sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Imaginação da Catástrofe

«O cinema de ficção científica trata da estética da destruição com a beleza peculiar que pode ser encontrada ao desencadear a destruição e ao provocar a desordem. E é nas imagens de destruição que se encontra a essência de um bom filme de ficção científica». (Susan Sontag)
O cinema surgiu no seio de uma civilização que diferencia claramente dois mundos, o mundo real e o mundo irreal, relegando o fantástico para o domínio da superstição e da infância. A emergência do cinema universal e do seu produto típico - o filme de ficção - contraria internamente, negando-o, o processo de racionalização e de desencantamento do mundo: o cinema não só abrange o campo do mundo real, como também abarca e integra o campo do mundo imaginário, o que significa que participa simultaneamente da percepção do estado de vigília e da visão do sonho. Como grande matriz arquetípica que compreende, em termos embriológicos, todas as visões do mundo, incluindo a visão primitiva do mundo, o cinema apela e inscreve o fantástico no real e, enquanto abertura ao mágico do qual deriva em última instância toda a arte, define-se como a unidade dialéctica do real e do imaginário. Esta dialéctica é especialmente evidente nos filmes de ficção científica, cuja estética da destruição vamos explicitar como se estivéssemos a realizar o Filme dos filmes de ficção científica. O roteiro típico de um filme de ficção científica compreende basicamente cinco partes, embora possa revelar diversas variações resultantes da supressão de uma ou outra parte ou da sua fusão:
1. A chegada da Coisa. Os monstros, os invasores, máquinas assassinas e exterminadoras, predadores extraterrestres em busca de refeição ou de um hospedeiro que facilite a sua reprodução, algo radioactivo, uma mutação súbita produzida num laboratório, uma doença misteriosa ou uma nave espacial alienígena irrompem e surgem no mundo dos humanos. Alguém - um jovem cientista numa pesquisa de campo - presencia essa chegada ou suspeita de alguma coisa estranha, mas ninguém - incluindo a sua namorada incrédula e/ou as autoridades locais - acredita inicialmente no seu relato. O mundo parece girar na sua própria normalidade, como se nada de estranho estivesse a acontecer. Noutras versões, o herói e a sua namorada ou mulher e filhos repousam nalgum lugar de férias da classe média ou na sua casa situada numa pequena cidade, quando são repentinamente surpreendidos por alguém que se comporta de modo estranho ou por alguma forma de vegetação que começa subitamente a crescer e a mover-se. No caso de estar a dirigir um carro, o herói pode ser surpreendido por alguma coisa hedionda que surge no meio da estrada ou por luzes estranhas que sulcam o céu nocturno. Uma versão muito frequente é a do herói-cientista, que, no seu laboratório, faz experiências: nuns casos, provoca inadvertidamente uma metamorfose nalguma espécie vegetal ou animal que se torna carnívora e frenética; outras vezes, fere-se e é "invadido" e "contaminado", ou então realiza experiências com radiação ou constrói uma máquina para comunicar com seres de outros planetas ou para viajar no tempo. Outra variante mostra uma viagem ao espaço: os astronautas da nave terrestre descobrem que o planeta visitado ou já colonizado por colonos humanos ou por prisioneiros (colónia penal) se encontra ameaçado por invasores alienígenas e, depois de terem lutado contra eles, procuram desesperadamente regressar à Terra, mesmo correndo o risco de trazer na nave ou mesmo no próprio corpo o invasor extraterrestre - incubado ou não - para o berço da humanidade.
2. Cena de destruição visível. Inicialmente, o herói é o único humano que sabe da existência de alguma coisa estranha que pode levar à extinção da vida humana em pouco tempo e, mesmo quando tenta avisar os outros e as autoridades, ninguém acredita que algo anormal está a acontecer. A sua luta contra a Coisa consiste em barricar a casa, caso a Coisa seja material, ou em chamar um amigo, caso a coisa seja um parasita invisível, mas a luta é inglória: todos acabam por ser mortos ou "tomados" pela Coisa. A ameaça só se torna visível quando um número elevado de testemunhas presencia uma grande cena de destruição que confirma o relato do herói. As forças policiais ou militares são chamadas para resolver a situação, mas são massacradas e destruídas pela Coisa. Todos os esforços realizados para repelir a Coisa revelam-se inúteis: a Coisa continua a fazer novas vítimas e a ameaça começa a ultrapassar os limites da cidade, até que se torna potencialmente planetária e global: a vida humana está em perigo.
3. O estado de emergência. Na capital da nação invadida pela Coisa, os cientistas e as forças armadas realizam conferências secretas, durante as quais o herói faz a sua exposição, com recurso a mapas e outros meios tecnológicos sofisticados. O governo decreta o estado de emergência nacional. Os mass media noticiam novos casos de destruição. As notícias percorrem todo o mundo e as autoridades de outros países começam a ficar preocupadas. As tensões internacionais são suspensas e é decretada a emergência planetária: o planeta e a vida humana correm perigo e, por isso, todas as nações aliam-se para elaborar planos que visam destruir o inimigo comum.
4. Novas atrocidades. Mas todas essas tentativas de destruição da Coisa fracassam, enquanto novas atrocidades são difundidas pelos mass media: cidades inteiras são destruídas pelos invasores e/ou evacuadas, as forças policiais ou armadas são dizimadas, geralmente pelo fogo, e todos os ataques dos homens contra a Coisa, usando os armamentos e as tecnologias mais avançados, fracassam. As multidões fogem, atropelam-se, são perseguidas e, nas pontes, empurradas pelas forças de segurança. A Coisa vence, fazendo inúmeras vítimas, e anexa cada vez mais território: o desespero total instala-se entre os humanos confrontados com a sua extrema fragilidade diante dos poderes da Coisa.
5. A vitória final. Os humanos realizam novas conferências: a Coisa tem de ser vulnerável a algo. Geralmente, a estratégia final da qual dependem todas as esperanças da humanidade é traçada pelo herói que trabalhou sozinho, no seu laboratório, nesse sentido: constrói-se uma arma todo-poderosa e o cronómetro inicia a contagem regressiva. Os monstros ou os invasores são finalmente repelidos ou vencidos. Os humanos congratulam-se pela vitória, mas nada garante que algures no espaço cósmico frio e escuro, nas profundezas da Terra ou nas suas regiões geladas ou desconhecidas hajam outros monstros capazes de retomar a invasão e a destruição.
Os filmes de ficção científica não tratam de ciência, mas falam unicamente de catástrofe. Na representação imediata do extraordinário, como o desabamento de arranha-céus ou a guerra nuclear, os filmes de ficção científica proporcionam não um exercício cognitivo, mas sim a elaboração sensorial, permitindo ao público participar da fantasia de sobreviver à nossa própria morte, à destruição das cidades e de planetas e à aniquilação da própria humanidade. A catástrofe é a visão da catástrofe e a catástrofe é vista mais de modo extensivo do que de modo intensivo: a beleza revela-se precisamente na estética da destruição, isto é, nas imagens de destruição. A catástrofe constitui um dos maiores temas da arte, talvez porque na catástrofe está em jogo a própria sobrevivência da humanidade e da sua aventura cósmica e a sua capacidade de saber - ou não - fazer frente à possibilidade da sua própria aniquilação. Os lançamentos das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, bem como a guerra fria, marcaram fortemente a imaginação da catástrofe: as vítimas da radiação ocuparam um lugar de relevo nos filmes de ficção científica, que ajudaram a difundir a ideia de que todo o mundo pode ser destruído por testes e guerras nucleares, e a canalizar a belicosidade humana para o desejo de paz. Quando a Terra é invadida por forças alienígenas, as potências beligerantes da Terra suspendem os seus conflitos e unem-se para combater o inimigo alienígena. A fantasia da união na guerra foi, durante esse período de guerra fria, a fantasia das Nações Unidas, a qual aparece associada à fantasia utópica: o sonho de um mundo melhor ou, simplesmente, a utopia de uma comunidade mundial totalmente pacificada e regida pelo consenso científico.
O elemento utópico que opera velada ou desveladamente no cinema de ficção científica liga-se intimamente às narrativas milenares do apocalipse. A imaginação da catástrofe é essencialmente a expectativa do apocalipse. Antes de 1500 a.C., diversos povos antigos acreditavam que o mundo tinha sido, no começo dos tempos, organizado e colocado em ordem por um ou mais deuses. A segurança observada no mundo era sinal não só da sua imutabilidade, como também da existência de uma ordem estabelecida nos céus. Apesar dessa imutabilidade atribuída ao mundo, a ordem nunca foi completamente tranquila: forças malignas e destrutivas ameaçavam constantemente o mundo. O mito do combate relata precisamente esse conflito entre a ordem universal e as forças que a ameaçam invadir e destruir. Neste mito do conflito entre o cosmos e o caos, um jovem herói ou guerreiro divino recebeu dos deuses a missão de manter e conservar sob controle as forças do caos. O cumprimento dessa missão era recompensado com a soberania sobre o mundo. Porém, entre 1500 e 1200 a.C., Zoroastro rompeu com a visão estática do mundo, mediante a reinterpretação da versão iraniana do mito do combate: O mundo caminha e aproxima-se gradualmente, através de incessantes conflitos, de um estado final sem conflitos e antagonismos. Este estado será alcançado quando o deus supremo e os seus aliados derrotarem, numa fantástica batalha final, as forças do caos e os seus aliados humanos, aniquilando-os para sempre. Só depois desta batalha final a ordem divinamente estabelecida será absolutamente real e presente. Dado os sofrimentos, as necessidades, as misérias físicas e os inimigos serem definitivamente abolidos, reinará a unanimidade absoluta na comunidade dos redimidos e a ordem do mundo não voltará a ser perturbada ou ameaçada. A doutrina de Zoroastro influenciou não só o judaísmo e o cristianismo, como também muitas ideologias políticas seculares e o próprio cinema de ficção científica. Mas, como vivemos num mundo abandonado pelos deuses, a imaginação da catástrofe transfigurou-se numa tragédia, na textura da qual se joga o destino da humanidade abandonada a si mesma e o fim do mundo tal como o conhecemos. As forças do caos são produzidas pela própria acção humana: o caos que ameaça destruir o homem e a natureza é, em grande medida, antropogénico. Abandonado pelos deuses, o homem torna-se problemático e sente-se completamente só num universo aparentemente despovoado. Esta angústia da solidão leva-o a sondar o universo em busca de seres extraterrestres e de vida fora da Terra, e é precisamente esta busca ansiosa que o cinema de ficção científica retoma para reformular o tema da batalha final como colisão de mundos ou como conflito entre a humanidade e as forças alienígenas que a ameaçam invadir e destruir. Porém, como veremos mais adiante, este confronto final reflecte a problematicidade das relações entre o homem e o mundo tecnoburocrático que criou: as forças alienígenas mais não são do que as projecções imaginárias dos artefactos antropogénicos, tais como a burocracia impessoal, a bomba atómica e as armas nucleares e biológicas, que ameaçam destruir e aniquilar a própria humanidade e a Terra. Os produtos produzidos pelo homem viram-se contra o produtor: o homem perdeu o controle sobre o mundo que criou. Além de estar só, o homem moderno produziu um mundo que lhe aparece como absolutamente estranho e no qual se sente frágil, estranho, alienado e ameaçado.
A concepção da ambivalência da ciência atravessa quase todos os filmes de ficção científica: a ideia predominante é a de que um cientista pode libertar forças que, se não forem controladas ou mesmo destruídas, ameaçam destruir o próprio homem e o seu mundo. O cientista tende a ser visto simultaneamente como um demónio e um salvador e a ciência como uma actividade social dotada de duas faces, tal como o deus Janus: a ciência é sempre uma aventura arriscada, porque tanto pode fornecer uma resposta tecnológica eficaz ao perigo que ameaça a natureza e o próprio homem, como também pode ser usada para os destruir. Um filme de ficção científica não é necessariamente uma apologia cega da ciência e da tecnologia, porque nele se revela quase sempre a possibilidade deste duplo-uso da ciência: o uso humano e a obsessão científica, geralmente atribuída à vontade perversa de um cientista isolado ou aos interesses mesquinhos de grandes corporações económicas e militares. O uso perverso da ciência evidencia-se no caso em que o cientista deserta da sua equipa para se juntar aos invasores extraterrestres, pelo facto da sua ciência ser mais avançada do que a nossa, ou no caso em que o cientista realiza descobertas e experiências arriscadas ou cria monstros sem levar em conta a sua perigosidade para o futuro da humanidade. A ciência feita por cientistas obcecados cultiva forças extremamente perigosas que os cientistas não conseguem controlar, pondo em perigo a vida humana. Porém, a obsessão científica e os monstros que produz podem e devem ser destruídos pela ciência não ambivalente, isto é, pela ciência colocada ao serviço da humanidade e da vida tal como a conhecemos. A figura do cientista louco tende a ser morta não só pelas suas próprias criações monstruosas, como também por si mesma ou pelos heróis que lutam pela preservação da humanidade. O bom cinema de ficção científica critica os abusos da ciência sem no entanto a abandonar ou trocar por qualquer outra forma de conhecimento.
O cinema de ficção científica oculta uma profunda ansiedade no que concerne à vida contemporânea e esta ansiedade não se refere somente à catástrofe física, à perspectiva da mutilação e da aniquilação universal - o trauma da bomba, mas fundamentalmente ao psiquismo individual. A imaginação negativa do impessoal impregna os filmes de ficção científica: os seres do outro mundo que nos tentam dominar são "a Coisa" e não "eles" e, como coisas, são criaturas semelhantes a mortos-vivos, dotadas de movimentos frios, mecânicos e viscosos. Quando não têm forma humana, movem-se com um impulso absolutamente regular e inalterável. Quando têm forma humana, obedecem a uma rígida disciplina militar e não exibem qualquer característica pessoal. A sua presença ameaça a própria humanidade do homem, porque, se eles nos vencessem, seríamos destituídos da nossa humanidade, triunfando o regime da ausência de emoções, da impessoalidade e da arregimentação. Nas cenas de destruição, as criaturas não matam simplesmente os indivíduos humanos; elas aniquilam as pessoas e, mesmo quando preservam os corpos, transformam completamente as pessoas livres em autómatos escravos ou agentes de potências alienígenas e estranhas. Antes de ser colonizada, invadida ou "tomada" pelas forças alienígenas, a pessoa luta para preservar a sua humanidade, mas, quando o facto é consumado, morre como pessoa sem o saber e mostra-se satisfeita com a sua nova condição. A fantasia da "tomada" ou da possessão quase demoníaca retoma alguns elementos da fantasia do vampiro dos filmes de terror, mas a transformação operada pelo contacto é diferente: em vez de se transformar numa criatura "animalesca" sedenta de sangue, onde se manifesta o desejo sexual, o indivíduo "tomado" ou possuído entra num novo estágio de desenvolvimento, tornando-se mais eficiente, isto é, um ser expurgado de emoções, sem volição, tranquilo e obediente a todas as ordens. A angústia em relação à desumanização e à despersonalização reflecte o medo real que o homem tem de ser transformado pela sociedade estabelecida e pela sua tecnologia numa máquina entre outras máquinas, isto é, numa mera peça de uma imensa engrenagem maquínica - a sociedade tecnoburocrática, cujo controle lhe escapa. O cinema de ficção científica retoma este elemento kafkiano: a metamorfose do humano em insecto como a alegoria derradeira da angústia do ser humano entregue a um mundo sem piedade e a uma civilização técnica que lhe escapa ao controle. O homem que obedece à autoridade impessoal, a da Máquina, sem resistir, acaba por tornar-se um insecto - ou um "cão pavloviano", e, sendo sempre tratado como tal, acaba por pensar, sentir e agir como se fosse efectivamente um insecto, refém da sua "rainha", numa sociedade de insectos.
J Francisco Saraiva de Sousa

108 comentários:

E. A. disse...

AAAAa!
Muito interessante tema, fico à espera :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E é um tema complexo, mas vou tentar evitar entrar no âmbito de certos problemas da estética do cinema: interessa-me somente a imaginação da catástrofe. E não encontro um livro de Arnheim. Quero evitar a visão semiológica de Metz.

carolus augustus lusitanus disse...

Evita isso tudo e fala antes da imaginação da imagem!... pura e dura!
(Não é que a ficção científica não tenha interesse, pelo contrário, mas não sei se haverá necessidade de ficcionar ainda mais o pessimismo (ainda que metódico) perante a iminência de uma qualquer catástrofe)...

E. A. disse...

Sim, à catástrofe, ou representação apocalíptica, também se diz "distopia".

Logo leio com mais atenção! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ainda vai dar trabalho, mas vou ver se apreendo a essência, embora a minha mente se concentre muito em Aliens, Matrix, Mosca e outros mais próximos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, neste post não distingo entre filme e cinema: uso os termos num sentido banal sem os diferenciar, porque julgo que, para o meu propósito neste post, não vale a pena entrar nessa polémica da estética do cinema.

Iacobus disse...

«A angústia em relação à desumanização e à despersonalização reflecte o medo real que o homem tem de ser transformado pela sociedade estabelecida e pela sua tecnologia numa máquina entre outras máquinas.» O mal que esses filmes reflectem acaba por ser, deste ponto de vista que citei, uma projecção de um problema, afinal, interno - da Terra e não do Outer Space. Gostei desta teoria! Sendo que, no filme de ficção científica, o «problema interno» toma uma dimensão alienígena, ou inumana, que nasce do desejo de união entre nações belicosas para o combate de um mal maior.
Conclusivamente: o problema somos sempre Nós, a despeito de todas as projecções.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Exacto, é assim que os vejo e isso era particularmente visível nos filmes produzidos durante o período da guerra fria ou nos filmes japoneses em torno da bomba e das armas nucleares. Mais recentemente, esse temor foi projectado no espaço, dando relevo à angústia do psiquismo individual.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, no sentido desse temor de vir a ser possuídos por forças quase impessoais, o problema somos nós e a própria ambiguidade da ciência, que ainda não tratei. Geralmente, o cientista louco ou o andróide que colabora com as potências alienígenas acaba por morrer; salva-se apenas o herói que nunca desistiu da sua humanidade. Estes filmes criticam a ordem estabelecida: as autoridades acabam por fracassar, mesmo quando usam todo o seu poder tecnológico e organizativo; a salvação é conseguida por indivíduos simples...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Curiosamente no último episódio de Aliens, há uma empatia entre a Coisa e a heroína, dado o contacto íntimo, mas, apesar da humanização da Coisa, ela é destruída..., embora possa ressurgir. Matrix revela mais a ambiguidade da ciência e os perigos inerentes a um mundo tecnológico: o humano é glorificado, apesar da sua fragilidade e das suas ilusões...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Outro aspecto que revela esse temor é a figura do insecto e o seu modelo despersonalizado de sociedade: os indivíduos são reféns da "rainha". Perda de individualidade! Burocracia total!

E. A. disse...

Mas isso q o Francisco diz n é propriamente novidade, está subentendido desde os primeiros filmes de ficação científica, como por exemplo a distopia mais grandiosa de sempre: Metropolis de Fritz Lang de 1927.
Quanto ao Matrix, pode-se ler em muitas chaves... desde Platão a Lacan. É um filme muito precioso nesse sentido.

E. A. disse...

E podemos também ser mais ousados, e pensar numa era-pós-ficção científica, como postulou Baudrillard.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Matrix serve-se de certas concepções de divulgação científica que atravessam a fronteira entre a vida e a máquina, com fortes "mutações psíquicas". É certo que tem elementos platónicos, mas são completamente transfigurados por essas utopias tecnocientíficas, e neste sentido é deveras interessante...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um novo género? Talvez, mas provavelmente seria muito glorificante da ordem estabelecidade, porque aceitar esse elemento ideológico é o mesmo que glorificar o status quo que nos rouba a individualidade e as suas capacidades únicas. Mas penso que o tempo é propício à ficção científica, até porque o cenário do apocalipse é cada vez mais uma ameaça séria: a fragilidade humana e das suas criações face ao poder terrivelmente sublime da natureza revoltada contra o seu uso instrumental...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Porém, a ficção científica revela que os feitiços criados pelo homem podem virar-se contra o feiticeiro, isto é, o próprio homem: o homem não só se aliena nas coisas que cria, como também pode vir a ser destruído por elas. Esta angústia está bem patente no cinema de ficção científica, incluindo Matrix.

Iacobus disse...

Às vezes apetecia-me que os «maus» ganhassem. É que esses filmes - e Hollywood faz o que lhes dá dinheiro, claro - caem, às tantas, na lamechice e na falsidade. Os humanos, é o que vejo estar por trás desses filmes, passam a vida a arranjar desculpas para se livrarem de algum sentimento de culpa. O que esses filmes tb nos dizem é que: fazemos merda, mas não faz mal... Ao fim e ao cabo acabam por ser descaradamente lenitivos. Só para dizer que há neles uma falata de assumpção e consciência. No fim do filme, foi feita a catarse, e tudo vai bem... Saem da sala felizes e tranquilos. No fundo, esses filmes de glorificação humana, não contribuem para um ser humano melhor, porque lhes perdoam as faltas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, a qualidade estética dos filmes varia muito e nem todos obedecem a padrões elevados de qualidade. Mas os melhores não transmitem essa ideia de que os acusa: Em Aliens há claramente uma revolta contra os interesses das corporações económicas e militares e esse protesto está presente noutros filmes de qualidade. Os cientistas loucos que pactuam com as forças alienígenas não são desculpados; geralmente são as primeiras vítimas dos seus erros ou ambições ou morrem no final, algumas vezes para expiar o mal que produziram.

E. A. disse...

È um novo género já existente, q não apresenta um universo alternativo, mas uma transformação deste. O Matrix pode-se integrar (apesar de ser baseado no "Simulacra and Simulation" do Baudrillard, este disse que os Wachowski n tinham percebido o ensaio); mas tb o Crash e o eXistenZ do Cronenberg; o Blade Runner, etc.

Iacobus disse...

sim, nem todos. Referi-me a Hollywood sem especificar, às coisas que se fazem ultimamente. Naqueles em que o que digo não acontece, não serão alvo da minha acusação, claro.

E. A. disse...

Sim, concordo com o Tiago. Poucos são os filmes de ficção científica bons (além obviamente do aspecto técnico dos efeitos especiais).

E. A. disse...

São uma receita de bilheteira fácil, muito fácil.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Blade não é ficção científica, mas uma fantasia de vampiro de um filme de terror, se estamos a falar dos mesmos filmes, embora nestas últimas versões de vampiros estes lutem com outros semelhantes no sentido de conservar ou alcançar uma nova pureza de raça...

E. A. disse...

O blade runner n é ficção científica? então é o q?

E. A. disse...

Blade Runner d Ridley Scott.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O cinema como indústria cultural é outra coisa que não quis tratar aqui, embora não considere os filmes europeus superiores aos americanos; pelo contrário: o imaginário de Hollywood tem o seu encanto e valor intrínseco, além de ser sucesso garantido de bilheteira.

E. A. disse...

Tá. Mas então, cinja-se aos bons, porque os mauzinhos são todos "iguais" e n ajudam a reflectir a humanidade.

Vou estudar Virilio. Bye

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, esse blade runner é ficção... estava a confundir com outro filme de vampiros e o nome do seu herói...

Iacobus disse...

Acho q o Blade Runner é um marco relevante da ficção cinetífica. Agora não me estou a lembrar do filme todo, mas há lá vampirices? Tenho-o cmg, hei-de revê-lo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não, não há... Confundi com outra série cujo nome esqueci..., com um actor negro!

Iacobus disse...

Ah, o Blade.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Quanto a Matrix, se há de facto alguma caverna platónica no "filme", ela é o inverso da caverna de Platão, embora as pessoas não o vejam desse modo.

Iacobus disse...

Enquanto a abordagem de Platão, relativamente à caverna, é objectiva e explanatória daquilo que o Filósofo pretende, a visão dentro do Matrix parece-me muito mais especulativa: há duas realidades, a humana e a do Matrix, a qual supostamente sobrepõe-se àquela, embora agentes daquela não o aceitem (porque crêem) e lutem pela emancipação (com base no que sentem e acreditam). Essa inversão é-nos dada, julgo, pela posição e ponto de vista dos heróis.

(Bem, e tenho de ir trabalhar. Até logo!)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, Bom trabalho Tiago! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, com algum custo a selecção nacional lá venceu a Albania com dois golos de jogadores do FCPorto: Hugo Almeida e Bruno Alves. Porém, o jornalista da Sic na entrevista a Bruno já estava a fazer veneno, mas Bruno respondeu: "Sou jogador do FCPorto e paramos aqui". Viva o FCPorto! As vitórias da selecção devem-se ao FCPorto... O orgulho de Portugal é o FCPorto, cujo estádio está a receber corridas de carros; vale a pena ir ao Dragão!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Acho que cai na cantiga da vigarista, mas começo a estar preocupado com a miséria que toma conta do país: muitos vigaristas à solta roubam-nos a segurança. :(

E. A. disse...

Ahah... caiu no canto do vigário? Na cantiga do bandido? Ah, pois é, é preciso estar alerta, as privações desenvolvem o espírito da trafulhice.

E. A. disse...

Ontem lá ganhámos, pois foi. O Bruno Alves tem um ar rude e simiesco, mas é atraente. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, foi uma asneira minha. Estava de saída quando lembrei ir urinar, deixando tudo aberto. E, quando ia sair já tinha uma rapariga dentro de casa a dizer que era filha de uma vizinha - que não existe, porque as minhas vizinhas imediatas não têm filhas/os; são da mesma idade praticamente - a pedir dinheiro para pôr gasolina e ir para o emprego. Emprestei-lhe sem nunca a ter visto... É a segunda vez que isso me acontece esta semana. Noutro dia foi um gajo a dizer que era meu vizinho e a querer dinheiro para concertar o carro, mas como foi na rua descartei-o... Moral da história: mesmo de saída não podemos deixar nada aberto, porque somos vigiados sem o saber.

Iacobus disse...

ahahah! duas vezes numa semana? imaginei o filme... O Fellini retrata bem o conto do vigário, filme com o mesmo nome. Sempre servirá para cimentar mais a atenção ;)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Que estupidez a minha, mas na altura pensei que poderia estar mais alguém dentro e, por isso, fui andando para fechar a porta. O argumento da vizinha era demasiado falso!

E. A. disse...

É porque o Francisco é homem; eu sou mulher estou sempre à defesa, tranco sempre a minha porta e não a abro a ninguém, a não ser conhecidos. Tem de ser. É horrível viver-se aprisionado, mas é o mundo q temos!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Nem havia movimento na rua! Não pensei a não ser fazer "xixi" rapidamente... Sim, agora estou blindado! E em estado de alerta! :(

Iacobus disse...

Por vezes é-se vítima das mais claras patranhas... Mas acho nunca me aconteceu...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A mim já e várias vezes, uma das quais aí em Lisboa: queriam ficar com o ouro. Aliás, a partir desse episódio deixei de usar objectos.

Porém, agora circulam vigaristas por todas as esquinas, nomeadamente nas estações de serviço e nas imediações das caixas multibanco. Mas o esquema de pedir emprestado dinheiro já é usado por pessoas minimamente conhecidas, isto é, visualizadas. Não podemos ser muito sorridentes e convém ter o dinheiro disperso.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, o PS volta a vencer as eleições, segundo as projecções nacionais!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O FCPorto também venceu a Taça de Hoquei, aliás a 8ª consecutiva.

Acabou Race of Champions (ROC) mas Portugal não venceu a final.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Agora vem aí o Red Bull Air Race e a competição do circuito Boavista, embora ainda nos falte uma taça, se estou a pensar bem. Enfim, 2 meses sem futebol e novas vitórias! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Afinal, é o PSD que está à frente nas sondagens e o resultado do PS era de prever, dado os erros cometidos pela sua direcção. Os socialistas abstiveram-se e isto porque estão chocados com o PM. E o choque vem de longe... Precisamos de novos políticos honestos e competentes, porque os que temos não nos vão salvar da miséria: todos eles independentemente dos partidos.

Fräulein Else disse...

Ya. O Vital Moreira foi uma péssima escolha. O BE ganhou alguns votos dos desgostosos do PS e elegeu o 3º deputado.
O Pacheco Pereira, assim de repente, mesmo de repente, n parece Marx? ahah :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Eu estou a achar graça às reacções: todas muito ridículas; parecem que falam depois de terem esquecido da cabeça em casa! Temos uma classe política muito fraca e jornalistas deveras "tapados" e muito histéricos...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

De facto, o PS sai derrotado, humilhado e sem ideias sérias destas eleições. Eis muitos dos erros:

1. A escolha de Vital Moreira foi um erro atroz que denunciei aquando do congresso do PS.

2. Mas o discurso de José Sócrates continua a cometer os mesmos erros, de conteúdo e de estilo. Em vez de se demarcar do candidato derrotado e livrar-se desse erro, discursa como se o seu governo ainda tivesse credibilidade: o seu discurso é refutado com os casos que o envolvem. Precisa mudar quase tudo se quiser vencer as eleições nacionais.

3. A lider do PSD fala do discurso da verdade, mas ainda não disse qual a sua verdade quanto ao BPN e BPP. Num mundo sério, o PSD se quiser protagonizar a verdade deve começar por reconhecer a sua responsabilidade na produção da corrupção em Portugal. Caso contrário, é o regresso do mesmo e dos mesmos. O PSD venceu as eleições mas não possui a verdade.

4. Rangel disse que as políticas socialistas foram chumbadas. Sim, nomeadamente a nacionalização do BPN, ou seja, a nacionalização dos prejuízos causados por homens que pertenceram ao PSD e aos seus governos.

5. Em vez de demitir Vitor Constâncio, para evitar um desgaste, o PS manteve-o no Banco de Portugal: um erro estratégico.

6. Em vez de combater a corrupção, mesmo que alguns socialistas sejam corruptos, o PS nega-a, assim como nega estupidamente a má situação da educação, da justiça, da economia. O PS opõe à realidade um discurso delirante, completamente extraterrestre.

7. A democracia tal como a vivemos começa a funcionar muito mal e o facto dos políticos não assumirem essa preocupação mostra até que ponto eles e o povo são farinha do mesmo saco: pessoas falsas, egoístas e delirantes. O Ocidente está a ficar cada vez mais ingovernável. E, neste momento, não há Direita e Esquerda, mas apenas candidatos a cargos tendo em vista o seu benefício privado.

8. Esta crise não vai ser uma oportunidade, mas mais um sinal de decadência ocidental.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

No entanto, o optimismo do PSD é muito precoce: o PS não recebeu os votos dos socialistas do PS (estáveis) que se abstiveram.

As eleições foram eleições europeias: os partidos da oposição que as assumem como vitórias nacionais - governativas - fornecem um mau exemplo ao povo, que se habitua a usar as eleições europeias como voto de protesto.

O governo socialista deve surpreender o povo com uma reformulação do governo e deixando cair certas obras. O seu objectivo deve ser seduzir os seus eleitores fiéis. O resto vem por acrescento e onda. Aliás, já amanhã o governo devia surpreender com uma alteração do governo indicadora da vontade de ir ao encontro dos problemas: o optimismo falso de certos lideres socialistas matou-os... Em tempo de crise, um discurso delirantemente optimista é um suicídio total, como se viu nestas eleições.

A ala esquerda do PS não ajudou o partido; pelo contrário, enfraqueceu-o com as sua velhas ideias tolas e hippies. O discurso dos anos 60 está morto...

O PS precisa investir na imagem dos seus rostos: pessoas obesas e feias não seduzem eleitorado; dão a impressão que trabalham apenas para a banha. É preciso energia total e verdade nua e crua. Limpeza!

Denise disse...

"O PS precisa investir na imagem dos seus rostos: pessoas obesas e feias não seduzem eleitorado"
Ui, estamos agora preconceituosos?
A sedução pela imagem destina-se aos fracos de espírito. Os inteligentes percebem que o sumo tem a ver com atitudes e não com espelhos.


O post está muito interessante, com um excelente ponto de partida ;-)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Obrigado Denise!

Quanto aos obesos, é para livrar a política de pessoas sem qualidade!

Estive a rever algumas teorias do cinema, mas só agora começo a detectar como alguns mestres baralharam conceitos fundamentais. Há tanta coisa que pode ser estudada sem tanta sofisticação conceptual... :)

E. A. disse...

Ya, esse argumento é o mesmo do Berlusconi: levar mais beleza para o parlamento europeu... e vai levar.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Berlusconi não existe!

Denise disse...

A FLUL acaba de publicar um ensaio meu sobre o cinema na literatura
:-)

Denise disse...

Obesidade metafórica, portanto, dos metabolicamente reduzidos: cheios de gás hélio...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Gostava de o ler, mas não tenho essa revista.

Ya, são metabolicamente reduzidos, todos eles; o pior é que estamos numa situação complicada e com esses resultados não vamos sair dela...

E. A. disse...

Berlusconi existem sim e está a dar cabo da Itália, um país que adoro. Saramago tem-no vindo a reduzi-lo àquilo q ele é..., mas e os intelectuais italianos? Anda tudo a dormir??? :(

Denise disse...

Quando chegar a casa envio-lho por mail ;-)

Fernando Cabral Martins é um dos nossos estudiosos do cinema no âmbito da literatura comparada. Conhece?

Denise disse...

Papillom
Berlusconi será um ficção aos olhos do F. : tão absurdo que é impossível ser real. Um insecto kafkiano?

Denise disse...

*Papillon

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, já ouvi falar dele - Fernando Martins. Então, fico a aguardar.


Sim, os italianos são umas bananas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Insecto, verme viscoso, sei lá: é uma assombração; não percebo como se vota nessa criatura patológica e ridícula!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A saúde mental da Europa é preocupante: não sei o que os europeus pensam ou se ainda pensam. Mas se pensam fazem-no à insecto! :)

Denise disse...

Alguém que escape a essa sua acutilância viscosa, Francisco? :))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, as pessoas brilhante e boas.
Para dizer a verdade, nesta eleições abstive-me, porque não gostei de nenhum candidato. Além disso, não se discutiu a Europa. Votar para quê? Para um palerma ir para o Parlamento Europeu tratar da sua vidinha?

E. A. disse...

banana é o F. e daquelas murchas. :P

Denise disse...

O F e os seus ilustres comentadores poderiam criar um partido revolucionário :-P

Regresso ao trabalho...
Tarde boa por aí!

Denise disse...

(Deixe lá Papillon, a banana é um dos meus frutos favoritos. Viva a Itália e os seus belos italianos!)

E. A. disse...

Eu exerci o meu voto democrático!
N é a chamar "insectos" e "roedores" aos outros q se mudam as coisas.

Iacobus disse...

Eu, além de não confiar em estranhos (que é o que eles todos são) não poderia optar por um voto 100% ciente (e de outro modo jamais votaria) porque não estou dentro o suficiente do cenário e da fantochada política (se bem q para o saber, não seja preciso mais), pelo que votei em branco. Mas isto não serve de nada. Talvez mais valesse abster-me de todo.
Também sempre achei como o Francisco,eles estão lá a trabalhar para eles. Uma profissão como qq outra...

E. A. disse...

Bom trabalho Deni, tb tenho de ir :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em termos de banana, sou XL e, portanto, nada murcha. Mas quem vota Berlusconi é banana! Além disso, a Itália não é modelo para ninguém!

E. A. disse...

Mas é património a defender! Somos europeus!

E. A. disse...

É por isso q Saramago o denuncia e todos devemos fazê-lo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Concordo, Tiago: já não dá para confiar; desde que existo os nossos lideres vendem esperança, mas as coisas não mudam, afundam cada vez mais.

Iacobus disse...

Mas também é verdade, se não se fizer nada (e o voto é algo), nada se muda. A História está cheia de mudança que o comprova - fez-se algo. A nossa impaciência é que não é concorde com a demora do tempo... e isso ilude-nos a achar que não vale a pena. Quando acenderem os molotov, chamem-me!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas não falava do património, mas das pessoas que dão votos ao insecto. De resto, tenho amigos italianos divertidos, embora muito alheados da vida real.

E. A. disse...

Então desista e mude-se para New Atlantis, já q é tão "utopista". ;)

E. A. disse...

Mas o q está em causa é o projecto europeu, o património espiritual e cultural.

Iacobus disse...

Nova Atlantis, do Francis Bacon... Lá tinham aquele método da piscina, onde os casais, antes de se casarem, miravam-se. O Francisco, com a sua XL, era logo escolhido pela mirone! :D

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não, sou realista, porque, se os lideres fossem bons, alguma coisa boa tinha sido feita. Ora, esses sinais de boas acções faltam e, o que é pior, estamos a desacreditar na veracidade deles. A corrupção domina aqui e em Itália, etc.!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas qual a força do Parlamento Europeu? Quem manda na Europa? Por isso, esses temas deviam ter sido debatidos e não foram.

E. A. disse...

Sim, é verdade, uma das coisas que se escamoteia... por interesse, claro está, é que a máfia italiana não é um problema italiano... toda a gente q conheça um mínimo das organizações criminosas que povoam a Itália - e o heróico Roberto Saviano ajudou-nos a isso - sabe que os diferentes grupos mafiosos têm ligações com a União Europeia e com instâncias elevadas da Europa. É um problema comunitário! De todos nós!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, essa é uma utopia demasiado tecnológica e, face à destruição da natureza, sou mais contido em relação à tecnologia.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Claro, por isso o Presidente checo estava de cuecas e na piscina com as meninas nuas! Política porno-sexual! Seduz-se pelo sexo e não pela palavra: Itália abastece Europa de meninas do sexo! Política = prática de sexo. Tou a ser irónico...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Além disso, depois da queda do império, os romanos nunca mais voltaram a ser verdadeiramente grandes: uma cultura viva! A criatividade foi para o Norte; agora não sei onde está; perdeu-se...

E. A. disse...

Estava de cuecas pq tem banana S, e n queria desapontá-las desde logo.

E. A. disse...

Quero lá saber da criatividade - conceito, de resto, economicista. 80% do património cultural mundial está no território italiano e o q me interessa a mim é preservar a memória do Ocidente.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, deve ser isso... Mas tudo isto é muito incrível! Porém, o Parlamento Europeu vai gemer com tantas "ninas" a soletrar "mmmmm". :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, os sismos vão devorar esse património! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Porém, a maior património de uma Cultura são as pessoas brilhantes, sem as quais o resto são cacos!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Ocidente sem ocidentais gloriosos não é nada! Não existe!

E. A. disse...

E então isso é dever de todos nós - quem são os "brilhantes"? Os eleitos? Os intelectuais podem denunciar, é esse o seu dever... como faz Saramago, o exemplo q dei... mas neste momento precisamos mais de heróis corajosos e honestos, dispostos a sofrer pela comunidade.

E. A. disse...

E esqueça a "glória"... isso é vanitas vanitates... devemos deixar de ser egoístas e pensar em conjunto, esse é q é o desafio de hoje.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Else devia ter visto um documentário que passou ontem na RTP1 sobre a saúde da Terra. Sabia que os países com mais recursos naturais são os mais pobres? A escassez de h2o que já se faz sentir na Indía! O crescimento absurdo da população mundial e o esgotamento da Terra nestes últimos 50 anos!

Havia um contrasenso no documentário: a Terra não pode sustentar a população mundial. A explosão demográfica é um problema real e o que aconteceu na Ilha da Páscoa vai acontecer novamente. Ora, nós ocidentais devemos estar preparados e bem fortes para fazer face a essa catástrofe social e natural. Ninguém quer a nossa cultura: eles querem comer e devorar, tal como fazem os ocidentais metabolicamente reduzidos. Sem pessoas cultas não há cultura: os livros podem ser rasgados e usados para limpar o c... do terceiro mundo ou do mundo emergente. Cultura é esforço e sacrifício. Ora, nem as moléculas ocidentais actuais, nem os outros querem esforço ou cultura.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sem um Ocidente forte e militarizado, o mundo caminha para a catástrofe! O oceano está esgotado, os solos estão improdutivos, a desertificação avança, os gelos derretem, os recursos de h2o estão a esgotar-se, a biodiversidade recua... Quem pode defender esse património natural sem o qual a vida é insuportável? Os emergentes? É preciso usar a biotecnologia para travar o crescimento mundial: mais vale salvar uma floresta do que uma população humana! Realismo total: precisamos disso...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E de modo directo sem diplomacia: os não-ocidentais não me interessam enquanto quiserem seguir um modelo económico perigoso e não forem capazes de travar a sua explosão demográfica. Essas multidões são anticultura viva, antinatureza total! São a negação do meu sonho azul ocidental! Não posso ser solidário com o inimigo!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Além disso, eles são um arquivo potencial de novas doenças e novos virus: a existência deles é foco de epidemias!

E o humanismo não pode resolver tais problemas: não temos meios e a Terra recusa-os, porque está devastada e esgotada. Daqui a algum tempo não podemos comer peixe. Os pobres animais não atingem a idade adulta: são irracionalmente devorados para manter vivos os párias, os inutéis... Estou farto dessas tretas humanistas e solidárias!

E. A. disse...

Hmmmm... n posso concordar consigo. Defendo o Ocidente, mas defendo uma comunidade total. E o q está a acontecer, tem a ver connosco, é da responsabilidade de todos. Realmente, um dos problemas globais de hoje é a sobre-população e sobre-consumo, é assustador o crescimento demográfico por dia, por ano... mas devemos arranjar soluções consensuais e não fecharmo-nos numa gaiola dourada... somos todos irmãos, e estamos neste redemoinho juntos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ver rios que já não desaguam no mar, como o Jordão e outros, é muito triste: eles precisam de uma reforma cultural, porque se refugiam nas cidades sem trabalho e sem condições sanitárias e fazem aquilo que todos fazem quando se tem tempo livre: sexo mas com reprodução. Não temos meios para os sustentar e a Terra já não os dá... Que fazer? Fechados não podemos estar, porque seremos invadidos, como já acontece...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, se todos quiserem mudar de modelo de sociedade, controlando o crescimento demográfico e protegendo a natureza, nesse caso poderíamos falar numa comunidade mundial virtual sem grandes circuitos de fluxos entre as partes: o mundo devastado deve ser mostrado, não o falso e irracional ecoturismo. Turistas são lixo!

Porque uma das barreiras à comunidade mundial é etológica e biológica: juntar todos no mesmo espaço gera necessariamente conflitos; em caso de desgraça, os culpados são os "estrangeiros", como observou Simmel. Devemos tb conservar algumas barreiras ecológicas: protegem-nos da doença.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

No entanto, a Europa deve recuperar terreno na América Latina e criar um eixo atlântico no qual os africanos podem e devem participar. Tudo isso deve ser bem pensado e devemos caminhar devagar mas com passos seguros: mudanças culturais são muito de-moradas!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Brasil pode servir de exemplo: o André sabe isso melhor que nós!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Vou fazer um post sobre filosofia da fotografia: como filosofia da liberdade num mundo programado. Isto significa que vivemos num mundo mágico, ou seja, magicizado pela fotografia e pelo cinema. Este mundo pós-histórico é dominado pela hegemonia das imagens, o que significa colapso dos textos. Se isto fizer sentido, a crítica precisa ser repensada: crítica como desmagicização? Se for isto, teremos exorcismo do exorcismo, do qual não sou alheio. O problema é pertinente para a elaboração da cyberfilosofia: vivemos num mundo programado e somos funcionários dos aparelhos técnicos, os quais são caixas-pretas.

Mas antes tenho noite de eleições...