domingo, 30 de maio de 2010

Porto Vampiro

O vampirismo é uma antiga tradição de mistérios que data dos tempos do Antigo Egipto: o conhecimento sobre a tradição do asetianismo é conservado e zelado pela ordem de mistérios Aset Ka, cuja sede em Portugal se localiza na cidade do Porto. Mas há uma outra tradição do vampirismo que assenta na crença de haver indivíduos que saem à noite dos seus túmulos para sugar o sangue fresco de indivíduos vivos e se manterem eles próprios vivos deste modo, sob a forma de espíritos. Um vampiro é, nesta perspectiva lendária, uma espécie de morcego sugador de sangue. O filme de Roman Polanski - Por Favor Não Me Morda o Pescoço, produzido em 1966, satiriza o vampirismo, evidenciando os seus aspectos sexuais: a cena do namorisco homossexual entre dois vampiros do sexo masculino é deveras maravilhosa. O simbolismo erótico do vampirismo deriva, em grande medida, do facto dos vampiros humanos serem uma mistura de características humanas com características animais (zooantropia), o que justifica a sua ligação à atracção sexual por animais (zoofilia). Porém, a dentada do vampiro simboliza não só o coito, mas também as tendências sádicas e masoquistas da sexualidade humana. O vampirismo também foi associado à perversão sádica que leva à violação de cadáveres (necrofilia) e ao assassinato sexual, como perda de sangue sexual. Em 1925, Haarmann, um homem homossexual, matou todas as suas vítimas durante o orgasmo por meio de uma dentada na jugular, e, em 1949, John Haigh - um assassino de Londres - confessou ter bebido o sangue das suas vítimas, o que lhe deu profunda satisfação. O prazer espontâneo na dentada dada no parceiro - até provocar sangue - constitui um elemento de vampirismo no erotismo normal. Venha até ao Porto e conheça um vampiro, não um vampiro da sociedade Aset Ka, mas um vampiro que suga realmente o sangue fresco das suas vítimas, prometendo-lhes nalguns casos especiais vigor juvenil e imortalidade.
O Porto Vampiro emergiu com o capitalismo industrial. Karl Marx descreveu o vampiro industrial como capital morto que suga o sangue fresco do trabalho vivo das suas vítimas: «O capital é trabalho morto que, como um vampiro, vive somente de sugar o trabalho vivo e, quanto mais vive, mais trabalho suga. O prolongamento do dia de trabalho além dos limites do dia natural, pela noite dentro, serve apenas como paliativo. Mal sacia a sede do vampiro por trabalho vivo, o contrato pelo qual o trabalhador vendeu ao capitalista a sua força de trabalho prova preto no branco, por assim dizer, de que dispôs livremente de si mesmo. Concluído o negócio, descobre-se que ele não era um "agente livre", que o momento no qual vendeu a sua força de trabalho foi o momento no qual foi forçado a vendê-la, que de facto o vampiro não largará a presa "enquanto houver um músculo, um nervo, uma gota de sangue a ser explorada"». Marx associa explicitamente o vampirismo capitalista - a exploração da força de trabalho - à necrofilia. No contrato de trabalho, a relação entre os vampiros capitalistas - a personificação do trabalho morto - e as vítimas - a personificação do trabalho vivo - é uma relação assimétrica e desigual: o facto de terem sido despojadas da propriedade dos meios de produção pela acumulação primitiva de capital obriga e força as vítimas a aceitar a sua subjugação ao domínio dos vampiros que lhes sugam o sangue. As vítimas não são realmente agentes livres: elas são sempre-já seres explorados e oprimidos pela classe de vampiros que detém a propriedade dos meios de produção. A operação de identificação da relação de classes com a relação entre vampiros e vítimas permite descobrir Marx como um pensador da psiquiatria: a acusação que lhe foi dirigida de não ter elaborado uma psicologia é profundamente injusta. Marx não pode ser responsabilizado pela profunda incompetência dos seus leitores. A Psiquiatria Dialéctica de Marx é uma psiquiatria biossocial, da qual se destaca uma psiquiatria do poder político: o carácter dos membros das classes dirigentes, sobretudo daquelas que protagonizaram o capitalismo neoliberal global, é necrófilo, e o seu desenvolvimento - carácter anal normal -> carácter sádico -> carácter necrófilo - é determinado pelo aumento do narcisismo, da regressão mental e cognitiva, da falta de relacionamento social e da destrutividade. A destruição do tecido produtivo da Europa e, em especial de Portugal, mostra claramente que a necrofilia dos nossos dirigentes políticos e gestores financeiros é uma forma maligna do carácter anal-acumulativo, facilitado e estimulado pela própria estrutura e pelo funcionamento da sociedade capitalista: o capital financeiro é erotismo anal. Os actuais dirigentes da Europa estão a destruir o Ocidente, despedaçando as suas estruturas vivas e transformando tudo o que é vivo - e jovem - em algo sem vida - e velho sem valor. Eles comportam-se como se fossem a última geração privilegiada do mundo ocidental ou, o que é ainda pior, como se fossem vampiros imortais: o Ocidente começa a pagar a factura do sonho necrófilo desta geração geriátrica - incompetente, narcisista e ladra - que nos negou o futuro. Conhecer o inimigo e a patologia da sua normalidade: eis a tarefa primordial dos que sonham um mundo melhor.
A sexologia libertou o paganismo sexual e enterrou o seu eterno opressor: o heterosexismo e o seu casamento heterossexual como forma de prostituição (Engels). A teoria de Karl Marx que impulsionou essa revolução sexual recorre frequentemente a noções fantasmagóricas - tais como fetichismo da mercadoria, feitiço, vampirismo, fantasmas, espectros, sagrada família ou teologia de mercado - para rasgar os véus ideológicos que encobrem e escondem a essência da sociedade capitalista: a crítica da economia política trabalha com uma noção dialéctica da psiquiatria que ainda não foi compreendida. O vampiro capitalista que explora a força de trabalho das suas vítimas despojadas da propriedade dos meios de produção não é um figura económica alheia ao vampirismo sexual: o capitalismo é, como vimos, um sistema social fetichista e necrófilo. O verdadeiro Marx - o pensador da psiquiatria dialéctica - ainda não foi realmente descoberto: o Porto Vampiro - entenda-se o Bom Vampiro - deve ser visto como um convite à descoberta de um novo Marx - liberto do puritanismo comunista - para o século XXI. Num mundo cada vez mais global e competitivo, em que o destino do Ocidente começa a ser eclipsado pela emergência das economias asiáticas, a dialéctica desmistificadora dos espectros e dos fantasmas pode ajudar a libertar a nossa economia de mercado da dominação necrófila - geriátrica e neoliberal - e impulsionar a emergência de indústrias criativas - indústrias do cérebro, neuro-indústrias - na cidade do Porto, reinvestindo cultura, história e conhecimento na sua infra-estrutura económica. O Porto como metrópole cosmopolita do paganismo sexual multiplica-se em diversos universos sexuais - indústrias do cérebro sexual e do imaginário erótico radical - que podem funcionar como impulsionadores turísticos de desenvolvimento e de modernização, tais como Porto Fantasia, Porto Fetichista, Porto Vampiro, Porto Sádico, Porto Masoquista, Porto Gay, Porto Urófilo, Porto Coprófilo, Porto Voyeur, Porto Exótico, Porto Virgem, Porto Exibicionista, Porto Travesti, Porto Transexual, Porto Gigolo, Porto Call-Girl, Porto Pornográfico, Porto Hermafrodita, Porto Infiel, Porto Erótico do S. João, Porto Fashion, CyberPorto, Porto Fantasma, Porto Incestuoso, Porto Pedófilo, Porto Fálico, Porto Hipersexual, Porto Vaginal, Porto Sexual, Porto Zoófilo, Porto Necrófilo, Porto Parafílico e tantos outros Portos Imaginários associados ao conhecimento (Porto Filosófico, Porto Científico, Porto Universitário), à cultura (Porto Cultural), às artes (Porto Artístico, Porto Musical), ao cinema (Porto Cinéfilo), à saúde (Porto Clínico), à arquitectura (Porto Património Arquitectónico), à moda, ao desporto (Porto Desportivo), ao turismo (Porto Turístico, Porto Dragão Azul), às tecnologias (TecnoPorto) e ao sector industrial pesado (Porto Industrial, Porto Financeiro, Porto Comercial). O Porto pode e deve competir com Amesterdão, Barcelona e Las Vegas. O capitalismo tardio facilita a multiplicação e a proliferação de subjectividades fetichistas e de fetichismos eróticos pessoais: o Porto Vampiro pode promover iniciativas culturais e investir em indústrias do cérebro sexual plural para atrair até si todos os europeus e cidadãos do mundo. (Nota: A publicidade do calçado do Norte deve explorar o fetichismo do pé e do calçado, incutindo a ideia de que eles/as beijam o "meu" pé porque calço sapatos - ou outro calçado - da marca XY. O Porto Fetichista iria ajudar neste caso particular a promover a nossa indústria do calçado e da moda em geral.)
J Francisco Saraiva de Sousa

8 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, deixei intecionalmente o deslocamento do mau vampiro para o bom vampiro por tematizar: deixo essa tarefa aos portuenses que sonham com a nossa autodeterminação. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Conheci um vampiro e ele mostrou-me os dentes, mas depois recolheu-os e voltamos a conversar. Este fim-de-semana vou ter uma reunião com a comunidade de vampiros. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E, se tiver tempo, vou estudar a sua vida sexual: a dentada do vampiro é muito sexy - descontrola e dá imensa tusa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há palermas que pensam que a realidade se deixa aprisionar em definições do tipo simplista.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Claro, sofrem de indigência cognitiva, um termo cunhado por mim. Não é Heidegger que é indigente; os palermas homófobos é que são atrofiados mental e cognitivamente. Por isso, bloqueiam a caixa de comentários: temem ser caçados com a tanga da miséria nas mãos. :O

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A filosofia nunca foi património de doentes mentais: opinem mas deixem a filosofia e a ciência em paz - entregue aos seus guardiões.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O homófobo critica a teoria queer, mas não a conhece: umas vezes critica a orientação sexual, mas quando lhe dizem que a teoria queer abandonou tal conceito, retoma a sua defesa. É uma maria vai com todos: a sua orientação sexual é tão fluída quanto a sua mudança de opiniões. Oh homem vá bater uma punheta debaixo do chuveiro. :Ç

E. A. disse...

LOL
Não sabia que haviam vampiros! Mas tb gosto q me mordam, it turns me on! :)