domingo, 14 de fevereiro de 2010

Conversando com Hannah Arendt

«Ao interpretar a tradição do pensamento político e conduzi-lo ao seu termo, é de importância decisiva o facto de Marx contestar não a filosofia, mas a sua alegada impraticabilidade. Contesta a resignação dos filósofos que não fazem mais do que descobrir um lugar para si próprios no mundo, em vez de transformarem o mundo e o tornarem, por assim dizer, filosófico. E isto não é apenas mais, mas também decisivamente diferente do ideal platónico de filósofos que governam como reis, porque implica não a dominação do governo da filosofia sobre os homens, mas que todos os homens se tornem, por assim dizer, filósofos. A consequência que Marx extraiu da filosofia da história de Hegel foi que a acção ou praxis, ao contrário do que pretende a tradição, estava tão longe de ser o oposto do pensamento que era o seu veículo verdadeiro e real, e que a política, longe de estar a uma distância infinita da dignidade da filosofia, era a única actividade inerentemente filosófica». (Hannah Arendt)
A Filosofia e a Política são domínios exclusivamente masculinos e, como estava ciente disso, Hannah Arendt rejeitou ser tratada como uma filósofa. No entanto, se há mulher que mereça esse título, essa mulher só pode ser Hannah Arendt, que procurou pensar a tradição política do ocidente nas suas relações com a filosofia, em vez de professar qualquer tipo de feminismo. O seu desprezo pela vida laboral e doméstica - a esfera privada onde os homens são escravos da necessidade - permitiu-lhe facilmente aceder à dignidade da filosofia e da vida pública: «a polis era para os gregos, como a res publica para os romanos, antes de mais a garantia contra a futilidade da vida individual, o espaço protegido contra essa futilidade e reservado à relativa permanência, senão à imortalidade, dos mortais». A admiração de Arendt - que ultrapassa a de Maquiavel - pelo mundo grego e romano determina a sua definição da política: o político é entendido no sentido da antiga polis, tal como a teorizou Aristóteles. Na experiência da polis, «a ênfase passou da acção para o discurso, e para o discurso como meio de persuasão, não como forma especificamente humana de responder, replicar e enfrentar o que acontece ou o que é feito. O ser político, o viver numa polis, significava que tudo era decidido mediante palavras e persuasão, e não através de força ou violência. Para os gregos, forçar alguém pela violência, ordenar em vez de persuadir, eram modos pré-políticos de lidar com as pessoas, típicos da vida fora da polis, característicos do lar e da vida em família, na qual o chefe da casa imperava com poderes incontestados e despóticos, ou da vida nos impérios bárbaros da Ásia, cujo despotismo era frequentemente comparado à organização doméstica». Para reclamar a autonomia da política, Arendt identifica a esfera política com a esfera pública: a liberdade e a igualdade situam-se exclusivamente na esfera política e nesse mundo comum «em que entramos ao nascer e que deixamos para trás quando morremos». (:::)
A teoria política de Hannah Arendt decorre da sua concepção da condição humana que é tributária do pensamento grego: «A tarefa e a grandeza potencial dos mortais têm a ver com a sua capacidade de produzir coisas - obras e feitos e palavras - que mereceriam pertencer e, pelo menos até certo ponto, pertencem à eternidade, de modo que, através delas, os mortais possam encontrar o seu lugar no cosmos onde tudo é imortal excepto eles próprios. Devido à sua capacidade de realizar feitos imortais, por poderem deixar atrás de si vestígios indeléveis, os homens, apesar da sua mortalidade individual, atingem o seu próprio tipo de imortalidade e demonstram a sua natureza "divina"». Os homens - as únicas coisas mortais que existem - distinguem-se dos outros seres da criação pela sua procura da imortalidade (1), que só pode ser plenamente realizada pela acção (2), levada a cabo na presença dos seus iguais (3) e no mundo comum que partilham, para que um vasto grupo de espectadores possa transmitir a memória dessa acção, tal como Homero retratou Aquiles como «o autor de grandes feitos e o pronunciador de grandes palavras». Para Arendt, a política é a forma mais elevada da acção, ou seja, a arte que ensina os homens a abandonar o trabalho e o labor e a «produzir o que é grande e radiante»: a procura da imortalidade só pode ser atingida na esfera pública, onde o homem pode movimentar-se livremente entre os seus iguais. A presença de outros homens, dotados da capacidade de julgar as suas acções, é fundamental para assegurar a imortalidade: os feitos imortais dos homens de acção, que preferem a fama imortal às coisas mortais, sobrevivem graças ao testemunho dos seus iguais. Hannah Arendt aplica a diferença entre o homem e o animal à própria espécie humana: «só os melhores, que constantemente provam ser os melhores e que "preferem a fama imortal às coisas mortais", são realmente humanos; os outros, satisfeitos com os prazeres que a natureza lhes oferece, vivem e morrem como animais». Para Arendt, as fontes do valor e do sentido encontram-se na própria acção: o homem define-se agindo e transformando a sua natureza numa realidade tangível, sob a forma de feitos imortais, e, tal como Aquiles, deve morrer jovem, deixando atrás de si uma história e uma identidade que lhe garantam a fama imortal. O homem deve arriscar a sua vida e, acima de tudo, escolher uma vida curta e uma morte prematura, porque, ao não sobreviver à sua acção de grandeza, se afasta das suas possíveis consequências. (:::)
O pensamento político de Hannah Arendt move-se rebeldemente no seio desse grande continente descoberto por Hegel e Marx: o continente da história. Arendt vê em Marx o último filósofo político do Ocidente, que, apesar disso, se mantém ainda na tradição iniciada por Platão: a inversão das categorias da tradição e da sua hierarquia de valores fundamentais, operada por Marx, conduz a tradição ao seu termo. Marx inverte Hegel, tal como Nietzsche inverte o platonismo, mas a ruptura de Marx com a tradição é levada a cabo dentro do quadro da tradição, porque Marx nunca duvidou da relação dialéctica entre o pensamento e a acção política enquanto tal: a filosofia que sempre-já interpretou o mundo pode e deve orientar a praxis da sua transformação. O confronto de Hannah Arendt com Marx varia e oscila muito ao longo da sua densa obra, sem no entanto encobrir a sua enorme admiração por Marx, o leitor atento de Aristóteles. Arendt censura a tradição da filosofia política - de Platão até Marx - de confundir o governo com a autoridade: o poder foi sempre definido como a dominação do homem sobre o homem, donde resulta a divisão da comunidade em governantes - aqueles que mandam - e governados - aqueles que obedecem. Wright Mills, Max Weber e Bertrand de Jouvenel igualam o poder político com a «organização da violência», porque, segundo Arendt, aceitam a teoria marxista do Estado - aperfeiçoada por Lenine - como instrumento de opressão da classe dominante. Lenine mais não fez do que aprofundar a teoria marxista do Estado, posteriormente alargada por Gramsci, Althusser e Poulantzas, por oposição à concepção pequeno-burguesa que reduz o papel do Estado à tarefa de conciliar as classes sociais: «Segundo Marx, o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação de uma "ordem" que legaliza e consolida a opressão, moderando o conflito das classes» (Lenine). Max Weber desenvolve um conceito de Estado muito similar ao de Marx: «O Estado, como todas as associações políticas que o precederam historicamente, é uma relação de domínio de homens sobre homens, suportada por meio da violência legítima (quer dizer, da que é encarada como tal). Necessita, pois, para subsistir, que os dominados acatem a autoridade que aqueles que dominam nesse momento pretendem ter». A teoria do totalitarismo de Hannah Arendt obrigou-a a eliminar o conceito de ideologia, o único conceito capaz de explicar a reprodução da sociedade e da sua forma de dominação, sem recurso à força ou à violência física. Nem Marx, nem o seu discípulo Weber, defendem a ideia de que o Estado mantém a ordem fazendo uso constante da violência física, e Hannah Arendt sabe isso, porque, além de deslocar o problema das relações entre poder e violência para a violência revolucionária - a parteira da História (Engels), tal como a preconizaram Mao Tsé-Tung, Sorel, Pareto, Fanon e Sartre, afirma que, para Marx, «todos os sistemas jurídicos positivos são ideologias, pretextos para o exercício da dominação de uma classe sobre a outra». O domínio das leis é profundamente ideológico, usando a força para restabelecer a ordem sempre que esta seja ameaçada. Com o recurso abusivo a Montesquieu, Hannah Arendt elabora uma concepção reificadora do sistema jurídico: as leis são vistas como factores estabilizadores da ordem que impera presentemente na sociedade e a sua função consiste em conciliar o conflito de classes, retirando os meios e os processos de luta aos oprimidos no combate político pelo derrubamento da opressão. A noção marxista de poder como dominação transfigura-se assim - mediante esta operação de terminologia travestida de Arendt - na aceitação voluntária - o acordo comum - da própria dominação. O poder, tal como Arendt o define, implica que a maior parte dos homens abdique de participar na esfera política: o poder é a «capacidade humana não somente de agir mas de agir de comum acordo. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e existe somente enquanto o grupo se conserva unido». Quando afasta da esfera política a pobreza e a questão social, Arendt revela o seu conservadorismo: travar através do sistema jurídico petrificado a chamada lei da História, a lei do movimento, a lei da mudança social qualitativa, ou seja, imobilizar a história, negando-a aos oprimidos e libertando-a como palco onde os seus Aquiles procuram a fama imortal em feitos e palavras e estabelecem um corpo político potencialmente imortal. Hannah Arendt tem uma concepção estática e eleática da sociedade e o seu pensamento político é mera glorificação ideológica da dominação: a divisão entre dominar e ser dominado, entre mandar e obedecer, entre punir e ser punido, entre humilhar e ser humilhado, entre mentir e ser enganado, entre vigiar e ser vigiado, entre agir e ser agido, entre oprimir e ser oprimido, que, segundo Marx, se funda na divisão entre explorar e ser explorado, não é superada por esta reformulação do conceito de poder. Arendt afasta tudo isso da esfera política, de modo a garantir a continuidade catastrófica da história dos vencedores (W. Benjamin), mediante a exclusão voluntária da vida pública do amplo sector trabalhador da comunidade, convidado a dar alegremente o seu assentimento às actividades heróicas dos construtores de grandes obras imortais. O acordo pacífico almejado por Arendt significa o apoio e o consentimento voluntários da dominação: os oprimidos aceitam continuar a ser oprimidos por aqueles que fazem coreografias políticas no espaço público. A sua concepção da morte como experiência antipolítica reforça a aceitação da desigualdade social: a morte iguala todos, mas os heróis podem fugir dessa igualdade perante a morte, escapando à futilidade do reino da necessidade e procurando imortalizar os seus feitos e as suas palavras. Reduzindo a política à procura da imortalidade, num espaço público que exclui a maioria dos homens condenados ao ciclo infernal das trocas metabólicas com a natureza e à vida da labuta, Arendt condena essa humanidade - a esmagadora maioria dos homens - a uma existência inumana de escravidão.
O elemento conservador que se entranha no pensamento político de Hannah Arendt neutraliza todos os seus momentos de apreensão verdadeira da realidade política: os conceitos de tradição e de autoridade - bem como o acto político da sua fundação - estão desde logo maculados pela sua utopia conservadora, na medida em que o respeito para com a pessoa ou o cargo a que se aplica a autoridade exige a obediência cega e a força vinculativa à ordem estabelecida. (:::)
Hannah Arendt tentou substituir as grandes narrativas da modernidade - desencantamento do mundo, alienação do homem, secularização - por outra grande narrativa dos tempos modernos: a processualização do mundo, resultante da expansão da capacidade humana para agir na natureza e na história - o domínio tecnológico unificado, mas fica assustada e recua. Afinal, quase todos os filósofos políticos recuaram e, levando em conta os seus critérios, a sua narrativa é somente mais uma perspectiva. Nietzsche usou a expressão pensamento perspectivista para designar o pensamento que resulta do colapso da autoridade da tradição: «um pensamento capaz de se mudar deliberadamente de um lugar para outro dentro do contexto da tradição e capaz de o fazer de tal maneira que tudo o que antes era considerado verdadeiro assume agora o aspecto de uma perspectiva, contra a qual deve existir a possibilidade de uma multiplicidade de outras perspectivas igualmente legítimas e igualmente fecundas». A filosofia é mesmo complicada. Enfim, estamos perdidos e condenados: perante esta lógica imanente do processo, não podemos ser optimistas.
(Em construção) J Francisco Saraiva de Sousa

32 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Andava com a pulga atrás da orelha e, a brincar, descobri as lacunas de Arendt, mas tenho estado em crise e, por isso, não posso estar ao computador a escrever. Logo que melhore preencho os tópicos críticos. :)

Unknown disse...

Descobriu as lacunas? :O
Ter sido amante dum cepo como o heidegger é logo uma bem grande :P
Vou ficar no aguardo..


Entretanto, 2 links interessantes q pode querer tb checar :)

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090130_venezuela_social_cj_cq.shtml


http://centrodealerta.org/



asta 0/

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, tenho estado em polémica no meu blogue neurofilosofia. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, Hannah Arendt sentiu-se atraída inicialmente pela inteligência e pela imagem de Heidegger, mas o reinvestimento nessa relação escondida só pode significar que ela apreciava as piladas que ele lhe dava. Ora, a lógica da sessão de piladas escapa ao pensamento: só eles sabiam o que se passava entre eles. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Eu aprecio o pensamento de ambos, sobretudo o pensamento político de Arendt que captou problemas que são os nossos. Penso que o problema dela está no facto de não ter dado um conceito de poder. Marx diz: poder é dominação de classe. Ela tenta criticar mas não consegue, porque o poder é efectivamente dominação e esta não é uma criação da filosofia política. Os filósofos não inventaram a dominação: fornecem-lhe o conhecimento e podem criticar determinados tipos de dominação, de modo a gerar um movimento de libertação. Outro pecado dela é ter reduzido a esfera política a um número reduzido de pessoas: a Grécia inspirou Marx e Arendt, mas há uma diferença entre ambos: Marx deseja libertar todos e acabar com a dominação. Arendt tenta reduzir a noção marxista de homem ao labor: aqui está o erro fundamental e capital, porque essa noção é estranha ao marxismo de Marx. Arendt exclui a pobreza e a questão social da política: deixa a dominação em paz! Marx está mais próximo da verdade...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, ela tenta salvaguardar a política da violência e não percebe o conceito de Weber: nenhum Estado se impõe pela violência física - exclusivamente, e é isso que significa a noção de uso legítimo da violência. O erro de Arendt reside no facto de não ter captado a violência ideológica. A sua concepção de totalitarismo levou-a a descartar o conceito de ideologia e, desse modo, ficou privada da capacidade para compreender o poder. E ela tem noção disso, até porque aprecia as revoluções...

Gustavo Piovezan disse...

oie, tudo bem?!?!? eu estou lendo a condição humana dela... gostei do post, vou pegá-lo emprestado para meu blog, ok?!?!?
até mais

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá

Ok, mas ainda não está concluído. Logo que tenha tempo concluo este post.

Sim, a condição humana é uma obra muito importante e bastante original. Nela Arendt faz a crítica de Marx, mas essa crítica é substancialmente alterada em obras posteriores. Para todos os efeitos, precisamos retomar esse diálogo produtivo entre Marx e Arendt. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, apesar de estar a viver uma crise de movimentos restringidos, devido à dor lombar, assisti ao jogo: o FCPorto venceu o Arsenal por 2-1 na liga dos campeões. O segundo golo do Falcão foi deveras inteligente e maroto mas bem pensado. Aliás, Falcão é um jogador inteligente e a sua inteligência faz falta ao futebol. A primeira parte vi-a com outros dragões, a segunda vi em casa na cama: já não conseguia estar de pé.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, quem está a estragar a qualidade do futebol nacional é o apito encarnado da Liga e da sua comissão disciplinar: já nos roubaram dois penaltis, um no fogo com o Leixões e outro com o Paços de Ferreira. Detestei o anti-jogo do Leixões. Com esta batota não vamos longe: antijogo deve ser punido.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O FCPorto precisa encarar os adversários de cima, ser controlado emocionalmente, desenvolver inteligência de jogo (que por vezes falha) e fulminar os adversários, fazendo jogo cínico. E os adeptos precisam proteger a equipa e os seus jogadores, massacrando os rivais da merda. Chicotada psicológica permanente! E lá bem ao longe o que entenderem fazer para degradar o adversário!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ai, ai, esta mulher vai exigir algum trabalho: aceito a crítica que Arendt faz da sociedade presente e do seu ideal de felicidade que posso definir como a autonomia da política em relação à economia. Aceito que Marx abriu as portas à invasão da política pela economia. Mas não aceito que Marx tenha identificado o labor e o trabalho. A noção marxista de praxis mostra desde logo a falsidade de uma tal identificação, ao mesmo tempo que permite pensar a autonomia da política. Porém, reconheço que no seio da esquerda circulam ideias completamente erradas. É muito difícil articular as diversas linguagens da filosofia política...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mais - Arendt é inteligente quando usa o princípio de Heisenberg para desmistificar a ciência e mostrar o predomínio da tecnologia, mas o que diz pode ser aplicado ao seu próprio pensamento - mais outra perspectiva. Ela só pode ser recuperada com a introdução do conceito de ideologia. A despedida da ideologia significa totalitarismo - pensamento único e exclusivo. Arendt não percebeu que a autonomia da política não pode ser pensada como se esta fosse uma esfera alheia à sociedade, aliás um conceito (sociedade) que Marx não usa. Para fazer política, o homem precisa libertar-se violentamente da necessidade e ocupar o espaço público, mas esta libertação é desigual, porque alguém fica cativo na esfera privada para satisfazer as necessidades dos homens públicos. Além disso, Arendt quer libertar a política do governo que implica a distinção entre governantes e governados. Ora, Marx também desejou algo idêntico, mas por outro caminho. Para todos os efeitos, o que deve ser revisto é a utopia e não tanto a teoria que a suporta: a utopia de Arendt exige que a maioria dos homens abdique da política, confiando-a a meia dúzia de figuras. Arendt diz que Marx fez do direito uma ideologia e o direito é uma ideologia com componente moral. Mas isso não implica a abolição do direito: o ideal seria a sua interiorização, de modo a não precisarmos de tanta regulamentação externa. Uma vida não regulamentada é a nossa utopia-meta.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Claro, vendo a Quadratura do Círculo e Pacheco Pereira em permanente acção de calúnia ou escutando a entrevista de Manuela Ferreira Leite na RTP1, ficamos cientes de que estamos longe dessa utopia-meta - a lei exterior e a sua força são necessárias para nos proteger desse discurso mentiroso que deita fora o Estado de Direito. O PSD, se não se livrar desta antipolítica, está condenado à loucura! O PSD não conquistou credibilidade: o seu jogo é completamente antipolítico e louco. Ninguém acredita neste PSD...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O que disse não foi para defender José Sócrates: a antipolítica do PSD reforça o poder de JSócrates e do centrão instalado nas grandes empresas públicas, tais como a PT.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Só há uma maneira de acabar com a corrupção - descentralizar e regionalizar a todos os níveis. Cada região deve ter os seus órgãos públicos, os seus meios de comunicação, incluindo tv regional, e as suas empresas educadas na concorrência. A PT deve ser fragmentada: o seu monopólio favorece a corrupçãolocalizada na região de Lisboa e o desvio de capital para as mãos de figuras não-nacionais, tais como Luís Figo ou gatos fedorentos.

Se os partidos se renovarem, expulsando o lixo que os invadiu, e se tivessem coragem para combater este status quo corrupto, então que venham as eleições... Precisamos de mudança e de transparência - isso é inegável. :)

Unknown disse...

lol, essa dos gatos fedorentos ate a mim me escapou :)
Well, tou a gostar da orientação do post.

Keep On Rockin o.O

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já estou melhor mas ainda não quero abusar, apesar de estar mentalmente concentrado no pensamento de Hannah Arendt: vida breve e morte prematura, eis tudo o que distingue o homem heróico da geriatria que nos governa. A actual geração grisalha não compreende que já devia ter abandonado a esfera pública que colonizaram e sujaram com feitos mortais e corruptos. Mas não - são sempre os mesmos candidatos... :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, também já cheguei à conclusão de que para conservar as ideias fundamentais de Arendt preciso de reformular tudo de novo, tarefa que não pode de momento ser levada a efeito neste post: deixo vestígios, reforçados nestes comentários.

A morte prematura, o suicídio, fascinam-me, como armas de combate político. A morte voluntária como Grande Recusa de Portugal corrupto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ora, esta ideia está presente no jovem-Hegel: a luta de vida ou de morte, a luta pelo reconhecimento, a luta pelo prestígio, pode assumir a forma de suicídio ou de assassinato político. Aliás, prevejo que, num futuro próximo, as gerações mais novas irão ser levadas a matar os velhos: a luta pela eutanásia já é um indício desso movimento imparável. A solução esquimó está já no horizonte: é preciso afastar os velhos! O que traz a mortalidade ao terreno da política...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E como a mortalidade de regresso podemos salvar a filosofia política e livrar o mundo da administração. Deste modo, superei Arendt, conservando-a... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A mortalidade selectiva que visa salvaguardar a natalidade - o nascimento para o mundo - é legítima: espero e anseio que os chineses iniciem esse movimento, o que nos daria tempo. Mas para isso é preciso que o ocidente esqueça os direitos humanos, trazendo o lixo chinês para cá! Estes animais metabolicamente reduzidos precisam ser castigados e punidos. Neste sentido, sou favorável à reformulação da grande política preconizada por Nietzsche. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

hummm, claro que sou corajoso: desejo a guerra entre civilizações! GUERRA!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É por isso que tenho deixado de lado a luta de classes: o objectivo agora é outro - zelar pelo domínio ocidental, redefinir a política externa, a única que nos permite ser livres. Arendt estremece no túmulo, mas concorda comigo...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, eu tenho mantido viva a memória da terrível experiência do Holocausto, mas devemos desdramatizá-la: é o meu impulso platónico que me aconselha isso e que já tematizei abstractamente nestes comentários iniciais. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aliás, há uma ameaça actual que se resolve com o lançamento de uma grande bomba atómica e ela deve ser lançada, apesar dos seus efeitos letais sobre nós próprios.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A versão espanhola de Fuck You incita à guerra de morte contra os homófobos: toda a violência que visa a humanização é legítima. A humanidade ocidental precisa reaprender isso: sem luta de vida ou de morte, a vida torna-se tédio fisiológico. Por isso, a política externa deve permitir reconquistar a liberdade que se perdeu nesta sociedade de consumidores. Bem, umas guerras internas também fazem jeito! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estive a ver o Plano Inclinado, com Silva Lopes, Medina Carreira e João Duque, e foi muito interessante. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O meu FCPorto venceu o Sp. de Braga por 5-1. Bah, as ratazanas da SicNotícias reagiram como ratazanas invejosas e maldosas. O certo é que a direcção do FCPorto vai realizar um jogo de solidariedade com a catástrofe que se abateu sobre a Madeira e que conta com a participação de Cristiano Ronaldo. As SicRatazanas deviam ter vergonha na cara e abandonar Portugal: Tempo Extra é veneno de invejosos que não dignifica Portugal. O seu jornalismo desportivo é adepto da mentira desportiva!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aliás, todos os portugueses deviam apoiar a eliminação justa desse programa que visa atiçar a Guerra Civil. É nesta solidariedade contra os maus portugueses que podemos construir um novo Portugal - liberto da corrupção a todos os níveis.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O FCPorto vai ajudar a Madeira: é um clube verdadeiramente nacional e mundial. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estou perplexo comigo mesmo: não pretendia minar o pensamento de Arendt, mas de facto ele é atravessado por uma ideia perigosa. Não sei como dar a volta a essa suspeita num post: preciso de espaço e de tempo, porque considero que a sua crítica da sociedade dos consumidores é pertinente, desde que liberta dos seus pressupostos falsos. Os opressores malvados não têm perdão!