas que protagonizam a política externa portuguesa em Lisboa são criaturas delirantes: o espírito lisboeta é doentio.

3. O complexo nacional de inferioridade revela-se nas universidades: Quando se realiza um congresso internacional, os investigadores portugueses são subservientes em relação aos convidados estrangeiros, sobretudo os europeus, desvalorizando o trabalho uns dos outros nas conversas privadas com os convidados estrangeiros. Ora, quem conheça bem a alma portuguesa, sabe que os portugueses se comportam assim para dar graxa aos estrangeiros, julgando obter algum benefício. Porém, o que obtêm é um atestado de incompetência e de falta de credibilidade pessoal e científica. São os portugueses que afundam Portugal.

4. Nas situações referidas anteriormente, eu tenho muita vergonha em assumir a nacionalidade portuguesa: Utilizo o meu fenótipo e a minha inteligência para me demarcar dos portugueses, tanto em território nacional como em território estrangeiro, porque não quero fazer parte do gueto português ou latino. Os portugueses não são boa-companhia e, se não quiseres ser um "Dr Merdinhas", demarca-te dos portugueses e nega seres português.

5. Ser português é um estigma social e este estigma foi inventado pelos próprios portugueses. A Cidade do Porto só tem um caminho a seguir para se libertar desse estigma: auto-instituir-se como Cidade-Estado.

6. "O Porto é o berço da Renascença" portuguesa: A prosa de Teixeira de Pascoaes é infinitamente superior à de Fernando Pessoa: Teixeira de Pascoaes foi um poeta-pensador que produziu uma filosofia a que chamou Saudosismo. O erro de Teixeira de Pascoaes não reside no seu "nacionalismo", mas no facto de não ter compreendido as fissuras que existem na alma portuguesa. Com efeito, a alma portuguesa não é unitária e as polémicas que o poeta travou com António Sérgio demonstraram isso. Se interpretarmos o saudosismo como uma filosofia da esperança, então podemos corrigir o erro de Teixeira de Pascoaes, traduzindo "alma portuguesa" por alma portuense. É preciso usar violência hermenêutica para recuperar os pensadores da Escola do Porto e trazê-los para as proximidades do projecto filosófico e político do Porto Cidade-Estado.

7. Teixeira de Pascoaes elaborou uma teoria da mentira, articulando-a com a antipatia da vida moderna: «A mentira reina sobre o mundo. Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade». O texto onde o poeta-pensador desenvolve as suas ideias é demasiado breve: a sua fenomenologia da antipatia implica uma fenomenologia da simpatia que quase supera a de Scheler. A ideia central é a de que a antipatia é estranha à Natureza, onde tudo se liga e atrai. Temos aqui uma dinâmica de forças que foi tematizada de diversas maneiras pelos pensadores da Escola do Porto. A sua fidelidade a Bergson reflecte-se no abuso de metáforas que caducam rapidamente o pensamento profundo que elaboraram.

8. «Assim um indivíduo (e as nações são como os indivíduos) educado contra as tendências naturais do seu espírito, jamais será alguém»: Pensamento brilhante de Teixeira de Pascoaes que ele utiliza para justificar o fracasso do constitucionalismo. Porém, ao lado brilhante deste pensamento, devemos associar o seu lado sombrio: a nacionalidade portuguesa não se casa com o constitucionalismo porque este é estrangeiro. Compreendo o desejo de criar uma Religião Lusitana: vejo-o como a tentativa de realizar tardiamente a Reforma em Portugal. Mas não consigo pensar o isolamento da alma portuguesa. A alma portuense deve abrir-se ao mundo. Ser alguém em vez de ninguém exige abertura ao mundo.

9. O pensamento portuense - produzido por portuenses para portuenses - encontra-se na mesma situação dos Edifícios do centro histórico: precisa de ser reabilitado através de uma hermenêutica subtilmente violenta que o confronte com as grandes tendências da Filosofia Moderna.

10. O que penso da filosofia de Leonardo Coimbra? Leonardo Coimbra foi provavelmente o primeiro filósofo portuense - e português - a produzir filosofia enquanto filosofia. Os poetas-pensadores que foram seus contemporâneos viram no seu criacionismo o culminar filosófico do seu próprio pensamento. De facto, há uma unidade de pensamento na Escola do Porto, a qual foi pensada por Sampaio Bruno, Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoaes. Porém, o desenvolvimento filosófico de Leonardo Coimbra ainda não foi pensado: a sua filosofia experimental e a sua atracção pelo cálculo diferencial e integral ainda não foram seriamente estudadas.

11. Chegou o momento de criticar alguns portuenses, aqueles que escrevem textos que parecem ser um amontoado de lombrigas. Há na Cidade do Porto homens e mulheres que deviam ser expulsos da cidade devido à sua estupidez disfarçada de "bairrismo": os seus textos, os seus comportamentos mancham a dignidade da Cidade do Porto. Tenho muito nojo desses tristes e grosseiros portuenses!

12. Os auto-intitulados "filósofos lisboetas" - supostamente racionalistas - condenam o "nacionalismo" inerente à Filosofia Portuense, dedicando o seu tempo a discutir o carácter nacional ou universal da filosofia. Ora, estes idiotas nunca devem ter lido uma obra de filosofia e, diga-se de passagem, desconhecem a filosofia do romantismo alemão e do idealismo alemão. Ser patriota não é um crime: os portuenses são patriotas e amam a sua cidade. Crime é vender o país aos estrangeiros, como fazem os governantes em Lisboa.

13. E eis que Teixeira de Pascoaes sonha a origem atlante do Porto: «A Saudade é deusa atlântica, não mediterrânica. Os Iberos são atlânticos, esses refugiados do Cataclismo que submergiu o célebre Continente». Descobri agora mesmo esta bela intuição histórica do poeta do Norte!

14. O abismo separa o pensamento vivo de Teixeira de Pascoaes do pensamento morto de Fernando Pessoa: O poeta do Porto usa a sua experiência para se apropriar da história da filosofia. A sua apropriação da filosofia revela um profundo conhecimento da mesma: Vejam como ele na frase anterior se apropria de Platão emprestando-lhe o Desejo.

15. É fundamental elaborar a Filosofia do Romantismo Portuense - quase tão brilhante quanto a Filosofia do Romantismo Alemão - e colocar o seu poder subversivo ao serviço da causa nobre que é a instituição do Porto como Cidade-Estado. O génio portuense surpreende-me: Como é que homens que viveram nesse ermo chamado Portugal conseguiram elevar-se às alturas do pensamento filosófico criativo? Porém, quando olho para Fernando Pessoa, vejo um homem sombrio incapaz de pensar um único conceito filosófico. O abismo do pensamento afasta o Porto de Lisboa.

16. Sempre que Teixeira de Pascoaes fala do Encoberto e do Enevoado sabemos que está a falar da missão histórica do Porto. Mas, para quem conheça a sua obra, o Enevoado é a funda meia-noite que abriga e esconde uma Nova Filosofia. Tal como Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoases atribui ao Encoberto a missão de pensar a filosofia da história da Cidade do Porto. Como eles foram profundamente hegelianos e românticos!

17. Quem nasceu na Cidade do Porto sabe que os dias e as noites de nevoeiro cerrado convidam ao recolhimento espiritual: O Porto pensa enquanto Lisboa festeja nas ruas. Este pensamento essencial foi descoberto por Sampaio Bruno; eu limito-me a dar-lhe um outro alcance filosófico dizendo: Quebrar o exílio interior é romper com Lisboa e instituir o Porto como Cidade-Estado.

18. E agora chegou a hora de dizer o que os ilustres portuenses pensavam dos portugueses: a sua experiência de exílio interior levou-os a pensar a maldade do povo português. Em Portugal, ou ficamos calados e somos cúmplices do mal existente ou ousamos pensar e somos perseguidos, empobrecidos e afastados. Como dizia o poeta: nacionalidade portuguesa e democracia (constitucionalismo) não casam, bastando pensar nas chantagens deste governo e nos ataques que dirige contra o Tribunal Constitucional. A máfia que preside aos destinos de Portugal é criminosa.

J Francisco Saraiva de Sousa

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Projecto Porto Cidade-Estado (2)

Cidade-Estado do Porto
O projecto filosófico e político de pensar a auto-instituição da sociedade portuense como Cidade-Estado está em andamento. Eis algumas novas ideias defendidas no meu perfil no Facebook:

1. As teorias do Eu Socializado afirmam que a auto-imagem de uma pessoa não precisa ter relação com factos objectivos. Supondo que esta afirmação foi corroborada empiricamente por estudos científicos, a Filosofia pode questioná-la alegando que a formação social de uma tal auto-imagem pode facilmente colidir com a realidade objectiva. Assim, por exemplo, os pais que dizem que os seus filhos são lindos quando na verdade são feios estão a contribuir para a desgraça futura dos seus filhos: a maquilhagem estereotipa a beleza e esconde a fealdade sem a liquidar. Assistimos assim à produção em série de barbies, todas iguais umas às outras. Mas há uma consequência mais perigosa, de resto bem evidente em Portugal: a conspiração dos burros, cujas auto-imagens são reforçadas em rede fechada, contra as pessoas dotadas de dons objectivos. A auto-imagem sem suporte objectivo é uma ilusão perigosa.

2. Um esclarecimento sobre o projecto Porto Cidade-Estado: Como é evidente, este projecto visa todo o Norte, de modo a refazer Portus Cale. A resistência que ele gera revela a sua força política e o medo dos centralistas que fizeram de Portugal uma ruína. É preciso ser inteligente para conquistar um futuro novo.

3. William Graham Summer forjou o termo "etnocentrismo" para designar a atitude estreitamente vinculada aos preconceitos culturais ou sociais de um indivíduo. A batalha do etnocentrismo foi introduzida pelos antropólogos no próprio núcleo da sua formação académica. Porém, falta saber se o antropólogo seria capaz de participar num ritual canibal comendo carne humana. O etnocentrismo tem duas faces: a face branca que consiste numa mera prevenção metodológica contra a imposição dos marcos de referência ocidentais às situações não-ocidentais; e a face negra que consiste num ataque moral contra os valores ocidentais enquanto tais. Esta mudança de direcção do etnocentrismo aconselha o seu abandono. Hoje é necessário sermos entusiasticamente "etnocêntricos" e defender os valores ocidentais, tais como os direitos humanos, a dignidade da vida humana e a liberdade humana. A Filosofia e a ciência são empreendimentos intelectuais ocidentais e, por isso, são etnocêntricas.

4. Debato-me com o problema da formação cultural da Cidade do Porto. Conheço as suas mitologias heróicas e uma ou outra construção fantástica. Porém, sou forçado a concluir que a cultura portuense é uma cultura urbana - cosmopolita e aberta ao mundo. Ora, uma cultura urbana é burguesa. O Porto é burguês.

5. O projecto Porto Cidade-Estado obriga-me a retomar a língua alemã que já não frequento há muito tempo. Vou almoçar e aproveitar para lançar os olhos sobre obras que ajudam a conceptualizar a cultura urbana portuense. Burgofilia pode ser um termo adequado para designar os vínculos que unem os portuenses à sua cidade.

6. Os profetas do Antigo Testamento - homens rurais - denunciaram os pecados e os vícios das cidades maléficas e Jefferson também as desprezava, acreditando que somente uma nação de lavradores podia permanecer como democrática. O espírito anti-urbano esquece que a liberdade e a diferença só se manifestam na sociedade urbana. Infelizmente, os portuenses vivem mais do que pensam a Cidade do Porto: Não temos um único estudo sobre sociologia urbana do Porto.

7. As cidades são espaços de contrastes. Para pensar a cultura urbana do Porto, escolhi como interlocutor Georg Simmel: o conceito de cultura é problemático na Filosofia. Simmel define-a como aperfeiçoamento do indivíduo; daí que faça a distinção entre cultura objectiva e cultura subjectiva. O conceito de formação cultural adequa-se melhor ao pensamento de Simmel. Mas, para compreender a formação cultural portuense ao longo do tempo, é necessário encará-la como formação simbólica que investe diversas esferas da vida psicossocial portuense. A tarefa complica-se e, como filósofo, estou mais preocupado com o investimento cognitivo do que com o investimento afectivo.

8. A história urbana da Cidade do Porto obedece aos mesmos princípios do desenvolvimento urbano das cidades europeias. As análises estéticas de Simmel das cidades de Florença e de Veneza ajudam a compreender algumas especificidades do Porto, como por exemplo o vínculo afectivo entre os portuenses e a sua cidade. Em Simmel, a grande cidade protagoniza o individualismo moderno. O Porto já era uma cidade moderna no século XII: a sua cultura urbana sempre foi uma cultura burguesa. Porém, não temos um estudo empírico sério sobre o individualismo portuense. A questão "Quem são os portuenses?" exige uma resposta.

9. Uma forma engenhosa e inteligente de contornar a ausência de estudos portuenses profundos é pensar a burgofilia dos portuenses como arrependimento: o de ter dado início à formação de Portugal. À luz deste arrependimento podemos pensar o desejo secreto portuense de voltar à restituição integral de Portus Cale.

10. Um historiador malvado de Coimbra procurou ofuscar o brilho da Cidade do Porto, fazendo de Coimbra o pólo do renascimento português. O homem é tão burro e inculto que esqueceu que houve um renascimento no século XII, do qual participou a Cidade do Porto. Se houve um estilo de vida renascentista em Portugal, ele só podia ocorrer na Cidade do Porto. Afinal, a Universidade de Coimbra nunca ajudou a superar a estupidez cognitiva dos portugueses.

11. Reconquistar a unidade perdida: eis o sentimento renascentista da alma portuense. O espírito renascentista impregna toda a alma portuense. Cidades como Florença e Veneza encarnaram esse espírito procurando restituir a unidade perdida do espírito grego. A História de Portugal pode ser lida como fragmentação da unidade: o amor que os portuenses nutrem pela sua cidade - Portus Cale - e que os distingue dos portugueses revela o seu desejo de refazer a unidade que se perdeu com a formação de Portugal.

12. O que é o Porto Romântico a não ser a busca da unidade perdida? O Porto que deu o nome a Portugal é o mesmo Porto que, em momentos fulcrais da sua história, se arrepende de ter iniciado a formação de Portugal. O Porto aprendeu que as suas iniciativas são desfiguradas quando apropriadas por Portugal, bastando referir a revolução liberal de 1820 e a tentativa portuense de implantação da República. Ora, os portuenses que se orgulham de ser liberais nem sempre sabem o que significa ser liberal. Um portuense orgulhoso do seu sangue não pode aplaudir Salazar ou a Monarquia Absoluta de D. Miguel.

J Francisco Saraiva de Sousa

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Luís Filipe Menezes: candidato à CMPorto


Luís Filipe Menezes anunciou ontem que é candidato à Câmara Municipal do Porto. Apoio a sua candidatura porque estou de acordo com o seu projecto para o Porto: alguns dos pontos enunciados vão ao encontro de ideias que tenho exposto neste blogue e na página PortoLovers. Os portuenses devem colocar de lado as suas simpatias partidárias e apoiar o melhor projecto para a Cidade do Porto: o de Filipe Menezes. Os candidatos da esquerda são figuras pré-históricas sem projecto de futuro. A fusão Porto-Gaia numa única cidade é fundamental para dar a dimensão necessária ao Porto para competir com os grandes centros urbanos europeus. A marca PORTO tem mais prestígio mundial do que a marca Portugal: Porto património da humanidade, FCPorto, Vinho do Porto, Douro, Universidade do Porto, Siza Vieira, Souto Moura, eis alguns símbolos de prestígio mundial. A recuperação da zona de Campanhã, o repovoamento da cidade e o desenvolvimento do turismo de congressos foram outros pontos enunciados por Menezes, com os quais concordo.

sábado, 18 de agosto de 2012

University of PORTO


Perguntam-me: Onde estudar? Na Universidade do Porto, claro! A propósito já viu a colecção egípcia da Universidade do Porto? A Faculdade mais fraca da Universidade do Porto é a Faculdade de Letras, sobretudo o seu curso de Filosofia, mas as outras não são melhores. Só há uma única escolha: Estuda na Universidade do Porto! Ama a cidade do Porto! Sonha no Porto e para o Porto! Não deixes o dinheiro sair da cidade do Porto!

Chessman

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Força Portooooooo Gal!

A verdadeira bandeira de Portugal

Esta imagem foi sacada do Facebook - da página comunitária Quantos Portistas Somos? Ela traduz realmente a verdade sobre Portugal, embora o verde e o vermelho sejam forças de bloqueio. Quando criei a página Eu Amo o Porto, alguém atacou os portuenses e os portistas. Eu não respondi porque não perco tempo a conversar com atrasados mentais que afundam o país na lama. Se eles tivessem alguma capacidade de assimilação cognitiva, abdicavam de usar a designação de "portooooo-gueses"! É que foi o Porto que deu nome a Portugal. Só há uma maneira adequada de reagir: esboçar um sorriso de desprezo.

J Francisco Saraiva de Sousa

domingo, 17 de junho de 2012

Eu Amo o Porto, Nós Amamos o Porto

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
 e Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Adiram à página que criei no Facebook: Eu Amo o Porto. Procure conhecer melhor a cidade do Porto, os seus habitantes, os seus costumes, a sua cultura, a sua inovação, o seu carisma, enfim o seu imaginário produtivo. E, se alimenta preconceitos contra o Porto, sendo evidentemente "português" sem sentido da história nacional, saiba que foi o Porto que deu nome a Portugal. Em caso de ser preconceituoso e saloio, abdique de utilizar a nacionalidade portuguesa.

J Francisco Saraiva de Sousa

sábado, 2 de junho de 2012

Movimento a Favor da Fusão de Porto e Gaia

Não é só o Futebol Clube do Porto que liga as populações do Porto e de Gaia; é também o sentimento de que vivemos na mesma grande cidade, a cidade das seis pontes. Devemos unir os nossos desejos e lutar pela fusão da grande cidade, o berço de Portucale, para sermos a maior cidade da Península Ibérica. As figuras dos partidos de esquerda, incluindo o PS, BE e PCP, estão a bloquear o processo de fusão. Ora, não queremos uma tal esquerda que sacrifica os interesses do Norte no altar corrupto da capital asteca. Ou mudam de opinião ou derrubamos a esquerda nas urnas: socialistas medíocres há muitos no Porto! O PS deve saber escolher os seus candidatos: os portuenses estão cansados das figuras geneticamente imperfeitas propostas pelo PS. (Aliás, o país está cansado de tantos labregos políticos.) Entre elas e o "super-espião" a distância genética é curta!

J Francisco Saraiva de Sousa

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Entrei em Depressão

Cidade do Porto: Caves do Vinho do Porto em Gaia
Cidade do Porto numa noite radiante e calma
Cidade do Porto vista da Serra do Pilar

Nem o Vinho do Porto me livra deste vazio existencial que sou neste momento. Sempre que sonho com cenários sobrenaturais a minha alma fica vazia quando acorda. Anseio pela noite estrelada do Porto. Nada melhor do que mergulhar nas luzes nocturnas do Porto ou mesmo nas águas iluminadas do Rio Douro, para encontrar a serenidade.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Tudo o que é azul é lindo


Hoje o trabalho e o calor impediram-me de dar início a uma série de textos dedicados às grandes figuras da Filosofia. As aves azuis selam o meu compromisso: Jean-Paul Sartre e Gabriel Marcel serão provavelmente os dois primeiros filósofos a merecerem especial atenção. Estou cada vez mais convencido de que devemos esquecer as produções filosóficas e literárias das últimas três ou quatro décadas. Devia ser proibido mencionar a mediocridade.

Genética & Filosofia. Mas o que me preocupa há muito tempo é a elaboração de uma filosofia da genética molecular, com especial destaque para a genética do cancro. A azulidade das aves desbloqueou essa preocupação: a filosofia biológica volta a tomar conta do meu pensamento. Os meus conhecimentos biomédicos habilitam-me para levar a cabo tal tarefa, mas não sei se terei forças para a concluir. Quando avancei com a noção de homem como tumor-ambulante, fi-lo tendo em vista a importância da genética molecular do cancro para a reformulação da antropologia filosófica. Há duas categorias de genes ligadas ao cancro: os oncogenes, cuja actividade normal promove a proliferação celular, e os genes supressores de tumor, cuja actividade inibe os eventos que direccionam para o cancro. A proliferação celular está sob controle genético. Se ocorrerem mutações somáticas responsáveis pela criação de uma variação que prolifera de modo mais rápido, este clone tenderá a tomar conta do organismo, o que significa que os homens têm a tendência natural a transformarem-se em tumores. Geralmente, as mutações cancerígenas afectam os genes que controlam o nascimento (ciclo celular) ou a morte das células (apoptose). O cancro é basicamente uma doença da vida pós-reprodutiva: ele tende a surgir quando já não há pressão selectiva para continuar a melhorar as defesas do organismo. Devo este meu interesse pela importância da genética molecular do cancro para a antropologia fundamental à obra de M. Burnet, o homem que me ensinou mais biologia do que alguns dos meus professores de medicina juntos. Muitos conceitos genéticos e distinções devem ser vistos como instrumentos teóricos de trabalho: a distinção entre oncogenes e genes supressores de tumor é um instrumento de trabalho teórico; não é tanto uma classificação como se pensa habitualmente.

Abismo Humano. Saiu o nº. 10 da revista Abismo Humano, editada pelo meu amigo André Consciência, onde poderá ler o meu ensaio "Walter Benjamin e os seus Anjos" (p.33 e seguintes).

J Francisco Saraiva de Sousa

terça-feira, 8 de maio de 2012

As Fatalidades de Agustina Bessa Luís

Agustina Bessa Luís: Escritora Portuense
«A extraordinária presença de António Inácio, a graça, que era nele uma espécie de investimento da ilusão, tornaram José Matildes no que ele era realmente: um homem só em busca de integração no grupo social. Subitamente produziu-se nele o curto-circuito estratégico, e foi buscar ao imaginário da economia política e da ciência a linguagem; e tecnocrata apareceu muito de um materialismo próprio em que a máquina social se move sem qualquer intervenção da ideologia moral, religiosa ou filosófica. O seu casamento com Rosamaria deu-se nesse tempo, em parte porque ela era o travesti do seu primo António Inácio, em parte porque toda a decisão de alcance económico começa por uma tomada de posição ao nível da vida privada. Amava Rosamaria tanto mais seriamente quanto ela registava o seu domínio de classe, isto é, supremacia da concepção masculina, visão técnica da procriação». (Agustina Bessa Luís)

Um confronto entre Mrs. Dalloway de Virginia Woolf e Os Meninos de Ouro de Agustina Bessa Luís revela a existência de um abismo entre as duas escritoras: Agustina Bessa Luís nunca perde a autoridade, isto é, a omnisciência, em relação às personagens dos seus romances, donde resulta que, na sua obra, a realidade social não é representada através dos pensamentos, impressões e outras experiências imediatas das diversas personagens, como sucede nos romances de Virginia Woolf, mas sim através da omnisciência e da concepção superior da autora. A epistemologia romanceada de Agustina Bessa Luís é profundamente social. Cada personagem tem a sua própria visão do mundo, mas o processo de representação da realidade social não resulta da justaposição das diversas visões do mundo das personagens. Não há, portanto, uma representação pluripessoal da realidade nos romances da escritora portuense: a autora impõe-lhes uma perspectiva superior que permite ao leitor compreender a realidade em que se movem as suas personagens. O realismo de Agustina Bessa Luís tem mais afinidades como a teoria marxista da sociedade do que com o realismo da filosofia de Cambridge: o solipsismo metodológico de Bloomsbury é algo estranho ao universo literário e filosófico de Agustina Bessa Luís. Os seus mundos literários não são construções de um mundo comum - o mundo público de Russell - a partir de perspectivas diferentes da realidade ou mesmo de mundos privados. Virginia Woolf enfrentou um mundo em transformação violenta que tanto produzia tentativas de interpretação sintética e objectiva como as derrubava rapidamente a um ritmo alucinante. Seria demasiado fácil explicar as diferenças entre as duas escritoras alegando os diversos atrasos estruturais de Portugal, aliás evidenciados pela contemporaneidade da escritora portuense. Mas esta não é a única explicação possível. Apesar de ter nascido fatalmente em Portugal, o ermo inóspito da Europa, a terra dos loucos, Agustina Bessa Luís não perdeu o contacto com o mundo exterior, o mundo desenvolvido que sofria essas transformações sociais profundas que demoravam a chegar a Portugal. O atraso estrutural de Portugal e a pobreza mental dos seus habitantes reforçaram a omnisciência de Agustina Bessa Luís, cuja "filosofia" rejeita a construção russelliana de um universo leibniziano hipotético: a realidade social não é, para Agustina Bessa Luís, um somatório de perspectivas das mónadas de Leibniz. Agustina Bessa Luís tem uma concepção sintética e objectiva da realidade social, que ousa articular politicamente com a perspectiva da salvação: «O que significa a salvação senão aquele ponto em que os homens desistem de oprimir outros homens, e se retiram com a sua limitada perfeição?» A escritora portuense detesta o carácter narcisista da sociedade portuguesa: a sua "crónica social" tritura as personalidades públicas portuguesas e a montanha de có-có que produzem desalmadamente. Os meninos de ouro portugueses são feitos de matéria fecal: o seu narcisismo traduz-se no abuso de poder e na síndrome de hostilidade contra os outros, sobretudo contra as mulheres. Agustina Bessa Luís descobriu a síndrome masculina de hostilidade associada ao narcisismo muito tempo antes dela ter sido definida pela psiquiatria. Mais: ela descobriu que os homens portugueses - feitos de matéria fecal - não prestam: a tecnocracia é pura violência. A matéria fecal diz-se de muitas maneiras. Ora, se os homens portugueses são feitos de matéria fecal, a sua diversidade psicológica que exprime a diversidade de matéria fecal tem como princípio denominador comum o travestismo: os homens portugueses feitos de matéria fecal são travestis que partilham uma mesma concepção do mundo, a "visão técnica da procriação". (Natália Correia dizia que os açorianos eram "mariquitas". Uma vez disse-lhe que, no fundo, os homens portugueses eram "mariquitas" e ela concordou, acrescentando que também as mulheres portuguesas eram "mariquitas". J. M. Bailey defendeu recentemente o carácter travesti dos homens latinos, concepção que partilho sem reservas.) Como é evidente, estou a forçar a concepção superior da autora chamada Agustina Bessa Luís, sem no entanto a violar: a escritora portuense ousou ser no seu universo literário aquilo que não foi na vida real, a trituradora das masculinidades travestis portuguesas, cujo abuso de poder reflecte um défice de masculinidade genuína. Todos os seres verdadeiramente inteligentes que nasceram em Portugal, o país onde os homens se comem uns aos outros, real ou ritualmente, odeiam Portugal. O ódio que nutrem por Portugal exprime-se numa espécie de ciência melancólica, a filosofia subjacente a todos os grandes pensamentos partilhados pelos exilados portugueses. Os Meninos de Ouro de Agustina Bessa Luís terminam com este pensamento filosófico: «As geresianas não são produto da insistência da relação com objectos e pessoas. São o tempo original em que a alma convive com a eternidade; o coração repousado no amor do seu destino aguarda e vê. O indivíduo escapa ao nosso entendimento, as grandes ideias não se unificam nem se movem em turbilhão; a identidade extinguiu-se porque as pessoas, como chamas, se confundem, para sempre esquecidas da noção de dois mundos, de duas realidades. Desde que se atingem as vertentes das geresianas, um ser humano dissolve-se num outro «como uma gota de orvalho cintilante» - diria a meu poeta, assim como disse que às vezes Deus dá o sinal de que passa pelas trevas distantes, e tudo se imobiliza, cóleras, segredos, vento que desce da serra, ecos das torrentes, palavras que descem como torrentes, tudo - e um amor imenso paira e reconcilia todas as coisas. Velha amiga que é a terra, ela não nos decepciona, e poderemos durante milénios chamar nobre à raça humana. Se uma lágrima descer sobre estas linhas como um fio de prata, é porque existe consolação até ao último homem que por último desaparecer; quando a Terra rolar à volta do Sol, com noites e manhãs, e só talvez o lírio geresiano olhe e pense no seu seio de cinzas» (Porto, 25 de Junho de 1982).

Infelizmente, ainda não posso realizar uma análise filosófica exaustiva da obra de Agustina Bessa Luís, a maior romancista da língua portuguesa de todos os tempos, e é provável que nunca venha a realizar esse estudo, até porque não há em Portugal leitores inteligentes. Em Portugal reina a insanidade mental. Qualquer tentativa de escapar à loucura reinante é em vão: as palavras não encontram eco em mentes adormecidas e entorpecidas pelas forças da loucura. A primeira grande fatalidade de um ser inteligente é ter nascido em Portugal, o túmulo em vida de todas as individualidades que anseiam pelo seu alargamento e pela sua expansão. Agustina Bessa Luís nasceu fatalmente em Portugal, mas esta primeira fatalidade não é da sua responsabilidade. Se pudéssemos escolher a nossa nacionalidade de nascença, não escolheríamos nascer portugueses. Ser português é um estigma que se carrega para toda a vida. É uma tortura mental lidar todos os dias com criaturas burras e invejosas: os portugueses são especialistas em terrorismo íntimo e na arte de roubar a vida aos outros. Quem lida com portugueses deve saber que está a lidar com malvados. A posição de privilégio que a autora toma em relação às suas personagens "demasiado portuguesas" mostra que Agustina Bessa Luís soube distanciar-se dos portugueses, sugerindo a retirada das personalidades narcisistas da cena política. No entanto, a omnisciência que conquistou no universo literário perdeu-a no universo real da vida quotidiana: Agustina Bessa Luís rodeou-se de pessoas erradas que a levaram a tomar más decisões políticas e existenciais. A sua ligação ao PSD foi fatal para a recepção alargada da sua obra literária. A vida pública de Agustina Bessa Luís é uma sucessão de erros fatais: o PSD é uma espécie de buraco negro que suga a luz de quem se aproxima dele. A Direita não tem cultura: o PSD, o grande amigo das práticas de corrupção, sugou toda a luz de Agustina Bessa Luís, afastou os leitores cultos da sua obra, distanciou a sua vida pública do seu universo literário e não promoveu a sua obra no mundo, de modo a ser lida e admirada por um auditório universal e a garantir a entrega do Prémio Nobel da Literatura à sua autora. (Os portugueses não servem para nada, nem para ler obras!) Todos sabemos como a Direita reaccionária e inculta portuguesa reagiu à entrega do Prémio Nobel a José Saramago: Rui Rio recusou dar o seu nome a uma rua da cidade do Porto e Cavaco Silva não compareceu ao seu funeral. A Direita portuguesa é o coveiro da cultura. "Direita" e "Cultura" são duas palavras que não casam entre si: onde há Direita não há cultura e onde há cultura não há Direita, o que equivale a dizer que toda a cultura superior é de Esquerda. Para resgatar a obra literária de Agustina Bessa Luís das grilhetas incultas do PSD, é preciso conhecer muito bem a sua biografia: alguma coisa a coloca desde cedo na proximidade de um campo social nefasto, do qual a sua obra se distancia de diversos modos, usando diversas técnicas narrativas. Mas, para todos os efeitos, Agustina Bessa Luís não teve na vida real a coragem que demonstrou ter no seu universo literário: ela foi na vida real escrava de um sistema, provavelmente o sistema da "concepção masculina", com o qual o seu universo literário rompe: «A vida de família corrompe muito da originalidade humana». (Quem escreve uma tal frase deve estar cansado da estupidez da família! O arrependimento de ter constituído família?) É a própria autora que aponta aqui para uma fatalidade familiar. Jean-Paul Sartre escreveu duas belas obras, uma sobre Flaubert e outra sobre Jean Genet, nas quais pensa todas essas mediações, incluindo a mediação familiar. Algo semelhante deve ser realizado em relação à vida e obra de Agustina Bessa Luís: as homenagens ritualizadas e formais que lhe são prestadas pelos bajuladores malvados não acrescentam à sua imensa obra as determinações do conhecimento, as únicas que podem garantir-lhe a imortalidade da fama. Sei que esta tarefa teórica ultrapassa o universo mental português e, por isso, resolvi escrever este texto para dar a conhecer ao mundo a obra de uma escritora portuense chamada Agustina Bessa Luís. 

J Francisco Saraiva de Sousa 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Esplendor do Futebol Clube do Porto

O Futebol Clube do Porto é campeão
 e desfruta de prestígio mundial
Viva o Futebol Clube do Porto!

Há um clube "português" que não sabe perder e que responsabiliza os outros pelas suas derrotas. Não admira o seu vício congénito de recorrer à ajuda de juízes mentalmente estreitos para tentar vencer na secretaria aquilo que não conquista dentro das quatro linhas. Afinal, foi forjado na chama do fascismo salazarento. Não vale a pena nomear o maldito encarnado. Não tem história, não tem prestígio, não tem honra, não tem moral, não tem dignidade. Responsável pela idiotice nacional que nos priva da via do desenvolvimento, o clube sem história é a vergonha nacional personificada, cujo "delírio de grandeza" é insano, digno de ser hospitalizado num asilo de alienados mentais e de figurar num manual de psiquiatria: "grandeza" sem currículo! Mete nojo o maldito saloio de boina encarnada que se habituou a procurar a ajuda dos árbitros para vencer! Ser portista é estar acima desta mediocridade visceral. Deixa de seguir os vencidos: alia-te à tribo vencedora do dragão azul. Angola e Moçambique já se renderam ao charme do dragão azul. Ninguém de perfeito juízo segue o eterno derrotado no seu discurso patologicamente mentiroso. Viva o Futebol Clube do Porto! Viva a verdade desportiva, a verdade do jogo! Viva a saúde mental no futebol! Abaixo o fascismo desportivo dos mentirosos encarnados!

Aforismos contra os mentirosos encarnados:

1. A inveja não conquista taças. O invejoso encarnado não tem taças; tem veneno e maldade. O Futebol Clube do Porto é, todo ele, uma enorme taça de ouro: a sua cultura desportiva é a da vitória, não a de jogos fraudulentos de bastidores. 

2. Já não há paciência para os derrotados malvados! Parecem hienas em busca de carne podre nos gabinetes dos juízes e dos ministros. Recuso-me a dialogar com pessoas que perderam o juízo.

João Moutinho, jogador à Porto

3. Os malvados encarnados falam da "verdade desportiva" para defender um conjunto de mentiras desportivas. Será que pensam que os outros são tontos como eles? Um conselho: recorram à ajuda psiquiátrica para curar a vossa doença.

4. Os portistas não são malucos como os "adversários". Um país confrontado diariamente com tanta maluquice pública, suportada pela arbitrariedade de alguns juízes ofuscados pelas suas hormonas encarnadas! Portugal acorda, porque chegou a hora de internar os malucos encarnados.

Bi Happy

5. O "adversário" encarnado só é "glorioso" na loucura. E ainda por cima pensa que a sua loucura prestigia o futebol português no mundo. "A Bola", já chega de tanta loucura malvada e provinciana.

6. Eu nunca daria o meu consentimento a um dirigente desportivo que deturpa as imagens para se vitimizar. Odeio a mentira encarnada forjada na chama do fascismo! Uma mão cheia de mentiras não tem nada entre os dedos: ela própria é uma mentira. E mentira em excesso é patologia.

7. Abaixo os mentirosos compulsivos! Viva a saúde mental! Viva a saúde desportiva!

8. Os malucos encarnados mentem tanto que já não são capazes de ter percepções sadias dos jogos e dos lances. A sua visão está cativa de um cérebro patologicamente mentiroso.

9. A vossa alma mentirosa e invejosa está doente, gerando constantemente delírios de glória passada que carecem de denotação. As vossas vitórias passadas são fraudes fascistas.

Just Bi - 2010-11, 2011-12

10. Malditas ratazanas de esgoto que criaram uma jaula no Estádio das Trevas para engaiolar os adeptos dos clubes adversários! O espírito fraudulento e fascista dos encarnados revela-se completamente nesta criação da jaula. O solipsismo encarnado é totalitário e os seus resultados desportivos - conquistados com a ajuda do Toni Salazar e de fantasmas de árbitros defuntos (Calabote, por exemplo) - são masturbações totalitárias. A cultura do Futebol Clube do Porto é uma cultura da liberdade, portanto, uma cultura avessa a jaulas e a túneis. O Futebol Clube do Porto não precisa de jogos escuros de bastidores para vencer: a mentira, a calúnia, a corrupção, a difamação, o discurso patológico, os jogos escuros de bastidores, os comportamentos de perseguição, as agressões, a destruição do património alheio, o choramingar no ministério da administração interna, as denúncias furtivas, o controle da comunicação social, a deformação da informação, a deturpação das imagens, os insultos, a invenção fantasiosa do passado, a intimidação, a violência desportiva, a contagem errada de taças, as tentativas de controle das instituições desportivas, a difusão abusiva de vídeos falsificados, a mania de grandeza e muita estupidez, a deformação mental e visual, a aversão à auto-crítica, o ódio pela responsabilidade, todas estas práticas encarnadas de falsificação dos resultados desportivos são estranhas à alma portista. A cultura do Diabo Encarnado é uma cultura do terror, e, tal como os talibãs no Afeganistão, alguns dos diabos encarnados desejam liquidar os adversários. A alma encarnada é fanatismo alucinado e doentio.