terça-feira, 4 de maio de 2010

Prós e Contras: Finanças - Toque a rebate

Prós e Contras (3 de Maio) debateu novamente a questão das finanças públicas de Portugal, dando especial destaque aos investimentos lisboetas do governo. Com excepção do espanhol Guillermo de la Dehesa e de Luís Nazaré, os outros quatro participantes - António Nogueira Leite, Luís Campos e Cunha, José Silva Lopes e João Salgueiro - consideram que a iniciativa do governo de avançar com o seu programa lisboeta de investimentos públicos - TGV, novo aeroporto e a terceira via sobre o Tejo - vai hipotecar o futuro de Portugal. Medina Carreira já tinha dito na SicNotícias que os ex-ministros das finanças pediram uma audiência com o Presidente da República, com o objectivo de exigir uma "mudança de políticas em Portugal" (João Salgueiro). O governo socialista bloqueou a linha mais lucrativa do TGV entre Porto e Vigo, porque o governo espanhol adiou esta obra, a única que mais interessava a Portugal: o confronto argumentativo entre João Salgueiro - contra o TGV neste contexto de crise - e Luís Nazaré - a favor dos interesses espanhóis - não só revela a irracionalidade da "política oficial" defendida pelo último, em nome do governo, mas também e sobretudo mostra que aqui no Norte só teremos futuro quando rompermos definitivamente com Lisboa: a autodeterminação é a única solução viável para o Norte. O interesse superior do Norte deve estar acima dos interesses partidários ou dos interesses pseudo-nacionais e do sentimentalismo nacional, porque, se não cuidarmos do nosso destino, seremos escravizados pela capital asteca. A clivagem de desenvolvimento entre Norte e Sul vai acentuar-se com a construção destas obras públicas: o Norte já é uma das regiões mais pobres da Europa e, se os nortenhos ficarem parados, confiantes nos subsídios sociais que irão perder, estão condenados à miséria mais terrível e à humilhação policial de uma capital sanguinária e canibal. Os símbolos nacionais não põem comida nos pratos, como todos sabemos: em vez de fingirmos fazer parte de um país que não é o nosso, precisamos amar os nossos próprios símbolos e construir o nosso próprio caminho, a nossa verdadeira pátria, sem estarmos dependentes de um poder central que nos explora, humilha e oprime. A solução proposta por Luís Nazaré para emagrecer o Estado é libertá-lo das gorduras regionais, concentrando todos os seus serviços em Lisboa: nós portuenses não queremos ser tratados como gorduras do Estado Gordo de Lisboa, cuja gordura peçonhenta nos sufoca e nos empobrece. Num mundo que mergulha rapidamente na pobreza e na catástrofe, quem confiar o seu destino em mãos alheias - e Lisboa Gorda é-nos completamente alheia, estranha e inimiga - será o primeiro a ser liquidado. A corrupção lisboeta está a matar Portugal: o comportamento heróico exibido pelos portuenses e nortenhos - e não apenas pelos portistas - neste último domingo contra a opressão policial - foram recrutados mais de 700 polícias para "proteger" os diabos vermelhos da sua própria violência - aponta o caminho que devemos seguir para conquistar a nossa liberdade plena. O Norte pode e deve ser reconstruído na e pela luta sem tréguas contra as forças lisboetas colonizadoras: o sectarismo da comunicação desportiva - a falsificação intencional da objectividade desportiva - alimenta o nosso ódio saudável, facilitando a tomada de consciência adequada da situação de exploração e de opressão em que vivemos. A luta contra o Benfica - o clube do regime fascista que continua a sonhar o fascismo neonazi para Portugal - constitui um passo fundamental na grande luta pela libertação do Norte: recusar o Benfica é recusar o colonialismo lisboeta. Na vingança o Norte vai encontrar o sentido da sua existência (André Malraux): o seu lugar no mundo civilizado, desenvolvido e livre.
Ninguém é contra a construção do TGV e muito menos contra os investimentos públicos. Medina Carreira foi peremptório: se houvesse muito dinheiro nos cofres do Estado, o governo podia dar-se ao luxo de desperdiçar algum dinheiro na construção da via não-lucrativa de TGV Lisboa-Madrid, mas, como estamos completamente endividados, à mercê dos especuladores e dos mercados financeiros, o bom-senso aconselha a não investir em "elefantes brancos". Porém, o governo perdeu completamente o bom-senso: a linha de TGV Lisboa-Porto foi adiada, embora fosse auto-financiável (Silva Lopes), e a linha de TGV Porto-Vigo - aquela que seria a mais lucrativa (João Salgueiro, Rui Moreira) - foi esquecida, num acto vergonhoso de vassalagem prestada pelo governo de Lisboa a Espanha. Campos e Cunha defendeu o investimento público de qualidade: as grandes obras públicas projectadas por este governo são mau investimento público que prolonga e agrava "o desastre - das políticas económicas - dos últimos 20 anos" (João Salgueiro). Numa situação de penúria extrema, como é a nossa, o governo autista do PS investe em obras públicas não-lucrativas, sem ter em conta o interesse nacional e o desenvolvimento equilibrado de todo o país: o empobrecimento activo do Norte - a sua perda de centralidade - iniciou-se nos governos de Cavaco Silva (PSD) e consuma-se nos governos de José Sócrates (PS). O governo pseudo-socialista está, como disse João Salgueiro, a hipotecar o futuro de Portugal. O seu PEC é, afinal, um PE, sem um programa de crescimento económico a médio e a longo prazo (Nogueira Leite). O governo autista do PS não tem uma visão de futuro para Portugal, a não ser a do endividamento total que nos levará à bancarrota depois de 2013 (Silva Lopes). A falta de bom-senso deste governo revela-se neste facto simples: a linha TGV entre Lisboa e Madrid é supostamente uma linha mista - de passageiros e de mercadorias. No entanto, como não existem terminais de mercadorias, a linha irá ser ultilizada para transportar pessoas, e, quando as mercadorias puderem circular num futuro distante, o seu movimento far-se-á no sentido Espanha/Europa->Portugal, porque o nosso tecido produtivo foi sistemática e completamente liquidado ao longo dos últimos 20 anos: Portugal não produz para exportar e chegará proximamente o dia em que os lisboetas não terão dinheiro no bolso para viajar até Madrid. Ricardo Salgado (BES), um apologista do TGV, aconselha neste momento de tempestade prudência: adiar os grandes investimentos lisboetas que condenam o resto do país à miséria, e Lisboa, ao papel de vagabunda saloia da Europa.
Portugal debate-se com diversos problemas que, seguindo as indicações dos convidados deste debate, podemos esquematizar deste modo: o problema estrutural - o nosso atraso histórico - e o problema conjuntural - a actual crise financeira e económica. João Salgueiro fez um retrato fiel de Portugal, quando afirmou que o nosso país não cresce, mas tem desequilíbrios nas suas contas: os portugueses andam a consumir muito acima das suas possibilidades produtivas, donde resulta o nosso endividamento externo crescente, mais preocupante do que o da Grécia ou o de Espanha, pelo facto de não haver crescimento económico e poupanças nacionais (Silva Lopes): Portugal depende inteiramente do financiamento externo. O crescimento económico desceu vertiginosamente nas últimas décadas, enquanto o endividamento externo aumentou a um ritmo alucinado (Nogueira Leite). A solução é exportar mais ou consumir menos (João Salgueiro). Silva Lopes lembrou que exportar para Angola é pior do que não exportar, porque este país não paga o que importa de Portugal. De imediato, temos de resolver três problemas (Silva Lopes): o desequilíbrio orçamental, o endividamento externo - dívida pública e privada - e a falta de competitividade da nossa economia. E, a médio e a longo prazo, porque o tempo exige urgência, como sublinhou João Salgueiro, precisamos elaborar um programa de resolução dos problemas estruturais da economia portuguesa (Nogueira Leite) e levar a cabo as reformas da justiça e da educação (Campos e Cunha). As obras públicas projectadas por este governo não se enquadram nesta nova visão para Portugal, até porque garantem aos privados rentabilidades elevadas sem risco que acabam por pesar na despesa pública: projectos sem risco matam, como frisou Nogueira Leite, a economia, a capacidade de inovar e a competitividade, além de não resolverem de forma sustentada o problema do desemprego (João Salgueiro). A necessidade de manter Portugal na zona Euro e a redução da despesa pública em relação ao PIB foram matérias consensuais neste debate: os economistas presentes manifestaram uma enorme desconfiança em relação ao "jogo de enganos" dos políticos portugueses (João Salgueiro, Silva Lopes, Nogueira Leite), aliás acusados de desviarem a atenção dos portugueses dos problemas reais da nossa sociedade e da nossa economia. É necessário contar toda a verdade aos portugueses: o Estado-Providência - o Estado Social - pode ter os seus dias contados, pelo menos na versão que conhecemos. O futuro não será igual ao presente e ao passado próximo: os portugueses devem preparar-se para sofrer recuos dialécticos significativos nos direitos adquiridos, muitos dos quais não serão simplesmente conjunturais mas estruturais. O modelo de sociedade que tem vigorado entre nós é uma terrível mentira, engendrada por cérebros verdadeiramente lunáticos, que os mercados externos já não querem financiar. A dependência da economia portuguesa em relação aos financiamentos externos é uma ideia/realidade insuportável. Precisamos de imaginação política para projectar um futuro novo para o Ocidente num mundo global refractário à sua dominação. Precisamos inventar um novo Portugal, uma nova Europa, um novo Ocidente, mas para isso devemos estar preparados para operar uma mudança radical de estilo de vida: a verdadeira felicidade está para além do mero consumo.
J Francisco Saraiva de Sousa

11 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Disseram-me - e a fonte tem credibilidade acrescida - que as duas mulheres benfiquistas cujo carro foi apredejado - talvez por diabos vermelhos - tinham parado após terem quase atropelado um miúdo: os supostos portistas só viram que eram benfiquistas quando sairam do carro com os seus símbolos: a cena não tem nada a ver com o jogo, porque resultou de um quase atropelamento. Os jornalistas desportivos da SIC deviam informar-se melhor antes de alimentar a guerra civil.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

No entanto, até gosto do clima de guerra civil alimentado pela comunicação desportiva: as mulheres portuguesas começam a ficar apaixonadas pela causa do FCPorto e as do Porto já são todas portistas militantes. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

"Antes put... que benfiquistas": dizem as mulheres portuguesas. De facto, o benfica é a prostituição dos resultados desportivos! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, a bola de golfe (?) que o Luisão atirou contra os adeptos do Porto - ele tirou-a da sua bolsa escrotal: é o que todos vemos nas imagens. :)

E. A. disse...

ahahah bolsa escrotal? meu Deus! E cabe lá uma bola de golf???

por falar em futebol e sexo, já viu a capa da Vanity Fair com o Cristiano e o Drogba? Proibida visualização para os mais sensíveis!

Unknown disse...

indeed, capa mais escrotal, essa da vanity gay!

Unknown disse...

Oh francisco, este blog ta cada vez mais burgues nas suas referencias de analise..
Parece q n leu a observação do Kurz do ultimo textinho dele q deixei aqui linkado:

" Podemos, pois, concluir que a percepção e a metodologia positivistas não podem dizer nada sobre o desenvolvimento real. O que também se aplica ao actual discurso de fim de alarme. Se a maioria da esquerda académica e política nem sequer conseguiu prever a crise económica mundial, isso indica que ela já há muito tempo adaptou momentos do pensamento positivista e que está pouco a par da teoria da crise"


Bamo lá a atinar, ai!

E. A. disse...

O Drogba n é gay. só o Cristiano.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Cristiano é gay do tipo barbie? Não sabia... Vi isso no telejornal da RTP1!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sr

Sim, o meu marxismo deriva muito daquilo a que se chamou marxismo burguês ou académico, mas os mestres não eram burgueses; apenas um "pouquinho" elitistas. Sou claramente antipositivista: neste caso do TGV não há uma fórmula universal: é uma decisão ponderada em função da conjuntura e do interesse nacional.

Era apedrejar... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, estava a pensar na entrevista de Mário Soares - na sicnotícias, mas não quero criticar o homem. No entanto, penso que todos eles devem fazer uma autocrítica e entregar-nos a gestão dos destinos nacionais: foram cometidos muitos erros em nome da democracia. Precisamos de novos lideres e com credibilidade. :)