quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Münch: The Scream

CyberEstética do Grito de E. Münch





Uma árvore é derrubada pelo vento, mas, como não havia nenhum ser vivo dotado de um sistema auditivo por perto, ninguém ouviu o ruído causado pelo seu impacto sobre o solo. Sem sistemas específicos de audição não se pode ouvir nada: a audição cria o som percebido. Sem ela o universo é surdo.

Alguém grita de angústia: as ondas emitidas pelo seu aparelho fonador alargam-se no espaço e vão ao encontro dos ouvidos de outros seres que permanecem de rosto silencioso. Eles não escutaram e, por isso, as ondas recuam novamente para o lugar donde tinham sido emitidas. O grito não escutado pelos outros regressa ao rosto daquele que o emitiu. Ouvir o seu próprio grito é, por definição, o horror — a angústia levada ao seu extremo: a solidão perdida no silêncio de si mesmo e dos outros.
Se, de facto, há aqui crueldade, ela não é a da existência do que grita, mas do outro que não escuta por ser surdo, que não fala por ser mudo, que não vê por ser cego, que não sente por ser insensível, que não pensa por ser inumano… O silêncio do outro é o horror metafísico.


Esta é a chave de leitura que propomos para a pintura de E. Münch: a metafísica do horror.
J Francisco Saraiva de Sousa

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