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Panóptico do PORTO |
Eis o texto reaccionário de apresentação do debate Prós e Contras de ontem (1 de Outubro):
"Grécia, Espanha, Itália e Portugal: A crise agudiza-se e explodem os protestos na rua. O que distingue as manifestações no sul da Europa. A efervescência das sociedades angustiadas e a necessidade de defender o Estado de Direito e a ordem pública. A importância das manifestações e o delicado desempenho das forças da ordem. Como é que as forças de segurança estão a lidar com a tensão crescente?"
Cada um dos quatro convidados de Fátima Campos Ferreira desenvolveu o seu
discurso reaccionário em nome do Estado de Direito e da ordem pública. O elogio da fotografia da rapariga e do polícia que circulou pelo Facebook é um elogio reaccionário: os revoltosos dotados de
consciência política radical não podem tratar as forças policiais de repressão como forças amigas. A violência das forças policiais é usada para garantir a perpetuação da
ordem social estabelecida, precisamente aquela que gera o empobrecimento dos povos do sul da Europa. Em Portugal, não há verdadeiramente
Estado de Direito ou mesmo
democracia: o Estado foi capturado pela
máfia lusitana que usa os
aparelhos repressivos de Estado para garantir os seus privilégios. A fotografia só mereceria um elogio se o polícia tivesse despido a farda e passado para o lado dos manifestantes: o caso amoroso desejado pelo General - outro representante do poder repressivo do Estado - implica a capitulação dos manifestantes perante o poder estabelecido. Os polícias não podem ser vistos como aliados porque a sua missão é usar a violência para restabelecer a ordem social que priva os manifestantes da sua humanidade. Como tenho defendido em diversos lugares, os manifestantes devem adquirir consciência política radical: a política praticada pelos governantes portugueses deve ser combatida com
novas políticas radicais. Alguém afirmou que o discurso do século XIX - entenda-se o pensamento de Marx - está ultrapassado: os privilegiados temem a
luta de classes e dizem condenar a violência, não a sua própria
violência retrógrada mas a
violência revolucionária que visa a realização plena do
humanismo integral. Ora, como demonstrou Merleau-Ponty, não há escolha entre a violência e a não-violência, entre o
humanismo e o
terror, mas apenas entre dois modos de violência - a capitalista e a socialista. A renúncia à violência revolucionária fortalece o
reino da exploração capitalista, mas o seu uso tem a oportunidade de romper o círculo infernal do terror e contra-terror na medida em que é veiculada pela solidariedade do
povo em sofrimento que, enquanto força política, é capaz de traduzir o humanismo de ideologia em realidade. Numa sociedade profundamente corrupta e desigual como a sociedade portuguesa, não há
diálogo possível entre os carrascos e as vítimas, até porque o diálogo não muda nada. A crítica marxista da
democracia liberal não perdeu actualidade e a teoria leninista do Estado continua a ser pertinente, embora deva ser reavaliada.
O marxismo é verdadeiro ontem e hoje. Aconselho a leitura de
Humanismo e Terror de Merleau-Ponty. (Fátima Campos Ferreira tem uma ideia errada da
ordem pública: os verdadeiros representantes da ordem pública são os manifestantes, não os seus convidados privilegiados e opressores! O sociólogo convidado fez uma triste figura!)
J Francisco Saraiva de Sousa