«Uma cidade que se torna cada vez mais unitária deixaria de ser cidade. Uma cidade é, por natureza, uma pluralidade e ao tornar-se ainda mais unitária, passará de cidade a casa, e de casa a homem individual, já que podemos afirmar que a casa é mais unitária do que a cidade, e o indivíduo mais do que a casa. Assim, mesmo que alguém pudesse conseguir isto, não o deveria fazer, dado que destruiria a cidade. Por outro lado, não só a cidade consiste numa pluralidade de indivíduos, como estes também diferem em espécie; uma cidade não nasce de indivíduos idênticos». (Aristóteles)
Nós, os portuenses e os portistas, precisamos habitar mais a nossa cidade e os seus espaços abertos, não apenas durante os dias festivos, mas também durante todos os dias do ano. As cidades ligam-se aos corpos dos seus habitantes. Os projectos arquitectónicos dos edifícios modernos condenam os habitantes da cidade à privação sensorial e criam um ambiente urbano afligido pela passividade, monotonia e cerceamento táctil. A carência dos sentidos contrasta fortemente com a ideologia dos tempos modernos que diz privilegiar as sensações corporais e a liberdade de movimentos. A arquitectura moderna e o urbanismo ajudam a tolher as sensações corporais e a liberdade de movimentos, mas o maior entorpecedor dos sentidos é a comunicação social, através da qual experimentamos os nossos corpos de uma maneira mais passiva do que os nossos antepassados que temiam as suas próprias sensações corporais. Os telespectadores consideram - e bem - a televisão passiva e relaxante, porque exige pouca concentração e pouco esforço mental: as falsas experiências de violência ou de sexo exibidas pelos meios de comunicação tornam as pessoas insensíveis à verdadeira dor ou ao verdadeiro sexo. O consumo abusivo de imagens de dor ou de sexo simulados anestesiam a consciência do corpo. Este post pretende dar início a uma reflexão mais aprofundada do urbanismo, a partir do esboço de uma visão da cidade do Porto através da experiência corporal dos portuenses e dos turistas. A perspectiva de Foucault do corpo humano asfixiado pelos nós do poder irá ser imputada. A experiência corporal dos portuenses contrasta fortemente com a insensibilidade corporal e o medo do contacto exibidos pelos habitantes de Lisboa. A Festa do S. João atesta essa diferença, porque o S. João é não só uma festa espontânea, como também uma festa do contacto corporal que neutraliza completamente os efeitos perversos da experiência da velocidade e das suas tecnologias da locomoção. A experiência do sofrimento e da mortalidade, reforçada pela geografia urbana acidentada do Porto, torna os portuenses mais atentos ao mundo em que vivem.
Nós, os portuenses e os portistas, precisamos habitar mais a nossa cidade e os seus espaços abertos, não apenas durante os dias festivos, mas também durante todos os dias do ano. As cidades ligam-se aos corpos dos seus habitantes. Os projectos arquitectónicos dos edifícios modernos condenam os habitantes da cidade à privação sensorial e criam um ambiente urbano afligido pela passividade, monotonia e cerceamento táctil. A carência dos sentidos contrasta fortemente com a ideologia dos tempos modernos que diz privilegiar as sensações corporais e a liberdade de movimentos. A arquitectura moderna e o urbanismo ajudam a tolher as sensações corporais e a liberdade de movimentos, mas o maior entorpecedor dos sentidos é a comunicação social, através da qual experimentamos os nossos corpos de uma maneira mais passiva do que os nossos antepassados que temiam as suas próprias sensações corporais. Os telespectadores consideram - e bem - a televisão passiva e relaxante, porque exige pouca concentração e pouco esforço mental: as falsas experiências de violência ou de sexo exibidas pelos meios de comunicação tornam as pessoas insensíveis à verdadeira dor ou ao verdadeiro sexo. O consumo abusivo de imagens de dor ou de sexo simulados anestesiam a consciência do corpo. Este post pretende dar início a uma reflexão mais aprofundada do urbanismo, a partir do esboço de uma visão da cidade do Porto através da experiência corporal dos portuenses e dos turistas. A perspectiva de Foucault do corpo humano asfixiado pelos nós do poder irá ser imputada. A experiência corporal dos portuenses contrasta fortemente com a insensibilidade corporal e o medo do contacto exibidos pelos habitantes de Lisboa. A Festa do S. João atesta essa diferença, porque o S. João é não só uma festa espontânea, como também uma festa do contacto corporal que neutraliza completamente os efeitos perversos da experiência da velocidade e das suas tecnologias da locomoção. A experiência do sofrimento e da mortalidade, reforçada pela geografia urbana acidentada do Porto, torna os portuenses mais atentos ao mundo em que vivem.
A experiência espacial e corporal do Porto é uma aventura: todas as suas formas e redes arteriais, venosas e capilares exigem atenção. Os espaços móveis do Porto são oásis que possibilitam experiências corporais não mutiladas pelos controles disciplinares do poder: os prazeres corporais portuenses não se deixam aprisionar pela sociedade e resistem à insensibilidade corporal e sensorial que lhes é imposta pelas tecnologias da locomoção. Embora seja arquitectonicamente um locus do poder, o Porto oferece, ao mesmo tempo, espaços onde as imagens do poder se estilhaçam no contexto de agrupamentos de indivíduos diferentes que, todos juntos, descobrem uma cidade que os fascina e os cativa.
O Porto é uma cidade-Estado e é vivida como tal pelos seus habitantes e pelos seus turistas. Esta é a imagem que os cidadãos do Porto têm da sua cidade e que se manifesta na noção comum do Porto ser uma "nação", promovida e reforçada pela sua identidade cultural e histórica, bem como pelo desprezo que os portuenses nutrem pelas chamadas televisões nacionais, aliás meros aparelhos ideológicos da capital repressiva e exploradora que difundem uma ideologia absolutamente saloia, autista e histérica. Como cidade do poder, o Porto é a cidade do contra-poder num território abandonado aos caprichos da capital asteca, contra a qual a Invicta se afirma mundialmente sem necessidade de a parasitar. No Porto, os turistas sentem-se em casa e estão efectivamente em casa, porque o Porto enquanto contra-poder é intimamente cosmopolita. Os turistas não são estrangeiros, mas habitantes da cidade do mundo que se identificam com o seu espírito rebelde. (Os temas esboçados serão desenvolvidos noutros posts.)
Todas as fotografias são da cidade do Porto: Parque da Cidade (1), Jardins do Palácio de Cristal (2) e Caixa Dragão - FCPorto (3). J Francisco Saraiva de Sousa
31 comentários:
Esta bela fotografia do Parque da Cidade do Porto foi emprestada do site do PCP, e nela vê-se a casa paterna! :)
Ou melhor, o telhado, porque é uma imagem aérea.
E falta-lhe mais prédios que foram entretanto construídos. Quase não se vê o Edifício Transparente ou as quintas dessa zona... :)
O Porto precisa ser corajoso, arrojado, ambicioso e todinho pró-moderno: caminhar sempre para a frente ao encontro do futuro e de uma cidade melhor. Renovar a cidade, requalificar o seu património e abrir-se à modernidade ousada, numa articulação dialéctica e plural de todos os seus momentos no tempo histórico: eis o projecto para o Porto triunfal. Olhar em frente e ter coragem para conquistar o mundo, orgulhosamente sozinhos, sem o peso do centralismo quase-soviético da "capital" (Será mesmo capital?, De quê?) da gritaria histérica! O portuense não é nem deve ser bajulador e intriguista!
Coloquei mais outra fotografia: a dos jardins do Palácio de Cristal do Porto/ Pavilhão Rosa Mota.
Temos tantos jardins e parques, mas este post é provisório, porque a teoria do Porto será editada completa no próximo mês. Hoje é dia de prós e contras!
A luz do Porto é simplesmente linda, brilhante e intensa e, quando choca com a cidade, hummmm... enlaça-nos... Momento de erotismo puro! :)
Numa câmara subterrânea do Novo Molhe da cidade do Porto, podemos ver tempestades protegidos pelo vidro: uma sensação única! O Molhe está aberto aos sábados das 10:00 às 12:00, mas as áreas de serviço e de exposição ainda não estão activadas. Espero que não se esqueçam delas! No inverno, as ondas são loucas e assassinas, mas um cão levado pelo mar salvou-se e regressou a casa depois de ter sido dado como morto! :)
Não resisti e fui ao site do FCPOrto buscar outra fotografia da Caixa Dragão, o novo pavilhão do FCPorto junto ao Dragão. :)
Há outra perspectiva mais interessante da Caixa Dragão, a partir da Ponte do Freixo ou do Douro via aérea.
O Porto é uma paixão e, quem queira ser feliz, passa as férias na Cidade do Porto: tantos segredos para descobrir e tantas aventuras para viver! Deixe-se arrebatar pela noite do Porto! :)
O São João tem tanto "contacto corporal" ou até menos do que o Santo António. Até pq em Lx as ruas da folia, em Alfama ou Bairro Alto, são estreitas para tanto afluxo. Nessas noites há marés de gente, e autêntico roçanço (mais q contacto) corporal. Portanto, uma falsidade flagrante no seu discurso.
Quanto à tal proxémia que falávamos no outro dia, isso difere da cultura e até mesmo da educação. Por exemplo, eu gosto de bastante espaço, até tenho dificuldade em adaptar-me a culturas com menos espaço, como por exemplo Itália, mas depois uma pessoa habitua-se, deixa-se a "esquisitice" de lado. :)
O contacto corporal em Lisboa ocorre nas festas da espuma, mas não é a esse tipo de contacto que me refiro: o que está em causa é a imagem corporal que fazemos dos outros no meio urbano. A cidade bloqueia esse contacto, pelo menos no Ocidente.
Eu também não aprecio esse "contacto íntimo" não desejado, mas isso não retira força ao meu argumento que já revelei no caso da comunicação social. :)
Acho que conheço melhor Alfama e Bairro Alto do que a Else! :)
Quais festas de espuma? Desconheço.
A agenda do F. em Lx é muito mais intensa q a minha... :D
Pois... deve conhecer, deve... ;)
Nunca foi a uma festa da espuma? Hummmm... perde alguma animação. Bem, aqui no Porto tb existem festas da espuma, embora me tenha divertido mais aí...
Já fui a uma festa da espuma, na terra dos meus pais, no Gerês. Mas a roupa fica toda nojenta.
Nem a uma festa da espuma privada?!
O debate está a ser uma seca! Mas vou ver... :(
Sim, percebo o q quer dizer. Pq os rapazes começam a meter-se e a molhar-me e a fingir q me afogam para me agarrarem... etc. Mas é giro muito de vez em qd.
Devia ter ido de fato-de-banho ou de tanga simplesmente! Sim, a roupa e a pele! :)
Privada, nao, era uma disco.
Oh Francisco eu sou uma menina de bem, n ando em festas desse género. Já tenho q me esquivar em dias normais, qt mais nesses contextos.
Ui, isso n é para mim. Muito dado. lol
Ah, sim tb existem festas desse tipo, mas isso só acontece se a pessoa quiser. Ver participando sem participar é divertido: aprende-se. Sim, mas no Gerês tb se faz sexo ou prepara-se para tal. Nesse caso, lx é mais directa e imediata! Mas só acontece se a pessoa quiser: nunca observei abuso!
Nalgumas festas, é sexo colectivo e cada um serve-se como quiser!
Claro que no Gerês se faz sexo. E é um óptimo cenário para tal. :)
Claro que sim, eu sei-me divertir e observar, e quase nunca "participo".
Sexo colectivo - orgia? N acho muita piada. Já participou em orgias, F.? E vai trocando de par? :D
Estou no intervalo! Se participei em orgias? Na investigação, observei orgias e tb orgias S/M, mas não me envolvi, evidentemente. Mas não me chocam, até porque há muitas maneiras de fazer orgias: a troca de parceiros/as é de certo modo uma orgia serial! Quem aprecia isso por impulso interno, gosta e acha-as excitantes e são excitantes..., com os seus perigos, claro.
Embora as orgias variem muito de estrutura: acaba por haver pares apoiados por um terceiro elemento. Isso é frequente no meio hetero...
Hmmm... por acaso acho uma analogia forçada. N considero a troca de parceiros fazer orgias. Orgias pressupõe ter prazer ao lado de outras pessoas ou com essas pessoas, tudo junto. Eu pessoalmente n me agrada o cenário, mas pode ser q um dia seja incitada a tal e que mude de opinião.
Pois, a ideia de orgias, comboiozinhos e tal é gay. Os casais hetero acabam sempre por abraçar mais uma ou duas amigas. :)
Os comboios são fantasias de complexa realização: o que acontece é formação de pares, com ajuda de terceiros, no ritmo ora X ora Y ora Z... Um beija, outro chupa, outro entra. Fazer isso escalonado no tempo, um de cada vez, ou numa noite com vários, acaba por dar no mesmo. A praxis está acumulada e quem se habitua a um dos esquemas deseja experimentar o outro. No final, é diversidade sexual acumulada: aproveitamento de todas as oportunidades.
O esquema hetero tb tem outras variações, mas nada que os romanos ou os gregos não conhecessem. :)
Claro F., os romanos e gregos tb eram heteros... e também considero q nada do q é do sexo foi hj inventado, a n ser algumas espécies de patologias, derivadas da modernidade.
"aproveitamento de todas as oportunidades"
Isso é doentio, ou então muito másculo, muito animalesco. :)
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