«A burguesia submeteu o campo à cidade. Ela fez surgir enormes cidades; ela aumentou prodigiosa-mente a população das cidades à custa das do campo, arrancando assim uma grande parte da população ao embrutecimento da vida rural. Da mesma maneira que submeteu o campo à cidade, ela sujeitou os países bárbaros aos países civilizados, as nações de camponeses às nações burguesas, o Oriente ao Ocidente. /A burguesia elimina, cada vez mais, a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Ela aglomerou a população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade num pequeno número de mãos. A consequência fatal destas mudanças foi a centralização política. Províncias independentes ou apenas federadas entre si, tendo interesses, leis, governos, tarifas alfandegárias diferentes, foram agrupadas e fundidas numa única nação, sob um único governo, sob uma única lei, com um só interesse nacional de classe, por detrás de uma única barreira alfandegária». (Marx/Engels)
A última obra de Henri Lefebvre dedicada ao estudo do fenómeno urbano é, à primeira vista, desconcertante, porque parece deslocar, fazendo-a desaparecer, a cidade em proveito do espaço, com o surgimento de novas temáticas, tais como a ecologia, a exaltação da natureza ou a função do Estado. Porém, esta mudança de direcção é mais aparente do que real: a obra não só faz um balanço crítico das obras anteriores, como também avança com a formulação de uma teoria unitária que articula, unificando-os, três espaços diferentes, a saber, o espaço físico, o espaço mental e o espaço social. Para levar a cabo esta tarefa, Lefebvre começa por eliminar a distância entre o espaço ideal, dependente de categorias mentais e lógico-matemáticas, e o espaço real da prática social, recorrendo a conceitos universais oriundos da Filosofia e não das ciências particulares. O conceito de produção do espaço é o universal concreto escolhido por Lefebvre e, como tal, constitui o centro da sua nova teoria unificada que é, na sua essência, uma teoria da mudança social ou uma ciência prática do espaço urbano: "A problemática do espaço compreende a problemática do urbano (a cidade, a sua expansão) e do quotidiano (o consumo programado) e substitui assim a problemática da industrialização, mas sem a eliminar, visto que as relações sociais preexistentes subsistem e o novo problema é precisamente o da reprodução". À praxis industrial sucede a praxis urbana, cuja missão histórica é realizar plenamente a sociedade urbana, não já definida em termos de mera apropriação colectiva e individual da natureza, mas sim em termos de segunda natureza. Lefebvre atribui um papel importante aos intelectuais no movimento revolucionário urbano, destacando a tricotomia habitantes-artistas-autoridades em vez da classe operária. As elites intelectuais - filósofos, artistas, literatos e cientistas - devem indicar às massas a impossibilidade de viver num espaço gerido pelas leis da massificação e pelos critérios restritivos da quantidade, de modo a induzir um espírito de mudança enraizado na dimensão espacial e temporal da vida quotidiana - o mundo da vida de Husserl, Schutz e Habermas -, capaz de construir o urbano como obra (de arte) e de modelar a sociedade segundo os seus desejos ou segundo o seu Desejo.
A construção teórica de Lefebvre funda-se no princípio de que "o espaço é um produto social". Este princípio do espaço como produção social já está presente nas obras de Marx, Engels, Alfred Weber (irmão de Max Weber), Simmel e Lukács, onde a vida urbana não é explicada em função da forma espacial da cidade, mas sim em função dos efeitos dos padrões de mobilidade social: a fragmentação e a diversidade da vida urbana, bem como o movimento, a diversidade de estímulos e as apropriações visuais dos lugares, constituem aspectos centrais da experiência do espaço urbano. A análise de Marx da acumulação capitalista mostra que esta se baseia na aniquilação do espaço pelo tempo, o que produziu transformações profundas na agricultura, na indústria e na população ao longo do tempo e do espaço. No entanto, coube a Durkheim elaborar uma teoria social do espaço, mediante a impugnação da concepção kantiana do espaço como um meio vago e indeterminado. A sua teoria compreende basicamente dois elementos: Dado que numa determinada sociedade todos os seus membros têm representações semelhantes do espaço, a causa dessas representações espaciais é de natureza social (1), e essas representações espaciais espelham quase literalmente, pelo menos em alguns casos, o padrão dominante de organização social (2). As categorias do entendimento - escreve Durkheim - "não só vêm da sociedade, como as próprias coisas que exprimem são sociais. Não somente foi a sociedade que as instituiu, como são aspectos diferentes do ser social que lhes serve de conteúdo: a categoria de género começou por ser indistinta do conceito de grupo humano; é o ritmo da vida social que está na base da categoria de tempo; o espaço ocupado pela sociedade é que forneceu a matéria da categoria de espaço; a força colectiva é que foi o protótipo do conceito de força motriz, elemento essencial da categoria de causalidade. No entanto, as categorias não são feitas para serem aplicadas unicamente ao reino social, elas estendem-se à realidade inteira". Da Escola Durkheimiana destacam-se os trabalhos teóricos de Marcel Mauss (sociedade esquimó), Lucien Lévy-Bruhl (povos primitivos), Jean Cazeneuve (locais sagrados), Maurice Halbwachs (memória colectiva), Robert Herz (predominância da mão direita), Marcel Granet (chineses) e J. Chelhod (árabes), entre tantos outros, que ajudaram a clarificar a noção colectiva de espaço nos tipos mais diversos de organização social.
Sem abdicar da sua marcação marxista, Lefebvre utiliza o conceito de produção de espaço no sentido hegeliano, para designar o processo pelo qual os homens, enquanto seres humanos, produzem e reproduzem a sua vida, a sua história e a sua consciência: não existe nada na história e na sociedade que não tenha sido produzido pelos homens. A própria natureza, tal como se apresenta na vida social aos órgãos dos sentidos, foi transformada e produzida pela acção humana. Tomado neste sentido mais alargado, o princípio da produção do espaço tem implicações de grande alcance, uma das quais é o desaparecimento irreversível do espaço-natureza. A visão lefebvriana da natureza não é instrumental: a dominação total da natureza operada pelo capitalismo é claramente condenada. A tarefa não é dominar a natureza, mas transformá-la num símbolo que acompanha a sua destruição real, de modo a podermos salvá-la e, ao mesmo tempo, participar na conjura contra ela. Anthony Giddens considera que a nossa sociedade vive para lá do fim da natureza, não no sentido do mundo físico e dos processos físicos terem deixado de existir, mas no sentido de existirem poucos aspectos do ambiente natural que nos rodeia que não tenham sido afectados e modificados pela intervenção do homem, porque, como mostrou Lefebvre, a natureza foi reduzida ao longo da história humana a "matéria-prima" sobre a qual actuaram as sociedades e os respectivos modos de produção para produzir o seu espaço. Cada sociedade produz o seu espaço e este espaço inclui as relações sociais de reprodução e as relações de produção. O neocapitalismo moderno complexifica o espaço social, dotando-o de uma tripla-relação: a reprodução biológica, a reprodução da força de trabalho e a reprodução das relações sociais de produção. O espaço entendido como produto de um processo produtivo tem uma história: história da sua produção, das suas formas e das suas representações determinada pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Numa primeira aproximação, Lefebvre elabora uma sequência de cinco tipos de espaço que, mais tarde, especifica em função da periodização histórica dos modos de produção: o espaço absoluto, o espaço histórico, o espaço abstracto, o espaço contraditório e o espaço diferencial. O espaço absoluto é o lugar natural pré-seleccionado pela sua consagração, mediante a qual é transformado em símbolo ou em parte de um rito: as forças políticas que ocupam esse espaço consagrado apropriam-se, administrando-a, da produção daqueles que criaram o espaço. Sacerdotes, escribas, guerreiros e príncipes usurpam o espaço e dominam os camponeses e os artesãos. As contradições inerentes às relações sociais de produção conduzem à passagem para outro modo de produção e o espaço-comunidade de sangue dá lugar ao espaço histórico, um espaço relativizado e animado por um sujeito colectivo: a cidade histórica ocidental. A actividade produtiva separa-se da reprodução que perpetua a vida social e torna-se escrava da abstracção: trabalho social abstracto, espaço abstracto. O espaço abstracto - enquanto espaço produzido pelo capitalismo - não se define apenas pelo desaparecimento das árvores, pelo distanciamento da natureza, pelos vazios estatais ou militares, pelas praças-encruzilhadas ou pelos centros comerciais onde confluem as mercadorias, o dinheiro e os automóveis, mas sobretudo pela sua abstracção que esconde, no seu sistema reticular, a vigilância do poder político: "O capitalismo ressurgente do século XVII tratou terrenos, quarteirões, ruas e avenidas como unidades abstractas destinadas à compra e venda, desprezando os usos históricos, as condições topográficas ou as necessidades sociais" (Lewis Mumford). A uniformidade absoluta dos lotes resulta da equiparação do valor da terra ao do dinheiro. O espaço social moderno é usado pelas classes dirigentes como instrumento polivalente para desmembrar e dispersar as classes dominadas e para controlar e regular a sociedade através da organização tecnocrática dos fluxos económicos, financeiros e sociais que definem a cidade moderna. A divisão social e técnica do trabalho é plasmada nesse espaço urbano, complexo e quotidiano, que assegura, em grande medida, a reprodução das relações de produção, dissociando o desejo e as necessidades e fornecendo à classe média representações tranquilizadoras que lhe garantem um lugar rotulado e assegurado. No entanto, no seio desse espaço urbano abstracto emergem novas contradições, das quais a mais importante é a contradição existente entre a possibilidade teórica de controlar globalmente o desenvolvimento do espaço e o seu parcelamento dependente das leis da economia de mercado. Deste modo, o espaço de contradição antecipa o espaço diferencial como antítese do espaço abstracto.
A história social do espaço urbano esboçada por Lefebvre faz corresponder aproximadamente, de modo imperfeito, cada tipo de espaço urbano a um determinado modo de produção, seguindo a periodização histórica dos modos de produção de Marx: ao comunismo primitivo corresponde o espaço analógico, ao modo de produção antigo ou esclavagista o espaço cosmológico, ao modo de produção medieval ou feudal o espaço simbólico, ao modo de produção capitalista o espaço homogéneo e fragmentado, sendo a transição do feudalismo para o capitalismo realizada pelo espaço perspectiva do Renascimento, e, finalmente, ao socialismo o espaço diferencial. O espaço analógico é o espaço ocupado pelas comunidades primitivas que adoptam o organismo humano como modelo inspirador da construção do seu espaço quotidiano. No modo de produção antigo, a cidade ou um dos seus monumentos expressam e reproduzem a ordem cósmica. O espaço da cidade medieval apresenta-se como um espaço cheio de símbolos religiosos e o mesmo pode ser dito do espaço perspectiva do Renascimento. O capitalismo gera um espaço homogéneo e fragmentado: homogéneo, porque tudo nele é equivalente e objecto de troca, e fragmentado, porque está dividido em pedaços e parcelas que se vendem segundo os critérios estabelecidos pela renda do solo. O habitat moderno gera alienação e desigualdades sociais. As tensões relacionadas com a satisfação incompleta das necessidades e do Desejo crescem a um tal ritmo que a multitude visível de objectos e a multitude invisível das necessidades ocupam todo o espaço. A sociedade moderna perdeu a utopia da apropriação colectiva da natureza como condição indispensável da apropriação individual. A natureza, força produtiva e produto das sociedades anteriores, transforma-se continuamente graças ao trabalho do homem. A sociedade capitalista domina e devasta a natureza. O espaço dominado define-se por oposição ao espaço apropriado: o espaço dominado é um espaço natural transformado pela técnica e pela política em função da ideia de centralidade total imposta pelas autoridades estatais (técnicos, planificadores), enquanto o espaço apropriado é um espaço natural modificado para servir as necessidades e as possibilidades de um grupo social que se apropria dele. O resultado desta estratégia de dominação técnica e política é o bloqueamento do desenvolvimento histórico do espaço urbano. A cidade transforma-se em lugar de violência e a centralidade total expulsa os deserdados para as periferias, ao mesmo tempo que alimenta o movimento de fuga para a natureza. O espaço diferencial manifesta-se neste espaço capitalista como uma tendência ou uma possibilidade que ainda não está plenamente realizada, embora se insinue em todos os níveis da vida urbana: a casa, a escola, o bairro e a cidade revelam diferenças que o espaço abstracto procura encobrir e ocultar. O espaço diferencial reúne o que está dividido, nomeadamente o público e o privado, demolindo as separações que exprimem o domínio de um espaço sobre outro espaço, como sucede com a separação entre o centro e a periferia. (Fim da série de posts dedicada aos estudos urbanos de Henri Lefebvre.)
Todas as fotografias são da Cidade do Porto e, por ordem de apresentação, temos: os Jardins do Palácio de Cristal (1), a Ponte da Arrábida (2), a Igreja de S. Francisco (3), a Igreja dos Congregados (4), a Avenida dos Aliados (5), o Teatro Nacional de S. João (6), o Edifício Burgo - Avenida da Boavista (7), Casa da Música (8), e a Praça de D. João I, visão diurna (9) e visão nocturna (10), respectivamente.
J Francisco Saraiva de Sousa
A última obra de Henri Lefebvre dedicada ao estudo do fenómeno urbano é, à primeira vista, desconcertante, porque parece deslocar, fazendo-a desaparecer, a cidade em proveito do espaço, com o surgimento de novas temáticas, tais como a ecologia, a exaltação da natureza ou a função do Estado. Porém, esta mudança de direcção é mais aparente do que real: a obra não só faz um balanço crítico das obras anteriores, como também avança com a formulação de uma teoria unitária que articula, unificando-os, três espaços diferentes, a saber, o espaço físico, o espaço mental e o espaço social. Para levar a cabo esta tarefa, Lefebvre começa por eliminar a distância entre o espaço ideal, dependente de categorias mentais e lógico-matemáticas, e o espaço real da prática social, recorrendo a conceitos universais oriundos da Filosofia e não das ciências particulares. O conceito de produção do espaço é o universal concreto escolhido por Lefebvre e, como tal, constitui o centro da sua nova teoria unificada que é, na sua essência, uma teoria da mudança social ou uma ciência prática do espaço urbano: "A problemática do espaço compreende a problemática do urbano (a cidade, a sua expansão) e do quotidiano (o consumo programado) e substitui assim a problemática da industrialização, mas sem a eliminar, visto que as relações sociais preexistentes subsistem e o novo problema é precisamente o da reprodução". À praxis industrial sucede a praxis urbana, cuja missão histórica é realizar plenamente a sociedade urbana, não já definida em termos de mera apropriação colectiva e individual da natureza, mas sim em termos de segunda natureza. Lefebvre atribui um papel importante aos intelectuais no movimento revolucionário urbano, destacando a tricotomia habitantes-artistas-autoridades em vez da classe operária. As elites intelectuais - filósofos, artistas, literatos e cientistas - devem indicar às massas a impossibilidade de viver num espaço gerido pelas leis da massificação e pelos critérios restritivos da quantidade, de modo a induzir um espírito de mudança enraizado na dimensão espacial e temporal da vida quotidiana - o mundo da vida de Husserl, Schutz e Habermas -, capaz de construir o urbano como obra (de arte) e de modelar a sociedade segundo os seus desejos ou segundo o seu Desejo.
A construção teórica de Lefebvre funda-se no princípio de que "o espaço é um produto social". Este princípio do espaço como produção social já está presente nas obras de Marx, Engels, Alfred Weber (irmão de Max Weber), Simmel e Lukács, onde a vida urbana não é explicada em função da forma espacial da cidade, mas sim em função dos efeitos dos padrões de mobilidade social: a fragmentação e a diversidade da vida urbana, bem como o movimento, a diversidade de estímulos e as apropriações visuais dos lugares, constituem aspectos centrais da experiência do espaço urbano. A análise de Marx da acumulação capitalista mostra que esta se baseia na aniquilação do espaço pelo tempo, o que produziu transformações profundas na agricultura, na indústria e na população ao longo do tempo e do espaço. No entanto, coube a Durkheim elaborar uma teoria social do espaço, mediante a impugnação da concepção kantiana do espaço como um meio vago e indeterminado. A sua teoria compreende basicamente dois elementos: Dado que numa determinada sociedade todos os seus membros têm representações semelhantes do espaço, a causa dessas representações espaciais é de natureza social (1), e essas representações espaciais espelham quase literalmente, pelo menos em alguns casos, o padrão dominante de organização social (2). As categorias do entendimento - escreve Durkheim - "não só vêm da sociedade, como as próprias coisas que exprimem são sociais. Não somente foi a sociedade que as instituiu, como são aspectos diferentes do ser social que lhes serve de conteúdo: a categoria de género começou por ser indistinta do conceito de grupo humano; é o ritmo da vida social que está na base da categoria de tempo; o espaço ocupado pela sociedade é que forneceu a matéria da categoria de espaço; a força colectiva é que foi o protótipo do conceito de força motriz, elemento essencial da categoria de causalidade. No entanto, as categorias não são feitas para serem aplicadas unicamente ao reino social, elas estendem-se à realidade inteira". Da Escola Durkheimiana destacam-se os trabalhos teóricos de Marcel Mauss (sociedade esquimó), Lucien Lévy-Bruhl (povos primitivos), Jean Cazeneuve (locais sagrados), Maurice Halbwachs (memória colectiva), Robert Herz (predominância da mão direita), Marcel Granet (chineses) e J. Chelhod (árabes), entre tantos outros, que ajudaram a clarificar a noção colectiva de espaço nos tipos mais diversos de organização social.
Sem abdicar da sua marcação marxista, Lefebvre utiliza o conceito de produção de espaço no sentido hegeliano, para designar o processo pelo qual os homens, enquanto seres humanos, produzem e reproduzem a sua vida, a sua história e a sua consciência: não existe nada na história e na sociedade que não tenha sido produzido pelos homens. A própria natureza, tal como se apresenta na vida social aos órgãos dos sentidos, foi transformada e produzida pela acção humana. Tomado neste sentido mais alargado, o princípio da produção do espaço tem implicações de grande alcance, uma das quais é o desaparecimento irreversível do espaço-natureza. A visão lefebvriana da natureza não é instrumental: a dominação total da natureza operada pelo capitalismo é claramente condenada. A tarefa não é dominar a natureza, mas transformá-la num símbolo que acompanha a sua destruição real, de modo a podermos salvá-la e, ao mesmo tempo, participar na conjura contra ela. Anthony Giddens considera que a nossa sociedade vive para lá do fim da natureza, não no sentido do mundo físico e dos processos físicos terem deixado de existir, mas no sentido de existirem poucos aspectos do ambiente natural que nos rodeia que não tenham sido afectados e modificados pela intervenção do homem, porque, como mostrou Lefebvre, a natureza foi reduzida ao longo da história humana a "matéria-prima" sobre a qual actuaram as sociedades e os respectivos modos de produção para produzir o seu espaço. Cada sociedade produz o seu espaço e este espaço inclui as relações sociais de reprodução e as relações de produção. O neocapitalismo moderno complexifica o espaço social, dotando-o de uma tripla-relação: a reprodução biológica, a reprodução da força de trabalho e a reprodução das relações sociais de produção. O espaço entendido como produto de um processo produtivo tem uma história: história da sua produção, das suas formas e das suas representações determinada pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Numa primeira aproximação, Lefebvre elabora uma sequência de cinco tipos de espaço que, mais tarde, especifica em função da periodização histórica dos modos de produção: o espaço absoluto, o espaço histórico, o espaço abstracto, o espaço contraditório e o espaço diferencial. O espaço absoluto é o lugar natural pré-seleccionado pela sua consagração, mediante a qual é transformado em símbolo ou em parte de um rito: as forças políticas que ocupam esse espaço consagrado apropriam-se, administrando-a, da produção daqueles que criaram o espaço. Sacerdotes, escribas, guerreiros e príncipes usurpam o espaço e dominam os camponeses e os artesãos. As contradições inerentes às relações sociais de produção conduzem à passagem para outro modo de produção e o espaço-comunidade de sangue dá lugar ao espaço histórico, um espaço relativizado e animado por um sujeito colectivo: a cidade histórica ocidental. A actividade produtiva separa-se da reprodução que perpetua a vida social e torna-se escrava da abstracção: trabalho social abstracto, espaço abstracto. O espaço abstracto - enquanto espaço produzido pelo capitalismo - não se define apenas pelo desaparecimento das árvores, pelo distanciamento da natureza, pelos vazios estatais ou militares, pelas praças-encruzilhadas ou pelos centros comerciais onde confluem as mercadorias, o dinheiro e os automóveis, mas sobretudo pela sua abstracção que esconde, no seu sistema reticular, a vigilância do poder político: "O capitalismo ressurgente do século XVII tratou terrenos, quarteirões, ruas e avenidas como unidades abstractas destinadas à compra e venda, desprezando os usos históricos, as condições topográficas ou as necessidades sociais" (Lewis Mumford). A uniformidade absoluta dos lotes resulta da equiparação do valor da terra ao do dinheiro. O espaço social moderno é usado pelas classes dirigentes como instrumento polivalente para desmembrar e dispersar as classes dominadas e para controlar e regular a sociedade através da organização tecnocrática dos fluxos económicos, financeiros e sociais que definem a cidade moderna. A divisão social e técnica do trabalho é plasmada nesse espaço urbano, complexo e quotidiano, que assegura, em grande medida, a reprodução das relações de produção, dissociando o desejo e as necessidades e fornecendo à classe média representações tranquilizadoras que lhe garantem um lugar rotulado e assegurado. No entanto, no seio desse espaço urbano abstracto emergem novas contradições, das quais a mais importante é a contradição existente entre a possibilidade teórica de controlar globalmente o desenvolvimento do espaço e o seu parcelamento dependente das leis da economia de mercado. Deste modo, o espaço de contradição antecipa o espaço diferencial como antítese do espaço abstracto.
A história social do espaço urbano esboçada por Lefebvre faz corresponder aproximadamente, de modo imperfeito, cada tipo de espaço urbano a um determinado modo de produção, seguindo a periodização histórica dos modos de produção de Marx: ao comunismo primitivo corresponde o espaço analógico, ao modo de produção antigo ou esclavagista o espaço cosmológico, ao modo de produção medieval ou feudal o espaço simbólico, ao modo de produção capitalista o espaço homogéneo e fragmentado, sendo a transição do feudalismo para o capitalismo realizada pelo espaço perspectiva do Renascimento, e, finalmente, ao socialismo o espaço diferencial. O espaço analógico é o espaço ocupado pelas comunidades primitivas que adoptam o organismo humano como modelo inspirador da construção do seu espaço quotidiano. No modo de produção antigo, a cidade ou um dos seus monumentos expressam e reproduzem a ordem cósmica. O espaço da cidade medieval apresenta-se como um espaço cheio de símbolos religiosos e o mesmo pode ser dito do espaço perspectiva do Renascimento. O capitalismo gera um espaço homogéneo e fragmentado: homogéneo, porque tudo nele é equivalente e objecto de troca, e fragmentado, porque está dividido em pedaços e parcelas que se vendem segundo os critérios estabelecidos pela renda do solo. O habitat moderno gera alienação e desigualdades sociais. As tensões relacionadas com a satisfação incompleta das necessidades e do Desejo crescem a um tal ritmo que a multitude visível de objectos e a multitude invisível das necessidades ocupam todo o espaço. A sociedade moderna perdeu a utopia da apropriação colectiva da natureza como condição indispensável da apropriação individual. A natureza, força produtiva e produto das sociedades anteriores, transforma-se continuamente graças ao trabalho do homem. A sociedade capitalista domina e devasta a natureza. O espaço dominado define-se por oposição ao espaço apropriado: o espaço dominado é um espaço natural transformado pela técnica e pela política em função da ideia de centralidade total imposta pelas autoridades estatais (técnicos, planificadores), enquanto o espaço apropriado é um espaço natural modificado para servir as necessidades e as possibilidades de um grupo social que se apropria dele. O resultado desta estratégia de dominação técnica e política é o bloqueamento do desenvolvimento histórico do espaço urbano. A cidade transforma-se em lugar de violência e a centralidade total expulsa os deserdados para as periferias, ao mesmo tempo que alimenta o movimento de fuga para a natureza. O espaço diferencial manifesta-se neste espaço capitalista como uma tendência ou uma possibilidade que ainda não está plenamente realizada, embora se insinue em todos os níveis da vida urbana: a casa, a escola, o bairro e a cidade revelam diferenças que o espaço abstracto procura encobrir e ocultar. O espaço diferencial reúne o que está dividido, nomeadamente o público e o privado, demolindo as separações que exprimem o domínio de um espaço sobre outro espaço, como sucede com a separação entre o centro e a periferia. (Fim da série de posts dedicada aos estudos urbanos de Henri Lefebvre.)
Todas as fotografias são da Cidade do Porto e, por ordem de apresentação, temos: os Jardins do Palácio de Cristal (1), a Ponte da Arrábida (2), a Igreja de S. Francisco (3), a Igreja dos Congregados (4), a Avenida dos Aliados (5), o Teatro Nacional de S. João (6), o Edifício Burgo - Avenida da Boavista (7), Casa da Música (8), e a Praça de D. João I, visão diurna (9) e visão nocturna (10), respectivamente.
J Francisco Saraiva de Sousa
84 comentários:
Todas as fotografias são da Cidade do Porto: as referências são dadas quando se clica na foto e se manuseia o rato! Porém, a primeira foto é dos Jardins do Palácio de Cristal; a segunda da Ponte da Arrábida e a terceira da Igreja de S. Francisco, cujo interior é um sonho. :)
Acrescentei uma photo do Teatro Nacional de S. João, também na Cidade do Porto. Encontram-se na Net fotos mais interessantes! :)
Pena não ter tempo para tirar fotos do Porto e partilhar a minha visão da Cidade Invicta. Há tanto trabalho de restauro e de requalificação a fazer: O Porto tem uma arquitectura mais interessante do que Paris, mas infelizmente não tem o mesmo marketing e os mesmos cuidados. Por exemplo, a Rua da Galeria de Paris, actualmente convertida numa zona de lazer e de bares-esplanadas, é uma réplica imponente das galerias de Paris, bem como todo o quarteirão. O Porto precisa de um bom projecto de iluminação e de organização eficaz da urbe. Montmarte de Paris fica atrás das nossas zonas equivalentes, porque a nossa arquitectura é melhor e mais imponente. O Porto é património mundial e precisa que o Estado o veja como tal! :)
Ah, em Moçambique foi construído por portugueses um Moulin Rouge (Chimoio/Vila Pery) muito interessante, mas que está a degradar-se. No Porto, não temos um Moulin Rouge, embora o possamos ter algures na city!
O Porto também não fica atrás de Londres, aliás partilha traços arquitectónicos e urbanísticos com Londres. A diferença é que os ricos dessas cidades estrangeiras nunca abandonaram as mansões antigas, requalificando-as, enquanto no Porto fogem para outras zonas da cidade e área metropolitana. E esse erro pode estar a ser cometido por Porto Vivo: requalificação pode ampliar os espaços e atrair novos habitantes. Falta pensamento a Portugal!
Só tenho um desgosto: temos muitas igrejas e muito boas, mas não temos uma catedral gótica imponente que simbolize a burguesia à conquista do céu. Aliás, Portugal não tem nenhum edifício do género.
Temos a Igreja de S Francisco, mas o seu gótico foi coberto por talha dourada rica barroca. Uma ideia: construir um réplica moderna da igreja para lá colocar a talha, e deixar a igreja histórica com o seu interior gótico enriquecido. :)
Bem, temos três mosteiros imponentes: Jeróminos, Batalha e Alcobaça. :)
E o Porto tem as Igrejas Barrocas mais belas do país, nalguns casos duas a duas. Benjamin adorava o Barroco! :)
Ah, no topo de Almada Street temos uma capela neogótica, junto ao Palácio dos Pestanas, onde fica actualmente o Governo Civil. Quanto ao românico, só temos a capela de Cedofeita.
O Porto é predominantemente neoclássico, com o seu toque peculiar e único! :)
Acrescentei a photo da Praça D. João I: Cidade do Porto. O edifício é de um Banco nacional, mas era inicialmente um banco da Invicta! A centralização cavaquista empobreceu o Norte! :)
O Porto é a cidade do capital e a sua relação com Portugal devia ser semelhante à relação De Frankfurt com a Alemanha. Desde que tudo foi concentrado e centralizado, abriu-se o espaço à corrupção generalizada, com gente medíocre a enriquecer! Mas a origem disto está nos governos de Cavaco Silva! Pessoas do Norte: Votem no vosso carrasco! E depois não se queixem, porque tiveram o que mereciam: miséria, vergonha, falta de orgulho!
O PS faz bem em atacar Manuela Ferreira Leite, porque ela não tem cérebro para pensar e não tem pensamento de futuro: quer adiar indefinidamente o país, Portugal. O Presidente da PT já acusou-a de bloquear um bom negócio. A luta continua! Abaixo o PSD de M.F. Leite! Como diz o Ministro da Economia: Ela seria o caos de Portugal, um terrível acidente, um retrocesso, a miséria nacional! :)
Bem q seca. Estes comentários são dignos de livros de roteiros turísticos q, por acaso, recuso-me sempre a ler. :P
Embalou-me o espírito q já estava muito ensonado........ :O
A Papillon já nasceu ensonada e com a mente adormecida. Por isso, continue a dormir! :O
Daí que, em vez de pensamento crítico, produza pensamento adormecido e embalado na cantilena das mentiras. :P
Ya, ya... Francisco, o rei fastidioso que pensava que dizia coisas muito interessantes. N conhece a fábula? :P
Nao, o Francisco não lê, mas produz e reproduz... Passar.se.á qq problema a nível de processamento?
Eu não leio pensamentos adormecidos e falsos. Está a ficar triplamente tonta, adormecida e ensonada! Que tristeza! &~&
O Francisco é tontinho e nem sabe brincar, por isso fique com a sua fantasia monocromática e volto-me para os meus sonhos multicolores.
A Papillon anda tão ensonada e adormecida que não distingue entre uma cenoura e uma nabiça. :P
Multicolores? É tudo cinzento nesse sono visceral! Ah, perdeu o sentido de humor ou nunca o teve? »_«
De facto, sou branco e orgulho-me de o ser. Um ser multicolor é um espantalho ou talvez um aborto da natureza! Ui que medo? Bah Cá cá Có có...
Ai o Francisco sabe fazer bonequinhos #_0 muito bem
Vou-me. Mas sem antes deixar uma proposta: qual o grau de pertinência da teoria da "produção do espaço" de Lefebvre ante a "nova economia", i.e. a economia baseada na internet/virtualidade? Virilio fala do iminente desaparecimento das categorias espacial e temporal, logo a tese de que o capitalismo precisa de espaço, pode/tem de ser repensada. Além disso, contrariamente à sua apologia (cansativa) do Porto, deve atentar ao facto de que a cidade está a perder a sua dimensão de espaço público/político.
É tão convencida: sonhos multicolores quando na verdade sonha monocolor! PÓ_PÓ
... devido ao facto das pessoas se isolarem cada vez mais! (no virtual)
O Virtual tem a sua dimensão espacial e temporal... Essas teorias iludem-se, mas na verdade a Internet é pró-descentralização, roubando o lugar da centralização total.
Por acaso, n concordo consigo. Acho q a internet, à semelhança da expressão notável de McLuhan, a "aldeia global", é uma implosão. Isto é, uma concentração, que no fundo é uma compressão total do espaço e tempo que os reduz a nada. Essa descentralização é falsa, pq se n há centro de nada, deixa de haver pontos descentrados. :)
Os contextos de produção e de recepção são sempre locais e, como tal, enquadram na vida quotidiana: as pessoas em situação não se evaporam no ciberespaço! Muitos erros vulgares cometidos por essas abordagens e a crise mostra os limites e efeitos reais dessa nova economia. O virtual não é algo exterior ao mundo!
E depois sou eu q n distingo a nabiça da cenoura... :P
Emergem novas centralidades que se ligam em novos moldes...
Sim, de acordo, há muita coisa a ter em análise, pq a nova economia tinha muitas esperanças, e desembocou em crise. Mas n podemos partir das mesmas premissas, tb é errado ou leva-nos a consequências erróneas. Os factos são diferentes, a cidade de Lefebvre n é nossa e muito menos a do amanhã.
"Os contextos de produção e de recepção são sempre locais "
Claro q n sao locais! Antes da net, ja havia televisão. E a net trouxe a hipotese de produzir "sem local". Não. Acho que a internet funda o processo de globalização económico, cultural e político. Quem quer ser "ouvido", desafia os media, n vai até à praça central da cidade. Outro mundo!
As pessoas não são virtuais ou partículas virtuais que circulam através de uma matriz. Estão enraizadas na vida quotidiana: a aldeia global não é real nessa compressão do espaço-tempo. O mundo (virtualmente) global não é uma aldeia! Não tem estrutura de aldeia! Isso é uma ilusão! O global não eclipsa o local; pelo contrário, traz o local para o centro. Multiplica centralidades!
Estamos a comunicar e cada um está a fazê-lo a partir de um determinado contexto local: a sala da minha casa ou o quarto ou um cibercafé das imediações.
A televisão difunde mensagens que são recebidas, processadas, interpretadas e apropriadas localmente.
Produzir "sem local". Bem, depende do sentido que dá a esta expressão, mas ele não pode ser generalizado, a menos que se converta num conceito metafisicamente suspeito e fluído!
Além disso, o ciberespaço é uma produção social!
Isso é o discurso da heterotopia pós-moderna, n me contradiz de todo. Porque se cada pessoa é uma centralidade, um sistema nervoso à medida do planeta, é uma síntese planetária, da aldeia global.
Apenas especulava sobre a "produção do espaço" de Lefebvre, em cidades pós-industriais.
Tem de admitir que o estado-nação, ao contrário do q escreve, está a decair, a cidade-polis tb, ora, assim sendo a realidade é global, n local. Ou, pelo menos, este a existir, está a ficar cada vez menos importante. É o dasein heideggeriano a colapsar.
E mais: O que dizer da Internet como "espaço" ou território ideológico? A Internet não é plasticamente neutra: é um campo de batalha que começa a interessar o Poder! Luta entre privados criativos e poderes instituídos, um dos quais os media! A Else pensa a Internet como media, seguindo o modelo tradicional dos mass media. Ora, a Internet abre o espaço público a qualquer utente, libertando-o (em teoria) dessas tutelas!
Sim, a internet é espaço de batalha, sim, sem dúvida. E muito manipulada por grandes empresas. Daí que a a teoria crítica, tem de ser ou só lhe resta ser cyberpol+itica.
"(...) se cada pessoa é uma centralidade, um sistema nervoso à medida do planeta, é uma síntese planetária, da aldeia global."
A linguagem é muito metafórica! E ainda há pouco a Else reagiu como um dasein heideggeriano! E as suas opiniões estão imbuídas de estruturas locais. A Else não é uma síntese planetária, mas um ser que procura vender ao mundo a centralidade que defende. Daí que fique "lixada" por eu falar do Porto! Está a excluir mundo! Não faz síntese!
Hmmm... a internet liberta e prende. Pq a internet é uma oligarquia e n uma democracia!
Eu n fico lixada q fale do Porto. A mim interessa-me o pensar do mundo e n o de uma cidade pequena à escala global.
Se partir do Porto, para pensar o mundo óptimo. O problema é q n o faz.
Como espaço de luta, a Internet pode e é dominada e instrumentalizada. Além disso, cria exclusão: ter acesso à rede implica dinheiro! A maior parte do mundo ainda está excluída e não sei se será interessante mundializar tudo, porque a vida se torna insustentável - fisicamente falando.
Parece-me q o projecto deve ser esse: mundializaçao. E depois: universalizaçao. Até morrermos queimados pelo Sol, se ainda n tivermos desertado daqui.
"(...) interessa-me o pensar do mundo e n o de uma cidade pequena à escala global."
Concordo: o pensar do mundo no qual se inclui o Porto. O pensamento de Lisboa, uma cidade pequena no mundo global, não interessa, até porque tem produzido miséria nacional e mediocridade!
Ya, tb. Mas eu nunca fiz apologia a Lx! Foi a cidade q nasci e q de momento vivo, mas morava noutro sítio qq. Nao obstante, acho Lx uma cidade interessante e enquanto cá for cidadã, tentarei contribuir para a preservar assim. :)
Ya, o futuro é a morte global da vida humana na Terra! Isso é cada vez mais evidente: uma catástrofe aguarda-nos algures no tempo e no espaço!
O mesmo: além do Porto me fascinar e fascinar muitas pessoas vindas desse mundo exterior!
Tb viveria no Porto durante uns tempos! Sem problema! :)
Mas gosto da luz de Lisboa. É uma frase feita, mas é uma verdade irreparável. :)
E do clima quente!
Que eu sou um ser mediterrânico/mouro/africano - vai variando. :)
O nosso corpo liga-nos ao mundo local: somente as expressões do nosso pensamento circulam pela rede, abolindo as barreiras espaciais e temporais. Enquanto formos corpo encarnado, estamos encarnado ou habitamos espaço muito real!
Tmbém gosto da luz do Porto, embora pessoalmente prefira a noite e a luz da noite portuense, os seus cheiros, o seu ar... etc.
Também já vivi muitos anos em Lx e estive bem, até porque posso deslocar-me fisicamente...
Sim, certamente, mas repare, o sonho do homem está-se a realizar... o sonho da técnica, da prótese mental, este é um telos, um destino. O homem tem um trauma por necessitar da técnica para superar a sua condição animal, e agora caminha para o seu sonho: o mínimo de esforço (físico), para conseguir tudo o q quiser, o que precisar. Sentado, frente ao pc, atrofiará os músculos, a circulação, mas sentirá uma satisfação imensa ao estar imerso em técnica tao sofisticada, o mundo que criou, o seu mundo - qual Narciso. Será o fim? Muito provavelmente. :)
Aliás, até sou um cidadão do mundo e intercontinental, porque já vivi em muitas cidades e adoptei o Porto! Apaixonei-me pela arquitectura! As pessoas tendem a ser iguais em todos os sítios! E tb sou cidadão do mundo virtual, embora selectivo.
"até porque posso deslocar-me fisicamente"
Ia até ao mercado de Benfica comprar cenouras e nabiças para a sopinha, era? :D
Muito bem, eu em Set. tb devo ir para outra cidade estrangeira, mas temporariamente. :)
Sim, eu sei dessas ligações neuro-maquínicas e fico triste, porque acho essa tecnologia um terror. Eu não quero esse mundo e espero que ele não interfira no meu mundo humano até morrer. Só cérebros mesquinhos reduzem o cérebro humano a um mecanismo inferior ao computer! É ridículo o raciocínio: o modelo deste mundo é humano, não o computador a simular o humano!
Sopinha? Não faz o meu estilo: raramente provo uma sopa. Cenouras gosto na salada ou em certas comidas ou sobremessas. Torta de cenoura é boa! Bé... "benfica"? Que horror! Tenho bom gosto e um cérebro rico em conexões neurais! :)
mas devia comer sopinha faz-lhe bem! ;)
Boa noite Francisco, o ultra-refinado ex-habitante da Lapa ;)
Sim, deslocar-me entre cidades, como faço normalmente.
E para que cidade vai temporariamente, se quiser dizer?
Ok, Boa Noite!
Vou para uma cidade que tem tanto de bela como de decadente...
Goethe e Stendhal descreveram-na como a mais bela da Europa, mas é hoje conhecida por ser a mais perigosa e corrupta.
Já adivinhou? ;)
E Sade disse da cidade: "Comment faire cependant, dans un pays où le climat, les aliments et la corruption générale invitent si perpétuellement à la débauche ... Quelle excitation! Quelle frénésie! Quelle rage!" :D
Enfim, será uma óptima estadia. Uma cidade à minha imagem e semelhança. Bonita, mas com um pendor para o excesso e a vertigem. :)
Obrigado pela dica! ;)
Disfrute em tamanho ampliado a Ponte da Arrábida e a Igreja dos Congregados na Cidade do Porto: Basta clicar na imagem... :)
Bem como a última imagem nocturna da Praça D. João I... :)
Penso que as restantes não preenchem todo o monitor do computador, mas já não me lembro como as editei (o tamanho, claro). Basta clicar em cada uma e logo se vê! :)
É claro que isto é para pessoas que admiram a ARTE e não para indivíduos destituídos de sentido estético e arquitectónico, do tipo invejoso e mesquinho.
A foto da Igreja dos Congregados é de elevada qualidade estética enquanto foto e mostra bem a densidade arquitectónica da cidade do Porto: todos os edifícios concentram-se, despistam e são de grande qualidade arquitectónica. É difícil encontrar uma cidade com uma homogeneidade de qualidade estética: o Porto tem essa densidade estética!
1985-1995: um década catastrófica para Portugal. O resultado estamos a viver neste momento em que o Estado está paralisado e corrompido. A entrada na UE e as verbas recebidas funcionaram como uma acumulação de capital que alavancou a corrupção. Como dizia Vital: era da roubalheira - que vem até aos nossos dias - e da centralização política. É assim que deve ficar conhecida na história de Portugal. Essa é a designação cientificamente verdadeira.
O post está definitivamente concluído! :)
Estou a pensar escrever sobre a sociedade informacional e as megacidades, de modo a recuperar o Porto para o mundo. E, como cidade de inovação, o Porto precisa de obrigar a sua Universidade a inovar, porque de momento ela está muito morta, devido ao mal nacional: o cunhismo e o guardar lugar.
Portugal está cada vez mais excluído das novas formas urbanas e o respnsável é o centralismo que gera necessariamente corrupção e talvez muita interferência do Estado.
Porém, os teóricos da cidade global e da cidade informacional não são muito explicítos: Existem cidades informacionais? A cidade informacional não tem forma, isto é, carece de geometria, e, apesar de não estarem presentes nesse espaço informacional, os corpos ocupam lugares que comunicam em simultâneo ou de modo instantâneo com outros lugares ocupados por outros corpos. O espaço de fluxos implica o espaço de lugares e a globalização promove a regionalização, de resto fundamental para fazer face à concorrência global. O espaço vinga-se sobre o tempo: espaço de fluxos e tempo atemporal implicam-se, mas esta é a nova lógica da dominação imposta pelo capital global. A teoria da globalização é pura ideologia e é isto que ainda não foi captado pelos teóricos da sociedade em rede. Surgem novas contradições, novas desigualdades e novas polaridades: os executivos procuram controlar a sociedade, destruindo a cultura.
Os homens de carne e osso não vivem de fluxos de informação: as suas necessidades fisiológicas precisam ser satisfeitas pela produção de bens essenciais. O sector dos serviços emprega e regula, mas não produz esses bens que estão a ser produzidos noutras áreas do Globo que, além da produção, querem deter a inovação tecnológica como centros. O que isto significa? Significa que o Ocidente, em particular a Europa, está a perder terreno e, deste modo, não tem futuro, a não ser como área de consumo até ao colapso mental e corporal acompanhado pela invasão. A colonização inverteu-se: De potência colonizadora a Europa está a ser cada vez mais colonizada!
Aliás, o tempo atemporal é um opressor interno: a sua interiorização torna o corpo e a mente dóceis aos interesses do capital global e, dado aniquilar a cultura, faz do homem humano um mero animal obediente e passivo.
Desmistificar o capital global exige o regresso à crítica da cartilha económica dominante: o economicismo é uma brutalidade! Mas esta crítica deve distanciar-se do "comunismo" e das esquerdas extremistas. Estas perderam-se no tempo e, por isso, não sabem o que dizem. São estúpidas e irracionais!
Estive a ver imagens de São Paulo (Brasil) e, de repente, fui confrontado com esta conversa tida com a Papillon, mais precisamente com a ideia de uma cidadela saloia que condena o país à mediocridade. São Paulo é uma cidade mais recente, uma das megacidades do mundo, e, apesar disso e dos seus contrastes gritantes, tem belos exemplares de arquitectura, nomeadamente a Sé Catedral e o Mosteiro de São Bento. E luta pelo turismo, juntamente com Barcelona e Paris!
Portugal capitalizado em Lisboa é um país deveras medíocre, invejoso e atrasado. De facto, não tem futuro! :)
A gula ilusória e gorda de Lisboa é mesmo triste, muito triste, tão triste quanto a sua mediocridade visceral! A parola na condução de um país-fantasma, portanto, sempre-já morto, mas com funeral adiado! :)
E depois são os parolos das áreas do Norte, do Centro, do Interior, do Litoral e do Sul... Enfim, um triste país delirante e sem substância, povoado por gente escassa sem qualidades! Gente que fala sem saber do que fala! Um horror de humanidade mentalmente subnutrida!
E depois este comentário que deu origem à conversa:
"Bem q seca. Estes comentários são dignos de livros de roteiros turísticos q, por acaso, recuso-me sempre a ler".
Que profundidade! Que visão de futuro! Que honestidade! Portugal é uma província de um praia do Sul Tropical! Eis a ambição lusa espelhada na ideologia saloia difundida pelos mass media em directo!
E no Porto temos Rui Rio a dirigir a C. Municipal do Porto como se fosse uma mercearia de aldeia! Para onde vamos com estas figuras tipicamente nacionais! Para o sem-futuro...
Oh Francisco, pegou no meu comentário, mas ao Francisco falta-lhe profundidade de espírito, que nem consegue divisar entre um comentário escarnecedor e um sério!
Fique lá com a sua "visão de futuro" e o seu inventário arquitectónio da cidade do Porto, se isso o diverte.
Olá, parabéns pelo artigo. Mas, na verdade gostaria de saber se essa obra de Lefebvre- A produção do Espaço- já se encontra traduzida em Portugal,pois a aquisição da mesma é de meu interesse. Se poder me dá um retorno te agradeço.Obrigada.
Olá, parabéns pelo artigo. Mas, na verdade gostaria de saber se essa obra de Lefebvre- A produção do Espaço- já se encontra traduzida em Portugal,pois a aquisição da mesma é de meu interesse. Se poder me dá um retorno te agradeço.Obrigada.
Olá, parabéns pelo artigo. Mas, na verdade gostaria de saber se essa obra de Lefebvre- A produção do Espaço- já se encontra traduzida em Portugal,pois a aquisição da mesma é de meu interesse. Se poder me dá um retorno te agradeço.Obrigada.
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