Fátima Campos Ferreira moderou hoje - 8 de Junho de 2009 - uma conversa muito serena entre cinco representantes dos partidos políticos "vencedores" que concorreram às Eleições Europeias (7 de Junho de 2009): Pedro Santana Lopes (PSD), Augusto Santos Silva (PS), Rui Tavares (BE), Sérgio Ribeiro (CDU) e Bagão Félix (CDS). O facto de ter sido um debate sereno e relativamente consensual mostra que os participantes abandonaram os discursos precipitadamente eufóricos dos cabeça-de-listas vitoriosos e dos respectivos lideres dos seus partidos: o PS foi o único partido humilhantemente derrotado nestas eleições, não tanto por mérito dos adversários, mas por desmérito na escolha de Vital Moreira para encabeçar a sua lista, um erro atroz que provavelmente vai produzir o mesmo resultado nas eleições autárquicas, nomeadamente na CM de Lisboa ou mesmo na CM do Porto. Tal como José Sócrates, Augusto Santos Silva reconheceu a "derrota humilhante" do PS, acrescentando que o partido deve tirar daí todas as ilações e preparar-se para vencer as eleições legislativas, de preferência com maioria absoluta. Para facilitar a análise deste debate, vou concentrar-me em três questões básicas: a legitimidade do governo socialista, o voto conservador no contexto de uma crise financeira e económica profunda, e a governabilidade. Legitimidade. A questão da legitimidade foi colocada por Paulo Rangel após saber que o PSD tinha vencido as eleições europeias, e depois retomada por Manuela Ferreira Leite. O discurso eufórico de Rangel, quase eleitoralista e muito ressentido, deve ter chocado muitos eleitores que canalizaram para ele o seu voto de protesto, porque na verdade a sua campanha esteve longe de ser brilhante, até porque andou sozinho pelo país. Negar a legitimidade do governo socialista implica uma confusão entre eleições europeias e eleições nacionais: Rangel limitou-se a cativar o voto do protesto e da insatisfação, sem ter apresentado ideias sobre a Europa. Isto significa que os candidatos ao Parlamento Europeu nada fizeram para sensibilizar os eleitores para os assuntos europeus, desvalorizando eles próprios as eleições europeias. Mas nenhum dos participantes presentes neste debate retomou o seu discurso: Santana Lopes demarcou-se claramente desse discurso eufórico, reafirmando a legitimidade do governo para continuar a governar, embora devesse evitar as "grandes decisões", dado estar condicionado politicamente (Bagão Félix), e Rui Tavares acusou-o de criar uma "polémica estéril" que visa "empatar tempo", bloqueando a discussão do que deveras interessa. Rangel foi assim abandonado ao esquecimento: o seu discurso carece de credibilidade. Manuela Ferreira Leite, pelo facto de não ter participado assiduamente na campanha, não devia ter retomado esse discurso delirante, como se já tivesse vencido as eleições legislativas, porque o seu "discurso da verdade" ainda não foi confirmado pela sua tomada de posição em relação ao envolvimento de elementos do PSD, muitos dos quais participaram nos governos de Cavaco Silva, na gestão danosa do BPN, na degradação acelerada da qualidade de ensino, com a proliferação de universidades privadas, e no sequestro da cultura superior. Portugal secou completamente durante esse período: a ideia de projecto de futuro foi abolida do vocabulário oficial laranja. O termo "roubalheira" usado pelo candidato socialista não devia ter chocado os lideres do PSD, pela simples razão de ser um facto mediaticamente reconhecido e discutido. Se pretende fazer um discurso da verdade, o PSD deve assumir algum tipo de responsabilidade por este caso escuro de corrupção e pelo atraso estrutural de Portugal, até porque os seus governos foram alvo de muitas suspeitas, incluindo práticas ilícitas. Se o PSD fosse o partido da competência e da verdade, como diz ser, a sua acção governativa devia ter libertado Portugal do seu atraso estrutural e da corrupção, mas, como isso não se verificou, o melhor será permanecer calado. O PSD não é vítima, mas parte activa do problema nacional: eis o discurso da verdade que deve ser assumido por todos os partidos políticos. Neste momento da discussão, Sérgio Ribeiro acusou o PSD de "adiar a discussão da crise", como se ainda alimentasse a ilusão de vir a retomar a sua desastrosa política neoliberal de privatizações, muitas das quais criaram as condições objectivas para o fomento e o alastramento da degradação política nacional e da corrupção. Santos Silva vai mais longe quando acusa o PSD de confundir a legitimidade com os seus "próprios preconceitos" contrários às obras públicas: "o país não pode parar" e o governo socialista vai manter o seu rumo, cumprindo o programa que lhe deu a vitória nas últimas eleições legislativas. O combate à crise exige os investimentos públicos que o governo socialista está a realizar: o objectivo mais imediato dos investimentos públicos é evitar o desemprego e manter a economia em funcionamento. Todos os participantes concordaram neste tópico do investimento público, embora Santana Lopes tenha mostrado uma discordância em relação à construção do novo aeroporto de Lisboa, aliás um projecto "reversível", como frisou Santos Silva. Voto conservador. Fátima Campos colocou o dedo na ferida: os partidos conservadores (França, Alemanha, Itália) da Europa venceram as eleições, enquanto os partidos socialistas (Portugal, Espanha, Inglaterra) perderam as eleições, apesar da crise financeira e económica ter sido produzida pelas práticas neoliberais promovidas pelos conservadores. Neste cenário de crise, o voto conservador é, de certo modo, paradoxal. Qual é o seu significado? Bagão Félix improvisou uma teoria: os partidos socialistas perderam a sua ideologia, acabando por abraçar a "mitologia do mercado" (Rui Tavares). Ora, esta clonagem ideológica penalizou-os nestas eleições, porque "o clone é sempre inferior ao original": os eleitores optaram pelo original. A noção ideológica de que a Direita é mais competente do que a Esquerda é retida na noção de clonagem ideológica. O momento de verdade desta teoria de Bagão Félix não reside no suposto facto do "PSD fazer melhor do que o PS", de resto uma falácia facilmente refutada pelas actuais circunstâncias de miséria nacional e de corrupção transversal, mas sim no facto de muitos dirigentes socialistas proferirem discursos apologéticos do fundamentalismo de mercado, como se verifica nas participações de António Costa na "Quadratura do Círculo" (SIC) e da figura pseudo-socialista no "Corredor do Poder" (RTP1). O governo socialista cometeu muitos erros na realização e na execução das suas reformas e não soube adoptar medidas claras de combate à corrupção generalizada. A nacionalização do BPN foi justificada como uma medida para evitar o colapso do sistema financeiro português, isto é, como correcção de um "erro sistémico" (Santos Silva). Porém, nacionalizar o BPN significa nacionalizar os prejuízos privados: os contribuintes portugueses vão pagar os erros cometidos pelos privados. Reconhecer este facto não invalida a decisão de nacionalizar o BPN. O PS agiu de modo a defender o interesse nacional, mas essa medida deve ser acompanhada pela penalização daqueles que cometeram actos ilícitos e pela responsabilização da iniciativa privada. O PS não pode nem deve fazer a apologia do fundamentalismo de mercado, mesmo quando proteja a economia de mercado regulada: os clientes do BPP exigem que o Estado intervenha numa matéria que não é da sua responsabilidade e isto à luz da própria ideologia do neoliberalismo. Aqueles que investem em bancos bolsistas perseguem livremente lucros privados e, quando não os obtêm, não podem exigir que os outros assumam os seus prejuízos, até porque também não partilham os seus lucros. O risco privado não pode nem deve ser garantido pelo Estado: eis uma exigência tanto do liberalismo puro como do socialismo democrático. O Estado deve regular o mercado, em especial os mercados financeiros, mas não deve assumir os prejuízos da iniciativa privada. Os partidos de Direita aceitam (venenosamente) que o PS deve resolver o problema do BPN e do BPP, mas o que eles deveras desejam é que o PS os livre deste problema, isto é, que o PS seja mais fundamentalista do que eles, usando o Estado e os dinheiros públicos para cobrir os prejuízos dos privados. Os clientes desses bancos não votam PS e, geralmente, são contra o papel regulador do Estado na economia. Se fossem pessoas cognitivamente coerentes, deveriam optar pelo suicídio: a crise financeira e económica desmentiu completamente o fundamentalismo de mercado. As dissonâncias cognitivas mencionadas revelam a face escondida da clonagem ideológica: a falência do modelo europeu de economia social. A aliança entre a "economia de mercado" e a "justiça social" é profundamente perversa e nefasta, não só porque promove a formação de um Bloco-Central propenso à prática da corrupção activa e avesso à mudança social qualitativa e à luta política genuína, mas também porque é intrinsecamente paradoxal: o capitalismo não pode resolver a pobreza generalizada que cria. A massa cinzenta europeia está absolutamente paralisada: o consenso central sacrifica a liberdade criativa, cria uma Europa dos burocratas corruptos alheia aos cidadãos e ameaça a própria continuidade da aventura ocidental. Embora tenha procurado (deslocadamente) conforto na eleição de Obama, Santos Silva acabou por reconhecer a clonagem ideológica do PS: sempre que falou dos partidos à esquerda do PS - BE e CDU, ou os acusou de não serem "democráticos", afirmou inadvertidamente - ou não - que o PS ocupa o centro, como se a sua ideologia fosse um fundamentalismo de mercado travestido com roupas europeias, dando origem a um debate à parte entre as esquerdas divididas. O PS esquece a sua herança histórica e, como partido aburguesado, condena-se ao fracasso eleitoral. Na campanha do PS foi dito que "o PS combate a crise, enquanto os outros combatem o PS". É verdade que as esquerdas fazem mais oposição ao PS do que à Direita, recusando-se a viabilizar um governo minoritário do PS ou mesmo a participar no poder, mas, se a Direita sabe que a melhor forma de silenciar a oposição de esquerda é o "populismo" - o falso combate à pobreza, o PS esgota-se numa luta irracional contra as esquerdas, como se temesse a mudança de paradigmas ou o salto qualitativo. O PS não sabe conservar o poder ou até mesmo alojar-se firmemente no centro: perdeu votos tanto à esquerda como à direita-centro. No entanto, como revela o fenómeno do populismo de direita, a clonagem ideológica não é exclusivamente um problema do socialismo democrático: a descaracterização ideológica ou, mais precisamente, a anemia ideológica dos partidos políticos é um fenómeno universal que decorre da própria aceitação da ausência de alternativas ao modelo económico predominante. O BE e a CDU teimam em não pensar a fragilidade da sua existência parasitária. Como partidos do protesto e de reivindicações alheias ao pensamento de esquerda genuíno, prestam-se ao jogo eleitoral do voto de protesto nas europeias, mas nas eleições nacionais o jogo é outro: apesar da sua regressão cognitiva, que partilha com as suas elites, o povo sabe que nas próximas eleições é o seu futuro que está em jogo. As eleições europeias são favoráveis à irrupção do Carnaval Europeu. O Parlamento Europeu é uma palhaçada berlusconiana e pirata e, de certo modo, não tem credibilidade, funcionando como saco do lixo europeu. Governabilidade. Em Portugal, a noção de que só uma maioria absoluta pode garantir a governabilidade constitui uma noção-comum nos meios políticos. Os partidos pequenos, tais como o BE, o PCP e o CDS, são avessos às maiorias absolutas reclamadas pelo PSD e pelo PS, os dois partidos de poder que lutam claramente pela bipolarização e pela alternância de poder. Mas, quando colocou a questão da governabilidade, Fátima Campos quis mostrar que até mesmo o actual governo dotado de maioria absoluta confortável teve dificuldade em implementar as reformas estruturais da administração pública, da educação e da justiça. Santos Silva lembrou que a aliança entre o PSD e o CDS é a única formação que, nestas eleições europeias, se aproxima de uma maioria absoluta, mas Santana Lopes preferiu acentuar a bipolarização, afirmando que o PSD já constitui a alternativa ao PS nas próximas eleições legislativas. Isto significa que os dois maiores partidos políticos portugueses acreditam que um deles vai conquistar uma maioria absoluta nas eleições legislativas. Mais uma vez a discussão do problema da governabilidade de Portugal foi adiada: os lideres portugueses fazem tudo para não encarar de frente a verdadeira realidade nacional, de resto reflectida nestas eleições. O optimismo autista é a ideologia daqueles que não desejam mudar nada e o número de autistas não pára de aumentar. J Francisco Saraiva de Sousa
76 comentários:
Termino o post amanhã, porque já estou cheio de sono. :)
Bem não posso desenvolver mais as ideias deste post, até porque já foram tratadas noutros posts: o uso de conceitos abstractos ajuda a economizar palavras e descrições, sem perder contacto com a empiria. :)
Afinal, ainda acrescentei umas frases para colocar a constelação de ideias sob controle gravitacional. :)
Olá, Francisco!
Gostei da sua frase: "vivemos num mundo programado e somos funcionários dos aparelhos técnicos, os quais são caixas-pretas".
O conteúdo de tais caixas-pretas é aterrorizante!
O Brasil passa por uma profunda crise institucional. Câmara Federal, Senado, Tribunais, converteram-se em antros de vermes engravatados e corruptos. Cada vez mais, percebo que a realidade brasileira é aquela traçada por Kafka em seus livros: o absurdo é a lei.
As instituições portuguesas também enfrentam crise similar à brasileira?
Um abraço!
Francisco, gostaria de ter nascido em outra época. A atual está a mergulhar numa letargia profunda. Poucos são os seres que tornam o nosso planeta poeticamente habitável.
Ultimamente estou a reler alguns contos de Mário de Sá-Carneiro. Ele foi um visionário cuja lucidez (que para alguns é a loucura) extremada o levou ao suicídio. Temo seguir o mesmo rumo.
Olá André
Sim, o mundo está muito triste e o seu concerto torna-se cada vez mais problemático. A crise é total: é uma crise de falta de qualidade humana. Portugal é então como o Brasil: não existe!
Sá-Carneiro sofria de depressão; daí que fosse propenso ao suicídio. E espero que não tome o seu rumo. É preciso encontrar energia e não desistir de lutar contra o sistema. Coragem!
Os engravatados corruptos deviam ser objecto de escárnio! São criaturas viscosas e feias!
Sim, Francisco, é preciso coragem para matar dois leões ao dia :)
Tenho lutado contra o sistema há trinta anos:) Mas há períodos em que a alma esmorece.
Meu país é uma palhaçada sórdida. Muitas vezes vejo estrangeiros fazendo apologia de um Brasil exótico, telúrico, repleto de belas mulheres e entes fantásticos. Eles estão presos a uma concepção arcaica e infantil. O que vejo diariamente é um país de tolos e corruptos que se esforçam para conciliar o carnaval com as responsabilidades de um país imerso no nefasto capitalismo financeiro. Trata-se de um país de lunáticos...Daí o meu sofrimento.
Mas certamente não seguirei a trilha de Sá-Carneiro. Meu suicídio é simbólico. "Morro" para as pessoas estúpidas e vazias e vivo para aqueles raros seres que enriquecem a minha existência.
Ah, por momentos fiquei preocupado. Também me suicidei simbolicamente, umas vezes mais, outras vezes menos: afasto-me das pessoas que não merecem atenção.
Como compreendo esses esmorecimentos de alma, ou melhor, de corpo: a minha alma tende a ser livre e, se não fosse o corpo, voava para longe de Portugal. Mas a Europa anda toda corrupta: nazis, piratas, meninas-modelo, meninas-sexo, malucos e tarados, toda essa fauna invadiu o Parlamento Europeu. É decadência do nosso mundo. Penso que já não vamos a tempo de a evitar. O mundo é carnaval e retardamento mental...
Eu procuro fingir que vivo num país civilizado, mas Portugal é terrível: muito medíocre, invejoso e malvado e, quanto o Presidente fala e discursa, vem tempestade de morte e de deserto. A sua mentalidade economicista é redutora, vazia, fantasmagórica,enfim uma assombração. Bem podia viajar para o espaço e desaparecer no nada, porque a sua mensagem é o vazio total. Que tristeza de Presidente da República temos aqui! :(
Hoje é dia de Portugal e o PR fez a sua mensagem condenando o saudosismo como se este fosse desejo de regressar ao passado. Nem a história de Portugal conhece, não lê, não sabe filosofar e conversar, enfim diz ler dossiers e estudos de custos e benefícios. Ainda por cima deve querer recandidatar-se! Tempo perdido a tentar escutar quem não tem ideias para o futuro!
Assustou-me, André!
Equívocos esclarecidos, aceno-vos antes da minha ida para os braços de Morfeu.
Boa noite, senhores.
(F., o ensaio seguiu via mail)
Olá, Denise! Bons sonhos!
André LF disse...
O saudosismo português é algo que me intriga, Francisco.
Sinto que os brasileiros
receberam esta herança. Há brasileiros que aguardam a volta de um Vasco da Gama tupiniquim. Nosso presidente, durante as campanhas, soube se beneficiar do saudosismo pátrio e acabou reeleito...
Quarta-feira, 10 de Junho de 2009
Em Pascoaes o saudosismo é desejo de um novo futuro, sem quebrar com a nossa identidade e a nossa história. Não é a vinda do Encoberto, seja ele quem for: é uma sociedade mais justa e livre que nos arranque desta letargia. No fundo, saudade é desejo de futuro novo, é esperança de que as coisas podem e devem ser melhoradas. Essa é outra versão do mito sebastianista, mas para Smpaio Bruno o Encoberto é um novo homem. Tudo isso liga-se a um novo renascimento: uma nova era, um novo mundo.
Certamente o seu Presidente tem mais cultura do que o nosso Lula, um ébrio que adora fazer apologia da ignorância e da chalaça grosseira. Certa vez, durante um dos seus inflamados e irracionais discursos, Lula disse: "minha mãe nasceu analfabeta" (!)
A minha nasceu declamando Shakespeare...
Tal ignorância, sobretudo vinda de um Presidente, é atroz! A quantidade de frases absurdas proferidas pelo nosso Presidente formaria um compêndio volumoso.
A concepção de saudosismo em Pascoaes é bela! Muito diversa daquele obscurantismo resignado presente no espírito das massas.
Até estou a rir, porque teve graça, mas o tuga nem bolo-rei sabe comer, segundo dizem os jornalistas. :)
Era um homem isolado, solitário, mas vivia perto da serra, cheio de coragem, até porque viveu num período negro, onde havia censura. Admiro a força desses homens que realizavam tertúlias e criavam revistas, trocando cartas que hoje são obras-primas e documentos.
"Vasco da Gama tupiniquim" ... ahah
Muito bom!
"Também me suicidei simbolicamente"
É o ser-se moderno, ou ser-se pós-moderno - qq dos termos cabe aqui. Somos ser atomizados, refugiando-nos do encontro e do confronto com o outro e, desta maneira, graguenou-se parte do espírito. É a época do "esquecimento do ser", evocando Heidegger q o amigo André admira! ;)
Está um dia chuvoso e húmido! Por isso, tenho estado a pensar a fotografia, mas - talvez devido ao tempo - chego à conclusão que a era da imagem nos mantém reféns e prisioneiros da caverna platónica. Somos reféns das imagens, sejam elas publicitárias, fotográficas ou empresariais e institucionais. E, nessa condição, somos alvos da regressão cognitiva.
Já li o ensaio da Denise sobre o B-B e gostei muito: recomenda-se a sua leitura que nos brinda com conhecimentos do cinema português. Porém, como dá para perceber, não simpatizo com o realismo de Baptista-Bastos que a Denise explicita com primor.
Enfim, a filosofia rejeitou a imagem durante muito tempo e agora somos forçados a pensá-la. Curiosamente, Heidegger fracassou na captação da essência da imagem fotográfica que pensa como reprodução do ente, condenando-a por não ser arte: a revelação do Ser.
Para o estudo da Fotografia, o Barthes decerto ajudará, como o seu «Câmara Clara, Nota sobre a Fotografia».
«Mas assim que me descubro no produto desta operação [ser fotografado], aquilo que vejo é que me tornei Todo-Imagem, ou seja, a Morte em pessoa.» (Camâmara Clara)
Isto, se se pretender um estudo mais ontológico.
Sim, Barthes analisa a foto nessa perspectiva da nossa mortalidade: o que a foto representa esteve ali, "ça-a-éte". Mas hoje em dia temos diversas filosofias da fotografia para além da semiologia, embora essa obra de Barthes seja fenomenológica.
Hoje sabemos que a fotografia e o cinema dão duas coisas modernas, fruto da industrialização, sem precedente ou herança. Geralmente, a filosofia da foto foi vista como uma oportunidade para reler as categorias da filosofia, mas a imagem exige talvez uma nova prática da filosofia, dado ter produzido uma mutação radical no espírito humano. Portanto, procura-se uma outra estética para além do conflito naturalismo versus romantismo.
A imagem é, hoje em dia, um produto intitucionalizado, pelo que, claramente, a abordagem terá de ir mais longe do que a perspectiva otológica e fenomenológica. O «somos aquilo que vemos» é incontornável e comprova o carácter intitucional da imagem. E claro que quando se fala em imagem, não se fala só em Fotografia.
Sim, a foto é apenas uma caixa-preta que permite pensar a era das imagens. Estas tendem a substituir os textos. Nesse sentido, a filosofia da foto é filosofia da técnica. É aqui que a filosofia quer chegar: a essência da técnica.
De certo modo, esta era ameaça o conhecimento tal como sempre o concebemos: isso deve ser pensado e talvez com novas categorias. Uma nova filosofia? Talvez...
Ou em termos de filosofia da história:
1. Pré-História...
2. História: Inaugurada pela descoberta da escrita (sistema linear B): Era do texto/Narrativa, Tempo, o Homem Tipográfico.
3. Pós-História: Fotografia: Era das Imagens, Imagem Técnica, Homem Gráfico, Eternidade, Idolatria, Alienação. Que modo de ser inaugura esta nossa era? Eis a questão cuja resposta depende da cyberfilosofia. Este é o meu programa. A imagem está entre o homem e o mundo: não como mapa do mundo mas como afastamento do mundo. A realidade é reflectida pela imagem e vamos de imagem em imagem: o mundo é novamente magicizado e a imaginação é alucinação.
São estas clivagens que quero pensar, de modo a produzir uma filosofia da técnica e algo mais.
O Marshal McLuhan propõe uma filosofia da história assente no meio técnico: era tribal, era tipográfica/visual, era electrónica/retribalização, era digital (esta 4ª não é contemporânea de McLuhan). Pode partir daí. Ainda q, por exemplo, ele defenda a audição como o sentido preponderante, da era electrónica, (como diz Steiner, tb), ainda que como é uma fase "cool", haja uma imersão total nos media técnicos, logo, há o perigo da alienação, de resto, esse "perigo" que fala Heidegger sobre da essência da técnica.
Bom trabalho!
A idolátrica imagem... A Internacional Situacionista, mesmo Nietzsche e a sua iconoclastia, atacaram-na. A I.S., por exemplo, criticando aquele anúncio da câmara de filmar, mais ou menos assim: «Gosto de filmar porque gosto de viver.», acusando que tal conceito, a retenção da imagem, retoma recordações e prende-nos ao elemento estático do tempo, a uma memória, ainda que cinética, retrógrada, porque é movimento fechado, inimigo, por isso, da vida, que é movimento aberto.
Uma outra vertente que acho abordável ou pelo menos interessante, será a imagem pessoal, egológica, o que decerto irá ao encontro das tais teorias da intimidade de que me falou, do Sennett, perspectiva, a meu ver, potenciamente ligada ao conceito de imagem, ao seu peso e influência.
A minha filosofia é enzimática e pretende redefinir o novo cânone enzimático.
Sim, os temas estão todos ligados, mas o tema da técnica e da alienação deriva de Marx. Qualquer pensamento filosófico passa neste momento pela releitura de Marx, até porque o seu pensamento é construtivo. É fácil demolir mas mais difícil é construir...
Pois, n sei o q é "filosofia enzimática"...
Sim, Marx é sempre necessário (re)ler! :)
Demolir/construir são duas variantes interligadas e necessariamente constantes. Mas sem dúvida, é mto mais difícil (re)construir.
Estou a ficar curioso com o produto final. :)
Crítica imanente reformulada: trabalha a partir de dentro.
Else já não me lembro do seu texto! O Tiago falou disso mas não me lembro do conteúdo! :(
Tenho muitas coisas escritas sobre fotografia, mas estou a pensar noutra via, além de estar preguiçoso.
Prefiro analisar fotos artísticas, mas vou postar sobre teoria da fotografia. O que me preocupa de momento é a conexão entre predomínio da imagem e regressão cognitiva, a qual já exibe efeitos no conhecimento. O que é o conhecimento imagético? Nós vivemos a era das imagens mas ainda não a decifrámos. Precisamos de novos conceitos...
Eu tinha deixado a imagem de lado, porque estava convencido que o computer trazia novamente o texto, a escrita e traz, mas traz também a imagem sem referente, completamente simulada. Ora, isso tem efeitos sobre o desenvolvimento cognitivo: as noções sofrem mutações profundas. Estamos a viver dentro da caverna de Platão: a pós-história "recapitula" a pré-história, a magia é-lhes comum.
Uma cyberfilosofia devia aceitar o desafio da rede e seduzir, isto é, imunizar as pessoas contra a idolatria e a alienação técnica: uma actividade enzimática ou psicoenzimática.
Ou dito em linguagem pouco diplamática:
O homem ocidental de hoje é um "primitivo" e é por ser tosco que coexiste facilmente com outros que nunca deixaram de ser primitivos: a cultura regrediu e a humanidade foi hipo-atrofiada na mera animalidade angustiada e nostálgica.
de q texto?
Ora, a dificuldade do meu empreendimento é que ainda sou refém de uma ontologia da imagem e, tal como Baudelaire e a estética romântica, não quero romper com a imaginação criativa. Tenho Bloch mas a ontologia é a "mesma"...
O texto do outro blogue que retirou! A conexão que tinha estabelecido não abre o seu texto que me dedicou.
O texto de q o F. fala, é aquele q me me disseste em mail que eu iria gostar, o Panegírico (?). Não pude deixar de referir ao F. o quão objectivo era na apreciação ;)
De resto, já palmilhei alguns meses para trás no blogue Hípias, parece-me de uma comunicação bem mais imagética. :)
Esse blogue tá fechado. Só dei a "chave" ao Tiago pq me pediu para espreitar. O Francisco, na altura, leu a dedicatória, se n se lembra, dê uso à "imaginação criativa". Memória e imaginação estão sempre de mãos dadas. :)
Obrigada Tiago, eu sou muito objectiva.
Hípias era o blog da sedução e da provocação através da imagem, mas já não está on-line.
Algumas vezes é objectiva, mas outras é completamente lunar. :)
De nada, Elsa! Acho que é por isso que gosto do que escreves (e tb do que por aqui se escreve). A objectividade é o meu signo (poderá variar é o seu grau, comparativamente falando).
Ah, a minha memória está de momento cognitivamente stressada, porque tenho muitos arquivos abertos: construo pontes... E a escrita distraída... PUF
O Tiago ainda não conheceu o André? Ele esteve aqui ontem e a Denise também. Esta agora virtual já ardeu muitas vezes ao calor de discussões intensas...
A Existência, ou a Vida dentro desta, tem sempre dupla face. A questão é o quanto o iremos ignorar. Isto é: se eu quiser, num mesmo segundo, poderei exultar e denegrir o valor de tudo, se o quiser. Porque, no fundo, tudo é subjectivo. Só com o trabalho se abandona a subjectividade e se caminha para a objectividade, por via de um processo mais consciente. Mas isto só para dizer que a Terra e a Lua são duas realidades.
O problema é qd não se sabe departamentar.
O primeiro post que a Papillon me dedicou era fogo; depois respondi com mais fogo, até normalizarmos a conexão. :)
É bom departamentar... :)
Já li aqui o André sim! Gostei muito dos diálogos e respectivo conteúdo.
Também ando para aqui atrapalhado a rever parte de um livro, ao mesmo tempo que me distraio aqui com as conversas. É inevitável... Lixa-me é o trabalho todo :)
Adorei tb aquele sarcástico em que a E. diz que publicou ali algum do seu sémen ahahah! Talvez seja esse. Este era assertivamente crítico; o primeiro a que me referi, era objectivamente laudatório.
Ya, esse do sémen foi o primeiro; depois de uma resposta convidei-a para um debate sobre autismo e filosofia que abandonei por causa da imagem que poderia dar dos filósofos e por razões neurobiológicas. Mas de certo modo somos autistas, mais outra regressão...
O Tiago está a traduzir um livro?
Eu já consigo conjugar a conversa e o trabalho. Quando bloqueio no trabalho, estou aqui, e vice-versa. É a maravilha do computador e da Internet: viajamos constantemente de janela em janela... :)
Inicialmente pensei que a E. sofria de depressão; é engraçado mas o nosso contacto começou via tecnorati, quando detectei esse post. Mas technorati anda a funcionar mal...
Estou a rever, para ajudar uma amiga que estava com excesso de trablho. Talvez até conheça, Francisco, o autor: Notícias de um Universo Desconhecido, de Frank Schätzing. Mas o que faço é sim traduzir e rever. O último que traduzi foi o Quem é Quem no Tempo de Jesus, do biblista Geza Vermes, saiu há pouco, pela Texto Editores
technorati? o q é?
A tradução é fundamental para o nosso desenvolvimento. Porém, fico lixado com o facto de não termos em português a grandes obras, o que não sucede aqui em Espanha. Eles investiram na cultura, embora agora tb editem coisas espanholas medíocres. E o mesmo acontece em Portugal: edita-se muito lixo tuga e o que precisamos são as grandes obras traduzidas e ensinadas nas escolas.
Mas não lhe tiro mais tempo. Bom trabalho!
"Technorati é um motor de busca de Internet especializado na busca por blogs; e faz concorrência às ferramentas de busca de blogs do Google e Yahoo". Existem outros, tais como blogscope e alexa, etc.
Sim, escasseia muita coisa. A Gulbenkian e a Cotovia empenham-se, e a Antígona e moutra poucas; mas qto a outras áreas haverá falhas... Se as editoras investirem na cultura, morrerem à fome... É um grande problema. O Francisco saberá melhor do que eu, é um ciclo vicioso, o que leva a estas falhas. Não há propensão para o melhoramento, para cobrir essas falhas. Jogamos todos pelo seguro, que também é o medíocre.
Bem, vou até ao meio do Sistema, comer uma pita shoarma :)
Até logo, bom trabalho!
ahah... depressão? Eu?
O F. gosta mesmo de fazer psicologia de trazer por casa.
Ya, é isso "lutar para o medíocre". Uma vez fui convidado por uma editora para escrever um livro de texto, mas um livro "medíocre", porque, segundo o responsável da editora, os "professores são muito medíocres". Literal: foi assim que disse acrescentado a estupidez dos professores. Nunca pensei vir a ouvir: um livro medíocre vende-se; qualidade não se vende. Logo, somos um país medíocre.
Era isso que criticava. O Estado faz investimentos em pseudo-cultura, mas devia subsidiar a tradução das obras que precisamos para pensar e inovar com qualidade. O mercado é pequeno e está cada vez mais medíocre. O Estado deve incentivar essa cultura superior, sem cunhas e oportunistas. O nosso atraso é explicado em parte por essa lacuna: ciências, engenharias, filosofia, quase nada traduzido. Os brasileiros traduzem mais, mas a ortografia deles cria dificuldades: a língua tal como a usam é avessa à subtileza do pensamento superior, embora hajam algumas boas traduções.
Concordo plenamente.
Ainda quanto à mediocridade. Há pouco disse-lhe que traduzi um livro do Geza Vermes, o Quem é Quem no Tempo de Jesus. Ainda que o título pareça estúpido, é um bom livro, espécie de glossário onomástico, um apanhado das várias personagens históricas, 100 anos antes do Cristo e 100 depois. Aliás, um dos dois livros que gostei de traduzir, até hoje (o outro foi o I e II volume dos contos de Lovecraft, em que, ao todo, traduzi três contos). Portanto, um livro de consulta, baseado nos documentos e livros pelos quais todos os estudiosos se regem, como os Manuscritos do mar Morto e afins. Mas é um livro bastante acessível, de cariz bastante claro e explanatório. Sabe quanto tempo levou a ser publicado? Três anos. Portanto, há três anos que o traduzi. E porquê?, de certeza porque não interessava, na altura, publicar algo que não vende tanto quanto a porcaria. Três anos dp, lá arranjaram espaço no catálogo para algo decente e publicaram-no. É assim que as coisas funcionam: o bom fica sempre para depois.
Bem que o Saramago dizia: «esperança» devia ser um termo a tirar dos dicionários...
Estava a escutar um debate entre economistas e outro entre políticos: Esta é a hora de demolir o pragmatismo corrupto da economia. A nossa hora! A cartilha económica deve ser demolida, porque é ela uma das responsáveis pela crise e pela descaracterização ideológica.
Os "Manuscritos" conheço, os outros dois livros de que falou tenho uma vaga ideia de ter visto na livraria, mas talvez não em português. Sim, cultura faz bem à mente: liberta-a das teias da letargia! :)
O programa que esbocei recorre muito à cibernética de Weiner, o que me força a colocar a imagem entre o homem e o mundo. Porém, numa perspectiva fenomenológica, se a imagem é a imagem de alguma coisa - a sua estrutura intencional -, então surgem problemas que talvez não tenham resposta nessa matriz teórica. Ora, a teoria de Sartre permite superar a ontologia ingénua da imagem e a sua abordagem positiva e coisista: o acto de imaginação é um acto de magia. Resta como recurso a patologia da imaginação sobredeterminada pela gula do capitalismo.
3 anos é muito tempo! Vou ver se vejo a sua tradução dos contos.
Finalmente, descobri a dificuldade: a teoria do fetichismo da mercadoria de Marx é uma teoria do imaginário, que supera a ontologia ingénua da imagem, coisa que Sartre não levou completamente a cabo, acabando por ser vítima da crítica que dirige à psicologia positiva.
Ora, Lukács interpretou correctamente a teoria de Marx, e foi pela sua mediação que Heidegger desbravou caminho: o grande interlocutor de Heidegger foi sempre Marx visto pelos olhos do Jovem-Lukács. Bloch também está na proximidade: o fetichismo é desfiguração e, como tal, deve ser usado pela filosofia para demolir a cartilha economicista que nos rouba a vida na sua possibilidade escatológica. Se Marx foi o grande filósofo do século XIX, Lukács é o grande filósofo do século XX: todos os outros parasitam o seu pensamento seminal, incluindo Heidegger. Em suma, ainda não se compreendeu a novidade da filosofia do século XX. A Idolatria da imagem ofusca tudo e na desfiguração fetichista alienamo-nos a nós e ao mundo. Porém, a transfiguração é o animismo, que Marx pensou como teoria do proletariado, o agente da mudança ético-política.
Os economistas têm estado a enganar-nos: eles converteram a economia - embrulhada em papel pseudo-científico . numa fórmula de acesso ao poder e de manipulação, de modo a beneficiarem em termos de rendimentos. O efeito dessa artimanha é tratar a sociedade humana como uma mera sociedade de gado doméstico: a economia burguesa empobrece tudo aquilo que trata, incluindo os próprios economistas que mais não são do que animais ladrões.
O problema da "imagem" complicou-se no meu pensamento no bom sentido do termo: uma filosofia da fotografia (imagem técnica) põe em questão quase todo o nosso legado filosófico. Ler a fotografia em função desse legado é não compreender a sua essência verdadeira; ler o legado em função das categorias da imagem técnica é violá-lo ou, no melhor dos casos, reformulá-lo. Estamos prisioneiros da imaginação mimética de Platão - a cópia da cópia, embora Pltão tenha avançado com a imaginação extática, as imagens entusiásticas e visionárias das Ideias. Ora, Kant é sensível a essa "ambiguidade" e avança com a imaginação transcendental que possibilita a síntese, mas recua na segunda edição. Heidegger tb vai recuar, Sartre recua, Ponty recua, todos recuamos, excepto Marx e Bloch. Castoriadis descobre em Aristóteles uma concepção inovadora da imaginação e, articulando-a com Marx, elabora a sua filosofia da imaginação instituinte. Porém, nestas ambiguidades, vacilações ou clivagens, revela-se uma teoria da imaginação criadora: a constituição do ser, que pode ser desfigurada pelo domínio técnico.
A fantasia é o suporte do pensamento, sem o qual nada pode ser pensado: o pensamento é contemplação da fantasia. A filosofia de Marx debate-se constantemente com "fantasmas", simulacros, ídolos, fétiches, espectros, sonhos diurnos, enfim com o imaginário figurador, desfigurador, transfigurador, refigurador e configurador.
A fotografia mostra um fantasma...
Nesta chave abrangente, podemos retomar toda a filosofia contemporânea, incluindo Nietzsche e Ricoeur, Adorno e Horkheimer, Benjamin e Lévinas, configurada à luz da possibilidade: a filosofia unificada a essa luz destrói completamente o projecto instrumental e destrutivo da ciência, abrindo o mundo ao Novo e à Alteridade Radical. A estupidez da economia burguesa diante da crise foi mostrada por Lukács: a filosofia pode evitar o seu "fim", desde que tenha coragem e se deixe entusiasmar - ser-um-com-o-divino.
A ciência desfigura o mundo, reduzindo-o à sua imagem. Por exemplo, a economia burguesa e ladra manipula a imagem do mundo, adaptando-a aos interesses egoístas dos gestores. Ela não leva em conta o mundo - o qualitativo -, mas uma imagem quantitativa do mundo, a que serve os interesses dos corruptos ou daqueles que desejam corromper: o curso de economia é um curso de corrupção; ela inicia os alunos na prática da manipulação desfiguradora e da corrupção.
É por isso que, quando Cavaco Silva fala da economia, fico com a pulga atrás da orelha: a visão quantitativa perde-se na imediatidade da consciência reificada; carece de perspectiva de futuro. Não se sai da crise pela via da gestão económica...
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