domingo, 21 de março de 2010

Ortega y Gasset e a História

«Veja-se como este tema, de rosto tão técnico, nos revela paulatinamente uma secreta, recôndita incompatibilidade entre a alma antigo-medieval e a moderna. Porque graças a ele descobrimos duas atitudes primárias perante a vida perfeitamente opostas. O homem antigo parte de um sentimento de confiança para com o mundo, que é para ele, de antemão, um Cosmos, uma Ordem. O homem moderno parte da desconfiança, da suspeita, porque - Kant teve a genialidade de o confessar com todo o rigor científico - o mundo é para ele um Caos, uma Desordem.» (José Ortega y Gasset)
Eu sou português, mas sou um português que fez os seus estudos pré-universitários e universitários sabendo que estava a ser "avaliado" por professores extremamente medíocres, invejosos e maldosos. A mediocridade geral dos meus professores - cujo único mérito foi passar-me um cheque em branco - forçou-me a ser um autodidacta. Como não tinha professores reais capazes de satisfazer a minha exigência de conhecimento e a minha imensa curiosidade intelectual, adoptei como mestres os livros que comprava: os meus mestres foram os livros que me colocavam em contacto mediado com os professores que ensinavam em universidades estrangeiras. A minha sede inata de conhecimento livrou-me do destino daqueles que dizem ser meus "colegas": o destino do burreco nacional diplomado, que, seguindo Ortega y Gasset, podemos designar em termos genéricos como subjectivismo da opinião. Em Portugal, o ensino é, na sua globalidade, uma terrível mentira: as Universidades portuguesas não são centros de produção de conhecimentos e de inovação tecnológica. As Universidades portuguesas nutrem um ódio visceral pelo conhecimento e pela inteligência e, por isso, no seu solo, o conhecimento é, por norma, expulso: os portugueses que capturaram as universidades são inimigos do conhecimento. Em Portugal, os nichos de conhecimento são individuais e situam-se fora da universidade.
A aposta na inovação tecnológica como projecto nacional de desenvolvimento é esbarrada pela incompetência que se instalou no sistema de ensino e de educação: o fracasso total deste sistema compromete irremediavelmente o futuro de Portugal, porque o nosso sistema de ensino não produziu pessoas dotadas de conhecimentos e capazes de assumir responsabilidades nos centros de decisão nacional. Esta é a terrível realidade nacional: o sistema de ensino não dotou de conhecimentos as novas gerações e o lapso - hiato - cognitivo que gerou não nos garante um futuro, como já podemos verificar pela e na falta de preparação científica e humanista da nova geração que irrompe, de modo grotesco e corrupto, na política e nas empresas do regime. Não temos futuro porque não temos homens preparados para o criar: o sistema de ensino tal como existe ou a sua abolição real são equivalentes, embora a segunda opção tivesse o mérito económico de ajudar a conter a despesa pública. Tal como é, não se justifica a manutenção do sistema de ensino, porque não cumpre a sua missão: a transmissão de conhecimentos. Ontem, n' O Plano Inclinado (SicNotícias), debate moderado por Mário Crespo, Henrique Neto usou uma imagem que retrata fielmente o tal subjectivismo da opinião gerado pelo actual sistema universitário: se convocarmos uma reunião de seis engenheiros para resolver um problema, não obtemos a solução do problema, mas seis opiniões. Medina Carreira tem toda a razão quando reduz o actual sistema de ensino à sua mediocridade, responsabilizando-o pelo atraso estrutural do país. Portugal tornou-se, nos últimos trinta anos, um país insuportável: os portugueses são insuportáveis; não trabalham e não deixam os outros trabalhar; não pensam e não deixam pensar; não agem e não deixam agir; não criam e não deixam criar; não inovam e não deixam inovar; as reuniões são meros somatórios de opiniões regulados pelas hormonas da eterna confrontação.
Desde que tomei consciência da minha existência lançada num mundo pátrio que me é estranho e hostil, vejo Portugal como terra queimada e esta visão ganhou contornos mais nítidos nos últimos anos: evito sistematicamente a companhia de portugueses e, graças à Internet, posso substitui-la, quase em tempo real, pelo diálogo diário com estrangeiros com os quais me identifico. Neste momento, a minha pátria são esses nichos virtuais que abrem as portas a uma busca cooperativa da verdade. A verdadeira investigação científica está fora de Portugal e, apesar da Internet possibilitar uma conexão virtual com os centros de pesquisa mundiais, os portugueses preferem conversar uns com os outros nos diversos nichos da Web Social. Em Portugal, a opinião eclipsou sempre o conhecimento: a pesquisa reduz-se a conversas intermináveis. Enquanto os meus colegas e professores se reuniam nas salas de aula para conversar, eu deslocava-me até Espanha para comprar livros. Numa dessas deslocações, decidi comprar as obras de José Ortega y Gasset (1883-1955). Eu tinha uma má imagem de Ortega y Gasset, precisamente aquela que nos é transmitida pelo desprezo que a alma nacional nutre por si mesma e pelos vizinhos. Imaginava-o como um reflexo ou uma cópia das tristes e néscias figuras nacionais, em especial dos meus professores: a minha mente recusou sempre ser colonizada pelos "ditos vulgares" de pessoas medíocres e, por isso, aprendi a controlar o acesso de informação exterior, fazendo com que os meus ouvidos filtrassem selectivamente a informação recebida. Autoprotegi-me do confronto e do contacto com a ignorância activa e o lixo opinativo. Porém, o que despertou a minha curiosidade por Ortega y Gasset foi o facto dele ser reconhecido mundialmente: a crítica da sociedade de massas que desenvolveu na sua obra A Rebelião das Massas influenciou de modo marcante a crítica do sistema da indústria cultural da Escola de Frankfurt. Orientado pela leitura das obras de Max Horkheimer e de Theodor W. Adorno, bem como das de G. Wright Mills, Herbert Marcuse, Karl Mannheim, Daniel Bell, Ralf Dahrendorf, Raymond Williams, Robert K. Merton, Harold Lasswell, Bernard Rosenberg, David Manning White, Sandor Halebsky, Pitrin A. Sorokin, T.B. Bottomore, A. Schumpeter, Robert M. Marsh e Raymond Aron, entre tantos outros, redescobri um novo Ortega y Gasset, que acabou por acentuar o cunho elitista do meu marxismo acidental, como lhe chamava um professor que desconhecia a outra fonte de influência: a teoria da circulação das elites de Vilfredo Pareto, Marie Kolabinska e Mosca e a concepção orgânica da cultura de Oswald Spengler e a sua matriz vitalista: o marxismo académico sempre foi mais elitista do que o marxismo partidário, ao qual era e continuo a ser alérgico.
Vejam como eu estava adiantado em relação aos meus professores e aos meus colegas - uma distância que um professor maltratado pelo sistema media em termos de anos-luz: não só dominava toda a filosofia francesa, aquela que eles supostamente conheciam sem nunca ter lido as obras, como também reinava no pensamento alemão e anglo-saxónico. Nas livrarias portuguesas, comprava livros de autores franceses, enquanto nas livrarias espanholas encontrava os verdadeiros pares e pais da minha alma: os filósofos alemães e anglo-saxónicos. O ascendente da cultura francesa sobre a cultura portuguesa nunca foi benéfico para o nosso desenvolvimento cultural: a própria Escola do Porto, nomeadamente Leonardo Coimbra, ressentiu-se disso, na medida em que, com base na filosofia vitalista de Henri Bergson, não conseguiu elaborar um vitalismo consequente - filosoficamente pensado sem recurso à teologia e ao tomismo - com aquela acutilância filosófica com que o fez Ortega y Gasset, profundo conhecedor da filosofia e da cultura histórica alemãs. Ortega y Gasset chegou mesmo a reclamar a herança de Dilthey, afirmando que tinha consumado aquilo que este filósofo alemão anteviu e preparou sem o tematizar abertamente: a conversão da razão histórica em razão vital. É certo que Ortega y Gasset exagera, omitindo o pensamento de Heidegger que lhe permitiu aperfeiçoar e integrar certos conceitos existenciais, mas isso não esmorece o mérito da sua enorme empresa filosófica que escava o seu próprio caminho para além do idealismo e do materialismo. A a-propriação da herança de Dilthey é justificada de um modo filosófico: a noção de história como perfeita continuidade, ou seja, a recusa da geração espontânea, precisamente aquela que os nossos pseudo-intelectuais reclamam para as suas opiniões, como se estas tivessem surgido espontâneamente nas suas cabeças ocas, sem filiação nem precedentes. Ortega y Gasset presta homenagem ao legado que herdou: as ideias vêm de outras ideias minhas ou de outros homens, mas sobretudo da própria época em que vivem: «Vir de e ir a são atributos constitutivos de todas as ideias. Por isso, é essencial a toda a ideia ter fonte (nascente) e foz, imagens hidráulicas de firme validez». Ortega y Gasset encara o pensamento filosófico como sistema, no seio do qual cada ideia ou conceito inclui todas as outras ideias ou conceitos: Dilthey captou a Ideia fundamental de Vida, a ideia que inclui em si todas as outras ideias, mas nunca conseguiu expressar de forma adequada e pública o seu pensamento. Max Scheler passou-lhe ao lado, apesar de ser dotado de excelente olfacto filosófico: a tarefa de transitar da intuição para a razão coube assim a Ortega y Gasset, até porque a exposição de um pensamento anterior ao nosso implica sempre que o compreendemos melhor do que o seu próprio autor. A filosofia de Ortega y Gasset mais não é do que a demonstração de que a ideia de razão vital representa, no problema da vida, um nível mais elevado que a ideia de razão histórica, da qual Dilthey não se livrou. Debruçada sobre a definição da nossa vida, a filosofia da vida de Ortega y Gasset - exposta nas suas obras O Tema do Nosso Tempo e O Que é a Filosofia? - aproxima-se muito da analítica da existência de Heidegger: «O que é, pois, a vida? A vida é o que somos e o que fazemos; é, pois, de todas as coisas, a mais próxima a cada um de nós». A vida é a vida de cada um de nós, a minha vida, a tua vida, a nossa vida, a vida do Outro, cujos traços ou atributos fundamentais - tais como encontrar-se no mundo, inteirar-se, ser transparente, historicidade, estar ocupado, enfim preocupação ou cuidado - reconduzem às estruturas existenciais explicitadas pela ontologia fundamental de Heidegger. Ortega y Gasset considera que o tema do nosso tempo resulta da descoberta desta realidade nova: a ideia de vida, que, dado implicar uma nova ideia do ser, exige uma nova ontologia, uma nova filosofia e uma vita nova. Porém, uma vez que não há ser fora do homem - o carácter intra-humano ou doméstico do ser, a ontologia de Ortega y Gasset desagua e desemboca numa antropologia filosófica, que expõe de forma brilhante na sua obra O Homem e a Gente, mais outra variação - em chave sociológica - do tema heideggeriano da queda do ser-próprio do homem na inautenticidade do das Man. A Filosofia da Vida foi alvo da crítica severa de Georg Lukács, exposta na sua obra polémica - mas interessante - A Destruição da Razão, que merece continuar a ser lida.
Hoje em dia, tal é o estado de degradação da cultura universitária e de clara regressão cognitiva dos seus utentes, Ortega y Gasset e alguns ilustres pensadores da Escola do Porto, cuja matriz teórica é confessadamente vitalista, pelo menos na sua origem, são nomeados e abordados, porque, sendo espanhóis ou portugueses, não exigem esforço teórico e, nesta triste lógica do pensamento nacional predominante, não precisam ser lidos na íntegra, bastando acumular um conjunto de frases que circulam pela Internet para emitir opiniões, isto é, para omitir conhecimentos. Estes animais cognitivamente subnutridos não sabem que a leitura é um processo activo, no decorrer do qual o leitor coloca perguntas e procura respostas: um leitor sem conhecimentos empobrece a obra que pretende a-propriar. Os mocinhos satisfeitos (Ortega y Gasset) descobriram que, para emitir opiniões, não é preciso ler as obras: a leitura simulada, isto é, fingida ou constantemente adiada por falta de tempo (sic), constitui unicamente o motivo para alinhavar as suas próprias opiniões e confrontá-las com as opiniões dos outros participantes nessas conversas intermináveis que são as aulas universitárias. A nossa cultura universitária é uma cultura da conversa: o saber foi destronado pela troca de opiniões ou de perspectivas pessoais sobre o mundo e fragmentos do mundo. Os analfabetos diplomados pensam que podem opinar sobre a obra de Ortega y Gasset sem conhecer a fundo o homem e as suas circunstâncias. Ora, como vimos, o vitalismo racional de Ortega y Gasset traduz na sua própria língua - em espanhol - um pensamento que foi originariamente dito em alemão: o conhecimento da filosofia alemã e da Escola Histórica, bem como do seu contexto histórico e ideológico, é fundamental para compreender a filosofia de Ortega y Gasset. Além disso, na condição indigente e precária de desenraizados do mundo e de alienados da história, os mocinhos satisfeitos são presas fáceis da ideologia conservadora, de cariz marcadamente aristocrático, que habita o pensamento de Ortega y Gasset: a sua noção de historicidade é profundamente conservadora e absolutamente distinta da concepção marxista da historicidade, da qual Ortega y Gasset se descarta afirmando que, para Marx, o sujeito da história é a estrutura económica (sic), precisamente aquela fatalidade da nossa vida que urge livremente superar e transcender. Ortega y Gasset reduz erradamente a teoria de Marx a uma filosofia do sujeito, portanto, a uma variante do idealismo, ao mesmo tempo que critica o seu realismo: «O homem não actua segundo as suas ideias, os seus sentimentos, etc., mas, ao contrário, as ideias, os sentimentos de um homem são consequência da sua situação social, isto é, económica. O alguém da história é, pois, o homem como animal económico». A teoria histórica de Marx não se reconhece nesta perspectiva que Ortega y Gasset lhe atribui, pela simples razão da dialéctica não ser exterior à res gesta, isto é, à realidade histórica. Quando confronta a filosofia antiga - ciência do ser - e a filosofia moderna - ciência do conhecer, vendo nesse confronto uma distinção entre dois tipos de homens - o guerreiro e o burguês, Ortega y Gasset pretende desvalorizar todo o criticismo moderno, desde Descartes até Kant, reduzindo-o a um subjectivismo, cuja evolução acompanha de perto a evolução do capitalismo. Ortega y Gasset propõe o abandono do idealismo e da sua epistemologia, mediante o recuo ou o retrocesso à segurança, à confiança e à tranquilidade do ser que tematiza como vida, ou, em termos ideológicos mais claros, a suspensão da crítica - tanto da crítica da ideologia como da crítica da economia política. Ortega y Gasset não só denuncia a suposta ontofobia de Kant, como também lhe recusa a posse de uma filosofia: a filosofia moderna é, na sua perspectiva, um hiato filosófico, um enorme buraco vazio, que ele preenche ou tapa com o raciovitalismo. Não foi por mero acaso que Theodor W. Adorno substituiu o termo cultura de massas - forjado para condenar o acesso das classes trabalhadoras à cultura e aos bens que produzem com o seu trabalho - pelo conceito de indústria cultural: sem a aquisição prévia de conhecimentos que nos permitam tomar consciência dos determinismos - as fatalidades de Ortega y Gasset - que cerceiam a nossa «liberdade» não pode haver crítica e praxis de transformação do mundo. A ignorância activa é a maior aliada do sistema estabelecido. Para transformar e transcender o mundo, é preciso primeiro conhecê-lo e, como foram privados desse conhecimento pelo actual sistema de ensino, os mocinhos satisfeitos bloqueiam a própria mudança qualitativa. A regressão cognitiva conduz inexoravelmente ao retrocesso histórico e à barbárie.
J Francisco Saraiva de Sousa

27 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, tive alguns bons professores e os outros passaram-me um cheque em branco: era eu que escolhia o que queria estudar, depois na reunião no gabineta era avaliado, umas vezes de modo justo, outras de modo injusto. O que estranhava era o facto de nos testes ter 25 - acima de 20, o limite - e depois nas pautas ter 17 ou 18. Mas nunca protestei contra este cálculo errado da média. :)

Fräulein Else disse...

Ya, também nunca percebi esses "arrendondamentos". Em Itália se tens 30 (o máximo) no exame q é oral e público, dão-te 30 na pauta. Aqui darem um 18/19/20 em filosofia é uma raridade!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, penso que se trata de política do teto: eles não querem dar notas melhores do que aquelas que eles próprios obtiveram.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, como o post já está grande, fui forçado a omitir certos desenvolvimentos previstos. Porém, usei uma bateria de conceitos que permite identificá-los, pelo menos por aqueles que têm conhecimentos. :)

Ah, quando falei do "tema do nosso tempo" usei o próprio título de uma obra de Ortega y Gasset que trata da relação entre vitalismo e racionalismo.

Fräulein Else disse...

Sim, mas só se denota, com isso - a política do tecto - , a mediocridade de carácter dos nossos "mestres"...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, por isso ousei chamar-lhes publicamente medíocres. Abaixo a mediocridade! Viva o conhecimento genuíno! Revolução cultural! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Presidente da Faculdade, em reunião comigo hoje, disse que os problemas que me atormentam só podem ser resolvidos com o desenvolvimento da informática: biologia sofisticada dos sistemas e das redes. Mas penso que há outra via a explorar: vou ler os livros recomendados, embora a possibilidade de ver o meu cérebro substituído por um computer me assuste terrivelmente. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

As simulações atormentam-me, porque nunca podemos estar confiantes nos resultados obtidos pela biologia computacional: uma proteína ou um comportamento simulados são diferentes de uma proteína ou molécula ou comportamento reais. É claro que há um preconceito de fundo: estou pronto a abandonar o materialismo adiado. Já andamos há séculos a adiar as explicações materialistas!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A ralé encarnada é mesmo feia e néscia! Que horror de gente! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ainda vou acabar por defender a não-criminalização da pedofilia, até porque esta começa a ser uma arma usada pela extrema-direita e há pedofilias e pedofilias.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Prós e Contras está a debater a Madeira - 1 mês despois da catástrofe, mas não vou comentar porque não conheço a situação. Mas fico feliz pelo regresso à normalidade. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, como recebi um email espanhol, devo esclarecer uma coisa: este post é atravessado por um registo autobiográfico e o seu objectivo nunca foi expor a historiologia de Ortega y Gasset. No entanto, vou fazer alguns acrescentos, reservando para outro post essa exposição. :)

Fräulein Else disse...

Bem, esse seu "presidente" da faculdade é sectário do sistema que o Francisco pretende criticar. Autómatos e apáticos já estamos, a sofisticação genética só viria a consagrar a vitória tecnocrática.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, é o pensamento dominante nas faculdades, mas ainda não consegui expor as minhas ideias de forma clara. Eu não nego as moléculas, como é evidente, mas penso que essa neurobiologia dos sistemas - não gosto nada deste termo - implica, pelo menos, os sistemas sociais e culturais.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, o presidente usou esta imagem: estamos diante de diversas salas, conhecemos as salas, mas não sabemos como as ligar umas às outras - as tais pontes ou portas. A célula pode servir de exemplo: diversas salas, cujas conexões ainda não podem ser simuladas por um programa sofisticado de computador. Temos conhecimento das salas mas falta-nos a biologia da rede, a qual depende do desenvolvimento da informática.

Eu usei o modelo da memória que desmente uma hipótese molecular, apesar de conhecermos as zonas e alguns circuitos neurais: em vez de uma biologia da rede, dependente da informática, eu preferia alterar o próprio paradigma científico, confrontando o materialismo com as suas dificuldades. A memória pode ajudar a estabelecer esses limites da abordagem reducionista e materialista. É certo que é uma função demasiado complexa, mas é uma via...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E o presidente é um bom cientista de mente aberta: a controvérsia científica é incentivada. Por isso, falo desse debate publicamente, omitindo alguns segredos de pesquisa. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há uma definição da neurobiologia como o estudo da mediação neural do comportamento: todo o comportamento é neurocomportamento, mas isso não implica que não possa haver outro "agente" - ou diversos outros agentes - que usa o cérebro para produzir comportamentos. Esta interface invisível e, por isso, omitida, não colide com as lesões cerebrais, que rompem ou quebram essa comunicação superior.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Isto significa que uma abordagem neurobiológica nunca poderá elucidar completamente a memória; pode identificar as suas localizações e funcionamento, mas não capta ou apreende aquilo que é memorizado na/pela memória.

Unknown disse...

oie! :)
nem de proposito, neste domingo li uma entrevista do manuel joao vieira onde ele tb aflora esse questionamento da problematica das sinapses:

"... Estou a escrever as minhas memórias, mas não me lembro de nada. Quando começar a lembrar-me de qualquer coisa vou escrever.
E tenho outro problema: não sei se estou vivo ou se estou morto, e se estou a sonhar ou se estou acordado. "


:))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É isso que a neurobiologia cognitiva ainda não compreendeu: a memória não está no cérebro, essa imensa rede neural.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, eis aí o regresso das velhas questões da humanidade! :)

Unknown disse...

btw, ta familiarizado com o 15 Ativan? Já é a 2ª banda das mais recentes q gosto e q faz um tema sobre esse sedativo, lol

http://pitchfork.com/forkcast/14054-15-ativan-song-for-erika/

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok, vou apurar melhor o 15 Ativan, que penso já ter visto aqui numa das barras de video. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sarkozi - o tolinho francês - também faz política em cima do joelho: políticos medíocres! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Internet é um mundo fantástico, construído por um conjunto de pessoas absolutamente apaixonadas pela tecnologia e pela cultura. As conexões já são tantas que se torna difícil acompanhá-las a todas. A minha amnésia selectiva reflecte a minha impotência para fazer face ao movimento gerado. Mas vamos conseguir vencer o sistema que nos quer silenciar e matar. (Ah, e se dizem que eu disse, então é porque devo ter dito!) :)

Viva a Revolução!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Todo o meu esforço visa acordar as pessoas, dar-lhes ânimo e levá-la à revolta contra o sistema explorador e opressor! A revolução inicia-se aqui na Internet!

Abaixo os burrecos opressores que nos sugam o sangue! A maioria silenciosa detém o poder final, o poder total: Basta dizer Não e derrubar os burrecos!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O povo só é explorado porque se deixa explorar: o povo unido e nas ruas não pode ser vencido. Ousa ser revolucionário! Não tenhas medo da morte! Luta e morre por uma causa, porque a vida é uma merda!