domingo, 22 de junho de 2008

Bruno Zevi: Arquitectura como Arte do Espaço

«Além dos espaços com duas únicas dimensões, isto é, as superfícies que apenas olhamos, a arquitectura dá-nos espaços com três dimensões, capazes de conter as nossas pessoas, e este é o verdadeiro centro desta arte. Em muitos aspectos, as funções das artes sobrepõem-se: assim a arquitectura tem muito em comum com a escultura e ainda mais com a música, mas, além disso, tem o seu território particular e transmite um prazer que é tipicamente seu. Ela possui o monopólio do espaço. Apenas a arquitectura entre todas as artes é capaz de dar ao espaço o seu pleno valor. Ela pode rodear-nos de um vazio de três dimensões e o prazer que dela se consegue extrair é um dom que só a arquitectura pode dar-nos. A pintura pode pintar o espaço, a poesia, como a de Shelley, pode sugerir a imagem, a música pode dar-nos uma sensação análoga, mas a arquitectura tem a ver directamente com o espaço, utiliza-o como um material e coloca-nos no seu centro». (Geoffrey Scott)
Após ter lamentado a "ignorância" ou o esquecimento da arquitectura pela imprensa, Bruno Zevi, na busca que empreende de ensinar a saber ver a arquitectura, distingue nove tipos de interpretações da arquitectura, a saber, a política (1), a filosófico-religiosa (2), a científica ou positivista (3), a económico-social (4), as materialistas (5), a técnica (6), as fisiopsicológicas (7), a formalista (8) e a espacial (9), as quais se dividem em três grandes categorias: as interpretações relativas ao conteúdo ou estéticas do conteúdo (1-6), as interpretações fisiopsicológicas (7) e as interpretações formalistas ou estéticas da forma (8), perfeitamente incluídas na concepção espacial da arquitectura (9). Esta classificação das interpretações da arquitectura revela muitos equívocos teóricos que estorvam, quais obstáculos epistemológicos (Bachelard), a sua compreensão crítica. Primeiro, porque esquece que todas as interpretações referidas são teorias filosóficas, e, segundo, porque não distingue com rigor entre a teoria (geral) da arquitectura e as estéticas (possíveis) da arquitectura. É possível elaborar uma teoria geral da arquitectura, como mostrou Christian Norberg-Schulz, de modo consensual e distinto da estética da arquitectura, mas não podemos elaborar uma estética sem antes ter uma noção formada do carácter peculiar do edifício ou das construções arquitectónicas. A estética da arquitectura depende dessa teoria geral e é neste sentido que iremos avaliar o contributo teórico de Bruno Zevi.
Apesar das dificuldades teóricas mencionadas, Bruno Zevi lança um novo conceito de arquitectura: a arquitectura é a arte do espaço. Para Zevi, o carácter essencial da arquitectura, que a distingue das outras actividades artísticas, reside no facto de agir com um vocabulário tridimensional que incluí o próprio homem. Enquanto a pintura actua sobre duas dimensões, a despeito de sugerir três ou quatro dimensões, a escultura e a arquitectura actuam sobre três dimensões, mas com uma diferença antropologicamente significativa: a escultura deixa o homem de fora, completamente desligado, a olhar do exterior as três dimensões. Ora, como diz Zevi, «a arquitectura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha». Isto significa que a arquitectura tem um vínculo privilegiado com o homem, a sua praxis e o seu mundo. Antes de ser obra-de-arte, a construção responde a uma necessidade humana fundamental e vital, a de dar abrigo ao homem, construindo o seu mundo. Aliás, como defendeu Ernst Bloch, a grande arquitectura visa antecipadamente a "edificação do reino da liberdade", através da "humanização da natureza": a morada, a terra natal, edificada antecipadamente que revela, na sua execução na arquitectura, as manifestações de um mundo melhor. Ou, como diz Zevi, na arquitectura a quarta dimensão é o próprio homem: «aqui é o homem que, movendo-se no edifício, estudando-o de pontos de vista sucessivos, cria, por assim dizer, a quarta dimensão, dá ao espaço a sua realidade (humana) integral».
Na perspectiva de Zevi e de Scott, o espaço é o "protagonista" da arquitectura: «as quatro fachadas de uma casa, de uma igreja ou de um palácio, por mais belas que sejam, constituem apenas a caixa dentro da qual está encerrada a jóia arquitectónica». Com esta noção crítica de "invólucro mural", Zevi descarta-se da técnica e da arte de "fazer embrulhos" ensinada nas escolas industriais americanas de commercial design, e, portanto, da "decoração", para avançar com o conceito central de espaço interior: «Em cada edifício, o continente é o invólucro mural, o conteúdo é o espaço interior. (...) O espaço interior, o espaço que não pode ser representado perfeitamente em nenhuma forma, que não pode ser conhecido e vivido a não ser por experiência directa, é o protagonista do facto arquitectónico. Tornarmo-nos senhores do espaço, saber "vê-lo", constitui a chave que nos dará a compreensão dos edifícios», porque esse espaço constitui a verdadeira realidade em que se concretiza a arquitectura. À pergunta "o que é a arquitectura?", Zevi responde de modo estético: «A definição mais precisa que se pode dar actualmente da arquitectura é a que leva em conta o espaço interior. A bela arquitectura será a arquitectura que tem um espaço interior que nos atrai, nos eleva, nos subjuga espiritualmente; a arquitectura feia será aquela que tem um espaço interior que nos aborrece e nos repele. O importante é, porém, estabelecer que tudo o que não tem espaço interior não é arquitectura». Como refere Norberg-Schulz, uma tal definição de arquitectura deixa de fora um dos mais belos edifícios da história da arquitectura: o Pártenon, o templo grego concebido não como a casa dos fiéis, mas como a morada impenetrável dos deuses.
Porém, antecipando-se a esta e a outras eventuais críticas, Zevi afirma que o seu conceito espacial de arquitectura não implica a desvalorização do espaço urbanístico (1) ou mesmo a redução da experiência arquitectónica à experiência espacial (2).
1). Afirmar que a experiência espacial arquitectónica só é possível no interior de um edifício não significa desvalorizar o espaço exterior. Todos os volumes arquitectónicos ou invólucros murais constituem um limite, um corte na "continuidade espacial" e, por conseguinte, colaboram para a criação de dois tipos de espaços: os espaços interiores, definidos perfeitamente pela obra arquitectónica, e os espaços exteriores ou urbanísticos, encerrados nessa obra e nas obras contíguas. Isto significa que «a experiência espacial própria da arquitectura se prolonga na cidade, nas ruas e praças, nos becos e parques, nos estádios e jardins, onde quer que a obra do homem tenha limitado "vazios", isto é, tenha criado espaços fechados». Bruno Zevi não excluí, portanto, os espaços exteriores ou urbanísticos do âmbito da arquitectura: a arquitectura da cidade, que preocupou Aldo Rossi e Giulio Carlo Argan, constitui a totalidade arquitectónica mais global que integra as restantes totalidades, ao mesmo tempo que aponta para a cidade global, cujas relações com a natureza ameaçada mereceram a atenção ecológica de Michael Hough. Segundo Argan, «a arquitectura acomodou-se à cultura de massas e à actual situação tecnológica, destruindo-se como arquitectura e transformando-se em urbanística»: a cidade está em crise, porque deixou de ser "obra do arquitecto" e passou a ser resultado da programação económica do território ou planificação. Embora esta concepção espacial da arquitectura esteja muito presa a uma estética do génio, tem o mérito de conceber a cidade como "criação de espaços fechados": o vazio de uma praça ou de uma estrada, exterior em relação aos edifícios que o ladeiam, é interior em relação à cidade.
2). Dizer que o espaço interior constitui "a essência da arquitectura" não é o mesmo que afirmar que o valor de uma obra arquitectónica se esgota no valor espacial: «Cada edifício caracteriza-se por uma pluralidade de valores: económicos, sociais, técnicos, funcionais, artísticos, espaciais e decorativos, e cada um tem a liberdade de escrever histórias económicas da arquitectura, histórias sociais, técnicas e volumétricas, tal como é possível escrever uma história cosmológica, tomista ou política da "Divina Comédia"». Isto significa que a realidade de um edifício resulta de todos estes factores e que a sua história não pode escamotear nenhum destes factores.
Bruno Zevi elaborou uma nova terminologia ou teoria arquitectónica centrada no espaço, a qual afirma que o valor original da arquitectura é o do espaço interior e que os outros elementos funcionais, técnicos e artísticos podem ajudar a apreciar o edifício em função da maneira como acompanham, acentuam ou obstam o seu valor espacial. A interpretação espacial da arquitectura constitui o ponto de partida de uma "visão integrada e compreensiva" da arquitectura, que julga todos os elementos que entram no edifício com a "medida do espaço". Daqui resulta que a interpretação espacial da arquitectura não exclui as demais interpretações: a interpretação espacial constitui o atributo necessário de toda a interpretação possível dotada de sentido concreto, profundo e compreensivo em matéria de obra arquitectónica. Com efeito, em arquitectura, o conteúdo social, os efeitos psicológicos e os valores formais materializam-se no espaço e, por isso, interpretar o espaço significa «incluir todas as realidades de um edifício». Zevi reconheceu que o conteúdo existe na realidade da imaginação arquitectónica e na realidade dos edifícios: «são os homens que vivem os espaços, são as acções que neles se exteriorizam, é a vida física, psicológica, espiritual que decorre neles». Isto significa que «o conteúdo da arquitectura é o seu conteúdo social». A interpretação espacial da arquitectura de Zevi não está concluída, porque não soube explicitar os seus pressupostos ontológicos e antropológicos, de resto destacados por Platão, Aristóteles, Kant, Schopenhauer, Hegel, Bloch, Adorno, Heidegger, Cassirer ou mesmo Spengler.
J Francisco Saraiva de Sousa

89 comentários:

André LF disse...

Francisco, procurei nos meus arquivos o ensaio de José Lins do Rego intitulado “O homem, a casa e a cidade”. Encontrei apenas um trecho do texto. Aí está:
“Nós tínhamos uma cidade criada, cidade que fora crescendo como gente, sem saltos antinaturais. Vem a ânsia de americanizar-se o Rio, vem a especulação dos terrenos e o que era particularidade nossa, caráter brasileiro, cor e forma de uma tradição orgânica, despedaça para que se ponha por cima de tudo isto vinte andares de cômodos e se fabriquem ‘cabeças-de-porco’ de luxo. O homem da casa humana passa a ser o prisioneiro do apartamento cercado de restrições. O que era uma ambição de conforto, do menor esforço para as donas-de-casa, passa a ser uma segregação da comunidade. Os edifícios coletivos separam os homens em células de presídio. O homem é ali mais individualista, mais só, mais separado do mundo, de cima do seu apartamento. Perde o contato com a terra, vê as árvores de cima para baixo, isola-se para viver perdendo assim atributos da natureza humana. Tudo isto pode ser prático, mas é estúpido”.

André LF disse...

Este ensaio de José Lins retrata os efeitos que industrialização trouxe ao Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX. É uma pena ter encontrado apenas uma parte deste ensaio.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

O texto de Lins é muito interessante e crítico: americanização. "Cômodos" são apartamentos ou andares?
As towers ou os prédios são rentáveis: a partir de um mesmo geoespaço produzem muito espaço lucrativo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Desisto de comentar futebol sem ser FCPorto: a Holanda perde com a Rússia. :((((((((((

André LF disse...

Cômodos são quartos, mas no texto caracterizam apartamentos. "Cabeças-de-porco" são espécies de cortiços.

A Holanda empatou heroicamente. Não pensei que a Rússia pudesse ter tanta força.

André LF disse...

O camisa 10 da Rússia é um craque. Leva o time nas costas :)

Se o Brasil tivesse disputando a Eurocopa, certamente não passaria da primeira fase :)

André LF disse...

Estava a torcer pela Holanda, mas devo admitir que a Rússia mereceu a vitória .
Andrei Arshavin, este é o nome do craque russo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já está a perder novamente, a Holanda: os russos fazem bom jogo. :)

Não sabia o significado dessas palavras: os vossos cortiços devem corresponder aos nossos bairros sociais, ilhas e, o que já não há, bairros da lata. Porém, o cortiço deve ter uma vida social intensa e interessante.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, a Rússia jogou bem e merece ganhar e ganhou por 3/1 contra a Holanda. Tive "pena" do treinador holandês a esfregar a cara com as mãos...
A Papillon discute os orgasmos com outra amiga... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Pelo que li, José Lins do Rego tem uma visão orgânica da cidade e fala de carácter: fez-me lembrar certas noções da teoria da arquitectura de Norberg-Schulz que vê o edifício como uma totalidade orgânica, isto já nas obras de ruptura com a fenomenologia.

André LF disse...

Os cortiços, tal como foram retratados por Aluísio Azevedo ("O cortiço"), não existem mais. Eles eram dotados de intensa vida social.
Os cortiços foram substituídos pelas favelas, contruções deploráveis, verdadeiros templos da miséria.
Existem muitas favelas no Rio e em São Paulo. Elas abrigam o tráfico de drogas e poderosas células do narcotráfico.

A Rússia é épica até no futebol. Goggly deve ter gostado da vitória russa :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, o Goggly é todo "russo" e escreve novo conto: O Assalto. Escolheu bem a sua matriz literária. :)

Ainda não consegui ver O Cortiço; mas aprendi hoje que é diferente de "favela": esta conheço-a bem pela televisão.

André LF disse...

Sim, Lins do Rego, assim como Norberg-Schulz, via edifício como uma totalidade orgânica.
Esta é a mesma visão de Aluísio Azevedo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E eu não os tenho..., mas vou estar atento.
Aqui no Porto temos a nossa "Escola de Arquitectura": Siza, Souto-Moura, Soutinho, Távora e outros.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aliás, nós portugueses e brasileiros deviamos estudar melhor a nossa arquitectura, sobretudo nos territórios colonizados ou por onde passámos. Há efectivamente um carácter muito luso de edificar. Aqui no Porto temos uma diversidade arquitectónica bonita e rica: o tempo é outra dimensão da arquitectura.

E. A. disse...

Ah ah ah! :)))
N discuto nada!

Pois é, amigos, eu disse-vos: Itália e Turquia! Olé olé! :)

André,
Os brasileiros têm excelentes arquitectos! E fez-me lembrar uma crónica de Clarice Lispector dedicada a Brasília, escritora que sempre me fez sonhar com esta cidade:

«Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia vêem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério.»

Está agora a decorrer uma exposição no CCB (Lisboa) sobre Le Corbusier, o mestre de Niemeyer, mas ainda n fui ver!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, Brasília é bonita até pelo seu enquadramento na floresta... Este aspecto das relações da cidade com a natureza ainda não deu resultados urbanos significativos. :)

André LF disse...

Acho a arquitetura de Brasília muito impessoal. Certas construções desta cidade me fazem lembrar dos Jetsons, a família que vivia num tempo futuro.
Em Brasília, ocorre algo muito cômico: construções futuristas abrigando mentes arcaicas. Só mesmo no Brasil.

Papillon, muito boa a crônica de Clarice.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Concordo que futurismo e mentes arcaicas não casam bem.
Argan fala do regresso do homem primitivo (bricolage), mas quem desenvolve o "primitivismo" é Arnold Gehlen. Talvez a pintura de Gaugin tenha dado o sinal de alarme desse "primitivismo". Lorenz viu em muitas das suas manifestações uma "degenerescência genética".

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Michael Hough é um arquitecto paisagista que elaborou uma ecologia da cidade, de modo a torná-la ambientalmente sustentável. Fornece uma base filosófica e conceptual capaz de servir de apoio ao design urbano. É evidente que a imagem de cidade sustentável não casa com Brasília, uma cidade que encarna o modernismo racionalista.

André LF disse...

Além de encarnar o modernismo racionalista, Brasília é o símbolo dos políticos corruptos e metabolicamente reduzidos.

Não tinha pensado que a pintura de Gaugin pudesse representar um sinal de alarme desse primitivismo. É uma idéia interessante.

E. A. disse...

Como os seres humanos podem o melhor e o pior... :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Amigos

Este post está concluído e é provável que outros posts mais detalhados sobre arquitectura venham a ser editados. Começa com uma crítica, depois expõe metodicamente a concepção de Zevi e termina reconduzindo à crítica inicial. Isto significa que aceito a orientação espacial e temporal da arquitectura no seio da teoria crítica. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Esqueci de dizer que este post contém uma crítica que faço à noção de "contentor" presente na prática arquitectónica de um grupo de amigos arquitectos do Porto. Geralmente, quando conversamos, costumo demolir essa noção aparentemente foucaultiana e rasgar o espaço ao futuro. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A teoria de Zevi opõe-se à teoria da "pura visualidade" (Reine Sichtbarkeit) da Escola de Viena, em particular a Wölfflin. E concordo com essa crítica, porque a pura visualidade deu origem a pseudo-arte fantasiosa sem artistas ligada a meros processos visuais.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Portugal é uma ausência total de cultura: Não temos nenuma "História da Arquitectura do Porto", apesar de termos magníficos edifícios e estilos. Isto deve-se ao tipo de recrutamento dos professores universitários: só os mais burrinhos e bajuladores oportunistas têm acesso. Esta é a face visível da corrupção nas universidades portuguesas: estão entregues a pessoas pouco inteligentes e invejosas. Não produzem nada de jeito ou com qualidade. Por isso, não temos bons estudos nem projecção internacional. E Lisboa sufoca o país todo...
Estou a folhear as histórias da arquitectura e da arte e Portugal não consta nas entradas. E o Porto tem grandes obras arquitectónicas, em especial as da era mecânica/industrial.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ernst Bloch analisou as utopias arquitectónicas em chave de abertura ao futuro novo. Para ele, a arquitectura moderna estava inicialmente orientada para o exterior, para o sol e o espaço aberto. Contudo, essa abertura ao exterior foi suplantada por conjuntos transformados em edifícios blindados ou os condomínios fechados, como se a vida necessitasse de segurança. Esta necessidade de segurança deve ser questionada... A era das massas e a sua arquitectura funcional estragaram tudo: os arquitectos que visavam a reforma social foram precipitados e muito pouco críticos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Enfim, a missão da grande arquitectura é dispôr ou arranjar a natureza inorgânica de modo a que ela se torne parente do espírito, sob a forma de um mundo exterior regido pela arte. Os grandes edifícios são à sua maneira a antecipação na utopia de um espaço feito para o homem. Aqui reside o núcleo da teoria crítica da arquitectura: espaço feito para o homem.

E. A. disse...

Sim, como a escola italiana de Milão...
A Itália já foi! :(

O novo urbanismo pós-moderno segue essa "exterioridade", às vezes inviável pelo seu carácter, precisamente, utópico.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O pós-moderno tende a ser fechado: Jameson analisou esse aspecto nos edifícios americanos construídos de modo a isolar-se do exterior: conjuntos fechados em si mesmos. Da questão da liberdade passamos à questão da segurança: a palavra de ordem do dia.

Sim, a Espanha venceu a Itália.

E. A. disse...

http://www.archimagazine.com/speciale/newyork/salingai.htm

Nesta entrevista (Nov. 2001), Léon Krier fala sobre a arquitectura pós-11 de Setembro.

The tragic absurdity of the World Trade Center is that a very poor piece of architecture has become an involuntary martyr, a phantom tombstone of monstrous scale. A fake architectural monument (i.e. private economic activities dressed in a monumental garb, and housed in memorial pillars, totems and the like) has become a true memorial through its disappearance. By its bodily dissolution it has gained the (immortal) soul which had so far eluded it.

Etc..........

É muito interessante, leia! Mas n fala em nenhuma altura do problema da segurança, refere a humanização da arquitectura como "clássico" que é.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Eu não tenho um preconceito negativo contra esses edifícios enormes. Estive a ler um livro de arquitectura de Las Vegas e achei graça ao seu historial.
Aqui no Porto defendo a volumetria, aquilo que geralmente é proibido. A cidade não é só passado mas futuro...
Sim, o edifício World Trade Center caiu e tornou-se um memorial. Tinha uma visão fantástica... :(
O terrorismo coloca a questão da segurança, mas a edificação de condomínios fechados de luxo é outro tipo de segurança: esta deriva das desigualdades sociais.

E. A. disse...

Eu tenho! Lisboa tem edifícios absolutamente descaracterizadores, vulgo: mamarrachos! Mais que inestético, é indecente! A arquitectura n tem responsabilidade de moldar as mentes (como diz o Krier nessa entrevista) mas pode atrofiar ou franquear.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, fala de prédios ultrafeios, mas há prédios superbonitos. :)

E. A. disse...

Em Lx os prédios modernos são todos horrorosos ou simplesmente sem graça. Mesmo os do atelier do Siza. Ou se analisarmos o parque expo, por exemplo. Mas eu desgosto da arquitectura moderna, de uma maneira geral, o betão armado em particular.

E. A. disse...

E os amigos que tenho arquitectos todos gostam e seguem o minimalismo - corrente diametralmente oposta ao meu ser. Por isso, fico à espera que a dialéctica da arte penda para outros ideais. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

Sim, o parque expo está muito feio, mais parece um circo do que uma área urbana de qualidade. Sim, existem por aí uns prédios deveras feios.

Aqui no Porto construiram-se alguns bons prédios: o euro com a construção dos estádios mexeu com a cidade, apesar de haver por aqui uns velhos do restelo sem sentido estético e perspectiva de futuro. Mas este é um mal nacional: os có-có gostam de bloquear aquilo que não compreendem.

Sim, há uma tendência minimalista deveras estúpida e monótona... :(

O rumo é Ernst Bloch e a reactualização da Tradição. :)

E. A. disse...

Sim, uma das hipóteses é seguir uma linha orgânica, como falaram acima. Um dos seus representantes de que gosto bastante, Frank Gehry e o seu projecto para o defunto Parque Mayer, seria excelente para a cidade de Lisboa. Moderno e sofisticado, mas evocando a Lisboa labiríntica e mourisca (não sei se se lembra de ver a maquete).
Em contra-exemplo, digo que gosto da Casa da Música como escultura arquitectónica, mas acho que não dialoga nada com o Porto. (Alguma ironia no interior, com os azulejos, mas mais nada, de resto).

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ontem tinha dito que a arquitectura portuguesa não aparecia nas melhores histórias da arquitectura.

Porém, hoje vi que Nikolaus Pevsner exibe uma fotografia da Ponte Maria Pia de Gustave Eiffel no Porto, destacando o seu arco em ferro. Infelizmente, esta ponte está desactivada e abandonada: um crime cometidos pelos nossos governos culturalmente reduzidos.

Desse período, temos a Ponte D. Luís, o mercado F. Borges e o demolido Palácio de Cristal (ferro e vidro) que deu lugar ao actual Pavilhão Rosa Mota. Temos o Bolhão e um mercado mais moderno: Bom Sucesso. E 5 belas pontes... Além disso, a zona dos clérigos foi desenhada para ser um conjunto de galerias: as arcadas e os vidros nunca chegaram a ser construídos. Mas a monumentalidade da arquitectura está lá.

Nasoni e a Casa de Serralves e seu arquitecto têm obras fantásticas que merecem ser estudadas. A história da arquitectura do Porto é muito rica e é monumental.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

O Porto é uma confluência histórica de estilos: a Casa da Música é mais um e começa a estar bem rodeada por belos edifícios, o banco e outros atrás.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Outro grande arquitecto do Porto é Marques da Silva:

"A casa de Serralves projectada pelo Arq. Marques da Silva é um exemplo paradigmático da arquitectura art deco no Porto. Faz parte do enorme complexo dos jardins de Serralves e serviu de referência a Siza Vieira para a elaboração do Museu de Arte Contemporânea no Porto. A exploração do desenho do espacial é fantástica e o tratamento da luz no interior revela a mestria deste Arquitecto que tem uma imensa obra no Porto." (http://arquitectura.pt)

Art Deco está bem representada no Porto.

E. A. disse...

Francisco,

Pode ser uma "confluência histórica de estilos", mas deve ser bem feita. O ecletismo por si só é vão. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aconselho a leitura destas duas obras do Arquitecto do Porto: Nicolau Nasoni:

SMITH, Robert C.: Nicolau Nasoni (1691-1773). Lisboa, Livros Horizonte, 1973.

SMITH, Robert C.: Nicolau Nasoni, arquitecto do Porto , 1966.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

No Porto temos concentrados ou conjuntos de edifícios fabulosas. Para além da zona da Ribeira e da margem do Douro, temos a zona dos clérigos, a zona entre a Avenida dos Aliados até ao campo 24 de Agosto, a zona da Batalha, etc. Atrás do Bolhão temos ruas históricas com belos edifícios. Temos um palácio moderno na rua Sá de Bandeira que devia dar origem a um Hotel. O pólo das Antas está a ficar interessante, com o belo estádio do Dragão a marcar presença. Portanto, não vejo ecletismo mas história e conquista do futuro: esta sempre foi a ânsia e a alma do PORTO. E a nossa estação de S. Bento? Um "must"... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E as nossas fortalezas?

Os edifícios de habitação já construídos ou em vias de construção obedecem a critérios interessantes: os que ficam a ladear o estádio do Bessa são um exemplo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Ponte da Arrábida é única e superior à ponte sobre o Reno de Robert Maillart (Suíça, 1910).

O Pavilhão Rosa Mota não fica muito atrás do Centenary Hall de Max Berg (Breslau, 1913). Concreto.

A Estação de S. Bento é bem mais bonita ou equivalente à Estação de Otto Wagner em Viena.

Portanto, em termos de cidade industrial, o Porto está na vanguarda desses movimentos arquitectónicos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E a monumentalidade dos edifícios da Avenida dos Aliados? É um conjunto único e sem rival. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Porto é a cidade da boa arquitectura e os alemães admiradores do Barroco deviam estudar as nossas igrejas: não estamos atrás deles. W. Benjamin ficaria apaixonado pelo Porto Barroco. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Porto Gótico reduz-se à Igreja de S. Francisco, junto do monumental Palácio da Bolsa. Temos edifícios neogóticos, dos quais destaco um muito desprezado situado atrás do actual palácio restaurado do governo civil do Porto.

O Porto Românico é pobre ou mesmo inexistente: apenas a capela de Cedofeita.

O Porto Barroco é rico. Aliás, a nossa Igreja gótica é interiormente revestida a talha dourada.

E. A. disse...

Francisquinho,

A mim não me precisa de "vender" o Porto... Conheço-o bem e gosto muita da cidade, apesar de gostar mais de Lisboa. ;)
Quanto ao meu comentário, ele era especificamente votado à Casa da Música. Entendo-o como um grande bem à cidade, do ponto de vista de programação cultural, apenas análogo com o Museu Serralves. No entanto, não deixo de considerá-lo como um edifício desfasado da orgânica da cidade, em particular onde se situa, rotunda da Boavista. Sendo a arquitectura arte do espaço, nunca se deve alhear dele (e não estamos a falar de geometria euclidiana...)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Eu estou a convidar "alguém" para fazer um estudo da nossa arquitectura e arte. Afinal, as universidades deviam ser centros de pesquisa de qualidade e de promoção da cultura portuguesa e não como acontece: centros de emprego sem trabalho intelectual. :((((

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Lisboa reduz-se à Baixa Pombalina e às avenidas: tem pouca história e pouca vanguarda.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E a nossas antigas salas de cinema? São únicas! E os nossos teatros? São únicos. A história de Portugal ainda está por fazer: até agora tem sido uma história da MENTIRA.

E. A. disse...

Não diga essas coisas... só se envergonha a si. ;)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E os governos de Cavaco Silva representaram um afundamento total do país, como mostrou Cadilhe (do Porto). Cavaco Silva protagoniza o Centralismo Lisboeta mais perigoso: odeia o Norte.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Papillon devia dedicar-se mais à história intencionalmente ignorada de Portugal. Assim, não corria o risco de se envergonhar de Portugal. Os galegos promovem mais a cultura do Porto do que os portugueses: eles adoram o Porto e não Lisboa. Já estão aqui para festejar o S. João do Porto, hoje à noite.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Papillon sabe que não acho mesmo Lisboa mais bonita do que o Porto. Até porque sou muito liberal: o Porto foi construído pelos seus habitantes contra tudo e todos. Iniciativa local... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já foi às livrarias da Galiza? Repare que encontra livros relativos ao Porto em destaque especial! Isto é uma verdade incontornável. É como o FCPorto: vitórias internacionais claras. :)

E. A. disse...

Então, digo-lhe que é o primeiro portuense que me diz isso. Todos acham Lisboa mais bonita, mesmo que não gostem dos "lisboetas"... e da política centralista. Eu própria gosto de Lx e n gosto dos "alfacinhas" (eu n me considero de Lisboa): acho um povo preguiçoso, malandro e ignorante.

Costumo ir muito a Ourense. Vou estar mais atenta à livrarias... :)

E. A. disse...

E agora lembrei-me que hoje à noite é noite de S. João! A grande noite do Porto!
O meu santo de eleição é o Santo Antoninho, mas viv'ó São João! :)

Meu rico São João,
Cheiras fresco a manjerico
Que no meio da multidão,
Maravilhada eu fico!

(Foi o que me surgiu de repente!)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já vi que gosta de escrever quadras! :)

Quanto ao carácter nacional, estamos em sintonia, e sinceramente não sei o que podemos fazer para o mudar. :(

E. A. disse...

:))) Não gosto nada! Foi na brincadeira! Os velhinhos é que gostam. Lembro-me de um velhinho meu amigo já falecido, comunista inveterado, que escrevia umas quadras anti-governo e depois deixava-as em sítios públicos, como no comboio, café, etc., como a semear contestação. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um velhinho revolucionário brechtiano! Giro... :)

E. A. disse...

O Francisco faz o mesmo mas de forma mais sofisticada. :))

Sim, os lisboetas são meio aciganados. E este feitio perpassa o país todo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sou que não sou nem velhinho nem comunista. :)
A minha revolução é mais molecular do que molar e é cultural.

E. A. disse...

Ui! Terminologia deleuziana... muito bem! ;)

Do meu ponto de vista é igual, pois tanto o Sr. B. como o Francisco estão "engagés"; logo, era uma comparação no bom sentido.

Viva o Santo António,
Viva o São João
Viva o 10 de Junho
E a Restauração!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ui a última quadra soa a já-conhecida, já-ouvida, já-vista... :)

Acrescentei o sentido da utopia de Bloch que abre uma outra perspectiva à arquitectura: a terceira via para além da egipcía e da gótica. Também adoro o gótico. :)

E. A. disse...

É Francisco: eu posso causar esse tipo de sensações de déjà-vu, déjà-lu, déjà-écouté; mas não se deixe enganar que as mulheres são magníficas Circes. ;)

Também adoro Gótico e neo-gótico.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bloch adorava o Gótico, a árvore da vida; W. Benjamin, o Barroco.

A Capela dos Pestanas, atrás do Palácio, é neo-gótica. Hoje está lá a sede do governo civil do Porto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Viva André

Logo à noite é a festa de foliões do S. João do Porto, mas o dia está fechado, nebuloso e húmido.
Bom S. João para todos.

André LF disse...

Olá, Francisco!
Vc vai à festa de foliões do S. João do Porto?
Como é este evento?

E. A. disse...

André,

Explique-me isto:

"A capital de Portugal, Lisboa, é a porta de entrada para a Europa. O idioma oficial é o português mas fala-se fluentemente o espanhol. [...] Sua arquitetura é essencialmente gótica. Banhada pelo Oceano Pacífico e tendo como principal o rio Tejo, Lisboa tem entre seus vultos históricos nomes importantes da história do Brasil, haja vista que já fomos colônia portuguesa. [...] Lisboa é uma cidade plana, de velhos mas bem conservados casarios, clima tropical úmido, temperatura variável, fria no inverno e quente no verão, mas nada comparável ao calor brasileiro. Graças ao Estreito de Gibraltar, Portugal liga-se também ao Oceano Atlântico. O curioso é que 2/3 da capital portuguesa desapareceram após a II Guerra Mundial, mas o primeiro ministro de então, Marquês de Pombal, providenciou a recuperação das ruínas, com orientação de excelentes arquitetos, preservando a originalidade das construções."

[Descrição de Lisboa pela revista brasileira "Turismo e Negócios".]

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=490FDS008

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

A festa do S. João é uma festa anual da cidade, com longa tradição. Todas as pessoas vão para a rua festejar o S. João: comer, beber, martelar a cabeça uns dos outros, ou irritá-los com o alho, lançar balões, muita música e dança, ver o fogo de artifício fabuloso da Ribeira ou saltar a fogueira. Existem vários modos de festejá-lo mas sair para as ruas e brincar uns com os outros em densidade total é obrigatório. Há o cheiro do manjerico. (O Porto tem seis pontes e não cinco como disse ontem.)

Actualmente, este dia é mais internacional. Estou "partido" porque me deitei ao amanhecer. Um amigo do nosso grupo foi entrevistado pela TV Galiza. O fogo de artifício foi fabuloso, como sempre e foi acompanhada por diversas músicas em função dos efeitos pretendidos. A ponte iluminou-se e "ardeu". Muitos chineses e japoneses, muitos franceses, nórdicos e muitos galegos. A noite abriu e foram espectáculos por todo o lado, incluindo o da Casa da Música e do Edifício Transparente/Cstelo do Queijo. Tenho a cabeça martelada e os ouvidos atordoados.

Papillon

Essa descrição é surrealista. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

De resto, estou desapontado com as pessoas: muita bebida e muita droga. Já se drogam diante de nós, como se fosse um comportamento normal. Ser estudante universitário é consumir droga... e beber muito do garrafão: uma mistura de bebidas. :(((

Este ano quando se martelava articulava-se a palavra "punheta"... Deve ser nova tradição, não sei...

E. A. disse...

Só foi pena foi ter estado a chover! É o mau do Porto! Aqui em baixo brilha o Sol!

Sim os jovens "drogam-se" na via pública, pelo menos com drogas mais sociais: haxixe, álcool. Cocaína é mais nas casas de banho..., e ecstasy/cogumelos/ácidos é muito fácil consumir sem sequer dar nas vistas.

Essas misturas são horríveis: aqui em baixo chama-se "catembo" a uma mistura de sumos gaseificados + vinho de baixa qualidade. Cheguei a consumir qd adolescente pois era uma maneira barata de se ficar bêbedo, dado que as bebidas servidas em bares e discotecas excedem em muito as semanadas e mesadas de um adolescente médio.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Papillon

Depois do Fogo, deixou de chuviscar, não choveu propriamente. Não me lembro de um S. João assim com este nevoeiro inicial (8 horas até às 10:30), mas estava alto e não impediu a festa. O Fogo foi às 12:00, mas já estava aberto o tempo; agora tb faz sol.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Inicialmente, das nove até às 11, estava enjoado, porque tinha misturado torta de laranja, bolo de chocolate ultrahúmido e uma tarte de ovos. Não comi sardinhas e detesto o seu cheiro: o tempo ajudou a encobrir esse cheiro. Fui tocado por ramos de cidreira e outras plantas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ui E comi outras tortas, porque a senhora que as faz é especialista em doçaria portuguesa e colocou toda a sua arte à minha frente para eu provar e aprovar. Isto depois de ter jantado bem outras especialidades carnívoras de cá do Porto. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O S. João é uma festa transversal a todos os estratos sociais e grupos etários: nas ruas as classes sociais são temporariamente abolidas e viva a festa e a transgressão. No fundo, é isso o S. João.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Outros festejam o S. João nos barcos que circulam pelo Douro; enfim, há muitas maneiras de o festejar, em casa ou no terraço devidamente decorado com a família e os amigos... muitas maneiras mas todas levam à rua com milhares de pessoas apertadas umas contra as outras.

E. A. disse...

Então, se é a festa da "transgressão" n fique tão escandalizado com o consumo de droga.
Vou almoçar!

André LF disse...

Obrigado pela explicação, Francisco. "Bater punheta", expressão muito corrente entre nós brasileiros, refere-se ao vício solitário dos homens, a masturbação :)

Papillon, muito surrealista aquele trecho :)

André LF disse...

Francisco, ao ler atentamente a sua descrição da festa de S.Jõao, achei esta superior ao nosso carnaval. Apesar dos exageros, do excesso de droga (mazela comum às nossas festas), você foi presenteado com guloseimas muito boas e pelo fabuloso fogo de artifício da Ribeira.

Acho o carnaval brasileiro de uma feiúra atroz. Certamente a Papillon vai discordar :)

André LF disse...

O carnaval brasileiro é bonito quando visto à distância. Analisado de perto, ele
é apenas uma bela dissimulação das nossas principais misérias.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Amigos

O S. João é divertido nas ruas e a passar pelas fileiras de martelos, ser martelado e responder com marteladas, usar óculos ou feixes de luzes, lançar foguetes e balões. etc.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

No S. João não somos espectadores passivos mas actores activos: a festa são as pessoas.

E. A. disse...

André,

Sobre o Carnaval brasileiro: nunca assisti ao Carnaval carioca ao vivo, logo, não lhe posso garantir se o acharia belo ou feio, mas posso fazer uma previsão de que o acharia espectacular. Como já lhe tive oportunidade de dizer, sou uma admiradora da cultura popular e erudita brasileira e acho o Brasil um país extraordinário, sobretudo se tivermos a ousadia de o compararmos com a miséria de espírito portuguesa. O general De Gaulle disse: Le Brésil n’est pas um pays sérieux - acredito nisso, por isso sonho com ele. :)

E. A. disse...

p.s.: o Francisco e o André são muito parecidos! Almas gémas quiçá... separadas pelo Atlântico! :)

Unknown disse...

"Saber Ver a Arquitectura" de Bruno Zevi, não pode deixar de ser articulado com uma outra obra do mesmo autor, "Arquitectura e Judaísmo: Mendelshon", um conjunto de textos organizados por Anat Falbel, para que se perceba verdadeiramente a génese e o fundamento do seu pensamento. Talvez por isso ao tema deste Blogue, "Bruno Zevi: Arquitectura como Arte do Espaço" se devesse acrescentar em "LIBERDADE". É que existe Arquitectura como Arte do Espaço que o não é em Liberdade e contra ela Bruno Zevi desenvolve todo o seu pensamento crítico, a sua militância em especial contra a mitificação do clássico e do neoclássico iluminista dos quais resulta o neoclássico nazista.

José da Conceição Afonso