domingo, 30 de setembro de 2007

O Génio de Karl Marx

Contra a intelectualidade medíocre dos nossos dias, é preciso reler Marx como pensador radical da Modernidade e relançá-lo nas lutas contra os novos obscurantismos. No «Manifesto do Partido Comunista» encontramos esta ideia magnífica: «Tudo o que é sólido se dissolve no ar». Esta ideia encontra-se inserida nesta frase:
«O que distingue a época burguesa de todas as precedentes é a alteração incessante da produção, o derrubamento contínuo de todas as instituições sociais, em suma, a permanência da instabilidade e do movimento. Todas as relações sociais imobilizadas na tradição, com o seu cotejo de concepções e de ideias, fixas e veneráveis, se dissolvem; aquelas que as substituem caducam antes mesmo de cristalizarem. Tudo o que tinha solidez e perdurabilidade esvai-se em fumo, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são forçados, finalmente, a encarar com olhos desiludidos as suas condições de existência e as suas relações mútuas».
Hannah Arendt leu e estudou bem as obras de Karl Marx e, no seu confronto corajoso com este pensamento superior, acabou por integrar os conceitos de Marx, que relidos, no espaço liberto da terrível experiência comunista ou mesmo da social-democracia reformista, podem voltar a adquirir uma nova vida, capaz de desafiar a ausência de pensamento e iluminar esta sociedade metabólica criticada por Arendt como decorrência natural do marxismo. Mas devemos ir mais longe e retomar a tradição que, na perspectiva de Arendt, termina com Marx. Só assim podemos continuar a zelar pelo passado, presente e futuro da Civilização Ocidental.
J Francisco Saraiva de Sousa

Um Poema contra a Luso-Corrupção

«Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
para o cantar inteiro e para o cantar bem
precisava de viver como Matusalém:
Dez séculos!
Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem colhões que dão a ideia vaga
das nádegas brutais do Arcebispo de Braga.
Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
Que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
Mastro do Leviatã! Iminência revel!
Estando murcho foi a Torre de Babel!
Caralho singular! É contemplá-lo
É vê-lo
Teso! Atravessaria o quê?
O Sete-Estrelo!!
Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra.
É uma porra, arquiporra!
É um caralho atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder, da Terra, Eva no Paraíso!!
É uma porra infinita, é um caralho insonte
Que nas roscas outrora estrangulou Lacoonte.



«Oh caralho imortal! Oh glória destes lusos!
Tu podias suprir todos os parafusos
que espremem com vigor os cachos do Alto Douro!
Onde é que há um abismo, onde há um sorvedouro
que assim possa conter esta porra do diabo??!
O Marquês de Valadas em vão mostra o rabo,
em vão mostra o fundo o pavoroso Oceano!
--- Nada, nada contém a porra do Soriano!!

«Quando morrer, Senhor, que extraordinária cova,
que bainha, meu Deus!, para esta porra nova,
esta porra infeliz, esta porra precita,
judia errante atrás de uma crica infinita??
--- Uma fenda do globo, um sorvedouro ignoto
que lhe há-de abrir talvez um dia um terramoto
para que desague, esta porra medonha.
em grossos borbotões de clerical langonha!!!

«A porra do Soriano é um infinito assunto!
Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto
Onde é que ela começa?
Onde é que ela termina,
essa porra que, estando em Braga, está na China,
porra que corre mais que o próprio pensamento,
que porra de pardal e porra de jumento??
Porra!
Mil vezes porra!
Porra de bruto
que é capaz de foder o Cosmos num minuto!!!»


Fonte: Guerra Junqueiro, A Torre de Babel/A Porra do Soriano.


Comentário: O arcebispo de Braga já morreu há muito, muito tempo, e, pelo visto, a sua porra ainda continua em acção, através dos seus descendentes luso-corruptos, que, tal como a sua matriz longínqua, usam o mangalho para corromper e serem corrompidos pelas cricas infinitas, de modo a garantir acesso a carreiras e a perpetuar a teia luso-corrupta. Pensa-se que está sediada em Lisboa, mas ela é absolutamente ubíqua: está ao mesmo tempo em todos os lugares e procura projecção internacional. A luso porra é global e, provavelmente, o maior contributo português para a globalização.


J Francisco Saraiva de Sousa

Um Poema para José Sócrates

«Da sombra de um sopro nascidos,
Erramos pelo mundo abandonados
E andamos no eterno perdidos,
Sem sabermos a que Deus consagrados.

«Pobres néscios à porta, ao relento,
Pedintes sem nada de seu,
Quais cegos escutando o silêncio
Em que o nosso rumor se perdeu.

«Somos os viandantes sem norte,
Nuvens, e o vento a dissipá-las,
Flores estremecendo com o frio da morte,
À espera que venham cortá-las»

Fonte: Georg Trakl, Outono Transfigurado (Edição bilingue portuguesa: tradução de João Barrento).

J Francisco Saraiva de Sousa

Um Poema para Mim

«Tempos houve em que o meu demónio ria,
E eu era uma luz em jardins soalheiros,
Tinha jogo e dança por companheiros
E o vinho do amor que me inebria.


«Tempos houve em que o meu demónio chorava,
E eu era uma luz em jardins de crueldade,
Tinha por companheira a humildade
Que a casa da pobreza iluminava.


«Hoje o meu demónio não ri nem chora,
Eu sou uma sombra num jardim perdido,
E o meu companheiro, pela morte enegrecido,
É o silêncio vazio de antes da aurora».


Fonte: Georg Trakl, Outono Transfigurado (Edição bilingue portuguesa).

J Francisco Saraiva de Sousa

Um Poema para a Ministra da Educação...

... do governo socialista de José Sócrates.

Com este primeiro poema, iniciamos uma nova rubrica neste blogue: enviar um poema para cada político ou governante nacional ou mesmo estrangeiro. A etiqueta é «Política e Poesia».


FALAM AS ESCOLAS EM RUÍNAS:


«A alma da infância é um passarinho;
Gorjeia o ninho e a escola chora:
Na infância cai a noite; e o ninho
Tem sobre as plúmulas d'arminho
A aurora.


«A alma da infância é flor mimosa;
A escola é triste e a flor vermelha;
Na escola paira a c'ruja odiosa,
E sobre o cálice da rosa
A abelha.


«Tu fazes, Pátria, as almas cegas,
Prendendo a infância num covil.
Aves não cantam nas adegas,
Se a infância é flor, porque lhe negas
Abril?!»

Fonte: Guerra Junqueiro, Finis Patriae.

J Francisco Saraiva de Sousa

Fim das Ideologias Políticas?

Os paladinos do fim das ideologias, começando por D. Bell, passando por Raymond Aron, e terminando com F. Lyotard, não compreenderam as causas profundas daquilo que anunciaram: o fim das grandes ideologias políticas ou das grandes narrativas.
Em Portugal, os comentadores políticos de inteligência reduzida costumam afirmar, com as caras a expressar risinhos luso-ignorantes e avermelhados, que certo debate político ou campanha eleitoral foi pouco ideológico ou com pouco «sumo ideológico», querendo com isto dizer que houve «ausência de ideias». De facto, o «pragmatismo» luso-reduzido parece estar na moda na cena política portuguesa: o político procura vender de si uma imagem de «homem pragmático», isto é, de homem que «faz obra» e que não perde tempo a divagar ou expor ideias. Percebe-se facilmente as razões que levam os políticos portugueses a abster-se de expor as suas ideias: eles não têm ideias para partilhar e muito menos projectos políticos capazes de mobilizar a sociedade civil portuguesa, porque toda a sua vida decorreu sem necessidade de despender esforço mental e cognitivo. O sistema de luso-corrupção garante-lhes uma carreira de «sucesso», distribuindo em rede altamente interconectada «títulos» sem real avaliação, com os quais se identificam organicamente, para justificar a sua presença na esfera pública e encobrir a sua terrível mediocridade e maldade visceral.
Guerra Junqueiro, um poeta e político português desprezado pelas pseudo-elites, captou a essência deste fenómeno, o que significa que sua arqueologia se perde na memória da formação e do desenvolvimento da nacionalidade. Em «Finis Patriae», Guerra Junqueiro descontrói em diversas frentes (económica, política, cultural, religiosa, jurídica, ideológica, educativa...) a «alma lusa», sobretudo nestes versos:
«Não há latrina que suporte
Tão baixo e cínico jantar!
Seu cheiro pútrido é tão forte,
Que a campa, estômago da Morte,
Era capaz de o vomitar!
«Vede lá, pois, corvos funéreos,
Que orgia opípara de rei!
Goelas sinistras de Tibérios,
Roucos glutões de cemitérios,
Comei! comei! comei! comei!»
E, em «O Regímen», Guerra Junqueiro explicita melhor o seu pensamento:
«Regímen hediondo! Assassino de Deus, coveiro de almas.
«Hipérbole? não. É vulgar, banal, burlesco, olhado em Lisboa, anedoticamente, com olhos de ironia. Mas, olhado no tempo e no espaço, perante Deus, avoluma, caliginoso, em monstro formidável. Surge demoníaco. Dissolve, destrói, desfaz, desorganiza. A ruína bruta é ainda o menos. Uma parede no chão, levanta-se; um mercado perdido, encontra-se; um banco sem ouro, atulha-se de ouro facilmente. Mas a ruína moral! A morte de milhões de almas, milhões de ideias, de consciências! A abóbada estrelada do pensamento vestindo-se de noite fúnebre, noite de caos! Horroroso! pavoroso!
«Regímen sinistro! És a árvore da morte, a árvore do mal. A tua sombra esterilizou o nosso campo; os teus frutos gelaram o nosso coração. Quebrar-te um ramo ou espezinhar-te um fruto, para quê? Deitarás mais ramos, deitarás mais frutos. O que é necessário, árvore tenebrosa, é arrancar-te pela raiz e fazer contigo uma fogueira. Depois aremos o campo, semeemos o trigo...».
Neste texto, Guerra Junqueiro afirma que «a sociedade portuguesa está organizada para o mal», cuja «filosofia da vida (...) é a filosofia do porco: devorar». «Os refractários eliminam-se. Ou aplaudir e ser cúmplice, ou protestar e ser vítima». Palavras fortes que definem bem aquilo a que chamámos, no post anterior, «democracia fascista portuguesa». (Repare-se como o caso de Guerra Junqueiro repete-se no chamado caso do «apito dourado»! Ironia? não. Eterna repetição da mesma luso-merda lisboeta: corrupção de alto nível envolvendo diversas esferas do luso-poder que agem de modo a destruir a originalidade que ameaça a sua sobrevivência!) É efectivamente a «ditadura do engorda», que excluí da sua mesa todas as almas excelentes de Portugal. «Que é da nação? -- Morreu na história!»
Fim das ideologias políticas? Não. Perpetuação de um regime de terror metabolicamente reduzido? Sim. (Voltaremos a estes assuntos noutras oportunidades. Sobre Guerra Junqueiro, reconduzo para o meu estudo aqui editado outra vez: «Guerra Junqueiro: Poesia e Filosofia».)
J Francisco Saraiva de Sousa

sábado, 29 de setembro de 2007

Sistema de Luso-Corrupção

A corrupção é uma doença que devora a sociedade portuguesa, impedindo-a de caminhar numa direcção de desenvolvimento equilibrado, sustentável e justo e de aprofundamento real da democracia.
A herança fascista marca profundamente a vida social portuguesa e, com o 25 de Abril, surgem novas elites que promovem muitas mudanças sociais reais, mas sem mexer nas estruturas de decisão, de resto usadas pelos partidos, autarquias e governos para satisfazer as ambições das suas clientelas. Estas elites que invadem todas as altas esferas de decisão fecham-se e tentam barrar a mobilidade social e a igualdade de oportunidades, de modo a garantirem a sua perpetuação nas diversas esferas do luso-poder.
A sociedade democrática portuguesa, após 25 de Abril, é tão ou até mesmo mais fechada do que a sociedade autoritária anterior: o que as distingue é apenas um acréscimo significativo de incompetência, ignorância activa e corrupção que caracteriza essencialmente o sistema democrático português. Aliás, as elites anteriores nem sequer foram seriamente abaladas e destituídas, mas reintegradas e refeitas pela democracia fascista portuguesa.
Quando assisto a programas da televisão portuguesa e ouço os luso-burricos a dizer barbaridades da democracia mais antiga e sólida do mundo, a democracia americana, fico perfeitamente esclarecido sobre os mecanismos motivacionais que determinam os luso-comportamentos desses crápulas que «ladram» como se fossem alguém, quando na verdade, como diria Gil Vicente, não são ninguém. São indivíduos dotados de uma mente doente e cobarde que negociam entre si esquemas maldosos e perversos para destruir a vida de outros que pretendem lutar e trabalhar por um país verdadeiramente democrático e solidário.
Os luso-burricos conspiram contra a competência e, inventando genealogias sociológicas e outras do género, fazem-se passar por «gente importante»: gente de influência, inserida numa rede de conexões que fomenta a cunha em vez da competência. Estes seres reduzidos não olham a meios para atingir os fins e, uma vez estabelecidos, bloqueiam tudo à sua volta, de modo a evitar serem confrontados pela sua má-consciência. Eles são simplesmente mentes criminosas e é como tal que devem ser julgados e condenados, com as penas que prontamente defendem contra os supostamente criminosos. A banalidade do mal não é coisa apenas do passado, dos campos de concentração nazis, mas uma realidade viva na democracia portuguesa.
Infelizmente, os portugueses não são demasiado curiosos e corajosos para contemplar a realidade de frente e lutar por um outro princípio de realidade: as pseudo-elites nacionais tratam-nos como «cães» e eles pouco fazem para mudar a sua situação, e, quando têm oportunidade, imitam os seus «donos», perpetuando o sistema de luso-corrupção. Dizem que a mortalidade iguala todos os homens, mas o que iguala efectivamente os portugueses é a sua profunda estupidez activa: o horror pelo conhecimento e por tudo o que seja distinto.
J Francisco Saraiva de Sousa

Antropologia de Oswald Spengler

A filosofia, ou melhor, os auto-intitulados filósofos deixaram de pensar e, por isso, não estão à altura da missão da Filosofia: zelar pela Tradição Ocidental e mantê-la viva, de modo a que seja transmitida às gerações vindouras.
Existem diversas tarefas a realizar o mais rapidamente possível, em vez de perder tempo a decifrar as vulgaridades ditas por Heidegger em linguagem difícil ou discutir as pós-modernidades, e uma dessas tarefas é retomar a antropologia filosófica, começando por recuperar as antropologias subjacentes a cada filosofia ou sistema filosófico e, deste modo, preparar o terreno para a cyber-antropologia filosófica do nosso tempo.
Uma dessas antropologias é a de Oswald Spengler, de resto bem explicita na sua obra «O Homem e a Técnica», onde, além de retomar uma teoria do homo faber, de cunho nietzchiano e marxista, tal como Hannah Arendt interpreta Marx, avança com noções válidas de filosofia da natureza, com preocupações claramente biológicas e ecológicas (política do ambiente), e de filosofia da técnica, aliás fortemente inspiradas em Marx, um pensador da técnica (Kostas Axelos), e dotadas de crítica pertinente da «mentalidade de engenheiro».
Oswald Spengler tem sido marginalizado e diabolizado, por causa do seu suposto conservadorismo político, mas, tal como a Direita retoma temas da Esquerda, nós podemos, sem esforço, tirar-lhe os seus melhores pensadores e lê-los à luz do nosso compromisso social com a libertação e o esclarecimento.
É evidente que a tese antropológica principal de Spengler não é original e conhecemos muitas variantes dessa tese, nomeadamente a de Leroi-Gourhan e de Gordon Childe: «o homem fez-se homem graças à mão», formulação muito idêntica à de Engels, e o que o distingue especificamente o homem dos restantes animais é a técnica. Esta concepção geral do homem é elaborada numa perspectiva de desenvolvimento, com destaque colocado no facto do homem ser actividade - um ser de acção - e criador de mundos culturais, o que está muito próximo da perspectiva biofilosófica de Arnold Gehlen. Além disso, Spengler destaca a noção de homem como «animal predador», o que não deixa de ser actual nas antropologias de cunho etológico (Robert Ardrey).
Contudo, ao recuperarmos a antropologia de Spengler, devemos confrontá-la com o cyberhomem e exorcizá-la do seu fatalismo e do seu relativismo endémicos. A concepção do homem como criador de instrumentos e de mundos culturais não foi esgotada e, por isso, continua a ser uma via a explorar no estudo do cyberhomem.
(O desenvolvimento destas notas de pesquisa será apresentado no meu blogue CyberPhilosophy.)
J Francisco Saraiva de Sousa

A Decadência do Ocidente

Devo confessar que esta obra de Oswald Spengler - A Decadência do Ocidente - sempre me atraiu desde adolescente e, embora não concorde com muitas das suas teses, considero-a uma das obras de filosofia da história mais imponentes produzidas nos inícios do século XX, juntamente com as de Arnold Toynbee e de Marshall McLuhan. Raymond Aron fez a sua Defesa da Europa Decadente, sem se aperceber que a Europa caminha passivamente para a sua própria ruína.


A concepção orgânica da cultura de Spengler tem o mérito de nos confrontar com a finitude da nossa própria Civilização Ocidental, a «alma faustica» que, neste momento de ofuscação democrática e de «ditadura do dinheiro», confronta-se com a «alma mágica», actualmente vivificada pelo terrorismo islâmico, sendo ameaçada pela «expansão chinesa», que Spengler adivinhou como sendo a nossa sucessora no quadro da «morfologia da História Universal».


A sua obra «Der Mensch und die Technik» termina assim:


«O optimismo é cobardia. Nascidos nesta época, temos de percorrer até final, mesmo que violentamente, o caminho que nos está traçado. Não existe alternativa. O nosso dever é permanecermos, sem esperança, sem salvação, no posto já perdido, tal como o soldado romano cujo esqueleto foi encontrado diante de uma porta de Pompeia, morto por se terem esquecido, ao estalar a erupção vulcânica, de lhe ordenarem a retirada. Isso é nobreza, isso é ter raça. Esse honroso final é a única coisa de que o homem nunca poderá ser privado».


Morrer a lutar pelo seu posto é tarefa nobre, mas actualmente perdeu-se o sentido de lutar pelas causas nobres e muito menos pela nossa civilização. Os jovens perderam os vínculos com a nossa tradição e caminham com as pernas abertas a qualquer invasor. Contudo, a missão da Filosofia é zelar pela nossa Tradição Ocidental.


J Francisco Saraiva de Sousa

Agir Global, Pensar Global

Eis a mensagem do Senhor Presidente da República Portuguesa:


«Agir global, pensar global».


Frase bonita, muito bonita, mesmo bonita. Apenas falta saber como é que os empresários portugueses, que ainda não aprenderam a agir e a pensar localmente, vão começar a agir e a pensar globalmente, de uma forma séria e interessante para todos e não apenas para as suas bolsas. A globalização cria muitas assimetrias e desigualdades de riqueza: os ricos são cada vez mais ricos e os pobres, mais pobres e esta situação tende a agravar-se. O microcrédito valeu um prémio Nobel ao seu protagonista, mas a injustiça social está aí cada vez mais gritante e para durar.


Além disso, o pensamento global que exige uma acção global não é uma invenção «económica», mas filosófica: a perda de sentido filosófico resulta em capitalismo selvagem e ameaça a vida na Terra.


J Francisco Saraiva de Sousa

Constelação Bloguista

Consulte os seguintes blogues:

http://cyberself-neurofilosofia.blogspot.com/

http://cyberbiologiaecybermedicina.blogspot.com/

http://cyberself-cyberphilosophy.blogspot.com/

http://pontape-na-logica.blogspot.com/

Paulo Querido

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O Encoberto: Sampaio Bruno Esquecido?

«José Pereira de Sampaio (1857-1915), natural do Porto, onde, com excepção de um período de exílio (1981-93) por motivos políticos, se processou toda a sua vida, adoptou aos 14 anos o pseudónimo de Bruno, a que sempre se manteve fiel e do qual provém a denominação de Sampaio Bruno, por que é mais conhecido. Autor de obra vasta, de indole política, religiosa e filosófica, na qual se salientou o Brasil Mental (1898), e A Ideia de Deus (1902), por duas razões - escreve Joel Serrão - figura neste Dicionário (de História de Portugal): 1) a sua acção de propangadista da República e o papel que a sua obra de pensador (de raízes esotéricas) desempenhou na cultura portuguesa dos fins do século (XIX) e primeiro quartel do (século XX); 2) a bibliografia, que também nos legou, de temas históricos» (Joel Serrão, 1985).
Sampaio Bruno legou-nos uma obra vasta que, com excepção do estudo de Joel Serrão («Sampaio Bruno: O Homem e o Pensamento»), ainda não foi seriamente avaliada, quer pela sua novidade e erudição, quer pelos seus contributos especificamente filosóficos nos domínios da teoria política, da teoria estética, da teoria da história e da teoria da religião. E isto devido sobretudo ao facto de ser mais um pensador ilustre do Porto e, por isso, marginalizado pelo luso-pensamento dominante, o de Lisboa.
Com estas breves considerações, pretendemos resgatar o pensamento de Sampaio Bruno e insuflar-lhe uma rajada de ar fresco vivo, apesar da sua linguagem ser um pouco rebuscada. Além do seu pensamento político republicano, destacamos o seu contributo nos domínios da estética e da filosofia da história.
1) Estética de Sampaio Bruno. Este pensador portuense ilustre escreveu uma das maiores obras em língua portuguesa sobre a «evolução do romance» no Ocidente, destacando o romance português, e entrando em confronto com grandes filósofos e literatos mundiais, num tempo tão indigente como seria o seu. Com efeito, «A Geração Nova» (1885) deve figurar na história da estética e da teoria literária, juntamente com a «Teoria do Romance» de Georg Lukács e os escritos de Walter Benjamin, e, em muitos aspectos, antecipa a «sociologia do romance» tal como a elaborou Lucien Goldmann. É preciso reler esta obra que confronta as estéticas de Kant e de Hegel, sem esquecer Marx, que exerceu um fascínio sobre Sampaio Bruno.
2) Filosofia da História. Se nada foi feito no domínio estético aberto por Bruno, muito foi feito para destruir a filosofia da história de Sampaio Bruno. Joel Serrão afirma que a sua filosofia da história portuguesa «é de matriz esotérica (sic) e messianista, na qual se destaca, no primeiro dos livros referidos («O Encoberto», 1904), a sua crítica à concepção predominante na época, e defendida por Antero de Quental e Oliveira Martins, da decadência nacional, após a empresa dos Descobrimentos». De facto, os pensadores do Porto sempre foram mais optimistas do que os restantes pensadores portugueses, até porque a burguesia era mais forte no Porto do que noutras cidades de Portugal. As obras referidas são, além de «O Encoberto», «Portuenses Ilustres» (1907-1908), «O Porto Culto» (1912) e a obra póstuma «Os Cavaleiros do Amor» (1960).
Consideramos que a teoria da história atribuída a Sampaio Bruno é absolutamente errónea e que o Encoberto ainda continua à espera de ser revelado em nova chave hermenêutica, uma chave que faça justiça à Cidade do Porto, contra as injúrias inventadas por cérebros perversos e mal intencionados. António Quadros (1982) é um dos paladinos dessa concepção obscura da história de Portugal, o sebastianismo, que desenvolve fora de uma matriz filosófica. Contra ela, Sampaio Bruno escreveu: «Dissipe-se a nuvem que encobre o herói. O herói não é um príncipe predestinado. Não é mesmo um povo. É o Homem». Pouco mais adiante, Sampaio Bruno acrescenta: «Ora, a humanidade é irresumível, e o carácter da sociabilidade reside precisamente em sua extensibilidade. Civilização quer dizer integração. Não são devaneios políticos; são factos corroborados. Considere-se o acesso recente do Japão à nossa cultura ocidental» (p.332-333). A própria estrutura da obra não permite uma leitura sebastianista da história de Portugal, apontando claramente numa direcção mais «global» e aberta, como diríamos hoje. O Encoberto só pode ser revelado numa outra chave hermenêutica: a da globalização sempre em marcha e aberta.
J Francisco Saraiva de Sousa

Pobreza

As Virtudes em vez dos Valores
Na Universidade, um professor repetia-me vezes sem fim, em privado e em público, em tom mais amigável do que ofensivo, esta frase: «O Francisco é um cientista sem ética». No seu entendimento, não se tratava de uma crítica mas de uma constatação: nas minhas intervenções ou trabalhos de investigação, nunca colocava o «problema da fundamentação ética» dos «assuntos» em questão e ele achava que qualquer análise científica deveria colocar questões éticas e procurar explicitá-las. Como era dos poucos professores com quem simpatizava efectivamente, limitava-me a escutá-lo sem ripostar, reafirmando o meu compromisso com a verdade.
Hoje julgo compreender melhor a minha atitude espontânea em relação à ética, que formulo nestes termos: a ética filosófica não deve ser entendida como uma teoria dos valores (axiologia), mas, em vez disso, como uma teoria das virtudes. E, como era e continuo a ser um homem «virtuoso», adormecia nas aulas de ética, sempre que o professor falava de valores ou de hierarquias de valores, seguindo literalmente - repare-se - Risieri Frondizi («Que son los Valores?»), quando eu já lia seriamente Kant, Hegel, Max Scheler, Jean-Paul Sartre, Marcuse, Adorno, Habermas, Merleau-Ponty, Althusser, Lukács, Gadamer e Heidegger, para só mencionar estes. Sempre estive mais avançado do que os professores em matéria de conhecimento e esse mesmo professor reconhecia-o quando dizia que «estava a anos luz de distância...».
Mas, na altura, reconheço, não sabia tematizar a minha posição e ainda hoje não sei bem. Suspeito que a «Teoria dos Sentimentos Morais» de Adam Smith ajuda a clarificar a minha posição, sobretudo quando elabora a perspectiva do «observador imparcial», portanto universal, que antecipa os modelos relacionais do self.
E, como quero contagiar os meus «amigos» online com esta minha nova paixão, deixo aqui umas palavras de Smith sobre a «pobreza» (não exclusão social, como se diz hoje):
«É porque os homens estão dispostos a simpatizar mais completamente com a nossa alegria do que com a nossa dor, que exibimos a nossa riqueza e escondemos a nossa pobreza. Nada mortifica mais do que sermos obrigados a expor a nossa aflição aos olhos do público, e a sentir que, embora a nossa situação esteja exposta aos olhos da humanidade, nenhum mortal é capaz de conceber um pouco que seja de nosso sofrimento» (p.59). Ao contrário do homem rico, «o homem pobre envergonha-se de sua pobreza» (p.60) e, como acontece com todos os outros homens, admira mais a riqueza e seus detentores do que a pobreza e as sua vítimas.
Como mortais que são, os portugueses dedicam-se a tempo inteiro a exibir sinais da sua riqueza e a esconder a sua pobreza da atenção pública, mesmo quando vivem com a corda ao pescoço. Se esta é efectivamente uma disposição geral dos mortais, então, na actual conjuntura de desemprego e de muita pobreza escondida, torna-se necessário contrariá-la e chamar a atenção pública para a real situação de pobreza dos portugueses, de modo a mortificar a consciência dos políticos responsáveis por esta situação, porque - os estóicos já o sabiam - a lembrança de todos os erros cometidos deve mortificá-los e levá-los, se ainda forem homens, a reparar os seus erros.
O ponto de vista do «espectador imparcial» é o ponto de vista da solidariedade social e da reciprocidade. Homem político que não seja capaz de se colocar no lugar e na situação do outro, neste caso dos desempregados, muitos dos quais licenciados, e ajudar a alterá-la, não deve merecer a aprovação dos seus eleitores.
J Francisco Saraiva de Sousa

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Os Luso-Olhares

Aristóteles dizia e com razão que os olhos são as janelas da alma e actualmente a medicina mostrou como podemos observar o cérebro a partir dos olhos.
Por princípio, dado ter sido educado pela minha mãe a privilegiar a troca de olhares como via de acesso à leitura excelente dos comportamentos, das intenções e do grau de sociabilidade adequada ao momento, sempre utilizei o olhar e a sua expressão para analisar os meus interlocutores e as pessoas com as quais participo em interacções sociais. Desde bebé, tenho detectado que o olhar dos portugueses é social e psicologicamente pouco expressivo, o que parece indicar ausência de espírito e de competência social. Os portugueses não sabem ler os olhares e criar cumplicidades através de uma mera troca de olhares e, quando julgam estar a corresponder ao olhar, comentem frequentemente gafes comportamentais: a dissonância é total.
Esta dificuldade de perscrutar o olhar de outrem e, deste modo, estabelecer com ele um diálogo silencioso, constitui um sintoma de mau funcionamento da inteligência emocional e social e, em contextos complexos de interacção social, revela debilidade mental e cognitiva: a única expressão facial evidente, associada a respostas fisiológicas visíveis, que os portugueses exibem está sempre relacionada com a inveja e, infelizmente, os jovens portugueses já nem essa inveja sabem detectar, donde resultam muitos embaraços, incompreensões ou mesmo conflitos agressivos.
Temo que os luso-olhares revelem ausência de alma e que a sociedade metabólica dominante roube a condição de mortais aos portugueses, condenando-os a serem meros animais prontos a ser abatidos, como se abate gado nos matadouros.
J Francisco Saraiva de Sousa

Apito Encarnado

O texto integral do Apito Encarnado esteve e ainda está disponível online e convido os cibernautas portugueses a lê-lo na integra. Aquilo é que é alta corrupção e nem a magistrada e seu marido escapam à suspeita de estarem envolvidos num dos casos negros da história negra de Portugal, cujo pretenso símbolo, o «glorioso», mostra a sua marca salazarista de origem.
Se os dados fornecidos forem credíveis, os portugueses em geral e os portugueses do Norte em particular devem meditar seriamente no seu futuro e começar a pensar se vale a pena manter esta farsa de país unida e se não seria melhor libertarmo-nos de vez de Lisboa, reclamando maior autonomia regional, tendo em vista um novo Estado Nacional.
Um país que silencia a corrupção e a injustiça, permitindo que a Lisboa gorda dos abusadores metabolicamente reduzidos cresça, qual cancro, em detrimento do resto do país, maquinando mil planos maquiavélicos para empobrecer o Norte e depauperar as suas populações, não tem direito à existência. Demasiada injustiça e descarada ausência de vergonha: os corruptos exibem descaradamente a sua corrupção e, pelos vistos, com protecção da «justiça».
J Francisco Saraiva de Sousa

Quadratura do Círculo...

... ou a Circularidade do Quadrado?


Além do apresentador, são três os participantes: Pacheco Pereira, Lobo Xavier e Jorge Coelho e destes apenas um deles tem pretensões intelectuais. Jorge Coelho é um político de aparelho partidário inteligente, ágil, atento e muito pragmático. Lobo Xavier parece distanciar-se muito do seu partido e está mais preocupado com os seus interesses e em movimentar-se nos meios ditos elitistas, mas, como é um «bluedragon» como eu, prefiro deixá-lo a tratar da sua imagem um tanto ou quanto «mole» para um cidadão do Porto. Pacheco Pereira é mais arrojado ou, pelo menos, pretende sê-lo em termos intelectuais e, por isso, sujeita-se e presta-se mais à crítica.

O programa de hoje da «Quadratura do Círculo» (26 de Setembro de 2007) debateu três temas: a situação bizarra das eleições no PSD, a situação do BCP e a situação do seleccionador nacional Scolari. Temas fracos que foram tratados de modo igualmente frouxo e sem grande imaginação política. Lobo Xavier defendeu o futebol e Pacheco Pereira limitou-se a desempenhar o papel daquilo que pensa ser o intelectual: mostrar desprezo pelo futebol e seu mundo, sem deixar de ferrar contra Pinto da Costa. Como disse Jorge Coelho, prevaleceu, no caso de Scolari, o luso-porreirismo. Mas Pacheco Pereira vai mais longe e fala de caciquismo nacional. E fala com muita autoridade, porque o caciquismo nacional é, em grande medida, uma invenção do PSD, aliás bem visível na actual conjuntura do partido. A análise de Pacheco Pereira é questionada por Lobo Xavier, mas tudo sem argumentação clara, até que o último se lembra de dizer que o comentário de Jorge Coelho sobre o BCP poderia ser interpretado como uma tentativa de intervenção do governo nos assuntos privados do Banco. A direita voltou a unir-se em torno deste tema, sem grande convicção, até porque Pacheco Pereira é cliente da Caixa Geral de Depósitos.


Meia hora de conversa de comadres! Se não fosse a atitude digna tomada por Santana Lopes em abandonar a entrevista por ter sido interrompido pela cobertura da chegada de José Mourinho, a noite na companhia da SIC Notícias teria sido, como geralmente é, uma terrível perda de tempo, porque, pensando bem, a SIC em geral é uma empresa muito próxima do PSD e essa proximidade, por vezes excessivamente íntima, tira-lhe dignidade e credibilidade. Com excepção de Rui Rio, um homem sério que luta pelos interesses reais do Porto, o PSD está cada vez mais confrontado consigo mesmo e com a gula dos seus militantes oportunistas e, nalguns casos, corruptos e abusadores do poder e, como resultado disso, corremos o risco de ficarmos sem oposição responsável, a menos que adiem justamente as eleições e surja uma terceira candidatura, capaz de eliminar o caciquismo endémico do partido laranja.


Pacheco Pereira critica o futebol e as audiências que este consegue, em detrimento de assuntos públicos mais interessantes, mas, se ainda fosse capaz de fazer auto-análise e auto-crítica, encontraria uma resposta para essa preocupação legítima, que o deixaria paralisado: «Eu, Pacheco Pereira, sou uma tremenda mentira... O melhor que faço é abandonar a esfera pública e ingressar num mosteiro anti-futebol, onde poderei curtir a minha dor de inveja daqueles que, sem nada saber, triunfam com chutos na bola.» É com muita tristeza que concordo, ou melhor, que concordamos, porque não sou o único a pensar tal coisa, com este Pacheco Pereira «auto-crítico» que tanto quis abraçar o mundo que acabou por o perder, sem conseguir opor-lhe, ainda que abstractamente, uma filosofia política minimamente interessante que estivesse um pouquinho para além da opinião voluntarista e meia polida. Mas também neste domínio Pacheco Pereira não está sozinho: uma turba enorme de pseudo-intelectuais fazem-lhe companhia, talvez sem o brilho que ele já teve em tempos passados: Carrilho, que ainda não percebeu que os portugueses o detestam, Marcelo Rebelo de Sousa, que sem o seu direito de dar notas seria facilmente descartado, e tantos outros que se julgam intelectuais e que falam como comadres tolas... da cozinha de Eça de Queiroz ou de culinária, de resto temas muito pouco dignos de intelectuais supostamente imaculados e etéreos, como eles pretendem ser, sem superar a estupidez de outro programa da SIC Notícias - «O Eixo do Mal», que tanto critica a sociedade americana sem tomar consciência que são as empresas americanas que lhes permitem dizer tantas bobagens, umas pertinentes e com sentido de humor, mas outras mesmo muito idiotas e infantis. Afinal, o nacional porreirismo de que fala Jorge Coelho é a maneira de viver descoberta pelos luso-burricos para tentar desesperadamente manter uma falsa auto-imagem de si próprios: «não te metas comigo e eu não me meterei contigo». Este consenso dos luso-burricos é o modo de fugirem da voz da sua consciência que interpela o vazio mortal que são como pessoas canceladas. Portugal é um país cancelado e quem queira inverter esta situação faça o favor de intervir com comentários neste blogue e juntos poderemos imaginar um outro país.


J Francisco Saraiva de Sousa

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

António Vitorino: Excelente Comentador Político

De todos os titulares do comentário político, apenas um se destaca pela sua excelência: António Vitorino. Os restantes são demasiado «alterados» em termos de temperamento e de pensamento político para serem dignos de merecer a credibilidade e a confiança dos portugueses. Contra esta luso-amostra de falsos candidatos a comentadores políticos, António Vitorino sobressai pela sua prudência, pela sua orientação política partidária mas não dogmática e alterável em função das conveniências, pela sua inteligência e sabedoria e pela firmeza simpática com que defende as suas posições.
Todas estas qualidades do comentador político chamado António Vitorino e dos seus comentários transparecem no programa semanal «Notas Soltas» (RTP1) e ficaram particularmente evidentes nas posições que defendeu nesta última segunda-feira sobre a Cimeira União Europeia/África.
De facto, nos últimos anos, o PS tem sabido gerir a sua imagem e conquistar a liderança política do país, devido em parte aos homens competentes que fazem parte das suas fileiras. E, também neste domínio, o PS parece não ter oposição credível: a oposição existente está completamente desorientada e, por isso, histérica. Esta desorientação denuncia-a: ela carece de ideologia política e, quando deteve os aparelhos de Estado, abusou do Poder, para gerir e garantir os interesses pouco políticos dos seus simpatizantes oportunistas. O PSD não tem ideologia definida e, por isso, saltita da social-democracia para o populismo, e o CDS simplesmente é uma contradição: a democracia cristã não é verdadeiramente uma ideologia política, mas uma maquinação para assaltar as almas e os corpos dos seus fiéis. É bom que os portugueses meditem nestes assuntos e não se afastem da política, porque abdicar da política é perder o direito de participar na esfera pública e mesmo perder o direito de reivindicar.
J Francisco Saraiva de Sousa

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Luso-Bloggers Metabólicos

Ainda sou muito novo nestas caminhadas pela blogosfera planetária, mas, como sou douto desde bebé, e gozo do estatuto privilegiado de ser «estrangeiro» em Portugal, tal como Georg Simmel na Alemanha, não preciso de muito tempo para «aprender» que os bloguistas portugueses são simplesmente aquilo que são: luso-invejosos pouco seguros de si próprios e incapazes de comunicar sobre algo, sem temer a perda de auto-estima ou de alguma segurança metabólica.
Se como diz Hegel só os grandes povos produzem metafísica, então o povo português nunca foi nem será um grande povo, porque nunca produziu ou produzirá uma metafísica. E, mesmo que surja uma metafísica em língua portuguesa, ela nunca será portuguesa, a menos que aconteça um terramoto de proporções colossais em terras lusas, de modo a destruir a fauna que apenas existe para negar a vida e que outra coisa não sabe fazer senão pastar do nascimento até à morte.
É duro dizer a verdade, mas dizer a verdade é encarar a realidade de frente, sem qualquer véu ofuscante e, nesse acto, iniciar uma acção revolucionária e esperar que outros lhe dêem continuidade, de modo a quebrar o feitiço que é Portugal.
O Encoberto só poderia ser uma figura tematizada por um pensador do Porto, a cidade que concentra em si todo o sistema de inveja nacional: Sampaio Bruno. O Encoberto, filosoficamente desconstruído, aponta um caminho: luta pela autonomia e inventa um terceiro lugar na Península Ibérica, liberto do fetiche sulista.
J Francisco Saraiva de Sousa

Prós e Contras: A Sociedade em Rede

O programa «Prós e Contras» dedicado às «Vidas Electrónicas» (24 de Setembro de 2007) foi muito interessante e rico em ideias ainda não compreendidas pelos portugueses ou até mesmo por muitos dos intervenientes e participantes, muitos dos quais ilustres engenheiros e, simultaneamente, professores universitários e empresários. Esta incompreensão ou, se preferirem, incapacidade de dominar os novos conceitos da sociedade em rede, servirá de fio condutor da nossa análise do tema em debate: a sociedade em rede, de resto confundida literalmente com as »Vidas Electrónicas».

A estrutura que preside a este programa de Fátima Campos exige que os participantes sejam escolhidos de molde a que haja um confronto de ideias e de posições em relação a um determinado tema ou problema. Hoje o tema em debate era a sociedade em rede e nenhum dos quatro convidados especiais (Carlos Zorrinho, Diogo Vasconcelos, Paulo Nordeste e Borges Gouveia), bem como os restantes participantes, com exclusão do blogger/jornalista, apresentou argumentos ou teses contra a sociedade em rede e as novas tecnologias. Todos mostraram-se satisfeitos com o facto da comissão europeia ter dito que Portugal era o 3º país melhor classificado no ranking dos serviços electrónicos e, com o mote introduzido por Fátima Campos - José Mourinho, special one, os presentes revelaram um optimismo muito pouco frequente nas terras portuguesas, reanimado e reforçado pela apresentação de uma série de empresários que falaram das suas empresas de novas tecnologias.

Diante deste cenário triunfal, o blogger tentou dizer que era necessário olhar para os contras, alegando que a maior parte dos portugueses, aquilo a que chamou Web social, estava excluída desse mundo das novas tecnologias e da Internet: a chamada infoexclusão. Embora tenha ainda contado com a ajuda de José Salcedo ou mesmo de Borges Gouveia, a sua voz foi mergulhada no silêncio e o optimismo continuou a dominar até ao fim do programa. Hoje Portugal era ou foi o maior, tal como José Mourinho, que quando treinador do Porto era o »convencido».

Não tenho absolutamente nada contra o optimismo, mas fiquei com a impressão que o programa não esclareceu o tema em debate, devido provavelmente ao uso de terminologia conceptual confusa e pouco rigorosa. Assim, por exemplo, o blogger afirmou que ali estava a ser defendido o ponto de vista dos criadores e produtores da rede, em detrimento do ponto de vista dos utentes ou da Web social. Esta ideia percebe-se mas não é compatível com a noção aberta, participativa e fluída da rede, que, de resto, foi tratada como mera ligação de milhares de pessoas umas às outras, usando uma diversidade de componentes das novas tecnologias exibidas pelos seus empresários ou representantes de empresas ditas de sucesso. Esta confusão recheada de ambiguidades do género atingiu o seu limite quando entram em cena empresas de biotecnologias, o tema de plataformas sociais, tais como Second Life (Portugal está em 2º lugar per capita), e a telemedicina, aliás temas deveras importantes (Este último é tratado no nosso blogue «Cyberbiologia e CyberMedicina». As «Vidas Electrónicas» já mereceram a nossa atenção no blogue «CyberPhilosophy»).

Ora, num programa alinhavado nestes moldes, o vencedor já tinha sido previamente dado e esse vencedor foi o «plano tecnológico», brilhantemente apresentado por Carlos Zorrinho, que destacou as suas duas grandes frentes de luta: as «Novas Oportunidades», em torno das quais houve algum cepticismo, e a qualificação. O próprio Diogo Vasconcelos considerou-se como um precursor deste plano do governo socialista e deu efectivamente um contributo brilhante ao programa, bem como os restantes convidados. As ideias-força foram o «governo electrónico», que possibilita a desmaterialização da informação e maior participação, e as escolas ligadas em Banda Larga, projecto que conta com a colaboração da PT Inovação/Universidade de Aveiro. Os professores universitários aproveitaram a ocasião para denunciar a má qualidade do ensino secundário e afirmar o excelente trabalho realizado pelas Universidades de Braga, Aveiro e Coimbra neste campo, com a ajuda e/ou em colaboração com as empresas ou mesmo autarquias. O consenso foi, portanto, generalizado. Portugal deve apostar nas novas tecnologias.

Apesar disso, a sociedade em rede coloca problemas que não foram objecto de reflexão e esses problemas não se limitam apenas à infoexclusão, provavelmente a nova variante da exclusão social. Os participantes eram predominantemente engenheiros e, como tais, são bons a criar coisas mas muito maus a pensar. Ora, os pensadores não estavam presentes e isso talvez porque não existam verdadeiramente pensadores em Portugal. Este é o lado negro não da Internet mas da mentalidade de engenheiro, magnificamente criticada por Max Weber, os teóricos críticos e Peter Berger, para referir um conjunto de pensadores muitos diferentes teórica e politicamente. Se Portugal tem bons engenheiros e não duvido disso, aliás bem visível, tem maus intelectuais e os engenheiros/professores universitários, bem como o ex-reitor da Universidade do Porto, sabem bem a razão disso acontecer, mas para não quebrar a onda de luso-sucessos optaram por dar menos voz a essa «vergonha nacional», que faz carreira naquelas faculdades que deveriam promover o Espírito Humano, mas, em vez disso, albergam os maiores criminosos da humanidade portuguesa: os seus pseudo-intelectuais, cujas obras revelam publicamente a dimensão reduzida dos seus cérebros.

Sobre outros temas aqui aflorados falaremos deles no nosso blogue «CyberPhilosophy» ou mesmo no blogue «CyberBiologia e CyberMedicina». Além disso, Fátima Campos prometeu realizar outros programas sobre esta mesma temática.


J Francisco Saraiva de Sousa


sábado, 22 de setembro de 2007

Abrupto: Um blogue totalitário

O blogue de Pacheco Pereira é um blogue pouco dado ao diálogo e à troca de mensagens. Já lhe enviei dois ou três emails e não obtive nenhuma resposta. No entanto, Pacheco Pereira farta-se de denunciar o autoritarismo do Primeiro-Ministro de Portugal, José Sócrates, quando, na verdade, não tem autoridade para chamar autoritário ao PM, porquanto o seu blogue exibe traços autoritários e está hermeticamente fechado ao diálogo.
A autoridade do PM não é salazarista mas arendtiana: funda um princípio de dinamismo nacional que os pseudo-liberais, profundamente autoritários por dentro, desejam paralisar, por temor dos efeitos das mudanças sociais em curso.
Com isto, não pretendo afirmar que o Abrupto não tenha valor, porque o tem, mas denunciar os seus tiques totalitários, quase à Cunhal, político que Pacheco Pereira parece admirar, dado escrever diplomaticamente sobre ele.
É evidente que estou a tomar uma posição na luta política, a favor de José Sócrates contra as oposições carentes de imaginação e de bom senso político.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Socióloga Avense

Excelente blogue este http://sociologavense.blogspot.com/. Recomenda-se: afinal não precisamos de um «plano tecnológico» burocraticamente planeado para termos jovens super-competentes.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Interface Culture ou Cultura das Interfaces

O conceito de «cultura das interfaces» foi elaborado sistematicamente por S. Johnson (1997), no seu livro «Interface Culture».
O tema central de Johnson é a fusão de arte e tecnologia no âmbito da sua concepção das interfaces.
Uma interface é o software que modela a interacção entre utilizador e computador, ou seja, a maneira como o computador «se representa a si próprio perante o utilizador», numa linguagem que o último compreende. A linguagem digital dos zeros e uns é substituída por uma metáfora, de modo a tornar-se inteligível para a maioria dos utilizadores da Internet e, nesta concepção, as interfaces incluem tanto o software como programas de web browsers e e-mail como determinados ambientes digitais a que nos ligamos usando esse mesmo software. Para Johnson, as interfaces «trabalham nessa estranha zona nova a meio caminho entre meio de comunicação e informação/mensagem». Elas são fundamentais para a maneira como os utilizadores da Internet dão sentido aos ambientes da informação moderna. As interfaces constituem componentes fundamentais das interacções online que, de resto, estruturam, funcionando como o seu meio de comunicação e informação.
Johnson destaca cinco componentes interrelacionados das interfaces modernas: a secretária, janelas, ligações, texto e agentes.
A secretária. Quando os criadores das interfaces começaram a trabalhar, foram confrontados com uma «tábua rasa», isto é, um espaço de informação vazio à espera de ser cheio, mas actualmente «as nossas próprias vidas giram à volta de um texto mais prosaico: a secretária do computador».
Janelas. A janela é a forma sintética de uma série de inovações que constituem a interface moderna. A disposição das interfaces accionadas por janelas é essencialmente fluída, podendo ser arrastadas pelo ecrã e redimensionadas com um único clique do rato, dado terem sido concebidas para serem maleáveis e abertas.
Ligações. A janela permite-nos enquadrar informações de modo flexível, enquanto «o hyperlink nos permite juntar os pedaços desse mundo e dar-lhe uma forma coerente». A ligação deve ser entendida como um «dispositivo sintético» e os utilizadores genuínos devem saber criar as suas próprias teias ou redes de associação.
Texto. Nenhum dos componentes referidos minimalizam o alcance do texto no futuro da concepção das interfaces e, neste aspecto, Johnson sugere uma mudança de paradigmas, de modo a que a informação seja organizada segundo relações semânticas baseadas em atributos como palavras-chave contidas nela.
Agentes. Os «agentes-inteligentes» são dispositivos automatizados que ajudam os utilizadores das interfaces a terminar tarefas e atingir objectivos e muitos desses agentes estão incorporados nas interfaces, como aqueles agentes incorporados em web browsers que ajudam os pais a bloquear o acesso a websites que não queiram que os filhos visitem.
Esta análise da cultura das interfaces modernas apresenta ideias extremamente valiosas para a elaboração antropológica e filosófica da cybercultura:
1. Johnson tenta fundir o mundo da tecnologia e o mundo da cultura.
2. Johnson tenta reconhecer o meio da interface como dispositivo de transmissão cultural.
3. Johnson tenta relacionar a concepção da interface com o risco e a incerteza dos nossos modernos enquadramentos informativos.
Apesar de negligenciar os aspectos sociais da cultura das interfaces, a análise de Johnson merece ser repensada, quer numa óptica cyberantropológica, quer numa perspectiva cyberfilosófica. A era do romance pode ter chegado ao seu fim: a interface é efectivamente o meio de informação e comunicação mais dominante e interessante num mundo cada vez mais mediatizado pelo computador e global.
J Francisco Saraiva de Sousa

Diário de um sociólogo

Leia este excelente blogue e vote nele Diário de um sociólogo.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Prós e Contras: O que muda na educação?

Não assisti a todo o programa «Prós e Contras» de hoje dedicado à educação, um tema que trato frequentemente nos meus blogues.
Mais uma vez detecta-se facilmente a capacidade do governo socialista de José Sócrates em esvaziar a oposição e, reconheça-se, como mérito.
Rodeada praticamente de adversários, a Ministra da Educação conseguiu passar a sua mensagem número um: o que importa não são os problemas sócio-profissionais dos professores, mas a política da educação, ou seja, a obtenção de resultados positivos, o combate ao abandono escolar e o sucesso escolar. Com esta mensagem, a ministra conseguiu alencar todo um conjunto vasto e desigual de medidas e de indicadores que mostram que essa política está a ser implementada com bons resultados.
No plano dos princípios e no sentido das mudanças introduzidas, não há quase nada a contestar. A prova disso é que todos os adversários presentes não tinham ideias e, muito menos alternativas interessantes, a apresentar, e os sindicalistas, como seria de esperar, só se preocupavam em defender os seus interesses metabolicamente reduzidos, com aquelas carinhas feias e medrosas. De facto, a ministra tem toda a razão quando afirmou que era necessário pôr termo aos 30 anos de facilidades e apostar na qualidade da educação, concentrando a atenção naquilo que interessa: a educação.
Quer se esteja ou não de acordo com muitos princípios da actual política da educação, alguns dos quais deveriam ser mais problematizados, a verdade é que o governo está a alterar um dogma dos últimos 30 anos: a competência dos professores e a sua carreira supostamente garantida. A destruição gradual mas acelerada do ensino após o 25 de Abril de 1974 está a ser corrigida e o ministério da educação exige doravante maior rigor e, segundo espero, resultados positivos não-adulterados. Ironicamente, para pôr fim ao chamado conflito entre ministério e professores, sempre presente no discurso dos sindicalistas, a ministra não só elogiou a sua equipa, como também fez questão de acentuar que sem os professores não teria conseguido obter esses resultados positivos.
Contudo, houve questões importantes que Fátima Campos colocou em cima da mesa, mas que não foram esclarecidas: a indisciplina e a violência escolar (a «incivilidade» nas palavras ministeriais), a autonomia das escolas (Joaquim de azevedo usou-a para empenhar a Universidade Católica na sua missão de obscurantismo, reforçado pela avaliação dos manuais escolares), a participação dos pais na escola (o representante dos pais reconheceu a incapacidade dos pais para educar os filhos e, por isso, precisam de estudar para ser pais, dado serem animais domésticos cujos instintos degeneraram) e em que moldes, o papel das autarquias (cuidado: algumas, as laranjas, são governadas por corruptos), a necessidade de reformas curriculares alargadas, a necessidade de encarar a escola numa perspectiva de esforço e de investimento e não numa perspectiva lúdica, defendida pelo ex-secretário de Santana Lopes, a política dos manuais escolares (acabar com o mercado garantido pelo Estado às Editoras privadas: boa ideia ministerial) e apoio aos desfavorecidos, enfim problemas que dizem respeito à política da educação e que possibilitam avaliá-la em termos de resultados positivos ou negativos.
A ministra abordou-os levemente e os seus adversários poucas criticas substanciais tinham a fazer. Gostei de escutar que as reformas curriculares constituem uma etapa posterior que o governo pretende levar a cabo e espero que esteja inspirado quando começar a prepará-las, não tomando à letra a expressão «choque tecnológico», dando ou quase dando computadores, à custa das chamadas Humanidades, entre as quais se inclui erradamente a Filosofia. Afastar os incompetentes é uma reforma excelente, mas eliminar a formação cultural e humanista do ensino é destruir Portugal e a civilização a que pertence: o Ocidente. A língua portuguesa está a ser maltratada pelos professores de Português e, neste aspecto, se não fossem os programas em português das televisões nacionais, incluindo as desgraçadas das telenovelas, os portugueses falavam tudo menos em língua portuguesa. Além disso, o ensino da informática e das ciências não está nada bem de saúde. Tudo tem corrido mal no ensino após o 25 de Abril e todos são responsáveis pela mediocridade nacional e, de facto, um sindicalista colocou inadvertidamente a mão numa das feridas: a decadência do ensino universitário, agravada pela entrada em cena das chamadas ciências da educação, do ramo educacional nos cursos universitários e pelo advento do ensino superior privado, geralmente levado a cabo por meros professores do ensino secundário e com a ajuda, em alguns casos, de autarquias pouco escrupulosas nos usos do dinheiro público. A ministra acentuou enfaticamente que o seu modelo de organização era vertical e hierarquizado, de resto um bom modelo, capaz de impor disciplina, produtividade e competição saudável.
Outro problema colocado pelo ex-secretario de Santana Lopes que vê o ensino como um «equilíbrio», mais lúdico do que sério, diz respeito à necessidade dos rapazes serem alvo de medidas especiais, uma questão de facto que tenho sempre referido nestes meus blogues e que atribuo à fragilidade biológica dos machos.
De resto, foi um programa excelente de Fátima Campos que já nos habituou a jornalismo de elevada qualidade, que se segue a um outro grande programa de Judite de Sousa, «Notas Soltas», onde António Vitorino revela a sua superior inteligência e enorme qualidade política, tudo aquilo que o professor Marcelo Rebelo de Sousa possui em menor quantidade e qualidade, apesar de ter sido professor do primeiro.
J Francisco Saraiva de Sousa

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Filosofia e Política em Portugal

Ontem, na Quadratura do Círculo, Jorge Coelho afirmou que era necessário pensar em acabar com os cursos superiores que formavam ou licenciavam pessoas para o desemprego e, como parece evidente, referia-se aos cursos administrados pelas Faculdades de Letras ou de Ciências Sociais e Humanas. É evidente que esses cursos tinham como saída profissional o ensino e este ano milhares de professores foram para o desemprego. Entende-se perfeitamente a ideia subjacente: diversos cursos sempre foram e são efectivamente desnecessários, sobretudo aqueles que aparecem com designações apelativas ou mesmo estúpidas, nomeadamente no ensino universitário ou superior privado.
No entanto, é preciso ter cautela e pensar no futuro, não em termos de sobrevivência metabólica desigual e profundamente injusta, mas em termos da perpetuação da civilização ocidental e da vida humana com dignidade. A economia e as finanças ou mesmo a mentalidade de engenheiro não são boas conselheiras. A crise da política e, portanto, da palavra, está intimamente ligada à crise que a filosofia política vive desde que o pensamento do último grande mestre da filosofia política, Karl Marx (Hannah Arendt), foi «abandonado» ou, pelo menos, vulgarizado pela ascensão das chamadas ciências sociais e humanas, que, sem originalidade e perseguindo objectivos pseudo-profissionais, estão a destruir sistematicamente a matriz filosófica que alimenta e alimentou a Civilização Ocidental. Aliás, com a graça dos diversos governos constitucionais, esses cursos foram promovidos e usados para garantir postos de trabalho e estatuto social aos mais «burricos» entre todos os portugueses, todos aqueles que estão associados aos partidos políticos, à Igreja Católica e suas delegações ou mesmo à governação, quer no ensino público, quer no privado.
Além dos efeitos intrinsecamente nefastos dos relativismos inerentes às abordagens desses cursos, devemos acrescentar o luso-oportunismo já referido (o ensino pensado não para promover o desenvolvimento e a cultura, mas para garantir empregos aos luso-protegidos burricos nacionais) e a incompetência visível dessas criaturas pardacentas.
As reformas relativas ao ensino superior e universitário devem levar tudo isto em conta e uma outra ideia fundamental: se o governo afirmar ser pragmático, no sentido económico do termo, e fechar as portas ao ensino da filosofia, da história e das línguas e literaturas, está a cometer uma espécie de homicídio. Destrói a própria matriz de que se alimenta a Cultura Ocidental e descaracteriza ainda mais Portugal, rendendo-se nesse acto ao terrorismo anti-ocidental.
Esta geração de novos políticos, muitos dos quais foram beneficiados por passagens administrativas ou coisa do género, é muitíssimo ignorante e não tem consciência de pertença a uma matriz civilizacional. Aliás, eles não são políticos: são indivíduos que usaram e abusaram da política para garantir uma profissão, isto é, emprego fácil. A sua formação filosófica é nula e, como no Ocidente a política bebe na filosofia de Platão, podemos associar o descrédito da política à ignorância filosófica destes políticos metabolicamente reduzidos e rodeados de pseudo-cientistas sociais.
Não pretendo analisar esta situação complexa e preocupante em termos filosóficos e, portanto, políticos. Limito-me, de momento, a colocar o problema e chamar a atenção para ele. A política é assunto da esfera pública e diz respeito a todos e não apenas aos chamados políticos. Embora a sociedade metabólica não promova o mundo comum e a esfera pública, mas o metabolismo privado de cada um, todos deveriam empenhar-se nestes assuntos públicos e trocar opiniões, no sentido a abrir as portas ao futuro... Em Portugal, a situação é ainda mais grave, porquanto nunca houve uma boa tradição de pensamento genuinamente filosófico, liberta da Igreja Católica, que nem a patrística soube traduzir em língua portuguesa erudita.
(Em Portugal, só há um político que lê tudo, Marcelo Rebelo de Sousa, mas que, apesar disso, ainda não nos conseguiu convencer de que tem um pensamento político genuíno.)
J Francisco Saraiva de Sousa

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O Domínio Socialista

O governo socialista de José Sócrates está a governar bem e conseguiu desfazer um equívoco terrível: a ideia de que só os governos de direita governam bem, como se tivesse havido algum bom governo «social-democrata» (custa-me aplicar esta expressão aos membros do PSD) ou em coligação com o CDS.
Esta é uma grande vitória de José Sócrates. Os partidos da Direita foram desacreditados e a sua propaganda e má-fé foram desmistificadas. A crise deve-se fundamentalmente à má governação desses partidos, nas fileiras dos quais circulam as maiores luso-moléculas gordas.
No entanto, esta vitória foi mais alcançada a partir da acção política do governo socialista (finanças, economia, saúde, educação, plano tecnológico...) do que através da clarificação do eleitorado e da opinião pública. O governo tem demonstrado dificuldade em explicar muitas medidas e em enquadrá-las num projecto global de mudança social qualitativa e sustentável. Este é o aspecto mais criticável deste governo e susceptível de ser usado pela oposição para minar a confiança, alegando que, apesar do seu pragmatismo, o governo socialista não tem um «projecto de futuro» para Portugal. Aliás, este argumento tem sido utilizado, quando se critica a reforma da segurança social ou a reforma administrativa. Sócrates é sistematicamente acusado de não quer reformar o Estado e repensar as suas funções e competências. De facto, os socialistas parecem temer esta tarefa de repensar o Estado e o seu sector público, como se temessem uma descaracterização do socialismo, de resto condenado a assegurar algumas regalias do estado social. Chamar-lhe «socialismo moderno» não acrescenta nada de substancial ao conceito e também não ajuda a repensar o socialismo num mundo global e ameaçado pelas catástrofes naturais ou pelo terrorismo islâmico.
Ora, é necessário repensar completamente o socialismo e a social-democracia e saber lidar com os desafios globais e locais, sem entregar os destinos dos mortais à irracionalidade de uma economia de mercado absolutamente auto-destrutiva. Qualquer governo competente, seja de direita, seja de esquerda, safa-se bem nas políticas ligadas à economia, mas falha quase sempre naqueles aspectos fundamentais ligados à continuidade da civilização e da vida humana. Aqueles que julgam que o socialismo e as suas políticas de mudança social qualitativa foram enterrados com a queda do muro de Berlim estão redondamente enganados e não percebem nada de filosofia da história: a economia de mercado não tem alternativa viável à vista, mas entregue a si mesma não resolve nada; muito pelo contrário, torna urgente a tarefa de repensar o socialismo, se não quisermos assistir a um colapso total da nossa civilização ocidental e do nosso estilo de vida.
Esta tarefa de repensar o socialismo deve retomar as suas fontes e essas fontes são os clássicos do marxismo, a partir dos quais, com os quais e contra os quais podemos estabelecer um diálogo frutífero com toda a nossa tradição de filosofia política. Os adversários de Jorge Coelho no programa «Quadratura do Círculo» sabem isso e, neste último, o ilustre membro do CDS (terminologia luso-ilustre) fez questão em repintar o «papão do comunismo», como se essa versão de socialismo fosse a única. Eles temem o germinar de um novo socialismo que saiba assumir inteligentemente toda a sua história, que, no fundo, é a história da nossa civilização.
Esta visão de fundo parece faltar a José Sócrates e aos socialistas, mas de uma coisa ninguém pode duvidar: os portugueses comuns são inteligentes e ambiciosos e espontaneamente fazem com que o plano tecnológico se materialize. Os portugueses precisam de novas elites e sobretudo de igualdade de oportunidades. Se José Sócrates conseguir comunicar com os portugueses e explicar-lhes os seus planos, terá prestado um grande serviço a Portugal e a si mesmo. Caso contrário, vence por falta de oposição credível.
J Francisco Saraiva de Sousa

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Prós e Contras: a Luso-Criminologia

Não pretendia editar novas mensagens neste blogue, pelo menos tão cedo, mas, após ter assistido ao programa de Fátima Campos, «Prós e Contras», sobre o caso do desaparecimento de Maddie, fiquei chocado com a ausência de argumentos convincentes. Com excepção do professor espanhol que tinha a sua graça e do polícia do sindicato que foi relativamente objectivo, os outros intervenientes foram uma decepção: mentes pseudo-criminologistas metabólica e maladrecamente reduzidas.



O psicólogo português reivindicou um novo posto de trabalho: filmar as expressões faciais dos arguidos para submetê-las posteriormente a estudo, a partir de um padrão supostamente universal que não soube explicar. Agarrando e abusando de uma suposta autoridade científica que não soube objectivar, demarcou-se do espanhol dizendo que não estava a dar uma opinião subjectiva mas a emitir uma mensagem científica que, afinal, era uma reivindicação de novos postos burocráticos de trabalho. A ciência desapareceu numa reivindicação de poder, de resto mais ou menos apreendida e condenada pelo advogado, que neste aspecto foi bastante irónico.



Como seria de esperar, o jornalista não sabia dizer nada de jeito, porquanto nem falar sabia. A luso-treta do jornalismo veio à baila, como se os jornalistas portugueses fossem agentes da informação e da comunicação competentes e racionais, quando, na verdade, eles são o caixote do lixo nacional, manipulados pelos verdadeiros abusadores do luso-poder.



Os criminologistas, mais o da investigação criminal do que o da polícia científica, pouco acrescentaram ao debate, e um deles recuou de tal modo a criminologia até ao século XIX, que até mesmo o advogado ficou petrificado, pensando que a nossa criminologia ainda está muito atrasada.



Contudo, detectou-se claramente um complô dos portugueses contra o espanhol, como se fossem superiores aos espanhóis ou quisessem aproximar-se dos ingleses, quando na verdade nenhum dos presentes tinha informação objectiva sobre o caso ou opinião que valesse a pena escutar. As opiniões emitidas não clarificaram o caso, nem sequer o pretendiam fazer, porque, nestas luso-sessões ou debates, o objectivo é falar sem nexo simulando cumplicidades e falsos entendimentos, lá onde se esgrime a espada da objectividade ou da autoridade de uma ciência que ninguém digno do nome de cientista reconhece como sendo a sua actividade. Mas até a autoridade da ciência foi de pouca duração, porquanto, no final do programa, todos estavam de acordo: a ciência não é conhecimento confiável. O que ontem era ciência, hoje já não é ciência: a navalha de Occam falha em muitos casos (o caminho mais curto ou mais económico nem sempre é o melhor), a criminologia debate-se com casos diferentes uns dos outros, não possibilitando apreender padrões uniformes (argumento esgrimido contra a teoria precipitada do espanhol), a polícia científica não é tão científica quanto se possa imaginar, porque as motivações dos crimes são sempre diferentes de um caso para outro, enfim a argumentação da linguagem da objectividade acabou por se converter, no final do falso debate, na argumentação da incapacidade de resolver o caso. A luso-objectividade era a subjectividade do espanhol e esta última, apesar da sua precariedade, era capaz de induzir uma objectividade susceptível de ser debatida, mesmo que viesse a ser refutada pelas novas evidências empíricas relativas ao caso em questão.



Se os ingleses, pelo menos os dotados de bom senso, estiverem atentos ao que foi dito neste último programa de «Prós e Contras» irão concluir necessariamente que, em Portugal, todos falam sem saber o que dizem ou sem dominar o assunto sobre o qual falam. Afinal, os portugueses ali representados usam termos sem dominar o seu sentido conceptual e a matriz teórica da qual são oriundos. A «subjectividade» do psiquiatra espanhol revelou-se mais objectiva que a «objectividade» dos portugueses: ela permitia alinhavar uma hipótese de trabalho, que poderia ser refutada ou corroborada, enquanto as luso-opiniões dos portugueses revelaram não conduzir a nenhuma parte, porque destituídas de espírito científico genuíno. Apenas alcançaram o tão conhecido entendimento da luso-trapaça. O argumento da confissão inicialmente criticado em nome das novas técnicas científicas de pesquisa criminal acabou por revelar ser o único meio de incriminar os arguidos, porque aquilo que devia ser ciência afinal é intuição e, sem se aperceberem disso, tinham aberto a porta a um contra-ataque por parte do psiquiatra espanhol. Contra as mentes luso-reduzidas, ele poderia reivindicar a natureza hipotética da sua teoria, cujo decorrer da investigação criminal poderá vir a corroborar ou refutar.



Neste momento, não entrarei em mais detalhes no que diz respeito à natureza da criminologia, reservando-os para outra mensagem a editar futuramente.



J FRANCISCO SARAIVA DE SOUSA

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Democracia e Dignidade da Política


Este trabalho integra diversos comentários e textos já editados nos meus dois blogues. Eles foram reordenados e reformulados de modo a darem uma visão de conjunto das linhas de força que sustêm a nossa crítica da lusofonia medíocre. O título escolhido aponta desde logo para aquilo de que carece a democracia trapalhona portuguesa: democracia real e dignidade da política. Os caminhos trilhados giram geralmente em torno da educação e da cultura.


1. DEMOCRACIA AMEAÇADA. A tese do medo de existir de José Gil está mal elaborada conceptual e politicamente: tomo-a como um esforço inconsequente para pensar a miséria de Portugal.
O português é um animal fechado num horizonte metabólico e, nesse mundo reduzido, não precisa de pensar e exercitar o pensamento para sobreviver ou mesmo existir. Aliás, nem sequer precisa de trabalhar e muito menos criar para viver, desde que tenha um emprego estatal (funcionário público) ou apoio financeiro. A sua vida gira em torno do metabolismo e até mesmo o seu comércio com o mundo e os outros é metabolicamente reduzido. O português carece de dimensão cognitiva liberta da vida metabólica e, como tal, é subhumano.
A democracia não ajudou Portugal a libertar-se destes animais humanos reduzidos; pelo contrário, tornou-os mais preguiçosos e indisciplinados, facilitando-lhes o acesso à vida metabólica envolvida em pseudo-diplomas ou pseudo-competências. Portugal é fecundo em animais reduzidos diplomados que não conseguem libertar-se para a dimensão do pensamento.
A democracia corre sérios riscos numa sociedade organizada no horizonte do metabolismo e, ao contrário do que se diz, a democracia não está garantida. Uns apoderam-se metabolicamente do poder e governam-se bem. Os outros ficam satisfeitos com a governação desde que fomente a sua vida metabólica. Os primeiros, os abusadores do poder, são os primeiros a dar o mau exemplo do que seja a democracia e reduzem-na ao chamado princípio ou direito do contraditório. Se tu dizes «x», eu vou dizer «y», embora não conheça nem «x» nem «y» e não saiba a razão de ser de tudo isto. Qualquer português aprende que para ser democrático deve defender as suas opiniões e dialogar é confrontar opiniões metabolicamente reduzidas. Os interesses desaparecem da avaliação das opiniões, porque todos estão fechados no horizonte metabólico que partilham. Ter direito à vida é comer e satisfazer necessidades metabólicas associadas e, em democracia (sic), partilha-se esse direito com os outros.
Com a democracia, a qualidade do ensino foi degradada e a investigação simplesmente não existe. Portugal democrático destruiu o ensino e a cultura e colocou no seu lugar uma terrível mentira: os burricos diplomados que teimam em conservar o seu metabolismo visível e a perpetuá-lo no tempo. Usam e abusam do poder. Tudo é uma farsa planeada e conservada pelo poder luso-metabólico e, nesta farsa que é a nossa vida em comum, não há lugar para o futuro. Portugal carece de futuro.
O português seja diplomado ou analfabeto olha para o mundo com um olhar metabólico. Aliás, o mundo é pura abstracção: o que existe são as farsinhas de cada um e a farsa relatada pelos jornalistas metabolicamente reduzidos. Tudo isto é o horror puro e brutal. Portugal é um país de terrorismo metabólico que nega a vida ao pensamento e à democracia. Até mesmo a democracia vigente é uma terrível mentira. Ela alimenta-se da corrupção dos colarinhos brancos que encabeçam as pseudo-elites nacionais.


1.1. EXCURSO: DEMOCRACIA E POVO. Todos devem conhecer a crítica platónica da democracia (sic). Embora a democracia possa conduzir à anarquia ou, como preferimos dizer, ao relativismo total da opinião, ela também pode ser utilizada pelos abusadores do poder para manter o seu metabolismo visível, como se não houvesse futuro depois deles.
Na sua acepção genuína, a democracia só tem sentido para aqueles que prezam a liberdade de pensamento e de expressão e que não sabem viver sem pensar cooperativamente com os outros. Mas a maioria dos homens não é amiga do pensamento e, por isso, a democracia tem pouco significado para esses homens metabolicamente reduzidos. Eles vivem facilmente tanto num regime ditatorial como num regime democrático. Não precisam do pensamento para viver e a democracia torna-os ainda mais preguiçosos e intelectualmente amnésicos.
A questão colocada por Espinosa continua a ser pertinente: os homens preferem mais a escravatura do que a liberdade. Porquê? A resposta só pode ser dada por uma antropologia filosófica que pense radicalmente a animalidade do homem. Com efeito, numa sociedade metabólica, cujos destinos são mais ditados pela necessidade do que pela libertação, não há necessidade de pensamento autónomo.


1.2. EXCURSO: DEMOCRACIA ONLINE. Encaro a Internet como um imenso fórum de troca de ideias e de elaboração de propostas interessantes produzidas espontaneamente pelos cidadãos comuns. Embora muitos blogues exibam padrões pouco adequados, mais centrados em questões pessoais do que em questões de interesse comum, muitos exibem efectivamente elevada qualidade e seriedade.
A Internet não deve ser vista apenas como um meio de lançar informação política de modo barato e sem o recurso à classe falsificadora de jornalistas incompetentes, que intoxicam mais do que informam os cidadãos, mas também como uma fonte de novas ideias que devem ser escutadas pelos políticos que pretendem servir efectivamente a causa pública.
Ela é um barómetro não mediado daquilo que os seus utentes pensam da acção dos seus governantes, bem como daquilo que gostariam que estes realizassem. Apesar do seu lado escuro, a Internet é um espaço de debate livre dos constrangimentos institucionais que cerceiam a troca e a partilha de ideias, de resto um passo significativo na direcção de uma democracia mais participativa e mais amiga da cidadania. Pelo menos, garante a liberdade de expressão daqueles que estão afastados do poder e da sua corrupção.


2. TERRORISMO DA OPINIÃO. Os programas nacionais de comentário político revelam o estado nacional da luso-alma, cuja compreensão requer infelizmente uma abordagem psicopatológica.
A Televisão portuguesa torna visível a luso-alma e revela todos os seus meandros e labirintos. Professores universitários sem currículo, jornalistas sem formação ou políticos reduzidos trocam opiniões mal elaboradas, sem qualquer compromisso com a verdade. Fazem o jogo da trapaça e, neste aspecto, protegem-se uns aos outros: omitem sistematicamente a verdade. Procuram desesperadamente manipular a opinião pública e não respeitam os telespectadores. Os portugueses são tratados pelas suas pseudo-elites como idiotas culturais. É isso que significa «povo» em português: conjunto de idiotas culturais.
Contudo, mesmo que o povo seja idiota, este facto mostra a falsidade das elites nacionais que dirigem o país. Mais idiota do que o ignorante é aquele que abusa de um título ou de um estatuto para se afirmar como agente cultural, quando na verdade é um analfabeto funcional, mais um cérebro metabólica e visceralmente reduzido. Eles são tão vampirescos que chegam ao ponto de inventar uma genealogia sociológica, como se tivessem crescido no seio de elites não existentes em Portugal.
Um país de mentirosos e de invejosos, em que o conhecimento e a sabedoria foram destronados a favor de opiniões viscerais! Diante deste cenário de maldade intencional não existe outra saída a não ser encarar seriamente a alma nacional como neuropatológica.
O regresso da opinião tolinha e da vida quotidiana medíocre é sinal de degenerescência e de declínio cultural. Outro sinal é o autoritarismo: quando não existem argumentos racionalmente motivantes recorre-se à força e à autoridade. A democracia é estranha à alma portuguesa.


2.1. EXCURSO: PACHECO PEREIRA. Apesar de ser oriundo da área da filosofia, Pacheco Pereira, quando lhe lembram a sua matriz disciplinar, com o objectivo de minar a credibilidade da sua argumentação, não reage com uma defesa da filosofia.
É curioso observar que, num país pouco dado ao pensamento, se faça a associação entre filosofia e «palavreado oco». Afinal, as comadres da conversa interminável e oca do pseudo-jornalismo nacional são os próprios comentadores e/ou jornalistas. Falam sem saber o que dizem e nunca ninguém os confronta com a sua própria mediocridade e com a realidade. O jornalismo português é conversa tola e não merece ser processado, a menos que se sofra de depressão.
Pacheco Pereira é incapaz de desconstruir a mediocridade das pseudo-elites nacionais, com argumentos substancialmente filosóficos e, portanto, políticos, como diria Althusser.


3. LUSO-PENSAMENTO GORDO. Os portugueses gordos não pensam: comem e cagam, como se todo o seu cérebro estivesse confinado no cérebro visceral da luso-merda.
As comissões bioéticas deste pobre país são geralmente compostas por papistas e homens de pensamento reduzido, que exteriorizam facilmente as suas flatulências oralmente. Como sempre, são homens de Igreja, agarrados aos saiotes dos padres. Sem nunca terem lido seriamente a Bíblia, citam-na abundantemente para confirmar e provar as suas opiniões medíocres sobre temas bioéticos que não dominam, por vezes misturadas com afirmações de filósofos, tiradas dalgum luso-livro de citações célebres, mas não plenamente compreendidas. Corte e costura é o estilo predominante da luso-retórica.
Além desta falta de honestidade intelectual e moral, usam títulos e cátedras para reforçar a autoridade das suas opiniões grosseiras de segunda mão. Neste aspecto, auto-revelam-se como iletrados: as categorias bíblicas não são trans-históricas e é muito difícil encontrar nelas «soluções» para situações que estavam para além da sociedade arcaica que as elaborou. Tudo o que diz respeito à vida e à investigação biomédica que se faz actualmente nem sequer tem nome nos textos bíblicos. Apesar disso, os oportunistas dependentes da Igreja servem-se da autoridade da Bíblia para defender disparates improvisados e pouco dignos. Açambarcaram a bioética, sem formação filosófica e científica, para impedir o Futuro e exibir o seu feio metabolismo.
Os luso-incompetentes estão a destruir a cultura nacional e sobretudo as humanidades, com a ajuda do ministério da educação! Os luso-burricos colonizam o futuro de Portugal: quer dizer, negam Portugal, como se tudo lhes pertencesse, até mesmo o futuro. Ainda por cima defendem hipocritamente o direito à vida, contra o aborto, ao mesmo tempo que negam qualquer possibilidade de vida com dignidade.
Infelizmente, a bioética é mais um baluarte da luso-mediocridade.


3.1. EXCURSO: CIÊNCIAS LUSO-SOCIAIS E ENSINO UNIVERSITÁRIO. Estamos cansados das pseudo-ciências sociais, incluindo a economia, tal como praticadas em Portugal.
O projecto de uma ciberantropologia não é possível no âmbito das pseudo-ciências sociais e humanas que estão a destruir a dignidade da cultura. Deve ser um projecto filosófico enraizado no pensamento e na tradição Ocidental. Tretas luso-sociológicas ou luso-psicológicas são disparates. Os portugueses distorcem todas as grandes teorias ao adaptá-las à sua luso-inteligência reduzida. Não produzem conhecimentos, mas opinam levianamente, como se o conhecimento fosse opinar sem fundamentação e orientação teóricas. Essa é a formação que recebem nas Faculdades de Letras ou de Ciências Sociais e Humanas, mas estas faculdades são a matriz da mediocridade nacional.
O Ministro da Ciência devia suspendê-las e reformulá-las completamente. Os seus professores deviam ser reformados compulsivamente, porque, ao contrário do que diz Adriano Moreira, eles são responsáveis pela desgraça do ensino universitário português público. Pandas e Tias do Chá deviam estar a arder no Inferno de Dante. O Ensino privado deve ser extinto: é um covil de trapaceiros e de falsificadores de diplomas.
Sem dizer a verdade completa não é possível mudar Portugal. A verdade ilumina a solução final: as reformas devem começar por abolir os funcionários responsáveis pela vergonha nacional. Esta é a nossa realidade, cuja mudança exige a abolição das pessoas que a protagonizaram desde o 25 de Abril. Se o governo não tomar consciência de que as reformas requerem mudança radical de pessoas, está condenado a não alterar nada, como sucede sempre em Portugal. Matar as luso-moscas é já mudar substancialmente o rumo de Portugal.


4. ARISTÓTELES E A DIGNIDADE DA POLÍTICA. O conceito aristotélico de política deve ser repensado, retomado e reavivado: a política como acção e cidadania.
Regressar a Aristóteles é retomar a filosofia política e, ao mesmo tempo, rejeitar em bloco a chamada ciência política. Esta última mais não é do que uma técnica de adaptação colocada ao serviço de qualquer tipo de poder instituído.
Numa sociedade que condena a maioria das pessoas à luta pela mera sobrevivência, torna-se urgente repensar a política como uma esfera potencial de participação e de mudança social qualitativa.
O declínio dos partidos políticos e da política oficial mostra que a política é vista como uma tarefa metabolicamente reduzida: os governantes não governam, governam-se. A política portuguesa metabolicamente reduzida e exercida sem aptidões especiais está completamente desacreditada. Perdeu a pouca dignidade que tinha e converteu-se em fonte de rendimento para homens e mulheres de inteligência reduzida e destituídos de conhecimentos.
O descrédito da política portuguesa deve-se fundamentalmente ao PSD e seus governos pseudo-competentes: um partido formado por corpos maquiavélicos sem a erudição e a inteligência maquiavélica. O PSD bebe actualmente o seu próprio veneno e o CDS está em queda acelerada. O PS não está a aproveitar a oportunidade de fazer algo pelo futuro de Portugal.
O governo fala em investigação, depois na qualidade do ensino, mas não se vê nada de qualitativamente novo: diplomas ou pseudo-diplomas são falsas cifras que dão emprego a meia dúzia de idiotas. A investigação antes do ensino de qualidade é uma ideia estranha e sintomática, própria daqueles que desconhecem o assunto.
Uma ideia simples era reintroduzir novamente a política no ensino, com um programa ousado e criativo, sem sobrecarga histórica vazia, aberta à participação e ao debate filosófico de temas actuais.
A democracia não é um sistema garantido e, considerada como tal, é falsa: a democracia é uma luta permanente pela sua conquista virtual e esse espírito de luta virtuosa pode ser aprendido, não pelo exemplo de políticos metabolicamente reduzidos e sem cultura, mas pelo esforço do pensamento conceptualmente dirigido.
Mais outro pensamento: as áreas do conhecimento não pertencem a ninguém e quem se julga detentor de uma área, dizendo «esta é a minha área, no sentido sou eu», é um tremendo idiota. Os portugueses sofrem frequentemente deste tipo de idiotia e dividem o conhecimento como se estivessem a dividir um bolo irreal, isto é, a ausência de conhecimentos e a fragilidade do seu self
O PS deve projectar a educação com verdade e não com falsidade: o choque tecnológico deve começar pelo ensino antes de chegar à investigação.


4.1. EXCURSO: O CONTRA-IMAGINÁRIO DE JOSÉ SÓCRATES. O choque noológico deve preceder o choque tecnológico proposto por José Sócrates. Sem uma revolução no ensino não pode haver explosão das competências. Apresento a seguir algumas ideias simples fundamentadas de modo desigual:



1. Reintroduzir o ensino da Política nos programas nacionais. O terrorismo e o desinteresse pela política combatem-se na frente cultural: regressar às origens do pensamento ocidental é reanimar a tradição e dar-lhe vida. As soluções burocráticas são mais caras, ineficazes e degradantes. A degradação da política portuguesa patente nas eleições autárquicas de Lisboa pode ser evitada. O PS tem obrigação de mudar qualitativamente a educação.
2. Reforma curricular e mudança da equipa ministerial. A reforma curricular feita com inteligência e sabedoria pode ajudar a combater o insucesso escolar e a desistência escolar e a evitar os erros das provas realizadas pelas equipas do ministério da deseducação, além de tornar a escola mais atractiva. A sociologia da ministra da educação consiste em evitar o olhar olhos-nos-olhos com os seus interlocutores, de resto uma má-sociologia.
3. Dignificar o trabalho, de modo a evitar a noção errada do ensino superior para o emprego, ou melhor, o desemprego, e a combater os sindicatos metabolicamente reduzidos. A ideia de que o curso universitário é quase uma obrigação é estúpida e degrada a cultura superior, subjugando-a ao reducionismo metabólico. Existem outros ensinos a explorar e outras carreiras interessantes, adaptadas às competências e aos interesses de cada um. Somos todos diferentes. A igualdade é uma ideia absurda. O trabalho é fonte de saúde e todos devem ter acesso ao trabalho.
4. Dignificar o ensino universitário e despedir os incompetentes que o controlam como se estivessem em casa. Ainda confio no ministro da ciência.
5. Educação da inteligência emocional e social é outra reforma necessária, para evitar a má-educação dos portugueses e a sua falta de aptidão social.
6. Reformular a política empresarial e evitar subsidiar empresas privadas. Tais empresas que dependem dos subsídios estatais são inúteis e não criam riqueza. A economia precisa arrancar com força e não apenas com pequenos indícios de crescimento.
7. Reformular a ideia de competição saudável: o mérito em vez da cunha ou do laço familiar. Esta ideia é completamente estranha entre portugueses.
8. Pôr termo aos direitos adquiridos que se perpetuam como direitos hereditários, transmitidos de pais para filhos e familiares. Seria necessário fazer um levantamento destas situações: quem é quem a quem e porque está em tal lugar, em vez de um indivíduo competente. Os concursos devem ser limpos e não-viciados.
9. Evitar a intervenção do Estado em assuntos privados e substituir os juízes e magistrados públicos. A reforma radical da justiça é urgente. O governo deve evitar invadir a esfera privada dos cidadãos. Os magistrados e juízes portugueses são mesmo néscios.
10. Ter cuidado com o destino e a gestão dos apoios comunitários. Os oportunistas já elaboram acções de formação e coisas do género, pensando que o governo vai gastá-las na formação metabolicamente reduzida. Aliás, esse dinheiro deveria ir para as regiões mais pobres e não para abastecer os clientes habituais. O choque tecnológico corre o risco de perpetuar a luso-merda.
11. Acabar com a arrogância e discursos tolos. Cria inimigos e é pouco democrático..
12. Combater todos os tipos de exclusão social e educar todos para o trabalho e a responsabilidade. A exclusão social ultrapassa o entendimento do Presidente da República, que parece reduzi-la à pobreza e terceira idade.
13. Acabar com a irresponsabilidade e imbecilidade do jornalismo nacional. Ui, que horror de jornalistas!

A política socialista deveria ser uma política justa que garanta a igualdade de oportunidades, o mérito, a justiça e a liberdade na responsabilidade e na participação na esfera pública. Esta é a política do bom senso e não a política suja de interesses pseudo-tecnocráticos. O bom senso partilha-se. O mundo é comum e todos devem participar na governação do bem comum e do futuro. Como diz Arendt, a natalidade é fundamental para a política. É melhor ler Aristóteles, Agostinho, Maquiavel, Hobbes, Montesquieu, Stuart Mill, Marx e Arendt do que Bernstein e seu socialismo reformista. E, no final, ler Sócrates e Platão, que trazem o pensamento para a política.


4.2. EXCURSO: LUSO-JUVENTUDE DIPLOMADA. Portugal tem vivido nas últimas décadas tempos de mudança. Essa mudança geral foi recentemente caracterizada, num programa da RTP, como uma passagem da sociedade fechada à sociedade aberta, conceitos que Karl Popper retomou de Henri Bergson para elaborar a sua filosofia política liberal.
Uma mudança que não foi mencionada e que é bem conhecida pelos cibernautas dedicados à busca de sexo online diz respeito aos jovens. A psicologia evolutiva descobriu que os homens preferem parceira(o)s mais jovens do que as mulheres, independentemente da orientação sexual. Os nossos estudos interactivos confirmam a existência dessa diferença sexual numa amostra portuguesa, mas revelam outro facto. Apesar dos homens portugueses preferirem parceir(a)os mais novos do que eles, começam a evitar a companhia dos jovens, alegando que não os suportam. Muitos chegaram ao ponto de recusar encontros casuais com eles. Os jovens começam a não ser desejados como parceiro(a)s sexuais, devido à sua «cabeça vazia».
Passando do plano da sexualidade para o da formação cultural, verificamos que os jovens estão efectivamente anestesiados e seduzidos pela ilusão da manada. Comportam-se como gado doméstico: perderam completamente o bom senso, o sentido de estar vivo e o sentido de ser humano. Não sabem viver em sociedade. Passam nas universidades sem deixar vestígios: entram e saem ignorantes, sem qualquer aptidão. Reivindicam mas não têm nada para dar, a não ser comportamentos veladamente agressivos e sintomáticos.
Este assunto é preocupante e não pretendo desanimar, até porque sou optimista. Mas precisamos melhorar urgentemente a qualidade do ensino e da cultura em Portugal. Neste aspecto, passámos de uma sociedade de privilégios para uma sociedade de moléculas conceptualmente anestesiadas que se aglutinam para digerir e, depois, evacuar, num ciclo repetitivo. Aquilo a que chamo frequentemente sociedade metabólica, semelhante a um aviário, que abdica do pensamento, dado não precisar dele para subsistir. Estas criaturas metabolicamente reduzidas são diplomadas... e ameaçam invadir a esfera pública através dos partidos políticos decadentes. (À geração dos falsos diplomas sucede uma geração tremendamente ignorante e irresponsável.


4.3. EXCURSO: LISBOA GORDA. Os portugueses não têm medo de existir, porque, para eles, a existência é reduzida à conservação do metabolismo. Mas temem o pensamento e a distinção, porque sabem que são meras moléculas metabólicas, incapazes de se impor pelo mérito e pelo conhecimento.
Lisboa é a capital do luso-metabolismo e, como tal, é uma cidade que engorda à custa do emagrecimento do resto do país. O Porto, a cidade da iniciativa e da cultura, é alvo da inveja lisboeta. Estamos todos cansados da televisibilidade de Lisboa e da sua gente parola. A inveja é fomentada pela luso-inteligência reduzida, cujo centro nevrálgico reside em Lisboa, a cidade dos parolos.
O cenário das últimas eleições em Lisboa foi triste: os resultados não fazem sentido. Os eleitores lisboetas deviam ser abolidos, juntamente com os eleitos. A incompetência e a corrupção são sempre recompensadas eleitoralmente. Portugal é um país de trapaceiros.
Não há futuro em Portugal, a menos que as pseudo-elites da culinária de Eça de Queiróz sejam condenadas ao desaparecimento. Um país não se renova com as mesmas pessoas que não têm vergonha e, por isso, teimam em persistir. Os incompetentes são e serão sempre incompetentes e invejosos. Abolir a incompetência nacional é fazer desaparecer para sempre essas moléculas televisíveis. Não há reforma sem a abolição das pessoas medíocres que tomam decisões em Portugal
Mas, como os portugueses fazem sempre escolhas eleitorais erradas, o melhor é esquecer Portugal e inventar um novo país com estrangeiros ou qualquer outra coisa, menos as luso-carpaças.
Portugal está cada vez mais feio, mas a cidade do Porto é simplesmente bela, a cidade não os seus habitantes.


5. LUSO-JUSTIÇA E CORRUPÇÃO: O caso Apito Dourado cheira muito mal. Quando o sistema de justiça não funciona por razões de ordem jurídica e por incompetência dos seus funcionários gordos e metabolicamente reduzidos, alguns magistrados precisam de encobrir a sua inércia e o seu colesterol com bodes expiatórios.
O caso Apito Dourado é um exemplo disso: a magistrada sem rosto quer mostrar serviço e, ao mesmo tempo, beneficiar os amiguinhos de creche. Desautoriza os outros magistrados e abre novamente processos. Eles não querem que Portugal seja conhecido no estrangeiro pelo seu futebol, mas pela sujidade da sua pseudo-justiça.
Os lisboetas não suportam a qualidade e perseguem a coragem de ser a qualquer preço: a sua inveja de cariz salazarista e a sua maldade radical são, como disse inadvertidamente Cavaco Silva, fontes de bloqueio.
Mais vale abolir a justiça oficial portuguesa do que abdicarmos do futebol. Se a magistrada quer mostrar serviço comece por varrer a casa da justiça antes de fazer aquilo que não sabe: ser corajosamente competente e moralmente digna. Mexer no livro de Carolina Salgado é indigno: roupa suja deve ser queimada e não exposta por uma Editora sem escrúpulos.
A justiça oficial portuguesa mete muito nojo. Falta-lhe a dimensão filosófica, cognitiva e moral. Leiam John Rawls, Ronald Dworkin, Heidi M. Hurd ou, pelo menos, Hans Kelsen, para já não falar de Jürgen Habermas. Aprendam a ser sensatos antes de querer fazer in-justiça. Ressuscitem Salazar e terão o «glorioso vermelho» condenado eternamente pela justiça Divina.
Estamos todos cansados deste sistema corrupto de justiça! Portugal merece melhor!

5.1. EXCURSO: FUTEBOL CLUBE DO PORTO. Os nossos rivais e inimigos recorrem a um imaginário zoológico em vias de extinção e demasiado óbvio: O Benfica é simbolizado pela águia, um animal estúpido, e o Sporting, pelo leão, um animal preguiçoso. Ambos são herdeiros da estirpe maldita e ambos soçobram na agonia da noite. O Dragão Azul vigia-os de perto e triunfa... A sua promessa cumpre-se.
Nós, os dragões azuis, somos a profecia que se auto-realiza. Contra tudo e todos, somos vitoriosos e não há macaco que nos vença, mesmo com o recurso aos meios de comunicação social, afundados na infertilidade pessoana e no seu universo sem fundo e triste, e com a ajuda «legal» dos vampiros, que maquinam em quartos escuros actos malignos. O nosso poeta não é Camões ou Fernando Pessoa, mas Georg Trakl, o profeta da nova humanidade azul.

O Outono do Solitário
Volta o escuro outono cheio de fruta e opulência,
Brilho amarelado dos belos dias de verão.
Um puro azul emerge de capa em decadência;
O voo das aves traz ecos de lendas ao serão.
Pisadas estão as uvas. Na tranquila ambiência
Pairam leves respostas à velada questão.
Aqui e além há cruzes em colinas sem gente;
Na florestas de fogo um rebanho ainda erra.
A nuvem passa sobre o lago transparente;
Descansa o gesto calmo do homem da serra.
A asa azul da noite roça levemente
Um telhado de palha seca, a negra terra.
Em sobrolhos de cansaço aninham-se já estrelas;
Em frias casas entra um surdo cumprimento
E anjos saem silenciosos de janelas
Azuis - olhos de amantes em doce sofrimento.
Sussurram canas; e um horror ósseo nasce delas,
Quando salgueiros orvalham gotas negras num lamento.

Ou então:

Sonho e Anoitecer do Espírito
Oh, estirpe maldita. Quando todos os destinos se consumam em quartos tocados de mácula, entra na casa a Morte com passos de podridão. Ah, se fosse primavera lá fora e um pássaro cantasse alegremente na árvore em flor. Mas o parco verde nas janelas dos filhos da noite seca e fica cinzento, e os corações em sangue maquinam ainda actos malignos. Oh, os caminhos primaveris das meditações crepusculares do solitário. (...)
A Filosofia do Futebol Clube do Porto cumpre-se na azulidade da noite, em cada jogo e aparição, sem invocar o defunto Salazar. Ao contrário dos seus arqui-inimigos, o FCP nasceu sem mácula, num berço azul como o Céu. Daí o nosso desprezo pelas maquinações lisboetas que consomem canibalisticamente Portugal, sem o projectar no Mundo. De Portugal o Mundo só conhece o Vinho do Porto e o FCPorto, embora comece também a despertar para o São João do Porto.


6. O LUSO-BURRICO. A maior parte das figuras nacionais devia usar umas orelhinhas de burrico, porque, como os verdadeiros burros, não sabem que as áreas neuro-cognitivas do seu cérebro regrediram e também não querem aprender. A sua vida é completamente metabólica. Aliás, o burrico nacional é um imenso tubo digestivo, com entradas e saídas, altamente poluentes e, por vezes, infecciosas.
Com efeito, a burrice transmite-se não só pelos luso-genes deletérios mas também pela via da burrico-socialização. Contrariamente ao que diz Adriano Moreira, as universidades portuguesas, mais as privadas do que as públicas, salvo raras excepções públicas, são centros de burrico-emprego, de burrico-socialização e de perpetuação da terrível mentira nacional.
A aliada fiel da burrice é, como já todos sabem, nomeadamente Klein, a inveja e a intriga.
Esta tese poderia ser comprovada mediante a visualização de neuro-imagens obtidas por ressonância magnética funcional de luso-cérebros a executar determinadas tarefas. Mas, como essa utilização seria cara, o melhor é observar os comportamentos indicadores de burrice.

6.1. EXCURSO: ATROFIA COGNITIVA (Uma síndrome portuguesa). A inveja nacional e os comportamentos relacionados só podem ter uma explicação: atrofia mental e cognitiva, a qual pode ter uma explicação neurobiológica.

Os sinais de alarme desta atrofia são particularmente evidentes nos indivíduos que se empregam, sem no entanto trabalharem, nas áreas da educação, da justiça e da comunicação.

Os professores fazem tudo menos ensinar e não ensinam porque não aprenderam e, por isso, não possuem conhecimentos para transmitir.

Os magistrados não têm cultura jurídica e isenção para exercer funções de responsabilidade. A noção de justiça é-lhes completamente estranha.Os jornalistas e comentadores não têm consciência do que dizem e fazem. São completamente tolos e falam como comadres, repetindo o que ouviram dizer como se isso resultasse de um processo de elaboração intelectual.

O professor, o magistrado público e o jornalista são aqueles indivíduos conhecidos que ocupam cargos, sem possuir conhecimentos e competências para os desempenhar. Em vez de exercerem com competência os seus cargos, limitam-se a monitorizar uns aos outros, de modo a não deixarem os outros fazer bons trabalhos.

Como se pode mudar o país com estas figuras? Eis o dilema do governo de José Sócrates.

6.2. EXCURSO: MISÉRIA DE PORTUGAL. Não há futuro em Portugal e isto por uma razão simples: mediocridade generalizada instalada sobretudo nos centros de decisão. Pseudo-elites em todas as esferas da sociedade: politico-jurídica, económica, comunicativa e educativa. A aliada desta inteligência reduzida é a luso-inveja. E o resultado é sempre o mesmo: a reprodução da mediocridade que condena Portugal à inércia do mesmo e ao isolamento daqueles que poderiam ajudar a mudar o status quo português.

Nunca houve verdadeiramente filosofia em Portugal. As faculdades de filosofia estão repletas de pessoas destituídas de conhecimentos e de competências. Quem não exibe competências vai para letras e, depois de licenciado, instalado e integrado, dedica-se a vedar o acesso aos outros. A mediocridade teme ser confrontada com a sua própria mediocridade.

Este aspecto é muito negligenciado por todos e sobretudo pelos governantes: eles não sabem que o que dá vida ao Ocidente nasceu na Grécia antiga. A filosofia distingue o Ocidente das outras civilizações. Os terroristas sabem usar a nossa ciência e a nossa tecnologia, mas não querem aprender filosofia e muito menos aderir à democracia. E o pior é que este horror pelo conhecimento está instalado no poder. Este é o problema que José Sócrates teima em não compreender.

6.3. EXCURSO: LUSO-CULTURA DECADENTE. A cultura ocidental está em decadência e, em Portugal, essa decadência acentuou-se paradoxalmente após o 25 de Abril, talvez devido ao facto das universidades terem sido assaltadas pelos pseudo-diplomas resultantes das passagens administrativas e pelos diplomas de compadrio político e familiar. As novas pseudo-elites foram educadas na facilidade e numa universidade que fomenta o horror activo pelo conhecimento. O fim das ideologias e a apologia do pragmatismo significam, para estas mentes reduzidas, o advento da opinião e da conversa barata, daquilo a que chamámos noutra ocasião a tirania da opinião ou do pensamento refractário à orientação conceptual.

Exorcismos contra a luso-mediocridade:

O Ser é Abismo: carece de fundamento, de sentido, de finalidade e de valor.
Esta verdade insondável só podia ser descoberta no momento em que o homem se descobriu como sendo um indivíduo por oposição a uma sociedade que o manteve adormecido durante milénios. A descoberta do Eu é, num só e mesmo acto, a descoberta da sociedade como tirania. O indivíduo e a sociedade são realidades opostas e irreconciliáveis: o indivíduo só pode afirmar-se contra a sociedade e a sociedade só pode afirmar-se contra o indivíduo. Nesta luta desigual, a razão é a única «arma» que o indivíduo tem ao seu dispor, para poder ser autónomo. Contudo, quando procura a sua autonomia, o indivíduo descobre que está profundamente só no mundo. A solidão, aliada ao sentimento de impotência perante o seu próprio destino e o desenrolar dos acontecimentos, mergulha-o na loucura. Indivíduo, razão e loucura são conceitos e realidades inseparáveis.

A teoria crítica visa a reconciliação entre indivíduo e sociedade, mas prefere sacrificar a sociedade.

Os valores não se ensinam (Natália Correia): respiram-se como respiramos o ar puro de um pinhal não contaminado pela miséria humana. Há lugares onde não se pode respirar valores e um desses lugares é a escola.A totalidade do ente não se deixa capturar pelo conceito e muito menos pela sua manipulação técnica. Quando se julga que se domina completamente a natureza, ela encarrega-se de mostrar que não é assim: a sua revolta é a revolta contra o tirano que a tenta submeter.

Os pensamentos que se levam demasiado a sério são geralmente falsos e os que acreditam piamente neles, fazendo deles regras de conduta, são idiotas e inumanos. A vida é muito mais importante que um pensamento bem pensado. Diante da sua riqueza infinita, o pensamento torna-se falso.

Quem leva muito a sério o que pensa deixou de acreditar na vida e, sobretudo, numa vida de qualidade.

Os meios de comunicação de massas são os maiores adversários do pensamento irreconciliável e autónomo. Ali onde eles gritam, o pensamento cala-se de vez.

Pensar é mergulhar na solidão, longe da praça pública, onde os átomos sociais repetem até à náusea as mentiras e os slogans de todos os dias.

A racionalidade burocrática é um procedimento técnico que nos obriga a não dizer a verdade. O procedimento está de tal modo elaborado que não permite outra resposta que a glorificação do próprio sistema burocrático. Burocracia é sinónimo de mentira.

As ciências da educação são uma invenção da burocracia.

A burocracia silencia a verdade de modo a perpetuar o sistema que a alimenta.As pedagogias que visam fomentar o espírito crítico esquecem-se que este não pode ser ensinado.

O «estágio integrado», em vez de preparar professores competentes, cria professores incompetentes e dependentes, incapazes de dar uma aula.Não se ensina a ser professor. A burocracia cria professores em série para que não haja verdadeiramente professores.

Além da competência científica, um professor deve ser um indivíduo saudável. O que falta no ensino é sanidade mental e cognitiva.

Uma biblioteca privada deve ser um reflexo do perfil psicológico e cultural do seu proprietário; caso contrário, é um mero aglomerado de livros.

Uma mulher chega a uma livraria e pergunta ao empregado:
– “Quais são os livros mais vendidos neste momento?”
O empregado responde:
– “São as obras de Vattimo e as de Lyotard...”
– “Então, dê-me todas essas obras...”. responde a mulher.

Esta mulher saiu radiante da livraria. Afinal, levava no saco as obras mais vendidas!A burocracia cria dependência: os indivíduos são condicionados a esperar que o sistema resolva os seus próprios problemas.

Ao deixarem de ter problemas, os indivíduos sujeitos à burocracia tornaram-se problemáticos – indivíduos mentalmente perturbados, incapazes de pensar.Actualmente, já não se pode distinguir entre a sociedade e os asilos como instituições totais: a sociedade pós-moderna é um imenso asilo de alienados mentais.O feminismo tornou-se um movimento, ou melhor, uma atitude totalitária. Quem denuncia o comportamento impróprio de uma mulher é imediatamente rotulado de misógino, machista ou homossexual. As mulheres vencem actualmente ao abrigo deste procedimento repressivo.

O feminismo é uma tremenda mentira.

Sem coragem não há verdadeiramente filosofia. A filosofia é precisamente a coragem de chamar as coisas pelo seu próprio nome.

A mulher dita emancipada é escrava do sexo.

O homem sem coragem é cúmplice da mentira feminista.

Há quem compre livros ao metro! Os livros converteram-se em ornamentos decorativos.

A filosofia herdou de Marx um presente envenenado: o conceito de ideologia.Ninguém sabe bem o que significa Metafísica. No entanto, o termo soa demasiado bem para que seja esquecido.

Só nos resta pensar contra o homem.

O homem moderno procura o sentido nos lugares e nas actividades errados. O sentido é o que está mais próximo do homem.

O idealismo é a fúria do sistema dominante contra a vida.

A Metafísica renasce a partir do momento em que recuperar a memória do sofrimento.A ideologia é a finitude da filosofia. Poderá a filosofia recuperar o seu vigor depois de se saber finita?

Fechada em si mesma, a Presença é a instrumentalidade: a eucaristia entendida como presença de uma ausência é a tentativa de manipular e submeter Deus.

A Filosofia só pode ser pensada como ontologia negativa: o Ser é o que “ainda-não-é”.O leigo diz que a ciência não pode dar sentido à vida, mas também não lhe tira o sentido.

Weber falou do desencantamento do mundo. Marx, pelo contrário, diz que o mundo actual é absolutamente encantado, na medida em que tudo se converteu em mercadoria e esta mais não é do que um fetiche.Não há futuro em Portugal: a mediocridade do povo português é de tal ordem que não só não trabalha como não deixa os outros trabalhar. As universidades são antros de mediocridade e de golpes baixos: ser inteligente e culto é condição não grata. O estrelato provinciano é composto por gente que teme a sua própria sombra. A loucura é o seu traço de carácter mais evidente.Em Portugal, não há povo; há zé-povinho – parolo e estúpido, fácil de ser manejado e domesticado pelos medíocres. O seu preço é baixo: basta uma garrafa de vinho reles para conquistar a alminha do zé-povinho e dos seus lideres apagados e trapaceiros.

A saudade é uma invenção portuguesa e não poderia ser de outro modo, porque só os portugueses são capazes de ansiar por aquilo que nunca tiveram: uma cultura moderna, voltada para o futuro.

O português é muito pouco criativo: copia aquilo que não presta.

A saudade portuguesa traduz a incapacidade do português para criar uma cultura própria: o passado português é um mito.

É uma fatalidade viver em Portugal: a única cidade bela do país – o Porto – é também uma das mais medíocres. Repovoado por novas gentes o Porto poderia ser um império.

Descartes esqueceu-se de afirmar que o homem, tal como qualquer outra forma de vida, é um animal mortal. O cogito não tolera a morte e com razão, porque a morte é a sua aniquilação.

Só os loucos continuam ainda a dizer que o homem é um ser livre: os que os levam a sério estão internados nos hospitais psiquiátricos, dependentes de drogas e de tratamentos que testemunham a sua não liberdade essencial.

A libertação não é compatível com uma filosofia da liberdade. Se somos livres, não precisamos de nos libertar; mas, se não somos livres, devemos lutar contra aquilo que não nos deixa ter e usufruir uma vida sem angústia.

A liberdade é uma ideologia que glorifica a sociedade não livre.

As temáticas mais verdadeiras de Heidegger herdou-as ele do marxismo, em particular de Georg Lukács.

Só uma guerra intestina nos pode livrar das pseudo-elites e das suas acções malévolas. Como dizia Heráclito: a guerra é o pai de todas as coisas, e, sem ela, não há mudança. Para mudar, Portugal deve livrar-se das luso-moscas que o dirigem, no governo ou na oposição.

Os governos do PSD destruíram a cultura e o ensino, mumificaram Portugal com betão, criaram a sua TV, aniquilaram património, criaram recibos verdes e falsificaram as contas públicas em nome do rigor.

A economia é a ideologia preferida dos abusadores do luso-poder, que a apresentam como se não fosse uma ideologia.

As pseudo-elites nunca leram um livro, nem sequer na retrete.

Antero de Quental conhecia bem a causa do atraso dos povos ibéricos: a Igreja Católica Portuguesa, que conspira constantemente contra a liberdade, através de homilias ou dos seus rapazes.

Um comentador político pergunta ao outro: onde descobriste essa frase de Alexandre Herculano? O programa chegou ao fim sem resposta à questão. Sintomático: os lusos-universitários recolhem afirmações consideradas «bonitas», fazem teses extensas, mas não sabem pesquisar. Aliás, em Portugal, investigar significa apropriar-se indevidamente de pequenas frases roubadas aos outros, sacar ficheiros da Internet e depois montar um texto, evidentemente sem ideologia.

Em Portugal, a Internet fomenta mais do que combate a luso-ignorância activa (Lacan).


6.4. EXCURSO: GOVERNO DE NINGUÉM. Acho imensa graça aos blogs que reflectem sobre cybercultura, porquanto a ideia mais simples parece não ser detectada: A Internet é cultura. Outra coisa diferente é saber se ela contribui para a formação cultural. Este é o aspecto que deve ser debatido. Um site pornográfico é cultura. Um site comercial é cultura. Até as páginas governamentais são cultura. Fornecem informação mas podem não contribuir para a formação cultural, pelo menos no sentido superior implicado num tal conceito.

A formação cultural não é alcançada com escritos que usam procedimentos e muitos bloguistas pensam que usar essa linguagem pseudo-técnica dá credibilidade ao conteúdo dos seus textos, sem se aperceberem de que, onde predomina o procedimento, não há conteúdo elaborado conceptualmente. As linguagens dos procedimentos são burocráticas e, como tais, avessas ao pensamento genuíno.

Pensar não é seguir procedimentos ou algoritmos... Planificação do que quer que seja é basura. É certo que não podemos prescindir da burocracia, mas podemos simplificá-la e restringir o seu alcance. A impessoalidade da burocracia é fundamentalmente ausência de pensamento e de coragem de ser. Por isso, certos escritos sobre cybercultura deixam-me perplexo: são vazios e quem os emitiu não deve ter coragem de ser.

As pessoas que precisam de «tirar estilo» são débeis e raramente pensam autonomamente. Copiam, seguem procedimentos, obedecem, fingem ser o que não são, enfim anulam-se: são pessoas canceladas.

É, por isso, que as ditas políticas da cultura, do ensino e da ciência aniquilam aquilo que pretendem promover: secam a fonte da criatividade e congelam o pensamento. Escutar os seus portavozes é uma diversão terrível: eles nunca leram nada e querem promover a leitura! Enganam-se a si mesmos e talvez alguns idiotas mas não enganam aqueles que simplesmente pensam.

A burocracia é má cultura e os agentes culturais não devem imitar esse estilo de emissão padronizada de fórmulas congeladas, que nem sequer compreendem. Isso é um crime... muito grave e provavelmente fatal.



J Francisco Saraiva de Sousa