«"Nós, os berlinenses, escreve Hessel, temos de habitar mais ainda a nossa cidade". A sua intenção é a de que a frase seja literalmente entendida, não tanto no que se refere às casas, mas mais no que às ruas diz respeito. Pois estas são a casa do ser eternamente inquieto e em movimento que vive, aprende, conhece e pensa tanto entre as paredes das casas como qualquer indivíduo no abrigo das suas quatro paredes. Para as massas - e é com elas que vive o flâneur -, as tabuletas brilhantes e esmaltadas das lojas são adornos tão bons como os quadros a óleo no salão burguês, e até melhores; as empenas cegas são as suas secretárias, os quiosques de jornais as suas bibliotecas, os marcos de correio os seus bronzes, os bancos o seu boudoir e a esplanada a varanda de onde essas massas observam a azáfama da sua casa. No gradeamento onde os trabalhadores do asfalto penduram os casacos fica o seu vestíbulo, e o portão que leva à rua através do enfiamento dos pátios é a entrada nos aposentos da cidade». (Walter Benjamin)
O urbanismo é a maneira de conceber e de realizar as cidades e, como tal, está associado ao aparecimento do Estado moderno que transformou as cidades em capitais de Estado ou, pelo menos, em suportes do poder central. Isto significa que o urbanismo faz parte integrante de uma concepção de poder. Ilustres figuras mundiais converteram a arquitectura em "ciência política" através das "ciências económicas" (especulação financeira e imobiliária). O projecto da construção de Washington, apresentado por Pierre-Charles L'Enfant em 1771, era, em muitos aspectos, um imponente plano barroco: a localização dos edifícios públicos, as avenidas imponentes, as abordagens axiais, a escala monumental e o verde envolvente reflectiam a ideologia barroca do poder político. Em 1853, o barão Haussmann assumiu oficialmente a ideia de reconstruir a cidade de Paris que lhe foi confiada pelo imperador Napoleão III: grande parte da malha urbana medieval e renascentista de Paris foi demolida para dar lugar a artérias rectas que ligavam o centro da cidade aos distritos. A "geometria urbana" de Haussmann e da sua equipa dividiu Paris em três redes: a primeira rede incidiu sobre o labirinto de vielas que remonta à antiga cidade medieval, concentrando-se na região próxima do rio Sena, de modo a rectificar o seu traçado e a adaptá-lo às carruagens e à locomoção dirigida; a segunda rede, situada entre o centro e a periferia, foi subordinada à administração municipal; e a terceira rede criou as intercessões entre as principais artérias urbanas que davam acesso à cidade, bem como as ligações entre as duas outras redes. Na sua descrição da cultura parisiense do século XIX, W. Benjamin deu especial ênfase às arcadas (galerias) e aos telhados, onde pulsava a vida circulante da cidade: a multidão foi politicamente dividida e os indivíduos convidados a mergulhar numa excitação frenética nessas pequenas passagens cobertas, nas suas lojas e nos seus cafés. A construção de Washington e a transformação de Paris, às quais poderíamos acrescentar a reconstrução pombalina da Baixa de Lisboa destruída pelo Terramoto de 1755, a modernização de Berlim no tempo de Frederico I ou a construção de Regent's Park e de Regent Street em Londres, expressam na arquitectura das capitais a linguagem do poder da cidade barroca: a linguagem do despotismo ou da oligarquia centralizada, personificada num Estado nacional, bem como uma nova linguagem ideológica derivada da física mecanicista, cujos postulados fundamentais já tinham sido lançados pelos exércitos e pelos mosteiros. Lei, ordem e uniformidade constituem os traços essenciais da cidade barroca: a lei confirma a situação vigente e assegura a posição dominante das classes privilegiadas; a ordem é uma ordem mecânica que sujeita os súbditos ao príncipe reinante, contra a antiga ordem baseada no sangue, na vizinhança ou nas finalidades de parentesco; e a uniformidade impõe a dominação impessoal do burocrata que, com a sua papelada e os seus processos, regulariza e sistematiza a colecta de impostos.
Na cidade do Porto, devido às reacções negativas dos produtores de vinho às regras impostas pela Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, o Marquês de Pombal nomeou o seu primo, João d'Almada (1757-1786), como governador militar que, acumulando estas funções com as de governador civil, se empenhou na construção de uma cidade moderna, onde o comércio, a indústria e os negócios pudessem prosperar. Em 1758, João d'Almada criou a Junta de Trabalhos Públicos do Porto, com o objectivo de transformar radicalmente a antiga urbe medieval confinada dentro da muralha fernandina e de planear o crescimento e o embelezamento da nova cidade. Financiada por um imposto sobre a produção de vinho que lhe era dado mensalmente pela Companhia Geral, a Junta deparou-se com alguns obstáculos, entre os quais a Igreja Católica e os proprietários fundiários. Este obstáculo só foi superado quando, em 1769, foi aplicada ao Porto a "legislação de excepção" que, ao condicionar o direito de propriedade ao interesse colectivo definido pelo Estado, permitiu a substituição da antiga estrutura fundiária pelo novo loteamento "regular". O Porto que resulta da intervenção urbanística dos Almadas - o filho, Francisco d'Almada e Mendonça (1786-1804), sucedeu-lhe mais tarde - abrange a urbanização de vastas áreas situadas a norte - até à Rua da Boavista - da muralha fernandina e a alteração substancial do tecido urbano medieval, de modo a articular a cidade medieval com a cidade moderna. O seu desenvolvimento levou à destruição das muralhas que atrofiavam o burgo medieval: foram abertas duas ruas - a dos Clérigos e a de Santo António (actual 31 de Janeiro) - que se unem na Praça Nova (actual Praça da Liberdade) e a muralha que a limitava pelo sul foi demolida em 1788, sendo edificado no seu lugar o Palácio das Cardosas. Ora, todas as obras urbanísticas dos Almadas foram realizadas por um gabinete que centraliza e orienta os trabalhos, dispondo de verbas próprias obtidas através de impostos extraordinários e de uma legislação de excepção. Em termos de arquitectura, a moderna cidade do Porto era, no século XVIII, marcadamente barroca. Em 1725, Nicolau Nasoni foi encarregado de embelezar a Sé, acabando por projectar inúmeras igrejas e palácios da cidade do Porto e arredores. Porém, as grandes extensões urbanizadas tiveram tempo suficiente para afinar um novo estilo tipicamente portuense: um estilo neoclássico especial que, devido à acção do cônsul J. Whitehead - amigo de João d'Almada -, reflecte influências inglesas. Os dois estilos portuenses do século XVIII podem ser exemplicados pela Torre da Igreja dos Clérigos (1754-1763), de Nasoni, e o Hospital de Santo António (1770), de John Carr. O crescimento da cidade do Porto continua num ritmo excelente até meados do século XIX, mas a partir de determinado momento a influência francesa começa a manifestar-se na construção de boulevards: a Avenida dos Aliados procura ser uma réplica dos Champs Elisées. Em 1891, C. Pezarat apresentou uma proposta para unir a Praça da Liberdade com a Praça da Trindade através de uma avenida-jardim. Porém, a Câmara Municipal dirigida por Elísio de Melo só aprova esse projecto em 1915: as obras iniciaram-se com a demolição do edifício da Câmara em 1916 e só ficaram concluídas em 1956, com a inauguração do novo edifício dos Paços do Concelho. Durante esse longo período multiplicaram-se os Passeios Públicos, as avenidas, os jardins, as esplanadas abertas (Fontainhas, Virtudes e Massarelos), as alamedas e os espaços verdes. Os jardins da Cordoaria, do Palácio de Cristal e do Passeio Alegre (Foz) foram desenhados por E. David (alemão) em 1865. A alta burguesia portuense foi fixada numa área (1882) dotada de grande qualidade arquitectónica e monumental. Nos espaços abertos da Cidade Invicta que sonham arquitectónica e organizativamente para a frente, desabrochou a maior iniciativa cultural portuguesa: a "Renascença Portuguesa".
Esta visão política da arquitectura da cidade é compatível com a abordagem marxista mais ortodoxa que destaca o papel do sistema urbano na geração de lucro para o capital industrial: o capitalismo industrial tendeu a desmantelar toda a estrutura social da vida urbana e a assentá-la sobre a base impessoal do dinheiro e do lucro. A urbanização capitalista gerou, além da pobreza, da miséria e das desigualdades sociais e regionais, uma imensa teia de alienação obscura: o capitalismo molda tanto a forma e a organização das cidades como a consciência dos seus habitantes. À dimensão económica do urbanismo, Lefebvre acrescenta a dimensão ideológica: as desigualdades sociais e regionais geradas pelo capitalismo e encapsuladas nas cidades tendem a ser amplamente aceites ou ignoradas pelos cidadãos. O pensamento urbanístico contemporâneo é um pensamento aridamente tecnológico ou tecnomórfico, destituído de imaginação e de perspectiva utópica: os chamados especialistas do território produziram uma ideologia de adaptação que transforma os habitantes da cidade em seres apáticos, não-participativos, preguiçosos, frustrados, indiferentes e profundamente alienados da casa, do bairro e da cidade. Os seus projectos não só estão afastados da vida quotidiana, como também negam o espaço urbano aos seus utentes citadinos. Lefebvre procura formular uma teoria alternativa do urbanismo capaz de rasgar esse véu ideológico que ofusca uma compreensão clara e transparente da vida urbana, explicando a estruturação do espaço económico e social urbano pelos processos associados com a acumulação de capital. Qual é a alternativa proposta por Lefebvre para derrubar a alienação produzida pela urbanização capitalista? A restituição ao indivíduo do poder de decisão sobre o seu ambiente quotidiano: eis a resposta ingénua dada por Lefebvre. A arquitectura da cidade comporta uma prática específica, parcial e especializada, ligada à vida quotidiana, que realiza os espaços sociais adequados à estrutura da sociedade estabelecida e à sua reprodução. Esta orientação social imposta à arquitectura faz com que a sua prática oscile entre o esplendor monumental - os monumentos são lugares do poder, onde o fálico se une ao político e a verticalidade simboliza o poder, como mostra a arquitectura da Cidade Invicta - e o cinismo do habitat, forçando-a a contribuir activa e abertamente para a reprodução das relações sociais capitalistas. A arquitectura tem isolado - ao longo da história do homem - o espaço por meio de paredes, subtraindo-o à natureza, para o preencher com símbolos religiosos e políticos e com dispositivos técnicos que correspondam à ordem estabelecida. Porém, a arquitectura deveria produzir, pelo menos no nosso tempo, um espaço subtraído enquanto tal aos poderes vigentes, um espaço apropriado a relações sociais libertas dos constrangimentos da ordem capitalista: a restituição do poder de decisão aos cidadãos é vista como uma recuperação ou revitalização da vida quotidiana, mais precisamente como a sua libertação do espaço programado do Poder, dos seus dispositivos de vigilância e da sua repartição espacial da dominação.
A proposta de política urbana alternativa preconizada por Lefebvre enuncia-se numa única expressão: o direito à cidade. Este direito diz respeito a todos os habitantes enquanto sujeitos que se envolvem em interacções sociais dentro do quadro urbano e afirmam a exigência de uma presença activa e da sua participação. A base do direito à cidade não é contractual nem natural: ela relaciona-se directamente com um traço essencial do espaço urbano, a sua centralidade. Toda a realidade urbana possui um centro. Pouco importa que esse centro seja comercial, económico, financeiro, administrativo, técnico, simbólico, lúdico, informacional, comunicacional ou político; o importante é que não pode existir realidade urbana sem um centro: a centralidade revela a essência da dimensão urbana. A cidade é, segundo Lefebvre, "a forma do encontro e da conexão de todos os elementos da vida social, desde os frutos da terra até aos símbolos e às obras denominadas culturais. A dimensão urbana manifesta-se no próprio seio do processo negativo da dispersão, da segregação, como exigência de encontro, de reunificação, de informação". Na dialéctica da centralidade, a saturação conduz a outra centralidade, ao mesmo tempo que expulsa os elementos excedentários ou segregados do antigo centro para a periferia. O direito à cidade é o direito à centralidade, isto é, o direito a não ser convertido em periferia. Excluir grupos ou indivíduos do urbano é, em última análise, excluí-los da civilização ou mesmo da sociedade. A exclusão urbana é, pois, exclusão social. O direito à cidade legitima a recusa da exclusão urbana: a recusa de ser afastado da realidade urbana e da sua centralidade pela organização burocrática discriminatória. O direito à cidade é um direito de todos os cidadãos e, como direito dos homens à centralidade, não só anuncia a crise inevitável dos centros dominantes de decisão que, estando fundados na segregação e na discriminação, excluem os indivíduos ou os grupos estigmatizados que não participam nos privilégios políticos, fixando-os e isolando-os nas periferias, como também garante o direito ao encontro e à reunião: os lugares e os objectos urbanos devem responder à "necessidade" de vida social e de um centro, bem como às necessidades lúdicas e ao desejo. O direito à cidade visa constituir ou reconstituir uma unidade espaço-temporal, reconduzindo à unidade dialéctica aquilo que foi fragmentado e pulverizado pela urbanização capitalista. Ora, para ser cumprido e realizado, o direito à cidade precisa ser objecto de conhecimento crítico das condições da sua realização. Como já vimos, a lógica económica da sociedade capitalista obedece a uma ideologia consumista, tosca e sem horizonte ou perspectiva futura: os cidadãos vivem alheados da vida urbana e dos seus centros de decisão. Os cidadãos devem tomar consciência dessa alienação para poderem assumir a tarefa da transformação urbana qualitativa, a qual exige como condição um forte crescimento da riqueza social. Dado desconfiar da intervenção do Estado - um Estado de classe, como diz Manuel Castells - neste processo de emancipação urbana e de transformação profunda das relações sociais, Lefebvre permanece prisioneiro da lógica económica que critica, porque, se não for o Estado - mesmo sendo um Estado de classe - a garantir essa criação de riqueza social tão necessária para a transformação urbana qualitativa, então esse papel compete à própria sociedade civil e à iniciativa privada. A centralidade é intrinsecamente conflitual: a centralização total reúne poder, riqueza e conhecimento numa zona territorial restrita, e a sua superação decorre da própria saturação do centro operada pela cidade capitalista que possibilitou a sua extensão espacial e a sua afirmação. A oportunidade de mudança social qualitativa depende da própria condensação social da cidade e das suas contradições internas, das quais a mais importante é talvez a contracção do espaço. A tendência para concentrar todos os centros de decisão numa zona territorial restringida suscita a escassez de espaço nessa zona. Embora não seja estranha às relações sociais de produção e de reprodução capitalistas, a penúria de espaço constitui uma contradição do espaço - uma contradição entre a abundância do passado histórico e a escassez do presente - que abre caminho a novas possibilidades sociais e históricas, em especial ao processo de apropriação individual e colectiva do espaço urbano que visa realizar uma sociedade emancipada e liberta da alienação. É certo que a noção lefebvriana de sociedade urbana enquanto sociedade aliviada do peso da repressão dos desejos instintivos do homem é ainda uma utopia, mas trata-se de uma utopia possível, no sentido de poder vir a ser realizada, tal como sucede momentaneamente nos períodos de tensão revolucionária ou na Festa do S. João do Porto e nas Celebrações das Vitórias do FCPorto, quando os cidadãos saem para as ruas, onde se entregam a práticas lúdicas e de socialização intensa, rompendo com as hierarquias sociais e sobrepondo o valor de uso do espaço urbano ao seu valor de troca. Porém, o capitalismo tem mostrado ser um sistema capaz de absorver as crises e de as usar como fases de racionalização e de adaptação, fazendo as suas "leis" conformarem-se a outros tipos de formação social. Lefebvre acreditava que a violência e as contradições sociais que acompanham o crescimento arrogante do capitalismo preparavam o caminho para a irrupção da sociedade urbana: a sua obra mais não é do que a renovação do projecto marxista de uma revolução da organização industrial, complementado com um projecto de revolução urbana. (CONTINUA com um novo título "Henri Lefebvre: A Produção do Espaço".)
J Francisco Saraiva de Sousa
O urbanismo é a maneira de conceber e de realizar as cidades e, como tal, está associado ao aparecimento do Estado moderno que transformou as cidades em capitais de Estado ou, pelo menos, em suportes do poder central. Isto significa que o urbanismo faz parte integrante de uma concepção de poder. Ilustres figuras mundiais converteram a arquitectura em "ciência política" através das "ciências económicas" (especulação financeira e imobiliária). O projecto da construção de Washington, apresentado por Pierre-Charles L'Enfant em 1771, era, em muitos aspectos, um imponente plano barroco: a localização dos edifícios públicos, as avenidas imponentes, as abordagens axiais, a escala monumental e o verde envolvente reflectiam a ideologia barroca do poder político. Em 1853, o barão Haussmann assumiu oficialmente a ideia de reconstruir a cidade de Paris que lhe foi confiada pelo imperador Napoleão III: grande parte da malha urbana medieval e renascentista de Paris foi demolida para dar lugar a artérias rectas que ligavam o centro da cidade aos distritos. A "geometria urbana" de Haussmann e da sua equipa dividiu Paris em três redes: a primeira rede incidiu sobre o labirinto de vielas que remonta à antiga cidade medieval, concentrando-se na região próxima do rio Sena, de modo a rectificar o seu traçado e a adaptá-lo às carruagens e à locomoção dirigida; a segunda rede, situada entre o centro e a periferia, foi subordinada à administração municipal; e a terceira rede criou as intercessões entre as principais artérias urbanas que davam acesso à cidade, bem como as ligações entre as duas outras redes. Na sua descrição da cultura parisiense do século XIX, W. Benjamin deu especial ênfase às arcadas (galerias) e aos telhados, onde pulsava a vida circulante da cidade: a multidão foi politicamente dividida e os indivíduos convidados a mergulhar numa excitação frenética nessas pequenas passagens cobertas, nas suas lojas e nos seus cafés. A construção de Washington e a transformação de Paris, às quais poderíamos acrescentar a reconstrução pombalina da Baixa de Lisboa destruída pelo Terramoto de 1755, a modernização de Berlim no tempo de Frederico I ou a construção de Regent's Park e de Regent Street em Londres, expressam na arquitectura das capitais a linguagem do poder da cidade barroca: a linguagem do despotismo ou da oligarquia centralizada, personificada num Estado nacional, bem como uma nova linguagem ideológica derivada da física mecanicista, cujos postulados fundamentais já tinham sido lançados pelos exércitos e pelos mosteiros. Lei, ordem e uniformidade constituem os traços essenciais da cidade barroca: a lei confirma a situação vigente e assegura a posição dominante das classes privilegiadas; a ordem é uma ordem mecânica que sujeita os súbditos ao príncipe reinante, contra a antiga ordem baseada no sangue, na vizinhança ou nas finalidades de parentesco; e a uniformidade impõe a dominação impessoal do burocrata que, com a sua papelada e os seus processos, regulariza e sistematiza a colecta de impostos.
Na cidade do Porto, devido às reacções negativas dos produtores de vinho às regras impostas pela Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, o Marquês de Pombal nomeou o seu primo, João d'Almada (1757-1786), como governador militar que, acumulando estas funções com as de governador civil, se empenhou na construção de uma cidade moderna, onde o comércio, a indústria e os negócios pudessem prosperar. Em 1758, João d'Almada criou a Junta de Trabalhos Públicos do Porto, com o objectivo de transformar radicalmente a antiga urbe medieval confinada dentro da muralha fernandina e de planear o crescimento e o embelezamento da nova cidade. Financiada por um imposto sobre a produção de vinho que lhe era dado mensalmente pela Companhia Geral, a Junta deparou-se com alguns obstáculos, entre os quais a Igreja Católica e os proprietários fundiários. Este obstáculo só foi superado quando, em 1769, foi aplicada ao Porto a "legislação de excepção" que, ao condicionar o direito de propriedade ao interesse colectivo definido pelo Estado, permitiu a substituição da antiga estrutura fundiária pelo novo loteamento "regular". O Porto que resulta da intervenção urbanística dos Almadas - o filho, Francisco d'Almada e Mendonça (1786-1804), sucedeu-lhe mais tarde - abrange a urbanização de vastas áreas situadas a norte - até à Rua da Boavista - da muralha fernandina e a alteração substancial do tecido urbano medieval, de modo a articular a cidade medieval com a cidade moderna. O seu desenvolvimento levou à destruição das muralhas que atrofiavam o burgo medieval: foram abertas duas ruas - a dos Clérigos e a de Santo António (actual 31 de Janeiro) - que se unem na Praça Nova (actual Praça da Liberdade) e a muralha que a limitava pelo sul foi demolida em 1788, sendo edificado no seu lugar o Palácio das Cardosas. Ora, todas as obras urbanísticas dos Almadas foram realizadas por um gabinete que centraliza e orienta os trabalhos, dispondo de verbas próprias obtidas através de impostos extraordinários e de uma legislação de excepção. Em termos de arquitectura, a moderna cidade do Porto era, no século XVIII, marcadamente barroca. Em 1725, Nicolau Nasoni foi encarregado de embelezar a Sé, acabando por projectar inúmeras igrejas e palácios da cidade do Porto e arredores. Porém, as grandes extensões urbanizadas tiveram tempo suficiente para afinar um novo estilo tipicamente portuense: um estilo neoclássico especial que, devido à acção do cônsul J. Whitehead - amigo de João d'Almada -, reflecte influências inglesas. Os dois estilos portuenses do século XVIII podem ser exemplicados pela Torre da Igreja dos Clérigos (1754-1763), de Nasoni, e o Hospital de Santo António (1770), de John Carr. O crescimento da cidade do Porto continua num ritmo excelente até meados do século XIX, mas a partir de determinado momento a influência francesa começa a manifestar-se na construção de boulevards: a Avenida dos Aliados procura ser uma réplica dos Champs Elisées. Em 1891, C. Pezarat apresentou uma proposta para unir a Praça da Liberdade com a Praça da Trindade através de uma avenida-jardim. Porém, a Câmara Municipal dirigida por Elísio de Melo só aprova esse projecto em 1915: as obras iniciaram-se com a demolição do edifício da Câmara em 1916 e só ficaram concluídas em 1956, com a inauguração do novo edifício dos Paços do Concelho. Durante esse longo período multiplicaram-se os Passeios Públicos, as avenidas, os jardins, as esplanadas abertas (Fontainhas, Virtudes e Massarelos), as alamedas e os espaços verdes. Os jardins da Cordoaria, do Palácio de Cristal e do Passeio Alegre (Foz) foram desenhados por E. David (alemão) em 1865. A alta burguesia portuense foi fixada numa área (1882) dotada de grande qualidade arquitectónica e monumental. Nos espaços abertos da Cidade Invicta que sonham arquitectónica e organizativamente para a frente, desabrochou a maior iniciativa cultural portuguesa: a "Renascença Portuguesa".
Esta visão política da arquitectura da cidade é compatível com a abordagem marxista mais ortodoxa que destaca o papel do sistema urbano na geração de lucro para o capital industrial: o capitalismo industrial tendeu a desmantelar toda a estrutura social da vida urbana e a assentá-la sobre a base impessoal do dinheiro e do lucro. A urbanização capitalista gerou, além da pobreza, da miséria e das desigualdades sociais e regionais, uma imensa teia de alienação obscura: o capitalismo molda tanto a forma e a organização das cidades como a consciência dos seus habitantes. À dimensão económica do urbanismo, Lefebvre acrescenta a dimensão ideológica: as desigualdades sociais e regionais geradas pelo capitalismo e encapsuladas nas cidades tendem a ser amplamente aceites ou ignoradas pelos cidadãos. O pensamento urbanístico contemporâneo é um pensamento aridamente tecnológico ou tecnomórfico, destituído de imaginação e de perspectiva utópica: os chamados especialistas do território produziram uma ideologia de adaptação que transforma os habitantes da cidade em seres apáticos, não-participativos, preguiçosos, frustrados, indiferentes e profundamente alienados da casa, do bairro e da cidade. Os seus projectos não só estão afastados da vida quotidiana, como também negam o espaço urbano aos seus utentes citadinos. Lefebvre procura formular uma teoria alternativa do urbanismo capaz de rasgar esse véu ideológico que ofusca uma compreensão clara e transparente da vida urbana, explicando a estruturação do espaço económico e social urbano pelos processos associados com a acumulação de capital. Qual é a alternativa proposta por Lefebvre para derrubar a alienação produzida pela urbanização capitalista? A restituição ao indivíduo do poder de decisão sobre o seu ambiente quotidiano: eis a resposta ingénua dada por Lefebvre. A arquitectura da cidade comporta uma prática específica, parcial e especializada, ligada à vida quotidiana, que realiza os espaços sociais adequados à estrutura da sociedade estabelecida e à sua reprodução. Esta orientação social imposta à arquitectura faz com que a sua prática oscile entre o esplendor monumental - os monumentos são lugares do poder, onde o fálico se une ao político e a verticalidade simboliza o poder, como mostra a arquitectura da Cidade Invicta - e o cinismo do habitat, forçando-a a contribuir activa e abertamente para a reprodução das relações sociais capitalistas. A arquitectura tem isolado - ao longo da história do homem - o espaço por meio de paredes, subtraindo-o à natureza, para o preencher com símbolos religiosos e políticos e com dispositivos técnicos que correspondam à ordem estabelecida. Porém, a arquitectura deveria produzir, pelo menos no nosso tempo, um espaço subtraído enquanto tal aos poderes vigentes, um espaço apropriado a relações sociais libertas dos constrangimentos da ordem capitalista: a restituição do poder de decisão aos cidadãos é vista como uma recuperação ou revitalização da vida quotidiana, mais precisamente como a sua libertação do espaço programado do Poder, dos seus dispositivos de vigilância e da sua repartição espacial da dominação.
A proposta de política urbana alternativa preconizada por Lefebvre enuncia-se numa única expressão: o direito à cidade. Este direito diz respeito a todos os habitantes enquanto sujeitos que se envolvem em interacções sociais dentro do quadro urbano e afirmam a exigência de uma presença activa e da sua participação. A base do direito à cidade não é contractual nem natural: ela relaciona-se directamente com um traço essencial do espaço urbano, a sua centralidade. Toda a realidade urbana possui um centro. Pouco importa que esse centro seja comercial, económico, financeiro, administrativo, técnico, simbólico, lúdico, informacional, comunicacional ou político; o importante é que não pode existir realidade urbana sem um centro: a centralidade revela a essência da dimensão urbana. A cidade é, segundo Lefebvre, "a forma do encontro e da conexão de todos os elementos da vida social, desde os frutos da terra até aos símbolos e às obras denominadas culturais. A dimensão urbana manifesta-se no próprio seio do processo negativo da dispersão, da segregação, como exigência de encontro, de reunificação, de informação". Na dialéctica da centralidade, a saturação conduz a outra centralidade, ao mesmo tempo que expulsa os elementos excedentários ou segregados do antigo centro para a periferia. O direito à cidade é o direito à centralidade, isto é, o direito a não ser convertido em periferia. Excluir grupos ou indivíduos do urbano é, em última análise, excluí-los da civilização ou mesmo da sociedade. A exclusão urbana é, pois, exclusão social. O direito à cidade legitima a recusa da exclusão urbana: a recusa de ser afastado da realidade urbana e da sua centralidade pela organização burocrática discriminatória. O direito à cidade é um direito de todos os cidadãos e, como direito dos homens à centralidade, não só anuncia a crise inevitável dos centros dominantes de decisão que, estando fundados na segregação e na discriminação, excluem os indivíduos ou os grupos estigmatizados que não participam nos privilégios políticos, fixando-os e isolando-os nas periferias, como também garante o direito ao encontro e à reunião: os lugares e os objectos urbanos devem responder à "necessidade" de vida social e de um centro, bem como às necessidades lúdicas e ao desejo. O direito à cidade visa constituir ou reconstituir uma unidade espaço-temporal, reconduzindo à unidade dialéctica aquilo que foi fragmentado e pulverizado pela urbanização capitalista. Ora, para ser cumprido e realizado, o direito à cidade precisa ser objecto de conhecimento crítico das condições da sua realização. Como já vimos, a lógica económica da sociedade capitalista obedece a uma ideologia consumista, tosca e sem horizonte ou perspectiva futura: os cidadãos vivem alheados da vida urbana e dos seus centros de decisão. Os cidadãos devem tomar consciência dessa alienação para poderem assumir a tarefa da transformação urbana qualitativa, a qual exige como condição um forte crescimento da riqueza social. Dado desconfiar da intervenção do Estado - um Estado de classe, como diz Manuel Castells - neste processo de emancipação urbana e de transformação profunda das relações sociais, Lefebvre permanece prisioneiro da lógica económica que critica, porque, se não for o Estado - mesmo sendo um Estado de classe - a garantir essa criação de riqueza social tão necessária para a transformação urbana qualitativa, então esse papel compete à própria sociedade civil e à iniciativa privada. A centralidade é intrinsecamente conflitual: a centralização total reúne poder, riqueza e conhecimento numa zona territorial restrita, e a sua superação decorre da própria saturação do centro operada pela cidade capitalista que possibilitou a sua extensão espacial e a sua afirmação. A oportunidade de mudança social qualitativa depende da própria condensação social da cidade e das suas contradições internas, das quais a mais importante é talvez a contracção do espaço. A tendência para concentrar todos os centros de decisão numa zona territorial restringida suscita a escassez de espaço nessa zona. Embora não seja estranha às relações sociais de produção e de reprodução capitalistas, a penúria de espaço constitui uma contradição do espaço - uma contradição entre a abundância do passado histórico e a escassez do presente - que abre caminho a novas possibilidades sociais e históricas, em especial ao processo de apropriação individual e colectiva do espaço urbano que visa realizar uma sociedade emancipada e liberta da alienação. É certo que a noção lefebvriana de sociedade urbana enquanto sociedade aliviada do peso da repressão dos desejos instintivos do homem é ainda uma utopia, mas trata-se de uma utopia possível, no sentido de poder vir a ser realizada, tal como sucede momentaneamente nos períodos de tensão revolucionária ou na Festa do S. João do Porto e nas Celebrações das Vitórias do FCPorto, quando os cidadãos saem para as ruas, onde se entregam a práticas lúdicas e de socialização intensa, rompendo com as hierarquias sociais e sobrepondo o valor de uso do espaço urbano ao seu valor de troca. Porém, o capitalismo tem mostrado ser um sistema capaz de absorver as crises e de as usar como fases de racionalização e de adaptação, fazendo as suas "leis" conformarem-se a outros tipos de formação social. Lefebvre acreditava que a violência e as contradições sociais que acompanham o crescimento arrogante do capitalismo preparavam o caminho para a irrupção da sociedade urbana: a sua obra mais não é do que a renovação do projecto marxista de uma revolução da organização industrial, complementado com um projecto de revolução urbana. (CONTINUA com um novo título "Henri Lefebvre: A Produção do Espaço".)
J Francisco Saraiva de Sousa
98 comentários:
Estava a consultar o livro de geografia urbana de Teresa Barata Salgueiro e as obras de Gilberto Velho (brasileiro), enfim, a cidade no pensamento de língua portuguesa. Abordagens diferentes: a primeira mais burocrática, a segunda mais popular. O livro da Salgueiro é interessante, embora escrito na linguagem nacional pesada e cansativa, mas falta-lhe uma sólida perspectiva teórica: apesar de ter estado em Chicago, parece que não bebeu da escola de Chicago, onde G. Velho bebeu mais. Porém, vale a pena ler essas obras em língua portuguesa! :)
Bem, fiquei a saber que os Almadas do Porto eram da família do Marquês de Pombal, outro corrupto nacional - embora esclarecido! E que o eléctrico foi introduzido primeiro no Porto e mais tarde em Lisboa. A minha conjectura de que o Porto sempre foi o motor da inovação em Portugal confirma-se: a força que puxa para baixo vem da capital, o centro da concepção medíocre de poder nacional. :)
Gostei do espaço que ela dedica ao estudo escasso de Lourenço Marques (Maputo) e Luanda: nunca devemos esquecer que essas cidades foram uma invenção portuguesa e de muito boa qualidade. É com tristeza que vejo a sua degradação actual provocada por plebes embrutecidas e irracionais que, tal como Obama, matam moscas e nada mais, ao mesmo tempo que as atraem. :(
Enfim, se Portugal fosse uma grande nação de verdade, teríamos de reescrever a nossa história e reinventar a nossa cultura, mas entregues às moscas do poder central não temos futuro. As moscas centrais ditas jornalistas, sobretudo quando têm pseudoformação económica, dizem na TV que fazem parte da classe média elevada e que o seu público é da mesma proveniência social. Tadinhos: além de burrecos, são atrasados mentais! Isto é uma aldeia de macacos! :(
A primeira foto é da Casa (arte deco) de Serralves e a segunda mostra uma paisagem da baixa do Porto, com destaque da Sé Catedral e do Palácio.
Acho que é do interesse nacional a PT adquirir parte do capital da TVI. A gritaria em torno desse negócio não faz sentido: antes era porque a empresa que comprou a TVI era socialista; agora é para controlar a comunicação. Não faz sentido o Presidente da República falar desse assunto, logo ele que, quando era primeiro-ministro, cometeu tantos e tantos erros que hipotecaram as gerações futuras, nomeadamente a nossa. O PSD não assume responsabilidade política: vive de intrigas infindáveis... :(
No entanto, não dizem nada sobre as laranjas (elementos do PSD) que conduziram dois bancos à falência, com episódios muito estranhos de corrupção e de venda de mentiras aos clientes. Manuela Ferreira Leite não foi grande ministra da educação nem das finanças: só quem não tem memório cai no mesmo erro...
Bem, a história da arquitectura do Porto está por fazer: as obras disponíveis cometem muitos erros grosseiros e induzem em erro, incluindo obras estrangeiras. Vou ter de consultar umas obras antes de concluir o post, mas não sei onde coloquei a minha obra de referência: desapareceu de vista. :)
Hoje o café Piolho (alcunha dada pelos universitários portuenses) faz 100 anos de existência e as galerias situadas entre a rua das Carmelitas e a rua Almada funcionam como bares a céu descoberto: esta é uma zona de luxo da Invicta! :)
Para quem não conhece o Porto, a imagem da Torre dos Clérigos permite localizar essas zonas:`a partir da sua frente vamos até ao jardim da Cordoaria e daí localizamos o Piolho; atrás, no lado esquerdo, vê-se uma cúpula de um edifício que integra já a zona das galerias. É uma zona urbana excepcional... :)
A "esplanada" situada debaixo da zona verde da foto está fechada e aguarda talvez uma remodelação.
Quanto à morte de Michael Jackson, é preciso ser realista e dizer que ele sofria de um grave problema de identidade, do qual o desconforto corporal não era estranho. Ele odiava o seu corpo e a sua cor e acabou por se converter num "monstrinho" feio, pueril (outra perturbação) e em decomposição. Tadinho: nasceu tarado! :(
Lefebvre é um filósofo não-dogmático, com uma obra extensa que procura apreender as contradições da modernidade. Enquanto não houver um estudo global do seu pensamento em constante movimento, não podemos compreender cada um dos seus ensaios, porque todos eles estão ligados por um pensamento em constante processo de metamorfose. Lefebvre fornece muitas pistas e a sua meditação da origem é deveras interessante.
Todos os meus mestres são românticos e agora começo a compreender o fascínio que o romantismo exerce sobre o meu próprio pensamento. Tal como Lefebvre ou Lukács, caminho ao encontro de um novo romantismo. É uma boa saída para a crise instalada... E, afinal, o que define o Porto é o romantismo: Porto, a cidade do novo romantismo! Como diz Stendhal:
"É preciso coragem para ser romântico, pois é preciso arriscar".
O Porto precisa de coragem e arriscar: assumir o seu romantismo, o novo romantismo!
Bom dia F.,
Quanto ao M. Jackson... é muito fácil fazer psicologia, aliás, como o seu breve comentário mostra e os próprios media há mais de 10 anos fazem. Seria mais interessante abordar a sua infantilidade expressa de forma exuberante na sua "Neverland" e na necessidade de dormir numa câmara hiperbárica, como produto de uma sociedade ela própria infantilizada e asfixiante e desoxigenada.
Quanto ao Porto, tem muitas potencialidades, mas pouca estratégia, o q faz com que a sua pequenez se evidencie a cada passo. Por exemplo, no que diz respeito à área cultural, q é o q conheço melhor e com maior propriedade posso comentar, o Porto, dada a sua tradição liberal, poderia focar a sua política na promoção de arte alternativa, i.e. não-institucionalizada, contra-sistema, com outros meios de produção. Isso tentou-se fazer com o cluster da Miguel Bombarda, mas os artistas "do Porto" ambicionam é expor em Serralves, subsumindo-se ao sistema da arte, em vez de reagir a ele. Por sua vez, o Porto nas suas políticas culturais, toma por crivo a cidade rival, Lisboa, do género: se Lx tem temos de ter, etc, em vez de tomar como exemplo outras cidades que começam a emergir na cena alternativa europeia como Berlim e Istambul. O que faz com que os vícios lisboetas, nomeadamente, a ambição de se institucionalizar todos os projectos mais alternativos, por falta de fundo ideológico, também, acabem por contaminar o Porto. Este sim é o projecto do Porto, o do futuro. Agora está nas mãos do povo e dos políticos quererem ser uma cidade europeia em todos os seus méritos, ou uma cidade pequena e quase provinciana que apenas se limita a copiar o que vê na capital.
Não acredito que o Porto se limita a copiar o que vem da capital - e sinceramente espero que não o faça, porque não há nada para copiar, a não ser a corrupção. Mas quanto a isso nada posso fazer: Portugal inteiro mergulhou no charco, como sabe se for uma observadora atenta da TV e da vida pública.
O problema nacional reside na escassez de dinheiro: as pessoas sacrificam tudo para ter uma fonte de rendimento segura e, como tendem a não ser geralmente criativas e inteligentes, acomodam-se facilmente. Toda a nossa cultura (sentido largo) é uma ilusão: em Portugal, o pensamento não rende nem sequer é incentivado; pelo contrário, é inibido e excluído. O nosso problema é muito grave e sinceramente não vislumbro um bom futuro para o país que é dominado por uma minoria iletrada, ignorante e muito ladra. Ela, sim, quer tudo institucionalizado para controlar de todas as formas, sobretudo as verbas.
Existem alternativas; elas podem ser pensadas. Porém, é inútil pensá-las, porque não há público ou pessoas que queiram lutar por um futuro diferente, talvez melhor.
O centralismo cavaquista tentou tudo para matar a tradição liberal do Porto e, de certo modo, conseguiu. Estranho é que membros inteligentes do PSD não tenham compreendido que Cavaco Silva não só desgastou o partido, como destruiu o Norte. Alguns sabem-no e dizem-no...
Quando falo do Porto refiro-me à sua arquitectura: a cidade como obra arquitectónica. Quanto ao "povo", não espero grande coisa dele: o povo luso é todo igualmente cinzento, tal como os seus políticos. Mas tem razão: imitar Lx é um suicídio.
Quanto a M Jackson, não merece o tempo que se gasta a falar dele. É modelo de quê? Do capitalismo!... Não tenho paciência para falar de pessoas sem mérito - meros produtos do capitalismo... :(
De modo sincero, devo dizer que não acredito no Porto, em Lisboa ou em Portugal! Caminho apenas sozinho numa terra árida e despovoada de seres inteligentes!
Boa caminhada, então. O Francisco n deixa de ser o "tipo nómada" destes tempos.
E temos outra alternativa a não ser a de nómadas solitários? Isso não significa a perda da esperança. O nómada deixa vestígios virtuais, sementes que podem vir a germinar. Quem sabe? Movo-me no espaço aberto pela dialéctica do possível/impossível/possível! :)
Mais:
1. A Papillon fala de cultura anti-sistema como modelo a seguir pelo Porto. Eu faço cultura anti-sistema e, claro, não posso viver disso: é cultura grátis sem audiência (muito escassa). No entanto, esquece que o anti-sistema ou é integrado pelo mercado ou excluído. A lei de mercado mata toda a cultura superior, até porque a submete a uma audiência massificada e medíocre. Como é que as pessoas do Porto poderiam sobreviver sem nenhum apoio: Miguel Bombarda tem muitas "lojas" mas falta saber se são autosuficientes, isto é, se fazem dinheiro para sobreviver.
2. A Papillon defende a capital, esquecendo que o centralismo empobrece o país e corrompe, além de impor mediocridade. O centralismo nega a explosão das diferenças: rouba espontaneidade e competitividade. Por isso, detesto Lisboa: é corrupta e empobrece. Basta ver TV, por onde passam essas pessoas que perderam o juízo...
O debate de ideias é um debate histérioco: o que conta não são as ideias (em si), mas as figuras que opinam histericamente. O debate converteu-se num confronto entre corpos que emitem ruídos. Enfim, uma vergonha e uma tristeza: o espaço público foi tomado por criaturas que gritam insanidades.
3. A Papillon supõe erradamente que Lisboa é "grande" e "cosmopolita". Ora, essa suposta grandeza não se vê em lado nenhum: o que vemos é ilusão, histeria, alienação e provincianismo! Lisboa não tem estatuto cultural no mundo, como sabe. Logo, não pode nem deve ser modelo de nada; quanto muito representa tudo aquilo que devemos desprezar.
Quanto ao ponto 1; sim eu sei bem o que disse e acredito que o Francisco tenha lido bem - é possível fazer arte anti-sistema, mas sem ideologia é difícil. Contudo, uma hipótese para o Porto ser cosmopolita (se é q é a sua ambição política, pois n é muito claro), deveria olhar para fora e não para Lx.
O ponto 2 n respondo, pois n disse nada disso.
O ponto 3, lamento mas o Francisco desconhece o q se passa lá fora em termos de fóruns culturais, mas eu explico: as cidades mais discutidas para serem os novos pólos culturais na Europa são Lisboa - pela sua ligação a África e Istambul - pela sua ligação ao Oriente. Este é o futuro, vinculado claramente a uma dia de interculturalidade. No entanto, Istambul está em muito melhor posição para ser a nova cidade acolhedora de artistas, até pq é muito mais barata do q Lx, aqui nem há política de arrendamento. No entanto, os políticos de Lx começam a estar atentos e já anunciaram medidas nesses sentido, como ateliers e residências para artistas estrangeiros...
*ideia de interculturalidade.
Ah, e na Miguel Bombarda há galerias, e naturalmente que os galeristas preferem q os seus artistas exponham em Serralves, mas isso n é manter uma cena alternativa!
A Papillon não está a ir à raíz do mal e parece aceitar a cultura de massas. A raíz da escassez reside no uso burocrático e economicista das leis de mercado para benefício próprio (provado, particular).
Sinceramente, essa ideia de cultura não me atrai, porque no fundo se perde dinheiro ou se investe em pessoas que não produzem verdadeira arte. Isso é uma ilusão que - espero - o Porto não deve seguir. Essa arte é tão falsa quanto o marketing que a produz.
Além disso, a cultura não se reduz à arte. E eu preocupo-me mais com a cultura no seu sentido restrito: o que me interessa é o pensamento e a filosofia, não a arte comercial e de propaganda.
De facto, Lx caminha de mal a pior, sendo tentada a mundializar aquilo que é mesmo saloio. Se investirem nisso, estão a perder dinheiro e verdadeiras oportunidades de sair da mediocridade. Até no sonho Lx é saloia! Que tristeza essa de querer visibilidade à custa da riqueza interior!
"essa ideia de cultura não me atrai, porque no fundo se perde dinheiro ou se investe em pessoas que não produzem verdadeira arte."
mas que ideia de arte verdadeira/falsa está em causa? Desconheço e penso que o próprio F. desconheça em consistência do que fala, por isso, prefiro n discutir no vazio... :)
Boa tarde e bom trabalho
Sim, o Porto precisa libertar-se de lx, assumir a sua identidade e seguir o seu caminho com mérito. O Porto não é estruturalmente saloio; por isso, tem a possibilidade de ser cosmopolita sem copiar palermices. Isso é patente na sua arquitectura: o Porto tem identidade arquitectónica e é liberal no sentido de cavalgar a onda da frente. Lx é asfixia total!
Ah, logo vi que ia desistir: A Papillon não está interessada na arte ou na cultura, porque vive adormecida nesse sonho de ver lx ser o que não é...
Para si, tudo o que diz ser arte, arte é. Ora, essa é uma noção pouco crítica da arte. Além disso, se pensar bem os artistas que recebem apoios não produzem nada de jeito. A sua arte reside na não-produção de arte! Sim, talvez nesse sentido lx se torne a cidade dos artistas que não produzem arte, embora sejam financiados como se produzissem arte.
E para não discutir no VAZIO: qual a ligação de Lisboa a África? essa deve ser uma ligação fantasista! Isso é uma mentira com perna curta! E o que África tem a oferecer em termos de cultura ou arte? Artesanato! Tem audiência? Muitas fantasias lunáticas para meu gosto! Masturbação mental paranóica!
Eu n desisto! É óbvio que tenho critérios para a arte, até porque se tudo é arte, n há arte! Mas n é a espantar o problema com: "ah, a arte morreu, logo isso q Lisboa pretende ser é uma ilusão", é q é hipócrita! N gosto de discussões maniqueístas! Eu gosto do Porto, e apontei-lhe as falhas e possibilidades de superação da cidade, se concorda ou discorda com elas, estou aqui para ler as suas razões, agora, não é a disparar sobre Lisboa q o Porto engrandece. Meta isso na sua cabeça dura.
E curiosamente Lisboa é expulsa do turismo de qualidade, mas quer entrar no turismo da interculturalidade afro-oriental, onde a audiência é menos exigente! Lá se foram as jóias e os dedos terroristas! Ironia total! Enfim, sonhos infantis ao estilo de M Jackson!
E África n é artesanato, n seja pedante! Os artistas europeus fazem metamorfosear as artes populares em arte erudita. Já o cubismo nasceu pela influência da arte africana, essa arte "menor". A arte vive dessas trocas, desse tráfego entre culturas e viverá a cidade que melhor souber proporcionar isso!
Mas eu não estou a falar do Porto ou em nome do Porto, até porque tb o posso criticar nos seus desvios. Aliás, algumas críticas tb se aplicam ao Porto e ao mundo, tanto faz... Mas não acho esse um bom investimento. O investimento certo é em nós, não nos outros!
Com sabe, a arte africana está a ser estilizada pelos próprios e muito bem. Além disso, essa iniciativa é assumida pela África do Sul que tem bom mercado nos USA.
Bem, cubismo e outras vanguardas já foram. Imitar modelos já gastos é apostar na arte? Duvido... A boa iniciativa é privada e individual, nunca colectiva: as pessoas podem reunir-se sem nunca produzir nada de novo. Sempre foi assim... A criatividade é individual.
Mas quem em falou em imitar o cubismo??
Agora, desisto, pq o F. perverte tudo e insiste em n compreender o meu ponto de vista. O futuro é a interculturalidade e não a cultura "portuense" ou "lisboeta", mas sim cidades do mundo, na sua acepção mais real. É isso q espero, como europeia e como cidadã do mundo.
O Francisco, n sabendo, exerce muito bem papel de portuense, pq tem visão estreita para a cidade q tanto ama e, de facto, por mais q o Porto se esforce, n deixa de ser uma simpática cidadela de gente simpática e conviva. Se é isso q quer para o futuro da sua cidade, está no óptimo caminho.
Sim, as galerias Miguel Bombarda já têm uma procura internacional, mas não sei se será suficiente... É preciso saber apostar com responsabilidade e conhecimento.
Ah e dei o exemplo do cubismo, como sendo a primeira vanguarda e o marco da arte moderna q ainda hj vivemos. Mais uma vez lhe digo, q n constumo falar de cor.
"pq tem visão estreita para a cidade q tanto ama e, de facto, por mais q o Porto se esforce, n deixa de ser uma simpática cidadela de gente simpática e conviva."
Ah, como se revela tudo nestas suas palavras: isso é muito, muito triste e injusto. A estreiteza reside na cidadela de Lx!
Eu não represento o Porto, nem posso falar em seu nome, mas se dependesse de mim o Porto já estava longe da inveja nacional, sim no mundo real da luz!
Enfim, se não conecesse bem Lisboa, a avaliar pelas suas palavras, diria que se tratava de uma cidade cagona: muitos sonhos da merda! No entanto, sou mais moderado e sei ver o que é bom para Portugal em geral ou para o Porto e Lisboa em particular. Além disso, o nosso futuro - dos portugueses, não da Papillon que voa pelo mundo e pela Europa - depende da nossa capacidade produtiva: uma economia capaz de criar riqueza e dar emprego a todos, uma economia exportadora. Isso é fundamental, porque sem isso Portugal não é nada.
A Papillon escreveu:
"E África n é artesanato, n seja pedante! Os artistas europeus fazem metamorfosear as artes populares em arte erudita. Já o cubismo nasceu pela influência da arte africana, essa arte "menor". A arte vive dessas trocas, desse tráfego entre culturas e viverá a cidade que melhor souber proporcionar isso!"
Estranho conceito dos artistas como transformadores da arte popular em arte erudita! Mas antes tinha dito que África não é artesanato!
Mas mais estranho é a sua noção de que lx pode viver das trocas afro-orientais! Reconheço que sou elitista: não desejo esse futuro para o Porto. Prefiro que viva da sua capacidade de produzir mais-valias diferenciais, desde as económicas até as culturais, afirmando a sua identidade no mundo. O global, como sabe, não eclipsou o local: segundo o meu desejo, o Porto deve afirmar a sua identidade no mundo e ser reconhecido pela sua identidade, sem se evaporar no amorfo mundial ou na interculturalidade. O Porto tem as suas energias e é com elas que deve trabalhar a sua diferença: os turistas procuram isso, bem como os artistas: identidade!
Sinceramente, a Papillon defendeu uma concepção de Lisboa como uma cidade prostituta, esquecendo que onde há prostitutas há chulos, ou seja, corruptos que engordam à custa da exploração dos contribuintes de todo o país.
E quanto ao Porto foi maldosa: queria que este apostasse na cultura alternativa, não-institucionalizada, mas, ao mesmo tempo, reclama a ajuda financeira do Estado - que é de todos, não apenas de lx (lembre-se disso) - para importar e fixar artistas estrangeiros em lx. Esse projecto nem merece crítica: é um abuso de poder corrompido e absolutamente extraterrestre. Espero que o Porto fixe pessoas de qualidade sem roubar os outros. Além disso, dá a imagem talvez correcta de lx: atrair povos mais fracos, já que é desprezada pelos elos criativos do mundo civilizado. Sem o dinheiro que lx gasta, o Porto atrai pela sua virtude interior e pelas suas forças. Sim, os portuenses são "convivas", mas não são invejosos, maldosos e lunáticos exploradores!
Só um governo estúpido e saloio vai apostar nesse erro...
Não sei se a Papillon fala de cor ou não - aprendi as respeitar as pessoas, mesmo quando dizem asneira grossa -, mas que é bairrista e um tanto ou quanto saloia, lá isso parece ser. E tenho pena que assim seja, porque abdica de criticar o sistema. Aliás, a defesa que faz desse projecto irracional e medíocre é uma defesa sistemática do sistema. Ora, a crítica em Portugal só pode ser radical se criticar a capital, a sede do desaire nacional e a responsável pela má governação de Portugal. Lisboa não tem credibilidade, porque o país de que diz ser capital - para o explorar e alimentar as suas histerias de mulher da vida - está na miséria e nem isso consegue detectar, tal é a sua cegueira total.
A defesa do indefensável não é uma atitude nobre. Muito triste o modo como usa e abusa da linguagem para ofender a Cidade Invicta. Seja consequente e defenda a independência de Lisboa em relação ao Norte. Sem lx, o Norte encontra rumo e felicidade: lx é a ertena vergonha portuguesa!
"eterna"... bah, uns descuidos de dedos teclantes!
Mais provas da imbecilidade lisboeta? Basta ligar a TV e escutar certas personagens! Vá reconheça: lx é visceralmente saloia. Toda a gente sabe disso; o que não sabíamos era que pretende assumir a sua mouraria, ligando-se aos mouros! Que tristeza de capital da merda!
Ok, pense o q quiser e aponte as críticas para onde quiser. Eu, naturalmente, tenho ideias e esperança para a cidade onde vivo e sou feliz.
Ah, afinal acredita na esperança e faz bem; porém, encaminhe produtivamente a esperança e defenda uma lx que aposte nas pessoas e nos portugueses. É preciso cultivar um certo cinismo produtivo e ser conscientes das nossas próprias limitações! O meu discurso é nacional: não se esqueça disso, até porque não nasci aqui.
Ah, como pessoa sou tolerante e brincalhão, mas como crítico do sistema não dou tréguas ao sistema. Paz entre nós! Critiquei o sistema redescobrindo-o oculto nas suas palavras: apenas isso e nada mais! Seja feliz aí em lx! Embora seja difícil ser feliz neste mundo que caminha para a catástrofe! :)
Ah, a última frase foi o cidadão do mundo que a escreveu; não foi o português ou o portuense! :)
Ah, e outra coisa: não é bom viver de subsídios ou de ajudas do Estado - este é um pensamento profundo e genuíno -, mas para que isso suceda é necessário criar uma economia forte e poderosa. Quanto mais libertos do Estado - todos, artistas, agentes da cultura, trabalhadores, empresários -, melhor para todos: independência é um bem que pode gerar alguma alegria de viver. Também este é um pensamento do mundo que urge aplicar aqui - Portugal e não apenas no Porto. Não sou irracional ou bairrista! :)
Porém, tenho de dizer outra coisa: a Papillon falou da "nossa (lisboa) ligação a África". Eu perguntei-lhe pela natureza da ligação mas não obtive resposta. Curiosamente, já escutei outros lisboetas que falam das ligações Lisboa/África, indo ao ponto de falar da colonização e da guerra lisboetas do ultramar.
Bem, antes de tudo, um tal pensamento escutado pelos africanos das ex-colónias produz um anticorpo contra Lisboa, e com alguma justiça, porque lx tem sido uma colonizadora exploradora exterior mas sobretudo interiormente.
Porém, o pensamento denuncia estupidez arrogante: as ligações são entre lx/África ou Portugal/África! Porque, se forem lx/África, então nesse caso lx deve sair da comunidade portuguesa e abdicar de viver com os impostos das outras regiões do país. A estupidez de lx já chegou ao limite de identificar a história de Portugal com a história de Lisboa: uma insanidade louca que foi introduzida nos currículos ocultos nacionais. Ora, esta prática que é uma prática de roubo, de abuso e de exploração nacional, é responsável pela miséria nacional, pelas desigualdades e pelas assimetrias. Se os portugueses fossem sábios, penalizavam Lisboa que quer governar Portugal como se fosse uma colónia asteca, cujo carne sacrifica e digere nos altares da alta corrupção!
Uma pessoa crítica sabe captar o sentido das palavras e libertá-las do sentido oficial. O estigma lavrado pelos lisboetas contra as pessoas do Norte revela a sua imbecilidade natural: um saloio cubíco é aquele que nunca é atormentado pela ideia de ser um saloio. A ideia que os portugueses deviam gravar na memória é a de que os saloios querem ser mais espertos do que os não-saloios, transferindo para estes os seus próprios estigmas. Ora, se o estigma lançado contra os outros é o próprio estigma dos saloios, então a compreensão do estigma revela a própria alma saloia. O mal de Portugal chama-se lisboa!
Em suma: o portugal profundo de que alguns lisboetas imbecilizados falam está todo concentrado aí na capital: Lisboa é o Portugal Profundo que teme a mudança porque sabe que esta implica o termo da sua existência exploradora com traços mouros - tais como o "negociozinho sujo".
Se os lisboetas não se sentem portugueses, o melhor que fazem é ir viver para Marrocos! Portugal não pode ser feliz com mouros na costa ou mesmo no território!
Geralmente, sou paciente e diplomático, mas hoje cansei-me de ouvir esse discurso contra o Norte que já chegou ao ponto de afirmar que "as mulheres do Porto são ordinárias". Uma brincadeira ou outra tolera-se, mas uma difamação sistemática não se tolera.
Os portugueses podem acordar e dizer: "Basta! Não queremos ser explorados e maltratados por Lisboa!" Os madeirenses já tomaram consciência disso e talvez tenham razão... Portugal não é Lisboa! E pode viver sem Lisboa, mas o contrário não é plausível!
A arte precisa do pensamento filosófico para a iluminar. O Porto Culto de que fala Sampaio Bruno é o berço do pensamento filosófico português: O Porto produz filosofia, ciência, técnica e arte. Como obra de arte arquitectónica, a Cidade do Porto é o único solo nacional que gerou cultura superior, em diálogo com o Brasil. "Brasil mental" é o título de uma obra de Bruno que cativou o pensamento brasileiro, até porque há um laço estreito entre o Porto e Brasil. Os brasileiros tendem a ser aqui em Portugal portistas: outra marca de qualidade que os invejosos e néscios quiserem manchar projectando a sua própria estrumeira fedorenta! O Porto unido e organizado dá tanga à capital luso-asteca! A nós não nos comem esses astecas sulistas!
Os turistas inteligentes e de qualidade desejam o Porto!
Os artistas com ambição desejam o Porto!
Os nossos irmãos de língua portuguesa desejam o Porto!
Os universitários desejam o Porto!
Os nobres desejam o Porto!
Os estrangeiros respeitam o Porto!
Os ingleses e os americanos bebem Porto!
Porto é a todos os níveis uma marca autónoma e independente!
Se estiver no estrangeiros com pessoas civilizadas que me perguntam donde sou, basta pronunciar Porto para ser bajulado, mimado e amado! Um portuense pode omitir o ser português; basta-lhe ser do Porto. Um estrangeiro inteligente não quer saber mais nada! Até nas redes virtuais do sexo basta dizer "sou do Porto" para atrair "presas sexuais"! O nosso erotismo portuense e portista é desejado mundialmente, seja em Itália, Grécia, Inglaterra, França, Suécia, Noruega ou USA, Austrália, Rússia e Japão! Ser do Porto é simplesmente IN: é estar na moda.
Bem sei que as verdades podem fazer dores em muita gente mesquinha, mas não há nada a fazer: Ser do Porto dá status mundial! Os madrilenos adoram o Porto! E os adeptos do Real de Madrid amam o Porto depois do seu clube! É isso que ouço aqui e lá pela sua boca. Mas também se estivermos em Barcelona somos nobres. Basta dizer Sou do Porto!
O Porto é erótico, sexy e romântico. Um exemplo de erostismo virtual: um portuense sabe fazer os americanos, italianos ou australianos virem passar um fim-de-semana ao Porto. Porquê? Porque o Porto é sexy: tão simples quanto isso!
Um portuense numa discoteca de Barcelona ou de Madrid põe os espanhóis(las) excitados(as). Porquê? Porque o Porto é sexy.
Um portuense deixa de rastos os "lisboetas"! Porquê? Porque o Porto é tesudo!
O último comntário é para acalmar os amigos(as) de lx! Nem toda a gente é bairrista primária! :)
O Porto é a única cidade portuguesa visitada por turistas que procuram romance! Porquê? Porque o Porto é romântico, sexy e erótica e, para isso, não precisa desnudar-se. É tudo uma questão de atmosfera e de troca de olhares!
Ai meu Deus... onde é q o seu discurso foi parar... ainda bem q os portuenses são tesudos. Gostámos todos de saber. :)
Os portuenses e alguns amigos lisboetas! Sou justo e democrático! E apanhei chuvinha agora! Vou fazer uma constipação! Logo hoje que estou sexy! Que tristeza, mas estou com calor, não percebo... :)
Ya, o Porto é um falo, porque toda a sua arquitectura é erguida e tem quase sempre uma torre fálica: no post estão três falos: CMPorto, Palácio da Bolsa e a Torre dos Clérigos.
Pois, pois, ainda bem para si e os seus, então. ;)
Boa noite e n se constipe!
Finalmente, este post está concluído. O próximo desta série tem novo título. :)
Meus amigos e ciberamigos
Preferia que deixassem as mensagens aqui no blogue, no respectivo post que lhes interessou, porque responder a todos os e-mails torna-se uma tarefa demasiado onerosa e nem sempre tenho tempo.
Obrigado pela atenção!
Mas vou tentar mais tarde responder a um ou outro, sobretudo aqueles que me interpelam sobre a arqueologia heideggeriana, que finalmente chegou - não em tradução portuguesa, infelizmente - à FLUPorto. :)
E obrigado Papillon: não me constipei! Combati logo essa possibilidade! :)
De nada, Francisco, sabe que me preocupo com a sua saúde; senão depois deixa de publicar posts e eu de me rir com os seus discursos patéticos pró-Porto! N pode ser! Cuide sempre de si, qual arlequim de fina porcelana.
Ya, é bom e saudável ser pró-porto, porque, como disse hoje o Pacheco Pereira, em Lisboa a prostituição está cada vez mais generalizada: só anúncios de prostituição. Se continuar a caminhar a este ritmo galopante, a capital acaba por se ajoelhar às "coisas" árabes! Que triste sina a da capital da ilusão! :(
Hummmm... acho que a Papillon não sabe rir! Este é o meu palpite! É como o Pacheco, também não sabe rir, porque se leva demasiado a sério... :)
Claro que sei rir, por isso lhe digo que me rio muito com o q o F. escreve. E n devo ser só eu.
Tb vi o programa do Pacheco, gostei dos seus "bitaites". :)
Viver no Porto o Porto é saudável, porque podemos ser autênticos, sem precisar estar a corromper para fingir que se vence, dizer mentiras tais como conhecer X ou Y, ter os ouvidos alugados pela gritaria mediática e política, fingir ser quem não se é, estar sob a pressão de imitar alguma coisa externa e oca, fingir que se trabalha ou que se é educado quando na verdade é quase tudo có-có... Enfim, o Porto é autêntico como o seu granito: verticalidade é a nossa virtude! Lisboa não está a conseguir o que pretende, se pretende alguma coisa para além do vazio existencial: Lisboa tanto mente que já mente a si mesma! Enquanto não tomar consciência da sua mentira essencial, escutando realmente o que se passa à volta e dentro de si, será triste, melancólica e cinzenta como o fado. Como diz o J. Gil: Lisboa tem medo de existir e, por isso, é invejosa; apropria-se do que pertence aos outros como se fosse seu as qualidades dos outros. :(
ya, o consumo de sexo está sempre em alta.
Gostou? Puf..., foi uma coisa muito suada e imbuída de muita propaganda política. Não acho esse um estilo intelectual!
Pois, n sei do q fala, delira com certeza. Aliás o seu discurso é q é invejoso, pq faz constantemente comparações. Liberte-se! Frua nesse cidade maravilhosa e esqueça Lx. ;)
Então, mas é o estilo do Pacheco, eu gosto dele.
Eu invejoso? E logo de Lisboa? Nunca falo de lx: quem traz o assunto é a Papillon que diz mal do Porto que eu fruo...
Porquê gostar do zézinho? Muito suado e falso..., sem substância.
Eu falo mal do Porto?
Bom, comprove-o, isso é mentira.
Aqui no Porto/Norte - o PSD é norte - os lideres laranjas dizem mal dele, pelo menos atrás e alguns diante de vastas audiências... Pelo menos, ouço sempre esses comentários anti-zézinho...
No Norte e n só. Ele é enfant terrible do psd, mas gosto do seu estilo acérrimo. :)
E eu disse mal de Lisboa? Não disse! Disse algo falso em relação ao Porto? Não disse! E ao contrário do que insinua não tenho visto ninguém a rir dos meus posts, a avaliar pelos e-mails recebidos e pelas citações já em teses de mestrado e salas de aula universitárias. Mas isso não interessa: critico para libertar o futuro novo!
O Pacheco é-me indiferente, porque o conheço e sei quando está a manipular ou a tentar distorcer a realidade à medida laranja. O meu discurso é da verdade, sem a qual não podemos construir nada positivo.
Sim, o Pacheco tem feito um esforço para ser mais independente... É verdade... :)
Ainda bem q o F. é citado, se isso lhe dá prestígio, ainda bem, uma vez que vivemos numa época em que o sistema científico atribui valor pelo número de citações que são feitas de um determinado artigo, pelo número de ensaios que são publicados e revistos pelos pares... enfim, tempo triste!
De qq modo, os seus posts senao forem interessantes sempre fazem rir, agora as teses de mestrado, na era de Bologna, q são publicadas por aí, só fazem mesmo chorar e lamentar.
Ya, esse é um sistema de avaliação universitária e é muito burocrático. Prefiro a dinâmica das ideias, a criação de novos territórios de pesquisa e o diálogo construtivo. No entanto, esse sistema de avaliação ajuda a clarificar algumas situações menos transparentes!
Bem, só um tonto se ri dos meus posts, porque isso significa ignorância total! O riso e o choro têm uma mesma raíz: ambos são de certo modo patéticos. Eu estou para além do riso e do choro: sou profundo e verdadeiro.
Ah, finalmente tenho o perfil psicológico e cognitivo da Papillon! :)
Claro q é um tonto, é duplamente tonto qd diz q é "profundo e verdadeiro"... mas isso faz com q as pessoas o visitem, o leiam e o admirem também a sua arrogância e coragem. É o q admiro em si: a sua coragem. Deus dotou-me de prolífica inteligência para discenir o próximo. Nisso e noutras coisas os deuses foram muito generosos. ;)
Óptimo! Já viu? Tem-me captada e eu a si! ;)
Quais as razões que a levam a criticar Bolonha? Eu já tenho dito que Bolonha destrói o ensino e a investigação, mas argumento a partir das orientações pedagógicas, económicas e burocráticas, que, essas sim, conduzem à inflação da avaliação!
Bem, eu sei que a maior parte das teses de mestrado e doutoramento são uma merda, mas existem coisas interessantes que tenho lido e conhecido. Mas há uma clara regressão cognitiva que se agravou com Bolonha, embora venha de trás...
Em suma: há ambição mas falta de estofo intelectual - e de honestidade intelectual e pessoal - para a concretizar, a começar pelo nível de conhecimento e pelo domínio da própria língua - ambos rudimentares.
Também sou corajoso e isso evidencia-se na crítica que faço: tenho coragem para dizer a verdade sem pensar em bajular com a ideia de vir a fazer parte do sistema. Não tenho medo e não sou medíocre! Falo das coisas a partir de fora mesmo quando estou dentro delas: não sacrifico a verdade ao meu interesse ou a pensar em tirar partido da situação! Sim, isso é profundidade anímica! Óptimo se me conhece!
Sou sobretudo contra o facto de que o ensino superior sob o tratado de Bologna é o culminar de um projecto socio-económico de profissionalização. O aspecto burocrático inevitavelmente intersecciona o aspecto pedagógico e ambos concorrem para o económico. Assim, deixa de haver universidade, no seu sentido originário - universo, totalidade de conhecimento -, para haver especialização funcional, administrada em doses cada vez mais rápidas e intensas. Por consequência, as teses de mestrado e doutoramento, tornam-se mais defectivas pela visão que se perde do todo.
Não sei se o conheço Francisco, n tenho essa presunção, nem tão-pouco ambição, apenas gosto de o provocar, como tb já devia ter percebido.
"De facto, os homens – agora e desde sempre – começaram a filosofar ao ficarem maravilhados diante de algo, maravilhando-se num primeiro momento diante do que comummente causa estranheza e depois, progredindo pouco a pouco, sentindo-se também perplexos diante de coisas de maior importância, por exemplo, diante das peculiaridades da Lua, do Sol, dos astros e diante da origem do Todo."
Lembrei-me de evocar Aristóteles na Metafísica. A universidade, como construção romântica de Humboldt, já é um fantasma.
Sim, é mesmo um fantasma que nos deixa sem projecto de vida! Até dá vontade de gritar com ódio contra o sistema. O neoliberalismo destruiu tudo e roubou o sentido das coisas sábias. Triste mas estamos condenados a viver num tempo indigente e catastrófico!
O F. conhece o livro "A Universidade em Ruínas" de Bill Readings? É um livro muito iluminado sobre o assunto e traduzido em português numa óptima editora bem recente: Angelus Novus
Não conheço mas vou ver se o leio! Essa editora é de Coimbra - livros pequenos!
N é pequeno!
"Como um crítico do sistema que não dá tréguas ao sistema" defende tão visceralmente uma identidade nacional, dizendo que se deve apostar nos portugueses e desmerecendo aqueles que tanto ajudaram Portugal - obviamente sendo espoliados-?
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