quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Soares dos Reis: Quadro Escultural do Porto

Soares dos Reis: O Desterrado
Soares dos Reis (1847-1899) foi «um realista na veracidade severa dos seus retratos, do "Conde de Ferreira" (1876), da "Viscondessa de Moser" (1884) ou da "Inglesa" (1887). Um realista que entendera, porém, na sua estada em Roma, o apelo da saudade nacional e com isso esculpira "O Desterrado" (1872-74) que ficou como uma imagem emblemática dum certo sentimentalismo português próprio do fim do século em que o escultor se suicidou. /"O Desterrado" é uma obra notável da escultura do seu tempo, de grande sensibilidade formal, duma discreta e tensa dramaticidade. O vago anseio, o doce sentir, a nostalgia sem esperança, a amargura sem tempo lêem-se no corpo clássico da estátua, que teve directa inspiração antiga. A carga simbólica da obra é-lhe inerente, desenvolve-se na sua forma, não tem origem literária - embora literariamente sobre ela se bordassem mil considerações simbolistas e decadentistas. "Verdadeira arte lusitana" viu Teixeira de Pascoaes no "Desterrado", apontando-lhe assim um destino fora do tempo, e o próprio artista, tão exigente no seu realismo como no seu espiritualismo, terá sido vítima dessa contradição que, numa sociedade que, embora ele fosse professor da Academia portuense, só lhe dava mesquinhos trabalhos a fazer, também o levou a matar-se, último acto da coerência romântica que igualmente, e pela mesma altura, moveu Antero e Camilo». (José-Augusto França)

José-Augusto França foi até hoje o único grande historiador da Arte em Portugal, mas a sua obra precisa ser revista e reavaliada à luz da estética e das nossas preocupações presentes. O que foi dito sobre a obra escultural de António Soares dos Reis não é algo exterior à própria obra: o triângulo produtor/obra/receptor é fundamental para compreender a escultura de Soares dos Reis, porque é na sua recepção que se joga a sua historicidade. A história da recepção - nacional e internacional - da obra de escultura de Soares dos Reis está por fazer e, sem ela, torna-se muito difícil realizar a sua análise estética. Dissolver a escultura de Soares dos Reis no realismo do seu tempo não lhe traz nenhuma mais-valia cognitiva. Os rótulos vagos atribuídos pelos historiadores às obras de arte não permitem compreender o mundo que elas revelam. Classificar uma obra de arte não é suficiente para compreender o mundo próprio que ela revela. O escultor portuense situou-se à margem do movimento coimbrão e lisboeta, embora fosse respeitado e admirado por quase todos os membros da geração realista, incluindo o Ramalho Ortigão positivista de 1876 que viu nele o primeiro renovador da arte portuguesa. A Filosofia tem dificuldade em lidar com certas formas de arte e uma delas é precisamente a escultura que Hegel colocou num nível inferior à pintura e à poesia, embora lhe reconhecesse a capacidade de realizar o espiritual na sua totalidade espacial e corpórea. No entanto, quando escreveu que «os nossos escultores são incomparavelmente superiores aos nossos pintores porque resistem melhor ao meio», Ramalho Ortigão inverteu essa posição, destacando a superioridade da escultura em relação à pintura, pelo menos no contexto da arte portuguesa. Os escultores em questão eram Soares dos Reis e Miguel Ângelo Lupi, os quais assumiram posições opostas em relação à sociedade do fontismo, da qual o segundo foi o seu grande vencedor, e o primeiro, a sua grande vítima. Olhando para a obra revolucionária de Soares dos Reis, é fácil compreender a perspectiva de Ramalho Ortigão: O Desterrado «incarna em si a própria espiritualidade, a finalidade e independência em si e por si, numa forma corporal, conforme ao conceito do espírito e adequada à sua individualidade, e oferece à nossa contemplação o corpo e o espírito incorporados num todo indivisível» (Hegel). O Desterrado não é mais uma peça de escultura: ele é a própria escultura. Não admira que Teixeira de Pascoaes tenha visto nele a figura espiritual feita estátua da saudade. Para o poeta-filósofo portuense, O Desterrado deu ao mármore «aquele sentimento saudoso das coisas e da vida que mostra o íntimo perfil do nosso espírito (lusitano)». Joel Serrão captou a afinidade existente entre a escultura de Soares dos Reis e a filosofia de Sampaio Bruno: «"Nos fuimos simul in Garlandia. Nós pisamos juntos a terra da Desesperação; e juntos conhecemos o travo desse sentimento específico do exílio, que é complexo, aliás, pois resulta um misto de orgulho e humilhação, de rancor e de piedade". Assim se exprime Bruno. Do mesmo modo se nos exprime essa obra-prima da estatutária portuguesa que é o Desterrado de Soares dos Reis, esse outro portuense, como que exilado na terra portuguesa. Atentai: a cabeça pendida na meditação não se sabe de que longes; inactivos, os dedos cruzados no desalento da espera; os lábios no jeito da amargura mais atroz e imponderável; dentro dele "chovendo a inexorável ausência do país remoto" para empregarmos palavras de Bruno a respeito do seu próprio exílio. Tal o Desterrado. Tal o Bruno nas longes terras (holandesas)».


Em Portugal, a inveja mata-nos a todos, rouba-nos a vida individual e colectiva - passada, presente e futura -, nivela-nos a todos de modo a impor-nos a mediocridade como norma, e condena os nossos homens de mérito ao exílio interior. A escultura O Desterrado de Soares dos Reis foi alvo desta forma patológica de inveja. Tudo começou no seio da Academia Portuense de Belas-Artes. Soares dos Reis fez o curso da Academia Portuense, tendo sido aluno de um professor incompetente, Fonseca Pinto, que lhe fez a vida negra. Em 1867, partiu como bolseiro para Paris. Para isso, ganhou o concurso com um belo busto do seu colega Firmino (1867). Em Paris, foi aluno de Jouffroy, mas a guerra obrigou-o a regressar ao Porto em 1870. No entanto, em 1871, partiu de novo para o estrangeiro, desta vez para Roma, onde permaneceu ano e meio sem professor. Ora, foi de Roma que Soares dos Reis trouxe para o Porto a sua estátua inacabada O Desterrado: «Imaginada e quase terminada em Roma, sob inspiração de versos de Herculano, e por força duma sentimental nostalgia da Pátria distante e da própria solidão cismadora, a estátua reflecte formalmente a tradição clássica. É provável que o "Ares" dito Ludovisi, do Museu das Termas, lhe tenha fornecido o esquema da composição: um jovem nu, sentado num rochedo, uma perna estendida, as mãos apertadas em volta do joelho da outra, a expressão melancólica e o olhar distante... A comparação detém-se porém ao nível iconográfico, e a acusação de plagiário que por isso fizeram a Soares dos Reis seria mera estupidez se não tivesse sido produto de má fé, alimentada pela inveja do professor Fonseca Pinto e pelo espírito quezilento de outro professor da Academia, o pintor Resende» (José-Augusto França). Não satisfeitos com a acusação de plágio, os invejosos conspiraram outra maldade: a suspeita de Soares dos Reis não ter sido o verdadeiro autor da estátua. Estes ataques mesquinhos feriram profundamente a sensibilidade de Soares dos Reis, mas não conseguiram impedir que O Desterrado - concluído já no Porto em 1874 - fosse exposto publicamente na Academia Portuense de Belas-Artes em 1874, e que viesse a receber a medalha de ouro na Exposição Internacional de Madrid de 1881. A história moral do Desterrado de Soares dos Reis é, de certo modo, a história de todos os portugueses que se destacam da mediocridade nacional pelo seu mérito e pela sua inteligência.


José-Augusto França parece não concordar com a interpretação saudosista da escultura O Desterrado de Soares dos Reis, como se o saudosismo de Teixeira de Pascoaes fosse uma espécie de fuga ao futuro quando, na verdade, ele é uma abertura ao futuro. A saudade como ânsia de um futuro novo - a saudade do futuro - possibilita uma leitura inovadora da obra escultural de Soares dos Reis. No entanto, José-Augusto França não se afasta muito dessa interpretação quando a encara como uma «obra existencial»: «O olhar afogado no longe, a boca num começo de choro, o virar doloroso da cabeça, as mãos entrelaçadas à beira da crispação, e este corpo longo e liso, quase escorregando para o mar de Capri que se adivinha - o "Desterrado" é uma personagem de drama, que exige uma leitura dinâmica. O sentimento vago e ideal que exprime não se define em função dum "estar" que uma forma classicamente frontal nos daria, mas dum "viver" que devém, numa movimentação formal. A estrutura da figura explica-se por dois eixos oblíquos que se cruzam e marcam sentidos opostos, fazendo rodar contraditoriamente o corpo torturado, o tronco para um lado, com o movimento dos braços, a cabeça e as pernas para outro. Os dois extremos da figura, a cabeça tombada velada por uma sombra que é preciso ler, e o pé esquerdo pendente, em relaxe, definem-se em oposição a um nó denso de pequenos volumes articulados numa contracção de formas minuciosamente agenciadas. A grande bossa sensível do dorso arqueado é logo explicada na linha ondulada do perfil em que as sombras se graduam admiravelmente. Como para o "Penseur" de Rodin, um quarto de século mais tarde, a leitura do "Desterrado" obriga a perfazer um lento circuito em torno desta forma altamente dinâmica - que no próprio dinamismo tem a sua nobilíssima razão de existir e de significar» (José-Augusto França). Teixeira de Pascoaes não realizou uma interpretação sistemática do Desterrado de Soares dos Reis: a noção de desterro ocupa uma posição crucial na sua filosofia da saudade. Limito-me a citar uma das muitas frases de Teixeira de Pascoaes dedicadas ao Desterrado de Soares dos Reis: «Soares dos Reis, no Desterrado, foi muito além de Garrett. Aquela estátua é sagrada; vive já, de alguma forma, a Saudade religiosa e metafísica. Sente-se que diante dos seus olhos, perpassa o Vulto divino da nova Deusa. Soares dos Reis é o precursor dos actuais Poetas, o precursor da verdadeira arte lusitana. É uma figura suprema. /O Desterrado é a Esfinge da Raça no recanto esquecido dum esquecido museu municipal. E os Poetas a que me referi, são os seus intérpretes: a voz dos seus fechados lábios marmóreos». Além do poeta portuense António Nobre, que cantou a saudade-desejo, Teixeira de Pascoaes também nutria uma especial admiração pela pintura de António Carneiro (1872-1930), o pintor portuense que nos legou o tríptico A Vida, merecendo por isso o extenso ensaio que lhe dedicou (1950). Diz Teixeira de Pascoaes que «a nossa existência mundial, iniciada pelos Nautas, é continuada pelos Poetas». Sim, é verdade o que diz Teixeira de Pascoaes: o Porto deseja - a faceta do desejo na saudade - realizar o sonho dos poetas, de modo a dar continuidade à nossa existência mundial conquistada no passado pelos navegadores portugueses. Meus amigos: O Desterrado de Soares dos Reis esculpe e encarna no mármore a alma portuense que vira - num gesto de desprezo e de enjoo - a cabeça a Lisboa e a Portugal capturado pelo espírito babilónico da primeira. Se O Desterrado exprime algum tipo de sentimento de saudade, este sentimento só pode ser a saudade da futura independência do Porto. O Desterrado é a própria Cidade do Porto que, a partir da sua situação de exílio nas terras lusitanas, sonha com a sua autonomia e a sua independência. Esta interpretação pressupõe uma radicalização da filosofia de Sampaio Bruno, cujo pecado fundamental reside no facto de não ter libertado o Porto da sua prisão lusitana. Apesar de ansiarem pela sua autonomia, os ilustres portuenses na hora de elaborar os seus pensamentos traíram a alma portuense, dissolvendo-a na alma lusitana que a sufoca. Faltou-lhes a coragem de ser do Desterrado que recusa olhar de frente para o país que o enjoa. O Porto é banhado não só pelo Rio Douro mas também pelo oceano Atlântico, cujas ondas acariciam o rochedo - um rochedo do Castelo do Queijo? - onde está sentada a figura bela, serena e livre do Desterrado.


O Porto de Soares dos Reis é o Porto da Academia Portuense de Belas-Artes, que fez da História da Cidade uma História da Arte. A identidade que Giulio Carlo Argan (1984) estabeleceu entre arte e cidade já era uma prática arquitectónica no Porto setecentista e oitocentista: a cidade do Porto é uma obra de arte - construída ao longo de gerações pelos seus próprios artistas nativos sem menosprezar o contributo de grandes artistas estrangeiros. A Academia Portuense foi criada em 1836 por Passos Manuel, logo após a revolução de Setembro. A Academia de Lisboa foi criada a 25 de Outubro e, logo a seguir, a do Porto a 22 de Novembro de 1836. Ainda não estou preparado para esboçar uma história da Academia do Porto, fortemente incentivada por Almeida Garrett, nas suas relações orgânicas com a Cidade Invicta. Por isso, vou limitar-me a referir alguns momentos cruciais dessa ligação orgânica dos artistas portuenses com a sua cidade. Muitos anos antes da criação da Academia Portuense, a Companhia das Vinhas do Alto Douro já tinha fundado uma Aula de Desenho em 1779, que mais tarde seria incorporada na Academia da Marinha, tendo como professores Domingos António de Sequeira (1768-1837) e Francisco Vieira, mais conhecido como Vieira Portuense (1765-1805), dos quais se destaca o último pelo facto de ter pronunciado um discurso em 1802, onde critica a retórica académica a favor da liberdade de criação, o que constituía uma proposta de modernização no seio da arte portuguesa. Quando mais tarde se funda a Academia Portuense, a sua responsabilidade foi atribuída a João Baptista Ribeiro (1790-1868), que, apesar de ser um pintor medíocre, era um homem político e dinâmico. A morte de Teixeira Barreto (1763-1810) não permitiu continuar a assegurar um ensino de qualidade na pintura. Durante este período repleto de peripécias e de falta de financiamento regular, a secção de arquitectura avançou sob a direcção de Costa Lima Júnior. As Academias do Porto e de Lisboa começaram a realizar exposições trienais, as primeiras que publicamente se realizaram em Portugal, conforme a ideia já avançada por Sequeira no Porto em 1807. O papel da Academia de Belas-Artes foi reforçado pela criação de Museus e de Bibliotecas Públicas, no Porto logo em 1833, graças a J. B. Ribeiro (1790-1868), durante o cerco da cidade. O espaço da pintura portuguesa romântica foi atribuído no Porto a Francisco Resende (?-1893), o qual tinha recebido lições de Auguste Roquemont (1804-1852), o retratista da nobreza nortenha e o primeiro a pintar os costumes rústicos dos portugueses, abrindo assim as portas ao romantismo. Entretanto, em 1835, surgiu uma fugaz Associação dos Amigos das Artes fundada no Porto, a qual foi precursora da Sociedade Promotora de Belas-Artes criada em Lisboa no princípio dos anos 60. Sendo uma cidade mais progressista do que Lisboa, toda ela virada para o luxo fontista, o Porto - depois do surto setecentista da arquitectura do Port Wine - iniciou a arquitectura do ferro. Inspirado no seu famoso homónimo londrino, o Palácio de Cristal - projectado por Thomas Dillen Jones - inaugurou, em 1865, a primeira exposição internacional de indústria, o que marcou a entrada do Porto num novo período histórico, o período do progresso. Obra de Eiffel, a Ponte de D. Maria Pia foi inaugurada em 1876 para ligar por via ferroviária o Porto a Lisboa. Em meados do século, os brasileiros que regressavam ao Porto trouxeram consigo o azulejo, cujo uso tinha sido abandonado nos finais do século XVIII. A indústria do azulejo desenvolveu-se rapidamente no Porto, com a fábrica das Devezas a ocupar um lugar de destaque na industrialização das faianças. Os exteriores dos edifícios foram revestidos de belos azulejos, tendo Lisboa seguido o exemplo do Porto. As Conferências do Casino aceleraram o processo de degradação do romantismo: Eça de Queirós defendeu, na sua conferência, o realismo na arte, citando abundantemente Courbet, através das teses de Proudhon, de modo a atribuir à arte um destino social. Pouco mais tarde, Ramalho Ortigão realizou a defesa do naturalismo no seu ensaio O Culto da Arte em Portugal (1896). Estes manifestos estéticos marcaram profundamente a arte portuguesa deste período. Na escultura, destacou-se a obra revolucionária de Soares dos Reis, que entrou para a Academia em 1862, vindo a ser seu professor. Em 1865, começaram a ser concedidas pensões oficiais para frequência da École des Beaux-Arts: Paris substituiu assim Roma e o seu Colégio Português de Belas-Artes, reformado em 1791, embora Roma ainda continuasse a ser frequentada no fim da bolsa. Os pintores e os artistas - escultores, arquitectos - formados na Academia Portuense beneficiavam de uma nova visão artística que se reflectiu nas suas obras. Silva Porto (1850-1893) e Marques de Oliveira (1853-1927) foram os dois primeiros pintores portuenses a ser contemplados com essa bolsa por concurso. Quando regressaram a Portugal, Silva Porto foi nomeado para a Academia Lisboeta e Marques de Oliveira assumiu a docência da pintura da história na Academia Portuense. Em torno do portuense Silva Porto, formou-se o Grupo do Leão que fez com que o naturalismo penetrasse na pintura portuguesa. A Academia do Porto lançou quase todos os grandes pintores paisagistas deste período: Henrique Pousão (1859-1884), A. Loureiro, João Vaz (1859-1931), Alberto de Sousa Pinto, José de Brito (1855-1946) e, para não alongar mais a lista de nomes, Aurélia de Sousa (1865-1922). E, na escultura, merecem destaque Teixeira Lopes (1866-1942) e Alves de Sousa, o primeiro dos quais foi discípulo de Soares dos Reis. Para se compreender a obra da Academia Portuense, é preciso conhecer a fundo não só o que os críticos disseram e escreveram sobre as obras dos seus membros, mas também os próprios escritos dos artistas, para já não falar das próprias obras de arte. Infelizmente, os estudiosos portugueses nunca souberam zelar pelo passado: a escassez de edições críticas testemunha o desleixo português. A cidade do Porto foi sempre uma cidade de burgueses, de homens livres, pelo menos desde o século XII. É por isso que Jaime Cortesão viu nela a primeira grande escola política da cidadania: o cidadão é, por natureza, o burguês que habita a cidade e que se afirma pelo seu trabalho. A história do Porto não pode ser compreendida sem levar em conta a sua burguesia que lutou pela libertação. A força da Academia Portuense está enraizada neste traço estrutural da cidade do Porto, a cidade dos burgueses e dos trabalhadores. O Porto - tal como o conhecemos - é fruto do trabalho dos seus próprios cidadãos e da sua luta contra os privilégios de nascimento e o poder central: o consumo conspícuo lisboeta que lança constantemente Portugal na pobreza e na miséria é algo visceralmente estranho à alma portuense. Como vimos, a construção do Palácio de Cristal, onde hoje está o Pavilhão Rosa Mota, outra ilustre portuense, abriu a Cidade Invicta ao progresso. Ao ensino da Academia Portuense de Belas-Artes juntaram-se as bolsas em Paris e o Centro Artístico Portuense, animado por Soares dos Reis, Marques de Oliveira e J. Vasconcelos. A cidade do Porto conquistou o mundo, participando em certames internacionais, como a grande exposição parisiense de 1900 e o Salon, tendo Soares dos Reis recebido a medalha de ouro na Exposição Internacional de Madrid (1881). Por isso, sou levado a escolher a figura de Soares dos Reis como a figura promotora do Porto das Galerias, do Porto das Exposições e do Porto dos Boulevards: apesar do seu exílio nas terras portuguesas, a cidade do Porto está aberta ao mundo. É este Porto - edificado nos finais do século XIX e começos do século XX - que está próximo da poesia de Baudelaire e que alimenta o meu projecto dos quadros portuenses


Soares dos Reis: O Desterrado
O Desterrado (1872-74) de Soares dos Reis: Prova final de pensionista de escultura realizada em Roma em 1872, enviada à 14.ª exposição trienal da Academia Portuense de Belas-Artes (1874) e medalha de ouro na Exposição Internacional de Madrid de 1881.


J Francisco Saraiva de Sousa

8 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Pode clicar sobre uma das imagens para poder ver as duas. Infelizmente, não podem ser muito ampliadas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A segunda imagem foi editada por Augusto França.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Precisamos de um Museu de Arte Portuense: a alma portuense está na sua arte. Há tanta coisa que já devíamos ter feito no passado para sermos desenvolvidos hoje, mas, em vez disso, lapidou-se tudo, incluindo o património portuense.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Foram cometidos muitos assassinatos arquitectónicos no Porto: ainda recentemente foram demolidas fábricas lindíssimas para dar lugar a condomínios fechados monótonos. Há soluções arquitectónicas que permitem conservar o passado sem negar o futuro. Portugal é um país de gente estúpida.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Duarte Lima acusado de homicídio no Rio de Janeiro. Viva o Brasil!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Espero que a justiça brasileira não se deixe enganar por Portugal e consiga prender o homem asqueroso.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em Portugal, os corruptos deste calibre nunca são presos. E ainda por cima assassino como diz a justiça brasileira.

Unknown disse...

É a primeira vez que tenho visto um verdadeiro retrato, em pedra, da nostalgia ou saudades.