quarta-feira, 28 de março de 2012

A Gazeta Literária: o Primeiro Periódico Literário Português

Porto: Rua de Santa Catarina
«Pregador era a maneira antiga de ser jornalista, como jornalista é a maneira moderna de ser pregador». (Sampaio Bruno, Portuenses Ilustres)

O jornal mais importante da época pombalina foi a Gazeta Litteraria, publicada no Porto entre Julho de 1761 e Julho de 1762. Segundo Silva Pereira, trata-se do «periódico que verdadeiramente iniciou o jornalismo literário em Portugal. Antes dela, como periódicos literários, só se haviam publicado O Anónimo (Lisboa, 1752) e O Oculto Instruído (Lisboa, 1756)». A Gazeta Literária era redigida por Francisco Bernardo de Lima, considerado o primeiro folhetinista e o primeiro crítico teatral português. O Padre Bernardo de Lima foi, sem dúvida, a figura mais representativa do Iluminismo na imprensa periódica portuguesa, tendo assumido a missão de manter o público culto português ao corrente das principais obras sobre literatura, artes e ciência publicadas então na Europa, de que faz críticas inteligentes e bem informadas. O Discurso Preliminar que antecede o primeiro número da Gazeta Literária assume claramente essa missão de divulgar entre nós as obras sobre literatura, artes e ciências publicadas na Europa Civilizada: «O gosto das artes e ciências que neste século se tem felizmente propagado por todas as nações civilizadas produz tal variedade de novas ideias e de composições igualmente sólidas e frívolas que parece impossível conhecer ainda imperfeitamente todos os assuntos de que tratam ou ainda fazer juízo sem uma notícia regular e metódica daquelas, cujos Autores aspiram ao sublime lustre da reputação literária e querem na República das letras um lugar distinto dos escritores vulgares». Como se sabe, o movimento periodístico português reduz-se, pelo menos até ao último quartel do século XIX, quase exclusivamente a Lisboa e ao Porto: a vantagem quantitativa de Lisboa é ultrapassada pela vantagem qualitativa do Porto. A Gazeta Literária preparou o terreno para a emergência da esfera pública literária em Portugal, a qual irá ser ampliada pela revolução liberal de 1820. A partir de 1820 o Porto será o berço de numerosas revistas literárias - sobretudo revistas de poesia - que escreveram as linhas gerais da nossa história da literatura, da política e do pensamento. Infelizmente, não temos ao nosso dispor análises de conteúdo, quantitativas ou qualitativas, dos principais periódicos portugueses. As histórias da imprensa disponíveis não nos fornecem essas análises tão necessárias para avaliar a qualidade da imprensa portuguesa e o seu impacto sobre a formação de um público culto. Entretanto, convém dizer que o desenvolvimento da imprensa portuguesa não se atrasou significativamente em relação ao desenvolvimento da imprensa europeia, como defende José Tengarrinha: as invasões francesas deram-nos dois periódicos importantes, em termos de luta contra o absolutismo, o Diário do Porto e a Gazeta de Lisboa, e, muito antes disso, o domínio filipino já nos tinha tentado colonizar mentalmente através das folhas noticiosas, como testemunham pouco mais tarde as Gazetas da Restauração. A primeira grande reflexão sobre o jornalismo deve-se talvez a Alexandre Herculano que, num artigo penetrante publicado em O Panorama (nº. 48, de 31 de Março de 1838), escreveu: «Era preciso animar o povo depois daquela ousada tentativa; convinha narrar-lhe as vantagens alcançadas contra a Espanha, bem como as dificuldades em que se via envolvida aquela monarquia, e até exagerá-las; e porventura o Governo não achou meio nenhum mais azado a seus intentos do que lançar mão das gazetas, invento que, como vimos, era já conhecido em outros países da Europa». 

Bibliografia antiquíssima sobre a Imprensa Portuense:

  • António Rodrigues Sampaio: Homenagem Prestada à Sua Memória pela Imprensa do Porto (1882). Porto: Real Tipografia Lusitana.
  • Aranha, Brito (1898). A Imprensa em Portugal nos séculos XV e XVI. Lisboa: Imprensa Nacional.
  • Bruno, Sampaio (1906). Os Modernos Publicistas Portugueses. Porto: Livraria Chardron, Lello & Irmão Editores.
  • Carregal, Joaquim da Costa (1940). Gutenberg e a Civilização. Porto: Imprensa Moderna.
  • Carqueja, Bento (1893). A Liberdade de Imprensa. Porto: "O Comércio do Porto".
  • Carqueja, Bento (1924). O Comércio do Porto: Notas para a sua História. Porto: "O Comércio do Porto". (Escrevi muitos artigos de juventude tanto em O Comércio do Porto como em O Primeiro de Janeiro. Por causa da imbecilidade de um velho socialista, nunca cheguei a publicar no Jornal de Notícias.)
  • Cunha, Alfredo da (1925). Camilo Castelo Branco, Jornalista. Lisboa: Ventura Abrantes.
  • Cunha, Alfredo da (1941). Elementos para a História da Imprensa Periódica Portuguesa (1641-1821). Lisboa: Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Letras, t. VI.
  • Freire, João Paulo (1936). Escolas do Jornalismo. Porto: Ed. Nacional.
  • Gomes, Luís F. (1925). Jornalistas do Porto e a sua Associação. Porto.
  • Guimarães, Luís José de Pina (1945). Isagoge Histórica do Jornalismo Médico. Porto: Costa Carregal.
  • Herculano, Alexandre (1838). «Gazetas, Origens das gazetas em Portugal». In O Panorama, 48.
  • Lacerda, Augusto de (1904). A Irradiação do Pensamento. Porto: Bodas de Oiro de "O Comércio do Porto".
  • Olinto, António (1955). Jornalismo e Literatura. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional.
  • Pereira, Augusto Xavier da Silva (1891). «Os primeiros jornais que se apregoaram pelas ruas». In A Imprensa, 71.
  • Pereira, Augusto Xavier da Silva (1896). O Jornalismo Português. Lisboa
  • Pina, Luís de (1949). Um Pioneiro Portuense do Jornalismo Médico Português. Porto: "O Tripeiro".
  • Salgado, Joaquim (1945). Virtudes e Malefícios da Imprensa. Porto: Portucalense Editora.

Nota: Em vez da publicação de obras actuais de escasso valor científico, as editoras portuguesas deviam reeditar as obras clássicas em português actualizado. Ninguém quer ler obras medíocres escritas por alucinados que não sabem pensar em função de matrizes teóricas consagradas. O ensino pós-25 de Abril mergulhou Portugal na bancarrota mental e cognitiva: o que temos hoje são burros diplomados

J Francisco Saraiva de Sousa

1 comentário:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ehehee... Não sou professor de Direito, nem sequer dirijo uma tese sobre direito do trabalho: recebi capítulos dessa tese mas não vou comentar... Não tenho tempo...